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História Deuteronomista e seus Livros

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Disciplina: Introdução ao Antigo Testamento
Aula 6: Nevî’îm I – História deuteronomista
Introdução
Os textos que seguem a Torah representam o que os pesquisadores do Antigo
Testamento chamam de Obra Historiográfica Deuteronomista (DtrG).
Essa obra, composta pelos livros de Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel, e 1 e 2 Reis,
apresenta a teologia do livro do Deuteronômio encarnada nos vários eventos do povo
de Israel.
Conhecer a História Deuteronomista é parte importante do estudo da Bíblia Hebraica,
pois as leituras teológicas propostas pelos redatores deuteronomistas estão em
constante diálogo com a literatura dos profetas, que estudaremos na próxima aula.
Objetivos
Esclarecer o Deuteronômio (Dtr) e a Obra Histórica Deuteronomista (DtrG);
Explicar os livros de Juízes, 1 e 2 Samuel;
Identificar os processos de formação de 1 e 2 Reis.
Deuteronômio (Dtr) e Obra
Histórica Deuteronomista (DtrG)
A pesquisa sobre o Deuteronômio é muito importante no estudo do Antigo
Testamento.
No início do século XIX, Wette (1817) tentou mostrar que o livro tem seu
próprio estilo distintivo e que foi escrito depois dos outros quatro livros do
Pentateuco. O autor afirmou haver uma “afinidade óbvia” entre o
Deuteronômio e o livro de Josué (WETTE, 1817, p. 193).
Wette (1817) destacou, ainda, que há livros deuteronômicos: uma afinidade
entre o Deuteronômio e os livros de Juízes e Samuel. O estudioso bíblico e
orientalista alemão Julius Wellhausen (1844-1918) ampliou essa observação
aos livros de Juízes, Samuel e Reis.
Em 1943, Noth (1981) propôs a hipótese de que Deuteronômio, Josué, Juízes,
Samuel e Reis eram, originalmente, uma entidade literária de teologia
coincidente, uma “História Deuteronomista (DtrG)”, escrita algumas décadas
após a catástrofe de 586 a.C. (exílio da Babilônia). De acordo com Noth
(1981), tal história seria uma explicação das razões da destruição do templo e
da aniquilação de Israel e Judá como nações.
 Wilhelm Martin Leberecht de Wette (Fonte:
Wikipedia <https://goo.gl/hvBqHA> ).
https://goo.gl/hvBqHA
 Martin Noth (Fonte: Wikipedia
<https://goo.gl/b4Hqxo> ).
Observando os livros da História Deuteronomista, é possível perceber que
reúnem várias crenças tradicionais sobre a história de Israel de muitas fontes,
combinando-as e submetendo-as às ideias refletidas no Deuteronômio.
O culto central de Jerusalém é repetidamente enfatizado, e a história mostra a
aplicação da justiça divina. Aqueles que aderem a Yahweh (heróis) são
recompensados, enquanto os vilões (infiéis a Yahweh) são punidos.
A unidade literária é conseguida por meio do resumo das digressões na
narrativa (Josué 12; Juízes 2.11-3.6; 2 Reis 17.7-23), como os grandes
discursos dos líderes em momentos cruciais (Josué 1.2-9, 23.2-16; 1 Samuel
12; 1 Reis 8.14-617) e a sincronização esquemática de 480 anos – desde
Moisés até a construção do templo de Salomão (1 Reis 6.1).
Livro de Josué
Descreve a conquista da terra como um sucesso devido à obediência do povo
a Yahweh, cumprindo as bênçãos em Deuteronômio 28.1-14.
https://goo.gl/b4Hqxo
Os livros de Juízes, Samuel e Reis
Descrevem as consequências desastrosas da desobediência, de acordo com as
maldições de Deuteronômio 28.15-68.
Os infortúnios culminam no exílio babilônico .
Os paralelos mais próximos à História Deuteronomista são, de acordo com
Noth (1981), os historiadores helenísticos e romanos que usavam fontes não
identificadas – não de seu próprio tempo, mas de um passado mais ou menos
distante.
Para Hoffmann (1980), o trabalho do autor deuteronomista é uma história do
culto israelita com um leitmotiv que pode ser denominado cultus semper
reformandus (culto sempre reformando).
Hoffmann (1980) e Seters (1983) apresentam concepções distintas a respeito
da ideia de autor exílico. Vejamos:
Hoffmann
Um autor exílico ou pós-exílico criou a História Deuteronomista a partir,
prioritariamente, da tradição oral. Mas, no que se refere tanto aos conteúdos
quanto à forma, o autor tomou grande liberdade ao fazer sua própria
reconstrução do curso dos acontecimentos.
Do tempo de Moisés a Josué, as reformas cultuais foram desenvolvidas em
um programa que pertence à teologia pós-exílica e a sua luta pela pura crença
em Yahweh. Nesse caso, a reforma de Josias foi o modelo para o novo começo
dos israelitas após o exílio (HOFFMANN, 1980, p. 319-320).
1
2
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Seters
Seters (1983), por sua vez, assume que um autor exílico colecionou um
material sobre a história de Israel e organizou-o de forma paratática em um
ótimo trabalho, destinado a ensinar a Israel sobre seu próprio passado.
O autor pode ter agido sob a influência da dissolução da nação causada pelo
exílio. Ele toma certas liberdades com suas fontes e foi o primeiro a moldá-las
em uma narrativa histórica contínua, atuando, aqui, mais como um autor do
que como um redator.
Atividade
1. Esboce, em linhas gerais, as principais características da teologia do
livro do Deuteronômio.
Juízes
O material que encontramos no livro de Juízes é bastante diferente do
conteúdo de Josué. O núcleo deste último narra as histórias de heróis locais
que se distinguiram nas batalhas contra cananeus, midianitas ou filisteus,
quando não havia rei em Israel.
A maioria dessas histórias preserva alguns vislumbres vívidos do cotidiano no
início de Israel, mas contém pouco material que possa ser verificado por
evidências extrabíblicas.
O livro de Juízes agrega histórias individuais que mostram conflitos em
diferentes regiões. No livro:
Eúde luta contra os moabitas na Transjordânia;
Débora e Baraque lutam contra os reis de Canaã, perto do Monte Tabor, no
norte de Israel;
Gideão luta contra os midianitas no sul;
Abimeleque está envolvido na guerra civil em Siquém;
Jefté combate os amonitas na Transjordânia;
Sansão está envolvido com os filisteus.
Essas histórias foram editadas em uma narrativa sequencial (mas episódica)
pelo(s) redator(es), utilizando valores e princípios deuteronomistas.
O livro de Juízes (2.11-3.6) apresenta uma introdução programática que
fornece uma visão geral do período do ponto de vista do(s) redator(es). As
histórias do núcleo do livro são bastante ambíguas e preservam uma série de
perspectivas. Esse livro é retratado como uma história do período inicial de
Israel. No capítulo 1, expõe um resumo da conquista que lista extensas áreas
nas terras baixas, em que os cananeus não foram expulsos.
A narrativa também inclui avisos sobre Jerusalém (Juízes 1.8,21). Gaza,
Asquelom e Ecrom são conquistados por Judá (Juízes 1.18), mas,
posteriormente, são identificados como fortalezas filisteias.
Alguns lugares que se afirmavam permanecer em mãos cananeias (Juízes
1.27-35) são confirmados pela evidência material .
Além disso, esse livro retrata a terra de Canaã em um estado de transição das
cidades-estados da Idade do Bronze para as entidades nacionais emergentes
de Israel, Filístia, Aram, e assim por diante. Essa transição está
apropriadamente localizada no período de 1200-1000 a.C.
Em Juízes, muitas histórias lidam com eventos locais, o que seria difícil de
verificar em qualquer caso. O valor histórico do livro reside mais no quadro
geral das condições antes do surgimento da monarquia do que nos eventos
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específicos narrados.
Enquanto alguns detalhes são de valor histórico,
o maior interesse do livro para o leitor moderno
reside no drama das histórias e nas questões
morais que levantam.
A tabela a seguir apresenta os principais Juízes e seus adversários nas
batalhas:
Juiz Oponente Referência bíblica
Otniel Cushan-rishathaim de Aram Juízes 3.7-11
Eúde Rei Eglon, de Moabe Juízes 3.12-30
Sangar Filisteus Juízes 3.31
Débora e
Baraque
Jabim (rei de Canaã) e seu
general Sísera
Juízes 4-5, que incluem a
Canção de Débora
Gideão MidianitasJuízes 6-8
Tola Abimeleque Juízes 9-10.2
Jair Abimeleque Juízes 10.3-5
Jefté Amonitas Juízes 10.6-12: 7
Ibsa - Juízes 12.8-10
Elon - Juízes 12.11-12
Abdon - Juízes 12.13-15
Sansão Filisteus Juízes 13-16
Atividade
2. Quais são as diferenças fundamentais entre os livros de Josué e
Juízes?
1 e 2 Samuel
Os dois livros de Samuel eram, originalmente, um livro em hebraico. Ambos
foram encontrados em um único rolo nos Manuscritos do
Mar Morto, mas divididos na tradição manuscrita grega e latina devido a seu
comprimento.
Na Septuaginta (LXX) , eles são agrupados com os livros que tratam da
Monarquia, formando uma coleção de quatro livros de Reis (1-4 Reis).
O texto grego de Samuel é mais longo do que o texto tradicional hebraico.
Essa diferença levou à compreensão de que os tradutores da Bíblia
Hebraica para a língua grega haviam adicionado passagens à 1 e 2 Samuel.
Mas os Manuscritos do Mar Morto preservam fragmentos de uma versão
hebraica que corresponde à versão grega. Isso deixa claro que o texto grego
preserva uma forma mais antiga do escrito, e que algumas passagens foram
suprimidas dos manuscritos hebraicos disponíveis entre os séculos VIII e XI
d.C.
1 Samuel trata da transição do período dos Juízes para o período da
Monarquia.
1 Samuel 1-4.1aM 
A introdução está na primeira seção, que descreve o nascimento e o
início da carreira de Samuel. 
 
1 Samuel 4.1b-7.1 
Os capítulos seguintes tratam da crise diante do poder filisteu e da
captura da arca. Samuel não aparece em todo esse episódio. 
 
1 Samuel 7.2-17 
Uma seção curta descreve outra batalha contra os filisteus, em que ele
desempenha um papel de liderança. 
 
1 Samuel 8.1-15.35 
A seção mais longa trata dos primórdios do reinado de Saul. Então, Davi
aparece na cena e domina o restante da narrativa entre 1 Samuel e os
primeiros capítulos de 2 Samuel. 
 
4
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Há várias tensões e duplicações em 1 Samuel – duplicações óbvias, mesmo
em uma leitura casual do texto. Samuel desaparece da cena nos capítulos 4-6
e ressurge no capítulo 7. No capítulo 8, dedicado à escolha de um rei,
enfatiza-se a rejeição da realeza de Yahweh. No entanto, o primeiro rei é
ungido sob a ordem divina.
Existem relatos diferentes sobre o modo como Saul se tornou rei (1 Samuel
10.17-27; 11) e distintos informes de sua rejeição (1 Samuel 13 e 15). Há,
ainda, dois relatos sobre como Davi passou a servir Saul (1 Samuel 16 e 17).
Davi se torna o genro de Saul duas vezes no capítulo 18 e aparece diante do
rei filisteu de Gate duas vezes (1 Samuel 21 e 27). Ele se recusa duas vezes a
tirar a vida de Saul quando teve a oportunidade (1 Samuel 24 e 27).
É possível concluir que o redator deuteronomista
não parece ter imposto um padrão nos livros de
Samuel, como encontramos em Juízes ou em 1 e
2 Reis.
1 e 2 Samuel não podem ser facilmente categorizados como propagandas
ideológicas. Os livros nos apresentam uma literatura sofisticada que mostra o
caráter ambíguo e multifacetado da ação humana em um grau muito maior do
que os livros que consideramos até aqui. As narrativas de Samuel têm o
caráter de uma novela histórica que se preocupa com o tema e com o caráter
dos personagens.
Assim como o primeiro livro, o segundo incorpora extensos documentos de
origem que foram levemente editados pelo redator deuteronomista. A
passagem chave na edição deuteronomista do livro é o relato da promessa a
Davi (2 Samuel 7), embora, aqui, o editor também esteja adaptando uma
fonte mais antiga.
A história do surgimento de Davi, que dominou a segunda metade de 1
Samuel, continua em 2 Samuel (1-5). Há uma seção (entre 2 Samuel 9 e 2
Reis 2) – muitas vezes identificada como a História da Sucessão de Davi ou a
Narrativa de Sucessão – em que vários documentos distintos são combinados.
O relato da rebelião de Absalão (2 Samuel 13-20) é uma narrativa fortemente
estruturada, que pode ser uma unidade distinta das demais no livro. 1 Reis
(1-2) é uma justificativa para a adesão de Salomão à realeza.
A história da ascensão de Davi ao poder é completada em 2 Samuel (1.1-
5.10).
 Restos arqueológicos do Palácio de Davi em
Jerusalém (Fonte: Wikipedia
<https://goo.gl/rWoab4> ).
Morte de Saul
Davi chora ostensivamente por Saul, matando o mensageiro que lhe
trouxe a coroa do rei morto. O lamento (“como os poderosos caíram”) é
um poema em movimento. Davi é claramente o falante implícito para
além do contexto narrativo. Isso não significa, necessariamente, que o
poema tenha sido composto por Davi. 
 
Há várias composições no livro de Salmos relacionadas a episódios na
vida de Davi, ainda que representem lembranças de sua vida em sua
homenagem ou discursos em louvor a seu reinado. Mesmo assim, Davi
foi considerado o compositor de Salmos por excelência, da mesma forma
que Salomão foi considerado compositor de Provérbios.
Reivindicação da monarquia por Davi
2 Samuel mostra que Davi se move rapidamente para consolidar sua
posição como o herdeiro do reino de Saul. Primeiro, ele se dirige a
https://goo.gl/rWoab4
Hebrom, onde é ungido rei por sua própria tribo (Judá). Afinal, a unção
de Samuel, ainda menino, era evidentemente insuficiente. Hebrom está
perto da cidade natal de Davi (Belém) – lugar associado, em Gênesis, a
Abraão. 
 
A reivindicação da monarquia por Davi não era incontestável. Ao mesmo
tempo em que Davi, Ishbaal (ou Ishbosete) – filho de Saul – tornou-se
rei do resto de Israel com o apoio do general Abner.
Guerra entre a casa de Saul e a casa de Davi
A seguir, tem início “uma longa guerra entre a casa de Saul e a casa de
Davi” (2 Samuel 3.1). Quando Ishbaal é assassinado, Davi não só se
exime da responsabilidade pelo assassinato, como também executa os
assassinos que haviam buscado e esperado seu favor. 
 
Eventualmente, o único herdeiro vivo da casa de Saul é o filho deficiente
de Jônatas, que não é uma ameaça para Davi (2 Samuel 9 – Davi
demonstra boa vontade com o descendente de Saul “por causa de
Jônatas”). Seu nome, Mefibosete , é, provavelmente, um eufemismo
que esconde o nome de Baal. O nome verdadeiro parece ser Meribaal (1
Crônicas 8.34 e 9.40). 
 
O desmantelamento da casa de Saul é finalmente completado (2 Samuel
21). Toda essa vertente da narrativa se encaixa perfeitamente com a
visão de que a ascensão de Davi é um relato motivado a justificativas ou
à propaganda da monarquia davídica.
Ascensão de Davi
A ascensão de Davi atinge seu clímax quando ele é novamente aclamado
como rei em Hebrom (2 Samuel 5) – desta vez por todo o Israel – e
captura Jerusalém: a cidade cananeia que ainda estava nas mãos dos
jebuseus no momento. 
 
Jerusalém era uma capital ideal para Davi, porque era fácil de defender
e, até então, não havia sido associada a nenhuma tribo israelita, embora
5
6
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estivesse localizada geograficamente no território da própria tribo de
Davi (Judá). 
 
A aclamação de Davi completa-se quando ele é reconhecido pelo rei de
Tiro. 
 
O relato da remoção da arca para Jerusalém é, muitas vezes,
considerado a conclusão da narrativa sobre a arca de 1 Samuel. 
 
A arca era um símbolo tradicional da presença de Yahweh. Ao trazê-la
para Jerusalém, Davi fez da antiga cidade dos jebuseus o centro de
adoração para as tribos de Israel, que veneravam Yahweh. 
 
Davi é ostentoso em sua celebração pública do evento, não deixando
nenhuma dúvida sobre sua devoção a Yahweh. A desaprovação de Mical
– filha de Saul – tem pouca consequência neste momento. A casa de
Saul não é mais um fator que interfira na realeza de Israel.
Atividade
3. Por que 1 e 2 Samuel não podem ser facilmente caracterizados como
propagandas ideológicas sobre seus personagens principais (Samuel,
Saul e Davi)?
1 e 2 Reis
A História Deuteronomista continua nos livros de 1 e 2 Reis. Aqui, novamente,
a divisão entre livrosé artificial e tardia:
1 Reis começa com a velhice e a morte de Davi, que conclui a história
iniciada em 1 Samuel.
O reinado de Acazias, no norte de Israel, atravessa a divisão entre 1 e 2
Reis.
Os primeiros 11 capítulos de 1 Reis tratam da ascensão e do reinado de
Salomão.
Posteriormente, 1 e 2 Reis narram as histórias paralelas dos reinos do
norte (Israel) e do sul (Judá).
Uma série de fontes são explicitamente identificadas nos livros de Reis. 1 Reis
(11.41) menciona o “Livro dos Atos de Salomão”.
Há, ainda, várias referências ao “Livro das Crônicas dos Reis de Judá” (1 Reis
14.29; 15.7,23 et al.) e ao correspondente “Livro das Crônicas dos Reis de
Israel” (1 Reis 14.19; 15.31; 16.5,14 et al.). Nenhuma dessas fontes
sobreviveu.
É amplamente assumido que as Crônicas foram mantidas nas cortes reais de
Israel e Judá, como havia no Egito e na Mesopotâmia.
A relação de 1 e 2 Reis com as crônicas do Antigo Oriente Próximo é uma
questão relativamente importante para elucidar a natureza desses textos. 1 e
2 Reis têm narrativas muito mais desenvolvidas do que as Crônicas escritas
na Mesopotâmia, mas, geralmente, são menos expansivas do que as histórias
de 1 e 2 Samuel.
A evidência interna dos livros dos Reis remontam à existência de algumas
fontes de caráter diferente do gênero crônica – em especial os relatos sobre
Elias e Eliseu, que, provavelmente, circularam de forma independente antes
de serem incorporados à História Deuteronomista.
Portanto, ainda que haja fontes originalmente semelhantes às Crônicas de reis
do Antigo Oriente Próximo, que serviram de base para 1 e 2 Reis, o produto
final da redação desses dois livros remontam a um novo gênero literário, a
uma história teológica cujo fio narrativo sofre tessituras a partir de uma
teologia específica: a deuteronomista.
 Casamento de Salomão com a Rainha de Sabá.
Batistério de San Giovanni (Florença) (Fonte:
Wikipedia <https://goo.gl/rWoab4> ).
1 e 2 Reis constituem o quarto conjunto de livros dos profetas anteriores:
uma literatura que procura reimaginar e reinterpretar o passado lembrado de
Israel em sua relação com Yahweh – o Deus que faz promessas e que exige
obediência.
De acordo com a hipótese crítica dominante de Noth (1981), 1 e 2 Reis
formam o ponto culminante da História Deuteronomista: uma interpretação
da vida de Israel na terra conquistada conforme os pressupostos teológicos
das tradições do Deuteronômio.
Especificamente, toda a literatura da História
Deuteronomista procura esclarecer a destruição de
Jerusalém em 587 a.C. e a posterior deportação dos
principais cidadãos – uma explicação que gira em
torno do governo, da soberania de Yahweh.
Embora os livros tenham a mesma forma narrativa que vimos em 1 e 2 Samuel e
mostrem um pouco da mesma habilidade sutil, 1 e 2 Reis são mais fortemente
deuteronomistas em sua teologia.
Em uma leitura superficial, os livros de Reis narram os seguintes cursos:
https://goo.gl/rWoab4
1 Reis 1-11
Do reino unido de Salomão após a morte de Davi.
1 Reis 12-2 Reis 17
Dos reinos de Israel e Judá.
2 Reis 18-25
Do reino de Judá em seus últimos anos após a destruição do reino do norte.
Essa literatura traça o passado do povo de Deus, desde a morte de Davi (1 Reis 2.10-
11) até a deportação de Judá, terminando com uma referência final a Joaquim –
último rei davídico (2 Reis 25.27-30).
O(s) redator(es) de 1 e 2 Reis utiliza(m) uma variedade de fontes para juntar o que
se tornou a metanarrativa do antigo Israel na terra. As fontes parecem incluir
arquivos do templo, arquivos reais e contos populares. Essas fontes – ou, talvez, em
alguns casos, alegadas fontes – são de graus variáveis de confiabilidade histórica,
difíceis de avaliar.
Os intérpretes críticos consideram com bastante cautela esses materiais
historicamente confiáveis, embora seja comum supor que os posteriores – talvez
começando pelo relatório sobre Ezequias – pareçam mais confiáveis do que os
anteriores.
É claro que o historiador não faz muito esforço para avaliar a validade das várias
fontes empregadas, pois a ênfase é completamente sobre o processo de
reestruturação coerente de todos os tipos de fontes e memórias, a fim de que
possam funcionar como uma narrativa normativa do passado.
Ao reunir várias fontes de graus variáveis de confiabilidade e de significado, o
historiador contemporâneo pretende dar uma explicação abrangente sobre essa longa
história. Mas não é o caso de 1 e 2 Reis.

Atenção
Esses livros não são um relato histórico como os que são feitos
contemporaneamente, e não pretendem ser assim. Pelo contrário: esse material
é – e pretende ser – um comentário teológico e interpretativo da história, uma
forma especial de relato com funções religiosas e identitárias.
O(s) redator(es) conta(m) histórias com interpretações teológicas. Isso ocorre de
forma consciente, uma vez que a própria narrativa reporta seu leitor às fontes
escritas com propósitos historiográficos mais objetivos.
Isso pode ser visto na seguinte passagem:

[...] agora, quanto ao resto dos atos de Salomão, tudo o que
ele fez, bem como a sua sabedoria, não estão escritos no
Livro dos Atos de Salomão?
1 Reis 11.41

Leitura
Ver, ainda, 1 Reis 14.19.
De qualquer forma, a atenção do leitor não está sobre as fontes, mas sobre a
intenção e a imaginação interpretativas em que esse historiador da Antiguidade é
capaz de ler, em um ângulo teológico particular e sustentado.
Isso significa que o produto final do historiador – já operante em Josué, Juízes e
Samuel, mas totalmente explícito nos livros de Reis – é uma instância teológica muito
particular e produtiva na tradição historiográfica do Antigo Testamento.
 Leitura da Bíblia (Fonte: Shutterstock/Pixel head
photo e Digital skillet).

Saiba mais
Para saber mais sobre o assunto, acesse a tabela e conheça a Lista dos reis de
Israel e Judá <galeria/aula6/anexo/a06_doc1.pdf> .
file:///C:/Users/luis.salgueiro/Desktop/2018.2/introducao_ao_antigo_testamento__GON949/galeria/aula6/anexo/a06_doc1.pdf
Atividade
4. Que fontes são explicitamente citadas em 1 e 2 Reis?
 a) 1 Samuel, 2 Samuel, Pentateuco, 1 Crônicas, 2 Crônicas.
 b) Lei e os Profetas, Livro das Crônicas dos Reis Orientais, Livro dos Atos de
Salomão.
 c) Livro dos Atos dos Reis de Israel, Livro dos Atos de Davi, Livro das Crônicas
do Rei Salomão.
 d) Livro dos Atos de Salomão, Livro das Crônicas dos Reis de Judá, Livro das
Crônicas dos Reis de Israel.
 e) Livro dos Atos de Davi, Livro das Histórias dos Reinos Orientais, Livro das
Crônicas dos Reis de Israel.
Teologia deuteronomista
O Deuteronômio e as obras deuteronomistas do Antigo Testamento são fundamentais
na investigação da teologia da Bíblia Hebraica. Sobre isso, Schearing e Mackenzie
(1999, p. 13) afirmam:

Já faz mais de 50 anos que Martin Noth escreveu seu
trabalho inovador sobre a História Deuteronomista (HD). Ele
não sabia, porém, como as próximas cinco décadas de
pesquisa expandiriam as suas observações! 
 
Cada vez mais visto como o documento-base das Escrituras
Hebraicas, credita-se à HD influência (formalmente ou
informalmente) em quase todos os níveis da composição da
Bíblia Hebraica. 
 
Antes da que a febre pan-deuteronomista atinja proporções
epidêmicas, talvez seja sábio dar um passo atrás e fazer
algumas perguntas difíceis: 
 
O que significam os termos deuteronômico, deuteronomista e
deuteronomismo? 
 
O que faz um texto deuteronomista? 
 
Pode-se falar sobre influência deuteronomista? Em caso
afirmativo, ao que isso se refere? 
 
Existe uma ‘escola’ com a qual esses textos foram
formalmente conectados? 
 
Ou isso significa apenas que os escritores de tais textos
estão respondendo (em apoio ou em desafio) temas
deuteronomistas?
Schearing e Mackenzie (1999, p. 13)
São essas questões que começamos a responder aqui. A importância da teologia
deuteronomista e as obras por ela influenciadas podem ser claramente encontradas
em Juízes, 1 e 2 Samuel, e 1 e 2 Reis, que foram os objetos de estudo desta aula.
Notas
Exílio babilônicoUma tragédia causada, conforme Deuteronômio, pela infidelidade dos reis de Israel e
Judá em relação a Yahweh.
Leitmotiv
Ideia, fórmula que reaparece, de modo constante, em obra literária [...] com valor
simbólico e para expressar uma preocupação dominante.
Fonte: Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa.
Evidência material
Escavações arqueológicas nesses locais mostram que a cultura cananeia persistiu
(Bet-sheam, Megido, Gézer). Em suma, há evidências da proeminência dos filisteus
citada no livro de Juízes.
Septuaginta (LXX)
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Tradução grega da Bíblia Hebraica.
Ishbaal
O mesmo que “homem de Baal”. O fato de um filho de Saul – rei de Israel – ter um
nome em homenagem a Baal indica que outras divindades, além de Yahweh, foram
adoradas em Israel nesse momento.
Mefibosete
Bosheth significa “vergonha” em hebraico.
Referências
DE PURY, A. (Org.). O Pentateuco em questão: as origens e a composição dos
cinco primeiros livros da Bíblia à luz da pesquisa recente. 2. ed. Petrópolis: Vozes,
2002.
GOTTWALD, N. K. Introdução socioliterária à Bíblia Hebraica. 2. ed. São Paulo:
Paulus, 1997.
HILL, A. E.; WALTON, J. H. Panorama do Antigo Testamento. São Paulo: Vida
Acadêmica, 2006.
HOFFMANN, H. Reform und reformen: untersuchungen zu einem grundthema der
Deuteronomistischen Geschichtsschreibung. Zurich: Theologische, 1980.
NOTH, M. The Deuteronomistic History. Journal Studies of Old Testament,
Sheffield, 1981.
SCHEARING, L. S.; MACKENZIE, S. L. (Eds.). Those elusive deuteronomists: the
phenomenon of pan-deuteronomism. Sheffield: Sheffield Academic Press, 1999.
SCHMIDT, W. H. Introdução ao Antigo Testamento. 5. ed. São Leopoldo: Sinodal,
2013.
SETERS, J. V. In search of history: historiography in the ancient world and the
origins of biblical history. New Haven; London: Yale University Press, 1983.
WETTE, W. M. L. de. Lehrbuch der historischkritischen einleitung in die Bibel
Alten und Neuen Testaments. Berlin: Reimer, 1817.
Próximos Passos
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Profetas e profecias – formas e características;
Profetas do norte – Amós e Oseias;
Crise assíria – Isaías, Miqueias, Sofonias e Naum;
Crise babilônica – Jeremias I, Habacuque e Obadias;
Profetas do exílio – Jeremias II e Deutero-Isaías;
Profetas pós-exílicos – Ageu, Zacarias, Trito-Isaías, Joel, Malaquias e Jonas.
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