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AD1 – 2019.2 Tópicos da História da Escravidão Ensinar História e Cultura Afro-brasileiras e africanas não é mais uma questão de vontade pessoal e de interesse particular, é uma questão curricular, de caráter obrigatório, que envolve as diferentes comunidades: escolar, familiar e sociedade. As finalidades buscadas pela lei 10639/03, que instituiu o ensino de história da África nas escolas, são educar cidadãos quanto à pluralidade étnico-racial e fazer um resgate histórico para que as pessoas negras afro-brasileiras conheçam um pouco melhor a sua própria história. A intenção da lei é boa, mas sua execução não. O primeiro grande erro dela é que, na tentativa de amenizar os preconceitos em sala de aula propõe-se que não sejam abordados nas escolas certos temas como raça, racismo, etnia, etnocentrismo, discriminação racial, etc. A segunda grande falha na lei é desconsiderar que a história da relação entre Brasil e África vai muito além do período colonial e do tráfico de escravos. Trabalha-se a África como se fosse a-histórica, isto é, ignorando a riqueza histórica e cultural de um continente milenar e formado por cinquenta e quatro países com enormes diferenças entre si. Na verdade, vê-se a África como sendo um único grande país, e não um continente e, dentro dessa visão unificada, vê-se ainda um continente marcado apenas por guerras, fomes, epidemias, miséria, sem nenhum contexto histórico-político-social e cultural. Essa questão é bem pontuada no vídeo África no currículo escolar, quando o apresentador pede que pessoas escolham entre duas alternativas qual melhor representa o continente e as respostas foram, majoritariamente, pobreza, atraso, doença, instabilidade política, tribalismo. Ou seja, o principal problema encontrado nos processos de ensino e aprendizagem da história africana não é o seu grau de complexidade, é sobretudo relacionado aos preconceitos referentes à desinformação sobre a África. A imagem do africano na nossa sociedade é a do selvagem que vive na miséria. Para entender essa visão reduzida apenas a estereótipos, explica a historiadora Camila Leoporace que a causa é a nossa matriz de conhecimento, que é o que chega às escolas e é essencialmente eurocêntrica: são estudadas as histórias da Europa e das Américas (principalmente dos Estados Unidos) porque até hoje é isso que se julga ser importante, ficando os outros Estados e aquilo que eles produziram como de menor importância, ou pior, como descartáveis. É o que também diz o professor Kabengele Munanga, da USP, no vídeo citado, apontando que os livros didáticos mantem até hoje a visão eurocêntrica e desconsiderando a verdadeira história africana. A terceira e, possivelmente, mais grave falha na lei é quanto aos professores, que em sua formação não receberam preparo especial para o ensino da cultura africana e sua real influência para a formação da identidade do nosso país, ficando sem referências sobre a melhor forma de trabalhar essa temática na escola. A lei não disciplina e nem tampouco faz menção em nenhum de seus artigos a cursos de capacitação para os professores. Não houve um esforço mais amplo em relação à preparação técnica do professor para lidar com essa problemática, nem muito menos com suas variáveis. A professora Daniela Pecchi sugere, como forma de trabalhar o conteúdo no ambiente escolar, que seja delimitado o que é essencial para cada faixa discente. Assim, para os alunos da educação infantil, o essencial seria apresentar a diversidade; para alunos do 1º ao 5º ano, o essencial seria valorizar as culturas indígena e africana; entre alunos do 6º ao 9º ano, o essencial seria discutir o preconceito; e no ensino médio, o objetivo seria debater e combater o preconceito. Tratar dentro das escolas do estudo sobre a cultura africana não é fácil, pois é preciso investir na formação e capacitação dos professores e também na vontade de mostrar os fatos, a história, tal como ela é. Para corrigir essas falhas e vencer o desafio do ensino correto da história da África, especialistas discutem a reestruturação das bases pedagógicas, num movimento de resgate histórico, revendo os conceitos trabalhados em sala de aula e a base teórica empregada. É preciso os livros sejam reeditados, pois ainda hoje trazem conteúdos superficiais e temas básicos sobre o assunto. Também é preciso incentivar os professores e a formação continuada seria uma alternativa de impulsionar o cumprimento da lei sobre o ensino da história e cultura africanas em sala de aula. A professora Marina de Mello e Souza aponta, no vídeo História da África, diz que o ensino é maior e melhor do que havia antes, mas ainda aquém do que deveria ser, pois é necessário investimento em formação por parte dos professores. Acreditamos que somente assim os verdadeiros objetivos do ensino da história da África serão atingidos, quais sejam: conhecer as diferentes etnias e sua influência na cultura brasileira; conscientizar as crianças sobre a importância do respeito entre todas as pessoas, acabando ou, ao menos, minimizando a cultura racista e discriminatória internalizada no convívio escolar; orientar a atuação da equipe escolar frente às situações de racismo; promover estratégias de implementação de políticas educacionais para a execução de uma educação de valorização e respeito à diversidade cultural e racial brasileira. Referência Bibliográfica: História da África. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=q_Y_mCFvA-4>. Acesso em 23/08/2019. África no currículo escolar. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=A_nxP0bY6Wc>. Acesso em 23/08/2019 PECCHI, Daniele. A história da África em sala. Disponível em <https://novaescola.org.br/conteudo/1422/a-historia-da-africa-em-sala>. Acesso em 23/08/2019. LEPORACE, Camila. Lei da cultura africana e afro-brasileira: combate à discriminação ou aumento da segregação? Disponível em: < httl://opiniaonoticia.com. br/interna.php> Acesso em 23/08/2019.