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Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp TUMORES BENIGNOS E MALIGNOS DA PELE O exame dermatológico, deverá incluir, inicialmente, as condições gerais do tegumento do indivíduo, como turgor, grau de envelhecimento cronológico e solar e nutrição. A seguir, destaca-se a localização da lesão que corresponde a queixa principal do doente, e às lesões elementares, que correspondem a expressão de como estas alterações ocorrem na pele, por exemplo se há uma mancha, um pequeno relevo denominado pápula ou um nódulo. Estes dados semióticos fornecem informações importantes sobre a doença que está sendo avaliada e, sobretudo, poderá conduzir às hipóteses diagnósticas. O exame dermatológico apurado bem como a identificação das lesões elementares são facilmente realizáveis, raramente necessitam métodos diagnósticos complementares e, permitem, num exame clínico, a elaboração de hipóteses diagnósticas seguras somente pela visualização da pele. Neste contexto, este capítulo do curso pretende apresentar o exame dermatológico e as principais lesões elementares que apresentam os tumores cutâneos malignos. Os fatores iniciadores e promotores da carcinogênese para o câncer de pele são a exposição solar ocupacional e recreativa, UV artificial; hábito de fumar; carcinógenos ambientais (arsênico); vírus (HPV); genes (p53); falhas no sistema de reparo do DNA; imunossuprimidos (HIV, Tx). A radiação UVA e UVB são importantes na exposição solar. A UVB penetra nas porções superiores da epiderme, enquanto a UVA pode chegar até a derme (elastose solar, quebra de colágeno). O UVB pode causar a queimadura solar. 1. TUMORES DA EPIDERME • CERATOSE ACTÍNICA Também chamada de Ceratose Solar ou Ceratose Senil, pois ocorre em pessoas idosas com longa exposição solar durante a vida. É uma lesão pré- neoplásica, caracterizada por alterações displásicas da epiderme, à semelhança das atipias que precedem o carcinoma epidermóide do colo uterino. Quando ocorre no lábio é denominada queilite actínica. É em geral resultante da exposição crônica à luz solar, radiação ionizante, hidrocarbonetos e arsenicais. Lesão preferencialmente de pessoas idosas e de pele branca. Aparece com predomínio na face, dorso das mãos e antebraços.2 DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 2 A transformação para carcinoma epidermóide ocorre em torno de 20- 25%. Em geral as lesões têm diâmetro inferior a 1 cm, coloração castanho-bronzeada, vermelha ou igual à pele normal (mas geralmente eritematosas). São ásperas, semelhantes a uma lixa. Algumas podem produzir tanta queratina que resultam no aparecimento clínico de um "corno cutâneo". O corno cutâneo é uma elevação papulosa em forma de cone meio acastanhado e muito áspero e duro devido a grande camada córnea. Lesões em áreas expostas (face, couro cabeludo) que não cicatrizam, “casquinhas” que vão e voltam. Pode ter protusão central que forma o corno cutâneo. Toda queratose tem que palpar a base, se tiver muito infiltrada pode ser um tumor invasor. Histologicamente, primeiro vemos uma epiderme acantótica (espessada) e com muito estrato córneo em coluna e de padrão paraceratótico (hiperceratose paraceratótica). Na base da lesão vemos arranjo desordenado e atipias celulares principalmente nas camadas inferiores da epiderme, típico de ceratose actínica. Está tudo desordenado, não tem camada basal, suprabasal, espinhosa certo. Não tem invasão da membrana basal, epiderme íntegra. Os queratinócitos são atípicos, com hipercromasia, volumes e núcleo variados, vacuolização celular, disceratose e aumento de mitoses. Hiperceratose + Desarranjo estrutural + atipias na base DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 3 Ceratose Actínica Acantolítica: pode ter bolhas entre os queratinócitos, mas sem anticorpos nem neutrófilos. Ocorre porque a membrana plasmática dessas células está imatura devido a rápida proliferação, e não tem desmossomos muito bem feitos (anomalia estrutural). Com isso, eles se soltam e ficam frouxos. Na derme há reação inflamatória crônica inespecífica em grau variado e degeneração basofílica do colágeno, causadas pelo sol (elastose solar). Caso tenha invasão da membrana basal se transformou num carcinoma espinhoso (escamoso). Lesão exofítica exuberante em forma de chifre. No verso da peça (fig. à D.), observa-se a superfície de corte da base da lesão, mostrando tecido esbranquiçado e bem delimitado em seu limite inferior. Este tecido corresponderia no exame histológico provavelmente a uma ceratose actínica, que é a lesão que mais comumente origina o corno cutâneo. • CARCINOMA IN SITU Ou Doença de Bowen, é uma neoplasia intraepitelial de células escamosas (queratinócitos), sem invasão da derme. A membrana basal está íntegra. Acomete a pele exposta e não exposta, ou seja, não depende da exposição solar. Observada em adultos, sobretudo em homens, localizada na pele em qualquer região do corpo, com predomínio do ombro e tronco. Na glande do pênis é referida como eritroplasia de Queyrat. Apresenta-se como placa vermelho-fosca, de contorno nítido e irregular, ligeiramente saliente (plana, parece uma placa), verrucosa ou hiperceratótica (pode ter crosta leve). Progride lentamente de modo centrífugo, podendo atingir grande extensão. DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 4 Histologicamente, caracteriza-se por células atípicas em todos os níveis da epiderme, desarranjo estrutural sem atravessar a membrana basal. A epiderme está muito acantótica e imatura (muito espessa). Pouca camada córnea. Os queratinócitos estão disceratóticos (queratinização prematura), às vezes vacuolizados, com núcleo volumoso, hipercromático, podendo ser único ou múltiplo. A membrana basal permanece íntegra. Numerosas mitoses são vistas em vários níveis da epiderme. Caso haja invasão da membrana basal para a derme torna-se um carcinoma epidermóide. → DOENÇA DE BOWEN Fragmento de pele da região dorsal do penis de um paciente de 53 anos. A lesão era espessa, esbranquiçada, com diâmetro de 1,5 cm e contorno irregular. Histologicamente, nota-se grande espessamento da epiderme (acantose), com perda da arquitetura estratificada (comparar com a pele normal adjacente) e atipias celulares intensas em toda a espessura. Há hipercromatismo e pleomorfismo nucleares. Várias células sofrem queratinização de forma isolada, chamando-se este fenômeno disceratose. Destacam-se das vizinhas pelo citoplasma muito róseo e o núcleo picnótico. É muito comum haver queratinização de grupos de células que se dispõem em redemoínhos, chamados pérolas córneas. Na epiderme normal, todas as células queratinizam-se de forma semelhante, à medida que progridem da camada basal à córnea. É importante que, na doença de Bowen, o limite dermo-epidérmico não é DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 5 ultrapassado e que o tumor permanece in situ. Isto ocorre porque as células atípicas não são (ainda) capazes de digerir ou romper a membrana basal do epitélio. EPIDERME NORMAL DOENÇA DE BOWEN (mesmo aumento) Na região mais imatura, há menos queratinização, o citoplasma tende a basófilo e nota- se intensa atividade mitótica, com cerca de 5 mitoses por campo de grande aumento. Algumas mitoses são atípicas. Carcinoma in situ é o termo para lesões epiteliais em que as células têm alterações citológicas características de malignidade (hipercromatismo, pleomorfismo, mitoses) e perda da arquitetura, mas sem evidência de invasão local ou de metástases à distância. É considerada uma lesão pré-neoplásica devido a seu potencial para desenvolver-se em carcinomainvasivo, ou câncer propriamente dito. A doença de Bowen é um carcinoma in situ da pele de qualquer região do corpo. A forma chamada de eritroplasia de Queyrat corresponde ao carcinoma in situ da pele das regiões genitais de homens e mulheres, geralmente acima dos 35 anos. Tende a envolver o corpo do penis e o escroto. Clinicamente manifesta-se como uma área espessada, esbranquiçada, podendo haver ulceração superficial. Se não tratada, a lesão evolui em alguns anos para carcinoma invasivo em cerca de 10% dos casos. DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 6 Há forte associação da doença de Bowen com infecção pelo virus HPV (human papilloma virus), principalmente do tipo 16. DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 7 • CARCINOMA EPIDERMÓIDE Ou Carcinoma Escamoso/Espinhoso ou Carcinoma Espinocelular (CEC), é uma neoplasia epitelial maligna freqüente, representa em torno de 20-25% das neoplasias cutâneas em nosso meio. Mais comum no sexo masculino, pode ocorrer em qualquer parte da pele ou mucosa com epitélio escamoso, geralmente após os 50 anos. Se origina das células da camada espinhosa da pele, que são queratinócitos bem maduros e capazes de produzir queratina de maneira eficaz. Eles sofrem mutações e desenvolvem atipias. Tem uma invasão local mais rápida, em meses já está ulcerado. Há risco de metástases, principalmente para gânglios regionais. Quando há carcinoma espinocelular in situ chamamos de carcinoma in situ ou Doença de Bowen. Se invade é o carcinoma espinocelular propriamente dito. Além da luz solar, que leva à lesão do DNA e mutagenicidade, são implicados como fatores predisponentes: carcinógenos industriais (alcatrões e óleos), dermatoses preexistentes, como a ceratose actínica, úlceras crônicas, osteomielite com fístula cutânea, cicatrizes antigas de queimaduras, ingestão de arsenicais, radiação ionizante e, na cavidade oral, o hábito de mascar tabaco. Indivíduos com xeroderma pigmentoso e imunossuprimidos/idosos apresentam alta incidência dessa neoplasia. O HPV (16 e 18) é um importante fator de risco para o CEC. São lesões crostosas que podem ulcerar. Aparecem mais na face, orelhas, braços e mãos, lábios infeiores. Na pele são pápulas queratóticas que podem infiltrar, podem ser nódulos, podem ulcerar, podem ser exofíticas. Nas mucosas são placas leucoplásicas que podem infiltrar, ulcerar ou formar vegetação. DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 8 O CEC é um diagnóstico diferencial com as síndromes verrucosas do PLECT. As principais complicações do CEC são infiltração local, ulceração, infecção e dor; metástases locorregionais; metástases sistêmicas; tratamentos cirúrgicos desfigurantes; incapacidades. As metástases são geralmente ganglionares e viscerais e de freqüência variável. Histologicamente, o carcinoma epidermóide é constituído por células escamosas, semelhantes às da camada de Malpighi da epiderme, as quais infiltram a derme e os tecidos profundos sob a forma de brotos ou blocos. As células podem mostrar graus variados de atipia, corneificação (pérolas córneas) e figuras de mitose típicas e atípicas. Tem sido utilizada uma classificação histológica de graus de I a IV, baseada na proporção de células diferenciadas, isto é, com capacidade de maturação (corneificação) e na freqüência das atipias celulares. Classificação Histológica de Broders: - Grau I (bem diferenciado). Freqüentes pérolas córneas, desmossomos presentes, discretas atipias. Pode ter leve edema intercelular (espongiose). DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 9 - Grau II (moderadamente diferenciado). Corneificação menos evidente, poucas pérolas córneas, atipias celulares mais freqüentes e evidentes. - Grau III (pouco diferenciado). Corneificação de células isoladas (disceratose), células na maioria atípicas e freqüentes mitoses. - Grau IV (indiferenciado). Ausência de queratinização, podendo as células se apresentarem com caráter fusiforme, com núcleos de tamanhos diversos e hipercromáticos, com nucléolos evidentes. No grau 4, devido à indiferenciação celular, muitas vezes se tornam necessárias técnicas especiais a fim de se estabelecer de forma definitiva a linhagem celular. Estas são: a microscopia eletrônica, para a detecção dos pontos de ligação entre os queratinócitos (desmossomos); e a imuno-histoquímica, ou seja, a reação do tecido tumoral com anticorpos contra queratina ou contra antígenos associados à membrana das células epiteliais. Podemos ter vários graus de diferenciação em uma lesão só, algumas áreas com pérolas córneas (grau I) e outras totalmente indiferenciado, uma massa anômala (grau IV). Pode ter também áreas acantolíticas, ou seja, espaços grandes entre os queratinócitos por rompimento dos desmossomos. Fica parecendo glândulas, chamamos de carcinoma epidermóide acantolítico-pseudoglandular. Não confundir com adenocarcinoma. → CARCINOMA EPIDERMÓIDE Material retirado da pele do dorso da mão de um homem de 65 anos, lavrador. Lesão tumoral elevada e endurecida, com 1,8 cm no maior diâmetro, superfície hiperceratótica e ulcerada. O carcinoma epidermóide (isto é, semelhante à epiderme) é constituido por células que imitam as da epiderme normal, mas têm arquitetura desorganizada, pleomorfismo, atipias nucleares e mitoses típicas e atípicas. Em áreas melhor diferenciadas as células tentam imitar a epiderme normal, com poucas atipias e presença de corneificação. Na camada de Malpighi é possível observar desmossomos (organelas que mantêm as DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 10 células unidas). Dão um aspecto estriado ou espinhoso ao contorno celular, daí o termo camada espinhosa. É comum a formação de queratina condensada no centro dos agrupamentos celulares, constituindo as pérolas córneas, indício de boa diferenciação do carcinoma epidermóide. Em áreas menos diferenciadas a corneificação é observada somente em células isoladas (disceratose), ou mesmo é ausente. Há maior grau de atipias. O índice mitótico é maior, notando-se mitoses atípicas. Na que está documentada aqui, a placa metafásica é irregular, dispondo-se em mais de um plano. O grau de diferenciação histológica pode variar de uma área para outra do mesmo tumor. Habitualmente, o grau histológico de um carcinoma epidermóide é dado pelo maior grau encontrado nas várias áreas examinadas (variando de I a IV, sendo o I para o mais diferenciado e IV para o menos diferenciado), porque a área de maior grau histológico provavelmente tem o maior potencial agressivo (maior malignidade), independente de sua extensão. O tumor infiltra a derme na forma de lingüetas rombudas. Porém, as margens laterais e profunda do corte estão livres de neoplasia (notar que estão pintadas de preto com tinta nanquim). O carcinoma epidermóide, como o carcinoma basocelular, é um dos tumores mais comuns da pele. Sua freqüência aumenta a partir da meia idade e predomina em pessoas de pele clara e em áreas da pele expostas ao sol, mas pode ocorrer em qualquer região cutânea. DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 11 Ao contrário do carcinoma basocelular, que quase nunca dá metástases, o carcinoma epidermóide tende a metastatizar por via linfática para linfonodos próximos. Tumores mais agressivos podem também dar metástases hematogênicas a órgãos distantes (fígado e pulmão, por exemplo). DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 12 Em certas regiões do tumor, as células neoplásicas podem não apresentar aderências intercelulares (desmossomos) e se mostrarem soltas, assumindoforma arredondada e tonalidade fortemente eosinófila. O fenômeno é análogo ao já observado nos pênfigos, mas a patogênese é diferente. Enquanto nos pênfigos há destruição dos desmossomos por um fenômeno imune, no carcinoma epidermóide os desmossomos deixam de formar-se por anomalias intrínsecas das próprias células, decorrentes da transformação neoplásica. (acantólise) DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 13 O carcinoma epidermóide da peça anatômica acima tem caráter úlcero-vegetante (fazendo saliência na superfície) e é mais ou menos bem delimitado, apesar de os limites serem irregulares. Na prática, é muito difícil o diagnóstico diferencial dele na macroscopia, sendo obrigatório o exame histopatológico. Para definir se as margens cirúrgicas estão livres de tumor é necessário pintá-las com tinta nanquim. Na outra peça (dedo do pé), o tumor destruiu a maior parte da epiderme. Chama a atenção o caráter vegetante e elevado da lesão, com aspecto em couve-flor. Substituição da pele do dedo por tecido saliente, espesso, de superfície rugosa e irregular. Na peça P-15, há ampla lesão neoplásica ulcerada com bordos em moldura. A margem de pele envolvente mostra irregularidades na superfície compatíveis com retração cicatricial pós-queimadura. Atividade regenerativa de um epitélio é um fator que predispõe à transformação neoplásica. • CARCINOMA BASOCELULAR Neoplasia epitelial de baixo grau de malignidade. É a mais frequente, correspondendo a 70-80% das neoplasias cutâneas em nosso meio. Originado das células da camada DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 14 basal da epiderme, que não são queratinizadas e são pluripotentes, por isso o nome. Crescimento lento, insidioso. Pode estar presente em qualquer área do tegumento, sobretudo na face. Ocorre mais nos dois terços superiores da face, acima de uma linha passando pelos lóbulos das orelhas e comissuras labiais. É excepcional nas regiões palmo-plantares. Surge nos dois sexos, sem predileção, quase só na idade adulta, sobretudo após os 40 anos, sendo fatores predisponentes a exposição à luz solar e pele clara. O carcinoma basocelular pode ser sólido (imagem acima, maioria), pode ser esclerosante (maior capacidade de infiltração local), superficial (crescimento mais radial) e pode ser pigmentado (células basais com melanina). Pode confundir com outras lesões cutâneas. DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 15 A forma esclerosante, quando está próxido das fendas natuais da face, associado a doença genética (nevo basocelular), de longa duração e invasão de planos profundos há bastante chance de recidivas (H da face). Em geral o prognóstico é bom e a cura é de 92%. - Síndrome do Nevo Basocelular (de Gorling-Gorlitz): aparecimento de tumores basocelulares em jovens, também na face. Pode aparecer até em crianças. As principais complicações do CBC são infiltração dos planos profundos, ulceração, sangramento, infecção, dor, desfiguração e incapacidades. Metástases são excepcionais. Entretanto, possui malignidade local, podendo invadir e destruir tecidos subjacentes, inclusive tecido ósseo. Clinicamente apresenta-se como pápulas peroladas (meio rosadas) que muitas vezes contêm vasos sangüíneos subepidérmicos proeminentes e dilatados (telangiectasias). Pode ter pontos pigmentados em preto e ulceração. Histologicamente, as células tumorais são semelhantes às da camada basal da epiderme e de anexos. Apresentam-se sob a forma de cordões e ilhotas de células basofílicas (escuras), em que o citoplasma é escasso e mal delimitado, com núcleo oval ou alongado e hipercromático. Células mais maduras. Na periferia dos blocos neoplásicos as células caracteristicamente apresentam arranjo radial, núcleos lado a lado, dando aspecto "em paliçada". As figuras de mitose não são numerosas. Infiltra a derme! Pode estar preso à epiderme ou aos anexos mas infiltra a derme. Podemos ver aumento do pigmento melânico, o que corresponde aos pontos pigmentados na macroscopia. O tecido conjuntivo ao redor prolifera e se retrai, criando fendas junto ao tumor, além de mostrar infiltrado linfoplasmocitário em grau variado. DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 16 O carcinoma basocelular pode, ainda, sofrer necrose e formar cavitações císticas, se transformando num carcinoma sólido e cístico. → CARCINOMA BASOCELULAR Fragmento de pele da face retirado da região malar esquerda de uma mulher de 67 anos, de pele clara, lavradora, com longa história de exposição ao sol. A lesão formava uma placa elevada com cerca de 2 cm. de diâmetro, ulcerada e de bordos perláceos. Evolução de cerca de 2 anos. O carcinoma basocelular é uma das neoplasias mais comuns da pele. Tende a ocorrer após a meia idade e tem grande predileção por áreas expostas, principalmente na face (sobrancelhas, região malar, orelhas, nariz e lábios). É um tumor de invasividade local, que se não tratado pode destruir extensas áreas (chamado úlcera roedora ou ulcus rodens). Contudo, é difícil dar metástases, mesmo para linfonodos próximos. Se o tumor é retirado totalmente, em geral há cura definitiva. Para isso é necessário que as margens cirúrgicas estejam livres de tumor. Localização preferencial dos carcinomas na pele da face. Se passarmos uma linha pela comissura labial e lobo da orelha, os carcinomas basocelulares são mais freqüentes acima desta linha e os carcinomas epidermóides abaixo. DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 17 O tumor destruiu a epiderme e ocupa o derma como blocos celulares arredondados, formados por células que lembram as da camada basal da epiderme (núcleo ovalado, cromatina densa, citoplasma escasso e basófilo). Em cada bloco o centro é sólido (totalmente preenchido por células). Na periferia, as células tendem a formar uma camada mais nítida, em que os núcleos estão arranjados perpendicularmente à superfície do agrupamento (disposição em paliçada), um aspecto muito próprio do carcinoma basocelular. O limite com a derme na profundidade é nítido, indicando que a capacidade infiltrativa do tumor é pequena. DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 18 O carcinoma basocelular tem um aspecto considerado característico, com bordas elevadas e de aspecto perláceo. É clássica a denominação macroscópica de 'ulcus rodens' ou úlcera roedora. DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 19 Na prática, é muito difícil o diagnóstico diferencial de ambos na macroscopia, sendo obrigatório o exame histopatológico. Para definir se as margens cirúrgicas estão livres de tumor é necessário pintá-las com tinta nanquim. 2. TUMORES DOS MELANÓCITOS • NEVO MELANOCÍTICO Também chamado de Nevo Pigmentado ou Nevo Nevocelular. Essencialmente, o termo nevo denota qualquer lesão congênita da pele. São pintas na pele, hamartomas. Entretanto, o nevo nevocelular refere-se a um tumor de melanócitos, que são células que ficam na camada basal da epiderme e tem origem diferente dos queratinócitos, são derivadas da crista neural e capazes de produzir melanina. Os melanócitos tem dendritos que transferem os grânulos para o citoplasma dos queratinócitos, mas no caso dos nevos e melanoma eles perdem esses dendritos. Os nevos podem ser congênito ou adquirido (surgir na infância, adolescência, vida adulta). São benignos, mas que tem risco maior de se transformar num melanoma. São lesões muito freqüentes, solitárias ou múltiplas, caracterizadas por pápulas, geralmente acastanhadas, lisas, ora verrucosas, contendoou não pelos na superfície. Eles podem se modificar com a idade sim, pois envelhecem junto com a pele. Podem acometer mucosas (olho, boca, vagina). Histologicamente, são compostos por melanócitos que perderam os prolongamentos dendríticos (células névicas). Essas células têm forma redonda a oval, contêm núcleo uniforme sem nucléolo proeminente, e formam ninhos bem definidos. DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 20 Os ninhos de melanócitos crescem ao longo da junção dermo-epidérmica, sendo então denominados nevos nevocelulares juncionais (lentiginoso). São maculas acastanhadas-escuras e aparecem bem cedo na vida. Os melanócitos se concentram em prolongamentos da epiderme para a derme. Com o passar do tempo, as células névicas começam a crescer para baixo, vão penetrando na derme e se transformando em nevos nevocelulares compostos (ou epidermo-dérmicos). Geralmente possuem pelos. Finalmente, as lesões mais antigas podem perder seus componentes epidérmicos e se transformam em nevos nevocelulares intradérmicos. Mais afinados, com menos pigmentos, papulosos. À medida que as células névicas ganham as porções mais profundas da derme, sofrem uma modificação citológica e histoquímica que é denominada de maturação. As células névicas na junção epidermo-dérmica ou na derme superficial tendem a se dispor em ninhos, compostos por células maiores, poliédricas, com citoplasma amplo e pigmentação melânica (células do tipo A). Já as células névicas situadas na derme média tendem a ser menores, arredondadas, não pigmentadas e a se disporem em cordões e fascículos (células do tipo B). DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 21 Mais na profundidade na derme, as células névicas tornam-se fusiformes e sem pigmentos, assumindo um aspecto semelhante a tecido neural (células do tipo C). Lembram células de schwann, por ser alongados. Assim, são chamados “nevos neurais” os que tem elas. Essa metamorfose parece estar relacionada com o envelhecimento progressivo das lesões e com alterações enzimáticas nessas células. A associação entre lesões névicas e o melanoma tem sido descrita, principalmente nas grandes lesões névicas congênitas (maiores que 2cm), em nevos de junção e nevos displásicos. Os Nevos Atípicos (displásicos) tem características de alerta: bordas irregulares, tonalidades diferentes; mas ainda bem discreto. Os melanócitos estão agrupados abaixo da epiderme com discreta variação de volume e pigmentação. Só na parte juncional que tem essas atipias. Há fibrose da derme papilar ao redor deles. Pode ter infiltrado inflamatório inespecífico na derme. Os nevos que temos que ficar atentos são os que crescem rápido, se modificam rápido, mudam de cor ou sangram. Ou nevos que ficaram muito diferentes dos outros (“patinho feio”). DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 22 → NEVO NEVOCELULAR INTRADÉRMICO Este fragmento de pele foi retirado de uma mulher de 18 anos com pintas de 0,3 a 0,8 cm de diâmetro, acastanhadas e verrucosas, localizadas no dorso e presentes desde a infância. Na derme há extenso agrupamento de células névicas, que aparece como área com maior densidade de núcleos logo abaixo da derme normal (rósea clara a parte superficial da derme). Trata- se de uma neoplasia benigna de melanócitos. As células mais superficiais são maiores e com mais citoplasma, tendo aspecto epitelióide e arranjo em ninhos (células névicas do tipo A). Geralmente contêm pigmento melânico, mas, no presente exemplo, este é escasso e só visto em certas áreas. Progressivamente em direção à profundidade, as células se mostram arredondadas e ficam menores, com menos citoplasma (tipo B) e, na porção mais profunda, tornam-se alongadas ou fusiformes (tipo C), lembrando células de Schwann (diferenciação schwannóide). Esta progressão da superfície à profundidade corresponde a um processo de maturação das células névicas, que é didaticamente subdividido em A, B e C. Lembrar que os melanócitos, dos quais derivam as células névicas, são originados da crista neural, como as células de Schwann. Nas regiões intermediária e profunda não é encontrada melanina. DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 23 Os nevos são lesões extremamente comuns da pele, originam-se já na infância e em geral perduram com pouca ou nenhuma modificação por toda a vida. Habitualmente não sofrem transformação maligna, mas isto pode ocorrer numa pequena minoria, originando um tumor de alta malignidade, o melanoma maligno. Contudo, grande parte dos melanomas não se origina em nevos e sim nos melanócitos da epiderme normal, fora de nevos. PARTE INTERMEDIÁRIA DO NEVO PARTE PROFUNDA DO NEVO DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 24 DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 25 • MELANOMA Também chamado de Melanoma Maligno, mas é uma redundância, pois todo melanoma já é muito maligno. É uma neoplasia maligna originária dos melanócitos, podendo surgir em qualquer parte da pele, sobretudo nos membros inferiores e dorso. Podem acometer mucosas também. Tem alta letalidade e malignidade, correspondendo a 4-8% dos tumores malignos. Podem aparecer de novo (sem lesão prévia) ou por malignização de nevos, manchas solares. Os nevos de maior risco são os displásicos e os melanocíticos gigantes. Luz solar, pele clara, fatores hereditários (casos na família) ou exposição a certos carcinógenos podem representar papel importante no desenvolvimento e na evolução da lesão. Exposições agudas e intermitentes ao sol principalmente na infância e adolescência, e exposição crônica ao sol durante toda a vida estão mais relacionados com melanoma em adultos-idosos. Tem certa predileção para o sexo feminino e acima dos 30 anos de idade (até 60). Clinicamente é assintomático, embora prurido possa ser uma manifestação precoce. É freqüente a alteração de cor, com pigmentação variegada do preto ao castanho, ou mesmo áreas desprovidas de qualquer pigmento (amelanóticas), além da assimetria e irregularidade nas bordas. Com isso, utilizamos a regra mnemônica do ABCD (alguns incluem o E): Assimetria (passar um eixo e comparar os lados); Bordas irregulares; Cores variadas; Diâmetro maior que 6mm; Evolução (se mudou, cresceu). Reconhecem-se quatro tipos de melanoma: melanoma tipo lentigo maligno, melanoma extensivo superficial ou pagetóide, melanoma nodular, e melanoma acral lentiginoso. Os dois primeiros iniciam-se como melanoma "in situ". DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 26 - Melanoma Lentigo-Maligno: relacionado com exposição crônica ao sol. Inicialmente crescimento horizontal em áreas expostas ao sol e principalmente em idosos. São mais indolentes (lentigo maligno). Quando infiltram a derme são chamados de Lentigo Maligno-Melanoma. É uma mancha acastanhada clara com pontos enegrecidos e limites irregulares. - Melanoma Extensivo Superficial: é o mais comum, geralmente de nevos prévios (1/3). Se inicia com crescimento radial dos melanócitos ou para as partes superiores da epiderme, mas com o tempo pode infiltrar a derme. Lesões papulosas/maculares castanho-enegrecidas, com 3 ou 4 cores e bem irregulares. São mais vistos no tronco dos homens e membros inferiores nas mulheres (panturrilhas). - Melanoma Nodular: surgem de novo, com crescimento vertical e exofítico. Logo infiltra a derme e tem muito rico de metástases (bem agressivos). Lesão papulo- tumoral enegrecidas que podem ulcerar. DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveirade Lima, Turma LVI - MedUnicamp 27 - Melanoma Acral Lentiginoso: acomete mais as palmas das mãos e planta dos pés, principalmente em negros e asiáticos. Também podem aparecer na região sub e periungueal. Quando acral subungueal ele acomete a matriz ungueal, podendo fazer uma estria enegrecida ao crescer junto com a lâmina (Melanoníquia estriada). Essa estria pode continuar na pele ao redor da unha, chamamos de Sinal de Hutchinson. Pode destruir completamente a unha e causar deformidades, ou ainda ser despigmentado (dificulta muito o diagnóstico). Nas palmas e plantas são manchas enegrecida bem preta que cresce devagar. O crescimento inicial é radial mas por aparecer em lugares não muito comuns (pode ter hematomas, sangramento) e formato diferente o diagnóstico é tardio. - Melanoma Amelanótico: é bem raro. O tumor está tão indiferenciado que nem produz mais melanina. Caráter muito agressivo e o diagnóstico é tardio por conta de não parecer um melanoma típico e confundir com outros cânceres. DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 28 Histologicamente, são reconhecidos dois tipos celulares principais: melanoma de células epitelióides e melanoma de células fusiformes. As células neoplásicas são consideravelmente maiores que nos nevos, contêm núcleos grandes com contornos irregulares e nucléolos proeminentes (eosinófilos, vinhoso). Pigmentação variada com grânulos de tamanho e concentrações diferentes. Tem áreas do tumor com melanina e áreas sem. Mitoses são vistas em número variável, sendo que sua presença em profundidade na lesão é de grande ajuda para o diagnóstico. O tumor pode ter crescimento expansivo radial (horizontal) e/ou vertical, com invasão da derme. Podemos ver ulceração na microscopia e isso tem que estar descrito no laudo histopatológico, pois a presença de ulceração está associada a maior gravidade e pior prognóstico. Exigir no laudo informação se contém ou não ulceração. Há melanocitose, que é a proliferação de melanócitos atípicos em direção às camadas superficiais da epiderme. O diagnóstico do melanoma é clínico, tem que avaliar a pele toda. Usamos a regra do ABCD, dermatoscopia (instrumento tipo lupa com iluminação embutida) e biópsia excisional. Evita-se fazer biopsia tipo agulhamento, sempre retirar a lesão inteira pois isso auxilia no laudo histopatológico. A profundidade alcançada pela invasão das células tumorais tem grande valor prognóstico e deve constar em relato histopatológico. Utiliza-se da classificação em níveis, proposta por Clark (Nível de Clark) onde: Nível I - células tumorais estão limitadas a epiderme (in situ); Nível II - invasão da derme papilar (superficial); melanócitos atípicos soltos infiltrando a derme; Nível III - invasão até os vasos sub-papilares (média); Nível IV - invasão da derme reticular (profunda); Nível V - invasão do hipoderma (subcutâneo). DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 29 Breslow avaliou os melanomas pela espessura (Índice de Breslow), concluindo que tumores menores que 0,75 mm não dão metástases, mas estas são freqüentes em lesões com mais de 1,5 mm. Acima de 4mm é avançado, com muito risco de metástases e baixa sobrevida. Esse índice é a informação mais importante sobre o tumor pois nos ajuda a entender a gravidade. Observa-se declínio dramático da sobrevida com o aumento do nível de Clark e da espessura do tumor. DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 30 Os melanomas de alto risco tem invasão precoce da derme, com metástases em gânglios regionais e disseminação. As metástases em Satélites (Satelitose) são implantes de melanócitos modificados a 2mm da lesão, vistas na microscopia. Os Melanomas em Trânsito são implantes tumorais ao longo do trajeto linfático. O comprometimento ganglionar metastático é freqüente (metástase linfática), podendo ser precoce, seguido de metástases hematogênicas para qualquer órgão, inclusive a própria pele (1º pele, 2º pulmões, 3º ossos). Quando o melanoma se origina de uma metástase chamamos de Melanoma Metastático. O tratamento é cirúrgico. Inicialmente há a remoção para biópsia, mas se dependendo do microestadiamento tem que ampliar as bordas cirúrgicas ou retirar também linfonodos sentinelas. No caso de metástases usamos também quimioterapia, mas a resposta não é muito boa. É indicado medidas de proteção (protetor solar fps mín 30, chápeus, óculos de sol etc), autoexame sempre e, para grupos de risco, exame dermatológico anual. → MELANOMA O melanoma é um tumor comum da pele. Outra localização habitual é a coróide (camada pigmentada do olho, entre a retina e a esclera). Na pele, a luz solar é um fator predisponente importante e as regiões mais comumente afetadas são o dorso e membros inferiores. Indivíduos de pele clara têm maior risco. Alguns melanomas têm origem em lesões melânicas prévias como o nevo nevocelular (mas mais comum aparecer de novo). O sinal clínico mais precoce do melanoma é o aparecimento de uma lesão pigmentada nova na vida adulta, ou a mudança de tamanho e/ou de cor em uma lesão pigmentada já existente. Ao contrário dos nevos, o melanoma costuma mostrar coexistência de várias tonalidades de marrom, negro ou outras cores na mesma lesão, e o contorno tende a ser irregular (não redondo como nos nevos). Pode haver prurido e sangramento. No melanoma, as células neoplásicas podem apresentar dois tipos de crescimento, radial e vertical. Na fase inicial, o crescimento é radial ou horizontal. As células crescem na junção dermo-epidérmica, como observado nas lesões chamadas lentigos (daí o termo padrão lentiginoso). Clinicamente a lesão é plana, não elevada. Esta fase pode durar muito tempo (até anos) sem que o tumor dê metástases. Com o tempo porém inicia-se a fase de crescimento vertical, em que as células infiltram tanto a epiderme acima, causando sua ulceração, como a derme mais profunda, atingindo vasos linfáticos e sanguíneos. A partir daí a ocorrência de metástases é praticamente certa. Clinicamente, esta fase se caracteriza por aparecimento DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 31 de um nódulo na lesão que era plana, e corresponde à emergência de um clone de células mais agressivas (através de mutações gênicas, aberrações cromossômicas, etc.). A profundidade atingida pelas células neoplásicas quando do diagnóstico tem boa correlação com o prognóstico, por isso é medido pelos índices de Clark e de Breslow. Tumor retirado da região lombar de uma mulher com 36 anos de idade. A lesão era enegrecida, elevada e ulcerada, medindo cerca de 2 cm. de diâmetro, com contorno irregular. Na área da periferia do corte, fora do tumor, os melanócitos estão normais. Eles são células derivadas da crista neural. Caracterizam-se por citoplasma claro, e geralmente contêm pouca melanina, pois injetam nos queratinócitos próximos a melanina que sintetizam (processo dito de secreção citócrina). ÁREA DE CRESCIMENTO VERTICAL (REGIÃO CENTRAL ULCERADA) ÁREA DE EXTENSÃO RADIAL TRANSIÇÃO PARA PELE NORMAL DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 32 Os melanócitos se localizam de forma espaçada entre os queratinócitos da camada basal da epiderme. Em geral, para cada 10 queratinócitos há um melanócito, mas a concentração é maior na porção apical dos cones epiteliais. O número de melanócitos varia nas diferentes regiões da pele, mas independe da raça; a diferença está na capacidade de produção de melanina. O melanoma é um tumor altamente maligno que se origina de melanócitos na camada basal da epiderme e infiltra a derme. A porção central do tumor é espessa e ulcerada, já que a epiderme foi destruídapela neoplasia. Esta região é chamada de área de crescimento vertical do tumor. Aí vemos uma área pigmentada (melanótica), onde as células neoplásicas produzem abundante melanina, e outra onde a melanina é escassa (área amelanótica). Pode haver casos em que não há produção de melanina em nenhuma parte do tumor (melanomas amelanóticos). Notar que a produção ou não de melanina não está relacionada ao prognóstico do melanoma. De cada lado da porção central, há uma região onde a epiderme ainda está preservada, mas as células neoplásicas crescem na junção dermo-epidérmica. É chamada área de extensão radial do tumor, e faz transição para a pele normal. Neste caso, as margens cirúrgicas estão livres de neoplasia. Área de crescimento vertical (parte melanótica) DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 33 Área de crescimento vertical (amelanótica) COMPARAÇÃO Na porção central o tumor ulcerou a epiderme e infiltra a derme. O tumor é sólido, com alta celularidade e é constituído por células atípicas, com núcleos hipercromáticos e citoplasma basófilo. DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 34 O nucléolo é geralmente evidente e não raro eosinófilo. Há numerosas mitoses. Há uma região melanótica e outra amelanótica. Nesta última, as células neoplásicas produzem muito pouca ou nenhuma melanina. O aspecto das células no melanoma pode ser muito variável. Pode lembrar células epiteliais, imitando um carcinoma; podem ser células fusiformes, lembrando um sarcoma; podem ser arredondadas e com pouco citoplasma, sugerindo um linfoma, etc. Em casos de melanoma amelanótico indiferenciado o diagnóstico pode ser muito difícil na hematoxilina-eosina, particularmente se o tumor é metastático e não se sabe o local do primário. Nestes casos são utilizadas técnicas imunohistoquímicas para tentar demonstrar antígenos próprios do melanoma. Entre eles estão o HMB-45 e a proteína S-100 (presente em células originadas na crista neural), entre outros. Área de extensão radial DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 35 Na chamada área de extensão radial, na periferia do tumor, as células neoplásicas avançam pelo limite dermo-epidérmico (aspecto lentiginoso) e em torno dos anexos, como glândulas e folículos pilosos (extensão radial e anexial). Formam massas celulares de aspecto frouxo que comprimem e destróem os queratinócitos. Além da propagação radial, as células neoplásicas apresentam ainda progressão vertical, isto é, migração para a superfície, atingindo o estrato córneo na forma de células isoladas ou ninhos (melanocitose). Com o tempo, a epiderme é destruída, resultando ulceração. Notar nas peças anatômicas a cor marrom escura, quase negra do tumor, devida à produção de melanina pelas células neoplásicas. As áreas esbranquiçadas são artefatos do processo de plastificação. Na peça do pé há grande lesão tumoral vegetante e saliente, com áreas enegrecidas, na região dorso-lateral do pé E. Embaixo, melanoma maligno amelanótico (desprovido de pigmento melânico), provavelmente metastático na pele. DERMATOPATOLOGIA Branda de Oliveira de Lima, Turma LVI - MedUnicamp 36 • OUTROS TUMORES MENOS FREQUENTES Não são carcinomas nem melanomas, mas podem ocorrer com certa frequência. - Hidradenoma Maligno: neoplasia maligna das glândulas sebáceas, exofíticas. - Dermatofibrossarcoma: neoplasia maligna de fibroblastos da derme, nódulos.
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