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José Eduardo Palacio Soares – Bloco Células e Moléculas – GT5 CÂNCER E REGULAÇÃO DO CICLO CELULAR CONCEITOS • O câncer é um conjunto de doenças genéticas que afetam aspectos fundamentais da função celu lar, dentre os quais a reparação do DNA, o ciclo celular, a apoptose, a diferenciação, a migração celular e o contato célula a célula. • A maior parte das mutações causadoras de câncer ocorre espontaneamente em células somáticas; apenas cerca de 1% dos cânceres tem um componente hereditário. • As mutações em genes relacionados com câncer levam à proliferação celular anormal e a uma perda de controle sobre o modo como as células se disseminam e invadem os tecidos circunjacentes. • O desenvolvimento do câncer é um processo de várias etapas, que requer mutações em genes que controlam vários aspectos da proliferação celular e da metástase. • As células cancerosas apresentam altos níveis de instabilidade genômica, o que as leva a acumular mutações em genes relacionados com câncer. • As mutações em proto-oncogenes e em genes supressores de tumor contribuem para o desenvolvimento de cânceres. • Os vírus oncogênicos introduzem oncogenes nas células que eles infectam e estimulam a proliferação celular. • Agentes ambientais contribuem para o câncer, danificando o DNA. INTRODUÇÃO Nos últimos 30 anos, os cientistas descobriram que o câncer é uma doença genética, caracterizada por uma combinação de formas mutantes de oncogenes e de genes supressores de tumor, o que leva ao crescimento e à disseminação descont rolados de células cancerosas. Enquanto algumas dessas mutações podem ser herdadas, como veremos, a maioria das mutações que levam ao câncer ocorrem em células somáticas que então se dividem e formam os tumores. O CÂNCER É UMA DOENÇA GENÉTICA QUE SURGE NO NÍVEL DE CÉLULAS SOMÁTICAS As alterações genômicas associadas ao câncer vão desde substituições de nucleotídeos únicos até rearranjos, amplificações e deleçóes cromossômicos em grande escala. Entretanto, diferentemente de outras doenças genéticas, o câncer é causado por mutações que ocorrem predominantemente em células somáticas. Apenas cerca de 1 % dos cânceres está associado a mut ações na linhagem germinativa que aumentam a suscetibilidade individual a certos tipos de câncer. Outra diferença importante entre o câncer e outras doenças genéticas é que os cânceres raramente surgem de uma só mutação; eles resultam do acúmulo de várias mutações - cerca de 6 a 12. As mutaçóes que levam ao câncer afetam várias funções celulares, compreendendo a reparação de danos ao DNA, a divisão celular, a morte celular programada, a diferenciação celular, o comportamento migratório e o contato célula a célula. José Eduardo Palacio Soares – Bloco Células e Moléculas – GT5 O QUE É CÂNCER? Clinicamente, o câncer é definido como um grande número (até uma centena) de doenças complexas que se comportam diferentemente, conforme o tipo celular do qual se originam. Os cânceres variam quanto à idade de início, à velocidade de crescimento, à capacidade invasiva, ao prognóstico e à capacidade responsiva a o tratamen to. Entretanto, em n ível molecular, todos os cânceres exibem caracterlsticas comuns que os reúnem em uma familia. Todos os cânceres compartilham duas propriedades fundamentais: ( 1) a PROLIFERAÇÃO CELULAR DESREGULADA: caracterizada por crescimento e divisão celulares anormais, e (2) as METÁSTASES: um processo que permite que as células cancerosas se espalhem e invadam outras partes do corpo. Nas células normais, a proliferação e a invasão são estritamente controladas por genes que se expressam em ocasiões e locais apropriados. Nas células cancerosas, muitos desses genes sofrem mutação ou se expressam inapropriadamente. Essa combinação de proliferação celular descontrolada e de disseminação metastática é o que torna as células cancerosas perigosas. Uma célula que simplesmente perde o controle genético sobre seu crescimento e sua divisão pode dar origem a uma massa multicelular, um TUMOR BENIGNO. Frequentemente, esse tumor pode ser removido cirurgicamente, sem maiores consequências. Entretanto, se as células do tumor também adquirem a capacidade de se desprender, entrar na corrente sanguínea, invadir outros tecidos e formar tumores secundários em outros locais do corpo, elas se tornam MALIGNAS. Obs.: para converter um tumor benigno em um perigoso tumor maligno, são necessárias várias etapas e mutações gênicas. ORIGEM CLONAL DAS CÉLULAS CANCEROSAS Embora os tumores malignos possam ter bilhões de células e possam invadir e crescer em várias partes do corpo, todas as células cancerosas, de tumores primários ou secundários, são clonais. Quer dizer, elas se originaram de uma célula ancestral comum que acumulou numerosas mutações específicas. Numerosos dados sustentam o conceito clonal do câncer. Por exemplo, as translocações cromossômicas reciprocas são características de muitos cânceres, inclusive de leucemias e linfomas (dois cânceres que envolvem leucócitos). Considerando as sequências de DNA, cada paciente com linfoma de Burkitt (por exemplo) apresenta pontos de quebra únicos em c-myc ou nos genes de imunoglobulinas; entretanto, todas as células do linfoma daquele paciente contêm pontos de quebra de translocações idênticos. Isso demonstra que todas as células cancerosas de cada caso de linfoma de Burkitt surgem de uma célula única e que essa célula passa suas anomalias genéticas à sua progênie. José Eduardo Palacio Soares – Bloco Células e Moléculas – GT5 O CÂNCER É UM PROCESSO DE MÚLTIPLAS ETAPAS QUE REQUER MÚLTIPLAS MUTAÇÕES Embora o câncer seja uma doença genética iniciada por mutações que levam à proliferação celular descontrolada e a metástases, uma única mutação é insuficiente para transformar uma célula normal em uma célula maligna formadora de tumor (tumorgênica). O fenômeno da relação do câncer com a idade é uma indicação de que ele se desenvolve por acúmulo de vários eventos mutagênicos em uma única célula. A incidência da maioria dos cânceres sobe exponencialmente com a idade. Se uma só mutação fosse suficiente para converter uma célula normal em maligna, a incidência do câncer pareceria independente da idade. Outra indicação de que o câncer é um processo em várias etapas é a demora que ocorre desde a exposição aos carcinógenos (os agentes causadores do câncer) e o aparecimento do câncer. Outro indicativo da natureza multifásica do desenvolvimento do câncer é a observação de que ele frequentemente se desenvolve em etapas progressivas, começando com células ligeiramente aberrantes e progredindo para células cada vez mais tumorgênicas e malignas. Cada etapa da tumorgênese, o desenvolvimento de um tumor maligno, parece resultar de uma ou mais alterações genéticas que progressivamente liberam as células dos controles que normalmente restringem a proliferação e a malignidade. Os genes que sofrem as mutações que levam ao câncer (chamados oncogenes e genes supressores de tumor) são os que controlam a reparação dos danos ao DNA, o ciclo celular, o contato célula a célula e a morte celular programada. AS CÉLULAS CANCEROSAS CONTÊM DEFEITOS GENÉTICOS QUE AFETAM A ESTABILIDADE GENÔMICA, A REPARAÇÃO DO DNA E AS MODIFICAÇÕES DA CROMATINA As células cancerosas apresentam taxas de mutação, anormalidades cromossômicas e instabilidade genômica mais elevadas do que as normais. Muitos pesquisadores creem que o defeito fundamental nas células de câncer é um desarranjo da capacidade celular normal de reparar os danos ao DNA. Essa perda da integridade genômica leva a um aumento geral na taxa de mutação de cada gene, inclusive de genes específicos para controlar aspectos da proliferação celular, da morte celular programada e do contato célula a célula. O acúmulo de mutações em genes que controlam esses processos, por sua vez, leva ao câncer. O alto nível de instabilidadegenômica observado em células cancerosas é conhecido com FENÓTIPO MUTADOR . Uma pesquisa recente revelou que as células cancerosas contém aberrações quanto aos tipos de cromatina e aos locais de suas modificações, especialmente nos padrões de metilação de DNA. INSTABILIDADE GENÔMICA E REPARAÇÃO DEFICIENTE DO DNA A INSTABILIDADE GENÔMICA DAS CÉLULAS CANCEROSAS se caracteriza pela presença de defeitos grosseiros como translocações, aneuploidias, perdas cromossômicas, amplificação de DNA e deleções cromossômicas. Frequentemente as células cancerosas apresentam defeitos cromossômicos específicos que são usados para diagnosticar o tipo e o estágio do câncer. Em concordância com o conceito do fenótipo mutador no câncer, certos cânceres hereditários são causados por defeitos em genes que controlam a reparação do DNA. Por exemplo, o xeroderma pigmentoso ( XP ) é uma doença hereditária rara caracterizada por extrema sensibilidade à luz ultravioleta e a outros carcinógenos. As células desses pacientes são defeituosas quanto à reparação por excisão de nucleotídeos, e as mutações surgem em qualquer dos sete genes cujos produtos são necessários para executar a reparação do DNA. José Eduardo Palacio Soares – Bloco Células e Moléculas – GT5 A observação de que os defeitos hereditários nos genes que controlam a reparação por excisão de nucleotídeos e a reparação dos erros de pareamento do DNA levam a altas taxas de câncer fornece sustentação à ideia de que o fenótipo mutador é um contribuinte importante para o desenvolvimento do câncer. MODIFICAÇÕES DA CROMATINA E EPIGENÉTICA DO CÂNCER As células cancerosas contêm alterações importantes na METILAÇÃO DO DNA. O total de metilações no DNA é muito menor nas células cancerosas do que nas normais. Ao mesmo tempo, nas células cancerosas os promotores de certos genes ficam hipermetilados. Supostamente essas mudanças resultam em: → liberação geral da repressão da transcrição dos genes que estariam silenciados nas células normais – inclusive dos proto-oncogenes causadores de câncer, mas, ao mesmo tempo, em repressão da transcrição de genes que normalmente regulariam funções como a reparação eficiente do DNA, o controle do ciclo celular e a diferenciação celular. Praticamente todos os tipos de tumores já examinados apresentam hipermetilação nos promotores dos genes cujos produtos controlam o crescimento, a reparação de DNA e a invasão celular. As MODIFICAÇÕES NAS HISTONAS também estão alteradas cm células cancerosas. Nessas células, frequentemente os genes que codificam as acetilases, desacetilases, metiltransferases e desmetilases de histonas estão mutados ou se expressam de modo aberrante. AS CÉLULAS CANCEROSAS CONTÊM DEFEITOS GENÉTICOS QUE AFETAM A REGULAÇÃO DO CICLO CELULAR Uma das anomalias fundamentais em todas as células cancerosas é a perda do controle da proliferação celular. A regulação da proliferação celular normal envolve grande número de produtos gênicos que controlam etapas do ciclo celular, a morte celular programada e a resposta celular aos sinais externos para crescimento. Nas células cancerosas, muitos dos genes que controlam essas funções estão mutados ou se expressam de modo aberrante, o que leva à proliferação celular descontrolada. O CICLO CELULAR E A TRANSDUÇÃO DE SINAL As células cancerosas são incapazes de entrar em G0 e, em vez disso, repetem o ciclo continuamente. Sua taxa de proliferação não é necessariamente maior do que a das células de proliferação normal; entretanto, elas são incapazes de entrar em quiescência no tempo ou lugar adequado. O processo da transmissão dos sinais de crescimento desde o ambiente externo para o núcleo celular é chamado transdução de sinal, o qual inicia um programa de expressão gênica que tira a célula de G0 e a lança de volta ao ciclo celular. As células cancerosas frequentemente têm defeitos nas vias de transdução de sinais. Às vezes, moléculas transmissoras de sinais defeituosas mandam para o núcleo sinais contínuos de crescimento, mesmo na ausência de sinais externos para crescimento. Além disso, as células malignas podem não responder aos sinais externos das células circundantes (sinais que, em um tecido maduro, normalmente inibiriam a proliferação celular). José Eduardo Palacio Soares – Bloco Células e Moléculas – GT5 O CONTROLE E OS PONTOS DE CONTROLE DO CICLO CELULAR Há pelo menos três pontos distintos do ciclo celular em que a célula monitora os sinais externos e o equillbrio interno antes de prosseguir para a etapa seguinte: Além de regular o ciclo celular nos pontos de controle, a célula controla a progressão no ciclo celular por meio de duas classes de proteinas: as ciclinas e as quinases dependent es de ciclina (CDKs). Durante o ciclo celular, a célula sintetiza e destrói as ciclinas em um padrão exato. Havendo uma ciclina presente, ela se liga a uma CDK especifica, desencadeando a atividade do complexo CDK/ ciclina. Então, esse complexo fosforila e ativa seletivamente outras proteínas que, por sua vez, efetuam as mudanças necessárias para que a célula avance no ciclo celular. A mutação ou a expressão atípica de qualquer um dos genes controladores do ciclo celular pode contribuir para o desenvolvimento de câncer. Por exemplo, se os genes que controlam os pontos de controles Gl/S ou G2/M estão mutados, a célula pode continuar crescendo e se dividindo sem que haja reparação do DNA danificado. À medida que essas células continuam se dividindo, elas vão acumulando mutações em genes cujos produtos controlam a proliferação celular ou as metástases. Da mesma forma, se genes que controlam a progressão do ciclo celular, como os que codificam as ciclinas, são expressos no momento errado ou em níveis incorretos, a célula pode crescer e se dividir continuamente e pode ficar incapacitada de sair do ciclo ce lular para G0. Em ambos os casos, o resultado é que a célula perde o controle da proliferação e fica em vias de tornar-se cancerosa. José Eduardo Palacio Soares – Bloco Células e Moléculas – GT5 O CONTROLE DA APOPTOSE Quando a replicação, a reparação do DNA ou a reunião dos cromossomos for aberrante, as células normais detêm seu avanço no ciclo celular até que a condição seja corrigida. Isso reduz o número de mutações e de anormalidades cromossômicas que se acumulam nas células de proliferação normal. Entretanto, se o dano ao DNA ou aos cromossomos é tão grave que a reparação fica impossível, a célula inicia uma segunda linha de defesa - um processo chamado APOPTOSE. Removendo-se as células danificadas, a morte celular programada reduz o número de mutações que são transmitidas à próxima geração, inclusive aquelas nos genes causadores de câncer. Os mesmos genes que controlam os pontos de controle do ciclo celular podem desencadear a apoptose (esses genes estão mutados em muitos cânceres). Em consequência da mutação ou inativação dos genes dos pontos de controle, a célula é incapaz de reparar seu DNA ou de atingir a apoptose. Essa incapacidade leva ao acúmulo de mais mutações nos genes que controlam o crescimento, a divisão e a metástase. MUITOS GENES CAUSADORES DO CÂNCER PERTURBAM O CONTROLE DO CICLO CELULAR Em células cancerosas, há duas categorias gerais de genes causadores de câncer que estão mutadas, ou têm expressão atípica: →1) a dos proto-oncogenes; e →2) a dos genes supressores de tumor . 1) Os PROTO-ONCOGENES codificam fatores de transcrição que estimulam a expressão de outros genes, de moléculas de transdução de sinais que estimulam a divisão celular e de reguladores do ciclo celular que movimentam a célula no ciclo. Os seus produtos são importantes para as funções celulares normais, especialmente crescimento e divisão. Quando as células normais ficam quiescentes e param de se dividir, elas reprimem a expressão e a atividade da maioria dos produtosdos proto- oncogenes. Nas células cancerosas, um ou mais proto-oncogenes estão tão alterados que a sua atividade não pode ser controlada do modo normal. Nesses casos, o proto-oncogene fica continuamen te em estado de "ligado'; que pode estimular constantemente a célula a se dividir. Quando um proto-oncogene está mutado, ou se expressa de modo aberrante, e contribui para o desenvolvime nto de câncer, ele se torna conhecido como oncogene - um gene causador de câncer. Os oncogenes são proto-oncogenes que sofreram uma alteração de ganho de função. Em consequência, basta que um alelo do proto-oncogene mute, ou se expresse atípicamente para desencadear um crescimento descont rolado. Portanto, oncogenes produzem um fenótipo dominante de câncer. José Eduardo Palacio Soares – Bloco Células e Moléculas – GT5 2) GENES SUPRESSOR ES DE TUMOR são aqueles cujos produtos normalmente regulam os pontos de controle do ciclo celular e dão inicio ao processo de apoptose. Nas células normais, as proteÍnas codificadas por esses genes interrompem a progressão do ciclo celular em resposta a um dano no DNA ou a sinais de supressão de crescimento vindos do ambiente extracelular. Quando esses genes supressores de tumor mutam, ou são inativados, as células são incapazes de responder normalmente nos pontos de controle do ciclo celular ou de derivar para a morte celular programada se a lesão do DNA for extensa. Isso leva a um subsequente aumento de mutações e à incapacidade de a célula abandonar o ciclo celular quando deveria tornar-se quiescente. Quando ambos os alelos de um gene supressor de tumor estão inativados e outras modificações na célula a mantêm em crescimento e divisão, ela pode tornar-se tumorgênica. EXEMPLOS DE PROTO-ONCOGENES E DE GENES SUPRESSORES DE TUMOR: OS PROTO-ONCOGENES RAS A familia gênica ras codifica moléculas de transdução de sinais que estão associadas à membrana celular e regulam o crescimento e a divisão celulares. As proteínas Ras normalmente transmitem sinais da membrana celular para o núcleo, estimulando a célula a se dividir em resposta a fatores externos de crescimento. Essas proteínas Ras se alternam entre o estado inativo (desligado) e o ativo (ligado), ligando-se a difosfato de guanosina (GDP) ou a trifosfato de guanosina (GTP), respectivamente. Depois que Ras mandou seus sinais para o nücleo, ela hidrolisa o GTP em GDP e se torna inativa. As mutações que convertem o proto-oncogene ras em oncogene impedem a proteína Ras de hidrolisar GTP em GDP e assim congelam-na em sua conformação "ligada': estimulando a célula a se dividir constantemente. OS PROTO-ONCOGENES CYCLIN D1 e CYCLIN E Complexos CDK/ciclina são reguladores importantes de cada fase do ciclo celular. O gene que codifica a ciclina D1 , por exemplo, está amplificado em certos cânceres, dentre eles, o de mama, o de bexiga, o de pulmão e o de esôfago. Nessas células cancerosas, a amplificação do DNA cria múltiplas cópias do gene cyclin D1, elevando a proteína ciclina D1 a níveis supranormais. Níveis de ciclina D1 elevados podem contribuir para uma entrada descontrolada na fase S. É possível que a superexpressão desses reguladores- chave do ciclo celular, ou a supressão de sua degradação periódica, mantenha as células sempre prontas para uma ciclicidade celular contínua, impedindo-as de sair do ciclo celular, de entrar na fase quiescente G0 ou de sofrer diferenciação. O GENE SUPRESSOR DE TUMOR P53 A proteína p53 inicia duas respostas diferentes ao dano no DNA: ou a parada do ciclo celular, seguida pela reparação do DNA, ou a apoptose e a morte celular, se o DNA não puder ser reparado. Ambas as respostas são realizada pela p53 agindo como fator de transcrição que estimula ou reprime a expressão dos genes envolvidos em cada resposta. A p53 pode deter o ciclo celular em células normais. Para retê-lo no ponto de controle G1/S, a proteÍna p53 ativada estimula a transcrição do gene que codifica a proteína p21. A proteina p21 inibe o complexo CDK4/ciclina D1, evitando assim que a célula passe da fase G1 para a fase S. José Eduardo Palacio Soares – Bloco Células e Moléculas – GT5 A proteína p53 ativada também regula a expressão dos genes que retardam o progresso da replicação do DNA, o que proporciona tempo para que o dano ao DNA seja reparado durante a fase S. Regulando a expressão de outros genes, a p53 ativada pode bloquear as células no ponto de controle G2/ M, se o dano ao DNA ocorrer durante a fase S. A p53 ativada também é capaz de instruir uma célula lesada a cometer suicídio por apoptose. Isso é feito por transcrição do gene Bax e por repressão da transcrição do gene Bc12. Nas células cancerosas, que não têm a p53 funcional, os níveis de proteína BAX não aumentam em resposta ao dano celular, e a apoptose pode não ocorrer. Portanto, células que não possuem p53 funcional são incapazes de deter o ciclo celular nos pontos de controle, ou de entrar em apoptose, em resposta a danos no DNA. Consequentemente, elas prosseguem sem controle através do ciclo celular, independentemente das condições de seu DNA. As células que não têm p53 possuem taxas de mutação elevadas e acumulam tipos de mutações que levam ao câncer. O GENE SUPRESSOR DE TUMOR RB1 A proteína do retinoblastoma (pRB) é uma proteína supressora de tumor que controla o ponto de controle G1 /S do ciclo celular. Ela é encontrada no núcleo de todos os tipos celulares em todas as etapas do ciclo celular. Entretanto, sua atividade varia ao longo do ciclo em função de seu estado de fosforilação. Quando as células estão na fase G0, a proteína pRB não está fosforilada e se liga a fatores de transcrição, inibindo-os. Quando a célula é estimulada por fatores de crescimento, entra em G1 e chega à fase S. Durante a fase G 1, a proteína pRB é fosforilada, liberando proteínas reguladoras ligadas a ela. Depois que as células transpõem as fases S, G2 e M, a pRB reverte ao estado não fosforilado, liga -se a protelnas reguladoras, tais como a E2F, e mantém as células retidas até que seja necessário novo ciclo celular. Em células quiescentes normais, a presença da proteína pRB impede a passagem para a fase S. Em muitas células cancerosas, inclusive nas de retinoblastoma, ambas as cópias do gene RBl estão defeituosas, inativas ou ausentes, e a progressão ao longo do ciclo celular não é regulada. AS CÉLULAS CANCEROSAS FORMAM METÁSTASES, INVADINDO OUTROS TECIDOS O descontrole de crescimento, por si, é insuficiente para criar um câncer maligno e com risco de vida. As células cancerosas também precisam adquirir as características das metástases, as quais incluem a capacidade de se separar do sitio do tumor original, entrar no sistema sanguíneo ou linfático, invadir os tecidos circundantes e desenvolver tumores secundários. Uma expressão inapropriada da adesão celular, ou das enzimas proteollticas, pode ajudar as células dos tumores malignos a formar metástases, porque relaxa as restriçôes normalmente impostas à localização das células, criando brechas que possibilitam o ingresso e a salda de células tumorais no sistema circulatório. Assim como os genes supressores de tumores dos cânceres primários, os genes supressores de metéstases controlam o crescimento dos tumores secundários. José Eduardo Palacio Soares – Bloco Células e Moléculas – GT5 A PREDISPOSIÇÃO DE ALGUNS TIPOS DE CÂNCER PODE SER HEREDITÁRIA Embora a grande maioria dos cânceres humanos seja esporádica, uma pequena fração (1 a 2%) tem um componente hereditário ou familiar. A maioria dos genes de suscetibilidade hereditária ao câncer, apesar de ser transmitida de modo mendeliano dominante, não é autossuficiente para desencadear o desenvolvimento de um câncer. Para conduzir a célula à tumorgênese, é preciso, no mínimo, que ocorra mais uma mutação somática, na outra cópia do gene. Além disso, para haver uma expressão completa do fenótipode câncer, geralmente ainda são neassárias mutaçôes em outros genes. Mutações hereditárias no gene RB1 predispõem os indivíduos a desenvolver vários cânceres. Embora as células somáticas normais desses pacientes sejam heterozigóticas quanto à mutação em RB1 , suas células tumorais contêm mutações em ambos os exemplares do gene. O fenômeno por meio do qual o segundo alelo do tipo selvagem é mutado é conhecido como perda de heterozigosidade. Apesar de a perda de heterozigosidade ser um primeiro passo, essencial para a expressão desses cânceres hereditários, mais mutações, em outros proto- oncogenes ou em genes supressores de tumor, são necessárias para que as células tumorais se tornem completamente malígnas . OS VÍRUS CONTRIBUEM PARA O CÂNCER EM HUMANOS Os vírus de RNA e de DNA contribuem para o desenvolvimento dos cânceres humanos de diversas maneiras. Supõe- se que, mundialmente, cerca de 15% dos cânceres estejam associados a vírus, tornando as infecções virais o segundo maior fator de risco para o câncer, depois do tabagismo. Os contribuintes mais significativos para os cânceres induzidos por vírus são: Assim como os outros fatores de risco, inclusive a predisposição hereditária para certos cânceres, a infecção viral sozinha não é suficiente para desencadear cânceres humanos. Para precipitar uma célula pela escada de múltiplos degraus, que leva ao câncer, são necessários outros fatores, inclusive danos ao DNA ou acúmulo de mutações em um ou mais oncogenes ou genes supressores de tumor da célula. Como os vírus se resumem apenas em um genoma de ácido nucleico, rodeado por uma capa proteica, eles precisam utilizar a maquinaria biossintética da célula hospedeira para se reproduzirem. Para acessar as enzimas sintetizadoras de DNA do hospedeiro, a maioria dos vírus exige que a célula hospedeira esteja em estado de crescimento ativo. Por isso, muitos vírus contêm genes que codificam produtos que estimulam o ciclo celular. Para a célula hospedeira, se ela sobrevive, isso pode significar a perda do controle do ciclo celular e o começo da tumorgênese. José Eduardo Palacio Soares – Bloco Células e Moléculas – GT5 OS AGENTES AMBIENTAIS CONTRIBUEM PARA OS CÂNCERES HUMANOS Qualquer substância ou evento que danifica o DNA tem potencial carcinogênico. O DNA não reparado, ou mal reparado, introduz mutações que, se ocorrerem em proto-oncogenes ou em genes supressores de tumor, podem levar à regulação anormal do ciclo celular ou à interrupção dos controles do contato e da invasão celular. Nosso ambiente, tanto o natural quanto o modificado pelo homem, contém carcinógenos em abundância. Esses compreendem os produtos qulrnicos, as radiações, alguns vírus e as infecções crônicas. Talvez o carcinógeno mais significativo em nosso ambiente seja a fumaça do tabaco, a qual contém diversos produtos químicos causadores de câncer. A dieta está frequentemente implicada no desenvolvimento do câncer. O consumo de carnes vermelhas e de gordura animal está associado a alguns cânceres como os de cólon, próstata e mama. Portanto: Os agentes ambientais , tais como produtos químicos, radiações, vírus e infecções crônicas, contribuem para o desenvolvimento do câncer. Os fatores ambientais mais significativo que afetam os cânceres humanos são a fumaça do tabaco, a dieta e as radiações naturais. ***RESUMO BASEADO NO LIVRO DO KLUG, CONCEITOS DE GENÉTICA, 9ª EDIÇÃO***
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