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SAÚDE MENTAL EM MFC JOANNA D’ARC BATISTA PEDROLONGO – FONTE: TRATADO MFC (2019) SAÚDE MENTAL: interação de fatores BIOLÓGICOS + PSICOLÓGICOS + FAMILIARES + SOCIAIS. “VIDA MENTAL” não é biológica, mas está inserida em um corpo biológico e influencia/sofre influências de eventos corporais. ABORDAGEM EMOCIONAL: descrição dos SENTIMENTOS associados aos fatos. • Percepção das EMOÇÕES envolvidas. • Reconhecimento da emoção como oportunidade de compreender a pessoa e estabelecer CONFIANÇA. • Escuta EMPÁTICA, legitimando os sentimentos. • AJUDAR a pessoa a encontrar as palavras e identificar suas emoções. • Explorar ESTRATÉGIAS resolutivas para o problema. Estabeleça em que MOMENTO EMOCIONAL a pessoa se encontra: ela PERCEBE O PROBLEMA? Tem alguma ideia sobre ele? • Se a pessoa NÃO SABE DEFINIR o problema e o que espera para resolvê-lo, é necessário EXPLORÁ-LO em outras consultas. • Se NEGA O PROBLEMA ou pensa que ele não existe, ORIENTE sobre o mesmo e suas consequências negativas. • Se ela RECONHECE o problema e suas consequências, compreenda a dimensão do problema, QUESTIONE as expectativas e as ansiedades referentes à abordagem. Aprofunde o MOTIVO DA BUSCA DO ATENDIMENTO – em geral, fator desencadeante ligado a uma SITUAÇÃO DE CONFLITO OU PERDA (real ou imaginária). Às vezes, a ausência de fatores desencadeantes para algumas situações de ansiedade ou depressão ocorre não devido inexistência dos mesmos, mas por PROCURA OU COMPREENSÃO INADEQUADA. Investigue COMO A PESSOA ERA/ESTAVA ANTES DA CRISE: • Grau de ajuste prévio. • Defesas e recursos mentais que empregava para manter seu equilíbrio. • Relacionamento com as pessoas (houve alguma ruptura?). EXAME DO ESTADO MENTAL Áreas analisadas: ASMOCPLIAC (Atenção, Sensopercepção, Memória, Orientação, Consciência, Pensamento, Linguagem, Inteligência, Afetividade, Conduta). ATENÇÃO Alterada em quase todos os transtornos mentais. Ex. de alterações: • APROSEXIA: ausência total de atenção. • DISTRAÇÃO: dificuldade de fixar atenção. • HIPOPROSEXIA: enfraquecimento acentuado da atenção (ex.: depressão). • HIPERPROSEXIA: aumento quantitativo da atenção (ex.: paranoia). SENSOPERCEPÇÃO Sensação e percepção. SENSAÇÃO: efeitos dos ESTÍMULOS sobre os órgãos dos sentidos. Estímulos são EXTERNOS (ex.: luz e som) ou INTERNOS (ex.: sensibilidade visceral, dor em órgão). ALTERAÇÕES: • HIPERESTESIA: aumento. • HIPOESTESIA: diminuição. • ANESTESIA: supressão. • ANALGESIA: redução específica quanto à dor. PERCEPÇÃO: conhecimento consciente de OBJETOS do meio exterior. Alterações se manifestam por ILUSÕES e ABERRAÇÕES PERCEPTIVAS SENSORIAIS (ex.: cores mais vibrantes). REPRESENTAÇÕES São ALUCINAÇÕES OU PSEUDOALUCINAÇÕES - percepção de ESTÍMULO SENSORIAL QUE NÃO FOI PRODUZIDO NO MEIO EXTERNO. Podem ser visuais, auditivas, táteis, olfativas, gustativas, cinestésicas (movimento e equilíbrio) e cenestésicas (sensações anormais em determinas partes do corpo, como formigas embaixo da pele). Indicam perturbação GRAVE das funções mentais. MEMÓRIA Alterações QUANTITATIVAS ou QUALITATIVAS. Quantitativas: HIPERMINÉSIA (acentuação), HIPOMNESIA e AMNESIA (graus diferentes de perda). AMNESIA pode ser: • ANTERÓGRADA: fatos RECENTES – dificuldade de fixação, geralmente após patologia. • RETÓGRADA: fatos PASSADOS, anteriores ao surgimento de um transtorno (ex.: AVE) ou trauma. Perda pode ser desde períodos pequenos e limitados à fatos de uma vida inteira. Amnésias também podem ser TRANSITÓRIAS ou LACUNARES. ORIENTAÇÃO Em relação ao TEMPO e ESPAÇO, SI PRÓPRIO, aos DEMAIS e ao AMBIENTE. DESORIENTAÇÃO pode ser: • AUTOPSÍQUICA: em relação a si próprio (desdobramento de personalidade, despersonalização, estranheza). • ALIPSÍQUICA: em relação aos demais e ao ambiente. CONSCIÊNCIA COORDENAÇÃO E SÍNTESE DA ATIVIDADE PSÍQUICA. Apresenta aspecto SUBJETIVO e OBJETIVO. ESTADOS: • LÚCIDA: normal. • OBNUBILADA: lentidão da compreensão, senso- percepção dificultada). • COMATOSA. • CONFUSÃO com agitação psicomotora ou delírios oniroides (ex.: delírios febris). • ALTERAÇÃO DA CONSCIÊNCIA DO EU: êxtase, transe ou possessão. Alterações geralmente acompanhadas de manifestações neurológicas. PENSAMENTO (JUÍZO/RACIOCÍNIO) O pensamento pode ser ELEMENTAR (ideias vagas, casuais e irregulares, sem lógica – ex.: devaneios) ou SUPERIOR (ato reflexivo, sucessão lógica de ideias). ALTERAÇÕES: • INIBIÇÃO: associada à lentidão de todos os processos psíquicos, sentimento subjetivo de incapacidade, dificuldades na compreensão e lentidão na articulação das respostas. • FUGA DE IDEIAS: perturbação da expressão do pensamento, sem que se consiga chegar a uma conclusão do raciocínio. • PENSAMENTO VAGO: difícil conceituação - pensamento ambíguo, equívoco, obscuro. • INTERCEPTAÇÃO DO PENSAMENTO: compulsão/pressa de pensar - “pensamentos que se atropelam dentro da cabeça”. • CONCRETISMO DO PENSAMENTO: incapaz de produzir conteúdo simbólico, incapaz de subjetivação. • PENSAMENTO DERREÍSTA OU MÁGICO: o oposto do realista. • PENSAMENTO OBSESSIVO: insistente e repetitivo, percebido pela pessoa como um incômodo ou mesmo como irreal. • PERSEVERAÇÃO: repetição automática e frequente de representações verbais e motoras. • PENSAMENTO PROLIXO: excesso de conteúdos para uma ideia simples, que poderia ser expressa com bem menos termos sem prejuízo do significado. • PENSAMENTO OLIGOFRÊNICO: pensamento típico de quem apresenta dificuldades cognitivas (ex.: retardo mental (ver “Concretismo do pensamento”). • PENSAMENTO DEMENCIAL: desorganizado em maior ou menor grau, incoerente, concreto, pouco ou nada realista. • INCOERÊNCIA DO PENSAMENTO: o juízo estabelece relação lógica entre dois conceitos e quando alterado incapacita discernimento do real e não real (delírios, que podem ser de perseguição, grandeza etc). O delírio parte de uma premissa falsa, que origina um juízo falso e que não pode ser corrigido por meios racionais. LINGUAGEM EXPRESSÃO DO PENSAMENTO (perturbações do pensamento se expressam na linguagem). Alterações podem ser de natureza orgânica ou funcional. ALTERAÇÕES ORGÂNICAS: • DISARTRIA: dificuldade de articulação por questões musculares. • DISLALIA: orgânica ou funcional. • AFASIA: incapacidade de expressar pensamento por fala ou escrita. ALTERAÇÕES FUNCIONAIS: • LOGORREIA OU TAQUILALIA: incontinência verbal. Comum na agitação psicomotora e quadros maníacos. • BRADILALIA: diminuição da expressão. Lentidão de processos psíquicos. • MUTISMO: ausência de linguagem oral (orgânico ou funcional). INTELIGÊNCIA Mensurada por testes psicológicos específicos. Na clínica, avaliada por AQUISIÇÕES COGNITIVAS E INTELECTUAIS (nível de ESCOLARIDADE, dificuldade/facilidade para alcançar esse nível, HABILIDADES LABORAIS simples ou complexas etc). AFETIVIDADE Capacidade de EXPRESSAR SENTIMENTOS e emoções, estado de ânimo, humor e as paixões. ALTERAÇÕES: HIPERTIMIA, HIPOTIMIA, APATIA, INDIFERENÇA afetiva, sentimento de INSUFICIÊNCIA (ex.: depressão), IRRITABILIDADE patológica, INSTABILIDADE afetiva, INCONTINÊNCIA emocional, AMBIVALÊNCIA. Sentimentos podem ser adequados ou inadequados para determinada situação. ANGÚSTIA OU ANSIEDADE: temor sem objeto (deve ser diferenciado de temor a algum objeto). ATIVIDADE VOLUNTÁRIA (CONDUTA) Depende de uma série de processos psíquicos conscientes que determinarão a direção e intensidade da ação. ALTERAÇÕES: • EXCITAÇÃO motora. • HIPOBULIA: diminuição. • ABULIA: ausência, estupor de origem melancólica, catatônica, histérica etc. • NEGATIVISM0: resistência manifesta e imotivada às solicitações de movimento ou tentativas de mobilização vindas do exterior. RESUMO Ao ABORDAR o paciente: • Perceba a COMUNICAÇÃO VERBAL e NÃOVERBAL. • Perceba suas PRÓPRIAS REAÇÕES emocionais. • Aprofunde o MOTIVO DO ATENDIMENTO. • Verifique existência de CONFLITOS/PERDAS. • Questione/relacione PROBLEMAS ORGÂNICOS. • Avalie SITUAÇÃO ANTES DO CONFLITO. • Descreva os achados do EXAME DO ESTADO MENTAL. Feito isso, ORGANIZE OS DADOS COLETADOS e monte uma LISTA DE PROBLEMAS – a lista de problemas é melhor que hipótese diagnóstica, pois não impõe uma resposta pronta. CONSTRUINDO A HIPÓTESE DIAGNÓSTICA Se após uma BOA HISTÓRIA E COLETA DE DADOS ABRANGENTE E COMPREENSIVA, com a criação de uma LISTA DE PROBLEMAS COERENTE com os dados coletados, ainda não foi possível chegar a uma hipótese diagnóstica, faça um ESTUDO INICIAL: busque ajuda em LIVROS, troque ideias com COLEGAS – não ceda à tentação fácil do referenciamento. Instrumentos úteis: Classificação Internacional De Atenção Primária (CIAP-2) para CLASSIFICAÇÃO INICIAL e Classificação Internacional De Doenças (CID-10) para DETALHAMENTO. Inicialmente, faça um DIAGNÓSTICO SINDRÔMICO (síndrome ansiosa, síndrome depressiva, síndrome psicótica etc), e aos poucos AMPLIE SUA COMPREENSÃO a respeito da pessoa em sofrimento. Essa compreensão é chamada PSICODINÂMICA – formas habituais ou principais do FUNCIONAMENTO DA PESSOA em várias áreas de sua vida, que inclui: • Grau de EVOLUÇÃO COGNITIVA E MENTAL alcançado. • Forma habitual de RELACIONAR-SE consigo e os demais. • DESEJOS E EXPECTATIVAS (fantasiosas ou realistas). • CONFLITOS gerados entre esses desejos e expectativas e a realidade. • DEFESAS que utiliza para lidar com as dificuldades e frustrações. • INVESTIMENTOS AFETIVOS que são capazes de fazer para alcançar determinados objetivos etc. Defina EXPECTATIVAS para a terapia e crie MOTIVAÇÃO. Decida se a terapia será individual, de grupo ou familiar, cognitivo comportamental ou de orientação psicanalítica. • Problemas surgem na época de transições familiares – considere papel da família. • Problemas envolvendo questões pessoais que o indivíduo tentou mudar, e o ambiente social parece estável – terapia individual pode ser útil. PLANO INICIAL DE ABORDAGEM Atitudes necessárias: • Construir LISTA DE PROBLEMAS. • Conhecer a HISTÓRIA DOS PROBLEMAS e o tratamento prévio e corrente. • CONCEITUALIZAR o caso, classificar as queixas e diagnosticar. • Estabelecer OBJETIVOS (curto e longo prazo). • Selecionar MODALIDADE DE TRATAMENTO, objetivos e intervenções. • Estimar TEMPO E FREQUÊNCIA DE TRATAMENTO. • Considerar necessidades de REFERENCIAMENTO e RECURSOS EXTERNOS disponíveis. PLANO DE ATUAÇÃO PLANO DIAGNÓSTICO: obter informações sobre a época e contexto pessoal e profissional da pessoa no INÍCIO DE SUA DEPRESSÃO. PLANO TERAPÊUTICO: psicoterapia breve voltada a COMPRESSÃO DOS FAVORES DESENCADEANTEs, sua relação com o desenvolvimento da depressão e com os sintomas atuais, prescrição de medicações. PLANO EDUCACIONAL: FORNECER À PESSOA E FAMILIARES COMPREENSÃO de que a depressão é uma doença potencialmente tratável e para a qual se espera evolução favorável com o tratamento. COMO SE DIRIGIR À PESSOA Por várias razões a pessoa pode se mostrar RELUTANTE a falar de seus problemas emocionais. Fique atento a respostas vagas e evasivas. • Faça mais PERGUNTAS ABERTAS que fechadas. • COMPREENDA e reconheça as respostas. • Seja SENSÍVEL às emoções. • Preste atenção à LINGUAGEM CORPORAL e ao TOM DE VOZ. • Permita LIVRE EXPRESSÃO DAS EMOÇÕES. • Garanta CONFIDENCIALIDADE das informações. • Evite PRECONCEITOS. • Se não souber o que dizer, aguarde em SILENCIO e escute ativamente. • PERGUNTE MAIS do que dê respostas ou explicações – pelo menos no inicio. • ESMIÚCE informações que pareçam relevantes. • Se quiser dizer algo e não tiver certeza, faça na forma de PERGUNTA. • Fale como quem OFERECE ALGO, e não como quem impõe. MÚLTIPLOS TRANSTORNOS Se múltiplos transtornos presentes: • Se um deles for ALCOOLISMO, este deve ser tratado primeiro. • Em nível de prioridade: DEPRESSÃO ➔ ANSIEDADE ➔ TRANSTORNOS SOMÁTICOS INEXPLICADOS. (Ex.: de depressão e ansiedade presente, priorize a depressão). OPÇÕES DE CONDUÇÃO O médico pode: • Manejar SOZINHO. • Atendimento continuado COM AUXÍLIO E APOIO DE PROFISSIONAL DE SAÚDE MENTAL. • Referenciar para PSIQUIATRIA PARA CONSULTA. • Referenciar para PSIQUIATRIA PARA SEGUIMENTO ambulatorial/hospitalar. Lembre-se: a pessoa que busca atendimento não está procurando um psiquiatra, está procurando alguém que alivie seus sofrimentos. Pode-se dizer que, sem saber, está procurando o terapeuta que deveria existir dentro do médico de família e comunidade.
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