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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS CURSO DE DIREITO – BALNEÁRIO CAMBORIÚ NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA - NPJ A RESERVA DO QUINHÃO HEREDITÁRIO AO NASCITURO PRISCILA BERNDT Balneário Camboriú, 07 de novembro de 2016. DECLARAÇÃO DECLARO QUE A MONOGRAFIA ESTÁ APTA PARA DEFESA EM BANCA PÚBLICA EXAMINADORA BALNEÁRIO CAMBORIÚ, _21_ DE ___OUTUBRO_____ DE 2016_. ________________________________ Professor(a) Orientador(a) UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS CURSO DE DIREITO – BALNEÁRIO CAMBORIÚ NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA - NPJ A RESERVA DO QUINHÃO HEREDITÁRIO AO NASCITURO PRISCILA BERNDT Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito. Orientadora: Professora MSc. Patrícia Elias Vieira Balneário Camboriú, 07 de novembro de 2016. AGRADECIMENTO Em primeiro lugar, quero agradecer ao bom e amado Deus, autor da minha história e que se faz presente em todos os momentos da minha vida. Agradeço de uma forma singela e especial aos meus pais Ralf e Ércia e, aos meus irmãos João Felipe e Marcos Paulo, por se fazerem presente em toda esta minha trajetória, além de toda compreensão e carinho que tiveram comigo por esses longos anos de vida acadêmica. Meu sincero agradecimento não poderia se fazer ausente aos meus queridos nonos Marcílio e Carmen Bassani, pois eles, além de uma segunda família e serem meus padrinhos, são exemplo de pessoas guerreiras, de muita fé e perseverança, dos quais quero seguir os mesmos passos. Aos professores de toda minha caminhada acadêmica, que de alguma forma fizeram e fazem com que eu leve um pouco do conhecimento deles para minha vida pessoal e principalmente profissional. Por fim, não poderia deixar de estender meus agradecimentos a todos os meus colegas do curso de direito, pelas trocas de experiências e companheirismo durante estes 5 (cinco) anos. Também aos meus amigos de fé e todas as pessoas que de alguma forma se fizeram presentes em minha vida durante esta trajetória. DEDICATÓRIA A Professora Msc. Patrícia Elias Vieira, que durante todo esse ano de pesquisas e elaborações do meu trabalho de iniciação científica, sempre foi muito atenciosa, exigente e amável, uma pessoa que com certeza me ajudou e muito para chegar aonde estou atualmente. Ao Professor Msc. José Artur Martins pelo seu brilhantismo e profissionalismo na coordenação do Núcleo de Prática Jurídica do Campus Balneário Camboriú. Ao Professor Dr. Newton Cesar Pilau, por toda sua competência e dedicação a este curso tão brilhante e apaixonante. Por fim, dedico algumas palavras a minha colega de curso, Cíntia de Oliveira Lima, por sua amizade sincera, por seu companheirismo e pelas trocas de conhecimento que obtivemos juntas nessa trajetória acadêmica. ME MARQUE NA HISTÓRIA Transforma os meus dias, Senhor em frases fortes para compor uma vida de sucesso para o teu louvor. Meu coração às vezes se perde em meio a tantos conselhos, meus pensamentos já não batem mais, me confundo o tempo inteiro. Eu só preciso te ouvir e em verdes pastos deitarei. Eu só dependo de ouvir e em passos firmes caminharei. Faça soar minha vida como a canção que foi produzida no teu coração, me faça ser luz diferente do raio de sol que se esconde à noite. Me mostre os campos minados onde passarei, o discernimento do que ouvirei, me marque na história pra que reconheçam tua glória. (Anjos de Resgate) TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo. Balneário Camboriú, 07 de novembro de 2016. PRISCILA BERNDT Graduando(a) PÁGINA DE APROVAÇÃO A presente Monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda PRISCILA BERNDT, sob o título RESERVA DO QUINHÃO HEREDITÁRIO AO NASCITURO foi submetida em 07 de novembro de 2016 à Banca Examinadora composta pelos seguintes professores: Msc. Patrícia Elias Vieira, Orientadora e Presidente da Banca Examinadora, Msc. Jaqueline Moretti Quintero, Avaliadora, sendo a referida Monografia aprovada. Balneário Camboriú, 07 de novembro de 2016. Professora MSc. Patrícia Elias Vieira Orientadora e Presidente da Banca Examinadora Prof. MSc. José Artur Martins Coordenação da Monografia ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS ADI Ação Direta De Inconstitucionalidade ARTS Artigos CC/2002 Código Civil Brasileiro de 2002 CF Constituição Federal CPC Código de Processo Civil DEL REY Editora de Livros ECA Estatuto da Criança e do Adolescente ED Editora de Livros ETC Et cetera (assim por diante) EUD Editora de Livros FIVETE Fecundação in vitro com transferência do embrião GIFT Transferência intratubária de gametas G/Z Editora de Livros IAC Inseminação artificial com esperma do cônjuge IAD Inseminação artificial com esperma do doador ISSN Número Internacional Normalizado para Publicações J. Julgado LINDB Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro MSc Mestre em Ciências Nº Número NCPC/2016 Novo Código Processo Civil de 2016 NPJ Núcleo de Prática Jurídica P. Página REL Relator TJSC Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina TJRS Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul UNIVALI Universidade do Vale do Itajaí ROL DE FIGURAS Figura 1: Divisão dos Herdeiros Necessários............................................................60 ROL DE CATEGORIAS Rol de categorias que a Autora considera estratégicas à compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais. Abertura do Testamento “Testamento é o ato de última vontade pelo qual ocorre a Sucessão Testamentária”1 Abertura da Sucessão: “No primeiro artigo que trata do Direito Sucessório se encontra a expressão “Aberta a sucessão” (CC 1.784). Sinaliza o momento da morte de alguém e o nascimento do Direito de seus herdeiros a seus bens. A titularidade do acervo patrimonial se transfere sem sofrer solução de continuidade. Isso porque a existência da Pessoa Natural termina com a morte [...], deixando de ser sujeito de direitos e obrigações. Daí a necessidade que alguém assuma seu lugar de forma tão imediata. A morte que gera a Abertura da Sucessão é a morte natural”.2 Capacidade Civil: “A Capacidade Civil é a aptidão da pessoa para exercer direitos e assumir deveres na órbita Civil [...], é o elemento da Personalidade, é a medida jurídica da Personalidade”. 3 “A Capacidade Civil de Direito é a competência para ser Sujeito de Direito e deveres na ordem Civil. Ao contrário, a Capacidade Civil de Fato é Aptidão para exercer os 1 DIAS, Maria Berenice. Manual das Sucessões. 1º ed, 3ª tiragem. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 2008. p. 317. 2 DIAS, Maria Berenice. Manual das Sucessões. 1º ed, 3ª tiragem. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 2008. p. 97. 3 TARTUCE, Flávio. Direito Civil 1: lei de introdução e parte geral. 11º ed. São Paulo. Editora Método.2015. p.130. Direitos, sendo que aqueles que não possuem este tipo de Capacidade, são denominados incapazes”4. Herança: “A Herança pode ser conceituadacomo o conjunto de bens, positivos e negativos, formado com o falecimento do de cujus5. Engloba também as dívidas do morto” [...]6 Herança Jacente: “Quando o falecido não deixa testamento, nem cônjuge e herdeiros conhecidos, ficando a herança sob a guarda de um curador”7 Herança Vacante: “Quando, feitas todas as diligências legais, o ausente não se manifestar ou não aparecerem herdeiros e nenhum interessado promover a sucessão definitiva, os bens arrecadados passam ao domínio do Município ou do Distrito Federal, conforme sua localização, ou à União, se localizado em território federal”.8 Herdeiros Facultativos: “[...] o herdeiro legítimo facultativo, por virtude da menor proximidade com o hereditando, é aquele familiar que pode ser afastado inteiramente da sucessão, pelo fenômeno da erepção (v.g., a perda total da indicação legal sucessória anterior), 4 TARTUCE, Flávio. Direito Civil 1: lei de introdução e parte geral. 11º ed. São Paulo. Editora Método.2015. p.217. 5 De Cujus: A expressão latina, derivada de de cujus sucessione agitur, de cuja sucessão se trata, utilizada na área jurídica para designar o falecido, usada comumente como sinônimo de 'pessoa falecida', numa figura eufemística substitutiva de 'defunto' ou 'morto'. De cujus. Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios. Disponível em: http://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/direito-facil/de-cujus. Acesso em 11 jun 2016. 6 TARTUCE, Flávio. Direito Civil 6. direito das sucessões. 8º ed. São Paulo. Editora Método.2015. p. 39. 7 GUIMARÃES, Deocleciano Torrieri. Dicionário Técnico Jurídico. 12ª ed. São Paulo. Editora Rideel. 2009. p. 369. 8 GUIMARÃES, Deocleciano Torrieri. Dicionário Técnico Jurídico. 12ª ed. São Paulo. Editora Rideel. 2009. p. 369.p. 369. estampado na atualidade na norma insculpida no retrocitado art. 1.850 do Código Civil”.9 Herdeiros Legítimos: “[...] uma relação preferencial, estabelecida pela lei, das pessoas que são chamadas a suceder ao finado. Consiste na distribuição dos herdeiros em classes preferenciais, baseada em relações de família e de sangue, conforme se pode ver pelo disposto no art. 1.829 do Código Civil [...]”.10 Herdeiros Necessários: “[...] é aquele que, em sentido amplo, se apresenta como um sucessor universal privilegiado, por força do ofício de piedade (officium pietatis), isto é, da afeição presumida e do dever de amparo que o autor da herança deve ter em relação a seus familiares mais próximos, aqueles a quem a lei garante uma quota mínima da herança (Princípio da Reserva), que, em nosso direito, se apresenta, em princípio, fixa, invariável, na atualidade, correspondente à metade dos bens do monte líquido [...]”.11 Inventário: “Inventário, em sentido estrito, é o rol de todos os bens e responsabilidades patrimoniais de um indivíduo. Na acepção ampla, é o procedimento destinado a individualizar o patrimônio dos herdeiros e entregar os bens a seus titulares”12 Inventário Negativo: “O inventário negativo tem como escopo comprovar que o de cujus não deixou bens a serem inventariados”.13 9 CARVALHO, Luiz Paulo Vieira de. Direito das Sucessões. revista e atualizada, com anotações referentes ao novo CPC, Lei nº 13.105/2015. 2ª ed. São Paulo. Editora Atlas S.A. 2015. p. 452. 10 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: direito das sucessões. 26ª ed. São Paulo. Editora Saraiva. 2012. p. 122. 11 CARVALHO, Luiz Paulo Vieira de. Direito das Sucessões. revista e atualizada, com anotações referentes ao novo CPC, Lei nº 13.105/2015. 2ª ed. São Paulo. Editora Atlas S.A. 2015. p. 449. 12 DIAS, Maria Berenice. Manual das Sucessões. 1º ed, 3ª tiragem. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 2008. p.512. Nascituro: “[...] nascituro é o ser humano já concebido, dotado de direitos e cujo nascimento se espera, assim, essa característica é conservada até enquanto vive intrauterinamente, ou seja, desde a concepção até a conclusão do parto, de modo que ao autonomizar-se exteriormente é o humano tido por nascido, desvinculado das entranhas maternas, contudo, restando ainda unido por fortes laços de dependência biológica e afetiva à sua genitora.”.14 Partilha: “Terminado o Inventário ou arrolamento, quando já existe o quadro completo do monte, acervo ou patrimônio sucessório, seguir-se-á a Partilha, isto é, a divisão dos bens entre os herdeiros e legatários e a separação da meação do cônjuge ou direitos do companheiro, se for o caso [...]. A finalidade da Partilha, é por consequência, dividir o patrimônio apurado do falecido. Por meio da Partilha é que vai desaparecer o espólio e surgir o direito individualizado de cada herdeiro ou legatário [...]. Consiste em dar a cada um o que for justo, ao dissolver a comunhão. O herdeiro, desde a Abertura da Sucessão, recebe uma parte ideal em proporção a sua quota e, com a Partilha e adjudicação, essa parte ideal se materializa”.15 Personalidade Jurídica: “[...] Personalidade Jurídica é o atributo reconhecido a uma Pessoa (natural ou jurídica), para que possa atuar no plano jurídico (titularizando as mais diversas relações) e reclamar uma proteção jurídica mínima, básica, reconhecida pelos direitos da Personalidade”.16 Pessoa Natural: 13 CARVALHO, Luiz Paulo Vieira de. Direito das Sucessões. revista e atualizada, com anotações referentes ao novo CPC, Lei nº 13.105/2015. 2ª ed. São Paulo. Editora Atlas S.A. 2015. p. 886. 14 CARNEIRO FILHO, Humberto João. De Persona a Pessoa: o reconhecimento da dignidade do nascituro perante a ordem jurídica brasileira. 1ª ed. Recife. Editora UFPE. 2013. p. 31 15 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: direito das sucessões. 13ª ed, V.7. São Paulo. Editora Atlas S.A. 2013. p 391-392. 16 FARIAS, Cristiano Chaves de. ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil: parte geral e LINDB. 13º Ed. São Paulo. Editora Atlas. 2015. p. 135. “[...] a pessoa natural, também chamada pessoa física (o homem, ou melhor, o ente humano, o ser humano).”.17 Petição de Herança: “Por vezes, determinadas pessoas ostentam realmente a qualidade de sucessores do falecido, mas, por uma série de razões, dependendo da hipótese concreta, não são assim relacionados [...]. Quando isso acontece, havendo omissão ou controvérsia sob a qualidade de herdeiro, a pessoa que pretende ostentar e obter o reconhecimento desta qualidade, visando obter seus direitos e vantagens no campo sucessório, qual seja, à positivação de um status, do qual deriva a aquisição da herança, poderá intentar a ação ora em comento [...]”.18 Princípio da Saisine: “[...] são transmitidos imediatamente, ex lege19, sem qualquer formalidade, aos herdeiros legais e testamentários daquele, os direitos, pretensões, exceções e ações transmissíveis que lhe pertenciam, mesmo que tais sucessores não tenham tido conhecimento do passamento daquele”.20 Quinhão Hereditário: “Quinhão (...) é o vocábulo empregado, na terminologia jurídica, em dois sentidos, para indicar ou exprimir configurações distintas. Quinhão. Em sentido comum quinhão é a parte, ou seja, toda a porção que cabe a pessoa, em razão de uma partilha ou de uma divisão, que lhe é assegurada por lei, para que se torne o senhor exclusivo de sua parte. O quinhão, assim, é a cota ou parte de bens que cabe ao herdeiro, na partilha da herança. É a parte da propriedade dividida, que se atribui ao 17 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil: Parte geral. 42ª ed. 2ª tiragem. São Paulo. Editora Saraiva. 2009. p. 64. 18 CARVALHO, Luiz Paulo Vieira de. Direito das Sucessões. revista e atualizada, com anotações referentes ao novo CPC, Lei nº 13.105/2015.2ª ed. São Paulo. Editora Atlas S.A. 2015. p. 276. 19 Ex lege: Por força da lei. Disponível em: http://www.dicionariodelatim.com.br/ex-lege/. Acesso em: 09 jun 2016. 20 CARVALHO, Luiz Paulo Vieira de. Direito das Sucessões. revista e atualizada, com anotações referentes ao novo CPC, Lei nº 13.105/2015. 2ª ed. São Paulo. Editora Atlas S.A. 2015. p. 76. condômino. Quinhão. Mas numa acepção especial, é tida na equivalência de sorte. E, neste caso, revela-se a cota de participação ou a parte que a pessoa tem no consórcio de uma propriedade ou de direitos indivisíveis”.21 Sucessão Hereditária: “A sucessão hereditária consiste na transmissão de bens de uma pessoa, em razão de morte, aos sucessores previstos na lei (sucessores legítimos) ou nomeados em testamento (sucessores testamentários)”.22 Sucessão Legítima: “A sucessão legítima ou ab intestato23, é uma complementação natural, com a transferência do patrimônio adquirido em vida a certas e determinadas pessoas, nomeadas pela lei, sem qualquer interferência da vontade do seu titular. Verifica-se quando o autor do patrimônio morre sem deixar testamento ou aqueles bens que não foram objeto do testamento, ou se este caducar ou mesmo for declarado nulo (arts. 1.574 e 1.575).24 Sucessão Testamentária: “Como sugere o próprio nome, Sucessão Testamentária é a transmissão da herança por meio de Testamento. Ocorre quando houve manifestação de vontade da pessoa – claro que enquanto viva estava – elegendo quem deseja que fique com o seu patrimônio depois de sua morte. A Sucessão Legítima é a regra e a Testamentária a exceção. Os herdeiros só recebem o que lhes deixou o testador se existirem bens 21 Quinhão Hereditário. Disponível em: http://shinjigoharaadv.blogspot.com.br/2012/11/quinhao- hereditario.html. Acesso em 02 jun 2016. 22 Direito Civil. Disponível em: http://www.recantodasletras.com.br/textosjuridicos/1145020. Acesso em 26 abr 2016. 23 Ab intestato: sem deixar testamento. Diz-se da sucessão sem testamento, ou dos herdeiros que dela se beneficiam. Disponível em: http://www.dicionariodelatim.com.br/ab-intestato/. Acesso em: 09 jun 2016. 24 CATEB, Salomão de Araújo. Direito das Sucessões. 1ª ed. Belo Horizonte. Editora Del Rey. 1999. p. 24 depois de pagas as dívidas do espólio e estiver garantida a legítima dos herdeiros necessários. ”25 Teoria Concepcionista “Segundo a escola concepcionista, a personalidade civil do homem começa a partir da concepção, ao argumento de que tendo o nascituro direitos, deve ser considerado pessoa, uma vez que só a pessoa é sujeito de direitos, ou seja, só a pessoa tem personalidade jurídica”.26 Teoria Natalista “[...] o nascituro é mera expectativa de pessoa e, por isso, tem meras expectativas de direitos e só é considerado como existente, desde a sua concepção, para aquilo que lhe é juridicamente proveitoso [...]”.27 Teoria da Personalidade Condicional “Antes do nascimento não há personalidade. Ressalvam-se, contudo, os direitos do nascituro, desde sua concepção. Nascendo com vida, a sua existência, no tocante aos seus interesses, retroage ao momento de sua concepção. Os direitos assegurados ao nascituro encontram-se em estado potencial, sob condição suspensiva”.28 Testamento: 25 DIAS, Maria Berenice. Manual das Sucessões. 1º ed, 3ª tiragem. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 2008. p.108. 26 SEMIÃO, Sérgio Abdalla. Os Direitos do Nascituro: aspectos cíveis, criminais e do biodireito. 3ª ed. Belo Horizonte. Editora Del Rey. 2015. p.15. 27 SEMIÃO, Sérgio Abdalla. Os Direitos do Nascituro: aspectos cíveis, criminais e do biodireito. 3ª ed. Belo Horizonte. Editora Del Rey. 2015. p.20. 28 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: de acordo com o novo código civil brasileiro (lei n. 10.406, de 10-1-2002). Parte geral volume I. São Paulo. Editora Saraiva. 2003. p. 79. “[...] Testamento é o ato pelo qual uma pessoa dispõe de seus bens para depois de sua morte, ou faz outras declarações de última vontade”.29 Testamento Cerrado “[...] um negócio jurídico unilateral de última vontade que, de início, deve ser escrito pelo próprio testador, ou, então, por outra pessoa a seu rogo, para posteriormente, ser levado ao tabelião para ser aprovado”.30 Testamento Especial “Também denominados testamentos extraordinários, excepcionais, emergenciais ou privilegiados, essas modalidades testamentárias são regulamentadas pelo legislador brasileiro exatamente para atender a casos muito particulares, circunstâncias muito excepcionais, eventos extraordinários, enfim, situações nas quais o ato de expressar a derradeira vontade esteja ou deva ser produzido de maneira completamente atípica [...]”.31 Testamento Particular “Eis a forma mais acessível de testamento, pois é a que apresenta a menor quantidade de formalidades, não sendo essencial a presença do notário ou tabelião para que seja elaborado. É chamado de testamento hológrafo, eis que escrito pelo próprio testador”.32 Testamento Público “O testamento público é um ato aberto, no qual um oficial público exara a última vontade do testador, conforme seu ditado ou suas declarações espontâneas, na 29 PEREIRA, Caio Mario da Silva. Instituições de Direito Civil: direito das sucessões. 21ª ed. Rio de Janeiro. Editora Forense. 2014. p. 176. 30 CARVALHO, Luiz Paulo Vieira de. Direito das Sucessões: revista e atualizada, com anotações referentes ao novo CPC, Lei nº 13.105/2015. 2ª ed. São Paulo. Editora Atlas S.A. 2015. p. 584 31 CAHALI, Francisco José. HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes. Curso Avançado de Direito Civil: direito das sucessões. 2ª ed. São Paulo. Editora Revista dos Tribunais. 2003. p. 315. 32 TARTUCE, Flávio. Direito Civil: direito das sucessões. 8ª ed. São Paulo. Editora Método. 2015. p. 401. presença de cinco testemunhas no sistema de 1916 e de apenas duas testemunhas no código de 2002”.33 Testamento Vital “Declaração escrita da vontade de um paciente quanto aos tratamentos aos quais ele não deseja ser submetido caso esteja impossibilitado de se manifestar”.34 Vocação Hereditária “[...] a lei institui uma ordem de prioridade na escolha de quem vai assumir a herança. É o que se chama ordem de vocação hereditária. Vocação vem do latim vocare e significa chamar. ”35 33 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: direito das sucessões. 13ª ed. São Paulo. Editora Atlas. 2013. p. 219. 34SANTOS. Thiago Amaral dos. Revista Ambito Jurídico. Disponível em: http://www.ambito- juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=14219. Acesso em 15 out 2016. ISSN 1518-0360. 35 DIAS, Maria Berenice. Manual das Sucessões. 1º ed, 3ª tiragem. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 2008. p.127. SUMÁRIO RESUMO ............................................................................................. 20 INTRODUÇÃO ..................................................................................... 21 CAPÍTULO 1 ........................................................................................ 24 A PERSONALIDADE JURÍDICA DA PESSOA NATURAL E O NASCITURO ........................................................................................ 24 1.1 A PERSONALIDADE JURÍDICA ................................................................... 24 1.2 O CONCEITO DE PESSOA NATURAL ......................................................... 28 1.2.1 A CAPACIDADE CIVIL ...................................................................................... 31 1.3 A TEORIA CONCEPCIONISTA ..................................................................... 34 1.4 A TEORIA NATALISTA ................................................................................. 371.5 A TEORIA DA PERSONALIDADE CONDICIONAL ...................................... 39 1.6 O NASCITURO .............................................................................................. 42 CAPÍTULO 2 ........................................................................................ 52 A SUCESSÃO HEREDITÁRIA ........................................................... 52 2.1 O PRINCÍPIO DA SAISINE ............................................................................ 52 2.2 A SUCESSÃO LEGÍTIMA .............................................................................. 55 2.2.1 AS ESPÉCIES DE SUCESSORES ........................................................................ 58 2.2.1.1 Os herdeiros legítimos ......................................................................................58 2.2.1.2 Os herdeiros necessários .................................................................................59 2.2.1.3 Os herdeiros facultativos ..................................................................................62 2.2.1.4 O (a) companheiro (a) sobrevivente .................................................................64 2.2.2 A HERANÇA JACENTE E VACANTE .................................................................... 66 2.2.3 OS DIREITOS DE SUCEDER DO NASCITURO ........................................................ 68 2.3 A SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA ................................................................ 70 2.3.1 O TESTAMENTO PÚBLICO ................................................................................ 72 2.3.2 O TESTAMENTO CERRADO .............................................................................. 74 2.3.3 O TESTAMENTO PARTICULAR .......................................................................... 76 2.3.4 O TESTAMENTO VITAL OU VIDUAL .................................................................... 77 2.3.5 OS TESTAMENTOS ESPECIAIS .......................................................................... 79 CAPÍTULO 3 ........................................................................................ 83 O INVENTÁRIO, A PARTILHA, A ABERTURA DO TESTAMENTO E O NASCITURO ........................................................................................ 83 3.1 O INVENTÁRIO.............................................................................................. 83 3.1.1 O INVENTÁRIO NEGATIVO ................................................................................ 87 3.2 A PARTILHA .................................................................................................. 90 3.2.1 A PARTILHA EM VIDA ...................................................................................... 92 3.2.2 A PARTILHA AMIGÁVEL ................................................................................... 94 3.2.3 A PARTILHA JUDICIAL ..................................................................................... 94 3.3 A ABERTURA DO TESTAMENTO ................................................................ 97 3.4 O NASCITURO E O DIREITO À HERANÇA NO INVENTÁRIO ...................101 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................. 105 REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS .......................................... 110 RESUMO O objeto de investigação desta pesquisa monográfica é a possibilidade ou não de Reserva do Quinhão Hereditário ao Nascituro. O objetivo geral do trabalho é apresentar possibilidades de o Nascituro concorrer com outros herdeiros o direito à Herança. Para alcançar tal objetivo, esta monografia em seu primeiro capítulo faz abordagem acerca da Personalidade Jurídica da Pessoa Natural e consequentemente do Nascituro, demonstrando as teorias existentes referente ao mesmo e, se ele pode ser considerado um ser dotado de Personalidade Jurídica, com possibilidades de receber Herança mesmo que seja um ser ainda não nascido. No segundo capítulo fora abordado sobre as espécies de sucessão existentes em nosso ordenamento jurídico, demonstrando-se quem concorrerá e quem são os Herdeiros Necessários, Facultativos e/ou Testamentários. Ainda, foi apresentado as espécies de Testamento existentes em nossa legislação. E, por fim, no terceiro capítulo aborda-se sobre toda a parte processual da Sucessão, discorrendo sobre o Inventário e a Partilha deste patrimônio deixado pelo de cujus. Ainda, o capitulo em questão encerra-se com o procedimento realizado para o Nascituro manter reservada a quota da Herança deixada pelo falecido. A metodologia empregada na fase de investigação foi o método indutivo a ser operacionalizado com as técnicas do referente, das categorias, dos conceitos operacionais de fontes documentais, resultando-se em uma fonte de pesquisa para todos os operadores do direito. O resultado da investigação desta pesquisa foi que os direitos do Nascituro na Sucessão Legítima serão os mesmos dos descendentes existentes na Abertura da Sucessão. Da mesma forma será quando tratar-se-á da Sucessão Testamentária. Palavras-chave: NASCITURO. QUINHÃO HEREDITÁRIO. SUCESSÕES. INTRODUÇÃO A presente Monografia tem como objeto A Reserva do Quinhão Hereditário ao Nascituro. O seu objetivo institucional é produzir uma monografia para obtenção do grau de bacharel em Direito, pela Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI. Destaca-se que as categorias fundamentais para a monografia, bem como os seus conceitos operacionais serão apresentados no decorrer da presente pesquisa. Esta pesquisa tem como objetivo geral e finalidade analisar os direitos do Nascituro na Sucessão Hereditária, quanto ao instituto da reserva do quinhão de acordo com a lei, doutrina e jurisprudências. Ao que concerne os objetivos específicos, apresenta-se no decorrer deste trabalho de iniciação científica o seguinte: Identificar a Personalidade Jurídica do Nascituro no ordenamento jurídico; investigar sobre a Sucessão Hereditária e suas respectivas espécies e, verificar o Inventário, Partilha, Abertura do Testamento e Nascituro, referindo-se a parte processual do direito sucessório. Para tanto, principia–se, no Capítulo 1 quanto a Personalidade Jurídica da Pessoa Natural e consequentemente do Nascituro, objeto central desta pesquisa, apresentando-se diversos conceitos quanto ao Nascituro ser ou não dotado de Personalidade Jurídica. Neste sentido, o presente capítulo apresenta as teorias existentes em nosso ordenamento jurídico, mostrando-se conceitos pelos doutrinadores quanto o Nascituro possuir ou não possuir Personalidade Jurídica. No Capítulo 2, apresenta-se sobre a Sucessão Hereditária e suas respectivas espécies, quais sejam: Legítimas e Testamentárias. Ainda, 22 abordou-se quanto os tipos de herdeiros trazidos pela legislação, conhecida como a Ordem da Vocação Hereditária, rol taxativo apresentado no Código Civil. Também se apresenta no capítulo 2 a forma de suceder do Nascituro, concorrendo com os Herdeiros Legítimos e sendo contemplado pelo Testamento. Por fim, apresentou-se sobre o Testamento e suas formas, tanto o ordinário como os testamentos especiais. No Capítulo 3, aborda-se sobre o Inventário, toda parte processual existente para se realizar posteriormente a Partilha, apresentando-se o Inventário tanto na forma judicial como extrajudicial. Também é vista de que forma será realizada a Abertura de Testamento, quando houver a existência deste, deixado pelo falecido e, o momento que será realizado o processo para o Nascituro receber a reserva do Quinhão Hereditário que lhe pertence por direito, através da Ação de Petição de herança. O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões sobre A Reserva do Quinhão Hereditário ao Nascituro. Para a presentemonografia foi levantada o seguinte problema de pesquisa: a) O Nascituro tem direito de Reserva do Quinhão Hereditário na Sucessão Legítima e Testamentária? Diante do problema formulado, foi atentada a seguinte hipótese: A lei protege os interesses de um ser humano já concebido ordenando o respeito pelas expectativas daqueles direitos que esse ser humano virá adquirir, se chegar a ser Pessoa, o que acontecerá somente após o nascimento com vida. 23 Portanto, os direitos do Nascituro na Sucessão Legítima serão os mesmos dos descendentes existentes na Abertura da Sucessão. Da mesma forma será quando tratar-se-á da Sucessão Testamentária. Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase de Investigação36 foi utilizado o Método Indutivo37, na Fase de Tratamento de Dados o Método Cartesiano38, e, o Relatório dos Resultados expresso na presente Monografia é composto na base lógica Indutiva. Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as Técnicas do Referente39, da Categoria40, do Conceito Operacional41 e da Pesquisa Bibliográfica42. A seguir, no primeiro capítulo da monografia, discorrer-se-á sobre a Personalidade Jurídica da Pessoa Natural e do Nascituro. 36 “[...] momento no qual o Pesquisador busca e recolhe os dados, sob a moldura do Referente estabelecido [...]. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. 11 ed. Florianópolis: Conceito Editorial; Millennium Editora, 2008. p. 83. 37 “[...] pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e colecioná-las de modo a ter uma percepção ou conclusão geral [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 86. 38 Sobre as quatro regras do Método Cartesiano (evidência, dividir, ordenar e avaliar) veja LEITE, Eduardo de oliveira. A monografia jurídica. 5 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. p. 22- 26. 39 “[...] explicitação prévia do(s) motivo(s), do(s) objetivo(s) e do produto desejado, delimitando o alcance temático e de abordagem para a atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa.” PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 54. 40 “[...] palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou à expressão de uma idéia.” PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 25. 41 “[...] uma definição para uma palavra ou expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 37. 42 “Técnica de investigação em livros, repertórios jurisprudenciais e coletâneas legais. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 209. CAPÍTULO 1 A PERSONALIDADE JURÍDICA DA PESSOA NATURAL E O NASCITURO O presente capítulo fará abordagem sobre a Personalidade Jurídica da Pessoa, qualidade essencial para se tornar sujeito de direito e contrair obrigações. Será analisada a Pessoa Natural e sua capacidade no âmbito jurídico de acordo com leis e doutrinas. E, por fim, tratar-se-á sobre as teorias a respeito do Nascituro e os direitos resguardados para este. 1.1 A PERSONALIDADE JURÍDICA Em se tratando de Personalidade Jurídica, percebe-se que os doutrinadores não chegam a um consenso do verdadeiro sentido da palavra. Para alguns como Gagliano e Pamplona Filho43 e Venosa44, a Personalidade Jurídica seria apenas uma aptidão universal do sujeito para realizar negócios jurídicos e contrair obrigações, da qual já nasce com o indivíduo. Para outros como Coelho45 e Tartuce46, mais do que isso, seria um atributo reconhecido a uma Pessoa, já que também existem seres não personificados que também podem adquirir deveres, como as pessoas jurídicas. 43 GAGLIANO, Pablo Stolze. PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil: parte geral 1. 14ª ed. São Paulo. Editora Saraiva. 2012. p.112. 44 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: parte geral. 10ª Ed. São Paulo. Editora Atlas S.A. 2010. p. 133-134. 45 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Civil: parte geral. 5º ed. São Paulo. Editora Saraiva. 2012. p. 142. 46 TARTUCE, Flávio. Direito Civil 1: lei de introdução e parte geral. 11º ed. São Paulo. Editora Método.2015. p.120. 25 De acordo com Gagliano e Pamplona Filho47, a Personalidade Jurídica se conceitua como: “A aptidão genérica para titularizar Direitos e contrair obrigações, ou seja, é o atributo necessário para ser sujeito de direito”. Ou seja, a Personalidade Jurídica nada mais é do que a habilidade na qual o indivíduo adquire ao nascimento com vida, faz parte da Pessoa Natural, independentemente de sua vontade. Importante dizer que a Personalidade Jurídica também se refere a entes morais, a Pessoa Jurídica, pois são um grupo de Pessoas Naturais que se unem para um determinado fim. É como elucida Fiuza48: São entidades criadas para a realização de um fim e reconhecidas pela ordem jurídica como pessoas, sujeitos de direitos e deveres. São conhecidas como pessoas morais, no Direito Francês, e como pessoas coletivas, no Direito Português. Destaca-se que a Personalidade Jurídica é atributo destes entes porque são formados por indivíduos dotados de capacidade para os atos da vida civil, pois o direito não reconhece a Personalidade Jurídica a seres que não sejam humanos. Ressalta-se que em razão da Hipótese de pesquisa deste trabalho, apenas será explanado sobre a Personalidade Jurídica da Pessoa Natural. Portanto, acompanhando esta linha de raciocínio, o doutrinador Venosa49 conceitua a Personalidade Jurídica como: É projeção da personalidade íntima, psíquica de cada um; é projeção social da Personalidade psíquica, com consequências jurídicas. Dizia o Código Civil de 1916: “Art. 2º Todo homem é capaz de direitos e obrigações na ordem civil50”. [...] a Personalidade, no campo jurídico, 47 GAGLIANO, Pablo Stolze. PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil: parte geral 1. 14ª ed. São Paulo. Editora Saraiva. 2012. p.112. 48 FIUZA, Cesar. Direito Civil. 14ª ed. 2ª tiragem. Belo Horizonte. Editora Del Rey. 2010. p. 145 49 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: parte geral. 10ª Ed. São Paulo. Editora Atlas S.A. 2010. p. 133-134. 50 No Código Civil de 2002, esta definição encontra-se no artigo 1º que assim dispõe: Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil. 26 é a própria Capacidade Jurídica, a possibilidade de figurar nos polos da relação Jurídica. Venosa menciona acima, além do conceito da Personalidade Jurídica como sendo as obrigações recebidas a partir do momento em que a pessoa nasça com vida, cita que a Personalidade Jurídica também é a própria capacidade da Pessoa Natural. Entrando num contexto de que a Personalidade Jurídica vai muito além de uma característica atribuída genericamente à toda e qualquer pessoa, Coelho51 faz referência que a Personalidade Jurídica seria para determinadas Pessoas, tornando-se hábeis a exercerem relações jurídicas. Veja-se: Uma autorização genérica concedida pelo Direito para determinados sujeitos, tornando-os aptos à prática de qualquer ato jurídico não proibido. É uma decorrência do princípio da legalidade, expresso em norma constitucional: Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei (CF, art. 5º, II). Com a citação acima referida, entende-se que nem todos possuem a Personalidade Jurídica como um atributo, ela faz parte apenas de determinados sujeitos para que assim possam exercer seus direitos e obrigações. Concordando com o exposto, Farias e Rosenvald52 trazem o conceito de Personalidade Jurídica como sendo: Personalidade Jurídica é o atributo reconhecido a uma pessoa (natural ou jurídica), para que possa atuar no plano jurídico (titularizandoas mais diversas relações) e reclamar uma proteção jurídica mínima, básica, reconhecida pelos direitos da Personalidade. Neste sentido, entende-se que a Personalidade Jurídica está ligada a uma ideia de que certos sujeitos são aptos para exercerem relações jurídicas, sejam eles Pessoa Natural ou Pessoa Jurídica, onde este último, mesmo não sendo um ser personificado, possui esta característica. 51 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Civil: parte geral. 5º ed. São Paulo. Editora Saraiva. 2012. p. 142. 52 FARIAS, Cristiano Chaves de. ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil: parte geral e LINDB. 13º Ed. São Paulo. Editora Atlas. 2015. p. 135. 27 Continuando neste mesmo pensamento, traz-se à baila o conceito de Tartuce53 ao que concerne à Personalidade Jurídica: [...] a soma de caracteres corpóreos e incorpóreos da pessoa natural ou jurídica, ou seja, a soma de aptidões da Pessoa. Assim, a Personalidade pode ser entendida como aquilo que a pessoa é, tanto no plano corpóreo, quanto no social. No Brasil, a personalidade jurídica plena inicia-se com o nascimento com vida, ainda que por poucos instantes. Não se exige, como em outras legislações, que o recém-nascido seja apto para a vida, conforme determina o Código Civil francês. De acordo com o supracitado, é visto que a Personalidade Jurídica surge ao nascimento com vida, conforme dispõe o nosso ordenamento jurídico. Entretanto, percebe-se que este atributo não se trata a mera Pessoa Natural, mas também engloba os seres despersonificados, pois estes também realizam negócios jurídicos, também contraem obrigações jurídicas. Portanto, ainda como menciona Farias e Rosenvald54, a personalidade Jurídica não fica apenas em ser sujeito de direito, mas sim em ter uma tutela jurídica especial e exigir seus direitos fundamentais para assim se alcançar uma vida digna. A Personalidade Jurídica não se caracteriza apenas a seres personificados mas também aos despersonificados como se tem de exemplo o condomínio edilício e o espólio dos quais pode-se citar o conceito trazido por Coelho55 que assim preleciona: “Os sujeitos despersonificados não humanos são entidades criados pelo direito para melhor disciplinar os interesses de homens e mulheres”. 53 TARTUCE, Flávio. Direito Civil 1: lei de introdução e parte geral. 11º ed. São Paulo. Editora Método.2015. p.120. 54 FARIAS, Cristiano Chaves de. ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil: parte geral e LINDB. 13º Ed. São Paulo. Editora Atlas. 2015. p. 135. 55 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Civil: parte geral. 4º ed. São Paulo. Editora Saraiva. 2010. p. 167. 28 Referente ao Espólio, Coelho56 menciona que a Pessoa Natural ao falecer, geralmente deixam dividas ou patrimônios para serem administrados até o momento da Partilha, pois o sujeito de direito que ali existia se extingue com sua morte, mas as obrigações permanecem e devem ser cumpridas. Assim, surge o Espólio57, um sujeito despersonificado, representado pelo inventariante e nomeado pelo Juiz. Quanto ao Condomínio Edilício, trata-se de um conjunto de edificações que podem ser tanto comerciais quanto residenciais, onde os proprietários e em alguns casos locatários possuem interesses comuns. A administração é realizada por um sujeito despersonificado não humano chamado Condomínio Edilício, sendo responsável por todas as obrigações e deveres que ali necessitam.58 Tem-se também como um sujeito despersonificado, o próprio Nascituro que é a figura principal da presente pesquisa, do qual traz muitas controvérsias no conjunto de normas jurídicas vigentes. Por essa razão, adiante será realizada uma abordagem quanto as teorias existentes e os entendimentos trazidos por alguns doutrinadores. Por fim, a Personalidade Jurídica conforme exposto, caracteriza a Pessoa Natural, que é o ser humano, titular dos direitos e obrigações. Neste sentido, a fim de esclarecer sobre a Pessoa Natural, tratar-se-á do seu conceito. 1.2 O CONCEITO DE PESSOA NATURAL 56 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Civil: parte geral. 4º ed. São Paulo. Editora Saraiva. 2010. p. 168. 57 Espólio: É o conjunto de bens que integra o patrimônio deixado pelo “de cujus” e que será partilhado no inventário[...]. Dicionário Jurídico. Disponível em: http://www.direitonet.com.br/dicionario/exibir/790/Espolio. Acesso em: 02 ago 2016. 58 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Civil: parte geral. 4ª ed. São Paulo. Editora Saraiva. 2010. p. 168. 29 Sendo explanado acerca da Personalidade Jurídica tanto do sujeito personificado quanto do despersonificado, neste item será feita uma análise a respeito da Pessoa Natural, ou seja, do indivíduo no qual foi conferido direitos e deveres. De acordo com doutrinadores como Venosa59, Pereira60 e Tartuce61, percebe-se que possuem uma opinião unânime quando se referem ao conceito de Pessoa Natural. Trazem em suas publicações que a Pessoa Natural é o titular de direito e obrigações que se adquire ao nascimento com vida e se extingue com a morte. O ordenamento jurídico brasileiro traz o conceito da Pessoa Natural no CC/200262, em seu artigo 1º que assim dispõe: “Art. 1º Toda Pessoa é capaz de Direitos e deveres na ordem civil”. Nesta mesma linha de raciocínio, Venosa63 conceitua a Pessoa Natural como: Entendemos por pessoa o ser ao qual se atribuem direitos e obrigações. A personalidade Jurídica é projeção da personalidade íntima, psíquica de cada um; é projeção social da Personalidade psíquica, com consequências jurídicas. Assim entende-se que a Pessoa Natural no ordenamento Jurídico se refere ao ser humano no qual é atribuído direitos e obrigações. É sujeito de Direito, dotado de Personalidade Jurídica. Conforme preleciona Rodrigues64, dizer que o homem tem personalidade é o mesmo que dizer que ele tem capacidade para ser titular de 59 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: parte geral. 10ª Ed. São Paulo. Editora Atlas S.A. 2010. p. 133. 60 PEREIRA, Caio Mario da Silva. Instituições de Direito Civil: introdução ao direito civil. teoria geral de direito civil. 22º Ed. Rio de Janeiro. Editora Forense. 2008. p. 213. 61 TARTUCE, Flávio. Direito Civil 1. lei de introdução e parte geral. 11º ed. São Paulo. Editora Método.2015. p. 119-120. 62 BRASIL. Lei nº 10.406, 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm. Acesso em: 11 mai 2016. 63 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: parte geral. 10ª Ed. São Paulo. Editora Atlas S.A. 2010. p. 133. 30 direitos e que tal personalidade se adquire com o nascimento com vida. Assim, conceitua o artigo 2º do CC/2002: “A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida [...]” Esta personalidade adquirida pelo indivíduo ao nascer com vida termina com sua morte conforme dispõe o artigo 6º do CC/2002: “A existência da pessoa natural termina com a morte [...]” Segundo Pereira65, a Pessoa Natural está conceituada como: A ideia de personalidade está intimamente ligada à de pessoa, pois exprime a aptidão genérica para adquirir direitos e contrair deveres [...] o direito reconhece os atributos da personalidade com um sentido de universalidade, e o Código Civil o exprime, afirmando que toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil (art. 1º). Neste sentido, a Pessoa Natural que o ordenamento jurídico se refere, da qual adquire Personalidade ao nascer, contrai direitos e obrigações e, consequentemente, torna-se um sujeito de Direito. Seguindo neste mesmo pensamento, Tartuce66 conceitua a Pessoa Natural como: Como se sabe, a todo direito deve corresponder um sujeito, uma pessoa, que detém a sua titularidade. Por isso, prescreve o artigo 1º do CódigoCivil em vigor que: “Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil”. Ao contrário do Código Civil anterior, o atual prefere utilizar a expressão pessoa em vez de homem, constante do artigo 2º do Código de 1916, e tida como discriminatória, inclusive pelo texto da constituição de 1988 que comparou homens e mulheres (art. 5º, inciso I). Esse mesmo dispositivo da atual codificação traz a ideia de pessoa inserida no meio social, com a sua dignidade valorizada, à luz do que consta no texto maior, particularmente no seu artigo 1º, inciso III, um dos ditames do Direito Civil Constitucional. O conceito definido de Pessoa Natural como se percebe, refere-se ao sujeito que ao nascimento com vida contrai deveres e adquire direitos, todavia, esta personalidade recebida termina com sua morte. 64 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: parte geral. 34º Ed. Volume 1. São Paulo. Editora Saraiva. 2003. p. 35-36. 65 PEREIRA, Caio Mario da Silva. Instituições de Direito Civil: introdução ao direito civil. teoria geral de direito civil. 22º Ed. Rio de Janeiro. Editora Forense. 2008. p. 213. 66 TARTUCE, Flávio. Direito Civil 1: lei de introdução e parte geral. 11º ed. São Paulo. Editora Método.2015. p. 119-120. 31 1.2.1 A capacidade civil Ao estudar-se a Pessoa Natural, é cogente a abordagem quanto a Capacidade Civil do sujeito que, em sentido amplo, é a capacidade da pessoa para exercer os atos da vida civil. De acordo com Tartuce67, a Capacidade Civil é conceituada como: “Aptidão da pessoa para exercer direitos e assumir deveres na órbita Civil [...], é o elemento da Personalidade, é a medida jurídica da Personalidade”. Desta forma, a Capacidade Civil é um item para se reconhecer quando o sujeito de direito é apto para exercer os direitos e deveres que recebe em vida. Neste mesmo entendimento, Pereira68 conceitua a Capacidade Civil como: Aliada a ideia de personalidade, a ordem jurídica reconhece ao indivíduo a capacidade para a aquisição dos direitos e para exercê- los por si mesmo, diretamente, ou por intermédio (pela representação), ou com a assistência de outrem. Personalidade e Capacidade completam-se: de nada valeria a Personalidade sem a Capacidade Jurídica que se ajusta assim ao conteúdo da Personalidade, na mesma e certa medida em que a utilização do direito integra a ideia de ser alguém titular dele. Neste sentido, a Capacidade Civil propriamente dita nada mais é do que ser hábil para praticar os atos da vida Civil, exercer negócio jurídico. Ela se adquire com o passar do tempo, diferente de Personalidade que é um atributo da Pessoa, já nasce com ela. Em nosso sistema do qual se inserem as normas jurídicas, a Capacidade Civil se divide em duas classes: a de Direito e a de Fato. A primeira se refere a pessoa humana como sendo titular de Direitos e Obrigações, quanto a 67 TARTUCE, Flávio. Direito Civil 1: lei de introdução e parte geral. 11º ed. São Paulo. Editora Método.2015. p.130. 68 PEREIRA, Caio Mario da Silva. Instituições de Direito Civil: introdução ao direito civil. teoria geral de direito civil. 22º Ed. Rio de Janeiro. Editora Forense. 2008. p. 263. 32 segunda é a capacidade que o indivíduo possui por si mesmo para praticar os atos da vida civil. Conceitua Farias e Rosenvald:69 [...] a capacidade de direito (ou de Gozo) é a própria aptidão genérica reconhecida universalmente, para que assim alguém possa ser titular de direitos e obrigações, é a possibilidade de ser um Sujeito de Direito. Frisa-se que esta aptidão toda pessoa natural possui, simplesmente por ser um ser humano. Distintamente da capacidade de direito é a capacidade de fato, que pertine a aptidão para praticar pessoalmente os atos da vida civil. Admite, por conseguinte, variação e gradação. Comporta verdadeira diversidade de graus, motivo pelo qual se pode ter pessoas plenamente capazes e de outra banda, pessoas absolutamente incapazes e relativamente incapazes. Já Venosa70 aponta a Capacidade de Fato ou Exercício como aptidão da pessoa para exercer por si mesma os atos da vida civil, sendo que essa aptidão requer certas qualidades, sem as quais, a pessoa se tornará absolutamente ou relativamente incapaz. Por outro lado, a capacidade de gozo todo ser humano possui, é atribuída a toda pessoa. Seguindo a mesma linha de raciocínio, Tartuce71 menciona que a Capacidade de Direito é a competência para ser sujeito de direito e deveres na ordem Civil. Ao contrário, a Capacidade de Fato é aptidão para exercer os direitos, sendo que aqueles que não possuem este tipo de capacidade, são denominados incapazes. Nota-se que a Capacidade de gozo ou Direito é uma aptidão para qualquer pessoa, pois todos podem ser sujeitos de direito, contrair obrigações, diferente da Capacidade de Fato, pois nesta se faz necessário que a pessoa tenha a Capacidade Plena para praticar os atos da vida Civil, ou seja, Capacidade de Direito mais a Capacidade de Fato. Se o indivíduo for absolutamente ou relativamente incapaz, não terá Capacidade de Fato, apenas de Direito. 69 FARIAS, Cristiano Chaves de. ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil: parte geral e LINDB. 13º Ed. São Paulo. Editora Atlas. 2015. p. 272. 70 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: parte geral. 10ª Ed. São Paulo. Editora Atlas S.A. 2010. p. 139. 71 TARTUCE, Flávio. Direito Civil 1: lei de introdução e parte geral. 11º ed. São Paulo. Editora Método.2015. p.217. 33 Importante ressaltar que no ano de 2015, os artigos que tratam da Capacidade Civil no CC/2002 foram revogados pela Lei 13.146/201572 que trata do Estatuto da Pessoa com Deficiência. Antes, os portadores de deficiência eram considerados incapazes, porém, com o advento deste Estatuto, estes passam a ser pessoas absolutamente capazes para os atos da vida civil. A partir desta reforma, o artigo 3º do CC/200273 menciona que: “São Absolutamente Incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida Civil os menores de 16 (dezesseis) anos.” Os relativamente incapazes estão transcritos no artigo 4º do CC/200274, que assim dispõe: São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer: I – os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II- os ébrios habituais e os viciados em tóxico; III- aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; IV- os pródigos. Parágrafo único: A capacidade dos indígenas será regulada pela legislação especial. Este é o rol taxativo que o ordenamento jurídico faz referência quanto aos absolutamente e relativamente incapazes, sendo que estes para exercer seus direitos e obrigações deverão ser representados ou assistidos por pessoas de capacidade plena. 72 BRASIL. Lei 13.146/2015, 06 de julho de 2015: Institui o Estatuto da Pessoa com Deficiência. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm. Acesso em 02 jun 2016. 73 BRASIL. Lei nº 10.406, 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil: Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm. Acesso em: 21 mai 2016. 74 BRASIL. Lei nº 10.406, 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil: Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm. Acesso em: 21 mai 2016. 34 Portanto, o início da Personalidade Jurídica da Pessoa Natural é idealizado segundo três teorias: a Teoria Concepcionista, a Teoria Natalista e a Teoria da Personalidade Condicional. Estas teorias serão objeto de análise a seguir. 1.3 A TEORIA CONCEPCIONISTA A Teoria Concepcionista fundamenta que o Nascituro desde sua concepção se considera um ser dotado de Personalidade Jurídica, poiso nascimento com vida é apenas para consolidar os seus direitos que já lhe são garantidos. De acordo com este entendimento, Tartuce75 conceitua como: [...] não há dúvidas em afirmar que, na doutrina civilista atual brasileira, prevalece o entendimento de que o nascituro é pessoa humana, ou seja, que ele tem direitos reconhecidos em lei, principalmente os direitos existenciais de personalidade. Nota-se que esta Teoria denota o Nascituro não apenas com mera expectativa de direito, esperando que tenha um nascimento com vida para ser sujeito de direito. Ao contrário, desde sua concepção, já possui seus direitos fundamentais e patrimoniais resguardados. Na mesma linha de pensamento, a autora em sequência fala que não há como contradizer a Teoria Concepcionista, afinal se o Nascituro já possui expectativas de direito perante as outras teorias, logo tem capacidade e consequentemente a Personalidade Jurídica reconhecida. Assim, preleciona Almeida76: Juridicamente, entram em perplexidade total aqueles que tentam afirmar a impossibilidade de atribuir capacidade ao nascituro, ‘por este não ser pessoa’. A legislação de todos os povos civilizados é a primeira a desmenti-lo. Não há nação que se preze (até a China) onde não se reconheça a necessidade de proteger os direitos do 75 TARTUCE, Flávio. Direito Civil 1: lei de introdução e parte geral. 11º ed. São Paulo. Editora Método.2015. p.128. 76 ALMEIDA, Silmara J. A. Chinelato e. Tutela Civil do Nascituro. São Paulo: Saraiva, 2000. 35 nascituro (código chinês, art. 1º). Ora, quem diz direitos, afirma capacidade. Quem afirma capacidade, reconhece personalidade. Destarte, o entendimento exposto pela autora supracitada e dotada por alguns doutrinadores como Farias e Rosenvald77 e Tartuce78, o Nascituro vem reconhecido como pessoa, com Capacidade de Direito e dotado de Personalidade Jurídica, pois tem proteção legal dos seus direitos. Seguindo essa linha de pensamento, confere-se um julgado do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina79: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA DE SEGURO OBRIGATÓRIO. DPVAT. ABORTO. APELAÇÃO. PRELIMINAR DE IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO AFASTADA. NASCITURO. PESSOA QUE TITULARIZA DIREITOS. EXEGESE SISTEMÁTICA DOS ARTS. 2º, 542, 1.779 E 1.798 DO CC; BEM COMO DO ART. 8º DO ECA. ORDENAMENTO JURÍDICO QUE SE ALINHA À TEORIA CONCEPCIONISTA. FATO QUE SE SUBSOME AOS ARTS. 3º E 4º DA LEI 6.194/74. PERECIMENTO DA VIDA INTRAUTERINA. INDENIZAÇÃO DEVIDA. RECURSO ADESIVO. INAPLICABILIDADE DO § 1º DO ART. 11 DA LEI 1.060/50. ADVENTO DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL QUE INSTITUI O SISTEMA DA SUCUMBÊNCIA NO ART. 20. MAJORAÇÃO DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS INDEVIDA. SENTEÇA QUE RESPEITA OS DITAMES PREVISTOS NAS ALÍNEAS "A", "B" E "C" DO § 3º DO ART. 20 DO CPC. RECURSOS CONHECIDOS E DESPROVIDOS. I - IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO. O ordenamento jurídico alinha-se à teoria concepcionista, o que demonstra ser a interpretação mais contemporânea aquela que dá ênfase ao fim do art. 2º do CC: a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro, permitindo a utilização do art. 1º do CC: Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil. Além disso, seria desarrazoado negar ao nascituro o direito à vida. II - RECURSO ADESIVO. O art. 11, § 1º, da Lei 1.060/50 não mais se aplica após o advento do Código de Processo Civil que instituiu o sistema da sucumbência em seu art. 20 do CPC, mormente o § 3º que elevou o percentual máximo a 20% do valor da condenação. Não há como majorar o valor arbitrado, pois a sentença o fixou devidamente ao respeitar os ditames previstos nas alíneas "a", "b" e "c" do § 3º do art. 20 do CPC. 77 FARIAS, Cristiano Chaves de. ROSENVALD, Nelson. Direito Civil: teoria geral. 9ª ed. Rio de Janeiro. Editora Lumen Juris. 2011. p. 324. 78 TARTUCE, Flávio. Direito Civil 1: lei de introdução e parte geral. 11º ed. São Paulo. Editora Método.2015. p.128. 79 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina. Apelação Cível nº 2013.041815-9, de Chapecó. Relator: Desembargador Júlio Cesar M Ferreira de Melo. Julgado em: 23-02-2015. Disponível em: http://busca.tjsc.jus.br/jurisprudencia/busca.do#resultado_ancora. Acesso em 11 jun 2016. 36 Percebe-se que foi devida a indenização para a genitora que teve a gravidez interrompida por conta do acidente de trânsito, utilizando-se como fundamento que o Nascituro é provido de Personalidade Jurídica desde sua concepção. Defendendo a Teoria Concepcionista, Gagliano e Pamplona Filho80 sob esse liame, aduz que o Nascituro tem a proteção legal dos seus direitos. Observa-se: a) o nascituro é titular de direitos personalíssimos (como o direito à vida, o direito à proteção pré-natal etc.); b) pode receber doação, sem prejuízo do recolhimento do imposto de transmissão inter vivos81; c) pode ser beneficiado por legado e herança; d) pode ser-lhe nomeado curador para a defesa dos seus interesses (arts. 877 e 878 do CPC82); e) o Código Penal tipifica o crime de aborto; f) como decorrência da proteção conferida pelos direitos da personalidade, o nascituro tem direito à realização do exame de DNA, para efeito de aferição de paternidade. Desta forma, entende-se que para os defensores desta teoria, o Nascituro é considerado uma pessoa, revestido de Personalidade Jurídica porque possui seus direitos resguardados desde sua concepção no ventre materno. Logo, 80 GAGLIANO, Pablo Stolze. PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil: parte geral 1. 16ª ed. 2ª tiragem. São Paulo. Editora Saraiva. 2014. p. 134 81 Inter vivos: Entre vivos. Diz-se da doação propriamente dita, com efeito atual, realizada de modo irrevogável, em vida do doador. Dicionário em Latim. Disponível em: http://www.dicionariodelatim.com.br/inter-vivos/. Acesso em: 13 jun 2016. 82 Artigos de acordo com o Código de Processo Civil de 1973. Não há dispositivo correspondente no Código de Processo Civil de 2015, mas os pedidos cautelares podem ser pleiteados no processo comum, a título provisório incidental ou antecedente de acordo com os artigos 300 a 310 do NCPC/2015. 37 não possui mera expectativa de direito, pois o Nascituro tem sua tutela jurídica independentemente se nascerá com vida ou não. 1.4 A TEORIA NATALISTA A Teoria Natalista pode-se dizer que é a mais recepcionada entre os doutrinadores e adotada pelo ordenamento jurídico brasileiro, onde defendem que a Personalidade Jurídica do Nascituro se adquire apenas ao nascimento com vida, antes disso, o que ele possui é apenas uma mera expectativa de direitos. Trazendo a primeira explanação referente a esta teoria, Rodrigues83 diz em sua obra que: Nascituro é o ser já concebido, mas que ainda se encontra no ventre materno. A lei não lhe concede personalidade, a qual só lhe será conferida ao nascer com vida. Mas, como provavelmente nascerá com vida, o ordenamento jurídico desde logo preserva seus interesses futuros, tomando medidas para salvaguardar os direitos que, com muita probabilidade, em breve será seus. Seguindo a mesma linha de raciocínio, Fiuza84 preleciona que: O Direito Brasileiro tampouco deixa a questão fora de margens de dúvida. O art. 2º do Código Civil é claro ao adotar a doutrina natalista: “a personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida”. Em que pese a má redação (personalidade da pessoa – seria melhor personalidade do ser humano), o texto é cristalino: é o nascimento com vida que dá início à personalidade. Neste sentido, como o Nascituro é um ser que ainda não nasceu, não se considera personificado, isto ocorre apenas ao nascimento com vida, como assegura a primeira parte do artigo 2º do CC/200285, que assim dispõe: 83 RODRIGUES, Silvio. DireitoCivil: parte geral. 34º Ed. Volume 1. São Paulo. Editora Saraiva. 2003. p.36. 84 FIUZA, César. Direito Civil: curso completo. 14ª ed. 2ª tiragem. Belo Horizonte. Editora Del rey. 2010. p. 125 85 BRASIL. Lei nº 10.406, 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm. Acesso em: 21 mai 2016. 38 A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida”. Entretanto, o mesmo artigo em sua segunda parte cita que os direitos pertencentes a este ser serão resguardados: “ mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro”. Seguindo o mesmo pensamento, Venosa86 conceitua da seguinte forma: O código tem várias disposições a respeito do nascituro, embora não o conceba como personalidade. [...] O nascituro é um ente já concebido que se distingue de todo aquele que não foi ainda concebido e que poderá ser sujeito de direito no futuro, dependendo do nascimento, tratando-se de uma prole eventual. Ou seja, o autor refere-se ao Nascituro como possuidor de direitos eventuais, mera expectativa, um ente que mesmo não sendo considerado como um indivíduo atribuído de Personalidade Jurídica, mantém seus direitos resguardados, como: o Direito à vida, a alimentos, a Herança, sendo que esta garantia cessa se nascer morto (natimorto). Nesta mesma perspectiva, Pereira87 pactua com o mesmo pensamento quando trata-se de explanar o que o Nascituro é e os direitos a ele pertencentes. Por isso, o autor preleciona que: O nascituro não é ainda uma pessoa, não é um ser dotado de personalidade jurídica. Os direitos que se lhe reconhecem permanecem em estado potencial. Se nasce e adquire personalidade, integram-se na sua trilogia essencial, sujeito, objeto e relação jurídica; mas, se se frustra, o direito não chega a constituir- se, e não há falar, portanto, em reconhecimento de personalidade ao nascituro, nem se admitir que antes do nascimento já ele é sujeito de direito. Tão certo é isto que, se o feto não vem a termo, ou se não nasce vivo, a relação por intermédio do natimorto, e a sua frustração opera como se ele nunca tivesse sido concebido, o que bem comprova a sua inexistência no mundo jurídico, a não ser que tenha nascimento. Percebe-se que o autor destaca o Nascituro como apenas um ser que pode vir a existir, onde lhe são assegurados e garantidos seus direitos até o 86 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: parte geral. 10ª Ed. São Paulo. Editora Atlas S.A. 2010. p. 137. 87 PEREIRA, Caio Mario da Silva. Instituições de Direito Civil: introdução ao direito civil. teoria geral de direito civil. 22º Ed. Rio de Janeiro. Editora Forense. 2008. p. 217. 39 momento que nascer com vida e, a partir disto, torna-se um sujeito de direito, cria Personalidade Jurídica. Em acordo com o citado, Coelho88 também faz referência sobre o Nascituro acerca da Teoria Natalista, com o entendimento de que o CC/200289 se refere a esta interpretação. Veja-se: O art. 2º do CC estabelece que: “a personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro”. Isso significa que, antes do nascimento com vida, o homem e a mulher não tem personalidade, mas, como já titularizam os direitos postos a salvo pela lei, são sujeitos de direitos. Desse modo, falecendo o pai quando o filho já se encontrava em gestação no útero da mãe, o nascituro é sucessor, a menos que não venha a nascer com vida. Verifica-se que para esta teoria, o Nascituro não será considerado uma Pessoa Natural atribuído de Personalidade Jurídica. Esta qualidade, será adquirida apenas ao nascer com vida, tornando-se sujeito de direito. Enquanto Nascituro, apenas tem seus direitos resguardados e protegidos por um representante legal. 1.5 A TEORIA DA PERSONALIDADE CONDICIONAL Após realizada abordagem acerca da Teoria Concepcionista e a Teoria Natalista, esta última sendo a adotada pelo ordenamento jurídico brasileiro, importante também estudar-se a Teoria da Personalidade Condicional ou também conhecida como a mista, que nada mais é do que a teoria que defende os direitos do Nascituro apenas quando trata-se de direitos personalíssimos. Alguns doutrinadores mais criteriosos como Wald90, Monteiro91, Diniz92 e Gonçalves93, são adeptos a Teoria da Personalidade 88 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Civil: parte geral. 4ª ed. São Paulo. Editora Saraiva. 2010. p. 159. 89 BRASIL. Lei nº 10.406, 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm. Acesso em: 21 mai 2016. 90 WALD, Arnoldo. Direito Civil: introdução e parte geral. 13ª ed. São Paulo. Editora Saraiva. 2011. p. 170. 40 Condicional. Ela se resume em que o Nascituro mantem protegidos apenas seus direitos personalíssimos, já que se trata de aspectos inerentes à dignidade da pessoa humana. Mencionado isto, importante trazer o conceito de dignidade da pessoa humana para melhor compreensão. Assim dispõe Sarlet94: [...] dignidade da pessoa humana a qualidade intrínseca e distintiva reconhecida em cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa e co-responsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos. Neste sentido, compreende-se que a dignidade da pessoa humana nada mais é do que um reconhecimento ao indivíduo, a fim de se ter uma vida digna, justa, fornecendo assistência, saúde, educação [...], cabendo ao Estado garantir estes direitos fundamentais para se viver harmoniosamente entre as demais pessoas. Em continuidade ao conceito da Teoria da Personalidade Condicional, temos por outro lado, o direito patrimonial, que será concedido apenas se vier a nascer com vida, quando este se torna sujeito de direito. Desta forma, conceitua Wald95: O nascituro não é sujeito de direito, embora mereça a proteção legal, tanto no plano civil como no plano criminal [...] A proteção do nascituro explica-se, pois há nele uma personalidade condicional que 91 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil: parte geral 1. 42ª ed. 2ª tiragem. São Paulo. Editora Saraiva. 2009. p. 66-68. 92 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: teoria geral do direito civil. 29ª ed. São Paulo. Editora Saraiva. 2012. p. 221-222. 93 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: de acordo com o novo código civil brasileiro (lei n. 10.406, de 10-1-2002). Parte geral volume I. São Paulo. Editora Saraiva. 2003. p. 79. 94 SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais: na constituição federal de 1988. 4ª ed. Porto Alegre. Editora Livraria do Advogado.2006. p. 60 95 WALD, Arnoldo. Direito Civil: introdução e parte geral. 13ª ed. São Paulo. Editora Saraiva. 2011. p. 170. 41 surge, na sua plenitude, com o nascimento com vida e se extingue no caso de não chegar a viver. Tratando-se de direitos patrimoniais, ocorre sob a condição suspensiva, pois enquanto o Nascituro não nascer, seus direitos inexistem. Entretanto, se ocorrer o nascimento com vida, esta condição que por ora encontrava-se suspensa, acaba extinguindo-se, porque a partir deste momento o Nascituro torna-se pessoa e receberá tudo que for seu por direito, já que estará atribuído de Personalidade Jurídica. Monteiro96faz referência em sua doutrina a seguinte conceituação acerca desta teoria: [...] a personalidade começa do nascimento com vida; nem por isso, entretanto, são descurados os direitos do nascituro. [...]. Por assim dizer, o nascituro é pessoa condicional; e a aquisição da personalidade acha-se sob a dependência de condição suspensiva, o nascimento com vida. Nota-se que o feto terá apenas suspenso seu direito patrimonial, enquanto o direito personalíssimo manterá resguardado, pois é direito fundamental e não pode ser violado. Logo, tem a proteção jurídica para isso. Assim, pelo fato de que provavelmente o Nascituro vem a nascer com vida, o ordenamento jurídico preserva seus interesses que serão concretizados após a ocorrência do fato. Neste segmento, Gonçalves97 preleciona: Antes do nascimento não há personalidade. Ressalvam-se, contudo, os direitos do nascituro, desde sua concepção. Nascendo com vida, a sua existência, no tocante aos seus interesses, retroage ao momento de sua concepção. Os direitos assegurados ao nascituro encontram-se em estado potencial, sob condição suspensiva. Neste mesmo pensamento, Maria Helena Diniz98, adepta também a esta teoria, divide em duas classes: a formal e a material. Observa-se: 96 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil: parte geral 1. 42ª ed. 2ª tiragem. São Paulo. Editora Saraiva. 2009. p. 66-68 97 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: de acordo com o novo código civil brasileiro (lei n. 10.406, de 10-1-2002). Parte geral volume I. São Paulo. Editora Saraiva. 2003. p. 79. 42 [...] a personalidade jurídica inicia-se com o nascimento com vida, ainda que o recém-nascido venha a falecer instantes depois [...] Poder-se-ia até mesmo afirmar que na vida intrauterina tem o nascituro e na vida extrauterina tem o embrião, concebido in vitro, personalidade jurídica formal, no que atina aos direitos de personalidade, visto ter carga genética diferenciada desde a concepção, seja ela in vivo ou in vitro [...] passando a ter personalidade jurídica material, alcançando os direitos patrimoniais e obrigacionais, que se encontravam em estado potencial, somente com o nascimento com vida. Assim sendo, a Personalidade Jurídica formal se refere ao direito personalíssimo que o nascituro possui, sendo direito à vida, ao pré-natal, etc. Já a Personalidade jurídica material é adquirida após o nascimento com vida, onde o Nascituro se transformará em sujeito de direito. 1.6 O NASCITURO O Nascituro é um ser concebido, mas que se encontra no ventre materno. Em outras palavras, o Nascituro é sinônimo de feto e mesmo que ainda não tenha nascido, a lei protege seus direitos. Neste seguimento, Farias e Rosenvald99 conceitua o Nascituro como: Etimologicamente, nascituro é palavra derivada do latim nasciturus, significando aquele que deverá nascer, que está por nascer [...] o nascituro não se confunde com concepturo, que não foi concebido ainda. É o caso chamado da prole eventual, isto é, aquele que será gerado, concebido, a quem se permite deixar benefício em testamento, dês que venha a ser concebido nos dois anos subseqüentes à morte do testador (CC, art. 1.800, §4º). Neste sentido, é o feto alojado no ventre materno, formando-se até o momento do nascimento. Pamplona e Meirelles100 conceituam como: 98 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: teoria geral do direito civil. 29ª ed. São Paulo. Editora Saraiva. 2012. p. 221-222. 99 FARIAS, Cristiano Chaves de. ROSENVALD, Nelson. Direito Civil: teoria geral. 9º Ed. Rio de Janeiro. Editora Lumen Juris. 2011. p. 321-322. 100 PAMPLONA FILHO, Rodolfo. ARAÚJO, Ana Tereza Meirelles. Tutela Jurídica do Nascituro à luz da Constituição Federal. In: Revista Evocati. Número 23. ISSN 1980-6434. Disponível em: 43 O significado etimológico da palavra nascituro é “o que está por nascer”. Portanto, ente já concebido (onde já ocorreu a fusão dos gametas, a junção dos óvulos ao espermatozóide formando o zigoto ou embrião), nidado (implementado nas paredes do útero materno), porém não nascido. Conforme relata ainda Pamplona e Meirelles101, existem certas divergências do conceito sobre aquele que está por nascer, referente ao desenvolvimento do embrião, pois existem certas dificuldades para saber o momento exato em que o embrião ou zigoto começa a ser conhecido como Nascituro. Contudo, a opinião predominante é que o Nascituro surge com o fenômeno chamado nidação, ou seja, a partir da fixação do zigoto nas paredes do útero, como colocado anteriormente pelos mesmos autores. Neste sentido, compreende-se que o Nascituro se difere de embrião, pois este último é quando ocorre a fusão dos gametas masculino e feminino, formando-se numa única célula que é conhecido como o zigoto, ocorrendo a partir deste momento a fertilização. Em seguida, num prazo que leva entre 05 (cinco) a 12 (doze) dias, ocorre a nidação, ou seja, a implantação deste zigoto na parede do útero, passando a partir deste momento ser considerado Nascituro. Dito isso, cito ainda o conceito de Carneiro Filho102 a respeito de Nascituro, que assim dispõe: [...] nascituro é o ser humano já concebido, dotado de direitos e cujo nascimento se espera, assim, essa característica é conservada até enquanto vive intrauterinamente, ou seja, desde a concepção até a conclusão do parto, de modo que ao autonomizar-se exteriormente é o humano tido por nascido, desvinculado das entranhas maternas, contudo, restando ainda unido por fortes laços de dependência biológica e afetiva à sua genitora. http://www.evocati.com.br/evocati/interna.wsp?tmp_page=interna&tmp_codigo=166&tmp_secao=12 &tmp_topico=direitocivil&wi.redirect=PXTH8T19US2JJS6C3PSI. Acesso em: 08 jun. 2016. 101 PAMPLONA FILHO, Rodolfo. ARAÚJO, Ana Tereza Meirelles. Tutela Jurídica do Nascituro à luz da Constituição Federal. In: Revista Evocati. Número 23. ISSN 1980-6434. Disponível em: http://www.evocati.com.br/evocati/interna.wsp?tmp_page=interna&tmp_codigo=166&tmp_secao=12 &tmp_topico=direitocivil&wi.redirect=PXTH8T19US2JJS6C3PSI. Acesso em: 08 jun 2016. 102 CARNEIRO FILHO, Humberto João. De Persona a Pessoa: O Reconhecimento da Dignidade do Nascituro Perante a Ordem Jurídica Brasileira. 1º ed. Recife. Editora UFPE. 2013. p. 31. 44 Deste modo, observa-se que o conceito de Nascituro é genérico, tratando-se sempre de um ser que foi concebido. Quando foi apresentado sobre a Personalidade Jurídica do Nascituro, foi visto que o artigo 2º do CC/2002 é que dá garantia aos direitos resguardados por este conforme descreve: “ A Personalidade Civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro”103. O Direito Civil Brasileiro apresenta muitos direitos, dentre quais pode-se citar: adoção; doação; alimentos; direitos sucessórios [...]. Sendo que, atualmente, nem todos o Nascituro pode resguardar. Em referência ao primeiro direito citado, Semião104 preleciona que: No Código Civil de 2002 não mais contem a possibilidade da adoção do nascituro, como estava consignado expressamente no art. 372 do Código Civil de 1916 [...] é que ainda não tendo nascido, repetimos mais uma vez, não tem ele sequer idade e, tendo em vista que o Estatuto não prevê a adoção em estado de nascituro, o instituto quanto a ele não se aplica, por vontade implícita da Lei. Neste sentido, percebe-se não será concedida a adoção ao Nascituro, pois foi revogado o seu direito pela Lei 8.069/1990105, não mantendo o que dizia o dispositivo do CC/1916. Quanto a doação, o CC/2002 dispõe em seu artigo 542106
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