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Resumo Direito Empresarial Sistematizado - Gabriella Nichols

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Gabriella Leal Nichols 
RESUMO 
REFERÊNCIA 
 
TEIXEIRA, Tarcisio. Direito Empresarial Sistematizaco. Cap. 5. 
 
CAP 5) RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FALÊNCIA 
 
51. Histórico 
 O Direito Falimentar, também conhecido como Direito Concursal ou Direito 
Recuperacional, cuida da falência do empresário e institutos relacionados, e tem por 
objetivo principal a preservação da empresa contra a falência. Sua origem data de Idade 
Média, quando começaram a surgir os primeiros termos relacionados, como a palavra 
“falência”, cujo significado está ligado ao verbo em latim fallere, que significa enganar, 
falsear. 
No Brasil, o Direito Falimentar passou por várias fases evolutivas. A Parte Terceira 
do Código Comercial de 1850 dava o primeiro passo ao falar das “Das quebras” (arts. 797 a 
911), tendo sido regulamentada por meio do Decreto nº 738/1850. Quatro décadas depois, 
foi promulgado o Decreto n. 917/1890, que rescindiu as disposições anteriores por não 
atenderem às condições do comércio brasileiro à época. Outras normas ficaram em vigor até 
a publicação do Decreto-lei nº 7.661/45, considerado um importante marco para o Direito 
Falimentar brasileiro e que foi posteriormente revogado pela Lei nº 11.101/2005, de 
atual vigência. Essa Lei disciplina as recuperações extrajudicial e judicial e a falência do 
empresário individual e da sociedade empresária. 
 
5.2. DECRETO-LEI Nº 7.661/45 
O Decreto-lei nº 7.661/45 cuidava da falência e concordata e, em seu art. 1º, 
dispunha que era considerado falido o comerciante que, sem relevante razão de direito, não 
pagasse no vencimento obrigação líquida, constante de título que legitimava a ação 
executiva. A falência era considerada, desta forma, como um processo de liquidação do 
comerciante para extinguir sua atividade, quando o comerciante estava em estado de 
insolvência (dívidas maiores que o patrimônio) ou impontualidade (não pagava no vencimento 
suas obrigações). Todos os seus créditos, direitos e patrimônio eram, então, divididos 
proporcionalmente aos seus credores, como pagamento das dívidas contraídas. 
 
5.2.1 Concordata suspensiva 
A concordata suspensiva tinha uma natureza protelatória, remissionária ou mista, 
sendo utilizada para se dilatar o prazo e/ou obter a remissão parcial dos créditos 
quirografários. Inicialmente era entendida como concordância ou acordo com credores, mas o 
Decreto-lei nº. 7.661/45 acabou assumindo um caráter de favor legal ao devedor, sem 
necessariamente haver a concordância dos credores. Durante o curso do processo falência, o 
comerciante falido podia requerer ao juiz a “suspensão” do processo por meio da concordata 
suspensiva (arts. 177 e s.) para que sua atividade não fosse extinta. Neste caso, precisava 
cumprir com alguns requisitos como pagamento mínimo de 35% dos débitos à vista, ou 50% a 
prazo em até 2 anos. 
 
5.2.2 Concordata preventiva 
O Decreto-Lei nº 7.661/45, arts. 156 e s., também previa a possibilidade de o devedor 
evitar a declaração judicial da falência, requerendo ao juiz a concessão da concordata 
preventiva antes que algum credor requeresse em juízo a sua falência. Neste caso, o 
comerciante deveria fazer o pagamento a seus credores quirografários da seguinte forma de 
forma escalonada em parcelas. Sobre esta questão o Direito Romano tinha um modo 
peculiar de entender a concordata, sendo um simples benefício que o devedor, considerado 
infeliz e de boa-fé, obtinha do imperador. 
 
5.3. LEI Nº 11.101/2005 
Ao revogar o Decreto-lei nº 7.661/45, a Lei de Recuperação e Falência – LRF (Lei nº 
11.101/2005), que disciplina as recuperações extrajudicial e judicial e a falência do empresário 
individual e da sociedade empresária manteve o instituto da falência, passou a não 
contemplar o da concordata, em qualquer de suas modalidades. Desta forma, as concordatas 
preventivas e suspensivas (que se processavam em juízo) foram substituídas pela 
recuperação judicial. 
A recuperação extrajudicial foi uma inovação da Lei nº 11.101/2005, e poderia ser 
considerada como a concordata branca/extrajudicial, pois, apesar de existir na prática, era 
proibida pelo Decreto-lei nº 7.661/45, no seu art. 2º, inc. III. Concordata branca significava 
convocar credores para propor aumento de prazo de pagamentos, o que era considerado ato 
de falência. 
As sociedades regulares que têm sócios de responsabilidade ilimitada são: a 
sociedade em nome coletivo, a sociedade em comandita por ações e a sociedade em 
comandita simples. Hoje são raras as sociedades empresárias, submetidas à Lei nº 
11.101/2005, que possuem sócios de responsabilidade ilimitada. Em sua grande maioria são 
sociedades limitadas ou sociedades anônimas. 
Outra particularidadade da Lei nºº 11.101/2005 é que trata-se de uma norma 
multidisciplinar, com regras de direito empresarial, penal, processual etc. Quando for omissa 
quanto a prazos e regras processuais, especialmente sobre os recursos cabíveis, aplicam-se 
as disposições do Código de Processo Civil. 
 
5.3.1. Crise da empresa 
A Lei nº 11.101/2005 tem um aspecto duplo de recuperar e/ou extinguir atividades 
empresariais em crise. Visa, primordialmente, viabilizar o saneamento da empresa em crise, 
ficando a extinção restrita para casos em que a recuperação da atividade não é viável. 
Diferentemente do Decreto-Lei nº 7.661/45, que tinha por objetivo principal eliminar do 
mercado o agente econômico sem condições de se manter e cumprir seus deveres. Caso não 
seja possível a recuperação, a norma também contempla o instituto da falência como forma 
de liquidar a atividade empresarial, mas não é o seu escopo primordial. 
A crise de uma atividade econômica pode ocorrer por várias razões: má gestão; 
escassez de insumos; eventos da natureza, como estiagem ou excesso de chuvas; elevação ou 
diminuição excessiva de preços; crises econômicas mundiais ou regionais etc. Para Fábio 
Ulhoa Coelho, a crise de uma empresa pode ser econômica, financeira ou patrimonial. 
Na possibilidade de se socorrer da recuperação judicial, Jorge Lobo afirma que o 
“estado de crise econômico-financeira” do devedor é um pressuposto, que está relacionado 
com o inadimplemento, iliquidez ou insolvência. A aplicação da Lei nº 11.101/2005, 
especialmente para a recuperação se dá a qualquer destes tipos de crise, apesar de a lei 
utilizar-se da expressão “crise econômico-financeira”. 
 
5.3.2. Princípio da preservação da empresa 
O princípio da preservação da empresa pode ser entendido como aquele que tem 
por objetivo recuperar a atividade empresarial de crise econômica, financeira ou 
patrimonial, a fim de possibilitar a continuidade do negócio, bem como a manutenção de 
empregos e interesses de terceiros, especialmente dos credores. Este princípio consta do 
art. 47 da Lei nºº 11.101/2005 e é seu grande norteador, tendo profundos reflexos no 
ordenamento jurídico como um todo, pois tem guiado posições na jurisprudência e na 
doutrina. 
Este princípio deve ser visto ao lado do princípio da função social da empresa (Lei nº 
6.404/76, art. 116, parágrafo único), que considera o fato de que a atividade empresarial é a 
fonte produtora de bens para a sociedade como um todo, pela geração de empregos; pelo 
desenvolvimento da comunidade que está à sua volta; pela arrecadação de tributos; pelo 
respeito ao meio ambiente e aos consumidores; pela proteção ao direito dos acionistas 
minoritários etc. Desse modo, é relevante ponderar que a preservação da empresa justifica-
se nos casos de empresas que cumpram a sua função social, e não o contrário. 
 
5.3.3. Pessoas e atividades sujeitas à aplicação da Lei nº 11.101/2005 
O regime jurídico da Lei de Recuperação e Falência é aplicável às pessoas qu 
desenvolvem atividades empresariais, salvo as exceções a seguir. Por atividade empresarial 
deve ser entendida qualquer atividade econômica organizada e desenvolvida 
profissionalmente, para a produção ou a circulação de bens oude serviços, à luz do art. 966 
do Código Civil. Para fins falimentares não é preciso que o empresário individual ou sociedade 
empresária esteja regularizado perante o Registro Público das Empresas Mercantis, pois 
mesmo exercendo uma atividade empresarial de fato ou irregularmente, poderá sua falência 
ser decretada. 
Já para efeito de recuperação de empresas judicial ou extrajudicial, o empresário 
somente faz jus a esse benefício legal se estiver devidamente inscrito e regularizado perante 
o Registro Público das Empresas Mercantis. Vera Helena de Mello Franco e Rachel Sztajn, ao 
posicionarem-se sobre a possibilidade de decretação da falência do empresário irregular ou 
de fato, lembram que essa é regra na maior parte dos países. E chamam a atenção para o 
fato de que além de não ter direito à recuperação de empresas, o empresário irregular ou de 
fato não poderá requerer a falência de outro empresário, da mesma forma como dispunha a 
norma anterior. 
Pelo advento da Lei nº 12.441/2011 surgiu a empresa individual de responsabilidade 
limitada – EIRELI. Que, como já visto, trata-se de um empresário individual com direito à 
limitação de responsabilidade e separação patrimonial. 
A fim de não restar qualquer dúvida, a Lei nº 12.441/2011 poderia ter promovido uma 
alteração na Lei nº 11.101/2005 para constar a EIRELI como sujeita ao regime da falência 
recuperação de empresas, mas não o fez. No entanto, entendemos que a EIRELI s submete à 
Lei 11.101/2005 pelo fato de que ela, via de regra, será concebida para o desenvolvimento de 
uma atividade econômica, bem como pelo fato de ser um empresário individual com 
responsabilidade limitada, devendo, portanto, haver uma aplicação por analogia da referida 
norma. 
Pelas mesmas razões e fundamentos, entendemos que o microempreendedor 
individual – MEI também se submete à Lei nº 11.101/2005, tanto para a recuperação de 
empresas quanto para a falência. É pertinente explicitar o fato de que a submissão à Lei 
nº 11.101/2005 se dá para o empresário individual e a sociedade empresária com 
inscrição/registro na Junta Comercial, pois do contrário, se houver o desenvolvimento de uma 
atividade econômica ‘‘informalmente’‘, os credores deverão cobrar seus créditos de acordo 
com as regras ordinárias do Código de Processo Civil, tema que escapa do objeto de estudo 
deste livro. 
Por isso, que entre outras vantagens, a regularização do empresário e da sociedade 
empresária lhes asseguram o direito à recuperação de empresas, uso dos livros contábeis 
como prova em processo judicial e vantagens tributárias. Estas, por exemplo, somente são 
possíveis se houver um Cadastro Nacional de Pessoas Jurídica – CNPJfornecido pela Receita 
Federal do Brasil, após a inscrição ou registro na Junta Comercial, sem prejuízo de outros 
requisitos. 
 
5.3.3.1 Pessoas e atividades não sujeitas 
 
 Existem atividades que não são alcançadas pela Lei nº 11.101/2005, conforme segue 
outras que possam ser equiparáveis a essas cooperativas em geral atividades intelectuais: 
literária, artística e científica. 
As exclusões citadas ocorrem por opção política do legislador, que reserva 
tratamentos jurídicos distintos em caso de problemas financeiros a essas atividades. 
Dessa forma, as atividades elencadas anteriormente não estão sujeitas à recuperação e à 
falência, como forma de processo de execução coletiva contra o insolvente . 
No entanto, muitas têm regimes próprios de liquidação para o caso de insolvência, como os 
bancos e seguradoras, que são liquidadas para se evitar um risco sistêmico ou em cascata. 
Nesse sentido, quando não houver regramento próprio, como no caso de insolvência 
de atividades intelectuais, aplicam-se as regras da execução contra o devedor insolvente do 
novo Código de Processo Civil, arts. 824 e s. 
Com relação às companhias aéreas, no passado não podiam impetrar concordata, mas 
podiam falir. Atualmente, por razões políticas, decorrentes principalmente do caso Varig, a Lei 
nº 11.101/2005, tanto para a recuperação de empresas como para a falência, passou a ser 
aplicável a elas, por força do seu art. 199, que acabou com a proibição prevista no Código 
Brasileiro de Aeronáutica – Lei nº 7.565/86 art. 187 
As pessoas que desenvolvem atividades rurais somente estarão sujeitas ao regime da 
legislação de falência e recuperação se o agricultor optar por efetuar sua inscrição no Registro 
Público de Empresas Mercantis, à luz dos arts. 971 e 984 do Código Civil, o que torna 
equiparado a empresário individual, ou seja, um empresário rural 
 
5.3.3.2.Cooperativas 
A Lei nº 11.101/2005, art. 2, exclui expressamente a cooperativa de crédito de seu 
regime jurídico para fins de recuperação de empresas e falência. Por sua vez, a Lei nº 
5.764/71, art. 4, caput, afirma que a cooperativa é uma sociedade de pessoas, de natureza 
civil, não sujeita à falência, devendo sua dissolução e liquidação extrajudicial ser realizadas 
conforme os arts. 63 a 78 da mesma lei. E, complementando, o Código 
Civil, art. 982, parágrafo único, prevê que independentemente do seu objeto social, a 
cooperativa é uma sociedade simples. 
Surge então um conflito aparente de normas, pois, de acordo com os arts. 
50 do Código Civil, a sociedade simples está vinculada ao Registro Civil das Pessoa 
Jurídicas. No entanto, apesar de a cooperativa ser considerada por lei sociedade simples o 
art. 18 da Lei nº 5.764/71 determina que ela deva ser registrada no Registro Público da 
Empresas Mercantis, órgão encarregado do registro da sociedade empresária e da inscrição 
do empresário individual. 
Feito esse preâmbulo, e não se questionando as cooperativas de crédito, pois estas 
não estão mesmo sujeitas à Lei nº 11.101/2005, por força expressa do seu art. 2, a questão é 
saber se as cooperativas em geral podem ou não se submeter a norma falimentar e 
recuperacional. 
Quanto ao instituto da recuperação de empresas há um vácuo legislativo, o art. 2 da 
Lei nº 11.101/2005 exclui tão somente as cooperativas de crédito não as demais 
cooperativas. Já a Lei nº 5.764/71, art. 4, caput, expressa que as cooperativas não se 
submetem a falência, não mencionando a recuperação de empresas . 
Inclusive já há decisões no Poder Judiciário autorizando a recuperação de cooperativa em 
razão do princípio da preservação da empresa, como, por exemplo, em Minas Gerais 
Comarca de Alpinópolis, Processo n. 0009255-05-2011, em que foi deferida a recuperação 
judicial a uma cooperativa rural. Tem-se justificado a aplicação da recuperação de 
empresasàcooperativa,quandoestaestiverorganizadacomoempresa,ouseja, desenvolvedora 
de atividade econômica organizada com profissionalidade, visando a produção ou a circulação 
de bens ou de serviços. 
Quanto à falência, o tema ganha outro contorno, pois mesmo a cooperativa não sendo 
excluída expressamente pelo art. 2 da Lei nº 11.101/2005, ela está excluída por força da 
norma que a disciplina, ou seja, pelo art. 4 da Lei nº 5.764/71. Por isso pode-se entender que 
à cooperativa poderia ser concedida a recuperação de empresas. No entanto, não poderá ela 
submeter-se à falência, mas sim a liquidação extrajudicial prevista na lei da cooperativa. 
Emanuelle Urbano Manoleti afirma que as cooperativas são consideradas empresas em 
muitos países. No Brasil apesar de terem um regime jurídico próprio, elas se organizam como 
empresas, atendendo a todos os requisitos da teoria da empresa, ou seja, exercem atividade 
econômica de forma profissional e concorrem com as demais empresas. Para o consumidor 
não há relevância em saber se o produto que ele está adquirindo deriva de uma cooperativa 
ou de outro tipo de empresa. O que a lei da cooperativa particulariza é a relação interna entre 
os sócios que são cooperados. Mas, por serem consideradas sociedade simples por opção 
legislativa, as cooperativas ficam excluídas da Lei de Falência e Recuperação de Empresa. 
Especificamentesobre o instituto da recuperação, Mauro Rodrigues Penteado externa que as 
cooperativas não podem se beneficiar da recuperação de empresas.. 
Haroldo Malheiros Duclerc Verçosa afirma que a sociedade cooperativa acabou tendo 
uma natureza jurídica híbrida, ou seja, está entre a sociedade simples e a sociedade 
empresária. Sendo que do ponto de vista econômico as cooperativas são empresas, pois 
colocam no mercado bens e serviços, podendo neste caso ser tidas como sociedades 
empresárias, acomodando-se perfeitamente ao conceito de empresário previsto no art. 966 do 
Código Civil; e, consequentemente, no art. 1 da Lei nº 11.101/2005, lembrando que o art. 2 
dessa lei exclui apenas as cooperativas de crédito. 
Feitas essas considerações, entendemos que o instituto da recuperação de empresas 
pode ser aplicado às cooperativas em geral por desenvolverem atividade empresarial e em 
razão do princípio da preservação da empresa. Porém, as cooperativas não se submetem à 
falência, mas sim a liquidação extrajudicial por força da exclusão do art. 2, caput, da Lei 
nº 5.764/71; podendo, se for o caso, na liquidação extrajudicial aplicarem-se subsidiariamente 
as regras de liquidação das instituições financeiras e as normas falimentares. 
 
5.4. DISPOSIÇÕES COMUNS À RECUPERAÇÃO JUDICIAL E À FALÊNCIA 
As regras e suas extensões são aplicáveis fundamentalmente á recuperação judicial e 
á falência, mas nem sempre á recuperação extrajudicial, salvo situações excepcionais que 
serão apontadas expressamente. 
 
5.4.1. Competência e prevenção 
Sobre a regra de competência, o processamento da recuperação judicial ou 
extrajudicial e da falência ocorre no juízo (na comarca) estadual do principal estabelecimento 
do devedor ou da filial que tenha sede (matriz) fora do Brasil (LRF, art 3º). 
 
5.4.2. Suspensão da prescrição, das ações e das execuções 
O deferimento da recuperação judicial ou a decretação da falência suspende o prazo 
prescricional e as ações e execuções judiciais contra o devedor. No entanto, as ações 
trabalhistas e as execuções fiscais não são alcançadas por esta regra, permanecendo seu 
trâmite nas justiças especializadas. 
Quanto às execuções trabalhistas e à recuperação judicial, há um aparente conflito de 
interesses, de um lado o trabalhador individual buscando satisfazer seu crédito na justiça do 
trabalho , de outro a recuperação de uma empresa que se processa em favor da manutenção 
da empresa, empregos etc. 
Tudo isso também vale para a falência, ou seja, as execuções pendentes na justiça do 
trabalho devem prosseguir no juízo universal. 
Não se pode deixar passar sem comentar o fato de que o caput do art. J á a 
interrupção tem por efeito o fato de que haverá uma recontagem do prazo, iniciando-se 
novamente. Manoel Justino Bezerra Filho lembra que a decadência não pode ser suspensa o 
interrompida, mas que, no entanto, o referido dispositivo legal cuida apenas da prescrição. 
 
5.4.2.1. Sócios solidários e sócios garantidores (avalistas e fiadores) 
Um ponto muito importante que não se pode deixar passar despercebido está no caput 
do art. 6, da Lei n. 11.101/2005, que tem a seguinte redação:«A decretação da falência ou o 
deferimento do processamento da recuperação judicial suspende o curso da prescrição e de 
todas as ações e execuções em face do devedor, inclusive aquelas dos credores particulares 
do sócio solidário». 
Porém, esse tema deve ser visto, à luz do ordenamento jurídico, como um conjunto de 
normas que se complementam. Neste caso é preciso haver uma integração da Lei n 
11.101/2005 com a norma disciplinadora do aval, o Decreto n. 57.663/66 – Lei Uniforme arts. 
30 a 32. 
O avalista é um coobrigado. Diante do exposto, consideramos que a suspensão da 
prescrição referida no caput do art. 6, da Lei n. 11.101/2005, não se aplica ao sócio que 
prestar garantia de aval em favor da sociedade, pois o avalista pode ser cobrado, protestado 
etc. independentemente de a dívida principal ser exigível ou não contra o devedor principal. 
 
5.4.3 Verificação dos créditos 
Significa realizar um levantamento dos créditos contra o devedor, ou seja, do que ele 
está devendo. Esse levantamento será elaborado pelo administrador judicial, figura que será 
estudada a seguir. O administrador judicial realizará a verificação dos créditos com base nos 
livros contábeis e documentos comerciais e fiscais do devedor, bem como nos documentos 
apresentados por credores. 
 
5.4.3. Verificação de créditos 
Verificação dos créditos significa realizar um levantamento dos créditos contra o 
devedor (talvez ficasse mais completo dizer dos débitos do devedor), ou seja, do que ele está 
devendo. 
 
5.4.4. Habilitação de créditos 
Realizada a verificação dos créditos, será publicado um edital com a relação de 
créditos já apurados, para no prazo de 15 dias os credores apresentarem ao administrador 
judicial suas habilitações ou suas divergências em relação aos créditos já verificados e 
relacionados 338. Caso o administrador judicial deixe voluntariamente de relacionar algum 
crédito, poderá ser obrigado a fazê-lo por ordem judicial. 
 
5.4.3.1.Credores retardatários 
É possível a admissão de credores retardatários, ou seja, aqueles que habilitam seu 
crédito após o prazo estabelecido de 15 dias para a devida habilitação. 
 
5.4.5. Impugnação de crédito 
Qualquer credor, o próprio devedor ou o Ministério Público poderá impugnar a relação 
de credores, quando for: ilegítima; caso de ausência de crédito; divergência de valor etc, com 
prazo de 10 dias a contar da publicação do edital previsto no § 2º do art. 7º (LRF, art. 8º). 
Cada impugnação de crédito será autuada em separado do processo principal (LRF, 
art. 13, parágrafo único). 
5.4.6. Administrador judicial 
Administrador judicial é um auxiliar qualificado do juiz. Essa figura do administrador 
judicial substituiu a do síndico, que tinha previsão no Decreto-lei nº 7.661/45. É importante 
atentar-se ao fato de que o administrador judicial será nomeado pelo juiz. É preciso também 
considerar que o administrador pode contratar auxiliares para ajudá-lo em suas 
atribuições, como contadores, escriturários etc. 
5.4.6.1. Deveres 
Vários são os deveres do administrador judicial. Alguns desses deveres são comuns à 
recuperação judicial e à falência e outros são específicos a cada caso. Um ponto importante 
da atuação do administrador judicial se dá quanto ao fato de que na recuperação judicial ele 
exerce um papel de fiscalização da gestão, enquanto na falência de gestor efetivo do negócio. 
Sob o prisma do direito tributário, o administrador judicial pode ser tido como 
responsável pessoal e solidário pelo recolhimento de tributos devidos pela massa se em razão 
de sua culpa. O CTN expressa em sua redação o “síndico”, lembrando que se trata de figura 
jurídic substituída pelo administrador judicial. 
 
5.4.6.2. Destituição e renúncia 
Não cumprindo com suas atribuições, o administrador judicial pode ser destituído pelo 
juiz, que, então, nomeará outro. 
A propósito, a lei atribui ao novo administrador o dever de elaborar relatórios, organizar 
as contas e apontar as responsabilidades do seu antecessor. Além disso, o administrador 
judicial pode renunciar. Em caso de renúncia, isso ocorre não por decisão judicial 
motivada, mas, sim, por um ato de sua iniciativa, independentemente do motivo. 
5.4.6.3. Remuneração 
O administrador judicial tem direito à remuneração. É o juiz quem fixará tanto a forma 
quanto o valor da remuneração do administrador. A remuneração do administrador não pode 
exceder a 5% dos valores devidos na recuperação judicial ou do valor da venda dos bens da 
massa falida. Do montante devido ao administrador judicial, serão reservados 40% para 
pagamento após ele ter apresentado suas contas e o relatório final ao término do processo 
A Lei nº 11.101/2005 o qual prevê que, no caso de microempresas e empresas de 
pequeno porte, aremuneração do administrador judicial fica limitada a dois por cento. É de 
responsabilidade do devedor, ou da massa falida, o pagamento da remuneração do 
administrador judicial, bem como das pessoas contratadas para auxiliá-lo. Em caso de 
destituição ou renúncia do administrador judicial, ele fará jus à remuneração proporcional aos 
serviços realizados, excluindo-se caso de desídia, culpa, dolo ou descumprimento das 
obrigações fixadas em lei, em que não terá direito à remuneração. Destaca-se que, como será 
visto a seguir, a remuneração do administrador judicial e dos auxiliares são créditos 
extraconcursais, devendo ser pagos antes de qualquer credor do falido. 
 
5.4.7. Comitê de credores 
Comitê significa grupo encarregado de resolver assuntos específicos. O comitê de 
credores é um “órgão” que tem a função de representar os credores no processo de 
recuperação de empresas ou falência. 
 
5.4.7.1 Composição 
Sobre a nomeação dos representantes, ela irá ocorrer por deliberação em assembleia 
geral de credores. Entretanto, a nomeação do representante e dos suplentes, bem como as 
respectivas substituições, poderá ser determinada pelo juiz mediante pedido escrito da 
maioria dos credores de cada classe, independentemente de assembleia. 
 
5.4.7.2 Atribuições 
Várias são as atribuições do comitê de credores. Algumas são comuns à recuperação 
judicial e à falência e outras são específicas à recuperação judicial. Iremos iniciar com as 
atribuições comuns e, em seguida, passaremos para as especiais. Atribuições comuns na 
recuperação judicial e na falência apurar e emitir parecer sobre quaisquer reclamações dos 
interessados etc. 
As atribuições especiais na recuperação judicial são verificar se o plano de 
recuperação está sendo cumprido etc. Na falta do comitê de credores, as funções a ele 
concernentes serão exercidas pelo administrador judicial, ou pelo juiz, em caso de 
incompatibilidade do administrador judicial. 
 
 
5.4.7.3.Remuneração 
Os membros do comitê de credores não terão sua remuneração custeada pelo devedor 
ou pela massa falida, mas, sim, pela disponibilidade de caixa. A assembleia geral de credores 
possui algumas atribuições na recuperação judicial e na falência. Na recuperação judicial, as 
atribuições da assembleia geral de credores são constituição do comitê de credores e escolha 
de seus membros qualquer matéria de interesse dos credores etc. Na falência, as atribuições 
da assembleia geral de credores são adoção de outras modalidades de realização do ativo 
constituição do comitê de credores e escolha de seus membros qualquer matéria de interesse 
dos credores. 
 
5.4.8. Regras gerais para administrador judicial e membros do comitêde credores 
Assim que forem nomeados, o administrador judicial e os membros do comitê de 
credores serão intimados para, no prazo de 48 horas, assinarem um “termo de compromisso” 
de bom desempenho de responsabilidades (LRF, art. 33). 
Se, por acaso, não assinarem o termo no prazo, o juiz nomeará outro administrador 
judicial (LRF, art. 34). 
5.4.8.1. Impedidos 
Não poderá ser administrador judicial ou membro do comitê de credores pessoa que ao 
exercer, nos últimos 5 anos, um dos cargos tenha: (i) sido destituído; (ii) deixado de prestar 
contas; ou (iii) tido suas contas desaprovadas (LRF, art. 30,caput). Essa regra não se aplica 
no caso de renúncia do administrador. 
Também não poderá exercer essas funções pessoas que tenham alguma relação com 
o devedor, como: (i) parentes até o 3º grau; (ii) amigos; (iii) inimigos ou (iv) representantes do 
devedor (LRF, art. 30, § 1º). 
O juiz poderá destituir o administrador judicial ou o membro do comitê de credores 
quando estes não estiverem cumprindo com suas obrigações. Contudo, o devedor, 
qualquer credor ou o Ministério Público pode fazer requerimento, que será apreciado pelo 
juiz em 24 horas (LRF, art. 30, §§ 2º e 3º). Mas vale destacar que a destituição pode inclusive 
ser de ofício (LRF, art. 31, caput). 
5.4.8.2. Responsabilidade 
No que se refere à responsabilidade, o administrador judicial e os membros do comitê 
de credores respondem pelos prejuízos causados à massa falida, ao devedor ou aos credores 
por atuar com dolo ou culpa. Quando essa atuação se der por meio de decisão do comitê de 
credores, o membro dissidente (que discordar da decisão) deve fazer constar seu voto 
divergente para eximir- se da responsabilidade (LRF, art. 32). 
 
5.4.9. Assembleia geral de credores 
Assembleia geral de credores é um órgão colegiado, composto por credores do 
devedor, exceto os tributários, como será visto a seguir. No geral, em suas atribuições (que 
serão vistas adiante), a assembleia geral de credores é soberana, não podendo o juiz se 
sobrepor às suas decisões, salvo casos de comprovada fraude e violação do ordenamento 
jurídico quanto às normas de ordem pública. 
5.4.9.1. Composição 
A assembleia geral de credores é composta dos credores do devedor. Porém, é preciso 
destacar que não são todos os credores que constituem a assembleia. Apenas os credores 
das seguintes classes podem fazer parte da assembleia geral de credores: trabalhistas, 
acidentários, com garantias reais, privilegiados (geral e especial), quirografários, subordinados 
e aqueles enquadrados como microempresa ou empresa de pequeno porte (LRF, art. 41). 
Os credores tributários não fazem parte da assembleia e não podem fazer parte da 
recuperação de empresas, judicial ou extrajudicial; já na falência fazem parte do concurso de 
credores, mesmo sem compor a assembleia. 
5.4.9.2. Atribuições 
A assembleia geral de credores possui algumas atribuições na recuperação judicial e 
na falência (LRF, art. 35): 
Na recuperação judicial, as atribuições da assembleia geral de credores são (LRF, art 
35, I): 
1) aprovação, rejeição ou modificação do plano de recuperação judicial apresentado pelo 
devedor; 
2) constituição do comitê de credores e escolha de seus membros (na escolha dos 
respectivos membros do comitê, somente os credores de cada classe poderão votar, 
conforme o art. 44); o nome do gestor judicial, quando do afastamento do devedor; 
3) qualquer matéria de interesse dos credores etc. 
Na falência, as atribuições da assembleia geral de credores são (LRF, art. 35, II): 
1) adoção de outras modalidades de realização do ativo (além das previstas na Lei, art. 142, 
e de acordo com o art. 145); 
2) constituição do comitê de credores e escolha de seus membros (vale a idêntica 
consideração de que, na escolha dos respectivos membros do comitê, somente os 
credores de cada classe poderão votar, conforme o art. 44); qualquer matéria de interesse 
dos credores 
 
5.4.7.3.Convocação, instalação e votação 
É preciso levar em consideração que a convocação da assembleia geral de credores é 
feita pelo juiz, por meio de edital publicado no órgão oficial e em jornais de grande circulação 
nas localidades da sede e das filiais, com antecedência mínima de 15 dias. No edital deve 
constar: local, data e hora da realização da assembleia; ordem do dia; local para se obter o 
plano de recuperação judicial a ser submetido à deliberação etc. 
Ressalta-se também o fato de que a assembleia geral de credores será presidida pelo 
administrador judicial. Com relação à instalação da assembleia, irá ocorrer em primeira 
convocação com a presença de credores titulares de mais da metade dos valores dos créditos 
de cada classe. Se for caso de segunda convocação, a instalação da assembleia geral de 
credores terá início com qualquer número em cada classe, ou seja, em segunda convocação, 
a assembleia iniciará independentemente da porcentagem dos valores dos créditos em cada 
categoria de credores. 
 
5.5. RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS 
O instituto da recuperação de empresas é uma inovação no ordenamento jurídico 
brasileiro, trazido pela Lei nº 11.101/2005, porém já é mais experimentada em outros 
países, como Estados Unidos e França.11.101/2005 possui uma visão mais moderna, que 
busca recuperar a empresa que está em crise. Apesar de ser relativamente recente no 
Brasil, aos poucos o número de recuperação de empresas vem aumentando no cenário 
nacional. 
A recuperação da empresa não se esgota na simples satisfação dos credores, como a 
falência. I sso ocorre porque a recuperação tem por objetivo principal proteger a atividade 
empresarial, não somente o empresário. Além disso, podemos completar dizendo que é uma 
tentativa de saneamento/reorganização da empresa em crise, a fim de evitar o processo 
falimentar. 11.101/2005, a recuperação de empresa pode serjudicial e extrajudicial. A lei 
também prevê uma modalidade diferenciada para a recuperação da ME e da EPP. 
Recuperação de empresa judicial é aquela que é processada integralmente no âmbito do 
Poder Judiciário, por meio de uma ação judicial, com rito processual próprio, visando a 
solução para a crise econômica ou financeira da empresa. É preciso não se esquecer de que 
a recuperação judicial tem por objetivo manter a fonte produtora promover a preservação da 
empresa e sua função social, bem como estimular a atividade econômica. Quanto à natureza 
jurídica da recuperação judicial, Jorge Lobo aporta haver divergência. 
 
5.5.1. Recuperação judicial 
Os privatistas entendem ser a recuperação judicial um instituto do direito privado. No 
entanto, o autor prefere situar a recuperação de empresas como instituto do direito 
econômico. I sso, pois, considera que este ramo do Direito, o direito econômico, está em uma 
zona intermediária entre o direito privado e o público, alinhado ao fato de que a recuperação 
está pautada não necessariamente pela ideia de justiça, mas de eficácia técnica ao criar 
condições que propiciem às empresas em crise se reestruturarem, prevalecendo os 
interesses coletivos, ainda que isso resulte em sacrifício parcial de credores. Assim, esses 
credores poderão exercer seus direitos contra o devedor a margem do processo de 
recuperação, podendo efetuar cobrança, execução, reintegração de posse ou busca e 
apreensão, a depender do caso. 
5.5.1.1. Créditos abrangidos e não abrangidos 
Vale esclarecer que o exercício destes direitos assegurados a estes credores poderá 
inviabilizar a recuperação judicial da empresa, especialmente se grande parte de sua dívida 
tiver relação com estes credores. Quanto aos possíveis efeitos que este tipo de opção 
legislativa pode provocar na economia por não estender a recuperação a todos os 
credores, vale resgatar as palavras de Armando Castelar Pinheiro e Jairo Saddi. Eles afirmam 
que há evidência empíric indicando que uma boa proteção aos credores leva a juros mais 
baixos e a um mercado de crédito mais ativo, exemplificando que nos Estados Unidos há 
estudos demonstrando que a taxa de juros é mais alta nos Estados norte-americanos cuja 
legislação é mais protetiva aos devedores. S obre a proteção ao proprietário fiduciário em 
detrimento de outros credores do devedor, sua disciplina jurídica é complementada pelas 
disposições previstas no Decreto-lei nº 911/69. 
O desrespeito a essa exigência do registro implica caracterização do crédito como 
sendo quirografário. É preciso ter em conta que, no âmbito da recuperação judicial, os 
credores do devedor conservam seus direitos e privilégios contra os coobrigados. Assim, as 
obrigações contraídas anteriormente ao pedido de recuperação deverão observar o que foi 
contratado originalmente , exceto se ficar acordado de forma diversa no plano recuperacional 
aprovado. 
 
5.5.1.2. Requisitos e pressupostos 
Quem pode requerer a recuperação judicial, em juízo, é o devedor – empresário 
individual ou sociedade empresária – exerça regularmente a atividade empresarial por mais 
de 2 anos não ter obtido concessão de recuperação especial não ser falido não ter sido 
condenado por crimes concursais/falimentares. 
Quanto a exercer regularmente a atividade empresarial, cabe explicitar que apenas o 
empresário devidamente inscrito no Registro Público das Empresas Mercantis poderá 
requerer a recuperação judicial, não cabend esse direito a quem exerça atividade empresarial 
de fato ou irregularmente. Há uma corrente minoritária que chega a defender a possibilidade 
de concessão da recuperação judicial para atividades exercidas de fato ou 
irregularmente, como no caso de uma sociedade em comum. O requisito de ‘‘não ser 
condenado por crimes concursais/falimentares’‘ poderia ser visto como redundante, no 
entanto, não o é. Jorge Lobo, ao estudar a recuperação judicial, expressa que hápressupostos 
de cunho subjetivo e objetivo. 
O pressuposto subjetivo está relacionado com a legitimidade para requerer a 
recuperação judicial. Por sua vez, o pressuposto objetivo é o ‘‘estado de crise econômico-
financeira’‘ do devedor, que está relacionado com o inadimplemento das prestações 
obrigacionais, de forma provisória ou definitiva, conforme discorremos no item da crise da 
empresa. Por fim, o direito de se requerer a recuperação judicial também pode ser exercido 
pelo cônjuge sobrevivente, herdeiros do devedor, inventariante ou sócio remanescente. 
Ressalta-se que as microempresas e empresas de pequeno porte poderão apresentar 
livros e escrituração contábil simplificados, em vez das demonstrações citadas exigidas. 
Contudo, após o deferimento de seu processamento pelo juiz, o devedor não poderá desistir 
do seu pedido de recuperação judicial, a não ser que receba aprovação da assembleia geral 
de credores . 
 
5.5.1.3. Meios de recuperação 
Antigamente, de acordo com o Decreto-lei n. 7.661/45, a concordata era a única 
forma existente de o devedor, que não dispunha de recursos suficientes, evitar sua 
falência. 
Sidnei Agostinho Beneti, ao afirmar que a lei apenas enumera as possibilidades de 
forma exemplificativa e não exaustiva, aponta que a norma deixou aberta à criatividade dos 
empresários e dos juristas outras possibilidades de recuperação de uma empresa em crise. 
 
5.5.1.4. Pedido e processamento judicial 
No aspecto processual, a lei se expressa no sentido de que a recuperação judicial é 
uma ação. Este requisito tem a finalidade de verificar se os sócios não estão enriquecendo em 
detrimento da empresa, ou, conforme o art. 82, para eventual ação de apuração de 
responsabilidade pessoal contra os sócios. 
É importante salientar que o empresário irregular, entre outras implicações, não faz jus 
à recuperação de empresas, haja vista ser um direito assegurado ao empresário individual e à 
sociedade empresária devidamente inscritos/registrados na J unta Comercial. 
 
5.5.1.5. Plano de recuperação 
O plano de recuperação judicial consiste na estratégia traçada para se recuperar a 
empresa em crise. No Brasil, apenas o devedor tem a prerrogativa d apresentar o plano de 
recuperação judicial. Caso o devedor não o apresente no prazo, a recuperação judicial será 
convertida em falência. Dependendo da complexidade da atividade empresarial, elaborar um 
plano de recuperação em 60 dias pode ser algo complicado e difícil. 
Por isso, na prática, muitas vezes se começa a trabalhar na elaboração do plano, e até 
mesmo na negociação com credores, antes de o juiz se pronunciar ou mesmo antes de se 
ajuizar a recuperação. Como já dito, há empresas especializadas na elaboração de plano de 
recuperação, bem como em diagnosticar as causas da crise. 
 
5.5.1.5.1.Requisitos 
Este plano de recuperação pode envolver qualquer possibilidade prevista no art. O 
plano de recuperação judicial deve conter os seguintes requisitos meios detalhados de 
recuperação a ser utilizados demonstração de sua viabilidade econômica. 
Por viabilidade econômica entenda-se a chance que a empresa tem de se 
recuperar, ou seja, ela deverá apresentar condições mínimas para ser saneada e assim poder 
obter o favor legal da recuperação judicial. Essa credibilidade poderá ser maior quando 
houver um relatório assinado porespecialista em recuperação e, se possível, no segmento 
em que a empresa atua. 
 
5.5.1.5.2.Objeção, rejeição e modificação 
Caberá ao juiz ordenar a publicação do plano de recuperação judicial fixando o prazo 
para eventuais objeções. 
Qualquer credor poderá apresentar objeção ao plano no prazo de 30 dias Havendo 
objeção, o juiz convocará assembleia geral de credores para deliberar sobre o plano, no prazo 
máximo de 150 dias a partir da decisão que deferiu o processamento da recuperação. O plano 
de recuperação poderá ser modificado pela assembleia geral desde que exista concordância 
do devedor. Como já apontado anteriormente, no item que trata da assembleia geral de 
credores, em suas atribuições, a assembleia é soberana, não podendo o juiz se sobrepor às 
suas decisões, salvo nos casos de comprovada fraude e violação do ordenamento jurídico 
quanto às normas de ordem pública. 
 
5.5.1.5.3.Aprovação do plano, cram down e novação 
Teoricamente, a aprovação do plano de recuperação judicial pode se dar de forma 
tácita ou expressa. Tácita quando o devedor apresenta o plano e nenhuma objeção é 
realizada pelos credores. Já a expressa se dá quando o plano é submetido à aprovação da 
assembleia geral de credores. A Lei nº 11.101/2005 confere aos credores o direito de aceitar 
ou não o plano de pagamento apresentado pelo devedor, diversamente do que ocorria na 
norma anterior, em que na concordata suspensiva o devedor de forma quase que absoluta 
impunha as condições de pagamento aos credores quirografários. 
Quanto à aprovação do plano feita pela assembleia geral de credores, ela se dá 
mediante o cumprimento das formalidades exigidas pela lei, como a votação e a aprovação da 
proposta em cada classe de credores, nos termos dos arts. 45, caput, todas as classes de 
credores referidas no art. 41 deverão aprovar a proposta do plano, haja vista que, se uma 
delas não o fizer, o plano não poderá seguir adiante, inviabilizando a recuperação da empresa 
e acarretando a sua decretação de falência. 
Nos Estados Unidos denomina-secram down essa concessão da recuperação judicial 
pelo juiz, mesmo não tendo havido a devida aprovação do plano pela assembleia geral de 
credores. É bom salientar que cabe ao juiz apenas o controle da legalidade durante o trâmite 
da aprovação do plano, devendo homologá-lo sem entrar no mérito de sua viabilidade 
econômica, pois isso diz respeito à assembleia geral de credores, a qual é soberana quanto à 
decisão de aprovação. Entretanto, essa questão não deve ser confundida com a permissão 
legal de o juiz conceder a recuperação, desde que atendidos os requisitos legais, mesmo 
contra a rejeição do plano pela assembleia. Assim, nas hipóteses de aprovação do plano pela 
assembleia geral de credores, de não ter havido objeção ou de cram down, o juiz proferirá 
decisão concedendo a recuperação judicial. 
Com a homologação do plano de recuperação judicial haverá a novação dos créditos 
anteriores ao pedido, obrigando, assim, o devedor e todos os credores a ele sujeitos. Vale ter 
em conta que a decisão judicial que conceder a recuperação judicial constituirá título 
executivo judicial, de acordo com o novo Código de Processo Civil, art. Até porque se o 
devedor não cumprir o plano, contra ele os credores terão seus créditos e garantias 
reconstituídos, além de um título executivo judicial, sem dizer da possibilidade da convolação 
da recuperação em falência. Se o plano de recuperação judicial aprovado envolver alienação 
judicial de filiais ou de unidades produtivas isoladas do devedor, o juiz ordenará a sua 
realização por leilão, propostas fechadas ou pregão. Ou seja, com essa regra, os bens 
adquiridos de uma empresa em recuperação judicial estarão livres dos débitos anteriores que 
foram contraídos pelo devedor. 
 
5.5.1.6. Dívidas fiscais, parcelamentos e certidões 
Aqui, devemos chamar a atenção para o fato de que, para a concessão da recuperação 
judicial, o art. Todavia, acontece que, quando uma empresa atinge um estado de crise, na 
maioria das vezes, ela há tempos não vem cumprindo com os pagamentos. Logo, tal 
dispositivo de certa forma é um obstáculo prático ao instituto da recuperação judicial de 
empresa, pois quase sempre os créditos tributários são os mais altos e, ao ficar de fora do 
plano, muitas vezes poderá inviabilizar a recuperação da empresa. Isso é tão verdade que o 
número de empresas que conseguiriam obter o benefício da recuperação judicial, com tal 
exigência, seria ainda menor do que já é. 
No entanto, a jurisprudência vem flexibilizando a exigência da lei quanto às certidões 
negativas, entendendo que tal determinação contraria o próprio objeto da lei e o princípio da 
preservação da empresa, ou seja, é um obstáculo à recuperação da empresa, manutenção 
dos empregos, interesses dos credores etc. O devedor que pleitear ou tiver deferido o 
processamento da recuperação judicial poderá parcelar seus débitos com a Fazenda Nacional 
em até oitenta e quatro parcelas mensais e consecutivas. Vale destacar que a não concessão 
da recuperação judicial ou a decretação da falência da pessoa jurídica é causa de rescisão do 
parcelamento do débito tributário . 
5.5.1.7. Prazos 
É importante esclarecer que o plano não poderá prever prazo superior a 1 ano para 
pagamento dos créditos trabalhistas e acidentários, vencidos até a data do pedido de 
recuperação judicial. Além disso, a partir da decisão que conceder a recuperação judicial, o 
devedor permanecerá em recuperação judicial até que se cumpram as obrigações previstas 
no plano que vencerem em até 2 anos, a partir dessa decisão que concedeu a recuperação. 
Esse é o denominado prazo de supervisão judicial da recuperação. Em outras palavras, o 
plano pode ter obrigações com vencimentos superiores a 2 anos, mas a recuperação judicial 
durará até 2 anos. 
Durante esse período , o descumprimento de qualquer obrigação prevista no plano 
acarretará a convolação da recuperação em falência. Neste caso, os credores terão 
reconstituídos seus direitos e garantias conform contratadas originalmente, devendo ser 
deduzidos os valores eventualmente pagos e ressalvados os atos praticados de forma válida 
durante a recuperação judicial. 
 
5.5.1.8. Cumprimento do plano 
Após os 2 anos, caso o devedor descumpra alguma obrigação prevista no plano – em 
especial as de vencimento posterior a 2 anos – qualquer credor poderá requerer a falência ou 
a execução específica, uma vez que trata-se de título executivo a decisão que concedeu a 
recuperação . 
O juiz também determinará à Junta Comercial a correspondente anotação de 
recuperação judicial. Ressalta-se que, durante o procedimento de recuperação judicial, o 
devedor ou seus administradores são mantidos na gestão da atividade empresarial, sob a 
fiscalização do comitê de credores, se houver, e do administrador judicial .Manutenção da 
gestão e gestor judicial. 
 
5.5.1.8.1. Manutenção da gestão e gestor judicial 
A regra na recuperação judicial é a manutenção do devedor ou seus dirigentes na 
gestão do negócio, mas vale destacar que excepcionalmente eles poderão ser afastados da 
administração da empresa. Neste caso, o juiz destituirá aquele a quem compete a gestão, que 
será substituído na forma prevista no ato constitutivo do devedor ou no plano de recuperação 
judicial simulado ou omitido créditos ao apresentar a relação de que trata o inciso III do caput 
do art. 51 da Lei nº 11.101/2005, sem relevante razão de direito ou amparo de decisão 
judicial. 
Uma vez ocorrido o afastamento do devedor, o juiz convocará a assembleia geral de 
credores para a escolha do nome de um gestor. Trata-se do gestor judicial, cuja atribuição é 
assumir a administração das atividades do devedor no processo de recuperação judicial. A 
este gestor judicial são aplicáveis, no que couber, todas as normas sobre deveres, 
impedimentos e remuneração do administrador judicial, à luz dos arts. 21e s. da Lei nº 
11.101/2005. Enquanto a assembleia geral não deliberar sobre a escolha do gestor judicial, 
caberá ao administrador judicial exercer as funções dele. 
5.5.1.9. Alienação e oneração de bens ou direitos 
Como apontado, pela regra geral da recuperação judicial o devedor não é afastado da 
gestão da empresa. No entanto, é importante considerar que a partir da distribuição do pedido 
de recuperação, mesmo mantido o direito de gerir, o devedor não poderá alienar ou onerar 
bens ou direitos de seu ativo permanente, salvo evidente utilidade para efeitos de auxiliar na 
recuperação, a qual deverá ser reconhecida pelo juiz, depois de ouvido o comitê de credores. 
As regras anteriormente citadas não impedem a decretação da falência por inadimplemento 
de obrigação não sujeita à recuperação judicial. 
A convolação da recuperação judicial em falência não pode decorrer de anulação da 
assembleia de credores que aprovou o plano recuperacional, pois essa não é uma das 
hipóteses de convoloção previstas pela Lei nº 11.101/2005 Em havendo a convolação em 
falência, os atos praticados durante a recuperação judicial serão presumidos válidos, desde 
que realizados conforme a lei . 
Como benefício aos credores que acreditaram na recuperação da empresa, que mais 
tarde restou infrutífera, havendo a convolação da recuperação em falência, os créditos 
decorrentes de obrigações contraídas pelo devedor durante a recuperação judicial, inclusive 
aqueles relativos a despesas com fornecedores de bens ou serviços e contratos de mútuo, 
serão considerados extraconcursais, devendo ser respeitada, no que couber, a ordem 
estabelecida no art. 83 da Lei nº 11.101/2005 (LRF, art. 67, caput). 
 
5.5.2. Recuperação especial das microempresas e empresas de pequeno porte 
 
As diretrizes que determinam o que é microempresa e empresa de pequeno porte 
estão previstas na LC n. 123/2006 – Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa d 
Pequeno Porte. Por sua vez, empresa de pequeno porte – EPP é aquela que possui receita 
bruta anual superior a R$ 360.000,00 até o limite de R$ 4.800.000,00. Lembre-se sempre de 
que o que irá caracterizar o empresário como micro ou pequeno é a receita bruta que ele 
auferir em cada ano. 
A Lei de Recuperação e de Falência prevê a possibilidade de a microempresa e 
empresa de pequeno porte obterem o benefício da recuperação judicial, mediante a 
apresentação de um plano especial de recuperação.

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