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AD2 Literatura Brasileira V - Raphael Soares da Silva - Letras - Paracambi

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Fundação Centro de Ciências e Educação a Distância do Estado do Rio de Janeiro
Centro de Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro
Universidade Federal Fluminense
Curso de Licenciatura em Letras - UFF / CEDERJ
Disciplina: Literatura Brasileira V
Coordenador: Professor Franklin Dassie
AD2 – 2019/1
Aluno (a): 
Pólo: Paracambi Matrícula Nota: _______________
1ª QUESTÃO (5,0)
“[no romance de Clarice Lispector], de certo modo, o tema passava a segundo plano e a escrita a primeiro, fazendo ver que a elaboração do texto era elemento decisivo para a ficção atingir o seu pleno efeito. Por outras palavras, Clarice mostrava que a realidade social ou pessoal (que fornece o tema), e o instrumento verbal (que institui a linguagem) se justificam, a princípio, pelo fato de produzirem uma realidade própria, com a sua inteligibilidade específica. Não se trata mais de ver o texto como algo que se esgota ao conduzir a este ou àquele aspecto do mundo e do ser; mas de lhe pedir que crie para nós o mundo, ou um mundo que existe e atua na medida em que é discurso literário. (CANDIDO, Antonio. “A nova narrativa”. In:______. A educação pela noite. 5ª ed. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2006. pp. 249-50.
A partir do fragmento, disserte a respeito do caráter inovador da obra ficcional de Clarice Lispector.
Clarice Lispector tem um estilo literário inconfundível, presente em toda sua obra. A renovação da linguagem se encontra constante num grau que aproxima a prosa da poesia. Seus textos, apenas narram histórias, mas também apresentam a síntese e a força expressiva típicas da poesia. Além da linguagem, outro aspecto inovador na obra de Clarice é a visão do mundo que surge de suas histórias. Mesmo tendo se iniciado como escritura numa época em que os romancistas brasileiros estavam voltados para a literatura regionalista ou de denúncia social, Clarice enfocou em seus textos o ser humano em suas angústias e questionamentos existenciais. Em suas narrativas, o enredo, bem como as personagens, as referências de tempo e espaço ganham novos significados: o enredo é quase sempre psicológico. 
O tempo e o espaço, por sua vez, têm pouca influência sobre o comportamento das personagens; o tempo é psicológico e espaço é quase acidental. A indiscutível originalidade e a perturbadora percepção da validade presentes na obra de Lispector a tornam única dentro da literatura brasileira. É impossível ficar-se indiferente diante do texto de Clarice, pois a força da sua linguagem, a intensidade das emoções das suas personagens atinge em cheio o leitor, provocando no mínimo um incômodo estranhamento. É como se o texto convidasse o leitor a desvendá-lo e, desvendando-o, descobrisse um pouco mais do ser humano.
Nas suas obras percebe-se que o narrador captura o pensamento da personagem (que não se sabe ainda chamar-se Joana) e mostra isso através do discurso indireto livre. Tal estratégia de criar não foi inventada por Clarice Lispector, mas ela a usou como aspecto central de seu estilo em todas as suas obras e que não era habitual na literatura vigente usar esses recursos. Além disso, a escritora cria suas metáforas, chamadas de metáforas insólitas per Antonio Candido, ou seja, metáforas muito inesperadas e bastante originais.
2ª QUESTÃO (5,0)
“Guimarães Rosa publicou em 1946 um livro de contos regionais, Sagarana, com inflexão [tom] diferente graças à inventividade dos entrechos [enredos] e à capacidade inovadora da linguagem”. (CANDIDO, Antonio. “A nova narrativa”. In:______. A educação pela noite. 5ª ed. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2006. p. 250.
A partir do fragmento, disserte a respeito do caráter inovador da linguagem literária da obra de Guimarães Rosa.
Sua obra, seu estilo, suas personagens e o psicologismo diferem de tudo o que se fizera antes em língua portuguesa. Diferencia-se dos outros regionalistas, especialmente por dois motivos: embora sua ficção se prenda a uma região do Brasil (sertão de Minas Gerais, principalmente), consegue suplantar o meramente regional e atingir o universal, por meio da aguda percepção dos problemas vitais que existem no interior do homem de qualquer região.
Dessa maneira, os elementos pitorescos e tipicamente regionais que aparecem em sua obra são importantes entre si mesmos (como em muitos outros autores), mas servem também para estruturar e revelar ao leitor todas as inquietudes e dilemas do homem. Por esse motivo, sua obra apresenta uma temática que envolve indagações sobre o destino, Deus e o diabo, o bem e o mal, a morte e o amor.
Quanto à relação bem/mal, parece que Guimarães Rosa acreditou o tempo todo na supremacia do primeiro sobre o segundo. Em sua obra, essa atitude chega quase a configurar uma tese, aliás, coerente com o proverbial otimismo do autor, impresso, inclusive, no realismo fantástico que distribui por toda a sua produção.
Além disso, o que o distingue dos outros regionalistas é a linguagem. As criações linguísticas operadas por Guimarães Rosa transformaram-no num profundo inovador da linguagem literária brasileira. Além de explorar os diversos valores do signo (sonoro, nocional, visual), criou palavras, utilizou arcaísmos, e não raro aproveitou-se de outras línguas modernas, além de recorrer ao grego e ao latim.
Desse verdadeiro laboratório linguístico, consegue Guimarães Rosa criar uma poderosa linguagem literária, apta para expressar a profunda visão do mundo que sua obra transmite. Muitas vezes sentimos que o que estamos lendo não é mais a fala da personagem e talvez nunca tenha sido, mas sim seu pensamento articulado em palavras na tentativa do autor em torná-lo inteligível para o leitor.
Através desse artifício, Guimarães Rosa nos destila a surpreendente psicologia da personagem que “fala”. Isso não ocorre em cem por cento de sua obra, mas não é raro. O que faz, por exemplo, Riobaldo em Grande sertão: veredas? O que é o interlocutor fictício dele senão a sua própria consciência?

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