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Identidades Surdas e Marcas Culturais

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Aula 10: Identidades surdas e as marcas da surdez
Apresentação
Nesta aula, vamos conhecer as diferentes identidades surdas, compreendendo a diversidade e desconstruindo o pensamento de grupo homogêneo. As identidades surdas são definidas a partir da identidade Surda política, por isso, quando nos referimos à identidade surda, vêm em nossa mente os surdos que usam a língua de sinais, participam da cultura surda e reivindicam o direito de ser surdo.
Vamos conhecer também os marcadores culturais surdos. A experiência visual é uma importante marca cultural e define as identidades surdas. A percepção de mundo se dá por meio da visão, sem experiências auditivas, por isso a visualidade é fundamental na constituição do sujeito surdo.
O desejo de estarem juntos, as produções culturais, as artes visuais, a literatura surda, os casamentos endógamos e o modo de vida são alguns exemplos de marcadores culturais. O jeito surdo de ser, de perceber e de interagir com o mundo representa o que é ser Surdo, constituinte de uma identidade Surda.
Objetivos
· Identificar as diferentes identidades surdas, que são construídas de acordo com a história de vida de cada indivíduo, bem como em suas relações sociais;
· Registrar os marcadores culturais surdos, considerando a experiência visual como um artefato presente na constituição da identidade e do ser Surdo.
Como são formadas as identidades surdas?
Nesta aula, estudaremos as identidades surdas. Perceba que, mais uma vez, o termo é empregado no plural. Como salientamos na aula anterior, assumimos múltiplas identidades durante nossa existência, e essas variações identitárias estão relacionadas à diversidade humana e à sociedade contemporânea.
Quando nos referimos aos surdos, não estamos descrevendo um grupo homogêneo. Esses indivíduos possuem histórias de vida e experiências diferentes, por isso não é possível identificar apenas uma identidade e sim várias. Elas têm em comum as experiências visuais, a percepção de mundo por meio da visão.
Atenção
As identidades são construídas socialmente. Os surdos estão inseridos em um contexto, e as relações estabelecidas formam a sua identidade. A percepção de si mesmo e das pessoas que o cercam é um fator importante no desenvolvimento identitário.
Os surdos têm diferentes origens. Há aqueles que nascem em famílias de surdos enquanto outros nascem em famílias de ouvintes. As crianças, cujos pais também são surdos, já nascem em um ambiente que favorece a sua formação identitária. Não há choque cultural, e a língua falada nessa família será a mesma, assim como as experiências visuais.
As crianças surdas que nascem em famílias ouvintes não encontram no lar um ambiente linguístico favorável. Há um choque cultural e, na maioria das vezes, os pais não conhecem a cultura surda e seguem orientações estereotipadas da surdez. Por esse motivo, não levam seus filhos até a comunidade surda e buscam corrigir a deficiência do filho por meio da reabilitação. Muitas crianças crescem sem contato com a língua de sinais e sem desenvolver bem a oralidade, tendo dificuldade em se comunicar com a família e, principalmente, com a sociedade. Considerando essas questões, como os pais poderiam contribuir para o processo de formação de seus filhos?
Os pais poderiam amenizar essa situação se aprendessem a língua de sinais e possibilitassem o contato do filho com surdos adultos para aquisição linguística e formação da identidade. Só que não é isso que acontece na maioria dos casos.
Muitos só se reconhecem como sujeitos surdos mais tarde, aprendendo a língua de sinais e passando a conviver com a comunidade surda. Existem aqueles também que continuam seguindo o modelo ouvinte e se comunicando por meio da oralização, rejeitando a língua de sinais e a cultura surda. Só pelas origens e pela convivência dos surdos, podemos perceber que se formarão diferentes identidades.
Há casos de pessoas que já se comunicam por meio da língua oral, mas, por alguma doença ou por acidente, perdem a audição. Estes podem se inserir na comunidade surda ou não.
A pesquisadora surda Gladis Perlin dedicou-se a investigar as identidades surdas, considerando as histórias de vida e agrupando os surdos de acordo com suas características identitárias. Vamos conhecer, a seguir, as sete identidades surdas apresentadas por Perlin.
Identidades surdas
Como vimos, o meio influencia a construção das identidades, cabe-nos compreender, então, o ambiente de formação das identidades surdas. Segundo Perlin (1998, 2002), há sete tipos de identidades surdas que são construídas de acordo com o contexto social. Para a autora, existem três locais de construção dessas identidades:
Vamos compreender cada um desses ambientes?
Quando se está inserido em um ambiente onde a surdez é vista com inferioridade, na concepção da deficiência, a visão que se tem de si mesmo é de anormalidade. Vivendo em condições de subordinação, os surdos são impedidos de serem eles mesmos, pois existe uma cobrança quanto ao uso de aparelhos e de leitura labial. Nesse ambiente, não há liberdade para ser surdo, tornando-se necessária a correção da surdez, a reabilitação.
Na comunidade surda, a construção identitária se dá no encontro com seus pares, surdo com surdo. É um local de descobertas, de outras possibilidades. Muitos surdos, criado entre ouvintes, quando se deparam com a comunidade surda, identifica-se imediatamente, construindo novas identidades. Nesse local, são desenvolvidas as identidades de resistência.
O movimento cultural surdo, também chamado de anti-ouvintista, representa as lutas políticas e culturais. As identidades de resistência tornam-se identidades de projeto, que reivindicam os direitos surdos e resistem ao "ouvintismo", termo empregado pela comunidade surda para se referir à hegemonia linguística e cultural vivida por eles.
Saiba mais: A identidade é uma relação de poder e as mais fortes reprimem as mais fracas.
Muitos surdos foram e ainda são forçados a estabelecer uma identidade de ouvinte, mesmo que seja considerado um ouvinte defeituoso. Eles, como minorias, devem se esforçar para fazer parte da normalidade, que é atribuída ao fato de não ser surdo.
Muitas identidades vão se formando em diferentes espaços e com diferentes percepções da surdez. Perlin (1998, 2002) destaca sete identidades:
Que tal conhecer cada uma delas? Ao estudar as identidades, verifique qual delas te representa, caso seja surdo. Se for ouvinte, pense nos surdos que você conhece e relacione com as identidades que serão apresentadas a seguir, de acordo com a história de cada um. Vamos lá?
· Identidades Surdas (identidade política); A partir da identidade Surda, também chamada de identidade política, as demais são definidas. É uma identidade fortemente marcada pela política, é constituída por Surdos que participam da comunidade e da cultura Surda. O termo Surdo (com s maiúsculo) é usado para designar esses Surdos que se veem como sujeitos ativos e a surdez é marcada pela diferença.
· Híbridas; As identidades surdas híbridas são representadas por pessoas que nasceram ouvintes e, com o tempo, por motivos de doenças, acidentes etc., ficaram surdas. Dependendo da idade, podem usar a língua oral e a língua de sinais. Identificam-se e participam da comunidade surda.
· Flutuantes; As identidades surdas flutuantes são constituídas por surdos que vivem a hegemonia dos ouvintes, ou seja, concebem a surdez com preconceito. Seguem os modelos ouvintes e não participam da comunidade surda. Rejeitam a língua de sinais e se comunicam por meio da oralização.
· Embaraçadas; Nas identidades surdas embaraçadas, estão as pessoas surdas que são vistas como incapacitadas, numa representação estereotipada da surdez. Não fazem parte da identidade surda nem da identidade ouvinte, vivem isoladas e não conseguem se comunicar com nenhum dos dois grupos. É uma concepção de deficiência, de incapacidade, sem acesso a nenhuma língua.
· De transição; As identidades surdas de transição representam os surdos que transitam de uma identidade para outra. Nascem em famílias ouvintese crescem nesse meio, sem contato com outros surdos. Quando se encontram com a comunidade surda, há uma identificação e fazem essa transição. Isso acontece com muitos surdos, tendo em vista que a maioria nasce em lares ouvintes.
· De diáspora; Identidades surdas de diáspora consistem na migração de uma comunidade surda para outra, ou de um estado para outro ou, até mesmo, para outro país. Representam a origem do surdo, por exemplo, surdo brasileiro, surdo paulista etc.
· Intermediárias; Identidades intermediárias são representadas por pessoas que têm perda auditiva, mas levam uma vida de ouvintes, não captam a mensagem pela experiência visual, por isso não representam uma identidade surda.
Identificamos algumas identidades surdas, mas temos ciência de que pode haver outras possibilidades, pois as identidades estão em constantes mudanças assim como a sociedade contemporânea. Os surdos não representam um grupo homogêneo, suas histórias de vida e escolhas constroem suas identidades. Como não existe uma única forma de pensar, de conceber o mundo, precisamos respeitar as diferenças.
Como já dissemos anteriormente, as identidades surdas são definidas a partir da identidade cultural surda, identidade política. Essa identidade é formada por militantes das causas surdas, por aqueles que se aceitam e se veem apenas como diferentes e defendem seus direitos culturais e linguísticos. É importante salientar que essa identidade não deve exercer hegemonia sobre as demais, há de se respeitar as diferentes formas de construção identitária.
Ser surdo é pertencer a um mundo visual, e a falta de audição não é um impedimento de exercer a cidadania, apenas possibilita outra forma de comunicação. Os surdos percebem e interagem com o mundo por meio da visão, desenvolvem uma língua visual que é um importante marcador cultural, mas seria o único? Mesmo a língua ocupando uma posição de centralidade percebemos outros marcadores culturais. No tópico a seguir, vamos conhecer alguns deles.
Falar sobre marcas da surdez pode nos remeter a diferentes concepções, inclusive à visão clínica patológica. Nessa ótica, podemos conceber os aparelhos de amplificação sonora, os graus de perdas auditivas, implante coclear e a reabilitação, como marcas da surdez. Mas o que queremos enfatizar são os marcadores culturais, e estes estão relacionados ao modo de vida dos surdos, à formação da identidade Surda.
Coelho (2011) apresenta quatro modelos de legitimação da diferença aplicados à surdez:
· Modelo etnocêntrico;
· Modelo da tolerância;
· Modelo da generosidade;
· Modelo relacional.
Embora seja possível destacar esses modelos em diferentes momentos da história, eles ainda continuam presentes em diversos contextos.
No modelo etnocêntrico, há uma superioridade de uma etnia em relação à outra. Transpondo para nosso estudo, percebe-se a supremacia dos ouvintes em relação aos surdos. Na história, percebemos esse modelo em diferentes situações, como, por exemplo, nas experiências científicas feitas com surdos, na imposição do oralismo, no discurso da normalidade, na proibição de casamentos entre surdos etc. Nessa concepção, a surdez é um defeito a ser corrigido.
No modelo de tolerância, o outro é visto como diferente, e sua permanência na sociedade é tolerada. 
No modelo da generosidade, há a visão da diferença também e o sentimento de proteção, de cuidar do outro que foi historicamente menosprezado e de dar voz às pessoas outrora estigmatizadas.
O modelo relacional considera o outro diferente e nós também. É uma relação de alteridade. No modelo relacional, é possível conceber o ser surdo e sua construção cultural, mudando a concepção da surdez de deficiência para diferença. Aí sim, podemos perceber os marcadores culturais. O principal deles é o jeito surdo de ser. Isso engloba a língua de sinais, que é uma criação coletiva e uma marca cultural. Outros marcadores culturais surdos destacados por Coelho (2011) são a necessidade de viver em grupo, a experiência do olhar surdo e os casamentos endógamos.
Strobel (2008) apresenta os artefatos culturais do povo surdo, que são: experiência visual, língua, família, literatura surda, vida social e esportiva, artes visuais, política e artefatos materiais. Witchs e Lopes (2018, p. 15) destacam "a surdez como uma condição primordial de distinção; a alma em luta permanente e bipartida pela (a)normalidade; a identidade; a reunião em um espaço físico ou virtual; o olhar; a língua de sinais; experiência gestual-visual e o tempo". Diante das marcas culturais apresentadas por esses autores, constatamos que: O ser surdo está relacionado às experiências visuais, à língua de sinais, às lutas, à identificação e à necessidade de estarem juntos compartilhando a cultura.
Por esse motivo, os surdos se organizam em associações. Nesses espaços, promovem eventos culturais e esportivos, trocam experiências, desenvolvem relacionamentos e se unem nas lutas em prol das causas surdas.
Um surdo prefere se casar com outro surdo, partindo do pressuposto que haverá mais entendimento na relação, pois ambos falam a mesma língua e partilham os mesmos interesses. A surdez não é vista como algo ruim para os surdos, por isso comemora-se o nascimento de um filho surdo; assim, pais e filhos poderão compartilhar dos mesmos valores culturais e linguísticos.
Um outro marcador cultural realçado foi o olhar surdo. A forma de ver o mundo para os surdos transcende a maneira dos ouvintes. O olhar não representa apenas um sentido, mas o modo de vida. Os surdos são sujeitos visuais, e essas experiências são fatores determinantes para a formação de sua identidade.
Experiência visual
Quando os surdos são descritos como sujeitos visuais, o foco se dá em sua maneira de ser e perceber o mundo. Retira-se a centralidade do não ouvir para o ver, a visão compensa e substitui a audição.
Atenção
A experiência visual surda dá origem a uma língua e uma cultura; sendo assim, "a surdez é inegavelmente uma experiência visual" (COELHO, 2011, p. 282).
A experiência visual dos surdos difere dos ouvintes, pois vivem em mundo sem som, percebendo tudo ao seu redor por meio do olhar. Os surdos não ignoram o som, sabem de sua existência, mas sua interação e organização cultural se dá por meio da visualidade que "contribui, de maneira fundamental, para a construção de sentidos e significados". (CAMPELLO, 2008, p. 205).
Diferente dos ouvintes que usam a língua oral para se comunicar, os surdos se utilizam de uma língua visual, e o corpo todo faz parte da enunciação. Essa experiência produz a cultura visual. Na literatura, nas poesias, é possível perceber essa construção baseada na visualidade.
Os classificadores usados na língua de sinais e a descrição imagética nos reportam à forma visual de se expressar e compreender o mundo. Essa comunicação traz consigo riquezas inexploradas que imanam da visualidade.
Compreendendo a experiência visual como marcador cultural, é possível conceber a surdez como diferença. Os ouvintes, mesmo fazendo uso da visão, não são capazes de ter as mesmas experiências que os surdos, pois estes vivem em um mundo onde há ausência de som, por isso a percepção visual é muito mais aguçada.
Vivemos em um mundo sonoro e imagético e usamos os sentidos para perceber e interagir, mas, quando nos falta um dos sentidos, há uma compensação. Os surdos sabem da existência dos sons, mesmo que nunca tenham ouvido, conseguem compreender tudo por meio da visão.
Não é o simples fato de enxergar, mas ver além, ser capaz de absorver as informações por esse órgão, ou seja, de ter experiências que só são possíveis para quem não pode ouvir. Por esse motivo, são feitas adaptações visuais nas casas e escolas de surdos, como a campainha luminosa, por exemplo. A cultura surda está diretamente relacionada com o jeito surdo de ser e de interagir com o mundo.
Conclusão
Podemos concluir que os surdos constroem suas identidades de acordo com suas vivências, suas relações e concepções de surdez. Devido à heterogeneidade entre os surdos, as identidades são diversas e são estabelecidasa partir da identidade política.
Quando se usa o conceito de identidade surda, geralmente se remete à identidade política. É importante compreender essas diferenças para entender que os surdos vivenciam diferentes situações que influenciam em sua formação identitária e, como vimos, podem trocar de identidade no decorrer da vida.
Os surdos que constroem uma identidade surda política participam da cultura surda, são produtores culturais e fazem parte dos movimentos surdos em defesa de sua língua e do direito de ser surdo. Devido às lutas travadas, aos movimentos de resistência, muitas conquistas foram adquiridas, mas sempre há embates. As mudanças velozes da sociedade pós-moderna líquida podem simplesmente destruir o que foi alcançado.
As marcas culturais estão presentes no modo de vida dos surdos, na língua de sinais, nas experiências visuais, nas artes, nas produções culturais, na literatura visual, nas associações, nos valores etc. O desejo de pertencer e de fazer parte de um grupo cultural faz com que os surdos gostem de estar juntos, por isso definem pontos de encontro, fazem amizades com outros surdos e preferem se casar com seus pares linguísticos.
Entendemos também que a experiência visual é um importante marcador cultural surdo, pois compreende sua maneira de perceber o mundo. Quando desenvolvemos o modelo relacional, desenvolvemos empatia e percebemos as particularidades surdas; dessa forma, conseguimos respeitar as diferenças e o jeito surdo de ser.
Procure ler mais sobre os estudos culturais surdos, as representações surdas e a concepção da surdez a partir dos próprios surdos; assim, perceberá quão rica e bela é a cultura surda.
Atividade
1. A pesquisadora surda Gladis Perlin identifica sete identidades surdas. Relacione as colunas, associando as identidades às suas características.
a) Identidades Intermediarias. Pessoas com perda auditiva, mas que levam uma vida de ouvinte. A mensagem não é captada pelo visual, por isso não representa uma identidade surda.
b) Identidades surdas de diápora. Está relacionada à mudança de uma comunidade surda para outra, de um estado para outro ou, até mesmo, do país. Identifica-se por um adjetivo pátrio.
c) Identidade surdas de transição. São representadas por surdos que nascem em famílias de ouvintes e crescem entre ouvintes, mas, quando se encontram com a comunidade surda, há uma identificação.
d) Identidade surdas políticas.  É formada por sujeitos surdos que usam a língua de sinais, participam da cultura surda e organizam movimentos em defesa do direito de ser surdo.
e) Identidade surdas embaraçadas. Representam as pessoas surdas que se encontram numa representação estereotipada da surdez. Não adquirem nenhuma língua e são considerados incapacitados.
f) Identidade surdas híbridas. São pessoas que nasceram ouvintes e se tornaram surdas por algum motivo. Utilizam a língua de sinais na comunicação e, dependendo da idade em que se tornaram surdas, também fazem uso da língua oral.
g) Identidade surdas flutuantes. São os surdos que seguem o modelo ouvinte, não usam a língua de sinais e se comunicam por meio da língua oral.
2. As relações sociais e o meio em que o sujeito está inserido influenciam a formação das identidades. Perlin (1998) apresenta três locais de construção de identidades surdas. Escreva o que representa cada um desses espaços de construção identitária.
Os meios sociais ouvintes: Nos meios sociais ouvintes onde a surdez é concebida como deficiência, vista com inferioridade, a identidade construída é de subordinação, seguindo os padrões ouvintes, em que a surdez deve ser corrigida. A comunidade surda: há o encontro surdo-surdo. É um local de descobertas, de aquisição linguística e cultural. Nesses espaços, desenvolvem-se as identidades de resistência. 
O movimento cultural surdo:  forma-se identidades de projeto, ou seja, os surdos não apenas resistem, mas militam contra a hegemonia, contra o ouvintismo. Defendem sua língua e cultura e lutam pelo direito de ser surdo.
3. Coelho (2011) apresenta quatro modelos da legitimação da diferença, aplicando-os à surdez. Leia as frases a seguir, marque CERTO quando a sentença estiver correta e ERRADO quando estiver errada, corrigindo-a.
a) O modelo etnocêntrico apresenta uma cultura superior à outra, exercendo a hegemonia. Um exemplo desse modelo é a filosofia oralista, em que a língua oral era vista com superioridade. CERTO
b) No modelo de tolerância, há um sentimento de proteção, de cuidar de quem foi menosprezado, dando voz a essas pessoas. ERRADO
c) No modelo de generosidade, o outro é visto como diferente e sua presença na sociedade é tolerada. ERRADO
d) No modelo relacional, há a percepção da diferença no outro e em nós. Todos são diferentes e interdependentes. Exerce-se a empatia, a alteridade. CERTO
4. Os surdos possuem uma maneira peculiar de viver, de perceber e de interagir com o mundo. A cultura surda representa esse modo de ser. Nesse contexto, existem vários marcadores culturais. Leia as alternativas a seguir e assinale a opção que NÃO representa um marcador cultural surdo.
4. Os surdos possuem uma maneira peculiar de viver, de perceber e de interagir com o mundo. A cultura surda representa esse modo de ser. Nesse contexto, existem vários marcadores culturais. Leia as alternativas a seguir e assinale a opção que NÃO representa um marcador cultural surdo.
a) Aparelhos auditivos.
b) Casamentos endógamos.
c) Experiência visual.
d) Língua de Sinais.
e) Literatura visual.
5. Escreva, com suas palavras, em que consiste a experiência visual dos surdos.
A experiência visual dos surdos não está relacionada apenas ao ato de enxergar e sim com a maneira de olhar, perceber e interagir com o mundo. A compreensão dos surdos se dá por meio da visualidade, sem experiências auditivas. A falta de um sentido é compensada por outro, por isso os surdos não devem ser vistos pelo que não têm, no caso a audição, mas pelo que possuem. Os surdos desenvolvem uma maneira peculiar de viver e uma língua visual.

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