179 pág.

Pré-visualização | Página 38 de 50
Care 2006; 29(12): 2739-48. 4. The NICE-SUGAR Study Investigators, Intensive versus Conventional Glucose Control in Critically Ill Patients. N Engl J Med 2009 360: 1283-1297 Kelson Nobre Veras Condutas Práticas para UTI 120 TERAPIA NUTRICIONAL NO PACIENTE GRAVE Objetivos da Terapia Nutricional Sustentar de maneira adequada o processo metabólico desencadeado pela injúria aguda, tentando prover substratos energéticos e protéicos em quantidade e qualidade adequadas, sem criar ou acentuar os distúrbios metabólicos típicos dessa resposta. Nos pacientes críticos, os marcadores protéicos tradicionais (albumina) são um reflexo da resposta de fase aguda (aumento da permeabilidade vascular e repriorização da síntese protéica hepática), não representando com precisão o estado nutricional dos pacientes de UTI. Vias de administração Se o paciente estiver estável hemodinamicamente com um trato gastrointestinal funcional, então a nutrição enteral é preferível sobre a nutrição parenteral. Pacientes instáveis hemodinamicamente não devem receber terapia nutricional enteral. A via parenteral deverá ser utilizada somente quando houver contra-indicação ou intolerância à via enteral. A nutrição enteral através do estômago (Levine) é aceitável na maioria dos pacientes críticos. A colocação de sonda enteral pós-pilórica (Dobbhoff) deve ser considerada em pacientes com: Obstrução da saída gástrica Gastroparesia com volume residual gástrico alto (> 250 mL) apesar de agentes procinéticos ou emêse recorrente Pancreatite severa ativa Quando iniciar Terapia Nutricional O mais precoce possível, assim que os parâmetros hemodinâmicos estiverem adequados, dentro dos limites definidos como ideais pela literatura (PAM > 70, sem evidências de hipoperfusão tecidual), sem distúrbios ácido-básicos e eletrolíticos importantes. NUTRIÇÃO ENTERAL Fórmulas enterais As formulas enterais diferem no seu conteúdo protéico e lipídico e podem ser classificadas como elementar (monomérica), semi-elementar (oligomérica) ou polimérica. As fórmulas elementares contêm aminoácidos individuais, polímeros de glicose e são de baixo conteúdo lipídico, com apenas 2 a 3% das calorias derivadas de triglicérides de cadeias longas (TCL). Indicações de dieta oligomérica: Tempo prolongado de jejum Distúrbio de absorção Fístula bilio-pancreática Pancreatite aguda Intolerância à dieta polimérica As formulas semi-elementares contêm peptídeos de vários comprimentos de cadeia, açucares simples ou amido e gordura, primariamente na forma de triglicérides de cadeias médias (TCM). As formulas poliméricas cotêm proteínas intactas, carboidratos complexos e principalmente TCLs como gordura. Kelson Nobre Veras Condutas Práticas para UTI 121 Sistema de Infusão padronizado Sistema intermitente, aberto, em gotejamento gravitacional. Se houver necessidade de controlar o gotejamento (indicado na ocorrência de diarreia), solicitar administração em bomba de infusão à enfermagem. Horários de administração Os horários padronizados pela SND para infusão das dietas são às 6h, 9h, 12h, 15h, 18h e 21h. Pacientes hiperglicêmicos, em uso de insulina em infusão contínua, também necessitam de infusão contínua de dieta; portanto, para esses pacientes, dividir as necessidades nutricionais em 8 horários e solicitar ao SND que as dietas sejam enviadas também para os horários da madrugada (0h e 3h inclusive). Iniciar dieta enteral com 100 ml e progredir o volume em 50 ml por horário, observando de sinais de intolerância (diarreia, resíduo gástrico elevado, distensão abdominal) e as condições hemodinâmicas. Controle do volume resídual gástrico (VRG) O controle do VRG está indicado para todos os pacientes críticos em Nutrição Enteral. Antes de iniciar a infusão de cada dieta, aspirar conteúdo gástrico: VRG < 200 ml: reinfundir o volume aspirado e administrar a dieta conforme rotina do serviço; VRG > 200 ml: suspender dieta do horário e manter a sonda fechada; VRG > 500 ml: suspender dieta do horário e manter sonda aberta. Cuidados para evitar regurgitação e broncoaspiração: Manter cabeceira elevada entre 30 e 45 graus Evitar manobras de fisioterapia durante e logo após a infusão da dieta Infusão lenta da dieta Associar procinéticos na ocorrência de VRG > 200 ml, vômitos, regurgitação, broncoaspiração. Quando houver indicação de suspensão da dieta e o paciente estiver sob uso de dieta por infusão contínua, esta infusão será suspensa durante 3 horas. NUTRIÇÃO PARENTERAL TOTAL (NPT) Necessidades nutricionais O peso corporal predito ou ideal7 será utilizado para calcular as necessidades nutricionais diárias. Em obesos (IMC ≥ 30), usar o peso corporal ajustado.8 Necessidades Nutricionais Parenterais Sugeridas para Pacientes Adultos em UTI Energia 20 a 25 kcal/kg Carboidratos (glicose) 60 a 70% das calorias não-proteicas Lipídios (emulsão de lipídios) 30 a 40% das calorias não proteicas Proteínas (aminoácidos) Função renal e hepática normais 1,2 a 1,5 g/kg Insuficiência hepática (colestase) 0,6 a 1,2 g/kg (baseado na função estimada) Encefalopatia hepática (com falha ao esquema de antibiótico oral + lactulose) 0,6 g/kg (podendo ser temporariamente descontinuada) Insuficiência renal aguda não dialítica 1,2 a 1,5 g/kg Insuficiência renal dialítica 1,5 a 2 g/kg 7 Homens: 50 + 0,91[altura (cm) – 152,4]; Mulheres: 45,5 + 0,91[altura (cm) – 152,4]. 8 Peso corporal ideal + (peso atual – peso corporal ideal) x 0,25. Kelson Nobre Veras Condutas Práticas para UTI 122 FONTE PROTEICA Os aminoácidos fornecidos pela nutrição parenteral são reservados para a síntese protéica. Não entram, portanto, no cálculo do conteúdo calórico da dieta. Necessidades protéicas: 1,2 a 2 g/kg/dia; pode ser maior em pacientes queimados ou politraumatizados. Insuficiência renal: Não há necessidade de restrição proteica Sob hemodiálise: até 2,5 g/kg/dia Insuficiência hepática: Não há necessidade de restrição protéica Encefalopatia hepática sem resposta a antibiótico e lactulose: 0,6 g/kg ou interrupção temporária FONTES DE CALORIAS NÃO-PROTEICAS (CNP) Carboidratos Glicose a 50% 60 a 70% das CNP Lipídios 30 a 40% das CNP. As emulsões lipídicas são isotônicas e podem ser admistradas por veia periférica. A taxa de infusão deve ser limitada a 100 mL/hora nas emulsões a 10% e a 50 mL/hora nas emulsões a 20%, para evitar sobrecarga. EXEMPLO PRÁTICO: Paciente com função hepática e renal normais. Peso corporal ideal = 60 kg 25 kcal/kg/dia = 1500 kcal/dia (70% de carboidratos, 30% de lipídios; as proteínas não entram nos cálculos como fonte de calorias) Proteínas: 1,5 g/kg/dia de aminoácidos = 90 g/dia Solução de aminoácidos 10%: 90 g = 900 mL Carboidratos: 70% de 1500 kcal = 1050 kcal = 262,5 g/dia (1 g de carboidrato = 4 kcal) ou cerca de 500 mL de glicose a 50% Lipídios: 30% de 1500 kcal = 450 kcal = 50 g (1g = 9 kcal) Emulsão de lipídios 10%: 50 g = 500 mL Prescrição: Solução de aminoácidos a 10% – 450 mL Glicose 50% – 250 mL Oligoelementos – 01 ampola Complexo vitamínico – 01 ampola Lipofundin 10% – 500 mL EV em 8 horas Vitamina K de forma individualizada para as necessidades do paciente Iniciar com taxa de infusão que