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Luciana Santos ATM 2023/2 1 Pediatria Parasitoses Intestinais Epidemiologia Mais comum em países em desenvolvimento. Ascaridíase é a segunda infecção mais comum do planeta (infecção dentária – cárie é a primeira). Último estudo sobre prevalência das parasitoses no Brasil – 2005: • Prevalência geral: 15 a 80% • Em lactentes: 15% • Em escolares: 23,3 a 66,3% • Poliparasitismo: 15 a 37% Etiologia Principais protozoários patogênicos: Entamoeba histolytica, Giardia lamblia (Giardia intestinalis), Cryptosporidium parvum, Cystoisospora belli, Balantidium coli, Microsporidia, Blastocystis hominis, Sarcocystis sp., Dientamoeba fragilis, Cyclospora cayetanensis Principais helmintos patogênicos: Nematelmintos - geohelmintos (cilíndricos): Ascaris lumbricoides, Enterobius vermicularis, Trichuris trichiura, Necator americanus, Ancylostoma duodenale e Strongyloides stercoralis. Platelmintos - biohelmintos (achatados): como Taenia solium (hospedeiro intermediário é o porco), Taenia saginata (hospedeiro intermediário é o boi), Hymenolepis nana (hospedeiro intermediário são artrópodes), Diphylobothrium latum (hospedeiro intermediário são os peixes); e os trematódeos, como Schistosoma mansoni (hospedeiro intermediário é o caramujo). Quadro clínico Geralmente oligossintomático ou assintomático. Sintomas geralmente são inespecíficos: diarreia, náuseas, vômitos, dor abdominal inespecífica, distensão abdominal, má absorção e desnutrição. Principais manifestações de helmintíase Ascaridíase: tendência a suboclusao ou até obstrução intestinal Oxiuríase: prurido anal (femeas depositam ovos na borda anal gerando reação pruriginosa) Tricuríase: prolapso retal Ancilostomíase e necatoríase: anemias importantes Estrongiloidíase: disseminação séptica em imunossuprimidos Teníases: convulsões no adolescente decorrente de neurocisticercose (T. Solium) e tenesmo (Tenias em geral) Esquistossomose: hepatoesplenomegalia Necatoríase, ascaridíase, estrongiloidíase e ancilostomíase: síndrome de Loeffler (migração errática para via respiratória) NASA! Principais manifestações nas protozoonoses Giardíase: síndrome disabsortiva Amebíase: disenteria sanguinolenta e abscessos hepáticos Criptosporidíase e cistoisosporíase: diarreia do imunossuprimido Diagnóstico Clínico e complementado pelo diagnóstico laboratorial. Solicitar parasitológico de fezes já indicando o parasita de maior suspeita > laboratório faz pesquisa direcionada. Coleta seriada de fezes, a cada 7 dias por 3 semanas: ideal para contemplar todas as formas de helmintos e protozoários e melhorar a sensibilidade dos exames. Eosinofilia: achado comum em helmintíases. Radiografia é um método auxiliar para suboclusao por áscaris e também síndrome de Loeffler (pneumonite eosinofílica). Ecografia abdominal: migração de áscaris para ducto colédoco e abscesso amebiano Sorologias: estrongiloidíase, esquistossomose e amebíase. Tratamento Classes farmacológicas • Benzoimidazólicos – drogas antihelmintícas: Mebendazol: um dos mais clássicos. Baixo custo. Polivalência na maioria das helmintíases, porem não age na estrongiloidíase (dar terapia combinada com Tiabendazol). Baixa absorção sistêmica (> 1 ano: mesma dose a cada 12h por 3 dias – repetir de 21 a 30 dias). Tiabendazol: ótima ação na espongiloidíase porém um dos mais tóxicos (neurotoxicidade, recomendado para > 5 anos). Albendazol: age em dose única no Ascaris, Enterobius e Ancilostomídeos, em 3 dias seguidos age nas Taenias e Strongyloides e se utilizado em 5 dias age nas Giardias também. Não é necessário repetir o ciclo. NÃO usar em <2 anos por falta de estudos. Luciana Santos ATM 2023/2 2 • Nitroimidazólicos – drogas antiprotozoários: Metronidazol: 3 a 4x por dia por 7 a 10 dias quando envolver Giardia intestinalis ou Entamoeba histolytica. Pode causar vômitos, náuseas, intolerância medicamentosa, gosto metálico e boca seca. Tinidazol: dose única, menos efeitos adversos. Secnidazol: dose única, menos efeitos adversos. • Novos antiparasitários Ivermectina: ótima ação em ectoparasitas (pediculose e escabiose) também age em ascaridíase, estrongiloidíase, enterobíase e tricuríase. Nitazoxanida: antiparasitário de amplo espectro, maior custo. Tratamento da suboclusao/oclusao na ascaridíase: internação hospitalar, jejum, sonda nasogástrica e óleo mineral. Se falha > cirurgia. Quando houver eliminação do Ascaris, iniciar ascaracida (Albendazol). Tratamento específico de oxiuríase: Pamoato de Pirvínio, dose única, repetição em 14 dias. Tratamento de nematoides: Pamoato de Pirantel, causa paralisia espástica no nematoide. Ascaridicida específico: Levamizol, dose única. Tratamento específico para teníases: Praziquantel (expulsão do platelminto), dose única. Tratamento específico para esquistossomose: Oxaminiquina, dose única. Tratamentos empíricos Albendazol por 5 dias é a terapia mais utilizada. Em menores de 1 ano: tratamento deve ser específico e feito somente em casos confirmados. Não é indicada terapia empírica nessa faixa etária. Entre 1 e 2 anos: pode-se usar terapia empírica com Mebendazol e Metronidazol ou Nitazoxanida isolada. Em maiores de 2 anos: usada a grande maioria de medicações empiricamente, como Albendazol por 5 dias, Ivermectina ou Nitazoxanida. Tratamentos com parasitológico de fezes positivo: controle de cura com parasitológico de controle de 15-30 dias após o tratamento. Referência: Tratado de pediatria : Sociedade Brasileira de Pediatria / [organizadores Dennis Alexander Rabelo Burns... [et al.]]. -- 4. ed. -- Barueri, SP : Manole, 2017. PARASITOSES Helmintíases: ancilostomíase, ascaridíase, estrongiloidíase, himenolepíase, oxiuríase, teníase, toxocaríase e tricuríase Protozooses: amebíase e giardíase ANCILOSTOMÍASE (necatoríase ou amarelão): Ancylostoma duodenale e Necator americanos. A infecção ocorre em 3 etapas: fase invasiva, fase de migração pulmonar e fase de fixação dos vermes adultos na mucosa intestinal. Penetração das larvas filariformes através da pele > por via circulatória as larvas chegam aos capilares pulmonares > penetram nos alvéolos > migram pela árvore brônquica até o esôfago > ingeridas > atingem o estado adulto no intestino humano. A fixação na mucosa intestinal ocorre por uma cápsula bucal, que suga o sangue do hospedeiro. Fêmeas liberam 20-30mil ovos por dia > eliminados nas fezes > novas larvas filariformes. Na migração das larvas pelos alvéolos, bronquíolos e traqueia > lesões microscópicas com hemorragias > sintomas da Síndrome de Loeffler (febrícula, tosse seca, rouquidão e sibilos). Podem surgir sintomas digestivos devido a fixação no intestino: náuseas, vômitos, anorexia, diarreia, dor abdominal, perversão do apetite (geofagia > comer terra). Intensidade dos sintomas depende do número de vermes!!! Infecções graves > anemia grave com comprometimento sistêmico. ASCARIDÍASE Áscaris lumbricoides. Ingestão de água ou alimentos contaminados por seus ovos. Ovos ingeridos liberam larvas que caem na circulação sanguínea > passam pelo fígado, coração e pulmões > instalam-se nos alvéolos pulmonar, absorvendo O2 e nutrientes para crescimento > Ciclo de Looss. Permanecem nos alvéolos até crescerem para então subirem em direção a faringe > deglutidas > tubo digestivo > chegam no delgado aonde completam seu desenvolvimento (fase adulta) > e aí se reproduzem. Pode ser assintomática na maioria dos casos. Quando sintomática pode causar dor abdominal, flatulência, cólica, diarreia, náuseas, vomito e desnutrição. Fase pulmonar > sintomas como tosse seca, irritação brônquica, dificuldade respiratória e febre = Síndrome de Loeffler. Complicações graves da ascaridíase são raras e predominam em crianças com grande número de áscaris > formação de bolo > obstrução da passagem dos alimentos pelo intestino > obstrução intestinal. Parasitas na passagem dos pulmões e faringe > crise de asfixia. Parasitas migrando para ductos biliares,pancreáticos ou apêndice > colecistite, pancreatite ou apendicite. ESTRONGILOIDÍASE Strongiloides stercoralis. Luciana Santos ATM 2023/2 3 Somente o homem como hospedeiro. Penetração das larvas filariformes infectantes pela pele > depois por via circulatória as larvas são transportadas até os capilares do pulmão, onde penetram na luz dos alvéolos > migram pela árvore respiratória > alcançam o esôfago > deglutidas > chegam ao intestino delgado > acasalam-se e fêmeas penetram na mucosa > produzem ovos que liberam a larva rabditiforme > são eliminadas nas fezes e são infectantes. Pode ser assintomática ou ter alterações digestivas como dor abdominal, desconforto, náuseas, vômitos e má absorção. Penetração da larva na pele: prurido e erupção eritematosa no local. Ciclo pulmonar> tosse e expectoração de pequena intensidade e duração. Pode haver diarreia e perda de peso. Imunodeprimidos: abdome agudo, bacteremia e sepse por Gram negativos. HIMINOLEPÍASE Hymenolepis nana. Ingestão de alimentos e líquidos contaminados por ovos > eclodem liberando embriões no delgado > penetram nas vilosidades > transformam-se em larvas cisticercóides > rompem as vilosidades e migram para o íleo aonde se tornam vermes adultos (possuem ventosas que os fixam no íleo e jejuno). Ovos liberados nas fezes podem sobreviver por 10 dias no ambiente. Assintomática na maioria das vezes. Pode haver dor abdominal em forma de cólicas e diarreia. OXIURÍASE Enterobius vermiculares, também chamado de Oxyurus vermiculares. Ingestão de ovos infectantes > ação do suco gástrico e duodenal > liberam larvas que se dirigem ao ceco e se fixam até o estágio adulto. Fêmea migra durante a noite para a região anal e perianal para depositar os ovos > contaminação pode ocorrer pelas mãos, após coçarem a região anal e perianal, manipulação de roupas ou superfícies que contenham os ovos. Inalação dos ovos > deglutidos > desenvolvem o ciclo. Larvas eclodidas na região anal podem migrar para o reto (retroinfecção). Causa prurido anal, exacerbado em período noturno. Pode haver náuseas, vômitos, cólicas e dor abdominal. Pode haver migração do verme pela região genital, ocasionando prurido vulvar, corrimento vaginal e ITU. Crianças com oxiuríase: podem apresentar distúrbios do sono, irritabilidade, déficit de crescimento e dificuldades na escola. TENÍASE Taenia saginata (boi) – forma adulta ou Taenia solium (porco) – hospedeiros intermediários. O homem é o hospedeiro definitico. Infectado por ingestão de carnes mal-cozidas de porco ou gado que contenham larvas encestadas da Taenia. Larvas da T. solium podem causar cisticercoce. O parasita habita o intestino delgado do homem. Somente um parasita acomete o homem = chamadas de solitárias. Sintomas inespecíficos, com dor abdominal, náuseas ou vômitos. Cisticercose pode simular quadro de tumor cerebral. Localizações mais comuns: SNC e globo ocular. TOXOCARÍASE Toxocara canis. Infecta o cão mas pode ocasionalmente atingir o homem. Ingestão acidental de ovos de toxocara por contaminação das mãos ou ato de comer terra (geofagia). Ovos eclodem no intestino e através da parede intestinal penetram na corrente circulatória > pode atingir fígado, pulmões, coração, cérebro e olhos. Pode manifestar-se sob forma visceral ou ocular. Fase aguda da doença > febre, mialgias, episódios de hiper-reatividade brônquica. Forma visceral crônica > manifestações inespecíficas. Hepatomegalia, dor abdominal, granuloma, abscessos em fígado e cérebro, convulsões, efusão pleural, artralgias, miocardite e pericardite. Larva migrans ocular: forma mais grave da doença (unilateral na maioria das vezes). TRICURÍASE Trichuris trichiura. Ingestão de ovos embrionados contidos na água ou alimentos. Ciclo todo no trato digestivo > ovos liberam larvas na última porção do delgado > transformação em adultas > fixam-se no ceco e sigmoide. Infecção assintomática na maioria das vezes. Pode haver cólicas, náuseas, vômitos, dor abdominal, insônia e perda de peso. Crianças desnutridas com muitos parasitas > prolapso retal como complicação. AMEBÍASE Entamoeba hystolitica. Ingestão de cistos transmitidos de pessoa para pessoa por mãos contaminadas. Água e alimentos também podem causar. Cistos transformam-se em trofozoítos ativos na região ileocecal, que podem penetrar na mucosa e submucosa do intestino grosso > atingem a camada muscular e causar perfuração intestinal. Podem apresentar-se de forma assintomática (maioria). Colite disentérica aguda pode ser causa de diarreia acompanhada de sangue, muco e cólicas abdominais. Diarreia com grande número de evacuações e febre não elevada com prostração são comuns. Abscesso hepático é o acometimento extraintestinal grave mais frequente. Há febre alta, distensão abdominal e hepatomegalia dolorosa. GIARDÍASE Giárdia lamblia. Luciana Santos ATM 2023/2 4 Contato direto entre as crianças em creches e escolas ou ingesta de cistos contidos na água/alimentos contaminados. Cistos eliminados pelas fezes são a forma infectante responsável pela disseminação da doença, podendo permanecer no ambiente por 2 meses ou mais. Ingestão de cistos > viram trofozoítos > se fixam no duodeno e jejuno > alteram a estrutura da mucosa > lesam microvilosidades (achatadas ou atrofiadas). Pode ser assintomática ou causar dor abdominal, anorexia, náuseas, vômitos, diarreia de curso autolimitado. Pode levar a má absorção intestinal, diarreia crônica e perda de peso. Diagnóstico das parasitoses • Exame parasitológico de fezes. Para oxiuríase ele tem baixa positividade, sendo necessária a coleta de material anal com fita gomada pela manhã e pesquisa de ovos ou larvas do parasita. • Estrongiloidíase: diagnóstico por pesquisa de larvas nas fezes por método específico (Baermann-Moraes). • Teníase: visualização dos proglotes eliminados com as fezes. • Giardíase e estrongiloidíase: análise de aspirado do conteúdo duodenal. • Toxocaríase: detecção de anticorpos IgG antitoxocara pelo método ELISA ou biópsia para achado da larva em tecido infestado. • Parasitoses de ciclo pulmonar (ascaridíase, ancilostomomíase, estrongiloidíase e toxocaríase): eosinofilia pode estar presente. • Abscesso amebiano, cisticercose, toxocaríase visceral ou ocular e complicações obstrutivas do áscaris: exame de imagem. Referência: Pediatria baseada em evidências / coordenadores Patricia Miranda do Lago, Cristina Targa Ferreira, Elza Daniel de Mello, Leonardo Araujo Pinto, Matias Epifanio. - Barueri, SP: Manole, 2016.
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