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Giovanna de Freitas Ferreira – Medicina UFR 1 Hormônios Metabólicos da Tireoide − A tireoide é uma das maiores glândulas endócrinas do corpo − Pesa de 15-20 gramas no adulto − Tem função de secretar dois hormônios principais: • 93% de tiroxina (T4) • 7% de tri-iodotironina (T3) • Quase toda a tiroxina é convertida em tri-iodotironina nos tecidos • A função de ambos são iguais, só difere na quantidade, velocidade e intensidade de ação • A T3 é 4x mais potente que T4, mas esta presente no sangue me menor quantidade e persiste por um tempo curto − Ambos tem função de acelerar o metabolismo, de forma que se ambos param de ser secretados, o metabolismo basal cairia 40-50% • Se ambos fossem aumentados, o metabolismo basal aumentaria 60-100% − A secreção de ambos é controlada pelo hormônio tireoestimulante TSH secretado pela hipófise anterior − Os hormônios da tireoide são essenciais para o desenvolvimento normal, crescimento e metabolismo corporal − Regulada pelo eixo hipotálamo-hipófise-tireoide ANATOMIA − Se localiza abaixo da laringe e está na parte lateral e anterior da traqueia − Tem coloração marrom avermelhado − A parte direita e esquerda é unida por um istmo, que fica logo abaixo da cartilagem cricoide − A fáscia pré-traqueal reveste a glândula e a liga à traqueia e laringe − É altamente vascularizado e possui milhares de folículos − Folículo é igual a um saco de células epiteliais que estão em torno de um lumen contendo coloide − A tireoide é composta por muitos folículos fechados que estão cheios de uma substância secretora chamada coloide e são revestidos por células epiteliais cuboides que secretam seus produtos para o interior dos folículos − O coloide é constituído pela glicoproteína tireoglobulina, a qual contém os hormônios tireoidianos − Quando a secreção chega aos folículos, deve ser reabsorvida através do epitélio folicular para o sangue, a fim de poder realizar sua função no corpo − A tireoide contém células C que secretam calcitonina, a qual regula a concentração plasmática de íons cálcio − Embriologicamente, a tireoide é derivada do chão da cavidade faríngea e migra a partir da base da língua para a posição final no pescoço PAPEL DO IODO − Para formar a tiroxina, é necessário ingerir cerca de 50 mg de iodo na forma de iodeto a cada ano, ou 1mg/semana − Para prevenir a deficiência de iodo, o sal comum de cozinha é suplementado com cerca de uma parte de iodeto de sódio para cada 100.000 partes de NaCl − O iodo ingerido é absorvido pelo TGI para o sangue e a maior parte é excretada pelos rins − Cerca de 1/5 é seletivamente removido do sangue pelas células tireoide e usado para síntese dos hormônios CAPTAÇÃO DE IODO − O primeiro passo é o transporte de iodeto do sangue para as células e folículos glandulares da tireoide − A membrana basal das células tireoidianas tem a capacidade de bombear iodeto para o interior da célula Giovanna de Freitas Ferreira – Medicina UFR 2 − Esse bombeamento é realizado através do simporte de sódio/iodeto, o qual leva para a célula um íon iodeto e 2 íons sódio e esse processo ocorre na membrana basolateral → esse processo chama captação de iodeto − A energia para o transporte vem da bomba de sódio-potássio adenosina trifosfatase (ATPase) que bombeia Na+ para fora, diminuindo a concentração de Na dentro da célula, facilitando o transporte de sódio/iodeto − Na glândula, a concentração de iodeto é 30x maior que no sangue • Quando a atividade da tireoide atinge seu máximo, a concentração pode se elevar para 250x − Influência na captação de iodo • O TSH estimula a atividade da bomba de iodeto nas células tireoidianas, enquanto a hipofisectomia a reduz de forma considerável − O iodeto é transportado para fora das células da tireoide pela membrana apical, através da pendrina que é um transportador não específico de ânions ou molécula contratransportadora de íons cloreto-iodeto, seguindo então para o lumen do folículo TIREOGLOBULINA E A BIOQUÍMICA DA FORMAÇÃO DE TIROXINA E TRI-IODOTIRONINA FORMAÇÃO E SECREÇÃO DE TIREOGLOBULINA PELAS CÉLULAS DA TIREOIDE − As células da tireoide são típicas células glandulares secretoras de proteínas − O reticulo endoplasmático e o aparelho de golgi sintetizam e secretam para os folículos uma grande glicoproteína chamada tireoglobulina, que constitui o coloide • Cada molécula de tireoglobulina contém 70 aminoácidos de tirosina, os quais se combinam com o iodo para formar os hormônios da tireoide − Assim eles se formam no interior da molécula de tireoglobulina − Isto é, os hormônios tiroxina e tri-iodotironina são formados a partir dos aminoácidos tirosina e formam parte da molécula de tireoglobulina OXIDAÇÃO DO ÍON IODETO − O primeiro passo para formar os hormônios da tireoide é a conversão dos íons iodeto para a forma oxidada − A forma oxidada é a que se combina com a tirosina (aminoácido) − Quem promove a oxidação é a enzima peroxidase junto com o peróxido de hidrogênio − O peróxido de hidrogênio é produzido por enzimas com atividade dupla de oxidase como DOUX1 e DOUX2 − A peroxidase está na membrana apical da célula ou ligada a ela, produzindo o iodo oxidado no ponto da célula em que a molécula de tireoglubulina surge. Ela está vindo do aparelho de golgi através da membrana celular, sendo armazenada no coloide da tireoide − Quando o sistema da peroxidase é bloqueado ou quando está ausente das células, a formação de hormônios tireoidianos é zero IODIZAÇÃO DA TIROSINA E FORMAÇÃO DOS HORMÔNIOS TIREOIDIANOS – ORGANIFICAÇÃO DA TIREOGLOBULINA − A ligação do iodo com a molécula de tireoglobulina é chamado organificação − O iodo se liga diretamente e de forma lenta a tirosina, de forma covalente e essa ligação é catalisada pela peroxidase − Nas células da tireoide, o iodo oxidase está associado a enzima peroxidase, a qual reduz a duração desse processo para segundos ou minutos − Assim o iodo se liga a 1/6 das tirosinas durante o intervalo em que a tireoglobulina é liberada do aparelho de golgi ou é secretada pela membrana apical − Ao final desse processo, são formados os 2 hormônios T3 e T4 − A tirosina é, inicialmente, iodada para monoiodotirosina (MIT) e, então, para di-iodotirosina (DIT). Então, nos minutos, horas, ou mesmo dias seguintes, cada vez mais resíduos de iodotirosina se acoplam uns aos outros − Quando duas moléculas de MIT se juntam, forma-se o T4 (4 moléculas de iodo) • Essa ligação também é catalisada pela peroxidase − Quando se juntam 1 MIT + 1 DIT forma-se T3 (3 moléculas de iodo) representando ~1/5 do total de hormônios produzidos IMPORTÂNCIA DO IODO − A deficiência do iodo ainda é um grande problema de saúde pública no mundo − A ingestão recomendada para adultos é 150 microgramas e pode chegar a 250 microgramas para gestantes e aquelas que amamentam − O iodo é obtido a partir da ingestão de frutos do mar, algas marinhas, laticínios, vegetais (soja, batatas) e sal iodado − A alta ingestão de iodo pode induzir hipotireoidismo, bocitos e hipertireoidismo • Uma grande quantidade de iodo administrado em um curto período inibe a secreção de hormônios da tireoide • Inibe a ativação da adenilato ciclase em resposta ao TSH • Inibe a organificação da tireoglobulina • Após alguns dias da alta ingestão de iodo, a captação dele pela tireoide diminui, assim como sua concentração dentro dos folículos e ainda, a sintese de tireoglobulina recomeça − Se a alta ingestão de iodo permanece, pode haver tireotoxicose, causando bócio Giovanna de Freitas Ferreira – Medicina UFR 3 ARMAZENAMENTO DA TIREOGLOBULINA − A tireoide consegue armazenar grandes quantidades de hormônios − Depois da síntese, cada molécula de tireoglobulina tem ~30 moléculas de tiroxina e algumas de T3 − Assim os hormônios são armazenados nos folículos em quantidades que suprem anecessidade do organismo por 2- 3 meses caso a síntese seja interrompida LIBERAÇÃO DA T3 E T4 − A tireoglobulina não é normalmente liberada na circulação, sendo assim, é preciso quebrá-la em partes menores para que consiga chegar à circulação − Para isso, o ápice das células da tireoide emite pseudópodes que englobam parte do coloide, formando vesículas pinocíticas − Depois os lisossomos se fundem com essas vesículas e formam vesículas digestivas que contêm enzimas − Entre as enzimas tem proteases que quebram a molécula de tireoglobulina e liberam a tiroxina e tri-iodotironina em sua forma livre − Então o T3 e T4 se difundem pela base da célula para os capilares adjacentes e chegam à circulação − Parte da tireoglobulina também entra na célula folicular por endocitose, depois de se ligar à megalina, uma proteína localizada na membrana do lúmen das células • Então, o complexo megalina-tireoglobulina é transportado através da célula por transcitose até a membrana basolateral, onde uma parte da megalina permanece unida à tireoglobulina e é liberada no sangue capilar − Cerca de 3/4 da tireoglobulina iodada não se torna hormônio, permanecendo nos folículos − Quando parte da tireoglobulina é reciclada na celula, a molécula precisa ser quebrada, mas mesmo assim, os T3 e T4 ainda não vai para corrente sanguínea, mas sim, são clivados pela enzima deiodinase. Essa enzima disponibiliza quase todo o iodo para reciclagem na glândula − É possível que pessoas com deficiência na enzima deidodinase tenham deficiência na quantidade de iodo, devido a falha na reciclagem TAXA DIÁRIA DA SECREÇÃO DE TIROXINA E TRI- IODOTIRONINA − Após poucos dias depois da liberação do T3 e T4, cerca da metade da tiroxina (T4) é lentamente desiodada, formando mais tri-iodotironina. Portanto, o hormônio finalmente transportado e utilizado pelos tecidos consiste, em sua maior parte, em tri-iodotironina, perfazendo o total de 35 microgramas diários desse hormônio TRANSPORTE DE TIROXINA E TRI-IODOTIRONINA PARA OS TECIDOS − T3 e T4 precisam estar ligadas à proteínas plasmáticas para serem transportados − Os transportadores são sintetizados pelo fígado e são principalmente: • Globulina ligadora de tiroxina – TBG → principal • Albumina • Pré-albumina ligadora de tireoxina (TBPA) − Há 0,02% de T4 e 0,2% de T3 livres no plasma – não ligados a proteínas • Mesmo que a concentração molar de T4 seja cerca de 50x a de T3, quando livre, é de apenas 3x ✓ Meia vida de T4 é 5-7 dias ✓ Meia vida de T3 é 1-2 dias − Hipótese dos hormônios livres • Uma pequena fração dos hormônios tireoidianos não é capaz de atravessar a membrana plasmática e entrar no núcleo − A função da tireoide é mais bem relacionada a porção livre dos hormônios e não as que estão ligados a proteínas. Contudo a parte livre é mais difícil de medir laboratorialmente LIBERAÇÃO PARA OS TECIDOS − Devido à alta afinidade de ligação dos hormônios com as proteínas transportadoras, eles são liberados de forma muito lenta para as células teciduais − A cada 6 dias, metade do T4 é liberado − A T3 (tri-iodotironina) tem menor afinidade que o T4 pelos transportadores, de forma que metade do T3 é liberado aos tecidos em 1 dia − Ao penetrar nas células, se ligam a proteínas intracelulares e são armazenadas na própria célula alvo para serem usadas lentamente ao longo de dias e semanas − Transportadores na membrana − OATPs (polipeptídeos de transporte de ânions orgânicos) transportam T4 e T3 reverso nos capilares do cérebro, sendo importante para atravessar a barreira hematoencefálica − MCT8 (transportador humano monocarboxilato 8) esta presente em e vários tecidos, e é especifico para T3 e ajuda no transporte dele para o cérebro, onde é captado pelos neurônios AÇÃO DE INÍCIO LENTO E LONGA DURAÇÃO − Ao ser injetado altas doses de tiroxina, só se observa alterações no metabolismo depois de 2-3 dias, mostrando o quão lento é sua utilização − Depois de iniciado, há um pico de atividade de 10-12 dias e depois a ação declina − Parte da atividade ainda persiste de 6 semanas a 2 meses − A T3 tem ação mais rápida que a T4, iniciando as atividades após 6-12 horas de administração, com pico ocorrendo de 2- 3 dias Giovanna de Freitas Ferreira – Medicina UFR 4 FUNÇÕES DOS HORMÔNIO S TIREOIDIANOS A MAIOR PARTE DA TIROXINA SECRETADA PELA TIREOIDE É CONVERTIDA EM TRI-IODOTIRONINA − Um átomo de iodo é removido de quase todas as moléculas de tiroxina, formando tri-iodotironina (T3) − Os receptores intracelulares têm afinidade mais alta com a tri-iodotironina • Assim mais de 90% das moléculas de hormônio tireoidiano que se ligam aos receptores são T3 − Apenas 20% de todo o T3 é produzido diretamente na tireoide − 80% é produzido a partir da 5-deiodinação de T4, o que ocorre na região extratireoidiana pela ação das isoenzimas da iodotironina deiodinase D1 e D2 e D3 − Assim T4 pode ser chamado de pré-hormônio já que é o T3 o grande responsável pelas ações dos hormônios da tireoide no organismo − A maioria das células tem as enzimas D1/D2/D3 dentro delas, de forma a ter uma “fonte” própria de T3 a partir de T4 − As deiodinases são selenoenzimas, ou seja, precisam de selênio para serem expressas − D1 • Catalisa a reação da 5’-deiodinação produzindo T3 • Catalisa também a 5-deiodinaçaõ formando rT3 − D2 • Forma T3 para o cérebro, hipófise e tecido adiposo marrom − D3 • Catalisa a conversão de T3 em rT3 • Ajuda a regular a interação entre o T3 e seus receptores, principalmente durante o desenvolvimento fetal AUMENTAM A TRANSCRIÇ ÃO DE MUITOS GENES − Nas células do organismo sob ação dos hormônios tireoidianos, é transcrito muitos genes de enzimas, proteínas estruturais, de transporte e outras substâncias − O resultado é o aumento generalizado da atividade funcional de todo o organismo Giovanna de Freitas Ferreira – Medicina UFR 5 OS HORMÔNIOS TIREOIDIANOS ATIVAM RECEPTORES NUCLEARES − Os receptores nucleares de hormônios da tireoide são uma família de fatores de transcrição controlados por ligantes e estão associados à cromatina (ou próximos a ela) − O receptor do hormônio tireoidiano forma heterodímeros com o receptor de retinoide X (RXR) nos elementos específicos de resposta ao hormônio tireoidiano no DNA − O complexo do receptor + hormônio (H.T. + RXR) se liga a regiões promotoras de genes alvos, depois recruta coativadores e inicia a transcrição do gene alvo em RNAm − Após formado o RNAm, ele é traduzidos nos ribossomos − Há proteínas que aumentam pouco sua transcrição, enquanto há outras que chegam a aumentar 6x a quantidade − AÇÕES NÃO GENÔMICAS: Há ainda ações dos hormônios não relacionadas à transcrição, pois há algumas alterações celulares que ocorrem rápido demais para ter havido alguma transcrição • Essas ações foram vistas no coração, hipófise, tecido adiposo e outros locais • Essas ações podem ser na membrana plasmática, no citoplasma ou em organelas • Podem ajudar na regulação de canais iônicos, na fosforilação oxidativa, ativação de segundos mensageiros (como AMPc) ou acionar cascatas de sinalização AUMENTAM A ATIVIDADE METABÓLICA CELULAR − O metabolismo basal pode aumentar de 60-100% acima do normal, quando é secretada grande quantidade de hormônios − Embora a velocidade da síntese proteica seja aumentada, a velocidade do seu catabolismo também se eleva, simultaneamente − A velocidade de crescimento de pessoas jovens também tem grande aumento − Os processos mentais são estimulados, bem como a atividade da maior parte das demais glândulas endócrinas. AUMENTAM O NÚMERO E A ATIVIDADE DAS MITOCÔNDRIAS − As mitocôndrias aumentam de tamanho ou em número − Isso ajuda a aumentar a formação de ATP necessário para processos celulares como síntese proteica AUMENTAM O TRANSPORT E ATIVO DE ÍONS ATRAVÉS DAS MEMBRANAS CELULARES− A bomba de sódio-potássio aumenta muito sua ação − Isso potencializa o transporte de íons sódio e potássio pelas membranas − Como esse processo usa energia, aumenta-se a liberação de calor, aumentando assim o metabolismo basal EFEITO DO HORMÔNIO T IREOIDIANO NO CRESCIMENTO − É essencial para a transformação de girinos em sapos − Nos humanos se manifesta principalmente em crianças • Nas que apresentam hipotireoidismo, o crescimento torna-se muito retardado • Já nas com hipertireoidismo, frequentemente ocorre crescimento esquelético excessivo, tornando a criança consideravelmente alta em idade precoce • Os ossos também maturam com mais velocidade, e as epífises se fecham precocemente, de modo que a duração do crescimento e a altura final do adulto podem ser reduzidas − Promove crescimento e desenvolvimento do cérebro durante a vida fetal e nos primeiros anos de vida pós-natal Efeitos do Hormônio Tireoidiano nas Funções Corporais Específicas METABOLISMO DE CARBOIDRATOS − Estimula quase todos os processos relacionados ao metabolismo de carboidratos, incluindo: • Captação rápida de glicose • Aumento da glicólise • Aumento da glicogenogênese • Aumento da absorção de glicose pelo TGI • Aumento da secreção de insulina − Geralmente esses efeitos resultam do aumento geral da transcrição de enzimas METABOLISMO DAS GORDURAS − Todos os processos também são estimulados − Os lipídios são rapidamente metabolizados, reduzindo acúmulo de gorduras • A quebra de lipídios aumenta a concentração de ácidos graxos livres no plasma • Acelera também a oxidação de ácidos graxos pelas células EFEITO NAS GORDURAS PLASMÁTICAS E HEPÁTICAS − O aumento do hormônio tireoidiano reduz as concentrações de: • Colesterol, fosfolipídios e triglicerídeos no plasma • Contudo aumenta a de ácidos graxos livres − A redução da secreção de hormônios tireoidianos causa o efeito contrário, causando acúmulo de lipídios no fígado − Os hormônios tireoidianos reduzem a concentração de colesterol por vários mecanismos, como: • Aumento da secreção de colesterol na bile, levando à sua eliminação nas fezes • A maior secreção de colesterol ocorre porque as células hepáticas têm maior número de receptores de lipoproteínas de baixa densidade levando a uma rápida remoção das lipoproteínas do plasma, secretando-as na bile NECESSIDADE AUMENTADA DE VITAMINAS − A necessidade de vitaminas aumenta com a ação dos hormônios tireoidianos, pois eles aumentam a transcrição de muitas enzimas e as vitaminas são cofatores de muitas das enzimas transcritas − Assim, consequentemente, aumentando o número de enzimas, aumenta-se a necessidade de vitaminas AUMENTO DA TAXA DE METABOLISMO BASAL − Pode aumentar o metabolismo basal de 60% a 100% − Quando sua produção cessa, o metabolismo basal quase cai à metade do normal Giovanna de Freitas Ferreira – Medicina UFR 6 REDUÇÃO DO PESO CORPORAL − Uma quantidade muito elevada de hormônio tireoidiano, quase sempre, reduz o peso corporal, e a quantidade muito reduzida, quase sempre, aumenta o peso − Por isso pessoas com hipertireoidismo costumam ter menos massa corporal e aqueles com hipotiroidismo costumam ter mais massa − O hormônio tireoidiano também aumenta o apetite AUMENTO DO FLUXO SANGUÍNEO E DO DÉBITO C ARDÍACO − O aumento do metabolismo necessita de mais O2 para os tecidos − Isso gera vasodilatação nos tecidos, elevando o fluxo sanguíneo − Na pele também há vasodilatação devido a maior necessidade de eliminação de calor − Assim o DC também se eleva, aumentando mais de 60% − O DC cai para 50% do normal no hipotireoidismo grave AUMENTO DA FREQUÊNCIA CARDÍACA − Apresenta efeito direto na excitabilidade do coração, elevando a FC − É um dos sinais usados para determinar excesso ou redução da produção de hormônios tireoidianos AUMENTO DA FORÇA CARDÍACA − O aumento da atividade enzimática já provoca aumento da força de contração − Se a secreção de hormônios for muito acentuada, haverá diminuição da força de contração devido ao excesso de catabolismo de proteínas PRESSÃO ARTERIAL MÉDIA NORMAL − Como há maior fluxo sanguíneo nos tecidos e os batimentos cardíacos e o pulso aumentam, a PAS aumenta e a PAD diminui na mesma intensidade, fazendo com que a média das pressões se mantenha estável AUMENTO DA RESPIRAÇÃO − Um maior metabolismo aumenta a utilização de oxigênio e a formação de dióxido de carbono − Esses efeitos ativam todos os mecanismos que elevam a frequência e a profundidade da respiração AUMENTO DA MOTILIDADE GASTROINTESTINAL − Além do apetite maior e da ingestão alimentar, o hormônio tireoidiano aumenta tanto a produção de secreções digestivas como a motilidade do TGI − O hipertireoidismo, portanto, frequentemente resulta em diarreia, enquanto a falta de hormônio tireoidiano pode causar constipação EFEITOS EXCITATÓRIOS NO SISTEMA NERVOSO CENTRAL − Em geral, o hormônio tireoidiano aumenta a velocidade da atividade cerebral, embora os processos do pensamento possam estar dissociados − Por outro lado, sua falta reduz a velocidade da atividade cerebral − Um indivíduo com hipertireoidismo, frequentemente, apresenta muito nervosismo e tem tendências psiconeuróticas, tais como complexos de ansiedade, preocupação excessiva e paranoia EFEITO NA FUNÇÃO DOS MÚSCULOS − Um leve aumento do hormônio tireoidiano faz com que os músculos reajam com vigor, mas, quando a quantidade de hormônio fica excessiva, os músculos são enfraquecidos, devido ao excesso do catabolismo proteico − Ao contrário, a falta de hormônio tireoidiano torna os músculos vagarosos, relaxando-se lentamente, após uma contração TREMOR MUSCULAR − Um dos sinais mais característicos do hipertireoidismo é o tremor muscular leve − Esse sintoma é diferente do tremor brusco da doença de Parkinson ou dos calafrios porque sua frequência é maior, atingindo 10 a 15 vezes por segundo − O tremor pode ser observado, facilmente, pela colocação de folha de papel sobre os dedos estendidos do paciente e notando-se o grau de vibração do papel − Acredita-se que seja causado pela atividade aumentada das sinapses neuronais nas áreas da medula espinal que controlam o tônus muscular − O tremor é forma importante de se avaliar o grau de efeito do hormônio tireoidiano no sistema nervoso central. EFEITO O SONO − Devido ao efeito exaustivo do hormônio tireoidiano na musculatura e no sistema nervoso central, a pessoa com hipertireoidismo frequentemente se queixa de cansaço constante − entretanto, devido aos efeitos excitatórios dos hormônios tireoidianos nas sinapses, o sono é dificultado − Ao contrário, a sonolência extrema é característica do hipotireoidismo, e o sono chega a durar de 12 a 14 horas por dia, em alguns casos. EFEITO EM OUTRAS GLÂNDULAS ENDÓCRINAS − A elevação do hormônio tireoidiano aumenta a secreção de várias outras glândulas endócrinas • Por exemplo, o aumento do metabolismo da glicose provoca elevação da necessidade de secreção de insulina pelo pâncreas • Aumenta muitas atividades metabólicas relacionadas com a formação óssea e, como consequência, a necessidade de paratormônio • Aumenta a inativação de glicocorticoides adrenais pelo fígado ✓ Esse aumento da velocidade de inativação leva à elevação, por feedback, da produção de hormônio adrenocorticotrópico pela hipófise anterior e ao aumento da secreção de glicocorticoides pelas adrenais Giovanna de Freitas Ferreira – Medicina UFR 7 EFEITO DO HORMÔNIO TIREOIDIANO NA FUNÇÃO SEXUAL − Em homens, a falta desse hormônio, frequentemente, causa a perda da libido; entretanto, um grande excesso pode causar impotência − Em algumas mulheres, a falta de hormônio tireoidiano, frequentemente, causa menorragia (sangramento menstrual excessivo) e polimenorreia (sangramento menstrual frequente) − Contudo, a ausência da tireoide pode causar ciclos menstruaisirregulares e, ocasionalmente, até mesmo amenorreia (ausência de sangramento menstrual). − A ação sobre as gônadas acaba resultando de uma combinação de fatores, sendo assim, não é possível determinar com exatidão a ação dos hormônios tireoidianos sobre elas REGULAÇÃO DA SECREÇÃO DO HORMÔNIO TIREOIDIANO − O hipotálamo e hipófise anterior ajudam a regular a secreção de hormônios O TSH (DA GLÂNDULA HIPÓFISE ANTERIOR) AUMENTA A SECREÇÃO TIREOIDIANA − O TSH – Tireotropina – é liberado pela hipófise anterior − É um hormonio peptídico dimérico com uma subunidade alfa e outra beta − Sua secreção obedece a um ciclo circadiano, tendo seu pico plasmático entre meia noite e 4 da manha e menor atividade por volta do meio dia − É uma glicoproteína que aumenta a secreção de T3 e T4 pela tireoide − Seus efeitos sobre ela são: • Aumento da proteólise da tireoglobulina ✓ Isso resulta no aumento da liberação de T3 e T4 para o sangue • Aumento da atividade da bomba de iodeto ✓ Isso aumenta a captação de iodeto pelas células glandulares • Aumento da iodização da tirosina presente na tireoglobulina • Aumento do tamanho e atividade secretora das células tireoidianas • Aumento do número de células tireoidianas, além de transformação de células cuboides em colunares O MONOFOSFATO CÍCLICO DE ADENOSINA MEDEI A O EFEITO ESTIMULADOR DO TSH − A ação do TSH sobre as células tireoidinanas resulta da ativação do sistema celular de segundos mensageiros do AMPc − O TSH se liga a receptores específicos nas células foliculares da tireoide − Esse receptor é acoplado a uma proteína G estimulatória, a qual é ativada e em seguida ativa a adenilato ciclase na membrana da célula, a qual converte ATP em AMPc − O AMPc ativa proteinaquinase A (PKA), a qual fosforila fatores de transcrição para estimular a produção de proteínas − Nesse caso a proteina produzida será a tireoglobulina − Ela será traduzida nos ribossomos e modificada no RE e no complexo de golgi, o qual exporta a tireoglobulina para o interior dos folículos A SECREÇÃO DE TSH PEL A HIPÓFISE ANTERIOR É REGULADA PELO HORMÔNIO LIBERADOR DE TIREOTROPINA DO HIPOTÁLAMO − A secreção de TSH pela hipófise anterior é controlada pelo hormônio liberador de tireotropina (TRH), secretado por terminações nervosas na eminência mediana do hipotálamo − Afeta diretamente as células da hipófise anterior, pois se liga a receptores presentes nessas células, elevando sua secreção de TSH − Ao se ligar no receptor, ativa o sistema de segundo mensageiro da fosfolipase no seu interior, produzindo grande quantidade de fosfolipase C, o que é seguido por cascata de outros segundos mensageiros, incluindo íons cálcio e diacilglicerol, que, finalmente, provocam a liberação de TSH EFEITOS DO FRIO E OUTROS ESTÍMULOS NEURO GÊNICOS NA SECREÇÃO DE TRH E TSH − A exposição ao frio excita as partes do hipotálamo que controlam a temperatura − A exposição de ratos ao frio prolongado aumentou em mais de 100% a liberação de hormônios tireoidianos − Sabe-se que pessoas que se mudam para regiões árticas desenvolvem metabolismos basais 15% a 20% acima do normal − Agitação e ansiedade reduzem a secreção de TSH EFEITO DE FEEDBACK DO HORMÔNIO TIREOIDIANO PARA REDUZIR A SECREÇÃO DE TSH PELA HIPÓFISE ANTERIOR − A elevação do hormônio tireoidiano nos líquidos corporais reduz a secreção de TSH pela hipófise anterior − Quando a secreção do hormônio tireoidiano eleva-se para 1,75 do normal, a secreção de TSH cai praticamente para zero − É provável que essa inibição ocorra, principalmente, por efeito direto do hormônio tireoidiano na própria hipófise anterior • T3 e T4 inibem a transcrição dos genes de subunidades do TSH e diminuem sua glicolisação, impedindo sua ação − O feedback objetiva manter uma concentração constante de hormônios tireoidianos nos líquidos corporais circulantes Giovanna de Freitas Ferreira – Medicina UFR 8 Avaliação Laboratorial da Função da Tireoide DIAGNÓSTICO CLÍNICO − Há disfunções na glândula em si e efeitos sistêmicos decorrentes da alteração na quantidade dos hormônios − A presença de doenças específicas facilita o diagnóstico − Testes laboratoriais posteriores podem ser apenas confirmatórios ou essenciais − Dependendo da doença, a tireoide pode se apresentar endurecida ou macia à palpação TESTES IN VITRO − Os testes usados para investigar a disfunção da tireoide podem ser agrupados em: • Testes para estabelecer se existe disfunção da tireoide, p. ex. avaliação da concentração de TSH, T3 e T4 no soro • Testes para elucidar a causa da disfunção da tireoide, p. ex. presença de autoanticorpos antitireoidianos e avaliação dos níveis de tireoglobulina no soro, atividade das enzimas tireoidianas, biópsia da tireoide, ultrassom e varredura isotópica da tireoide. • Ensaios para analisar as concentrações de tireoglubulina, a qual é usada para monitorar o tratamento e detectar doença recorrente em pacientes com carcinoma papilar ou folicular. − As medidas do TSH e dos hormônios tireoidianos devem ser realizadas para determinar o estado da tireoide do paciente antes de testes adicionais serem requisitados com o objetivo de determinar a causa da disfunção. AVALIAÇÃO DO TSH − A medição do TSH em uma amostra de soro por um ensaio imunométrico fornece o resultado mais sensível, específico e confiável dos testes funcionais da tireoide tanto em desordens evidentes como nas subclínicas primárias. − No hipotireoidismo primário, o TSH está aumentando, enquanto no hipertireoidismo é geralmente menor que 0.02mU/L. − No entanto, somente a medida do TSH não é confiável para determinar uma disfunção tireoidiana causada por deficiências no eixo hipotálamopituitária − O TSH é agora avaliado por ensaios imunométricos (IMAs) que utilizam anticorpos marcados não competitivos com não isótopos marcados. Estes ensaios usam anticorpos monoclonais altamente específicos que reconhecem as subunidades α e β da molécula de TSH e um anticorpo secundário que reconhece o primeiro, em uma configuração de sanduíche. − A “sensibilidade funcional” do teste de TSH define a concentração mínima do hormônio que pode ser quantificada rotineiramente. MEDIDAS DE T3 E T4 L IVRES CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS − A concentração plasmática dos hormônios tireoidianos livres é extremamente baixa e sua quantificação na presença de grandes quantidades de hormônios ligados é um desafio. − A concentração de hormônios livres resulta do equilíbrio entre os hormônios ligados e livres. BP - T4 → BP + T4 − A proporção de T4 que se liga a proteína ligadora é determinada pela lei de ação das massas pela afinidade da proteína ligadora (Keq) multiplicada pela sua concentração. Isto é conhecido como “capacidade relativa de ligação”. − Portanto, se a afinidade ou concentração das proteínas ligadoras diminui, a proporção de T4 ligado também decrescerá a de hormônios livres aumentará. − Em humanos, a fração livre de T4 é principalmente afetada por modificações da afinidade e concentração do TBG, já alterações na albumina e transtirretina têm pequeno papel modificador. − Para coletar a fração que contém os hormônios livres realiza- se a separação física usando-se uma membrana semipermeável (diálise de equilíbrio ou ultrafiltração) ou, alternativamente, adiciona-se um anticorpo que irá “capturar” os hormônios livres da solução. − A remoção dos hormônios livres do equilíbrio original resultará em dissociação dos hormônios e proteínas ligadoras para que um novo equilíbrio seja alcançado. − Uma característica essencial dos métodos que avaliam hormônios livres, é que haja o mínimo de perturbação no equilíbrio original, o que pode ser feito diluindo-se ao mínimo a amostra. − O pH e a composição iônica dos tampões também devem ser controlados. − Giovanna de Freitas Ferreira – MedicinaUFR 9 DIFICULDADES DA DIÁLISE DE EQUILÍBRIO E ULTRAFILTRAÇÃO − São o método de referência, mas nenhum deles é 100% garantido − O período de diálise é de longo (de 12-18 horas) e pode causar produção de ácidos graxos não esterificando (AGNEs)a partir de triglicerídeos, deslocando o T4 ligado e aumentando a concentração de T4 livre, alterando, assim, os resultados do teste − O aumento da porção livre de T4 também ocorre se a amostra ficar por muito tempo no freezer antes da análise VALIDADE DOS MÉTODOS COMERCIAIS − Aos ensaios de rotina são dados inúmeros nomes, o que dependente da metodologia usada, mas todos geralmente envolvem: • Adição de anticorpos para diluir o soro e “capturar” os hormônios T4 livres • Estimativa dos sítios de ligação para T4 desocupados no anticorpo pela adição de T4 marcado. − Primeiro, o anticorpo utilizado irá desfazer o equilíbrio original, um efeito que é dependente da capacidade de ligação da tireoxina da amostra e da afinidade e concentração do anticorpo. − Segundo, a capacidade de interação do antígeno presente na amostra do paciente pode ser um pouco diferente da usada durante a calibração. − O efeito global é que as amostras que possuem baixa capacidade de ligação (DNT, baixo TBG etc.) tendem a apresentar uma inclinação negativa. − Muitos ensaios comerciais incluem albumina, adicionada com o objetivo de reduzir interações não específicas e anular os efeitos dos AGNEs nas concentrações de T4 livre. − Infelizmente, a albumina se liga ao T4 e, se estiver em concentrações suficientes, causará prejuízo significativo ao equilíbrio. − De novo, amostras de soro com baixa capacidade de ligação serão mais propensas a este efeito do que amostras com capacidades normais ou maiores. − Estas variações nos efeitos explicam por que os testes para T4 livre em amostras de pacientes com DNT produzem resultados com concentrações de T4 baixas, normais ou altas. − Testes que mostram uma redução significativa do T4 livre nestas diluições podem produzir resultados negativos em amostras de soro de pacientes com capacidade de ligação diminuída. T3 E T4 TOTAIS − A concentração plasmática de T4 e T3 totais são medidas por imunoensaios usando diluentes que incorporam agentes químicos que liberam hormônios tireoidianos a partir das proteínas ligadoras destes hormônios. − Na prática clínica, a maioria dos problemas associados a essas medidas acontece em pacientes que apresentam a capacidade das proteínas ligadoras de hormônios modificadas que, por sua vez, pode aumentar ou diminuir a concentração de hormônios totais. − A gravidez ou a administração de estrógeno leva ao aumento da concentração de TBG e, consequentemente, da elevação de T3 e T4 totais. − Muitos fármacos também diminuem a capacidade de ligação dos hormônios as proteínas − Alguns pacientes produzem autoanticorpos contra hormônios tireoidianos e podem causar interferência nos testes que usam reagentes marcados − O uso de técnicas que avaliam a concentração total de hormônios se tornou menos popular devido a introdução de métodos mais confiáveis. Mas esses testes ainda podem ser usados hoje em dia USO DOS TESTES NA PRÁTICA − Pode-se avaliar aleatoriamente as concentrações de TSH como um teste funcional inicial − Ele pode detectar tanto desordens evidentes, como subclínicas − Uma concentração normal de TSH exclui uma desordem primária da tireoide − Se um resultado anormal é obtido, são feitos ouros testes para avaliar os níveis de T4 e T3 e confirmar a desordem e sua gravidade − Assim, medir inicialmente os níveis de TSH e T4 fornecem um método mais satisfatório de avaliação do estado da tireoide, mesmo que haja alguns falsos negativos CAUSAS DE CONCENTRAÇÕES PLASMÁTICAS ANORMAIS DE TBG TBG alto − Genética (TBG hereditário, com exceção do dominante ligado ao X) − Fisiológica (gravidez, período neonatal) − Estrógenos, incluindo contraceptivos orais contendo estrógeno, tamoxifeno − Outros medicamentos, p. ex. fenotiazinas, opiáceos, clofibrato − Hepatite TBG baixo − Genética, Andrógenos − Estados onde se perde proteínas, p. ex. síndrome nefrótica − Malnutrição, Má absorção − Doença severa, Acromegalia, Doença hepática (crônica) − Doença de Cushing, Terapia com corticoides (altas doses) Giovanna de Freitas Ferreira – Medicina UFR 10 INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS DOS TESTES DE FUNÇÃO TIREOIDIANA SITUAÇÕES NAS QUAIS O TSH USUALMENTE FORNECE A ESTIMATIVA CORRETA DO ESTADO DA TIREOIDE HIPERTIREOIDISMO PRIMÁRIO EVIDENTE. − O TSH é quase sempre <0.1mU/L e frequentemente <0.02mU/L, devido ao mecanismo de retroalimentação negativa na pituitária. − As concentrações de T4 e T3 livres e totais estão quase sempre elevados, mas em uma porcentagem bem pequena de pacientes com hipertireoidismo, tanto o T4 livre como o total estão normais, se ambos T3 livre e total estiverem elevados: esta condição é conhecida como hipertireoidismo T3 ou tireotoxicose. HIPOTIREOIDISMO PRIM ÁRIO EVIDENTE. − O TSH está invariavelmente aumentado, frequentemente maior que 20mU/L, já que o mecanismo de retroalimentação negativo na pituitária está minimizado, e as concentrações de T4 livre e total estão baixas. − As medidas de T3 livre e total não são de nenhum valor, pois repetidamente observa-se que suas concentrações estão normais devido ao aumento da deiodinação de T4 para T3. DOENÇA DA TIREOIDE SUBCLÍNICA. − A doença da tireoide apresenta um espectro de características clínicas e bioquímicas de variada severidade. − A única anormalidade bioquímica encontrada é a concentração de TSH. − Antes do diagnóstico de doença da tireoide subclínica ser realizado, as causas dos níveis aumentados de TSH devem ser investigadas e incluem: gravidez, DNTs, medicações e interferência do método. Giovanna de Freitas Ferreira – Medicina UFR 11 INTERVALO DOS VALORES DE REFERÊNCIA E ALTERAÇÕES SIGNIFICATIVAS − Em neonatos, bebês e crianças, valores de intervalo de referência de acordo com a idade são recomendados. − Para a gravidez devem ser determinados de acordo com o trimestre. TSH 0,8 um/L T4 total 15 nmol/L T4 livre 6 pmol/L T3 total 0,6nmol/L T3 livre 1,5 pmol/L AUTOANTICORPOS A ANT ÍGENOS TIREOIDIANOS ANTICORPO CONTRA A T IREOPEROXIDASE (TPOAC) − Originalmente conhecidos como anticorpos microssomais tireoidianos, estes anticorpos são encontrados na quase maioria dos pacientes com hipertireoidismo autoimune secundário e tireoidite de Hashimoto já no início da doença, e em alguns pacientes com outras doenças tireoidianas autoimune. − Estes anticorpos são frequentemente encontrados em indivíduos com hipotireoidismo subclínico bem como em 2- 5% de mulheres que apresentam eutireoidismo bioquímico − A prevalência destes anticorpos é baixa em homens, mas também aumenta com a idade, estando presente em 2,5% da população masculina acima de 75 anos. − A presença de altos títulos de TPOAc concomitante com o bócio do hipotireoidismo é característica da doença de Hashimoto; eles também podem estar em associação ao hipertireoidismo inicial e transiente. − Durante a gravidez, a presença de anticorpos anti-TPO é um fator de risco independente para abortos, hipotireoidismo maternal e o desenvolvimento futuro de tireoidite pós-parto com prejuízo da função da tireoide. − Em pacientes com hipotireoidismo subclínico, a presença de anticorpos anti-TPO é um indicador considerável de recomendação de reposição de T4, já que esses pacientes estão sob o risco de desenvolver hipotireoidismo evidente no futuro (50% desenvolverá hipotireoidismo identificado bioquimicamente nos próximos 20 anos). ANTICORPOS PARA TIREOGLOBULINA (TGAC) − Anticorpos para tireoglobulina também são encontrados em pacientes com tireoidite autoimune, mas em frequências mais baixasque os anticorpos anti-TPO. − A única razão para avaliar estes anticorpos é em pacientes em tratamento para carcinoma papilar ou folicular. ANTICORPOS PARA O RECEPTOR DO HORMÔNIO ESTIMULADOR TIREOIDIANO − O hipertireoidismo da Doença de Graves é mediado pela ação de autoanticorpos da Classe da IgG que se ligam ao receptor do TSH e ativam a via de sinalização de AMPc. − A concentração sérica destes anticorpos pode estar relacionada com hiperfunção da glândula tireoide. − Dois tipos de sistemas metodológicos estão em uso: − Medir a capacidade de autoanticorpos de inibir a ligação do TSH marcado ao seu receptor em extratos proteicos enriquecidos em membrana de tecido da tireoide (Inibição da interação entre TSH e imunoglobulina ou TBII) − Aumento das concentrações de AMPc em extratos proteicos após a estimulação com as IgGs do paciente (anticorpo estimulador tireoidiano ou TsAb). EXAMES DE IMAGEM DA TIREOIDE − A radiografia padrão fornece informação limitada no caso de aumento do tamanho da tireoide e não é rotineiramente utilizado. − O raio-X do tórax pode mostrar uma massa mediastinal superior em pacientes com extensão retroesternal do bócio, e a presença de desvio da traqueia com ou sem estreitamento do lúmen pode também ser notado. − O ultrassom pode demonstrar o tipo de hipertrofia (difusa ou localizada) e a natureza (sólida ou cística, singular ou múltipla) dos nódulos tireoidianos. • No entanto, não é possível excluir definitivamente o câncer usando esta técnica de imagem e a biópsia do nódulo é necessária. − O exame de Doppler colorido tem sido mais utilizado para distinguir entre a tireotoxicose induzida por amiodarona tipo 1 (aumento da captação) e a tipo 2 (diminuição/ausência da captação); − A habilidade da tireoide de concentrar radioisótopos de iodo e outras moléculas tem sido empregada por muitos anos para identificar áreas dentro da glândula que são ou não funcionalmente ativas. → Cintilografia Giovanna de Freitas Ferreira – Medicina UFR 12 Hipotireoidismo CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS COMUNS NÃO COMUNS SINTOMAS Letargia; Pele seca e grossa; Discurso e atividade mental lenta; Inchaço facial (edema); Intolerância ao frio; Palidez; Voz rouca; Constipação; Ganho de peso; Cabelo seco e queda; Fraqueza/rigidez Falta de ar Anorexia Irritabilidade Menorragia Angina Surdez Falta de coordenação SINAIS Edema periorbital/facial Palidez, pele seca; Bócio; Prostração; Frio periférico; Alopecia difusa; Bradicardia; Compressa do nervo mediano; Atraso na fase de relaxamento dos reflexos Psicose Derrames plerual/pericardi al Ascite Ataxia cerebelar Galactorreia Hidrocele (machos) CAUSAS DO HIPOTIREOI DISMO − A avaliação da concentração plasmática de TSH é o principal teste bioquímico para determinar o hipotireoidismo. − À medida que a concentração dos hormônios tireoidianos diminui, a secreção de TSH aumenta e é usada para monitorar o estado da tireoide. − A secreção de T3 é preferencialmente mantida na presença de altas concentrações de TSH que acompanham a diminuição da atividade da tireoide. − A razão T3/T4, no entanto, aumenta e a concentração plasmática de T4 está melhor correlacionada com a atividade da tireoide do que os níveis de T3. − A terapia de reposição do hipotireoidismo primário pode ser monitorada avaliando-se a concentração plasmática do TSH. DESORDEM PATOGÊNESE PRIMÁRIA (devido à desordem da glândula tireoide) Tireoidite; Hashimoto; pós- parto; Mixoedema primário; Fármacos; Deficiência de Iodo; Excesso agudo de iodo Destruição autoimune da glândula; Dano inflamatório prolongado; Fibrose da glândula; Atrofia da glândula; Tratamento posterior ao radioiodo ou cirurgia; Tecido anormal ou ausente; Síntese anormal dos hormônios; Diminuição do iodo glandular SECUNDÁRIA (devido à desordem extratireoidiana) Deficiencia anterior da pituitária; Tumores; Disfunção hipotalâmica Perda da estimulação pelo TSH Diminuição da estimulação da pituitária anterior pelo TRH TRATAMENTO DO HIPOTIREOIDISMO COMA MIXOEDEMA − O hipotireoidismo profundo pode produzir um estado chamado de coma mixoedema. − Esta é uma emergência endócrina relativamente incomum que pode ser desencadeada por fatores como infecção, exposição ao frio, uso de sedativos ou não adesão ao tratamento. − A apresentação clássica é o hipotireoidismo descompensado com sensorial alterado, bradicardia acentuada, hipotermia e colapso circulatório. − Os pacientes devem ser admitidos em uma unidade de terapia intensiva, sempre que possível. − A terapia suporte é com reposição dos hormônios tireoidianos, sendo o T4 administrado por via nasogástrica e o T3 por via parenteral. − Doses de reposição de glicocorticoides devem ser dadas até se excluir a ocorrência coincidente de insuficiência adrenal, as infecções devem ser tratadas agressivamente e a perda de calor prevenida para permitir o reaquecimento. TERAPIA DE REPOSIÇÃO DE HORMÔNIOS TIREOIDIANOS − O tratamento do hipotireoidismo primário ou secundário é por administração oral de levotireoxina. − A dose de reposição usual é 1.6μg/kg por dia, o que equivale a 100-125 μg diariamente. − Aos pacientes é avisado que a levotireoxina deve ser tomada de 30-60 minutos antes do café da manhã, já que tanto a comida quanto a cafeína podem interferir na absorção. − A administração do fármaco ao deitar também é efetiva e pode ser utilizada em pacientes que tomam outras medicações. − O tratamento pode ser iniciado por doses de reposição completas, exceto em indivíduos idosos e em pacientes com problemas cardíacos que necessitam que as doses sejam administradas com mais cautela. − TSH e T4 séricos devem ser checados entre 6 e 8 semanas após o início do tratamento, momento em que qualquer ajuste de dose é necessário para restaurar os níveis de TSH. − Em pacientes com hipopituitarismo, com falência secundária da adrenal ou da tireoide, é importante que a terapia com levotireoxina não seja iniciada antes da reposição com hidrocortisona, já que isto pode precipitar a crise da adrenal por aumentar o metabolismo em pacientes incapazes de secretar cortisol. • Anormalidades estruturais o Glândula ausente o Sítio ectópico • Defeitos enzimáticos (des-hormonogênese) o Transporte de iodo o Incorporação do iodo o Iodotirosinase de-halogenase • Defeitos na secreção de iodoproteína • Mutação no gene MCT8 (transportador de T3) • Anticorpos maternais (transiente) CAUSAS DE HIPOTIREOIDISMO CONGÊNITO Giovanna de Freitas Ferreira – Medicina UFR 13 − O objetivo do tratamento consiste em alcançar o bem-estar clínico e restaurar o eutireoidismo bioquímico, ou seja, o TSH sérico dentro do intervalo de referência de laboratório. − Os pacientes que permanecem sintomáticos, apesar de doses de substituição total, poderão se beneficiar de aumentos de dose adicionais para manter a concentração de TSH na metade inferior do intervalo de referência. − Abaixar o TSH para níveis inferiores ao intervalo de referência não é aconselhável, já que há evidência de que tais indivíduos com hipertireoidismo exógeno têm risco aumentado de fibrilação atrial e osteoporose. − A resposta ao tratamento em pacientes com hipotireoidismo secundário deve basear-se nas avaliações de FT4 uma vez que a secreção de TSH é deficiente em doença da hipófise. − O objetivo terapêutico em tais casos seria o FT4 no terço superior do intervalo de referência. − Apesar de a reposição de hormônio tireoidiano com levotireoxina sintética ser eficaz na maioria dos casos, uma proporção significativa dos pacientes relata que permanecem sintomáticos. • A administração destes pacientes pode ser um desafio e fatores que predispõe a substituição do hormônio tireoidiano inadequada incluem a baixa adesão do paciente, inadequadaposologia e administração, uso concomitante de medicamentos que interferem com a disponibilidade da levotireoxina e a presença de comorbidades que prejudicam a absorção de levotireoxina. − A combinação de T4 e TSH sérico elevado é sugestiva de baixa adesão, e o paciente é mais zeloso nos poucos dias antes do teste da função da tiroide em uma tentativa de compensar a falta de tratamento. − Alguns indivíduos podem permanecer sintomáticos, mesmo após normalização da função da tireoide. − Embora alguns pacientes possam se beneficiar de titulações de dose para níveis normais de TSH, é importante considerar causas alternativas dos sintomas persistentes, tais como diabetes, obesidade, anemia... − O uso de T3 na reposição é muito mais difícil de titular e monitor, não é recomendado por profissionais e não deve ser conduzido fora de centros especializados com programas de acompanhamento a longo prazo. − Delimitações recentes das variações genéticas comuns no gene da deiodinase e em genes de proteínas de transporte dos hormônios tireoidianos sugerem que tais polimorfismos podem explicar a variabilidade na resposta ao tratamento com os hormônios tireoidianos. HIPOTIREOIDISMO SUBCLÍNICO − Este é o termo usado para descrever pacientes com eutireoidismo clínico que apresentam níveis séricos normais de T4, mas concentração elevada de TSH − Podem ser sintomas leves não específicos, como cansaço, ganho de peso e depressão. − A prática comum é o tratamento com tireoixina, se anticorpos forem positivos e/ou a concentração sérica de TSH for maior que 10mU/L com o objetivo de “cortar o mal pela raiz” antes da progressão evidente da falência tireoidiana − A recuperação de uma doença não tireoidiana deve ser excluída antes do diagnóstico de hipotireoidismo subclínico, enfatizando que todos os testes de função da tireoide devem ser repetidos e confirmados antes do início da terapia. − Indicações para o tratamento de pacientes com hipotireoidismo subclínico incluem: • Aumento da concentração do anticorpo anti-TPO • TSH>10mU/L • Bócio • Gravidez • Infertilidade • Sintomas de hipotireoidismo • Diabetes melito • Doença cardíaca • Dislipidemia − O hormônio tireoidiano constitui terapia bem estabelecida e segura para tratamento a longo prazo de hipotireoidismo. − A terapia tem por objetivo repor a falta de hormônio tireoidiano endógeno com administração regular de hormônio tireoidiano exógeno. − Este é produzido por síntese química e é estruturalmente idêntico ao hormônio tireoidiano endógeno (geralmente T4). − Ter um grande reservatório de “profármaco” tireoidiano (T4) no plasma pode ser importante, talvez como tampão efetivo para normalizar taxas metabólicas em ampla variedade de condições. − Em segundo lugar, a meia-vida de T4 é de 6 dias, em comparação com a meia-vida de 1 dia de T3. − A meia-vida prolongada de T4 possibilita ao paciente tomar apenas uma pílula ao dia para reposição de hormônio tireoidiano. − Por essas razões, levotiroxina, L-isômero de T4, constitui o tratamento de escolha para o hipotireoidismo. Giovanna de Freitas Ferreira – Medicina UFR 14 − Uma possível exceção é o coma mixedematoso, em que o início de ação mais rápido de T3 pode possibilitar maior recuperação do hipotireoidismo potencialmente fatal − A eficácia da reposição de hormônio tireoidiano é monitorada por dosagens dos níveis plasmáticos de TSH e hormônio tireoidiano. − TSH é um acurado marcador da atividade do hormônio tireoidiano, visto que a liberação de TSH pela adeno-hipófise é extremamente sensível ao controle de retroalimentação pelo hormônio tireoidiano no sangue. − Uma vez que o paciente esteja tomando uma dose estável de levotiroxina, o monitoramento dos níveis de TSH geralmente poderá ser efetuado a cada 6 meses ou 1 ano. − Súbitas alterações nos níveis de TSH, apesar do uso constante de levotiroxina, podem ser devidas a interações medicamentosas que afetam absorção e metabolismo. − Acidez gástrica adequada também é necessária para a absorção de levotiroxina exógena; portanto, a dose dessa substância precisa ser aumentada quando os pacientes tornam-se infectados por Helicobacter pylori ou começam a ingerir inibidor da bomba de prótons. − Os fármacos que aumentam a atividade de certas enzimas P450 hepáticas, incluindo rifampicina e fenitoína, aumentam a excreção hepática de T4. Nesses casos, pode ser necessário elevar a dose de T4 para manter um estado eutireóideo.
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