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Direito do Consumidor - Aurisvaldo Sampaio

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MARIA CAROLINA RIBEIRO
41
	MARIA CAROLINA RIBEIRO
2017.1
	
DIREITO DO CONSUMIDOR	
AURISVALDO SAMPAIO
 DIREITO DO CONSUMIDOR 
Antes do Código de Defesa do Consumidor, não havia direito do consumidor. O direito do consumidor é fruto do sistema de produção capitalista e, é um ramo do direito que se justifica por conta do sistema de produção e consumo em larga escala. Somente no início do século XX é que a preocupação em se criar um tratamento disciplinado para essa temática surgiu. Antes do Código de Defesa do Consumidor, haviam normas de proteção ao consumidor, mas não havia a preocupação em se estabelecer uma política pública de defesa do consumidor – o que haviam eram preocupações pontuais. Uma das primeiras preocupações com a defesa do consumidor era visualizada no Código de Hamurabi, onde haviam normas de proteção ao adquirente de embarcações: aquele que adquirisse embarcação com defeitos estruturais poderia exigir do fabricante que o refizesse às suas expensas. Haviam ainda outras preocupações do Código de Hamurabi: em relação à construção, tinha-se que se a construção ruísse sobre um servo do proprietário, um servo do construtor seria dado em substituição; se houvesse ferimento ou morte de um filho do proprietário, seria também ferido ou morto o filho do construtor e, havendo morte do proprietário, o próprio construtor morreria. O Código de Manu na Índia também traz proteção ao consumidor de gêneros alimentícios. Os romanos trouxeram a proteção redibitória, impuseram o congelamento de preços em áreas ocupadas. Na França da Idade Média, punia-se com banho escaldante aquele que adicionasse água ao leite ou pedra à manteiga. Nas Ordenações também se visualizava essa preocupação com o consumidor – se impunha o degredo ao advogado que por desídia ocasionasse a perda da causa. No Brasil, já no século XIX, havia uma preocupação em relação à indústria de medicamentos: os medicamentos eram de péssima qualidade e beiravam a fraude, mas eram os medicamentos que existiam à época. Havia muito anúncio indicando falsas propriedades desses medicamentos, logo, surgiu normatização proibindo a divulgações de propriedades não comprovadas dos medicamentos. No século XX a preocupação com a defesa do consumidor foi crescente, podendo-se indicar a Lei de Usura e a criação dos PROCON. Ainda assim, essas eram manifestações pontuais com a defesa do consumidor, não existindo ainda a preocupação em se estabelecer uma política pública de proteção ao consumidor. A doutrina indica que, o marco do surgimento dessa preocupação em termos planetários se deu na década de sessenta do século XX, nos Estados Unidos: John Kennedy encaminhou para o congresso americano uma série de medidas de proteção ao consumidor e, anuncia os princípios do direito do consumidor nesses projetos. Posteriormente a preocupação com o consumidor chega à Europa, onde é bastante desenvolvida. No Brasil, a proteção se solidifica a partir da Constituição Federal de 1988, que traz consigo três importantes artigos: art. 5º, XXXII; art. 170, V e art. 48 do ADCT. Posteriormente, em 1990, surge o Código de Defesa do Consumidor. Questiona-se porque a proteção ao direito do consumidor ocorreu de forma tão tardia no Brasil, e porque a preocupação com o direito do consumidor primeiro surgiu nos Estados Unidos, depois na Europa, e somente após a segunda metade do século XX no Brasil. A cronologia do surgimento da preocupação com o consumidor pelo mundo, reforça a ideal de que o direito do consumidor é fruto do sistema de produção capitalista. O direito do consumidor é um mecanismo para compatibilizar o sistema de produção capitalista com a proteção humana no âmbito das relações jurídicas de consumo. No passado, se alguém precisasse de medicamento, o sujeito se dirigia a farmácia e pedia para que o medicamento fosse formulado – se o remédio fosse mal formulado, haveria dano somente ao sujeito que solicitou a produção do medicamento. Atualmente, um único medicamento tem o potencial de causar dano a um número indeterminado de pessoas. Houve a democratização dos riscos, ou seja, os riscos foram pulverizados. A sociedade de consumo é uma sociedade de risco, pois, consumir envolve risco e, o sistema de produção capitalista, que traz a produção em massa, amplia o risco. É necessário proteger o consumidor em face do próprio sistema de produção. Por outro lado, os economistas indicam que foi o próprio sistema capitalista que permitiu que se alcançasse a chamada Era da Afluência. Nessa Era, as necessidades básicas das populações estão satisfeitas e, satisfeitas essas necessidades básicas, é possível o surgimento de preocupação com qualidade, segurança, informação, entre outros. No Brasil, nem todos atingiram esse estágio da afluência. A sociedade afluente, como dito, é fruto do sistema capitalista e, traz a possibilidade de que se demande algo além da satisfação de necessidades básicas – essa é a razão do surgimento tardio do direito do consumidor no Brasil. Antes, o sistema econômico vigente não demandava a proteção ao consumidor e, isso explica o surgimento do direito do consumidor de forma tardia no Brasil. Com essa perspectiva é que deve ser visto o direito do consumidor: como um direito que busca compatibilizar o sistema de produção capitalista com a proteção humana – por isso o direito do consumidor é um ramo do direito tão protetista.
FONTES CONSTITUCIONAIS DO DIREITO DO CONSUMIDOR: O direito do consumidor é uma forma de compatibilizar o sistema capitalista e a produção em larga escala com o princípio da proteção à dignidade da pessoa humana. É possível inferir isso da própria ordem constitucional.
· Art. 170, V, Constituição Federal: O art. 170 da Constituição Federal dispõe que, “a ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: defesa do consumidor”. No Brasil, adotou-se o sistema capitalista e, isso não é somente uma realidade fática, mas uma opção do legislador constitucional – isso pode ser visto diante da proteção à propriedade privada, livre concorrência e livre iniciativa. O capitalismo adotado tem o fim de conferir a todos uma existência digna, conforme os ditames da justiça social: os valores da pessoa humana se sobrelevam em relação ao lucro. Acima do interesse legitimo do lucro, estão os valores essenciais da pessoa humana. Os valores que são intrinsecamente humanos estão acima da busca natural e legítima do lucro. Para que de fato a ordem econômica atinja o objetivo de assegurar a todos uma existência digna conforme os ditames da justiça social, o próprio art. 170 dispõe a necessidade de observância de determinados princípios e, um desses princípios é a defesa do consumidor. Dentre os valores que devem pautar a ordem econômica entendida como o conjunto de agentes que atuam no mercado, está a defesa do consumidor. Impondo esse princípio como um princípio da ordem econômica, a Constituição Federal impõe à ordem econômica deveres positivos e negativos. Do ponto de vista negativo, a ordem econômica não pode atuar em prejuízo do consumidor. Do ponto de vista positivo, toda atuação da ordem econômica deve ser no sentido de satisfazer o consumidor e suas necessidades. Nesse sentido, é o direito do consumidor um mecanismo de compatibilização do sistema de produção capitalista com a proteção da pessoa humana no âmbito das relações de consumo. 
· Art. 5º, XXXII, Constituição Federal: O principal artigo que trata do direito do consumidor é o art. 5º, XXXII da Constituição, onde se indica que o direito do consumidor é um direito fundamental, reforçando a ligação entre proteção ao consumidor e proteção à dignidade da pessoa humana: “o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor”. Esse dispositivo não está determinando a edição de uma lei de defesa do consumidor – na verdade a imposição é no sentido de que o Estado brasileiro mantenha uma política pública de proteção ao consumidor. No passado,haviam manifestações pontuais de preocupação com o consumidor, mas, a partir da Constituição Federal se determina que o Estado brasileiro mantenha uma política pública de defesa do direito do consumidor. Nesse sentido, contraria a ordem constitucional qualquer iniciativa do Estado brasileiro que implicar em desproteção ao consumidor, seja na seara legislativa, executiva ou em qualquer outra. Esse dispositivo constitucional reforça a proibição do retrocesso em âmbito de direito do consumidor. Esse princípio que se aplica a qualquer direito social é reforçado diante do direito do consumidor, na medida em que o Estado deve proteger o consumidor. Mitigar a proteção ao consumidor seria atuar contrariando o mandamento constitucional no sentido de promoção ao consumidor. Mais do que isso, esse dispositivo reconhece a vulnerabilidade do consumidor. O princípio da vulnerabilidade é um princípio infraconstitucional expresso (art. 4º, CDC) e um princípio constitucional implícito – isso porque, o art. 5º, XXXII determina a defesa do consumidor e, quem precisa de defesa é aquele que é frágil. Ao determinar a promoção da defesa do consumidor, a Constituição reconhece o estado de fragilidade do consumidor e, fragilidade é o mesmo que vulnerabilidade. Desse dispositivo, é possível perceber que o legislador constitucional quis assegurar ao consumidor o grau de proteção máxima do ordenamento jurídico, isso inclusive é uma consequência do reconhecimento da vulnerabilidade. Nenhum outro sujeito de direito estando na mesma situação que o consumidor ou em situação mais privilegiada que ele, deverá ser destinatário de grau de tutela maior – se o for, a tutela do consumidor deve ser estendida para alcança-lo. 
	Exemplo: O art. 14, §4º do Código de Defesa do Consumidor dispõe que, o fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa. Já o art. 927 do Código Civil de 2002, em seu parágrafo único, dispõe que aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em li, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. Diante de atividade de risco exercida por profissional liberal, questiona-se se a sua responsabilidade será objetiva ou subjetiva, em caso de dano causado por este. Da análise dos dois dispositivos, percebe-se a existência de um conflito aparente de normas. O Código de Defesa de Consumidor, por ser norma especial, em regra deve predominar, no entanto, diante da necessidade de ampla proteção, quando uma norma inferior traz maior proteção, ela deve se estender ao consumidor. A responsabilização do profissional liberal em relação de consumo, em princípio seria subjetiva. O Código Civil, por outro lado, indica que diante do exercício de atividade de risco, a responsabilização terá caráter objetivo. A proteção trazida pelo Código Civil se estende ao direito do consumidor, visto que é mais ampla. Dessa forma, o profissional liberal que exerce atividade de risco dentro de relação de consumo, responde objetivamente pelos danos causados. O grau de proteção dado ao consumidor precisa ser ampliado para atingir a norma mais protetiva. É difícil para o consumidor fazer a prova de culpa.
A vulnerabilidade é multifacetária – a vulnerabilidade do consumidor não deve ser vista somente do aspecto econômico. Os consumidores são vulneráveis, mas, em algumas situações há uma hipervulnerabilidade – um exemplo é o paciente em relação ao médico. 
· Diálogo das fontes normativas: A ideia do diálogo das fontes normativas foi trazida ao Brasil pelo direito do consumidor – a tese foi introduzida por Cláudia Lima Marques. Percebeu-se que, as regras tradicionais para dirimir os conflitos de lei no tempo, atualmente, diante da nova realidade dos microssistemas jurídicas, essas regras são insuficientes. Não é que as regras tenham perdido sua importância, mas elas são insuficientes. A regra hierárquica, temporal e da especialidade ainda são importantes e aplicáveis, mas não são suficientes para dirimir o conflito de leis, sobretudo diante da realidade dos microssistemas jurídicos. Os antigos critérios são chamados de monólogo das fontes normativas – monólogo porque utilizando esses critérios, incumbiria a uma única fonte normativa comunicar o direito no caso concreto, havendo a exclusão de outras fontes normativas. O direito do consumidor é um microssistema jurídico, ou seja, é um sistema menor inserido no sistema do direito privado. Quando se está diante desse tipo de realidade, é necessário permitir que as diversas fontes normativas dialoguem, devendo-se admitir a aplicação simultânea, coerente e coordenada de plúrimas fontes normativas. Simultânea porque é ao mesmo tempo, coerente porque as normas não podem se contradizer, e coordenada porque se deve ajustar no caso concreto em que medida cada norma incide. Uma aplicação bastante nítida ocorre quando se está diante do contrato de seguro – contrato de seguro normalmente é relação de consumo, no entanto, não existe no Código de Defesa de Consumidor normas específicas sobre o contrato de seguro. As normas sobre o contrato de seguro estão positivadas no Código Civil e, aplicação do Código de Defesa do Consumidor não exclui a aplicação do Código Civil – da mesma forma não ocorre o inverso. Há portanto, a aplicação simultânea de plúrimas fontes normativas, que ainda devem ser convergentes. No geral, as plúrimas fontes normativas são convergentes. Cláudia Lima Marques indica quais as fontes do direito civil em relação ao direito do consumidor. O Código Civil possuiria uma primeira função conceitual, pois os conceitos do direito privado de uma forma geral se encontram em seu bojo. O Código Civil funciona também como uma fonte de regulação subsidiária, pois preenche as lacunas. Para que haja aplicação subsidiária, além da lacuna é necessário que haja compatibilidade. O Código de Defesa do Consumidor é protetivo – para que se aplique uma norma do direito civil em uma relação de consumo, é necessário que essa norma não rompa o princípio da vulnerabilidade. A incidência principal benéfica ao consumidor também está inserida no âmbito do diálogo das fontes, porém, rompe com a ideia de que as plúrimas fontes devem ser convergentes – eventualmente, as fontes normativas podem ser divergentes e, ainda assim ocorrerá aplicação, desde que isso se dê de maneira benéfica ao consumidor. Isso porque, é necessário atender ao ditame constitucional de que o Estado deve promover a defesa do consumidor.
· Art. 49, Ato de Disposições Constitucionais Transitórias: Determina expressamente a edição do Código de Defesa do Consumidor. O Código de Defesa do Consumidor foi editado com uma discrepância em relação ao prazo determinado. O art. 48 do ADCT exauriu o seu mandamento constitucional com a edição do Código de Defesa do Consumidor. Alguns autores não entendem que tenha havido de fato o exaurimento, ou seja, o dispositivo permanece produzindo efeitos, na medida em que o Código de Defesa do Consumidor se trata de lei complementar. O art. 48 do ADCT não traz a expressão ‘lei complementar’ e, lei complementares são aqueles assim referidas pela Constituição Federal – se a Constituição reserva determinada matéria à disciplina de lei complementar, há a indicação. A doutrina não afirma que o Código de Defesa do Consumidor seja uma lei formalmente complementar. A doutrina não afirma que o Código de Defesa do Consumidor é uma lei formalmente complementar. Essa ideia surge de doutrina estrangeira que defende a existência de leis formalmente complementares e materialmente complementares. Nesse sentido, a doutrina defende que o Código de Defesado Consumidor é materialmente complementar. Leis materialmente complementares seriam aquelas editadas por expressa determinação do legislador constitucional com o fim de dar efetividade a mandamentos constitucionais. A consequência disso é a inviabilidade da alteração do Código de Defesa do Consumidor por outra fonte normativa que não seja ao menos materialmente complementar. O Código Civil, por exemplo, não poderia revogar ou derrogar uma norma consumerista, visto que não se trata de norma complementar. Esse é um posicionamento adotado por parte da doutrina, mas que não possui oposição. Essa questão também não foi enfrentada pela jurisprudência. 
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR: Em face de todos esses dispositivos constitucionais, foi editado o Código de Defesa do Consumidor. O artigo 1º do Código de Defesa do Consumidor invoca as suas raízes constitucionais, justamente como forma de reafirmar a sua importância, indicando ainda que as suas normas são de ordem pública e interesse social. Normas de ordem pública são aquelas que objetivam tutelar interesses gerais da sociedade – à sociedade interessa a proteção ao direito do consumidor. O fato das regras de direito do consumidor serem de ordem pública e interesse social faz com que haja a inderrogabilidade das normas de proteção ao consumidor. Inderrogabilidade não significa indisponibilidade: se o interesse é patrimonial, nada impede que o consumidor transija ou renuncie. A inderrogabilidade indica que não se pode contratar contrariando norma de direito de consumidor. Se no contrato houver contrariedade a uma norma de direito do consumidor, a cláusula será nula, inclusive por violar norma de ordem pública. Há uma decisão isolada do STJ indicando que o direito do consumidor é indisponível mas, isso não sedimenta o entendimento. As normas que são inderrogáveis são as normas de proteção ao consumidor, ou seja, pode haver derrogação de uma norma do Código de Defesa do Consumidor em benefício do consumidor – o que não pode haver é derrogação da proteção, mas concessão de proteção maior do que a prevista no Código de Defesa do Consumidor, ainda que violando dispositivo da norma é possível. A segunda consequência pelo fato de as normas do direito do consumidor serem de ordem pública é que elas serão pronunciáveis de ofício, sem necessidade de requerimento da parte. Paradoxalmente, o STJ não vem admitindo que haja a pronúncia de ofício da nulidade de cláusulas contratuais – Súmula 381, STJ.
 RELAÇÃO DE CONSUMO 
O Código de Defesa do Consumidor não foi editado para regular uma relação jurídica qualquer, mas sim as relações de consumo. O Código de Defesa do Consumidor não apresenta o conceito de relação de consumo, mas apresenta conceitos dos elementos da relação de consumo. Haverá relação de consumo quando em uma determinada relação jurídica se encontrarem seus elementos próprios. Para a doutrina tradicional, qualquer relação jurídica possui sujeitos, objeto e fato propulsor. No Direito do Consumidor, tem-se como sujeitos o consumidor e o fornecedor, logo, há a necessidade da presença desses sujeitos para que se configure a relação de consumo. Os objetos da relação de consumo serão produtos e serviços. O fato propulsor, como regra, não é importante para a caracterização da relação de consumo. Essa é a relação de consumo padrão. Além dessa relação de consumo padrão, há ainda a chamada relação de consumo por equiparação. Para a caracterização da relação de consumo por equiparação é que será importante identificar o fato propulsor da relação jurídica. O Código de Defesa do Consumidor não conceituou a própria relação de consumo, mas sim seus elementos. Haverá portanto, relação de consumo padrão, quando em determinada relação jurídica estiverem presentes o consumidor, o fornecedor e o bem e/ou serviço.
CONSUMIDOR: Art. 2º: Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. A doutrina costuma decompor esse conceito de consumidor em dois elementos: um elemento subjetivo e um elemento anímico. O elemento subjetivo consiste naqueles que podem ser consumidores. A doutrina majoritária entende que além de pessoas físicas e jurídicas, entes despersonalizados, por uma questão de equidade, também são tutelados pelo direito do consumidor. Toda pessoa, em tese, pode ser consumidora. Ocorre que, no passado, a doutrina minoritária que foi adotada pelo STJ, defendia que a pessoa jurídica só poderia ser consumidora se fosse vulnerável no caso concreto. Para essa doutrina, a vulnerabilidade da pessoa jurídica deve ser demonstrada e, é relacional, devendo-se levar em consideração os sujeitos envolvidos na relação jurídica, ou seja, quando a pessoa jurídica for colocada em confronto com a sua contraparte, ela deve se mostrar mais frágil. Se a pessoa jurídica não for vulnerável, ela não será considerada consumidora, independentemente de estarem presentes os outros requisitos. A vulnerabilidade precisa ser demonstrada no caso concreto, a partir do confronto das partes da relação jurídica. O elemento anímico consiste na destinação final e, se questiona o que é ser destinatário final. Não se exige contratação de consumo para a caracterização da relação de consumo – alguém pode travar relação de consumo mesmo sem ser contratante, visto que o mero usuário é consumidor (consumidor é quem adquire ou utiliza o produto ou serviço)[footnoteRef:1]. Aquele que é intermediário não é destinatário final – aquele que adquire o bem com ânimo de intermediação, não o adquirindo para si, não é destinatário final, portanto não é consumidor. A intermediação que desqualifica a relação consumerista é aquela que possui interesse econômico. A intermediação sem nenhum interesse econômico não desconfigura a relação de consumo. Mesmo quando a intermediação ocorre mediante processamento, como ocorre com um restaurante que compra feijão para vender feijoada, há a descaracterização da relação de consumo. Em primeiro momento, o sentido de destinação final parece simples. Surgiram três teorias para explicar em que consiste a destinação final. A discussão paira em torna da expressão ‘destinação final’. [1: Essa discussão foi bastante visualizada no passado, nos casos de planos de saúde coletivos contratados por empresas. Questionou-se se o empregado beneficiado poderia pleitear seus direitos diretamente. Muitos juízes entendiam no passado que o empregado não poderia adentrar diretamente com a ação, porém, esse entendimento já se encontra superado, visto que o usuário do bem ou serviço também é considerado consumidor.] 
· Teoria maximalista: A teoria maximalista indica que a destinação final consiste na aquisição do bem para si, com ânimo definitivo e sem ânimo de intermediação. Essa teoria também é chamada de teoria objetiva ou objetivista. Aqui, basta o objetivo de adquirir o bem para si, ou que haja intermediação sem ânimo lucrativo. A destinação final exigida pelos maximalistas é a destinação fática.
· Teoria finalista: Essa teoria foi majoritária por um bom tempo. Entendeu-se que o Código de Defesa do Consumidor não foi criado para tutelar um adquirente qualquer de produtos e serviços. Haviam adquirentes que eram profissionais de uma área e, se houvesse a tutela de todos, haveria uma banalização da aplicação do direito do consumidor. Como o direito do consumidor se trata de um ramo protetivo do direito, a banalização poderia resultar na mitigação da proteção daqueles que realmente precisam dela. Em razão disso, os finalistas passaram a entender que o profissional, ou seja, aquele que atua na sua atividade econômica, não precisaria da tutela do Código de Defesa do Consumidor. Os finalistas não se conformam somente com o que os maximalistas exigem, sendo necessário que, além da aquisição do bem com ânimo definitivo, houvesse a retirada do bem do ciclo econômico, da cadeia produtiva. Um bem é retirado do ciclo econômico quando ele não é utilizado como meio de produção. Se o bem for adquirido, ainda que com ânimo definitivo, com o objetivo de ser utilizadocomo meio de produção, não está caracterizada a relação de consumo. Meio de produção é o bem utilizado para produzir riqueza. Se a aquisição se dá com o objetivo da permanência do bem no ciclo econômico, gerando riquezas e sendo utilizado como meio de produção, os finalistas indicam que não há destinação final. A destinação final admitida pelos maximalistas é denominada destinação final fática ou meramente fática. A destinação final exigida pelos finalistas é a destinação econômica, que consiste na aquisição com ânimo definitivo e na retirada do bem do ciclo econômico. A teoria finalista é mais restritiva: todos que são destinatários finais econômicos são destinatários finais fáticos, mas, nem todos que são destinatários finais fáticos são destinatários finais econômicos, já que a destinação final econômica exige um plus em relação à destinação final fática. A teoria finalista também é denominada de teoria finalista, pois exige a intenção de retirar o bem do ciclo econômico. Os principais autores de direito do consumidor optaram pela teoria finalista. A ideia era não vulgarizar a aplicação do direito do consumidor, pois, se isso ocorresse, o rigor da aplicação seria diminuído e, não haveria a finalidade protetiva que se busca.
· Teoria finalista mitigada, evoluída ou aprofundada: No momento em que prevalecia a teoria finalista, percebeu-se que ela era frequentemente capaz de causar injustiças e iniquidades. A teoria finalista mitigada não abandona a destinação final econômica. Há a exigência da destinação final econômica, no entanto, essa teoria se conforma com a destinação final fática desde que haja vulnerabilidade. O fundamento jurídico dessa corrente é o princípio da isonomia – busca-se tratar igualmente os demais. Essa é a teoria que prevalece dentro da doutrina e da jurisprudência do STJ.
· Consumidor padrão, consumidor tipo ou consumidor standard: Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final – o caput do art. 2º trata do consumidor padrão. Havendo consumidor padrão, a relação de consumo também será uma relação padrão. Esse conceito de consumidor não esgota as hipóteses de consumidor, pois ao lado do consumidor padrão, se vislumbra o consumidor por equiparação.
· Consumidor por equiparação: Há previsão do consumidor por equiparação no parágrafo único do art. 2º, no art. 17 e no art. 29 do Código de Defesa do Consumidor. O parágrafo único do art. 2º do Código de Defesa do Consumidor indica que, equipara-se aos consumidores a coletividade de pessoas, ainda que indeterminadas, que haja intervindo nas relações de consumo. Em verdade, a hipótese trazida pelo dispositivo não trata de consumidor por equiparação – isso porque, se a coletividade intervém em relação consumo, há consumidor padrão, há uma coletividade de consumidores padrão. Alguns autores aprofundam essa reflexão e, percebem que não faz sentido dizer que uma coletividade de consumidores que intervém nas relações de consumo consista em consumidores por equiparação. O que esse dispositivo quis, em verdade, foi fazer uma conexão entre o direito material do consumidor e o direito processual, viabilizando a utilização das normas de direito material na tutela coletiva do consumidor. Indica-se que, são tuteláveis pelas normas consumeristas não apenas o consumidor individualizado, mas também o consumidor coletivamente considerado. O que se quer é estabelecer um vínculo entre as normas materiais e a tutela coletiva. O que ocasiona a condição de consumidor no art. 2º, parágrafo único do Código de Defesa Consumidor é a mesma condição prevista no caput. O art. 17 do Código de Defesa do Consumidor dispõe que, equipara-se aos consumidores todas as vítimas do evento. Esse evento é o denominado acidente de consumo. O acidente de consumo é todo o evento, que se inicia no ciclo de produção e se esgota com o consumo, que ocasiona dano ao consumidor. Basta que alguém seja vítima de um acidente de consumo para ser consumidor por equiparação. Para que haja acidente de consumo, é necessário que o fato seja decorrente de um defeito, ainda que esse defeito seja de informação. Quando o consumidor é por equiparação, a relação de consumo também é por equiparação, ou seja, a relação de consumo não precisa ter a mesma configuração visualizada na prestação de serviço padrão – basta a existência do consumidor por equiparação para que haja a relação de consumo. Quando a relação de consumo é o por equiparação, o que interessa é o fato propulsor e, o fato propulsor sozinho caracteriza a relação de consumo. O art. 29 equipara aos consumidores todas as pessoas expostas às práticas comerciais previstas no Código de Defesa do Consumidor, então, basta que alguém esteja exposto a uma prática comercial prevista para ser considerado consumidor por equiparação. Essas práticas são oferta, publicidade, práticas abusivas, cobrança de dívidas, bancos de dados de consumo, cláusulas contratuais abusivas e contratos de adesão – só por estar exposto a qualquer uma dessas práticas o sujeito é considerado consumidor por equiparação. Aqui, não há a necessidade de que o sujeito tenha adquirido ou utilizado serviço algum.
FORNECEDOR: Art. 3º, caput, Código de Defesa do Consumidor. Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. A doutrina decompõe o elemento ‘fornecedor’ em dois elementos: um elemento subjetivo e um elemento anímico. O elemento subjetivo seria a indicação das pessoas que podem ser fornecedores. Pode ser fornecedor toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados. O legislador foi redundante para deixar claro que qualquer pessoa pode ser fornecedor. Isso quer dizer que a natureza jurídica da pessoa não o coloca ou exclui da condição de ser fornecedor. 
A natureza jurídica da pessoa não o coloca ou exclui da condição de fornecedor. Entidades filantrópicas podem ser fornecedoras. Pessoas jurídicas de direito público podem ser fornecedoras. A natureza do sujeito, por si só, não exclui a condição de fornecedor. Qualquer atividade econômica pode ser realizada pelo fornecedor. O caput do art. 3º não é exauriente, exatamente em razão de sua organização: a sua organização não permite o entender como um rol taxativo de atividades econômicas. Fala-se em atividade de produção: toda atividade primária, seja extrativa, seja pecuária, seja agrícola, é atividade de produção. A montagem é uma atividade industrial que recai sobre produtos pré industrializados, diferente da transformação. São duas as atividades industriais: transformação e montagem. Na indústria de transformação a atividade recai sobre a matéria prima, já a montagem pressupõe a atividade exercida sobre material já pré-industrializado. Quando o Código de Defesa do Consumidor fala em montagem e em transformação, há a abrangência de todas as atividades industriais. Até então, o conceito abrange toda a atividade primária e secundária. A criação é a atividade econômica que resulta no surgimento do bem intelectual. Os programas de computação, por exemplo, é uma atividade de criação. A própria organização do rol permite abranger qualquer atividade econômica, daí a conclusão de que não se trata de um rol taxativo (diante da amplitude que se pode dar às atividades mencionadas). Fornecedor é qualquer pessoa exercendo qualquer atividade econômica. Diante disso, questiona-se como identificar o fornecedor no caso concreto, já que ele pode ser qualquer pessoa desenvolvendo qualquer atividade econômica. A solução está na expressão ‘que desenvolvem’, pois, é onde encontra-se a chave para a identificação do elemento anímico. Por desenvolver atividade, a doutrina infere habitualidade no exercício dessa atividade econômica. Então, fornecedor é alguém que desenvolveatividade econômica, ou seja, alguém que desempenha certa atividade econômica de maneira habitual, não eventual. Por exemplo, a Faculdade Baiana de Direito possui um automóvel e, o vende a um aluno. Neste caso, não há relação de consumo na condição de consumidor, porque a Faculdade Baiana de Direito não desenvolve essa atividade econômica de maneira habitual. Durante a prestação de serviços educacionais, no entanto, a Faculdade Baiana de Direito será considerada fornecedora, pois ela de fato desempenha a atividade econômica de maneira habitual. A habitualidade portanto, caracteriza a condição de fornecedor. O desenvolvimento de atividade econômica que caracteriza a condição de consumidor, entendendo-se essa expressão como habitualidade no exercício de certa atividade econômica. Há uma discussão doutrinária: alguns autores exigem mais que habitualidade – seria necessário a profissionalidade no exercício da atividade econômica e, essa profissionalidade consistiria em ser aquela atividade econômica a atividade econômica precípua do agente econômico – ainda que ele desempenhasse a atividade de forma habitual, mas como algo secundário e que fosse apenas uma contingência de sua atividade econômica principal, não estaria caracterizada a relação de consumo, pois o sujeito não seria fornecedor. O exemplo apresentado por Nilton de Lucca é o seguinte: um neurocirurgião quer investir o seu dinheiro em imóveis e, começa a comprar imóveis. Esses imóveis são alugados. Locação de imóveis não é a atividade principal do médico – a sua fonte de renda é a medicina. A locação de imóveis é algo secundário. Na medida em que o neurocirurgião loca imóveis, questiona-se se o médico seria fornecedor. Nilton de Lucca entende que sim, mas muitos autores entendem que não, pois falta a profissionalidade. Outro exemplo ocorre diante de empresas que realizam locação de veículos: define-se um prazo durante o qual ocorrerão as locações e, após transcorrido o prazo, vende-se o veículo. Na medida em que ocorre a venda do veículo, questiona-se se a locadora de veículos é fornecedora. A atividade principal da locadora não é a venda de veículos, mas sim a locação. Nesse caso, há habitualidade porque existe uma reiteração de reações daquela natureza, mas não há profissionalidade porque esta não é a sua atividade principal. A maioria dos autores se inclina pela mera habitualidade, ou seja, reiterações de relações daquela natureza. Não há muita discussão na jurisprudência, pois a maioria dos fornecedores são pessoas jurídicas e, as pessoas jurídicas ao exercerem atividade econômica de maneira habitual precisam se profissionalizar (abrem outra empresa do mesmo grupo).
PRODUTO: Segundo o art. 3º, §1º do Código de Defesa do Consumidor, produto é qualquer bem móvel ou imóvel, material ou imaterial. O conceito de produto é o mais amplo possível, já que se diz que produto é qualquer bem. Bem jurídico é tudo aquilo que representa uma utilidade e desperta interesse nas pessoas. O legislador aqui, foi mais amplo do que deveria. Embora se diga que produto é qualquer bem, questiona-se se qualquer bem pode ser um produto. A resposta é não: há bens que estão fora do comércio e há bens que são insuscetíveis de troca, a exemplo dos direitos da personalidade. Quando se diz que produto é qualquer bem, deve-se entender que há uma restrição: produto é qualquer bem, exceto aqueles insuscetíveis de relações de troca, aqueles bens que estão fora do comércio. Não integra o conceito de produto a onerosidade da relação jurídica e, com isso questiona-se se produto doado caracteriza relação de consumo. Na doação, a relação jurídica não é remunerada. O que a maioria dos autores tem dito é que, de fato não integra o conceito de produto a onerosidade da relação jurídica, ou seja, ainda que gratuita há a caracterização da relação de consumo. Os produtos fornecidos por filantropia causam dúvidas. Essa é uma discussão que ainda está em aberto. Alguns autores indicam que, a exemplo do que ocorre com os serviços, a filantropia excluiria a condição de produto de consumo. Quando o fornecimento é gratuito mas não há filantropia, entende-se que há relação de consumo. Quando o fornecimento é feito por filantropia há divergência e ainda não há posicionamento majoritário ou jurisprudencial.
SERVIÇO: Segundo o art. 3º, §2º, do Código de Defesa do Consumidor. Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista. Serviço é uma atividade fornecida através de remuneração. Discute-se o que é remuneração. Remuneração deve ser entendida como qualquer vantagem econômica auferida pelo fornecedor. Essa vantagem econômica pode ser direta ou indireta. A remuneração direta é aquela que corresponde imediatamente à atividade prestada. A remuneração indireta consiste em uma outra vantagem econômica qualquer auferida pelo fornecedor, ou seja, aquela que não corresponde direta e imediatamente à atividade prestada. O pagamento de estacionamento de shopping, por exemplo, consiste em uma vantagem direta. Já quando alguém deixa o carro estacionado em um mercado, não há remuneração direta. As questões que chegaram ao STJ dizem respeito ao estacionamento. Se alguém tem seu carro roubado no supermercado, haverá responsabilização, pois há contrato de depósito – discute-se no entanto, se a responsabilização será de acordo com o Código de Defesa do Consumidor ou com o Código Civil. Nesse caso, não há remuneração direta, mas o supermercado aufere vantagem econômica ao oferecer essa vantagem – o estacionamento é um captador de clientela, pois é um atrativo. Nesse caso, há remuneração indireta, pois há vantagem econômica. No caso de transporte público gratuito de pessoas idosas, há vantagem econômica: quando o valor da tarifa é estabelecido, internaliza-se no valor a gratuidade, repassando isso no preço, ou seja, quando os pagantes pagam a suas passagens, o preço inclui o valor do seu transporte e o valor daquele que são isentos de pagamento de tarifa. A atividade prestada por mera filantropia não é considerada serviço: a atividade prestada por mera filantropia não caracteriza relação de consumo – não havendo remuneração, não há serviço de consumo. Pode haver responsabilização civil por conta de danos, mas a relação não será vista através do Código de Defesa do Consumidor. Quando se trata se serviço, exatamente diante do que diz expressamente o Código de Defesa do Consumidor, havendo o fornecimento a título filantrópico não há relação de consumo. A discussão ocorre em relação ao produto porque o legislador não disse que este era um bem fornecido mediante remuneração – diante disso, surge a dissensão. 
A atividade fornecida no mercado é aquela oferecida a um público indeterminado, ou seja, à uma generalidade de pessoas. A atividade prestada pelo condomínio em benefício do condômino não caracteriza relação de consumo, pois não há atividade de mercado, mas sim um rateio de custos. Planos de autogestão (Cassir e Asefaz) foram ao STJ alegando que seriam entidades filantrópicas, portanto, não deveriam ser consideradas fornecedoras. O STJ entendeu que não há como admitir a tese, pois entidade filantrópica pode ser fornecedora. Mudou-se a tese, indicando que as mesmas prestavam atividade para um público determinado de pessoas. Nesse caso, assim como ocorre no condomínio, há rateio de despesas. A partir de 2016, passou-se a entender que não há relação de consumo entre Cassir e Asefaz e os beneficiários, pois se trata de atividade fornecida independentemente de remuneração. Planos de autogestão não integram relação de consumo, pois a atividade não é prestada ao mercado.
Integram o conceito de serviço as atividades de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista. A atividade bancária nunca deveria ter sido objeto de celeuma, mas atualmente, é pacífico o entendimento de que atividade bancária caracterizarelação de consumo. Antes, discutia-se se o mútuo bancário caracterizava relação de consumo, mas a discussão é pacificada. Não caracteriza relação de consumo, as de caráter trabalhista: os sistemas são excludentes: havendo incidência do direito do trabalho, não incide o direito do consumidor. Isso significa que a atividade prestada pelo empregado ao empregador não caracteriza relação de consumo – com isso se quer dizer que a própria incidência do direito do trabalho exclui a incidência do direito do consumidor. Algumas grandes empresas ofereciam produtos de plano de saúde diretamente aos seus empregados. Nesse caso, não seria aplicável o Código de Defesa do Consumidor, pois esse plano decorreria de relação trabalhista. 
Em relação ao serviço público, o entendimento que se consolidou na jurisprudência do STJ, foi no sentido de que somente serviços públicos remunerados por tarifa caracterizam relação de consumo (os demais, não). Serviços públicos podem ser próprios ou impróprios. Os serviços públicos próprios são aqueles prestados uti universi (generalidade das pessoas) e custeados pelos tributos desvinculados (impostos), a exemplo de segurança pública, saúde pública, educação. Os serviços públicos impróprios são aqueles prestados uti singuli e aos quais corresponde remuneração. Os serviços públicos impostos podem ser taxados ou tarifados. Já se disse que todos os serviços públicos caracterizariam relação de consumo, mas, logo se percebeu que os serviços públicos próprios não sofreriam a incidência do Código de Defesa do Consumidor porque a eles não corresponde remuneração. O imposto não é remuneração, mas um tributo desvinculado de qualquer contraprestação estatal específica. Depois passou-se a indicar que todos os serviços públicos impróprios caracterizariam relação de consumo, pois todos eles são prestados mediante remuneração – tanto as taxas quanto as tarifas se prestam a remunerar serviços. Ocorre que, quanto aos serviços públicos taxados, o STJ indicou não haver relação de consumo, porque no caso dessa relação jurídica, há uma verticalização: o Estado atua em relação ao contribuinte das taxas com supremacia de poder. Há uma relação que deve ser regulada por normas de direito público e não por normas de direito privado. Restringiu-se a incidência do Código de Defesa do Consumidor aos serviços públicos remunerados através de tarifas (água, energia elétrica, etc.).
Uma outra discussão se relaciona ao profissional liberal. O profissional liberal sofre a incidência do direito do consumidor, aplicando-se o Código de Defesa do Consumidor, até porque o art. 14, §4º do CDC objetiva regular a responsabilidade civil do profissional liberal. A atividade do advogado, especificamente, não é regulada pelo Código de Defesa do Consumidor, de acordo com a jurisprudência firmada pelo STJ. A primeira fundamentação é que a atividade do advogado se trata de um múnus público: todos possuem direito de defesa, por imposição constitucional. O segundo fundamento é que o vínculo se estabelece intuito personae. Além disso, há legislação própria regulando a atividade (Estatuto da Advocacia). O quarto fundamento é que a atividade não é atividade fornecida no mercado. Esse último fundamento é questão de interpretação. O STJ entende que atividade fornecida no mercado é aquela para a qual se faz publicidade e, isso é proibido pelo Estatuto da OAB. A maioria dos autores não pensava assim e, o próprio STJ já chegou a pensar de maneira contrária. Esses requisitos sãos vislumbrados em outras atividades.
A atividade cartorária também envolve um componente político corporativo. Segundo o STJ, a atividade cartorária não caracteriza relação de consumo. O fundamento jurídico é que trata-se de uma atividade que, embora delegada, é emanada da autoridade do Estado. É como se fosse uma atividade jurisdicional e, há remuneração. Aqui, haveria um poder do Estado se manifestando. Esse entendimento é válido para a atividade jurisdicional, mas o STJ o estendeu para a atividade cartorária. 
 PRINCÍPIOS DO DIREITO DO CONSUMIDOR 
VULNERABILIDADE: O princípio da vulnerabilidade é um princípio constitucional implícito, pois sempre que há menção ao consumidor, há referência à sua defesa. Só precisa de proteção aquele que é vulnerável. Vulnerabilidade consiste em um estado de fraqueza e fragilidade do consumidor. O consumidor é vulnerável porque é frágil. A vulnerabilidade é multifacetária. Para pessoas naturais, a fragilidade é presumida, mas, no caso concreto é fácil observar o estado de fragilidade. É o reconhecimento do estado de fragilidade que está explícito no princípio da vulnerabilidade do consumidor. A vulnerabilidade da pessoa natural é presumida. Em ao menos dois casos se exige a demonstração de vulnerabilidade no caso concreto: pessoa jurídica e destinatário final meramente fático, que se quiser invocar a proteção do CDC, precisará demonstrar sua própria vulnerabilidade. O princípio da vulnerabilidade é um princípio constitucional implícito: sempre vincula-se o consumidor à defesa. Ocorre que, além de princípio constitucional implícito, trata-se de princípio infraconstitucional expresso no art. 4º do Código de Defesa do Consumidor: reconhece-se a vulnerabilidade do consumidor. A vulnerabilidade é multifacetária – não é como a hipossuficiência do empregado. O Código de Defesa do Consumidor menciona a hipossuficiência como um requisito para a inversão do ônus da prova (sentido probatório) – há relação com a vulnerabilidade, mas não se confunde com ela, visto que o sentido de vulnerabilidade é mais amplo que o da hipossuficiência. Se vulnerabilidade fosse sinônimo de hipossuficiência e, o consumidor fosse hipossuficiente, sempre ocorreria a inversão do ônus da prova. A doutrina costuma mencionar algumas manifestações da vulnerabilidade. Ainda que a vulnerabilidade não ocorra em um aspecto, ela poderá ocorrer em outro aspecto.
· Vulnerabilidade técnica: A vulnerabilidade mais grave é a técnica, pois de fato fragiliza e põe em risco, eventualmente, a segurança a saúde e própria vida do consumidor. O consumidor é tecnicamente vulnerável porque não detém conhecimento técnico acerca dos produtos e serviços que utiliza. O consumidor não possui segurança quanto aos serviços e bens, mas o fornecedor, provavelmente possui estudos acerca disso. A falta de conhecimento técnico pode expor o consumidor e afetar sua saúde e segurança.
· Vulnerabilidade econômica: o consumidor é economicamente vulnerável porque, como regra, possui menos dinheiro que o fornecedor.
· Vulnerabilidade fática: a vulnerabilidade fática decorre do fato de o consumidor travar relações de consumo a fim de satisfazer necessidades. Eventualmente essas necessidades podem biológicas ou meramente psicológica. Muitas vezes os próprios fornecedores criam as necessidades. Os produtos e serviços fornecidos satisfazem necessidades biológicas e, quando essa necessidade não existe, são criadas necessidades psicológicas.
· Vulnerabilidade jurídica: é capaz de causar uma série de prejuízos ao consumidor e, pode ser visualizada, por exemplo, nos contratos de adesão, ou no próprio preparo para litigar. O fornecedor está preparado para litigar, pois o litígio faz parte de seu cotidiano. 
Alguns autores falam a vulnerabilidade informacional, pois às vezes há conhecimento técnico mas não há informações especificas. Além de ser o próprio esteio do consumidor, o princípio da vulnerabilidade funciona potencializando certos princípios. Alguns princípios interagem com o princípio da vulnerabilidade e, dessa interação, ele é potencializado, ou seja, sua incidência é fortalecida. O princípio da boa-fé objetiva, atualmente é considerado princípio geral do direito. Ocorre que, no direito do consumidor, a boa-fé é potencializada quando interage com a vulnerabilidade. Todo consumidor pessoa física é vulnerável, porém, existem consumidores em situação de hipervulnerabilidade, ou seja, há maior fragilidade – diante disso, sua proteção deve ser exacerbada. Por exemplo, o consumidor idoso, o consumidor criança,o consumidor de serviços de saúde estariam hipervulneráveis.
BOA-FÉ OBJETIVA: Foi introduzido ao direito em geral pelo direito do consumidor. Antes do Código de Defesa do Consumidor não se falava em boa-fé. O sentido de boa-fé, seja no direito consumidor, seja de forma geral, é um padrão de conduta que induz as partes a atuar com elevado padrão de eticidade, não considerando somente seus interesses, mas também o da parte contrária. A boa-fé tem a função limitadora do exercício de direitos. A boa-fé tem a função interpretativa-integrativa, se prestando como um norte interpretativo e para a integração dos negócios jurídicos. Há ainda a função criadora de deveres, principalmente anexos. Essencialmente, a boa-fé do direito do consumidor não é diferente dos demais ramos, porém, é potencializada pela incidência da vulnerabilidade. A boa-fé objetiva incide de forma mais intensa. Um exemplo é o seguinte: O dever de informação é um dever anexo e, o art. 31 do CDC indica que “a oferta e apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre suas características, qualidades, quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que apresentam à saúde e segurança dos consumidores.”. Essa intensidade do dever de informação não é encontrada em todos os ramos de direito. Com relação aos hipervulneráveis, há a incidência de uma boa-fé ainda mais potencializada. Às vezes, não basta ao fornecedor informar, mas aconselhar, a exemplo do médico no exercício de sua atividade.
CONSERVAÇÃO DOS CONTRATOS: É um princípio também visualizado do Direito do Consumidor e indica que todo esforço deve ser feito para que o contrato seja mantido. Esse princípio é potencializado no direito do consumidor. Esse instituto não é novidade no direito civil, a exemplo da nulidade parcial e da nulidade do negócio acessório (não contamina o principal). Ocorre que no Código de Defesa do Consumidor esse princípio é potencializado por conta da atuação conjunta com o princípio da vulnerabilidade. No direito do consumidor, pode o juiz intervir no contrato e o alterar, criando direitos e deveres que as partes não contrataram. O poder interventivo do juiz em um contrato de consumo é ampliado, podendo afastar a cláusula nula e reconstruir o contrato (o juiz pode declarar a nulidade, mas reconstituir o contrato, o mantendo).
TRANSPARÊCIA: Alguns autores indicam não ser autônomo, sendo subprincípio decorrente da boa-fé. Outros autores indicam se tratar de princípio autônomo. Existem dois deveres que decorrem imediatamente do princípio da transparência, que é o dever da redação clara dos contratos e o dever de informação contratual. Segundo o art. 46 do CDC, “os contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os consumidores, se não lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a compreensão de seu sentido e alcance”. Algumas vezes, consta um glossário junto ao contrato. Essas normas contratuais não vinculam o consumidor. Não vincular o consumidor, segundo a doutrina, significa a nulidade absoluta, ocorrendo por parte do juiz a reconstrução de contratos. Segundo esse princípio, o contrato de consumo não vincula o consumidor se o mesmo não teve acesso – diante da ausência de acesso prévio, o contrato não vincula (dever de informação contratual). Além disso, há o dever de redação clara – se o contrato for redigido de maneira incompreensível ao consumidor ou se não houve prévio acesso ao contrato, ele não obriga.
EFETIVA PREVENÇÃO DE DANOS – PRECAUÇÃO: Existem duas hipóteses: certeza da insegurança e incerteza da segurança. Na primeira hipótese, é certa a insegurança e, diante disso, aplica-se a prevenção. Por exemplo, quando o fornecedor sabe que o serviço ou produto é inseguro, deverá atuar de forma a prevenir a ocorrência de danos ao consumidor. Na segunda hipótese é incerta a segurança, incidindo o princípio da precaução. Aqui, esse princípio é chamado de princípio da efetiva prevenção de danos, atuando em face da incerteza da segurança. O princípio da efetiva prevenção de danos diz respeito à precaução. Aqui atuam tanto o princípio da prevenção quanto o da efetiva prevenção, que equivale ao da precaução.
EQUIDADE: Alguns dizem ser um reflexo da vulnerabilidade. Trata-se aqui da igualdade formal – tratar os desiguais de acordo com sua desigualdade.
EFETIVA REPARAÇÃO DE DANOS: A reparação deve ser efetiva e, esse princípio funciona como um norte interpretativo. Todos os danos sofridos pelo consumidor devem ser reparados de maneira efetiva. Por exemplo: no direito do consumidor, o consumidor pode reclamar por vícios no produto e, está sujeito a um prazo decadencial, no entanto, existem hipóteses que obstam esse prazo. Em razão do princípio da reparação de danos é que ocorre a interrupção ao invés da suspensão, garantindo maior proteção ao consumidor. Outro exemplo da aplicação deste princípio está na limitação da indenização por extravio de bagagem: segundo o Código de Defesa do Consumidor, limitar indenização contraria o princípio da efetiva reparação de danos (posicionamento do STJ).
REPERAÇÃO EFICIENTE AOS ABUSOS E HARMONIZAÇÃO DO MERCADO DE CONSUMO: Esses princípios devem ser aplicados harmoniosamente, pois tendem a colidir. Todos os abusos no mercado de consumo devem ser reprimidos de modo eficiente. Esse é um princípio que norteia a tutela coletiva. Junto ao princípio da repressão eficiente aos abusos deve estar o princípio da harmonização do mercado, que determina que a proteção do consumidor não pode inviabilizar a atividade econômica, devendo haver compatibilização dos interesses de fornecedores e consumidores. Não se deixa de proteger o consumidor, mas deve haver a compatibilidade de interesses (exemplo: variação cambial).
 DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR 
ONEROSIDADE EXCESSIVA: O art. 6º, V indica que é direito básico do consumidor a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou a sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas. Esse artigo disciplina duas hipóteses: a onerosidade excessiva concomitante à formação do contrato e a superveniente. Na primeira hipótese há um desequilíbrio congênito – no seu nascimento, o contrato atribui maior vantagem ao fornecedor. Há um desequilíbrio nas prestações e um vício que acomete o contrato. Isso é o que se denomina lesão. A lesão consiste na desproporção entre as prestações de um negócio jurídico. A segunda hipótese trata da revisão de cláusulas contratuais e, aqui, no nascimento do contrato há equilíbrio, ou seja, não há ruptura congênita na comutatividade, porém, um fato posterior rompe o equilíbrio, passando a impor ao consumidor uma desvantagem exagerada.
· Onerosidade excessiva concomitante à formação do contrato - lesão: O contrato é viciado e é desproporcional em seu nascimento. O fenômeno da lesão também é disciplinado no Código Civil, no art. 157. No Código de Defesa do Consumidor a previsão se encontra no art. 6º, V; no art. 39, V e no art. 51, IV c/c §1º, III, do art. 51. No direito civil, a lesão é um vício de consentimento, que é um vício de vontade, ou seja, uma falha na formação da vontade. A vontade declarada não corresponde à vontade real. Uma circunstância qualquer interfere na declaração da vontade, fazendo com que aquilo que se expressa não corresponde à vontade geral. Segundo o art. 157 do Código Civil: ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta. No regime do Código Civil a premente necessidade ou inexperiência é que interfeririam na formação da declaração de vontade, fazendo com que essa declaração discrepasse da vontade real. No direito civil, a lesão é composta por dois elementos: o elemento objetivo é o desequilíbrio das prestações. O elementosubjetivo consiste na premente necessidade ou inexperiência. Outra característica da lesão é que ela ocasiona a anulabilidade do negócio jurídico. O princípio da conservação dos contatos, no caso da lesão, está vinculado à vontade daquele que é beneficiado pelo negócio. O juiz deve anular o contrato, mas, poderá o manter se a parte beneficiada pelo negócio oferecer suplemento ou concordar com a redução do proveito. No âmbito do direito do consumidor a lesão não se trata de vício de consentimento, por isso não se exige elemento subjetivo. A lesão de consumo é uma lesão objetivada, pois exige apenas o elemento objeto, que consiste na desproporção das prestações – isso ocorre como uma forma de proteger o consumidor, já que comprovar no caso concreto a premente necessidade ou inexperiência poderia ser difícil. Prova de elemento subjetivo, sobretudo para o consumidor, é muito difícil. No direito civil, a lesão é um vício de consentimento. No direito do consumidor, há vício de apuração objetiva. No direito civil, a desproporção entre as prestações pode beneficiar qualquer das partes, já no direito do consumidor, somente o consumidor pode invocar a lesão em seu benefício. No direito civil, a lesão ocasiona anulabilidade. No direito do consumidor o negócio é nulo, pois trata-se de norma de ordem pública. Além disso, o Código Civil diz que sempre que a lei proíbe um ato sem lhe imputar sanção, a sanção será a nulidade. O princípio da conservação dos contratos incide no Código de Defesa do Consumidor de forma intensificada, logo o juiz está autorizado a interferir na relação contratual – a primeira opção do juiz não é a declaração de nulidade, mas a modificação de contrato, o restabelecimento do equilíbrio e da comutatividade contratual. Somente se não for possível restabelecer a comutatividade sem excessivo prejuízo a qualquer das partes é que o juiz deve anular o contrato (inviabilidade da continuidade do negócio apesar dos esforços para a integração).
· Onerosidade excessiva superveniente à formação do contrato: O contrato nasce equilibrado, mas um fato posterior à sua formação rompe esse equilíbrio. Esse fenômeno está disciplinado n art. 6º, V, indicando que é direito básico do consumidor a revisão de cláusulas em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas. Nesse caso, há um equilíbrio no momento da formação do contrato, mas um fato posterior a formação do contrato e estranho à vontade das partes rompe esse equilíbrio. No momento da formação do contrato, não há nenhum vício – o contrato é plenamente válido. Esse mesmo fenômeno está previsto no art. 478 do Código Civil. Para a incidência desse artigo, o contrato deve ser de execução continuada ou diferida. Deve haver a superveniência de um fato extraordinário e imprevisível. Deve surgir onerosidade para uma das partes e vantagem para outra. Presentes esses quatro elementos fáticos, incide o art. 478, CC. No direito do consumidor, também há a necessidade de que o contrato seja de execução continuada ou diferida, porque no contrato de execução instantânea não há como haver fato superveniente que acarrete em onerosidade. No direito do consumidor não se exigem a superveniência de fato extraordinário e imprevisível. O Código Civil adotou a denominada teoria da imprevisão. Ao se falar em imprevisibilidade, fala-se em imprevisibilidade absoluta, ou seja, não há como ninguém prever. O Código de Defesa do Consumidor adota a teoria da quebra da base objetiva do negócio jurídico, que se desenvolveu no pós primeira guerra mundial, na Alemanha. O fato deve ser não previsto e, isso é diferente de imprevisível. Não previsto é aquilo que não se previu, imprevisível é o que não se poderia prever. Isso é visto na ruptura do equilíbrio contratual – se as previssem o desequilíbrio, não contratariam naqueles termos. A onerosidade é o único elemento de convergência expressa entre o Código Civil e o CDC – no direito civil, a onerosidade pode recair sobre qualquer uma das partes. No direito do consumidor, somente o consumidor pode alegar a onerosidade. Em relação à onerosidade para o fornecedor, tem-se o risco da atividade, logo, ele deve suportar o prejuízo. O Código Civil exige vantagem excessiva para a parte contrária, no direito do consumidor, basta que haja onerosidade excessiva para ele, mesmo que isso não corresponda a uma vantagem para o fornecedor. A desvantagem deve se dar sobre o consumidor, pois o prejuízo ao fornecedor é um risco do negócio. No direito civil, a consequência da onerosidade excessiva é a resolução, mas se defende a possibilidade de revisão. No direito do consumidor não há dúvidas da possibilidade de revisão.
INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA: Inverter o ônus da prova não equivale a inversão do custeio da prova. O custeio da prova deve ser feito por quem a requer. Quem requer a prova antecipa o seu custeio. Diante disso, não se deve confundir inversão com o ônus da prova com custeio da prova. Mesmo que ocorra a inversão do ônus da prova, quem realizará o custeio é quem a solicita. A inversão funciona como presunção de veracidade do fato controvertido que seja sido objeto da inversão. Trata-se de presunção juris tantum, admitindo a produção de prova em sentido contrário. Pela regra geral do direito probatório, quem alega algo, deve provar o que é alegado. O autor de uma demanda precisa provar o fato constitutivo do seu direito. Por outro lado, se sobre esse fato constitutivo, o juiz realizar a inversão do ônus da prova, surge uma presunção juris tantum de veracidade sobre esse fato, incumbindo à outra parte a contraprova e, se nada for provado, a ação será julgada procedente, visto que o fato sobre o qual recaiu a inversão é presumido como verdadeiro. No Código de Defesa do Consumidor, existem duas modalidades de inversão ope legis e ope judices. Na inversão ope legis, o legislador tomou para si a incumbência de determinar a inversão, não deixando margem decisória para o juiz. Já na inversão ope judices, o legislador previu requisitos e incumbiu o julgador de aferir a existência desses requisitos no caso concreto, a fim de que, presente ao menos um dos requisitos, determine a inversão do ônus da prova – não havendo nenhum dos requisitos, a inversão do ônus deverá ser negada. Atuação do julgador na inversão ope judices é mais ampla, pois ele exerce um juízo prévio à inversão. A inversão ope legis está prevista no art. 12, §3º, I e II, art. 14, §3º, I e art. 38 do Código de Defesa do Consumidor. A inversão ope juris está prevista no art. 5º, VIII do Código de Defesa do Consumidor. 
· Inversão ope legis:
· Art. 38, Código de Defesa do Consumidor: O ônus da prova da veracidade e correção da informação ou comunicação publicitária cabe a quem as patrocina. Quem faz publicidade é obrigado a provar a correção e a veracidade dessa publicidade e das propriedades daquilo que foi anunciado. Se o direito do consumidor em determinada demanda consistir em uma propriedade anunciada, o fornecedor é que terá que realizar a prova. Essa é uma inversão imposta pela lei. Muitos autores criticam a expressão ‘inversão ope legis’. Alguns autores indicam que, de fato, a inversão é exclusivamente ope judices – na inversão ope legis não haveria de fato uma inversão, mas uma atribuição do ônus da prova. A discussão é terminológica, pois as consequências são as mesmas. A maioria dos autores, no entanto, defende a utilização da expressão ‘inversão’, porque a regra geral do ônus probatória é subvertida.
· Art. 12, §3º, I e II, Código de Defesa de Consumidor: O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos. § 3° O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será responsabilizado quando provar:I - que não colocou o produto no mercado; II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste. O art. 12 é aplicável a hipóteses de danos decorrentes de fato do produto. O ônus de provar a inexistência de um defeito alegado pelo consumidor é do fornecedor. Se o ato controvertido em uma ação de consumo for defeito, o ônus da prova é do fornecedor, pois a lei indica que, ao colocar um produto no mercado, passa a ser do fornecedor o ônus de provar a inexistência de defeito. O inciso I do art. 12 trata da autoria do fato de haver colocado o produto no mercado de consumo. Ao fornecedor, incumbe provar, sendo o caso, que não colocou determinado produto no mercado de consumo. A responsabilidade civil tem como pressupostos a conduta, o nexo e o dano e, o ônus probatório no âmbito cível é da vítima (integram o seu defeito constitutivo). O defeito está vinculado ao nexo causal, porque é o que vincula a conduta de inserir um produto no mercado ao dano causado ao consumidor (responsabilidade civil por fato do produto). Já a colocação do produto no mercado de consumo é uma conduta e, essa conduta é imputável ao fornecedor. Em regra, a conduta seria ônus probatório do autor, porém, ocorreu a inversão ope legis, logo, o consumidor não precisa fazer prova de que o produto foi colocado no mercado pelo consumidor. O fornecedor, por outro lado, deverá provar que não realizou a colocação do produto no mercado.
· Art. 14, §3º, I, Código de Defesa do Consumidor: Aqui, tem-se a proteção dada ao consumidor por conta de danos decorrentes de fato do serviço. Aqui, há inversão do ônus da prova no tocante ao defeito do serviço. No fato do serviço, somente há inversão do ônus da prova no tocante ao defeito – não há inversão em relação à conduta. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar: que tendo prestado o serviço, o defeito inexiste. No tocante ao fornecimento de serviço, não se dispensa que o consumidor faça prova da conduta do fornecedor ou do serviço. O consumidor deve provar que a prestação do serviço se deu pelo fornecedor (fato constitutivo do direito do autor). O Código de Defesa do Consumidor dispensa, por outro lado, que o consumidor faça a prova do defeito do serviço. É o fornecedor que deve fazer prova da inexistência do defeito. Em suma, se a controvérsia for sobre a autoria, o consumidor precisará realizar a prova. Se por outro lado, a controvérsia recair sobre a existência de defeito na prestação de serviço, ocorrerá a inversão ope legis. 
· Inversão ope judices: O legislador estabelece requisitos e entrega ao julgador a incumbência de aferir se estes requisitos estão presentes no caso concreto. O art. 6º, VIII indica “a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências”. A inversão do ônus da prova não esgota a normatividade do dispositivo, que indica que devem ser facilitados os direitos do consumidor. A inversão do ônus da prova é uma das manifestações do legislador como uma das formas de proteção dos direitos do consumidor (facilitação da defesa dos direitos). O legislador não precisava ter indicado que a inversão do ônus da prova se restringe ao processo civil, pois isso decorre da Constituição Federal, já que inversão do ônus da prova equivale a presunção de veracidade do fato objeto da inversão. Se aplica-se a inversão no processo penal, haveria presunção de culpa e violação da presunção constitucional de inocência. O julgador irá aferir se há um dos requisitos necessários para que haja a inversão. O legislador indica quais os requisitos para que possa ocorrer a inversão: verossimilhança da alegação ou hipossuficiência do consumidor. Literalmente, verossimilhante é aquilo que aparenta ser verdade, porém, deve-se entender a verossimilhança como algo maior. A verossimilhança consiste em um juízo de probabilidade. Sempre que em uma cognição sumária o juiz se convencer de que a alegação é provável, alcança-se o juízo de verossimilhança, devendo haver a inversão do ônus da prova. Hipossuficiência não pode ser confundida com vulnerabilidade: todas as pessoas naturais são consideradas vulneráveis e, se hipossuficiência fosse o mesmo que vulnerabilidade, haveria uma regra geral de inversão do ônus da prova: “sempre que o consumidor pessoa natural litigasse, ocorreria a inversão”. Diante disso, não há equivalência entre vulnerabilidade e hipossuficiência. Hipossuficiência tem sentido probatório – hipossuficiente é o consumidor que possuir dificuldade de produzir a prova que lhe incumbe no caso concreto. Sempre que o consumidor possuir dificuldade para produzir a prova que lhe incumbe no caso concreto, ele será considerado hipossuficiente. A hipossuficiência, embora não equivalha à vulnerabilidade, possui relação com ela: a hipossuficiência equivale a um reflexo processual da vulnerabilidade. Sempre que a vulnerabilidade refletir no processo, dificultando a produção da prova a que incumbe ao consumidor, ele será hipossuficiente. Sempre que a vulnerabilidade refletir no processo, dificultando a produção da prova pelo consumidor, o consumidor não é apenas vulnerável, mas também é hipossuficiente. Nem sempre a vulnerabilidade reflete no processo. Alguns autores chegam a afirmar que a hipossuficiência é reflexo processual da vulnerabilidade técnica, mas, essa não é uma regra geral. Os requisitos verossimilhança e hipossuficiência são alternativos, não havendo necessidade de cumulação. Há corrente minoritária indicando que os requisitos são cumulativos e, o fundamento é que não se pode falar em uma inversão com base em hipossuficiência se se estiver diante de uma alegação inverossímil. Essa corrente não percebe que não existem apenas dois extremos: a alegação provável e a alegação improvável. Entre esses extremos, existem as alegações meramente possíveis e, nada impede a inversão diante da hipossuficiência em face de uma alegação possível.
· Momento da inversão do ônus da prova: As regras de distribuição do ônus probatório vem sendo entendias pela doutrina como regras de julgamento, ou seja, são as regras aplicadas pelo juiz na hora de decidir. Diziam os autores que, essa mesma ideia deveria ser aplicada à inversão do ônus da prova no direito do consumidor – a inversão do ônus da prova também deveria ser uma regra de julgamento, ou seja, o juiz só precisaria aplicar essa regra no momento de julgar, não precisando em um momento anterior ao julgamento pronunciar-se expressamente sobre a inversão. Essa discussão se relaciona à inversão ope judices, pois na inversão ope legis as partes ingressam na lide sabendo qual o seu ônus probatório. Na inversão ope judices, o fornecedor entra orientado no processo pela regra do art. 373 do CPC, sabendo que a consumidor incumbe a prova do fato constitutivo do seu direito. A corrente que defende que a inversão deve ser vista como regra de julgamento indica que o juiz pode abster-se de se pronunciar sobre a inversão do ônus da prova antes do momento da sentença. Os detratores desse entendimento indicam que alterar o ônus da prova no momento da sentença seria modificar as regras para modificar o próprio resultado do julgamento. Essa discussão ficou aparentemente resolvida com a edição no Código de Processo Civil de 2015. O art. 357 do CPC indica que o juiz deve definir na fase de saneamento, o ônus da prova, observada a regra geral, ou seja, agora há determinação expressa de que o momento da definição da distribuição do ônus probatório é o saneamento do processo. A decisão que inverte o ônus da prova é suscetível de agravo de instrumento (art. 1.015, CPC). Alguns indicam que essa regra queé válida no processo civil como um todo, não se aplicaria ao direito do consumidor, permanecendo a inversão do ônus da prova como regra de julgamento. Essa discussão só tem sentido em relação à inversão ope judices. 
 PREVENÇÃO E REPARAÇÃO DE DANOS 
PREVENÇÃO DE DANOS: O Código de Defesa do Consumidor inova na legislação do direito privado – a legislação do direito privado normalmente só se ocupa com os aspectos reparatórios, já o Código de Defesa do Consumidor, antes de tratar da responsabilidade civil tratou de disciplinar a prevenção de danos ao consumidor. A questão é como prevenir danos, se consumir representa um risco. Esse risco pode ser maior ou menor a depender do que se consome, mas consumir sempre envolve certo grau de risco. O consumo que talvez seja mais evidente no tocante ao risco é o consumo de medicamentos, mas até alimentos podem oferecer riscos. Diante da realidade de que consumir representa riscos e de que existem bens e serviços necessários à vida, questiona-se como de fato proteger o consumidor sem inviabilizar o fornecimento. O legislador do Código de Defesa do Consumidor fez isso classificando os riscos em três diferentes espécies: são as periculosidades previstas no Código de Defesa do Consumidor. Existe a periculosidade inerente, a periculosidade exagerada e a periculosidade adquirida. Essa nomenclatura não é utilizada pelo Código de Defesa do Consumidor. O Código de Defesa do Consumidor permite que se extraia essa classificação, mas não utiliza essa terminologia. Quem primeiro realizou a sistematização dessas periculosidades foi Herman Benjamim.
· Periculosidade inerente: A periculosidade inerente é aquela considerada normal e previsível. A normalidade decorre exatamente da relação entre o benefício e o risco. Sempre que o benefício preponderar sobre o risco a periculosidade será normal. Não basta a normalidade, é necessário que a periculosidade seja previsível. A previsibilidade consiste na ciência do consumidor. Os produtos colocados no mercado de consumo podem causar risco à saúde e à segurança dos consumidores, desde de que o risco seja normal e conhecido. O art. 8º do Código de Defesa do Consumidor indica que os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores, exceto os considerados normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição, obrigando-se os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações necessárias e adequadas a seu respeito. Se os riscos forem normais e previsíveis, eles podem acarretar risco à saúde e a segurança dos consumidores. A Lei de Consumidor Portuguesa indica que é proibido o fornecimento de bens ou a prestação de serviços que, em condições de uso normal e previsível, incluindo a duração, implique em riscos incompatíveis com a sua utilização. A normalidade deve levar em consideração aspectos técnicos e econômicos existentes no momento. Determinado risco admissível em um instante pode não ser admitido em outro momento: tudo é em razão do desenvolvimento econômico e tecnológico. É aceito certo grau de risco a fim de tornar viável o fornecimento do produto. Em determinado momento, um certo grau de risco é admissível porque não há tecnologia mais avançada. Quando a tecnologia avança o risco passa a ser inadmissível. Por exemplo, certo medicamente apresentava certo risco, porém foi criado um novo medicamento com o mesmo princípio ativo e que atinge a mesma finalidade utilizando tecnologia que minorou o risco. Diante disso, o risco apresentado pelo medicamento anterior passa a ser inadmissível. É necessário que se pondere a normalidade, mas também aspectos relacionados ao desenvolvimento econômico e tecnológico. Não basta a normalidade, é possível que ocorra a previsibilidade. Incumbe ao fornecedor prestar as informações, ou seja, tornar previsível o risco é uma obrigação do fornecedor. O fornecedor não é obrigado a indicar informações consabidas. Quando não existe a normalidade, a periculosidade se transmuda em periculosidade exagerada. Quando não existe a previsibilidade, a periculosidade se transmuda em adquirida por defeito de informação. O Código de Defesa do Consumidor disciplina a periculosidade inerente através da total ausência de responsabilidade do fornecedor. Havendo dano decorrente de periculosidade inerente é totalmente irresponsável o fornecedor, que não responderá em nenhuma esfera (presentes os requisitos da periculosidade inerente).
· Periculosidade exagerada: O art. 10 do Código de Defesa do Consumidor indica que, o fornecedor não poderá colocar no mercado de consumo produto ou serviço que sabe ou deveria saber apresentar alto grau de nocividade ou periculosidade à saúde ou segurança. A periculosidade exagerada é a periculosidade de alto grau. O alto grau de periculosidade decorre exatamente da incompatibilidade da equação entre risco e benefício. Haverá alto grau de periculosidade sempre que o risco preponderar sobre o benefício, logo, é a incompatibilidade entre o risco e o benefício que caracteriza a periculosidade de alto grau. Nesse caso, o legislador foi mais rigoroso e, existe um dever negativo, ou seja, o fornecedor não deve colocar no mercado de consumo produtos com alto grau de periculosidade. Se o fornecedor colocar o produto no mercado e a ciência do alto grau de periculosidade for superveniente, ele tem o dever de retirar o produto do mercado e de comunicar as autoridades e aos consumidores. O dever de retirada é uma inferência do dever de proibição de colocação. Havendo dano ocorre a responsabilidade civil e havendo elemento subjetivo há o crime do art. 7º, IX da Lei 8.137/90, que é admitido tanto na forma dolosa quanto na forma culposa.
· Periculosidade adquirida: A periculosidade adquirida decorre de defeito e, esse defeito pode ser um defeito do produto ou um defeito de informação. Um defeito é uma anomalia. Tanto na periculosidade inerente quanto na exagerada o risco é inseparável do produto, ou seja, o produto não pode ser fornecido sem aquele grau risco, pois o benefício que ele proporciona simultaneamente representa aquele risco. Na periculosidade adquirida ocorre uma anomalia: o produto poderia ser oferecido sem aquele grau de risco, entretanto, seja por uma falha de informação, seja por uma falha do produto (projeto, produção, etc.), uma anomalia ocasiona um risco que poderia até não existir se não houvesse a falha. A periculosidade adquirida pode ocorrer durante a produção, mas também pode ser decorrente de projeto, o que não faz com que se deixe de ter defeito e não torna a periculosidade exagerada porque ela é separável. Se o projeto fosse correto, não haveria o risco. Aqui não há a necessidade de retirar o produto do mercado, mas somente de sanar a anomalia, pois o produto poderia ser fornecido sem o risco. Aparentemente o defeito de projeto aparenta ser periculosidade exagerada porque todos da série apresentam o mesmo grau de risco, mas, se o projeto fosse correto, não haveria o risco. Por outro lado, um medicamento que cause efeito colateral não apresenta defeito de projeto, porque não havia como o projetar de maneira diferente – o medicamento foi formulado da única maneira que poderia ser formulado. Na periculosidade inerente, um risco eventualmente alto, é compatível com o benefício, mas inseparável. Na periculosidade exagerada o risco é incompatível, mas é inseparável. Na periculosidade adquirida seria possível fornecer o produto sem o risco. Além disso, é possível que haja periculosidade adquirida por conta da ausência de informação. O Código de Defesa do Consumidor entende que o produto não poderia ser colocado no mercado de consumo, embora na prática isso não gere grande repercussão, pois sendo uma anomalia, não há ciência inicial do fornecedor. Uma vez colocado no mercado de consumo o produto deve ser retirado para que a anomalia seja sanada, devendo haver comunicação aos consumidores. Havendo dano, haverá responsabilidade civil e havendo elemento subjetivo é possível a responsabilização penal.
RESPONSABILIDADE

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