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CAPÍTULO 2 O PaPel da Família nO desenvOlvimentO dO deFiciente intelectual A partir da concepção do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: 3 A influência da família no desenvolvimento da personalidade do deficiente intelectual. 3 Perceber o deficiente intelectual como sujeito capaz de se desenvolver. 3 Mediar família, deficiente intelectual e escola. 30 A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual 31 O PaPel da Família nO desenvOlvimentO dO deFiciente intelectual Capítulo 2 Vygotsky (1997) enfatiza que o deficiente Intelectual só conseguirá evoluir nos aspectos do desenvolvimento da linguagem e do pensamento quando houver a qualidade das interações interpsicológicas. cOntextualizaçãO No capítulo anterior você estudou sobre aspectos que envolvem deficiência intelectual, seu contexto familiar, escolar e social. Também contemplamos um breve histórico sobre as nomenclaturas e paradigmas envolvidos. Você já deve ter ouvido falar de alguns rótulos sobre as pessoas que apresentam deficiência intelectual, não é? Esses sujeitos são considerados muitas vezes como incapazes, perturbadores e inconvenientes por seus colegas de classe, seus professores e até mesmo pelos próprios familiares. Sobre essa situação convidamos você a refletir: • Será que é isso mesmo que acontece? • Nas residências, eles realmente perturbam ou é apenas fruto das frustrações da família? • Na escola, as práticas pedagógicas estão voltadas para a inserção desse estudante com deficiência intelectual? • O que fazer para desmistificar esses paradigmas? Para responder essas questões, iremos estudar, com base em autores, os mitos e verdades sobre o comportamento do deficiente intelectual e a influência que o ambiente familiar exerce no desenvolvimento de sua personalidade. Boa leitura! a inFluência Familiar nO desenvOlvimentO da PersOnalidade dO deFiciente intelectual A relação das pessoas com deficiência intelectual no seu ambiente familiar deve ser tranquila e de aconchego, para que o sujeito com deficiência reconheça que esse espaço para ele é natural e faz parte de sua convivência. Vygotsky (1997) enfatiza que o deficiente Intelectual só conseguirá evoluir nos aspectos do desenvolvimento da linguagem e do pensamento quando houver a qualidade das interações interpsicológicas. Este aspecto pode configurar-se de forma problemática na situação das crianças com necessidades especiais, cujo histórico aponta com frequência para situações de isolamento social. 32 A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual Se a pessoa com deficiência não tem no ambiente familiar ou escolar o conforto psicológico, e sua necessidade física atendida, poderá sentir-se excluída. E esse sentimento poderá levar ao isolamento, a agressividade e a distúrbios intelectuais. Segundo Ballone (2008) Para adaptar-se ao ambiente satisfatoriamente, o indivíduo deve se utilizar da capacidade de integrar várias modalidades sensoriais (os sentidos), de modo a constituir uma noção (consciência) da situação presente. Além disso, deve desenvolver uma capacidade de aprendizagem. Finalmente, deve desenvolver uma capacidade de agir objetivamente. O ambiente de convivência do deficiente intelectual é um dos grandes responsáveis pelo seu comportamento. Um ambiente em que as pessoas desferem suas angústias e frustrações, que demonstram falta de respeito e discussão, pode se tornar impróprio para uma relação saudável. Sempre que você, caro pós-graduando, sentir necessidade de alguma consulta para ampliar seus conhecimentos sobre a condição da mente humana, consulte o site http://www.psiqweb. med.br/ , lá inúmeros artigos podem vir a auxiliá-lo. O meio familiar e a ação de seus membros, pode influenciar a maneira como a pessoa com deficiência intelectual atua nos demais ambientes que possa vir a frequentar. Compreendemos com isso, segundo Abenhaim (2009, p. 237) que: O grau de comprometimento intelectual não é fator determinante da não aprendizagem. A crença no limite do outro é muito mais danosa pois resulta numa autoimagem negativa em baixa autoestima. As pessoas identificadas como incapazes geralmente assumem essa condição e acreditam que jamais poderão modificar esse resultado. Alguns pais, com a intenção de proteger os filhos com deficiência intelectual, de olhares preconceituosos e deboches acabam por limitar ainda mais seu desenvolvimento. Uma das preocupações dos pais é em 33 O PaPel da Família nO desenvOlvimentO dO deFiciente intelectual Capítulo 2 Piletti (1986) esclarece que as famílias muitas vezes são caracterizadas por situações injustas, de desigualdade econômica e social, que lutam por vários razões, principalmente, financeiras. relação ao bullying, não apenas na escola, mas também na sociedade. Esse tipo de preconceito pode piorar o desenvolvimento do sujeito com deficiência, fazendo se sentir inseguro e prejudicando assim sua autonomia e confiança nas pessoas. Bullying é uma palavra inglesa sem tradução para o português, mas que é compreendida como todo tipo de violência que o sujeito pode vir a sofrer, seja física ou verbal. Atualmente é muito discutida nos espaço escolar. É interessante pensar em uma perspectiva de desenvolvimento satisfatório, com o intuito de que o ambiente familiar em que se encontra o deficiente intelectual possa estar apropriado para que esse sujeito possa desenvolver suas potencialidades, pois segundo Abenhaim (2009, p. 154), “A educação familiar dos filhos, sobretudo daqueles que apresentam necessidades educativas especiais, representa um requisito social decisivo para a sua formação escolar(...).” Nesse sentido Piletti (1986) esclarece que as famílias muitas vezes são caracterizadas por situações injustas, de desigualdade econômica e social, que lutam por vários razões, principalmente, financeiras. Deixando não por negligência, mas, às vezes, por falta de conhecimento de como atuar no sentido de inserir adequadamente seus filhos nas esferas sociais, culturais e escolares. A ideia de que essas famílias sejam necessariamente abaladas em sua qualidade de vida deve ser revista. Núñez (2003), pesquisando as famílias com filhos deficientes, descreve os conflitos presentes nos vínculos e os indicadores de risco nessas famílias, conclui que os conflitos familiares não surgem em resultado direto da deficiência, mas em função das possibilidades de a família adaptar-se ou não a essa situação. Estresse Estado emocional negativo que ocorre em resposta a eventos percebidos como uma sobrecarga ou que excedam as habilidades ou recursos da pessoa para gerenciá-los. 34 A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual Estressores Eventos ou situações que são percebidos como perigosos, ameaçadores ou desafiadores (HOCKENBURY E HOCKENBURY, 2002, p.444). A família desempenha um papel primordial no desempenho da pessoa com deficiência intelectual na escola e na sociedade, quando cria nesse sujeito capacidades e o envolve nas atividades essenciais da família. (...) Segundo mostram os dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) de 1999, nas escolas que contam com a participação dos pais, por meio de trocas de informações com os professores e os diretores, os alunos tendem a aprender mais e melhor. (ABENHAIM, 2009, p. 154), O texto a seguir trata da relação familiar e da influência nas atitudes das pessoas com deficiência intelectual. FAMÍLIA E TRANSTORNOS EMOCIONAIS No meio familiar, a crueldade e a maldade disfarçadas se apresentam como chantagens emocionais, cerceamentos de liberdade... É dispensável relacionar aqui as situações familiares bizarras e extremas, capazes de prejudicar o bom desenvolvimento emocional de seus membros, incluindo os filhos, cônjuge, netos, sobrinhos e até o cachorro da casa. Normalmente essas situações dizem respeitoao alcoolismo, droga dicção, histerias de várias formas, violência doméstica, chantagens emocionais, enfim, toda sorte de excessos capazes de perturbar o bom andamento das coisas familiares. Pode parecer estranho, mas, de fato, o que interessa considerar aqui é o exercício da maldade, tortura e crueldade. Mas não se trata da maldade, tortura e crueldade clássicas e francas. Aí ficaria muito fácil diagnosticar a dinâmica familiar deturpada. Mas não, o que nos interessa é o exercício da maldade, tortura e crueldade exercidas velada e dissimuladamente. Esse tipo disfarçado de crueldade e maldade inclui toda espécie de chantagens emocionais, cerceamentos de liberdade, desrespeito, 35 O PaPel da Família nO desenvOlvimentO dO deFiciente intelectual Capítulo 2 Segundo Hockenbury e Hockenbury (2002, p.369), “personalidade é definida como os padrões únicos e relativamente consistentes de pensamentos, sentimentos e comportamentos de um indivíduo”. omissões e opressões que familiares dirigem uns contra os outros de forma surda, calada e, muitas vezes, socialmente irreprimível. Esse tipo de família onde existem pessoas capazes de gerar ansiedade e mal estar emocional em outros familiares constitui aquilo que chamamos de Família de Alta Emoção Expressa. O termo Alta Emoção Expressa foi adotada, inicialmente, para indicar características de famílias que favoreciam a recaída dos sintomas de pacientes psiquiátricos. Hoje em dia, podemos empregar o termo para designar famílias que favorecem o desenvolvimento de estados emocionais desconfortáveis. Na maior parte das vezes, o discurso de tais famílias nos dá a impressão de que todos são ótimos e desejam ardentemente o bem estar dos demais. Mas, avaliando com mais cuidado, surdamente, nas entrelinhas e dissimuladamente, veremos que as coisas são feitas de forma a piorar o estado emocional dos demais ou de alguém, especificamente. Fonte: Disponível em: <http://www.psiqweb.med.br/site/?area=NO/ LerNoticia&idNoticia=29>. Acesso em: 14 ago. 2012. O texto que você leu, discute como a influência familiar pode alterar a personalidade de uma pessoa e o quanto o uma pessoa com deficiência intelectual está mais suscetível a sofrer essa influência negativa. Mas o que é personalidade? Segundo Hockenbury e Hockenbury (2002, p.369), “personalidade é definida como os padrões únicos e relativamente consistentes de pensamentos, sentimentos e comportamentos de um indivíduo”. Quando esses padrões não correspondem às expectativas, as coerências desses pensamentos e comportamentos já começam demonstrar anomalias por parte dos que estão próximos desses sujeitos, que são os familiares, já que o princípio básico de início de vida é a estrutura familiar. As particularidades de cada indivíduo e principalmente da pessoa com deficiência intelectual, sua maneira de agir e interagir no contexto que está inserido traz de suas vivências familiares uma carga da formação de sua identidade. É uma influência que está intrinsecamente arraigada na subjetividade desse sujeito. Quando os familiares não estão preparados para lidar com a deficiência intelectual e agem como se os mesmos fossem incapazes, cria-se uma forte relação de dependência dessas pessoas. 36 A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual A suspeita da existência de famílias com características psiquiatricamente mórbidas ocorreu de forma científica em 1959. As conclusões do primeiro estudo de George Brown, em 1959, apontaram para uma possível associação entre a qualidade das relações familiares e o desenvolvimento da doença mental do paciente Ballone (2008) fez uma lista de razões que fazem com que os filhos sofram uma alguma angústia ou sofrimento, e que podem vir a originar um distúrbio emocional. Segundo o autor há alguns fatores que podem desencadear esses sentimentos. O quadro a seguir orientar-lhe-á na melhor compreensão desses fatores. Todos esses fatores podem causar muito estresse tanto nos filhos como nos pais, gerando assim angústias que podem vir a desenvolver distúrbios emocionais que poderão afetar sua vida social, escolar e afetiva. Causariam sofrimento emocional os pais... 1 – omissos e ausentes. 2 – tiranos e opressores. 3 – que exigem muito. 4 – que não exigem nada. 5 – que nutrem fortes expectativas sobre os filhos. 6 – que não se interessam tanto pelos filhos. 7 – que se separam para não brigarem mais. 8 – que não se separam, mas brigam. 9 – que só pensam em dinheiro. 10 – que não ensinam a valorizar o dinheiro. 11 – muito enérgicos (que limitam muito). 12 – muito camaradas (não dão limites). 13 – que não entendem (ou não querem entender) os filhos. 14 – que interferem muito e querem saber de tudo. 15 – que proíbem muito. 16 – que permitem muito. 17 – que nunca estão satisfeitos. 18 – que acham que está sempre tudo muito bom. 19 – etc. Fonte: Disponível em <http://www.psiqweb.med.br/site/?area=NO/ LerNoticia&idNoticia=195>. Acesso em: 14 ago. 2012. 37 O PaPel da Família nO desenvOlvimentO dO deFiciente intelectual Capítulo 2 A figura a seguir é analisada na obra de Hockenbury e Hockenbury (2002, p.450): “Vias do Sistema Endócrino no Estresse – Duas vias estão envolvidas nas respostas ao estresse”. A via endócrina, apresentada à esquerda do diagrama, é a via envolvida na resposta lutar ou fugir (fightorflight response) para ameaças imediatas. A via endócrina à direita tem uma função importante quando lidamos com estressores prolongados ou crônicos. A seguir, duas formas de como o estresse pode se manifestar, e como ele pode agir no seu organismo. Figura 1 - Como se processa o estresse no corpo Fonte: Hockenbury e Hockenbury (2002, p.450). 38 A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual De acordo com a ilustração podemos perceber que a influência familiar é a maior responsável pelo desenvolvimento integral da criança, apresente ela alguma deficiência ou não. E o papel da família é proporcionar ao sujeito que apresenta deficiência um laço de confiança e amor. Esperamos que as discussões até então apresentadas possam ajudá-lo a repensar em uma prática que valorize um ambiente profissional tranquilo e acolhedor para a pessoa com ou sem deficiência intelectual. Atividades de Estudos: 1) Sobre a definição de Personalidade desenvolvido por Hockenbury e Hockenbury (2002), reflita e responda, você concorda com esse conceito? Justifique sua opinião. ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ 2) Aprendemos que vários fatores, como sociais, familiares e escolares podem causar estresse. Você já passou por alguma situação que desencadeou essa emoção? Pense sobre isso. Agora, com base em seus estudos, defina: a) Estresse: _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ 39 O PaPel da Família nO desenvOlvimentO dO deFiciente intelectual Capítulo 2 As relações nas famílias podem vir a causar danos emocionais e, caso o sujeito seja um deficiente intelectual, pode essa faltade harmonia na família piorar seu desempenho nas relações exteriores. b) Estressores: _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ Caro pós-graduando, os estudos que você realizou até aqui têm como objetivo auxiliá-lo em sua prática pedagógica de um fazer inclusivo. Nessa perspectiva, esperamos que essa leitura se torne um “saber fazer”, tornando- se relevante nos contornos sociais e escolares em que você, profissional da educação, está inserido. as nOvas sOciOPatias Novas sociopatias: são alguns distúrbios como: dificuldades de relacionamentos mesmo com colegas de sala de aula, ou de trabalho, lidar com pai ou mãe ou irmãos depois da separação. São desenvolvidos pelas pessoas, que não necessariamente sejam crianças ou jovens, o adulto também não está imune, podendo acarretar, dentre outros problemas, sérias falhas nos relacionamentos interpessoais e de aprendizagem e falta de concentração (grifo da autora). Atualmente denominam-se novas sociopatias o que está relacionado às estruturas ou desestruturas familiares. As relações nas famílias podem vir a causar danos emocionais e, caso o sujeito seja um deficiente intelectual, pode essa falta de harmonia na família piorar seu desempenho nas relações exteriores, principalmente na instituição escola, pois é onde haverá a convivência por mais tempo e com um número maior de pessoas, gerando, dessa forma, um aumento dos atritos com os colegas de sala e demais alunos. 40 A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual A Agressão Emocional é especialidade do meio familiar, chegando-se ao requinte de agredir intencionalmente com um falso aspecto de estar fazendo o bem ou de não saber que está agredindo. Muitas vezes, esses desacordos familiares podem vir a gerar um desequilíbrio da personalidade que vai muito além apenas de falta de relacionamentos saudáveis, sendo que um dos fatores é o desencadeamento de violência física. De acordo com Ballone (2008), o termo “desequilíbrio da personalidade sociopática”, que substituiu “psicopatia”, foi incluído no Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Primeira Edição (DSM-I), compêndio de distúrbios mentais reconhecidos publicado em 1952. Os psiquiatras usavam o termo “distúrbio da personalidade psicopática” para descrever pessoas que exibiam comportamento anormal em relação ao seu ambiente De acordo com Lorenzini (1999), as crianças que apresentam deficiência intelectual reagem de forma branda aos incentivos que são proporcionados pelo espaço doméstico, e suas respostas aos estímulos podem ser muito demoradas ou muitas vezes díspares do que se espera. Assim, precisam de estímulos ininterruptos para que possam vislumbrar o emprego das informações que possam assimilar. A autora relata que, para que a criança possa desenvolver suas habilidades, ela necessita ser auxiliada de maneira que os estímulos respeitem as suas necessidades. Segundo Belloni (2008), a Codependência é um transtorno emocional definido e conceituado por volta das décadas de 70 e 80, relacionado aos familiares dos dependentes químicos e atualmente estendido também aos casos de alcoolismo, de jogo patológico e outros problemas sérios da personalidade. A Codependência se caracteriza por uma série de sintomas e atitudes mais ou menos teatrais, e cheias de Mecanismos de Defesa. 41 O PaPel da Família nO desenvOlvimentO dO deFiciente intelectual Capítulo 2 Há muitas pessoas com transtornos emocionais derivados de sintomas descritos e suas atitudes que podem vir a interferir nas suas atividades e relações sociais. Quando as dificuldades se apresentam no âmbito escolar, é necessário que o profissional da educação esteja apto a lidar com a situação. Creio, caro educando, que o conhecimento da deficiência intelectual e de como ela se manifesta possam ajudá-lo nas práticas que você desenvolverá no dia a dia. Para que você possa entender melhor algumas características dos transtornos de personalidade, o texto a seguir pode ajudá-lo. 1. Dificuldade para estabelecer e manter relações íntimas sadias e normais, sem que grude muito ou dependa muito do outro. 2. Congelamento emocional. Mesmo diante dos absurdos cometidos pela pessoa problemática o codependente, mantém- se com a serenidade própria dos mártires. 3. Perfeccionismo. Da boca para fora, ou seja, ele professa um perfeccionismo que, na realidade, ele queria que a pessoa problemática tivesse. 4. Necessidade obsessiva de controlar a conduta de outros. Palpites, recomendações, preocupações, gentilezas quase exageradas fazem com que o codependente esteja sempre superssolícito com quase todos (assim ele justificaria que sua solicitude não é apenas com a pessoa problemática). 5. Condutas pseudocompulsivas. Se o codependente paga as dívidas da pessoa problemática ele “nunca sabe bem porque fez isso”, diz que não consegue se controlar. 6. Sentir-se responsável pelas condutas de outros. Na realidade ele se sente mesmo responsável pela conduta da pessoa problemática, mas para que isso não motive críticas, ele aparenta ser responsável também pela conduta dos outros. 7. Profundos sentimentos de incapacidade. Nunca tudo aquilo que fez ou está fazendo pela pessoa problemática parece ser satisfatório. 42 A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual 8. Constante sentimento de vergonha, como se a conduta extremamente inadequada da pessoa problemática fosse, de fato, sua. 9. Baixa autoestima. 10. Dependência da aprovação externa, até por uma questão da própria autoestima. 11. Dores de cabeça e das costas crônicas que aparecem como somatização da ansiedade. 12. Gastrite e diarréia crônicas, como envolvimento psicossomático da angústia e conflito. 13. Depressão. Resultado final. Fonte: Disponível em: <http://www.psiqweb.med.br/site/?area=NO/ LerNoticia&idNoticia=24->. Acesso em: 14 ago. 2012. Como você percebeu, são várias as possibilidades de acontecerem os sintomas descritos acima. Com o conhecimento deles, você entenderá o que acontece e poderá aplicar o diagnóstico na sua técnica pedagógica, de maneira a interferir para beneficiar o deficiente intelectual no seu desempenho da aprendizagem e nas relações, especialmente dentro do universo escolar. Atividades de Estudos: 1) Sobre as novas sociopatias, você deve ter percebido que as pessoas podem alterar seu comportamento, e um dos fatores é que os deficientes intelectuais tem a dificuldade em criar e manter relações íntimas sadias e normais, sem que se crie uma relação em que um dependa muito do outro. Como você compreende essa dificuldade de estabelecer relações sociais saudáveis? ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ 43 O PaPel da Família nO desenvOlvimentO dO deFiciente intelectual Capítulo 2 ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ 2) Você estudou que a “codependência” é um transtornoemocional definido e conceituado por volta das décadas de 70 e 80, relacionado aos familiares. Como você entende a “codependência” na pessoa com deficiência intelectual com seus familiares? _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ _________________________________________________ Você acabou de estudar sobre as novas sociopatias e os transtornos de aprendizagem. Agora, convidamos você a realizar a leitura sobre mitos com relação à capacidade do deficiente intelectual. deFiciencia intelectual e O mitO da incaPacidade O deficiente intelectual durante muito tempo foi considerado como um ser incapaz, um inválido, e esses conceitos foram sendo difundidos na sociedade e a mesma introduziu na sua subjetividade. 44 A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual Não se pode subestimar nem superestimar a capacidade dessa pessoa, porque suas habilidades não estão vinculadas, exclusivamente, às suas limitações. No ambiente familiar e escolar é muito comum ouvir pais e professores falarem sobre a pessoa deficiência intelectual “não saber” fazer isso ou aquilo. O termo incapacidade muitas vezes é evitado, embora inconscientemente seja lembrado. No entanto, queremos que fique claro que essa incapacidade é mito. Nesse sentido enfatiza (ABENHAIM 2008, p.243) “A visão excludente e alienada do ser humano está sendo substituída por um reconhecimento de todo ser humano como ser social que aprende na relação com o mundo, com o outro.” A pessoa com deficiência intelectual apresenta algumas impossibilidades, mas não incapacidades. “A aprendizagem e o desenvolvimento das pessoas não podem ser determinados pela aparência. O que realmente limita é a sociedade” (ABENHAIM 2008, p.243). Por isso o que família e escola devem procurar é criar condições de autonomia para esse sujeito. O fragmento de texto a seguir irá esclarecer alguns pontos de mito e verdade para sua maior compreensão sobre o tema. MITOS E VERDADES SOBRE DEFICIÊNCIA MENTAL/INTELECTUAL [...] O mito: as pessoas com deficiência intelectual são muito ou totalmente dependentes. A verdade: a pessoa com deficiência intelectual habilitada para o trabalho geralmente já frequentou uma escola regular e/ ou instituição especializada que a preparou para ser o mais independente possível. Portanto, em um ambiente corporativo, ela deve fazer sozinha tudo o que puder, e ser ajudada somente se for realmente necessário. Não se pode subestimar nem superestimar a capacidade dessa pessoa, porque suas habilidades não estão vinculadas, exclusivamente, às suas limitações. Existem pessoas com Síndrome de Down, por exemplo, que são muito independentes, estudam, trabalham, andam sozinhas pelas ruas, se casam, tem vida sexual ativa e ajudam a família. Existem também muitas pessoas com deficiência intelectual que vão e voltam do trabalho com total independência, além de terem autonomia para decidirem sobre sua carreira dentro de uma empresa. O mito: as pessoas com deficiência intelectual necessitam de superproteção. 45 O PaPel da Família nO desenvOlvimentO dO deFiciente intelectual Capítulo 2 A verdade: não. Impedi-las de experimentar a vida é negar sua possibilidade de alcançar níveis cada vez maiores de independência e de autonomia. [...] O mito: as pessoas com deficiência intelectual são mais agressivas e/ou muito carinhosas (“grudentas”). A verdade: a agressividade é uma forma de a pessoa administrar sua convivência na realidade, desenvolvida no período de sua história de vida. Não está associada a qualquer deficiência e pode ser característica de qualquer pessoa, tendo ou não uma deficiência. As pessoas com deficiência intelectual podem ou não ser muito carinhosas, como uma pessoa sem deficiência. Os comportamentos podem ser alterados de acordo com a necessidade de um grupo de pessoas, portanto, é interessante explicar ao novo funcionário com deficiência intelectual, caso seja necessário, que naquele ambiente de trabalho ele deve agir de determinada forma. Isso é fundamental para um bom relacionamento com essa pessoa. O mito: as pessoas com deficiência intelectual são como crianças. A verdade: uma pessoa com deficiência intelectual é uma pessoa com qualidades e defeitos. Quando criança, deve ser tratada como a criança que é. Quando adolescente, ou adulto, deve-se tratá-la de acordo com sua faixa etária. A capacidade de interagir em sociedade, e consequentemente no ambiente de trabalho, deve ser avaliada hoje de acordo com os critérios da CIF – Classificação Internacional de Funcionalidade e Incapacidade - que equilibra fatores clínicos, comportamentais e sociais. O mito: as pessoas com deficiência intelectual são “muito” inteligentes. A verdade: muitas pessoas esperam menos da pessoa com deficiência, especialmente, a pessoa com deficiência intelectual. Assim, quando constatam nela capacidades e produtividade, é comum dizerem “são muito inteligentes!” Na verdade, super avaliar a inteligência da pessoa é tão discriminatório quando subavaliá-la. A pessoa com deficiência intelectual pode vir a apresentar dificuldade para aprender, especialmente quando se 46 A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual trata de conteúdos e conceitos abstratos, ou que dela exigem maior memorização. Seu ritmo de aprendizagem também pode vir a ser menor. Porém, o mais importante a se saber é que, para cada característica identificada, há uma forma para compensar a limitação e promover sua produtividade e funcionamento [...]. Texto adaptado para divulgação no site do Instituto Indianápolis. Fonte: Disponível em: <http://www.pedagogiaaopedaletra.com.br/ posts/mitos-verdades-sobre-deficiencia-mentalintelectual/>. Acesso em: 26 ago. 2012. Mesmo com as Declarações para a Inclusão, que começaram a ser deflagradas, esse conceito de incapacidade passa a ser reinterpretado, principalmente para a família, profissionais da saúde e da educação, o que principia num entendimento do deficiente intelectual como um indivíduo que tem suas capacidades, que necessita que elas sejam compreendidas e exploradas de maneira correta. Ainda é necessário que aconteçam mais mudanças significativas no que se refere à atuação dessas pessoas nos meios em que estão inseridas. Como você percebeu, a maneira como a pessoa com deficiência é tratada pelos familiares e pelos professores refletirá em seu comportamento e percebida no meio em que estão inseridas. Respeitá-las é uma forma de fazê- las sentir-se parte do contexto. Você já deve ter lido sobre as Declarações que buscam os diretos das pessoas com deficiência: não se esqueça de ler sobre a Declaração de Montreal para deficiência intelectual. Apesar de haver um pequeno texto no capítulo I, existe muito mais para você aprender. 47 O PaPel da Família nO desenvOlvimentO dO deFiciente intelectual Capítulo 2 Atividades de Estudos: 1) Estudamos nesse capítulo sobre capacidades e mitos das pessoas com deficiência intelectual. Qual sua opinião sobre o mito da capacidade da pessoa com deficiência intelectual? ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ 2) Como você compreende as possibilidades de alcance da autonomia das pessoas com deficiência intelectual? ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ 48 A Relação Família, Escola e Deficiência Intelectual algumas cOnsiderações Caro pós-graduando, chegamos ao fim de mais um capítulo, no qual estudamos sobre as relações da família com a deficiência intelectual e suas implicações; as relações entre família escola e pessoa com deficiência intelectual e o mito da incapacidade. Já no próximo capítulo abordaremos a sexualidade da pessoa com deficiência intelectual. Faremos um estudo para melhor compreender como a sociedade, escola e família enfrentam essa questão. Até lá. Livro: Ciúme. Autor: Eduardo Ferreira-santos Editora: EDITORA AGORA Ano de Edição: 2007 Nº de Páginas: 112 reFerências ABENHAIM, Evanir. Educação Inclusiva, Deficiência e Contexto Social: questões contemporâneas. Salvador: EDUFBA, 2009. BALLONE,G,J.Ortolani IV – A Família faz bem ou mal Saúde Mental? 2008. Disponível em: <http://www. psiqweb.med.br>. Acesso em: 20 ago. 2012. _____, G.J., OrtolaniIV - A Família e Transtornos Emocionais,. 2008. Disponível em: <http://www. psiqweb.med.br>. Acesso em: 20 ago. 2012. _____, G.J. Deficiência Mental, 2007. Disponível em: <http://www.psiqweb. med.br>. Acesso em: 22 ago. 2012. 49 O PaPel da Família nO desenvOlvimentO dO deFiciente intelectual Capítulo 2 _____, G.J., MOURA E.C. Transtornos da Linhagem Sociopática, 2008. 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