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Considerações sobre o patrimônio industrial: Estudo da Fábrica Peixe, Pesqueira - PE

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Considerações sobre o Patrimônio Industrial: 
Estudo da Fábrica Peixe, município de Pesqueira – PE. 
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO 
CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO 
DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO URBANO – MDU 
 
 
 
MÁRCIO BEZERRA MARTINS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Considerações sobre o Patrimônio Industrial: 
Estudo da Fábrica Peixe, município de Pesqueira – PE. 
 
(Dissertação de mestrado) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Recife 
2011 
 
 
 
 
Considerações sobre o Patrimônio Industrial: 
Estudo da Fábrica Peixe, município de Pesqueira – PE. 
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MÁRCIO BEZERRA MARTINS 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Estudo da Fábrica Peixe, município de Pesqueira – PE. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
graduação em Desenvolvimento Urbano – MDU, 
da Universidade Federal de Pernambuco como 
requisito parcial à obtenção do título de Mestre. 
 
Área de concentração: Conservação Integrada 
 
Orientadora: Profª. Drª. Virgínia Pitta Pontual 
 
Co-orientadora: Profª. Drª. Flaviana Barreto Lira 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Recife 
2011 
 
 
 
 
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Estudo da Fábrica Peixe, município de Pesqueira – PE. 
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Catalogação na fonte 
Andréa Marinho, CRB4-1667 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
P379c Martins, Márcio Bezerra. 
 Considerações sobre o Patrimônio Industrial: ESTUDO DA Fábrica 
Peixe, município de Pesqueira - PE / Márcio Bezerra Martins. – Recife: O 
Autor, 2011. 
 160 p.: il. 
 
 Orientador: Virgínia Pitta Pontual. 
 Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Pernambuco, 
CAC. Desenvolvimento Urbano, 2011. 
 Inclui bibliografia e apêndices. 
 
 1. Planejamento urbano. 2. Patrimonio. 3. Arqueologia Industrial. 4. 
Pesqueira (PE). 5. Doces e balas- indústria. I. Pontual, Virgínia Pitta 
(Orientador). II. Titulo. 
 
 
 711.4 CDD (22.ed.) UFPE (CAC 2012-101) 
 
 
 
 
 
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Estudo da Fábrica Peixe, município de Pesqueira – PE. 
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Aos meus pais, por terem me mostrado o caminho. 
Aos meus irmãos, por estarem sempre a meu lado nesse caminho. 
 
 
 
 
 
 
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AGRADECIMENTOS 
 
Ao longo de mais de dois anos preparando esse trabalho, foram muitas as 
contribuições, colaborações, distrações e discussões. 
É sempre muito difícil conseguir agradecer a todos, que de alguma forma 
contribuíram para que esse trabalho fosse concluído. 
Alguns agradecimentos, porém, se fazem necessários, assim reporto-me: 
À minha família, pelo apoio incondicional, por apostar em minhas aventuras e por 
compartilhar comigo a crença de que um mundo melhor é possível. 
À minha orientadora, professora Virgínia Pontual, pelas dicas e ensinamentos, por 
acreditar nessa pesquisa e, especialmente pela paciência ao longo do percurso. 
Ao CNPQ, pelo auxílio financeiro sem o qual seria impossível a realização desse 
trabalho. 
Aos amigos Alderlan, Iwelton e Luciana por estarem sempre dispostos a ouvir 
minhas queixas e dificuldades.. 
A Renato pelo companheirismo, carinho e paciência. 
Ao professor Luiz Amorim, pelas sugestões no exame de qualificação, pelas 
contribuições após a defesa e, acima de tudo, pelo exemplo de competência 
profissional, que sempre me inspirou e incentivou. 
Aos demais professores do MDU com quem tive a oportunidade de compartilhar 
conhecimentos, especialmente Ana Rita Sá Carneiro, Luís de La Mora, Geraldo 
Gomes, Maria de Jesus Brito (Profª. Juju), Tomás Lapa, Fernando Diniz, Sílvio 
Zancheti, Vera Mayrinck, Circe Monteiro, Maria Ângela de Souza e Lúcia Leitão, pelo 
muito que aprendi ao longo desses dois anos de convivência. 
A Rebeca Júlia, José Arneiro, Catarina Mascaro, Renata e Jonas Gonçalves, pelo 
socorro sempre que preciso. 
Aos colegas de sala especialmente Patrícia Pedrosa, Jaucele Azeredo, Thaliane 
Leal, Marília Teixeira, Ana Holanda e Socorro Araújo. A Lúcia Veras meu obrigado 
especial, pois sempre foi uma referência de profissional dedicada e incansável em 
busca do conhecimento. 
A Lidiany Mota, amiga de sala, de MDU, de profissão e de uma vida toda, obrigado 
pelo companheirismo e aquele ombro amigo sempre disponível. 
 
 
 
 
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A Rosane Picolo, Magna Milfont, Juliana Melo, Ana Paula Bittencourt e Cecília 
Ribeiro, pelas discussões em grupo e por ouvirem tantas vezes o mesmo discurso 
do patrimônio industrial. 
A minhas tias Totô, Bebé e Nazaré, pelo afeto incondicional, pelas conversas sobre 
a história de Poção e de Pesqueira e os ensinamentos para a vida. 
Ao senhores Francisco Neves, Minervino Osório e D. Nazaré em nome dos quais 
agradeço a todos os demais entrevistados. 
À população de Pesqueira com quem, de algum modo, pude compartilhar minhas 
preocupações sobre a dificuldade de reconhecimento e conservação do patrimônio 
industrial. 
Aproveito ainda a fala do psicólogo Fernando Braga, quando este diz que a cidade é 
dos anônimos, a todos eles e aos acima citados deixo aqui o meu obrigado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Todo doce se converte em cólera. 
Dom Domingos do Loreto Couto 
(Desaggravos do Brasil e Glorias de Pernambuco) 
 
 
 
 
Vou relembrar o passado agora. 
É nessa hora que eu me sinto bem. 
Getúlio Cavalcanti 
Chora Batutas, 1986 (frevo-de-bloco) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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RESUMO 
 
Embora façam parte da paisagem de muitas cidades, e possam ser considerados 
como testemunhos importantes da história local, os edifícios industriais desativados 
dificilmente são considerados como elementos dignos de conservação. A 
degradação das estruturas, a sensação de vazio e o abandono das áreas de 
entorno, associados à dificuldade de reinserção destes equipamentos na malha 
urbana, contribuem para criar uma imagem negativa, alimentando o descaso com 
que estes são vistos. No presente trabalho faz-se o resgate histórico de um conjunto 
fabril, com a finalidade de compreender e registrar parte do processo de 
industrialização ocorrido no interior do Estado de Pernambuco, especificamente no 
município de Pesqueira, conhecido outrora como terra do doce. Pontua questões 
relativas ao surgimento da cidade e seu crescimento, a instalação da fábrica e 
outras estruturas associadas ao processo produtivo como plantações, barragens, 
armazéns, e a sua relação com o espaço urbano. Amparado no conceito de 
Patrimônio Industrial, utilizaram-se os aportes da disciplina arqueologia industrial 
para a feitura dos registros, com a utilização de fotos antigas, informações de 
arquivos, jornais e revistas de época, mapas e plantas, fontes orais e bibliográficas, 
possibilitando a interpretação e escrita da narrativa. A Fábrica Peixe surgiu em 
Pesqueira, no final do século XIX, esteve em funcionamento por quase um século e 
teve importante participação na história local. Chegou a ser uma das maiores 
fábricas do Estado, possuindo unidades em outras regiões e posteriormente abarcou 
outros segmentos da indústria alimentícia como a fabricação de açúcare biscoitos. 
Participou ativamente do mercado publicitário entre as décadas de 30 e 40, sendo 
um dos maiores anunciantes do período. A partir dos anos 60 começou a entrar em 
declínio, vindo a decretar falência em 1998. Desde então o prédio ficou abandonado 
e posteriormente passou a abrigar a feira-livre municipal. Encontra-se em processo 
de crescente degradação e descaracterização, devido aos novos usos não 
planejados. Apesar de sua relevância para a história local, o edifício não é 
contemplado por nenhuma medida de salvaguarda e proteção, motivo pelo qual 
acredita-se ser importante começar esse trabalho de registro. 
PALAVRAS-CHAVE: Patrimônio industrial, arqueologia industrial, Pesqueira, 
Pernambuco, indústria de doces. 
 
 
 
Considerações sobre o Patrimônio Industrial: 
Estudo da Fábrica Peixe, município de Pesqueira – PE. 
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ABSTARCT 
 
Although part of the landscape in many cities, and can be considered as important 
witnesses of local history, industrial buildings disabled are hardly considered worthy 
of preservation. The degradation of the structures, the feeling of emptiness and 
abandonment of the surrounding areas, coupled with the difficulty of reintegration of 
these buildings in the urban fabric, helps to create a negative image, feeding the 
disregard with which they are seen. In the present work aimed to rescue the history 
of a whole plant, in order to understand and record part of the industrialization 
process occurred within the State of Pernambuco, specifically in Pesqueira, formerly 
known as sweet’s land. Scoring issues relating to the emergence and growth of the 
city, the installation of plant and other structures associated with the production 
process as plantations, dams, warehouses, and its relationship to urban space. 
Supported by the concept of Industrial Heritage, we used the contributions of 
industrial archeology course for the making of records, with the use of old photos, 
information files, newspapers and magazines of the period, maps and plans, oral 
sources and literature, enabling the interpretation and writing the narrative. The 
Factory Peixe was founded in Pesqueira, Pernambuco in the late nineteenth century, 
has been in operation for nearly a century and played an important role in local 
history. He became one of the largest factories of the Pernambuco, having factories 
in other regions and later embraced other segments of the food industry as 
manufacture of sugar and biscuits. Actively participated in the advertising market 
between the decades of 30 and 40, one of the largest advertisers in the period. From 
60 years started to decline, coming into bankruptcy in 1998. Since then the building 
was abandoned and later came to house the open-air hall. You are in the process of 
increasing degradation and distortion due to unplanned new uses. Despite its 
relevance to local history, the building is not covered by any measure reason which 
believed to be important start this work record. 
 
KEYWORDS: industrial heritage, industrial archeology, Pesqueira, Pernambuco, 
candies industry. 
 
 
 
 
 
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LISTA DE ILUSTRAÇÕES 
 
Figura 01 - Entrada do antigo circo olímpico, local onde funcionou o 
Museu Industrial e Comercial do Porto ................................ 35 
Figura 02 - Fragmento de mapa da cidade do Porto, 1890, indicando a 
localização do Museu Industrial e o Palácio de Cristal......... 36 
Figura 03 - Antigo Palácio de Cristal do Porto, vista da fachada............ 36 
Figura 04 - Palácio de Cristal do Porto, detalhe do interior, nave 
central .................................................................................. 36 
Figura 05 - Estação Euston, vista geral com detalhe para o arco 
gótico, década 1950 ............................................................. 38 
Figura 06 - Portal da Euston Station, demolição do arco, ano de 1961.. 38 
Figura 07 - Escultura do poeta Sir. John Betjeman no interior da 
estação London St. Pancras ................................................ 39 
Figura 08 - Estação London St. Pancras, cujo edifício Jonh Betjeman 
ajudou a ser salvo da demolição nos anos 70 ..................... 39 
Figura 09 - Ponte de ferro sobre o Rio Severn, construída em 1779 ..... 40 
Figura 10 - Les Halles de Paris – vista do conjunto, década de 1950 ... 41 
Figura 11 - Les Halles, 1972, área em demolição .................................. 41 
Figura 12 - Antiga Fábrica Nabisco em Pittsburgh, área brownfield ...... 42 
Figura 13 - Antiga Fábrica Nabisco, convertida em escritório da 
Google ................................................................................. 42 
Figura 14 - Fábrica abandonada, Estado do Alabama – EUA, 1983 ..... 43 
Figura 15 - Detalhe de capa do livro wassertürme (caixas d’água) ....... 43 
Figura 16 - Torre da Mina Caerau – Inglaterra ....................................... 43 
Figura 17 - Esquema de túneis e câmaras da mina de sal Wieliczka – 
Polônia ................................................................................. 46 
Figura 18 - Igreja de Santa Cunegunda, padroeira da Polônia .............. 46 
Figura 19 - Real Fábrica de Ferro São João de Ipanema, em imagens 
de 1884 ................................................................................ 54 
Figura 20 - Real Fábrica de Ferro São João de Ipanema, em imagens 
de 1884 ................................................................................ 54 
Figura 21 - Antiga fábrica de tambores, bairro da Pompéia, anos 70 .... 57 
Figura 22 - Fábrica Pompéia, obras de requalificação ........................... 57 
Figura 23 A chaminé revisitada na nova fábrica de lazer .................... 57 
Figura 24 Detalhe de cartografia do século XVII, onde se nota a 
importância do uso dos bois no transporte da cana e 
fabricação do açúcar ............................................................ 62 
Figura 25 Ilustração com destaque para o casario da rua principal ou 
rua de cima, além dos casebres da rua de baixo ................ 66 
Figura 26 A cidade de Pesqueira, vista da fábrica partir do bairro 
Xucurus ................................................................................ 68 
Figura 27 A ladeira do bairro Xucurus ................................................. 68 
Figura 28 - A vendedora de doces de rua .............................................. 74 
Figura 29 - A vendedora de doces de rua .............................................. 74 
Figura 30 - A vendedora de doces de rua .............................................. 74 
Figura 31 - Carlos Frederico e D. Maria Brito, fundadores das fábricas 
Peixe .................................................................................... 75 
Figura 32 - D. Dina doceira da família Brito ........................................... 76 
 
 
 
 
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Estudo da Fábrica Peixe, município de Pesqueira – PE. 
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Figura 33 - Cozimento de goiabada em tacho de fogo nu ..................... 76 
Figura 34 - Esquema em escala vertical, da Estrada de Ferro Central 
Pernambuco, posteriormente denominada Linha Oeste, 
onde se indica a data de início do funcionamento das 
estações ............................................................................... 78 
Figura 35 - Fábrica Rosa, década de 20, detalhe para a estação 
ferroviária em segundo plano .............................................. 79 
Figura 36 - Centro Cultural e comercial Rosa, o edifício atualmente 
reutilizado ............................................................................. 79 
Figura 37 - Populares em torno da estação ferroviária .......................... 80 
Figura 38 - Populares em torno da estação ferroviária .......................... 80 
Figura 39 - Antigo pátio ferroviário ......................................................... 80Figura 40 - A estação hoje ..................................................................... 80 
Figura 41 - Antiga ponte de pedra no caminho do trem 
.......................... 
80 
Figura 42 - Detalhe de interior do pavilhão brasileiro na Exposição de 
Turim .................................................................................... 81 
Figura 43 - Página 08 do relatório da Comissão brasileira na 
Exposição de Turim 1911, onde aparece a Goiabada Peixe 
na figura do Sr. Carlos de Brito, como um dos 3.204 
premiados brasileiros ........................................................... 81 
Figura 44 - Açude Santana, o açude “dos Brito” .................................... 83 
Figura 45 - Açude Santana, o açude “dos Brito” .................................... 83 
Figura 46 - Alinhamento da via principal e implantação de trilhos ......... 83 
Figura 47 - O bonde puxado por burros ................................................. 83 
Figura 48 - Aspecto atual da Estação Mimoso ....................................... 84 
Figura 49 - Inauguração da estação ferroviária de Rio Branco (atual 
Arcoverde) ........................................................................... 84 
Figura 50 - Quadro dos municípios de Pernambuco, 1906, divisão 
administrativa municipal. Detalhe para o município de 
Cimbres tendo Pesqueira como distrito sede, além de 
outros mais ..................................................................... 85 
Figura 51 - Primeiro anúncio publicitário da Fábrica Peixe, identificado 
em publicação de 1913 ........................................................ 86 
Figura 52 - Colégio Santa Dorotéia, imagem de 1919, quando 
funcionava ao lado da Fábrica Peixe ................................... 87 
Figura 53 - Sede atual inaugurada em 1927 ......................................... 87 
Figura 54 - Fábrica Tigre, década de 1930; destaque para o riacho às 
portas da fábrica .................................................................. 88 
Figura 55 - Prédios da antiga Fábrica Tigre, situação atual ................... 88 
Figura 56 - Prédios da antiga Fábrica Tigre, situação atual ................... 88 
Figura 57 - Trabalhadoras durante a colheita de tomate nos campos 
da Peixe. Trabalho temporário ............................................. 
89 
Figura 58 - Trabalhadoras durante a colheita de tomate nos campos 
da Peixe. Trabalho temporário ............................................. 
89 
Figura 59 - Trabalhadoras durante a colheita de tomate nos campos 
da Peixe. Trabalho temporário ............................................. 
89 
Figura 60 - Trabalhadoras durante a colheita de tomate nos campos 
da Peixe. Trabalho temporário ............................................. 
89 
 
 
 
 
 
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Estudo da Fábrica Peixe, município de Pesqueira – PE. 
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Figura 61 - A cônsul dos Estados Unidos em visita aos campos da 
Peixe .................................................................................... 90 
Figura 62 - Visita à fábrica ..................................................................... 90 
Figura 63 - Visita à fábrica..................................................................... 90 
Figura 64 - Jovens moças da aristocracia recifense comparecem à 
festa ..................................................................................... 
90 
Figura 65 - Jovens moças da aristocracia recifense comparecem à 
festa ..................................................................................... 
90 
Figura 66 - Calha para recolhimento de solo perdido ............................ 91 
Figura 67 - Pedólogos em Visita de campo ........................................... 91 
Figura 68 - O novo laboratório da Fábrica Peixe em Pesqueira ............ 93 
Figura 69 - Pontímetro, o novo equipamento inventado pela Peixe ...... 93 
Figura 70 - Pátio de descarga e lavagem de tomates, onde se 
observam alterações no edifício - colocação de uma 
marquise para proteger os novos equipamentos – com 
vistas a se adequar às mudanças tecnológicas .................. 95 
Figura 71 - Pátio de descarga e lavagem de tomates, onde se 
observam alterações no edifício - colocação de uma 
marquise para proteger os novos equipamentos – com 
vistas a se adequar às mudanças tecnológicas .................. 95 
Figura 72 - Lavagem manual de tomates ............................................... 97 
Figura 73 - Nova esteira de tiragem e seleção de frutos ....................... 97 
Figura 74 - Desenhos de Vicente do Rego Monteiro ilustrando os 
anúncios da Goiabada e outros produtos da Marca Peixe .. 100 
Figura 75 - Desenhos de Vicente do Rego Monteiro ilustrando os 
anúncios da Goiabada e outros produtos da Marca Peixe .. 100 
Figura 76 - Desenhos de Vicente do Rego Monteiro ilustrando os 
anúncios da Goiabada e outros produtos da Marca Peixe .. 100 
Figura 77 - Personagens criados por J. Carlos para o Almanaque do 
Tico-Tico anunciam os produtos e a goiabada Marca Peixe 101 
Figura 78 - Personagens criados por J. Carlos para o Almanaque do 
Tico-Tico anunciam os produtos e a goiabada Marca Peixe 101 
Figura 79 - Personagens criados por J. Carlos para o Almanaque do 
Tico-Tico anunciam os produtos e a goiabada Marca Peixe 101 
Figura 80 - Desenhos de Manoel Bandeira ilustram as Fantasias 
carnavalescas sugeridas pela marca Peixe ......................... 103 
Figura 81 - Desenhos de Manoel Bandeira ilustram as Fantasias 
carnavalescas sugeridas pela marca Peixe ......................... 
103 
Figura 82 - Desenhos de Manoel Bandeira ilustram as Fantasias 
carnavalescas sugeridas pela marca Peixe ......................... 
103 
Figura 83 - Desenhos de Manoel Bandeira ilustram as Fantasias 
carnavalescas sugeridas pela marca Peixe ......................... 
103 
Figura 84 - Desenhos de Manoel Bandeira ilustram as Fantasias 
carnavalescas sugeridas pela marca Peixe ......................... 
103 
Figura 85 - Anúncio da Goiabada Peixe, veiculado no jornal A Noite..... 104 
Figura 86 - Anúncios da Peixe voltados para o público letrado ............. 105 
Figura 87- Anúncios da Peixe voltados para o público letrado ............. 105 
Figura 88 - Anúncios da Marca Peixe em O Cruzeiro 10/11/1945 ......... 107 
Figura 89 - Anúncios da Marca Peixe em O Cruzeiro - 11/07/1953 ....... 107 
Figura 90 - Anúncios da Marca Peixe em O Cruzeiro, Maio 1964 ......... 107 
 
 
 
 
Considerações sobre o Patrimônio Industrial: 
Estudo da Fábrica Peixe, município de Pesqueira – PE. 
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Figura 91 - Anúncios da Marca Peixe em Rua Nova, 1924 ................... 107 
Figura 92 - Anúncios da Marca Peixe em Folha da manhã 04/07/1952 107 
Figura 93 - Anúncios da Marca Peixe em O Cruzeiro - 22/12/1945 ....... 107 
Figura 94 - Visita do Comando da Aeronáutica ao aeroclube de 
Pesqueira ............................................................................. 110 
Figura 95 - Batismo de avião na cidade do Recife ................................. 110 
Figura 96 - Batismo de avião na cidade do Recife ................................. 110 
Figura 97 - Avião da Peixe lançando defensivos sobre as plantações 
de tomate ............................................................................. 
110 
Figura 98 - Convite da Peixe para as audições radiofônicas de Frei 
Mojica ................................................................................... 111 
Figura 99 - Frei Mojica se apresenta na inauguração da televisão 
brasileira .............................................................................. 112 
Figura 100 - Chatô e o milionário americano Nelson Rockfeller, 
sentados no chão da nova sede dos Diários Associados, 
por ocasião da inauguração ................................................. 112 
Figura 101 - Usina Central Barreiros, visão panorâmica ......................... 114 
Figura 102 - Anúncios de propaganda informando sobre a instalação de 
novas fábricas daPeixe no Estado de São Paulo ............... 116 
Figura 103 - Anúncios de propaganda informando sobre a instalação de 
novas fábricas da Peixe no Estado de São Paulo ............... 116 
Figura 104 - Embalagem dos biscoitos Duchen ....................................... 117 
Figura 105 - Embalagem dos biscoitos Duchen ....................................... 117 
Figura 106 - Embalagem dos biscoitos Duchen ....................................... 117 
Figura 107 - Embalagem dos biscoitos Duchen ....................................... 117 
Figura 108 - Anúncio do biscoito Tomatel da marca Duchen .................. 117 
Figura 109 - Fábrica Duchen anos 50, vista interna do edifício durante a 
construção ........................................................................... 118 
Figura 110 - Fábrica Duchen anos 60, vista externa do edifício .............. 118 
Figura 111 - Visita da família Brito às novas instalações da Duchen ...... 118 
Figura 112 - A Duchen em construção ..................................................... 118 
Figura 113 - Montagem com imagem aérea de 2004 onde é possível 
observar o terreno vazio onde anteriormente foi implantada 
a fábrica Duchen .................................................................. 119 
Figura 114 - Montagem com imagem aérea de 2004 onde é possível 
observar o terreno vazio onde anteriormente foi implantada 
a fábrica Duchen .................................................................. 119 
Figura 115 - Chegada de produtos para exportação via porto do Recife 123 
Figura 116 - Chegada de produtos para exportação via porto do Recife 123 
Figura 117 - Visita Habitações operárias da Peixe .................................. 125 
Figura 118 - Escola Rural da Peixe .......................................................... 125 
Figura 119 - Notícia veiculada no Diário de Pernambuco 09/11/1962 ..... 127 
Figura 120 - Notícia veiculada no Diário de Pernambuco 19/12/1972 ..... 128 
Figura 121 - Novo logotipo da marca Peixe ........................................ 129 
Figura 122 - Anúncio da marca Peixe em forma de patrocínio ................ 129 
Figura 123 - Fábrica Peixe, em imagem de 1913, com o primeiro chalé 
da família Brito ..................................................................... 132 
Figura 124 - Fábrica Peixe em Imagem de 1924, aumento da área 
construída, colocação de platibanda, nova fenestração e 
instalação de um alpendre ................................................... 132 
 
 
 
 
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Estudo da Fábrica Peixe, município de Pesqueira – PE. 
14 
Figura 125 - Fábrica Peixe década de 1930, adição de um novo volume 
no conjunto edificado ........................................................... 133 
Figura 126 - Fábrica Peixe década de 1930, adição de um novo volume 
no conjunto edificado ........................................................... 133 
Figura 127 - Fábrica Peixe [1935] detalhe para o portal de entrada, o 
novo depósito de mercadorias e a nova moradia dos 
proprietários; o palacete dos Brito, construído em frente ao 
conjunto fabril ....................................................................... 133 
Figura 128 - Fábrica Peixe, final da década de 1930, detalhe para o 
rasgo na fenestração e incorporação de um novo volume .. 134 
Figura 129 - Imagem de 1948, construção de um novo galpão ............... 134 
Figura 130 - Imagem de 1956, formação do atual conjunto da fachada 
principal e a construção de um pontilhão de ferro ligando a 
área de produção e o depósito de mercadorias .................. 135 
Figura 131 - Complexo fabril da Peixe, imagem aérea de 1956 .............. 135 
Figura 132 - Vista aérea do complexo da Peixe, imagem da década de 
1990. Detalhe para o novo galpão, a esteira de lavagem 
dos frutos e o pátio coberto para caminhões ....................... 136 
Figura 133 - Vista aérea do conjunto final da década de 2010 ................ 136 
Figura 134 - Portão de acesso da nova usina de biodiesel, às margens 
da rodovia BR 232 ............................................................... 137 
Figura 135 - Feira-livre municipal no antigo pátio de descarga da fábrica 140 
Figura 136 - Feira-livre municipal no antigo pátio de descarga da fábrica 140 
Figura 137 - Casa das caldeiras, década de 1940 ................................... 141 
Figura 138 - Área das caldeiras após a reutilização do edifício ............... 141 
Figura 139 - Área das caldeiras após a reutilização do edifício ............... 141 
Figura 140 Área das caldeiras após a reutilização do edifício ............... 141 
Figura 141 Chalé dos Brito década de 1930 .......................................... 142 
Figura 142 Antigo museu da Peixe ........................................................ 142 
Figura 143 Antigo museu da Peixe ........................................................ 142 
Figura 144 O chalé dos Brito em 2009 .................................................. 142 
Figura 145 Palacete da Peixe ................................................................ 142 
Figura 146 Feira de roupas e calçados, reutilização mal planejada do 
antigo pátio coberto ............................................................. 143 
Figura 147 Feira de roupas e calçados, reutilização mal planejada do 
antigo pátio coberto ............................................................. 143 
Figura 148 Sindicato dos trabalhadores da indústria de doce, sede 
social .................................................................................... 144 
Figura 149 Documentos abandonados, nas instalações da antiga 
fábrica .................................................................................. 145 
Figura 150 Documentos abandonados, nas instalações da antiga 
fábrica .................................................................................. 145 
Figura 151 Documentos abandonados, nas instalações da antiga 
fábrica .................................................................................. 145 
Figura 152 Fábrica Peixe, fachada em 2011 ......................................... 146 
Figura 153 Fábrica Peixe, fachada em 2011 ......................................... 146 
 
 
 
 
 
 
Considerações sobre o Patrimônio Industrial: 
Estudo da Fábrica Peixe, município de Pesqueira – PE. 
15 
LISTA DE MAPAS E PLANTAS 
 
Mapa 01 Mapa-situação de Pesqueira no território nacional ................ 26 
Mapa 02 
Mapa de 1813, da autoria de José da Costa Pinto, indicando 
as terras dos índios na Serra do Ororubá e as outras terras 
da Congregação do Oratório, em 1813 .................................. 64 
Mapa 03 
Rota das boiadas do Recife com destino a Carinhanha (hoje 
Bahia), onde se identifica a Fazenda Macacos como ponto 
de passagem .......................................................................... 65 
Mapa 04 
Rota das boiadas do Recife com destino a Cabrobó, onde se 
identifica a Fazenda Macacos como ponto de passagem ...... 65 
Mapa 05 
Ilustração indicando o núcleo inicial de Pesqueira, com 
destaque para a Praça central, os seis caminhos e as 
primeiras habitações, em destaque na figura 25 .................... 
66 
Mapa 06 Planta da cidade de Pesqueira, início do século XX .............. 67 
Mapa 07 
Representação do parque industrial de Pernambuco [1948], 
onde é possível visualizar Pesqueira, como o ponto 
industrial extremo do interior do Estado ................................. 
121 
Mapa 08 Planta funcional da cidade de Pesqueira, década de 1960 .... 122 
Mapa 09 
Projeto de reestruturação da antiga Fábrica Peixe, planta 
baixa ...................................................................................... 
139 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Considerações sobre o Patrimônio Industrial: 
Estudo da Fábrica Peixe, município de Pesqueira – PE. 
16 
LISTA DE QUADROS 
 
Quadro 1 Patrimônio Industrial na lista da UNESCO, seleção por 
países47 
Quadro 2 Classificação do Patrimônio Industrial – proposta 
TICCIH 2008 
51 
Quadro 3 Bens culturais tombados pelo IPHAN tidos como Patrimônio 
Industrial, seleção por Estados. 
55 
Quadro 4 Bens culturais do Estado de Pernambuco passíveis de 
inclusão na categoria Patrimônio Industrial* 
58 
Quadro 5 Relação de unidades produtivas das Indústrias 
Alimentícias Carlos de Brito” Fábrica Peixe” 
115 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Considerações sobre o Patrimônio Industrial: 
Estudo da Fábrica Peixe, município de Pesqueira – PE. 
17 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
CBA Council for British Arcaheology (Conselho Britânico de 
Arqueologia) 
CEFET Centro Federal de Educação Tecnológica 
CHESF Companhia Hidro Elétrica do São Francisco 
CNA Campanha Nacional da Aviação 
CONDEPE Agência Estadual de Planejamento e Pesquisas de Pernambuco 
CONDEPHAAT Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, 
Artístico e Turístico 
DAC Departamento de Aviação Civil 
DOU Diário Oficial da União 
EPA US Environmental Protection Agency (Agência de Proteção 
Ambiental dos Estados Unidos) 
FECAPE Federação Carnavalesca Pernambucana 
FICCIM First International Congress on the Conservation of Industrial 
Monuments - Primeiro Congresso Internacional de Conservação 
dos Monumentos Industriais 
FUNDARPE Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco 
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
ICOMOS International Council for Monuments and Sites - Conselho 
Internacional de Monumentos e Sítios 
IPHAN Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional 
RFFSA Rede Ferroviária Federal S/A 
SICCIM Second International Congress on the Conservation of Industrial 
Monuments - Segundo Congresso Internacional de Conservação 
dos Monumentos Industriais 
SESI Serviço Social da Indústria 
SPHAN Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional 
TICCIH The International Committee for the Conservation of the Industrial 
Heritage - Comitê Internacional para a Conservação do 
Patrimônio Industrial 
UNESCO United Nations Educacional, Scientific and Cultural Organization 
(Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e 
a Cultura) 
WHC World Heritage Center – Centro do Patrimônio Mundial 
 
 
 
 
 
 
Considerações sobre o Patrimônio Industrial: 
Estudo da Fábrica Peixe, município de Pesqueira – PE. 
18 
SUMÁRO 
 
 
 
Lista de siglas .......................................................................... 
 
17 
Introdução ................................................................................ 19 
 
Capítulo 1 - A fabricação: Patrimônio industrial, uma temática 
recente ..................................................................................... 
 
32 
1.1 A noção de Patrimônio Industrial ....................................... 33 
1.2 O Patrimônio Industrial no Brasil ........................................ 52 
 
Capítulo 2 – O doce da terra: Pesqueira e a Fábrica Peixe ..... 61 
2.1 O surgimento da cidade ..................................................... 62 
2.2 O contexto da época .......................................................... 68 
2.3 O doce de goiaba e o surgimento da Peixe ....................... 73 
2.4 A expansão dos negócios .................................................. 77 
2.5 O nascimento de um império ............................................. 81 
 
Capítulo 3 – O império da goiabada: Ascensão e queda ......... 
 
98 
3.1 Consolidação, expansão e queda do império .................... 99 
3.2 A propaganda ..................................................................... 100 
3.3 Aquisição de novas fábricas .............................................. 113 
3.4 O começo da decadência .................................................. 120 
 
Capítulo 4 – E o doce virou cólera: A Fábrica Peixe nos dias 
de hoje ..................................................................................... 
 
 
130 
4.1 A Fábrica Peixe hoje .......................................................... 131 
 
5 - Considerações finais ........................................................... 
 
148 
Referências .............................................................................. 152 
Apêndices ................................................................................ 161 
 
 
 
 
 
Considerações sobre o Patrimônio Industrial: 
Estudo da Fábrica Peixe, município de Pesqueira – PE. 
19 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
 
Considerações sobre o Patrimônio Industrial: 
Estudo da Fábrica Peixe, município de Pesqueira – PE. 
20 
Aqueles que vivem ou estão habituados ao ambiente urbanizado, têm em 
mente rotas e caminhos, estabelecidos e consolidados no seu esquema mental 
sobre o espaço no qual circulam diariamente. Ao perguntar-se-lhes, quais as 
impressões estes têm de alguns pontos da cidade, a maioria vai associá-lo 
diretamente a uma idéia-chave; o mar evoca imensidão, grandeza, uma igreja ou 
uma praça servem como marcos ou pontos nodais de um conjunto de vias, ruas 
largas e grandes avenidas comumente são associadas com agitação e movimento. 
Todo e qualquer equipamento pode se prestar a servir como referencial no 
imaginário urbano, basta uma dose de subjetividade por parte do usuário. 
Assim como estes locais referenciais, existem também certos pontos 
estigmatizados, seja pelas funções que desempenham, seja pelas territorialidades 
ali desenvolvidas. Canais de esgoto, lixões, terrenos baldios, prédios abandonados 
até mesmo cemitérios, entre outros, nos remetem à idéia de algo que deve, na 
medida do possível, ser evitado. 
Num simples passeio, pelo centro de qualquer cidade, deparamo-nos com 
espaços que nos remetem à idéia de vazio: áreas ociosas, esvaziadas de suas 
funções, terrenos abandonados, fábricas abandonadas, áreas de uso indefinido, 
entre outros. Têm-se ainda algumas áreas centrais, onde a funcionalidade só é 
exercida durante o horário comercial, prestando-se, a noite, às mais diversas 
territorialidades (SOUZA, 2003). A utilização destes locais, por grupos sociais 
excluídos, reforça a imagem negativa, a idéia de abandono, quando não de 
insegurança. 
Negar a presença desses locais já não é mais possível, pois a permanência 
das formas ao longo do tempo acaba por permitir a incorporação destas aos nossos 
esquemas mentais. Considere-se ainda, que em muitos casos, no nosso percurso 
diário somos obrigados a cruzar com estes objetos e locais. Objetos esses que 
adquirem autonomia e assumem o papel que outrora era atribuído à velhice. 
São testemunhas de uma história que quase não tem mais linguagem, 
possuem um estatuto particular e a função específica de significar o tempo. 
Baudrillard (2000) dizia que “os objetos antigos, quaisquer que sejam, têm sempre o 
ar de estar sobrando, por mais belos que sejam, permanecem excêntricos”, 
destoando do meio que os circunda. Há quem defina estes objetos, chamando-os 
pejorativamente de velharias. 
 
 
Considerações sobre o Patrimônio Industrial: 
Estudo da Fábrica Peixe, município de Pesqueira – PE. 
21 
A cidade, como forma construída responde de maneira distinta aos diferentes 
momentos da história, gerando um conjunto heterogêneo de formas, sendo que em 
geral; “a rede viária é mais duradoura que o loteamento, os lotes resistem mais 
tempo do que os imóveis, os vazios resistem mais que os cheios” (LEPETIT, 2002, 
p. 139). 
Dentro dessa dinâmica, ao longo do tempo, boa parte das formas vai sendo 
substituída, gerando novas formas que se inserem no tecido urbano atual 
convivendo com outras, originárias de períodos anteriores, estas últimas conhecidas 
como rugosidades (SANTOS, 1985). Essa convivência, nem sempre amistosa; 
devido ao conflito de interesses dos agentes produtores do espaço, especialmente o 
mercadoimobiliário, faz parte do tecido urbano e se constitui numa das suas 
maiores riquezas. 
As formas envelhecem por inadequação física, quando ocorre desgaste dos 
materiais e deterioração das estruturas, enquanto o envelhecimento social 
corresponde ao desuso ou desvalorização, pela preferência a outras formas ou 
locais. Enquanto nos processos sociais haverá mudança devido ao envelhecimento, 
na paisagem as formas não são substituídas com tanta facilidade como nos 
movimentos da sociedade. 
Em se tratando de edifícios industriais, por se constituírem, na sua maioria, 
em grandes complexos, quase sempre, encontram-se dificuldades para a 
reintegração e reinserção destes, no tecido já consolidado. Motivo pelo qual acabam 
se tornando verdadeiras manchas ou cortes, ficando “entregues à sua própria sorte”. 
As soluções mais comuns para este problema são: a demolição, a reconversão ou 
reutilização e o abandono voluntário, juridicamente chamado de derrelição1. 
Apesar dessa sobreposição de momentos e formas, é preciso entender que 
“obsolescência e desativação pertencem à história da cidade; seja como fenômeno 
contínuo de substituição, seja como abandono repentino que inesperadamente 
muda a geografia urbana” (SECCHI, 2006, p. 105) sendo, portanto, uma ocorrência 
inerente ao espaço urbano, cujos efeitos podem, na medida do possível, ser 
 
1
 Estatuto jurídico que em linhas gerais é quando o proprietário deixa de exercer qualquer ato em 
relação à coisa, sem, no entanto, perder o domínio desta. Fruto de bastante discussão no âmbito 
jurídico, o seu rebatimento no campo da conservação se dá principalmente pelo fato de em algumas 
situações o bem se encontrar temporariamente sem proprietário definido, dificultando assim, a 
notificação ao proprietário ou até mesmo aplicação de medidas de conservação interventiva, que 
evitassem a transformação do imóvel em ruína. 
 
 
Considerações sobre o Patrimônio Industrial: 
Estudo da Fábrica Peixe, município de Pesqueira – PE. 
22 
minimizados, desde que haja um planejamento evitando que essas caminhem em 
direção ao esvaziamento. 
Numa compreensão mais profunda, essa sequência de acontecimentos 
desindustrialização – abandono - esvaziamento, demanda muito mais entendimento 
do que simplesmente abordar o aspecto formal, construído. Implica também 
estabelecer relações entre diversos objetos, sejam elas próximas ou distantes, 
assim como revelar o seu passado para poder se pensar o futuro. 
Sendo assim, faz-se igualmente obrigatório um entendimento mínimo do que 
foi a industrialização, não apenas como substituição da força humana pela tração 
mecânica ou do declínio do artesão em detrimento da máquina, mas também as 
diversas implicações sócio-espaciais dos locais onde esta se desenvolveu. O 
crescimento da população; migrando do campo para a cidade em busca de trabalho 
nos novos empreendimentos; a maior oferta de bens e serviços, a expansão dos 
meios de comunicação e de transporte, são algumas das mudanças que se 
observam, em curto espaço de tempo. 
Além dessas, verificam-se também transformações no espaço urbano, 
especialmente em torno dos núcleos primitivos. O crescimento desordenado, o 
adensamento insalubre, a disseminação de doenças, o estrangulamento das vias, 
poluição de corpos d’água, acúmulo de lixo, etc. Muitas cidades passaram a 
apresentar condições de vida degradantes, devido à infra-estrutura deficiente. Suas 
estruturas primitivas, não ofereciam condições adequadas para comportar tal 
crescimento, em curto espaço de tempo (HALL, 2002; MUMFORD, 1998). 
Embora desde a Antigüidade houvesse a transformação de matérias-primas 
em produtos acabados, somente a partir da Revolução Industrial, com a 
massificação da produção, a indústria se constitui em fenômeno de grande 
envergadura, atraindo grandes contingentes de população do campo para as 
cidades, transformando-as por completo, como observado acima. 
O que vemos hoje, como um fato estabelecido e consolidado, a Revolução 
Industrial, teve suas origens a partir das transformações técnicas advindas com o 
uso da máquina a vapor. Para Benévolo (2007), o momento conhecido como 
Revolução Industrial, constituiu em um fenômeno que mudou completamente o 
curso da história, primeiro da Inglaterra e posteriormente de toda a humanidade; 
enquanto Hobsbawn (1996), referindo-se a esse mesmo período, por ele 
 
 
Considerações sobre o Patrimônio Industrial: 
Estudo da Fábrica Peixe, município de Pesqueira – PE. 
23 
denominado de a Era das Revoluções, informa que “A cidade era sem dúvida o mais 
impressionante símbolo externo do mundo industrial.” 
Segundo Bruna (2002, p. 19) a industrialização deve ser entendida a partir 
dos conceitos de organização e produção em série, e de forma mais ampla a partir 
das relações de produção e a mecanização dos meios de produção, onde podem 
ser identificados, três grandes momentos ou fases. 
A primeira diz respeito ao surgimento das primeiras máquinas, as quais 
basicamente realizavam os mesmos movimentos que o artesão, porém movidas por 
energia distinta da muscular ou natural localizada como fontes d’água. 
A segunda e mais impactante, é aquela na qual as máquinas motorizadas 
possuem a capacidade de repetir um ciclo igual. Nessa fase, o operário executa 
apenas algumas tarefas, de movimentos repetitivos, de modo a alimentar o 
equipamento, para que se repita o ciclo. Dentro desse modelo, o trabalhador já não 
é tido como produtor de coisas feitas, mas apenas como parte de um processo. No 
começo do século XIX, irão surgir as primeiras fábricas voltadas para a produção em 
massa. A integração entre produção e transporte, do material e do produto acabado, 
irá caracterizar o que hoje entendemos como linha de montagem. Porém, somente 
em 1890, surgirão as linhas de montagem especializadas, aquelas onde cada 
equipe realiza apenas uma única tarefa, enquanto o modelo fordista só seria 
plenamente implantado em 1915. 
O terceiro momento é o da junção entre produção, conhecimento e 
tecnologia, quando os produtos passam a possuir alto valor agregado e apresentar 
caráter tecnológico. Mesmo que para sua produção tenha sido gasta pouca matéria-
prima, os preços serão elevados pois agregam o valor do conhecimento. 
Este momento é intimamente associado à expansão do fenômeno da 
globalização, uma vez que os novos produtos criados, fortemente calcados nas 
linhas de computação, telefonia, biotecnologia e indústria espacial, facilitaram o 
encurtamento das distâncias. 
Embora tenha sido dividida em fases distintas, sabe-se que para os contextos 
locais, a cronologia da industrialização se apresenta diferenciada, pois envolve 
outros fatores locais, especialmente os sócio-culturais. Por isso mesmo, acredita-se 
ser importante que se estudem os vestígios destas transformações, tanto dos 
 
 
Considerações sobre o Patrimônio Industrial: 
Estudo da Fábrica Peixe, município de Pesqueira – PE. 
24 
processos produtivos, como dos seus reflexos espaciais e o que representaram para 
as populações diretamente afetadas. 
É sabido que nas últimas décadas, vêm ocorrendo modificações na economia 
mundial, onde os agentes econômicos precisam responder de forma rápida às 
variações e desafios da competição. Ancoradas no desenvolvimento técnico-
científico, transformações na rede de transportes e de comunicação, permitiram 
novas possibilidades de arranjos produtivos, que acabam por reverter a lógica das 
teorias de localização industrial. 
Neste contexto, grandes corporações industriais se estabelecem e 
abandonam territórios, com uma facilidade e velocidade, nunca registradas 
anteriormente, alterando sensivelmente os mecanismos da produção industrial, bem 
como as estruturas sociais a ela atreladas. Este movimento permitiu e estimulou a 
relocalização de várias empresas e até de setores industriais inteiros, acarretando 
no abandonode fábricas e, em alguns casos, de áreas inteiras. 
Embora quase sempre associemos a desindustrialização como um fato 
negativo, é preciso entender que ela é um fenômeno corrente da dinâmica 
econômica e que um dos seus sintomas ou conseqüências mais visíveis é a friche 
industrielle2, espaço industrial desativado, que pode marcar fortemente as cidades e 
degradar o ambiente. “A friche é um fenômeno em um tecido urbano ou industrial 
que vive e evolui” (BRUYELLE, MERENNE-SCHOUMAKER, KIVELL, 1992, p. 113). 
Igualmente necessária para entendimento da desindustrialização e seus 
reflexos, a noção de desinvestimento se faz importante na medida em que entende 
este como “uma relação social materializada no território, ao invés de um 
acontecimento discreto e estritamente econômico” (VALE, 2002, p. 30) 
Para melhor entendimento das relações entre desinvestimento e território, é 
importante desatacar, também, a diferença que existe entre empresa e 
estabelecimento, uma vez que as decisões daquela repercutirão neste. 
O desinvestimento pode ser um ato involuntário, ter origem numa decisão 
estratégica, ou pode ainda ser um ato forçado, esta última situação apresenta 
menos efeitos negativos ao território, visto que, geralmente ocorre impulsionado por 
 
2
 Na década de 70 os estudos franceses sobre espaços industriais desativados tiveram grande 
repercussão internacional e o termo foi largamente utilizado, até que a partir dos anos 90 a expressão 
brownfields, termo americano que designa edificação ou sítio potencialmente contaminado, vem 
dominando nas revistas e publicações sobre o tema. 
 
 
Considerações sobre o Patrimônio Industrial: 
Estudo da Fábrica Peixe, município de Pesqueira – PE. 
25 
forças de governos com vistas à nacionalização de empresas. Para Freitas (1998), a 
redução ou encerramento da atividade é também uma das possibilidades de gestão 
estratégica, sendo o investimento e o desinvestimento faces da mesma moeda. “Na 
base do desinvestimento há um conflito fundamental entre o capital e o território” 
(BLUESTONE e HARRISON3, 1982 apud VALE, 2002). 
Ainda segundo Vale (idem), uma mesma operação de desinvestimento pode 
ter impactos territoriais diferenciados, devido à desigual capacidade de resposta de 
cada região, decorrente das suas características específicas (base econômica, 
dinâmica empresarial, mercado de trabalho, infra-estruturas de apoio à atividade 
econômica, políticas industrial e regional, envolvimento das instituições, etc). 
Além dessas modificações na economia mundial, outros fatores, de cunho 
local também contribuem para a ocorrência de transformações no espaço industrial, 
acarretando inclusive a transferência ou a mortalidade de diversos 
empreendimentos. De acordo com Sánchez (2001, p. 28) podem ser citados entre 
outros: 
 Fatores de ordem ambiental, 
 Incompatibilidade de uso do solo urbano, 
 Tributação excessiva, 
 Valorização do preço do solo, 
 Políticas urbanas (criação de distritos industriais), 
 Concorrência entre cidades – isenções, doações de terrenos etc. 
 
Quando do seu fechamento ou abandono, as indústrias, em sua maioria, 
deixam como passivo, massas de desempregados, meio ambiente degradado, 
dívidas com a administração pública, sítios contaminados e edificações 
abandonadas, entre outros reflexos sócio-espaciais. 
Embora sejam cada vez maiores os estudos sobre edifícios e áreas industriais 
desativadas, ainda há um longo caminho a ser percorrido, pelo simples fato de que, 
diariamente milhares de fábricas encerram suas atividades em todo o planeta. 
Faz-se necessário então, um esforço no sentido da promoção de estudos 
integrados, visando dar subsídios aos agentes públicos para enfrentamento dos 
problemas de descontaminação, reutilização e conservação de edifícios industriais. 
É dentro desse contexto, da desindustrialização e dos espaços por ela 
transformados, que se insere o problema desta pesquisa. Como manter na cidade, 
 
3
 The Desindustrialisation of America: Plant Closing, Community Abandonment and the Dismantling of 
Basic Industry, Basic Books, Nova Iorque. 
 
 
Considerações sobre o Patrimônio Industrial: 
Estudo da Fábrica Peixe, município de Pesqueira – PE. 
26 
elementos do passado industrial, permitindo que esses possam transmitir às 
gerações futuras, pistas sobre a história? Como escolher os mais representativos? 
Que ferramentas utilizar? 
Quando se fala em desindustrialização, quase sempre pensamos em distritos 
industriais abandonados, grandes áreas, verdadeiros cinturões de ferrugem. Do 
mesmo modo quando se fala em industrialização e cidade, é natural que nos 
reportemos em geral às grandes cidades, com seus equipamentos, bairros 
industriais, portos, etc. Dificilmente pensamos em pequenas cidades, como se a 
industrialização só fosse coisa de metrópoles e congêneres. 
Ao mergulhar nesse universo de estudo, descobre-se um sem-número de 
pequenas cidades e núcleos fabris, que ditaram o ritmo do crescimento, porém a 
maioria estagnou após o declínio da indústria. Rio Tinto, Paulista, Moreno, 
Pesqueira, Pedra, Goiana, entre muitas outras apenas para se restringir ao Nordeste 
Para discorrer sobre esse tema, envolvente e estimulante, tomou-se como 
objeto de estudo o município de Pesqueira, situado no agreste pernambucano 
(mapa 1), popularmente conhecido como terra do doce, em alusão às inúmeras 
fábricas de goiabada que ali existiram, especialmente a Fábrica Peixe, objeto de 
estudo dessa pesquisa. 
Mapa 1 – Mapa-situação de Pesqueira, dentro do território nacional. 
 
 Distrito Federal Pernambuco Recife Pesqueira 
 
Fonte: Adaptação do autor, com base em mapas do site http://www.ibge.gov.br. 
 
Até a década de 40, Pesqueira figurou como uma das mais importantes 
economias do Estado, sendo um forte arrecadador de impostos e grande 
empregador, tanto na área urbana, como também na zona rural. Pode-se afirmar, 
que esse surto de crescimento urbano de Pesqueira, está intimamente ligado à 
história da Fábrica Peixe, doravante “a Peixe”, de propriedade da Família Brito. 
 
 
Considerações sobre o Patrimônio Industrial: 
Estudo da Fábrica Peixe, município de Pesqueira – PE. 
27 
A Peixe foi a principal fábrica do município, motivo pelo qual se decidiu pelo 
seu estudo. Objetivou-se recuperar informações sobre esta fábrica-empresa, com 
vistas à criação de um quadro referencial, que permita fazer o reconhecimento dos 
seus principais atributos. 
Tomou-se como quadro conceitual de investigação a noção de patrimônio 
Industrial e sua ferramenta de estudo, a arqueologia industrial, cuja discussão no 
meio acadêmico se faz desde os anos 60. A temática do patrimônio industrial tem 
passado por amplo debate e hoje o entendimento do que seja essa categoria de 
patrimônio, extrapolou os limites da monumentalidade e do edifício, abarcando os 
mais diversos vestígios, desde máquinas, equipamentos, ferramentas, habitações 
operárias, entre outros. 
Essa noção mais ampla permite que sejam feitos estudos integrados, visando 
uma compreensão mais detalhada do bem em questão, trazendo para o campo da 
conservação, outros profissionais até então pouco requisitados ou interessados no 
assunto. Assim, historiadores, engenheiros, geógrafos, sociólogos, biólogos, 
antropólogos, entre outros passam a fazer parte do debate, outrora circunscrito 
majoritariamente a arquitetos e historiadores da arte. 
Entende-se aqui que a proposta da conservação é preservar as 
características mais significativas dos objetos, possibilitando às gerações futuras o 
usufruto e reinterpretação desses mesmos objetos e seus atributos. Acredita-se 
assim no benefício da oportunidade como sugerido por Sen (2000). 
Para os efeitos deste trabalho, objeto/artefato será entendidocomo qualquer 
entidade física criada pelo ser humano, capaz de acumular informações. Mesmo um 
produto da natureza, uma vez investido de significação por um ser humano, passa a 
ser considerado um objeto/artefato. Um simples galho de árvore, por exemplo, pode 
ser convertido em cajado, ao ser utilizado por um pastor de animais. 
Sabendo-se que a capacidade de acumular informações de um objeto é 
diretamente proporcional à sua expectativa de vida (CAPLE, 2000), salienta-se aqui 
a dimensão do conjunto de informações sobre o passado, que o objeto tem o poder 
de carrear para a posteridade. Cada objeto/construção é um documento sobre o seu 
próprio passado, contendo informações sobre os materiais dos quais foi feito, o 
modo como foi construído, bem como cada incidente que ocorreu durante a sua 
existência. 
 
 
Considerações sobre o Patrimônio Industrial: 
Estudo da Fábrica Peixe, município de Pesqueira – PE. 
28 
Ao longo de sua existência, os objetos existem em conjunto com outros 
diversos objetos. Por serem duráveis e possuírem vida longa, partilham diversos 
contextos, ao longo de sua existência. Além do mais, existem em um dado contexto 
e podem ser vistos tanto separadamente, como em relação com cada um dos 
elementos de seu contexto. 
Para Caple (2000) o passado tem diversas formas de manifestação, tais como 
edifícios, paisagens, objetos, memórias, entre outras. Para um melhor entendimento, 
encadeamento e interpretação dos eventos passados, fez-se necessário um 
mergulho pela história, entendendo-a como um conhecimento por meio de 
documentos (VEYNE, 1998, p. 18). 
Assim, para a construção deste trabalho, foram feitas buscas em acervos de 
arquivos públicos e particulares, consultas bibliográficas, análise documental e 
iconográfica, entre outros procedimentos, bem como visitas de campo, para registro 
de imagens, análise do edifício e realização de entrevistas. 
A pesquisa documental seguiu o caminho da pluralidade, destacando a 
quantidade de novas fontes que podem ser invocadas para auxiliar na interpretação 
dos fatos e na construção da narrativa. Assim, foram pesquisados desde os 
tradicionais documentos, como jornais, biografias, fotografias, relatórios e outros 
documentos oficiais, até os mais incomuns como anúncios de propaganda e 
embalagens de produtos, entre outros. 
Os anúncios de propaganda surgiram como alternativa, diante da falta de 
acesso e em alguns casos, degradação dos aportes documentais. É importante 
salientar aqui que desde o início da pesquisa, o material propagandístico forneceu 
uma rica diversidade de pistas as quais conduziram a resultados surpreendentes 
sobre o papel da fabricante de goiabada no cenário da propaganda nacional. 
O processo exaustivo de reunião da informação especializada4, pulverizada 
em coleções de acervos públicos e privados, bibliotecas, fundações e institutos 
culturais, internet e museus, foi extremamente enriquecedor, gratificante e decisivo, 
tanto para a construção do trabalho, como para a formação do pesquisador que ora 
o apresenta. 
É importante salientar que embora os arquivos sejam em sua maioria de 
instituições públicas, o acesso ao seu conteúdo, é um processo quase ritualístico, 
 
4
 A lista completa dos acervos e documentos pesquisados pode ser encontrada ao final do texto. 
 
 
Considerações sobre o Patrimônio Industrial: 
Estudo da Fábrica Peixe, município de Pesqueira – PE. 
29 
cansativo, mas que traz bons resultados5. Devido às precárias condições físicas de 
suas instalações, bem como ao reduzido número de funcionários, a receita-pronta é 
ser objetivo e humilde, não se pode ficar procurando a esmo. Aos poucos, vai-se 
ganhando a confiança dos bibliotecários e demais servidores, aí então tudo se torna 
mais fácil. 
O recurso à rede mundial de computadores facilitou sobremaneira o processo 
de pesquisa, ajudando no momento de confrontação das fontes e refinamento da 
informação, permitindo também a consulta a acervos de outras instituições e 
solicitação de documentos. 
Após a reunião de todo o material partiu-se para a etapa de organização e 
identificação dos principais temas, para se proceder à análise e interpretação dos 
dados. Nesse momento, a contribuição dos relatos de ex-operários, bem como de 
moradores, especialmente os de longa data, auxiliou bastante. Citam-se ainda os 
registros iconográficos e fotografias cedidos que foram de grande valia. 
As entrevistas permitiram que se descortinasse um outro mundo de 
informações referentes à vida operária, relações de trabalho, exploração cotidiana, 
transformações na vizinhança, periferização e outros aspectos pertinentes ao tema. 
Por fim, partiu-se para a escrita da narrativa, buscando pinçar o maior número 
possível de informações, sobre a história local e do objeto em questão, com vistas a 
facilitar pesquisas futuras. É importante destacar ainda que, embora no texto não 
esteja claramente expressa uma linearidade, buscou-se seguir esse caminho, na 
medida do possível. 
É importante ressaltar que embora o objetivo do presente trabalho não tenha 
sido o de realizar um inventário exaustivo, deve-se considerar a importância do 
registro de informações acerca do objeto, e os diversos propósitos aos quais esses 
apontamentos podem servir. Citam-se aqui as observações Viñas (2005) quando 
este diz que: 
Conservadores são obrigados a conhecer o objeto em detalhe, minimizando 
as possibilidades de intervenção danosa ou atraso no processo de 
conservação; 
 
5
 Para maiores detalhes sobre as problemáticas da consulta em arquivos ver BOSI, Ecléa. O tempo 
vivo da memória: ensaios de psicologia social. Cotia: Ateliê, 2004; CASTRO, Celso. Pesquisando em 
arquivos. Rio de Janeiro: J. Zahar, 2008. PINSKY, Carla B. (org.) Fontes históricas. São Paulo: 
Contexto, 2008. 
 
 
Considerações sobre o Patrimônio Industrial: 
Estudo da Fábrica Peixe, município de Pesqueira – PE. 
30 
Todas as informações descobertas sobre o objeto estarão registradas, 
permitindo a diversos usuários, o acesso fácil a um conjunto de dados sobre 
variados aspectos deste mesmo objeto; 
Torna-se um valioso exemplo para outros conservadores proporem a 
conservação de objetos similares; 
Um conjunto de provas é criado, podendo ser examinado além do objeto em 
si mesmo, limitando ou minimizando a necessidade de observar e tocar o 
objeto diretamente.
6
; 
O registro de informações necessariamente permite a um objeto ser 
sucessivamente reconservado. 
 
Sendo assim, apresenta-se este trabalho como um instrumento norteador, um 
pontapé inicial, para o prosseguimento de estudos relacionados ao Patrimônio 
Industrial, especialmente da indústria de doces e do Estado de Pernambuco. O 
resultado dessa pesquisa está exposto de seguinte forma: 
No capítulo um, será feita uma breve exposição sobre a trajetória dos estudos 
sobre o patrimônio industrial e o surgimento de um campo específico dedicado a 
este tema, a arqueologia industrial. Faz-se também um breve apanhado sobre a 
prática institucional da conservação do patrimônio industrial, com base nos atos de 
tombamento em distintos níveis. Por fim, enumeram-se algumas contribuições de 
relevo para os estudos deste tema. 
No capítulo dois, traça-se um perfil da cidade de Pesqueira, enfatizando as 
condições que ocasionaram o seu surgimento, como distrito do município de 
Cimbres. Enumeram-se as condições que permitiram o surgimento da fábrica e 
conta-se um pouco sobre a história dos pioneiros fundadores. Ainda nesse capítulo, 
citam-se os momentos de implantação e consolidação da fábrica, bem como o início 
do processo de expansão. 
No capítulo três, traça-se um perfil da fábrica, enquanto empresa consolidada 
no mercado nacional, dando relevo às formas como esta buscou para se inserir no 
imaginário dos consumidores através propaganda. Destaca-se,assim a atuação da 
empresa como grande anunciante no período 1940-1950 e a força que exerceu junto 
a editores, jornalistas e outros profissionais da comunicação. Num segundo 
momento, cita-se a expansão dos negócios e a atuação da empresa em outros 
segmentos da indústria alimentícia, antes de se iniciar a fase de declínio. 
 
6
 Refere-se especificamente a peças de museu. 
 
 
Considerações sobre o Patrimônio Industrial: 
Estudo da Fábrica Peixe, município de Pesqueira – PE. 
31 
No capítulo quatro, resultado das visitas de campo, é observada a situação 
atual da fábrica, onde são apontadas as principais transformações que o edifício 
sofreu até apresentar a forma atual, salientam-se ainda os novos usos inseridos e as 
transformações e descaracterizações que vem ocorrendo, a partir da instalação 
destes novos empreendimentos. Dá-se relevo à fala de alguns moradores sobre a 
importância do edifício para a memória local e os possíveis problemas decorrentes 
do abandono da fábrica. 
Por fim, nas considerações finais, destaca-se a importância das pesquisas 
sobre o patrimônio industrial, especialmente em cidades do interior, onde as 
instâncias de preservação do patrimônio não se fazem tão presentes como nos 
grandes centros, salientando ainda a importância do uso de fontes variadas e 
sugerindo que se contemplem outros aspectos não restritos apenas no edifício. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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CAPÍTULO 1 
A FABRICAÇÃO: Patrimônio industrial, uma temática recente 
 
 
 
Considerações sobre o Patrimônio Industrial: 
Estudo da Fábrica Peixe, município de Pesqueira – PE. 
33 
1.1 A NOÇÃO DE PATRIMÔNIO INDUSTRIAL 
Quando se fala em patrimônio industrial, a probabilidade de pensarmos em 
uma fábrica, chaminé ou grandes edifícios, é bem maior do que a de imaginarmos 
pontes de ferro, estações ferroviárias, caixas d’água entre outros elementos 
igualmente envolvidos no processo industrial ou como produtos dele. Embora os 
primeiros sejam símbolos incontestáveis da industrialização, o entendimento atual 
sobre o legado cultural da atividade industrial, engloba muito mais elementos do que 
aqueles exclusivamente ligados à produção. 
Envolve bens culturais ligados ao local de produção, mas também às fontes 
de energia e os processos de aquisição destas, como mineração, extração vegetal, 
produção hidrelétrica, entre outras. Contempla ainda o processo de escoamento 
através de trens, navios, e toda a estrutura necessária para o funcionamento destes 
modais. Assim, máquinas a vapor para geração de energia, locomotivas, estradas 
de ferro, canais e eclusas também se incluem no rol do que hoje se denomina 
patrimônio industrial. 
Há ainda que considerar a inclusão de edifícios pré-fabricados, especialmente 
aqueles ligados à arquitetura do ferro e a arquitetura ferroviária. Por serem símbolos 
de um novo momento no processo de produção industrial e representarem a 
possibilidade de inovações no fazer arquitetônico, bastante empregados na 
confecção de instalações utilitárias tais como mercados públicos, estações 
ferroviárias, caixas d’água, também passam a ser chamados para contar sobre o 
passado industrial dos sítios onde foram fabricados, bem como de outras localidades 
onde foram implantados. 
Mesmo que hoje pareça tão clara, a importância do patrimônio cultural 
associado ao processo de industrialização, foi necessário um longo percurso até que 
se alcançasse reconhecimento sobre a relevância desses remanescentes do 
passado industrial. Embora o caráter de testemunho histórico não tenha sido negado 
a boa parte destes objetos, em se tratando de construções, que nasceram com 
finalidade exclusivamente utilitária, sem maiores preocupações estéticas como vilas 
operárias, fábricas e estações ferroviárias, torna-se mais difícil concebê-los como 
objetos de conservação. 
 
 
Considerações sobre o Patrimônio Industrial: 
Estudo da Fábrica Peixe, município de Pesqueira – PE. 
34 
Do que foi possível identificar a partir da literatura, acredita-se que as 
primeiras tentativas de valorização, exposição e conservação do que hoje se 
denomina patrimônio industrial, ocorreram na Europa, ao final do século XIX. 
Destarte as iniciativas pioneiras, a atenção para o tema, só veio apresentar um 
crescimento significativo após a segunda Grande Guerra, quando milhares de 
instalações do gênero e objetos foram destruídos, levando juntamente com os 
escombros grande quantidade de informações sobre a história das cidades. 
Citam-se aqui as primeiras experiências portuguesas, quando o crescimento 
econômico pelo qual Portugal passava, as políticas de fomento industrial, 
associadas às reformas educacionais que vinham sendo empreendidas, visando, 
entre outros objetivos, contemplar a aprendizagem industrial e comercial7, 
permitiram uma ampliação das instituições de ensino e pesquisa, quando 
 
[...pequenos museus industriais foram sendo criados pelo país na segunda 
metade do século XIX, muitas vezes associados a escolas industriais e às 
atividades dominantes nas regiões em que se inseriam; cite-se, a título de 
exemplo, o Museu Industrial Marítimo da Escola de Desenho Industrial 
Pedro Nunes, em Faro...].” (LEAL; CASACA, 2010, p. 283) 
 
Instituído por decreto de 1883, o Museu Industrial e Comercial do Porto foi 
inaugurado em 21 de março de 1886, no antigo circo olímpico (figura 01) próximo ao 
Palácio de Cristal. A área tinha a forma de um polígono de doze faces e uma área 
de mais de 1.250 m². Foi pensado com o objetivo de reunir, em um único espaço, as 
coleções que eram enviadas para as feiras e exposições internacionais, bem como 
promover o ensino e a divulgação das artes industriais e comerciais (LOUREIRO, 
2010). 
Pouco tempo depois, 28 de julho de 1887, era inaugurado o Museu Industrial 
e Comercial de Lisboa, com o objetivo de ser “o repositório do que mais belo e culto 
se produz na indústria portuguesa e um guia luminoso para a sua explanação e 
aperfeiçoamento” (TELLO, 1893, p. 296). Em 04 de janeiro de 1889, era inaugurado 
o Museu Industrial e Marítimo, da Escola Industrial Pedro Nunes, em Faro. 
Por motivos distintos, as duas instituições acabaram sendo desativadas em 
dezembro de 1899 e, para substituí-las foi criada uma Comissão Superior de 
Exposições. Trinta anos após o encerramento, o espólio destes museus ainda 
 
7
 Em 1852 é promulgado o Decreto-lei que cria o ensino industrial em Portugal. 
 
 
Considerações sobre o Patrimônio Industrial: 
Estudo da Fábrica Peixe, município de Pesqueira – PE. 
35 
estava disperso, em estado de completo abandono, sendo aos poucos integrado a 
coleções de outros museus (LOUREIRO, 2010). 
Figura 01 – Entrada do antigo circo olímpico, local onde funcionou o Museu Industrial e Comercial do 
Porto. 
 
Fontes: http://monumentosdesaparecidos.blogspot.com 
O museu do Faro, após um longo período de incertezas sobre a continuidade 
de sua existência, foi absorvido pela capitania do porto, em cuja sede funciona 
atualmente o Museu Marítimo Almirante Ramalho Ortigão. 
Cita-se, ainda em Portugal, a manifestação do médico e historiador Francisco 
de Sousa Viterbo, que em 1896 argumentava pela necessidade de se preservar os 
remanescentes da antiga atividade industrial de seu país, especialmente os 
moinhos. Para ele era preciso fazer um registro dos bens “antes que tudo se 
perdesse”8. Pretendia assim que fossem desenvolvidos estudos visando inventariar 
os bens de interesse histórico. 
Apesar do vaticínio, muita coisa, de fato, se perdeu. Somente nos anos 50, 
após a demolição de importantes edifícios históricos, bem como remanescentes da 
arquiteturado ferro como o Palácio de Cristal do Porto (figuras 3 e 4), tem início, em 
Portugal, uma tomada de consciência sobre o legado da industrialização (MENDES, 
1995). 
Outras experiências, ainda na Europa, são a abertura do Museu de Arte e 
Indústria de Saint-Etienne, em 1889, e o Museu dos Tecidos e Artes Decorativas de 
Lyon, inaugurado em 1864 e que desde 1890 vem se especializando em história da 
indústria têxtil, contendo acervo com exemplares de mais de dois mil anos de 
existência. 
 
8 Francisco de Sousa Viterbo. “Archeologia industrial portuguesa. Os moinhos”, O Archeologo 
Português, vol. II, nº 8 e 9, Agosto e Setembro de 1896, p. 194-204. 
 
 
Considerações sobre o Patrimônio Industrial: 
Estudo da Fábrica Peixe, município de Pesqueira – PE. 
36 
Figura 02 – Fragmento de mapa da cidade do Porto, 1890, 
indicando a localização do Museu Industrial e o Palácio de Cristal. 
 
 
 
Fonte: Patrícia Costa, 2010 
A criação do Skansen Museu em 1891, na Suécia, considerado o primeiro 
museu ao ar livre do mundo, organizado por Artur Hazelius, que pretendia fazer uma 
pequena mostra, dos modos de vida anteriores à segunda metade do século XIX. A 
essa época o país estava passando por grandes transformações e muitas áreas 
estavam sendo substituídas. 
Também, mostras itinerantes promovidas na Alemanha, pelas escolas de 
mineração, uma delas apresentadas na Exposição Universal de Paris em 1867, 
abordavam os diversos aspectos da atividade mineradora como geologia, 
mineralogia e petrografia, máquinas e instrumentos, modos de vida e utensílios dos 
trabalhadores. 
Figura 03 - Antigo Palácio de Cristal do Porto, vista da fachada. 
Figura 04 - Palácio de Cristal do Porto, detalhe do interior, nave central. 
 
Fonte: commons.wikimedia.org / www.porto.taf.net 
 
 
Considerações sobre o Patrimônio Industrial: 
Estudo da Fábrica Peixe, município de Pesqueira – PE. 
37 
Em 1930, consolidando essas experiências anteriores, de exibições sobre a 
exploração mineral, especialmente na região do Ruhr9, cria-se na cidade de 
Bochum, o museu alemão da mineração. 
Como foi dito, apesar dessas experiências pontuais, somente no pós-guerra, 
começam a surgir manifestações mais consistentes sobre a importância de 
conservação dos remanescentes físicos do período conhecido como Revolução 
Industrial. Após as duas grandes guerras, acompanhadas por um processo de 
declínio industrial, terá início a tomada de consciência sobre a importância dos 
monumentos industriais. Iniciada a reconstrução das cidades, destruídas durante o 
conflito, importantes testemunhos tiveram de ser demolidos, para dar lugar a novos 
espaços, gerando os primeiros protestos em defesa desse tipo de patrimônio, até 
então negligenciado. 
O surgimento da expressão arqueologia industrial, na Grã-Bretanha, 
provavelmente ocorreu no ano de 1950, em texto escrito pelo professor Donald 
Dudley. Segundo Díaz (2007), encontra-se a utilização do termo, feita por René 
Evnard, em um artigo sobre o forno de Saint-Michel na Bélgica. 
Porém, o texto de Michael Rix (1955, apud NEAVERSON, 1998), onde este 
ressalta a importância de se preservarem os restos da Revolução Industrial, 
publicado na revista The Amateur Historian10, é tido como um dos primeiros a tratar 
sobre o tema no meio acadêmico, constituindo-se numa espécie de texto fundador. 
No texto assim diz o latinista: 
“A Grã-Bretanha como o berço da Revolução Industrial está repleta de 
monumentos deixados por esta notável série de eventos. Qualquer outro 
país teria criado mecanismos para o agendamento e preservação desses 
objetos memoriais que simbolizam o movimento que está mudando a face 
do globo, mas estamos tão esquecidos do nosso patrimônio nacional que, 
além de umas poucas peças de museu, a maioria desses marcos são 
negligenciados ou inconscientemente destruídos. 
 
9
 Ruhrgebiet – situada no estado alemão da Renânia do Norte-Vestfália, é uma das áreas mais 
urbanizadas e também um dos mais importantes parques de indústria pesada da Europa. No passado 
foi grande produtora de carvão mineral e chegou a possuir 140 minas. Após o declínio industrial a 
região passou por uma instabilidade, mas encontrou uma alternativa no setor de serviços, 
especialmente os de lazer e cultura. Maiores detalhes nos sites http://www.route-industriekultur.de/; 
http://www.bergbaumuseum.de/ 
10
 “Great Britain as the birthplace of the Industrial Revolution is full of monuments left by this 
remarkable series of events. Any other country would have set up machinery for the scheduling and 
preservation of these memorials that symbolize the movement which is changing the face of the globe, 
but we are so oblivious of our national heritage that apart from a few museum pieces, the majority of 
these landmarks are neglected or unwittingly destroyed.”RIX, Michael. ‘Industrial archaeology’. The 
Amateur Historian, vol. 2, 8: 225–9. out-nov, 1955 
 
 
Considerações sobre o Patrimônio Industrial: 
Estudo da Fábrica Peixe, município de Pesqueira – PE. 
38 
No começo da década de 60, a proposta de demolição do portal da Euston 
Station em Londres, (figura 05) motiva os historiadores, pesquisadores e outros 
intelectuais como o poeta e escritor Sir John Betjeman11 (figura 07), a lançarem uma 
campanha em defesa desse patrimônio cultural que estava prestes a ser destruído. 
Apesar de protestos contrários, uma das mais antigas estações de Londres, foi 
demolida (figura 06) e reinaugurada em 1968, completamente desfigurada. 
É importante salientar que, Euston se constitui num importante exemplar, não 
apenas por seus atributos estéticos, mas também por seu papel histórico de 
representar um momento em que a ferrovia estava se expandindo e alcançando 
localidades cada vez mais distantes dos centros urbanos. 
Figura 05 – Estação Euston, vista geral com detalhe para o arco gótico, década 1950. 
Figura 06 - Portal da Euston Station, demolição do arco, ano de 1961. 
 
Fonte: www.eustonarch.org 
 
Em 1959, pouco tempo antes do clamor contra a demolição do arco da 
Estação Euston, foi criado um comitê de investigação, ligado ao conselho britânico 
de arqueologia (CBA), com o objetivo de identificar e preservar os monumentos 
significativos para a história da indústria na Inglaterra. Em 1963, numa parceria entre 
o Ministério de Obras Públicas e o CBA, foi organizado um registro nacional de 
monumentos industriais. Assim começaram a surgir as primeiras pesquisas e 
publicações voltadas à conservação do Patrimônio industrial, como os textos de Rix 
(1955) e The Journal of Industrial Archaeology de 1964. 
 
11
 Poeta, jornalista e escritor, Sir. John Betjeman, foi um apreciador da arquitetura vitoriana, tornando-
se um dos fundadores da sociedade vitoriana. Grande defensor do legado arquitetônico de gerações 
anteriores, participou de movimentos contrários à demolição de antigos edifícios em todo o Reino 
Unido. Na década de 70 foi reconhecido como poeta laureado da Coroa, de onde vem o título de Sir. 
 
 
Considerações sobre o Patrimônio Industrial: 
Estudo da Fábrica Peixe, município de Pesqueira – PE. 
39 
De certa forma, nada mais natural, que o pontapé inicial para a pesquisa e as 
primeiras publicações sobre indústrias obsoletas e sua importância cultural, fosse 
dado pela mesma nação onde tiveram início as grandes transformações que foram 
denominadas de Revolução Industrial (KÜHL, 2008). 
Figura 07 – Escultura do poeta Sir. John Betjeman no interior da estação London St. Pancras, 
cujo edifício (figura 08) o escritor ajudou a ser salvo da demolição nos anos 70 
 
Fontes: http://www.freefoto.com; http://onshed.blogspot.com 
 
Em 1965, o Centro de Estudos da história da tecnologia, da Universidade de 
Bath, realizou um levantamento do patrimônio industrial britânico e, no ano seguinte 
instala-se

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