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CASO 01 – Senhora A Senhora A é uma mulher uma técnica de laboratório de 35 anos, foi encaminhada para o departamento de psiquiatria ambulatorial de um centro médico acadêmico pelo programa de assistência ao funcionário (PAF) de seu empregador, uma empresa farmacêutica de grande porte. Seu supervisor havia encaminhado a Senhora A ao PAF após uma crise de choro por receber uma crítica leve durante uma análise anual de desempenho que havia sido, de modo geral, positiva. Um pouco constrangida, disse ao psiquiatra que estava “se sentindo triste há anos” e que ouvir uma crítica a seu trabalho havia sido “demais”. Originária do oeste do Canadá, Senhora A havia se mudado para os Estados Unidos para fazer uma pós-graduação em química. Deixou a universidade antes de completar seu doutorado e começou a trabalhar como técnica de laboratório. Sentia-se frustrada com o trabalho, que ela encarava como um “beco sem saída”, mas temia não dispor de talento para encontrar um trabalho mais gratificante. Em consequência, lidava com sentimentos de culpa de que “não havia feito muito” de sua vida. Apesar de seus problemas no trabalho, a Senhora A achava que conseguia se concentrar sem dificuldade. Negou pensamentos suicidas, mas às vezes se perguntava: “Qual é o sentido de viver?”. Ao ser indagada, relatou que eventualmente tinha dificuldades para dormir. Contudo, negou mudanças em seu peso ou no apetite. Embora ocasionalmente saísse com colegas de trabalho, afirmou que se sentia tímida e pouco à vontade em situações sociais a menos que conhecesse bem as pessoas. Gostava de correr e de ficar ao ar livre. Embora seus relacionamentos românticos normalmente não “durassem muito”, achava que sua libido era normal. Havia percebido que os sintomas aumentavam e diminuíam de intensidade, mas permaneciam constantes ao longo dos últimos três anos. Não apresentava sintomas que sugerissem mania ou hipomania. A Senhora A era filha única. Cresceu com um relacionamento apegado ao pai, um farmacêutico dono de uma farmácia. Descreveu-o como “um cara normal que gostava de caçar e pescar” e que gostava de levá-la em caminhadas. Sua mãe, uma enfermeira, parou de trabalhar logo depois de dar à luz e parecia emocionalmente distante e deprimida. A Senhora A ficou deprimida pela primeira vez no ensino médio, quando o pai sofreu várias hospitalizações após desenvolver leucemia. Na época, foi tratada com psicoterapia, com boa resposta. Não tinha outra história psiquiátrica ou médica e seus medicamentos eram um composto multivitamínico e contraceptivos orais. Diante das opções de tratamento, manifestou preferência por uma combinação de medicamentos e psicoterapia. Começou a tomar citalopram e iniciou psicoterapia de apoio. Depois de vários meses de tratamento, revelou que havia sido abusada sexualmente por um amigo da família na infância. Revelou-se também que ela tinha poucas amigas mulheres e um padrão persistente de relacionamentos disfuncionais e ocasionalmente abusivos com homens. Caso 02 Senhora B Senhora B era uma assistente administrativa solteira de 27 anos que se apresentou para avaliação psiquiátrica e tratamento para depressão. Ela havia recentemente iniciado um programa ambulatorial intensivo depois de sua primeira hospitalização na vida, o que ocorreu devido a uma overdose impulsiva após o rompimento de um relacionamento de dois anos. Ela afirmou que já vinha se sentindo cada vez mais triste e desesperançada há um ou dois meses por antecipação ao rompimento. Aproximadamente um mês antes da internação, começou a consultar com um novo psicoterapeuta, o qual lhe disse que ela apresentava “traços borderline” e “oscilações situacionais do humor”. Durante esse período de quatro a oito semanas, o humor da Senhora B s havia sido moderadamente deprimido ao longo do dia, durante a maioria dos dias, sem variação diurna e com a reatividade do humor intacta. Havia recentemente ganhado cerca de 4,5 quilos por “comer muita porcaria para me sentir melhor”. Negou irritabilidade proeminente ou agressividade verbal. Descreveu sua autoestima como “inexistente” e achava difícil se motivar ou se concentrar para fazer as tarefas rotineiras. Em contraposição, às vezes tinha “repentes” de ficar pensando sem parar no ex-namorado e imaginava formas de “ganhá-lo de volta”, alternados com momentos de “sofrer por tê-lo perdido”. Descreveu momentos em que era inundada por estratégias de como recapturar seu interesse (incluindo comprar um espaço de página inteira no jornal para dedicar--lhe uma mensagem) e recentemente percebeu que estava acordada até as 5h ou 6h da manhã escrevendo em seu diário ou telefonando para as amigas no meio da noite para “buscar apoio”. Depois ela “se arrastava” pelo restante do dia sem fadiga depois de apenas duas ou três horas de sono. Esses sintomas haviam começado antes da hospitalização. Ela negou mau uso de drogas ou álcool e comportamento autolesivo. Também negou que tivesse, antes desse rompimento, uma história de relacionamentos particularmente intensos ou caóticos, tampouco pensamentos ou atos suicidas. Na verdade, a Senhora B parecia horrorizada por sua própria overdose, a qual ocorreu no contexto de depressão. Anteriormente, a Senhora B havia sido acompanhada pelo orientador escolar no ensino médio devido a “mau humor” e notas baixas. Esteve “deprimida” na faculdade. Naquela época, começou a tomar escitalopram e a fazer psicoterapia, mas melhorou rapidamente e abandonou os dois tratamentos depois de algumas semanas. Enquanto estava no hospital após sua tentativa de suicídio, começou a tomar vilazodona e quetiapina antes de ir para a cama “para dormir”. A Senhora B era a irmã mais nova de três filhos que cresceram em uma casa em um subúrbio de classe média. Frequentou a escola pública e uma faculdade estadual como uma “estudante de conceito B” e esperava algum dia cursar Direito. Descreveu a si mesma como uma criança “calada, ansiosa”, não uma “criadora de caso”. Seu irmão mais velho abusava de múltiplas substâncias, embora a Senhora B afirmasse que ela nunca havia usado substâncias ilícitas. Sua irmã havia recebido tratamento para “ataques de pânico e depressão” e informou sobre diversas tias e primos que ela achava que sofriam de “depressão”. Durante o exame, a aparência da Senhora B era a de uma mulher agradável, bem relacionada, vestida de forma casual, mas adequada, moderadamente acima do peso, aparentando sua própria idade e mantendo bom contato visual. Seu discurso era um pouco rápido e verborrágico, mas não era pressionado e podia ser interrompido. Não apresentava movimentos motores anormais, porém gesticulava de forma dramática e com uma animação excessiva. Seu humor estava deprimido e seu afeto tenso e disfórico, mas com alcance completo e responsividade no âmbito normal. Os processos de pensamento eram um pouco circunstanciais, mas, de modo geral, coerentes, lineares e lógicos. Em seu conteúdo de pensamento destacaram-se pensamentos passivos de que seria melhor se ela estivesse morta, mas sem intenções nem planos; não tinha delírios, alucinações nem pensamentos homicidas. Seu funcionamento integrativo superior estava amplamente preservado, assim como seu insight e seu julgamento.
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