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relacionado com a experiência de todos os trabalhadores que constroem o dia a dia dos serviços de saúde. Dentre tantas políticas sociais adotadas no Brasil, acredita-se que muita coisa há de ser revista, refeita e concretizada também na área da saúde, visto que ocupa uma posição de extrema importância, pois visa garantir uma vida de qualidade do povo enquanto seres humanos, cidadãos e sujeitos de deveres e de direitos, atores sociais críticos, transformadores e responsáveis pelo cuidado de sua vida e dos demais. No cenário das políticas públicas dos estados brasileiros, pode-se afirmar que ainda há muito que fazer. Os estados brasileiros realmente carecem de um aceno do Governo Federal como motivador da expansão de sua plataforma de ciência e tecnologia, seja indicando os macroeixos estratégicos de desenvolvimento, seja disponibilizando recursos para fomentar os investimentos, seja com abertura e apoio no relacionamento com empresas, mercados e instituições de ensino e pesquisa internacionais (SOUZA, 2010, p. 49). Embora o Brasil tenha se desenvolvido e avançado muito na área econômica, social e educacional nos últimos anos, ainda persistem muitos problemas e entraves que afetam a vida de milhares de pessoas no âmbito da relação saúde-doença. Percebe-se que a saúde pública apresenta e faz manifestar diversos problemas e dificuldades, bem como diversos desafios para os profissionais que atuam nas diversas áreas. Nesse sentido Schaedler (2005, p. 2) enfatiza alguns aspectos interessantes: A Organização Mundial de Saúde – OMS define saúde como "Completo bem-estar físico, mental e social do indivíduo". Este conceito ampliado traz novos desafios para a atuação dos serviços públicos de saúde e para os profissionais que atuam nas diversas áreas. Atualmente, vivenciamos uma transição demográfica com o envelhecimento progressivo da população e a mutação epidemiológica, onde problemas de saúde pública presumivelmente superados, tais como parasitoses, desnutrição, dengue, hanseníase, tuberculose, etc., persistem em aparecer juntamente com doenças da modernidade, como: neoplasias, doenças cardiovasculares, estresse, doenças ocupacionais, transtornos psiquiátricos, doenças psicossomáticas, etc. Diante das tomadas de decisões de grandes organismos sociais, como é o caso da OMS, percebemos novas realidades sociais e nos deparamos com problemas inevitáveis e desafios que devem ser enfrentados e superados, como é o caso de diversas doenças que persistem em aparecer juntamente com as “novas” da sociedade moderna e inovadora. Frente à dicotomia das metanarrativas da modernidade na qual a ciência e a tecnologia não concretizam suas propostas de inclusão social, garantia de 132 UNIDADE 2 | O NEODESENVOLVIMENTO NO CAPITALISMO E O ACIRRAMENTO DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL direitos e universalidade do bem comum, algumas reflexões e questionamentos são necessários. Na visão de Dufour (2001), a quebra das tradições e dos costumes e valores socioculturais do passado evidencia, consequentemente, uma falta de cuidado de si e do outro, de sentido da vida, bem como de significados simbólicos, e questiona sobre o que está acontecendo com os quadros de referência, grandes sagas de legitimação que davam segurança às pessoas, tais como a economia, o trabalho, a religião, a política, a família estável, que davam aos indivíduos uma ancoragem estável no mundo social. Relembrando sobre a expressão da questão social “inúteis do mundo”, que perspectiva idealista de libertação, de autonomia, de saúde e vida está se formando na consciência dos indivíduos ou já se formou na mente de pessoas que chegaram ao limite de perda de significado de suas próprias vidas, de desvalorização e exclusão de si mesmas? “Que fenômenos estão vinculados à transformação da condição do sujeito nas “democracias de mercado” e nas novas formas de alienação e desigualdade sociocultural?” (MONTIBELLER, 2011, p. 71). Essas são interrogações que nos fazem revisitar várias questões sociais, tais como: desenvolvimento social, qualidade de vida, condição humana, família, saúde, proteção, liberdade, entre outros. 3 A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL Agora, no que diz respeito à assistência social como política pública, o que poderemos abordar, conhecer, analisar, refletir, discutir e esclarecer? A assistência social, enquanto política pública, foi reconhecida como direito social e dever do Estado. Assim verificamos, ao longo da história, que de medida filantrópica e caritativa, coercitiva e punitiva, assistencialista e clientelista, a assistência se efetivou como política social, direito social, a todo cidadão brasileiro que dela necessitar, independentemente de qualquer tipo de contribuição ou condição de trabalhar ou não. A assistência social, reconhecida como política pública de seguridade social, vem passando por inúmeras e profundas transformações a partir da Constituição Federal de 1988, como, por exemplo, com a criação e efetivação do Sistema Único de Assistência Social – SUAS, criado em lei em 2011, com a aprovação da Lei nº 12.435, que alterou dispositivos da Lei nº 8.742/93 – Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS) e garantiu no ordenamento jurídico brasileiro inúmeras conquistas efetivadas ao longo desses anos (MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME, 2015). A política de Assistência Social, legalmente reconhecida como direito social e dever estatal pela Constituição de 1988 e pela Lei Orgânica de TÓPICO 3 | A CRIAÇÃO E AMPLIAÇÃO DAS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS 133 Assistência Social (LOAS), vem sendo regulamentada intensivamente pelo Governo Federal, com aprovação pelo Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), por meio da Política Nacional de Assistência Social (2004) e do Sistema Único de Assistência Social (2005). O objetivo com esse processo é consolidar a Assistência Social como política de Estado; para estabelecer critérios objetivos de partilha de recursos entre os serviços socioassistenciais e entre estados, DF e municípios; para estabelecer uma relação sistemática e interdependente entre programas, projetos, serviços e benefícios, como o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e o Bolsa Família, para fortalecer a relação democrática entre planos, fundos, conselhos e órgão gestor; para garantir repasse automático e regular de recursos fundo a fundo e para instituir um sistema informatizado de acompanhamento e monitoramento, até então inexistente (CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL, 2011, p. 6). Nesse sentido, a Assistência Social é entendida como uma política pública de direito de todo cidadão e dever do Estado, por isso tem caráter de universalidade, política prevista na Constituição Federal, regulamentada pela Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS. FIGURA 20 - MARCO LEGAL REFERENTE À ASSISTÊNCIA SOCIAL FONTE: SÁ, Clara Carolina de. Sistema único de assistência social – SUAS. Departame nto de Gestão do SUAS. Secretaria Nacional de Assistência Social. Ministério do Desen volvimento Social e Combate à Fome. 2013. Disponível em: <http://pt.slideshare.net/marciasilva65/apresentacao-vinculo-suas-loas>. Acesso em: 25 jan. 2015. A Lei Orgânica de Assistência Social – LOAS, segundo o MDS (2015), trata da organização da assistência social no Brasil, direcionada a todo cidadão em forma de benefícios, serviços, programas e projetos socioassistenciais: A Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993, Lei Orgânica de Assistência Social – LOAS, dispõe sobre a organização da Assistência Social, representando um marco para o reconhecimento da assistência social como direito a qualquer cidadão brasileiro aos benefícios, serviços, programas e projetos socioassistenciais. Esta publicação traz, ainda, a legislação que regulamenta