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O estado, o mercado e as dinâmicas de poder lição 7

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23/04/2020 O estado, o mercado e as dinâmicas de poder
https://cead.uvv.br/graduacao/conteudo.php?aula=o-estado-o-mercado-e-as-dinamicas-de-poder&dcp=estudos-socioantropologicos&topico=07 1/12
Lição 07
O estado, o mercado e as
dinâmicas de poder
Começar a aula
1. Introdução
Segundo o Dicionário Oxford de Filosofia, a palavra poder, na esfera social, se define como “a
capacidade de um indivíduo ou instituição conseguir algo, quer seja por direito, por controle ou por
influência. O poder é a capacidade de se mobilizar forças econômicas, sociais ou políticas para
obter certo resultado (...)” (Blackburn, 1997:301).
No Dicionário de Política, o famoso autor Norberto Bobbio (2000) define poder de maneira mais
ampla, no entanto sempre associada à ideia de autoridade. Podemos encontrar definições do tipo:
“É poder social a capacidade que um pai tem para dar ordens a seus filhos ou a capacidade de um
governo de dar ordens aos cidadãos” (Bobbio, 2000:933).
Também encontramos que “o poder evoca a ideia de força, capacidade de governar e de se fazer
obedecer” (Souza, Garcia e Carvalho, 1998:417).
A compreensão de que o poder permeia as relações sociais sempre se revelou um campo de
reflexão bastante fértil, servindo como objeto de estudo não apenas para a Sociologia, mas também
para a Filosofia, a História, a Ciência Política e o Direito, o que tornou impossível a produção de um
conceito único de poder. O conceito de poder varia no tempo e em função da corrente de
pensamento abordada pelos diferentes autores.
Assim como nas relações humanas, o poder que as permeia é percebido através de diferentes
nuances e exercido a partir de muitas ferramentas possíveis, recebendo diferentes denominações.
Nossa intenção, nesse tópico, será trazer algumas dessas reflexões que nos ajudem a compreender
melhor as relações que estabelecemos com as pessoas, com os símbolos e com as instituições.
23/04/2020 O estado, o mercado e as dinâmicas de poder
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2. O que é o poder
Thomas Hobbes (1588-1679) introduziu o conceito de poder nas reflexões dos pensadores
ocidentais, e esse conceito se tornou elemento central de análise da realidade para as ciências
humanas. A publicação da obra de Hobbes intitulada O Leviatã, em 1651, não apenas destacou o
caráter conflituoso do poder e da relação humana, como também introduziu a ideia de uma
instituição reguladora (o Estado) das relações humanas.
Para Hobbes, o poder é uma qualidade essencial e, portanto, uma propriedade intrínseca aos
indivíduos que pode ser incorporado e acumulado. Logo, o poder é tratado como um recurso e,
portanto, como uma propriedade do indivíduo que lhe confere maiores probabilidades de realizar
seus anseios, obtendo ou acumulando algum tipo de valor ou benefício.
Esses valores ou benefícios são chamados por Hobbes de bens, não sendo necessariamente bens
materiais, mas qualquer coisa que possibilite algum tipo de favorecimento, ganhos, valores, bens,
etc. aos indivíduos. Nessa perspectiva, o poder serviria para se alcançar vantagens sobre outros
indivíduos, sejam vantagens materiais, relacionais ou outras.
O poder, conforme aponta Hobbes, não somente é cumulativo, como também atrai mais poder. Ao
perceber que, além de possuir um valor em si mesmo, o poder tem seu valor estipulado pelo
contexto em que os indivíduos estão inseridos, Hobbes constatou que ele possui duas
dimensões: essencial e relacional.
Dimensão essencial: é uma dimensão de poder que pressupõe algo inato, detido e possuído pelos
indivíduos. É um poder semelhante a uma potencialidade ou a uma capacidade latente, que se
aplica quando há necessidade de obter qualquer tipo de bem, seja material ou simbólico.
Dimensão relacional: é uma dimensão de poder que depende do contexto em que o indivíduo
está inserido, ou seja, sempre em relação a outros indivíduos ou grupos. Trata-se do valor que as
pessoas atribuem ao poder num determinado contexto.
3. O poder como relação
Para falar sobre o caráter relacional do poder, talvez antes seja necessário falar sobre a ação
humana e suas motivações. Nessa perspectiva, é importante que conheçamos o conceito weberiano
de ação social.
Na tentativa de compreender os significados e as motivações das pessoas, Max Weber produziu o
conceito de ação social, que é a ideia de que uma ação só tem um significado social quando essa
ação estabelece uma comunicação com os outros.
23/04/2020 O estado, o mercado e as dinâmicas de poder
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Quando você escreve uma mensagem numa rede social, seja em seu próprio perfil ou num perfil de
outra pessoa, sua expectativa é a de que a mensagem será lida por alguém, ou seja, sua ação só terá
significado enquanto envolver outra pessoa. Não faz sentido publicar uma mensagem sem querer
que ela seja vista, pois assim seria melhor não publicá-la.
Para Max Weber, a função do sociólogo é compreender o significado das ações sociais, e para
fazê-lo é necessário encontrar as relações causais que as determinam. 
Assim, o objeto de estudo da Sociologia é uma realidade infinita de relações humanas e a busca pela
compreensão de suas motivações. Como nas ações sociais racionais com relação a fins, que
são ações humanas motivadas por um objetivo que é racionalmente buscado. Por exemplo, quando
você estuda para uma prova, com o objetivo racional de conhecer a matéria, ter um bom
desempenho na prova e ser aprovado na disciplina. Em geral, sua ação de estudar só é realizada
porque alguém irá avaliar seu conhecimento; é a relação aluno x professor.
E nessa relação aluno x professor, podemos perceber alguns elementos que constituem uma
relação de poder; por exemplo, se um professor determina a execução de um trabalho, é porque
espera que os alunos cumpram a ordem. Caso contrário, irá puni-los dando-lhes notas ruins, pelo
poder que lhe foi dado pela instituição de ensino. O poder, então, se torna evidente nas relações
estabelecidas entre as partes, e geralmente encontra obediência quando a infração significa a
certeza de uma punição.
Assim, percebemos que o poder só existe enquanto houver relação humana, pois envolve duas
ou mais pessoas na tentativa de adequá-las a uma ordem, a um comando, ou outra forma de
controle.
Os pensadores que adotam essa concepção são chamados de subjetivistas, pois tratam o poder
como um fenômeno entre indivíduos, que implica certa relação de conflito entre eles. Assim, o
poder pressupõe uma relação de conflito, na qual há indivíduos com vontades e que utilizam certos
recursos (meios de poder) para impor sua vontade contra qualquer tipo de resistência.
É provável que Max Weber tenha formulado a melhor concepção subjetivista de poder, tratando-o
como a probabilidade de um indivíduo impor sua vontade a outro, independente de qualquer
resistência, não importando a base sobre a qual esta probabilidade resida.
Por exemplo, um indivíduo pode usar sua beleza, seu dinheiro ou seu capital cultural para
influenciar outras pessoas, com a intenção de obter algum benefício ou despertar seus interesses.
Fique sabendo!
É importante destacar que o poder não pode ser confundido com os recursos para obtê-los, pois os
recursos são apenas ‘ferramentas’ de obtenção de poder. Deste modo, o poder é uma relação
social que só existe quando algum indivíduo mobiliza determinados recursos (dinheiro,
influência, armas, etc.) para impor sua vontade a outro.
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O poder não está nas pessoas, ele não é uma essência ou propriedade inata dos indivíduos. O poder
é um conceito usado para definir aquele tipo de relação social de imposição entre os indivíduos
(CODATO; LEITE & MEDEIROS, 2009).Portanto, essa concepção de poder parte do princípio de que onde há indivíduos portadores de
vontades e motivações, dotados de recursos mobilizados de forma a impor estas vontades a outros,
há relações de poder.
Max Weber distinguiu três tipos puros de dominação, e que nos servem como referência teórica de
análise das relações de poder: dominação legal racional, na qual a obediência apoia-se na
crença na legitimidade da lei e dos direitos de mandos das pessoas autorizadas a comandar a lei;
dominação tradicional, na qual sua legitimidade se apoia na crença de que o poder de mando
tem um caráter sagrado, herdado dos tempos antigos; e a dominação carismática, na qual a
legitimidade da autoridade do líder carismático lhe é conferida pelo afeto e confiança que os
indivíduos depositam nele.
4. O poder além das relações humanas
individuais
Alguns autores identificaram o poder como um fenômeno objetivo, externo, generalizado e
irredutível aos indivíduos. Nessa concepção, chamada de objetivista, o poder não está apenas nas
relações humanas, mas decorre das estruturas das instituições que organizam as relações humanas.
No entanto, assim como a concepção subjetivista, ela entende o poder como uma situação envolvida
por algum tipo de conflito.
Cerroni (1993), ao tratar do Estado, defenderá a concepção objetivista. Segundo o autor, o poder
não depende apenas das vontades individuais, devendo ser tratado como um fenômeno objetivo,
social, coletivo e generalizado. Assim, a vontade dos indivíduos é, em certa medida, um produto da
estrutura de normas e regras, entendida como um conjunto de instituições, regras, normas e
procedimentos produzidos historicamente que influencia de maneira profunda as mentes das
pessoas, orientando suas condutas e comportamentos.
Ainda na visão de Cerroni (1993), essa estrutura normativa acaba gerando papéis sociais
específicos que se impõem aos indivíduos, fazendo-os assumirem certos condicionamentos que
implicam na incorporação e reprodução de diferentes tipos de hierarquia social, resultando em
uma divisão desigual de benefícios e privilégios no interior das sociedades.
Esse processo ocorre através de adaptações, imitações e da própria educação. “Ajustando-se as
pessoas ao meio social, elas se ajustam a uma condição hierarquizada, que lhes confere ou não
privilégios de todos os tipos” (CODATO; LEITE & MEDEIROS, 2009: 51).
Para exemplificarmos essa concepção, podemos pensar no poder simbólico do jaleco para um
médico, da farda para o policial e do terno e da gravata para um advogado, por exemplo. Para certa
parcela da população, é através destas indumentárias que estes indivíduos são reconhecidos em
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suas profissões do ponto de vista simbólico, podendo exercer diferentes tipos de poderes a eles
conferidos socialmente.
Assim por exemplo, Pierre Bourdieu (2006) constatou que os símbolos também são utilizados
como instrumentos de dominação de classe, ao verificar que o poder também é um fenômeno
cognitivo que atua em um nível inconsciente através da socialização e da educação sistemática.
Bourdieu constatou que as instituições sociais incidem sobre os indivíduos influenciando
fortemente sobre suas maneiras de pensar, sobre suas crenças, percepções, apreciações e
julgamentos, fazendo com que os indivíduos não apenas entendam o mundo de forma
hierarquizada, mas também aceitem inconscientemente as divisões e hierarquias do mundo
social.
Os objetivistas argumentam que a principal dimensão do poder não consiste no momento em que
um indivíduo impõe sua vontade sobre outro; mas no próprio consenso acerca do que vale a pena
impor, lutar ou valorizar, conforme relata Codato; Leite & Medeiros (2009).
Já a concepção apresentada pelo filósofo francês Michel Foucault (2000), que difere
substancialmente da apresentada por Bourdieu (2006), tratou do poder como um fenômeno de
dominação maciço e homogêneo, entendido como o exercício da superioridade de um indivíduo, de
um grupo ou de uma classe sobre outra. Foucault (2000) analisa o poder como algo que circula,
funcionando em cadeia; como algo que nunca está localizado nas mãos de alguns; jamais é
apossado como riqueza ou bem, e que funciona e se exerce em rede.
Nessa rede, os indivíduos não apenas circulam como também podem se submeter a esse poder,
além de exercê-lo circunstancialmente. Por isso Michel Foucault argumenta que não devemos
reduzir o poder à censura, à proibição ou à repressão escancarada. O poder pode ser exercido dessa
maneira, mas também pode “disfarçar-se”. O poder não é apenas um limitador, pronto a dizer não,
produzindo exclusivamente a forma negativa da interdição. O poder pode ser menos o controlador
de forças e mais seu produtor e organizador. Por isso, a escola, o exército e outras instituições
encarregam-se desse adestramento.
Você sabia?
Para os objetivistas, o poder está localizado em todas as sociedades através dos diferentes
padrões de relações sociais existentes em seu interior. Ele está presente em todas as suas
divisões e em suas diferentes condições de existência que disponibilizam aos indivíduos certos
atributos e capacidades desigualmente valorizados, fazendo-os se tornarem desiguais.
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É importante destacar o pensamento de Foucault em relação ao poder, pois ele o estudou não para
criar uma teoria de poder, mas para identificar os sujeitos submetendo outros sujeitos.
Foucault argumenta que as relações de poder impostas, seja por instituições como escolas, prisões
ou quartéis, foram marcadas pela disciplina: “mas a disciplina traz consigo uma maneira
específica de punir, que é apenas um modelo reduzido do tribunal” (Foucault, 2008:149). É pela
disciplina que as relações de poder se tornam mais visíveis, mais óbvias, pois é através da
disciplina que se estabelecem relações como opressor-oprimido, mandante-mandatário,
persuasivo-persuadido, e todas as outras relações que exprimam comando e comandados.
Michel Foucault foi um intelectual de enorme importância para se pensar a vida na sociedade pós-moderna, suas relações
de poder e seus condicionamentos.
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Portanto, todos os elementos sociais pertencem a um sistema de poder, no qual a
disciplina é apenas um componente que se relaciona a outros, ou seja, elementos de um conjunto
(FOUCAULT, 2010).
Fique sabendo:
Segundo Roberto Machado (1979), tradutor de Foucault: “não existe algo unitário e global chamado
poder, mas unicamente formas díspares, heterogêneas, em constante transformação. O poder não
é um objeto natural, uma coisa; é uma prática social e, como tal, constituída historicamente”.
5. Estado, mercado e poder
Thomas Hobbes argumentou que a maior instância de poder que deve existir numa sociedade é o
Estado, pois acreditava que os homens não respeitam uns aos outros quando não existe um poder
capaz de manter a todos em respeito, pois cada um espera que seu semelhante lhe atribua o mesmo
valor que ele atribui a si próprio.
Essa situação estimularia uma luta de todos contra todos pelo desejo do reconhecimento, pela
preservação da vida e da realização daquilo que cada um deseja. Por isso Hobbes criou a famosa
expressão: “O homem é o lobo do homem”.
Nessa perspectiva, a liberdade seria prejudicial para a relação entre os indivíduos, pois na falta de
“freios”, todos podem tudo, contra todos os outros.
A paz só seria possível quando todos renunciassem à liberdade que têm sobre si mesmos, e a
entregassemao Estado, realizando um pacto e uma trégua. O Estado seria o resultado do “pacto”
feito entre os homens para que todos renunciassem à “liberdade total” que tinham num suposto
estado de natureza, aceitando que o poder se concentre nas mãos de um governante soberano.
O frontispício do Leviatã de Thomas Hobbes é uma das poucas representações pictóricas de uma ideia filosófica. O
Leviatã, que aparece no antigo testamento como um monstro marinho, é a imagem de Hobbes do poderoso soberano que
representa o povo e que é, num certo sentido, a personificação deste
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Muitos atualmente ainda defendem essa ideia, mesmo ela tendo surgido no século XVII e estarmos
vivendo uma realidade completamente diferente em todos os aspectos.
A leitura de Hobbes tem uma função pedagógica e formativa, pois nos ajuda a compreender o
contexto histórico europeu do século XVII, e a busca por uma instância de governança coletiva que
pudesse submeter todos os homens ao seu poder absoluto.
Norberto Bobbio (1994) argumenta que de acordo com as ideias políticas dos Liberais, o Estado
deve ser entendido como Estado de direito, ou seja, um Estado em que os poderes públicos
são regulados pelas leis e por uma Constituição nacional, e devem ser exercidos dentro dos limites
das leis que o regulam. Caso o poder do Estado seja utilizado de forma abusiva, os cidadãos
poderiam recorrer a um juiz independente, que reconheceria e limitaria o abuso de poder. É a
doutrina que postula a superioridade do governo das leis sobre o governo dos homens. 
Nessa perspectiva, as leis deveriam estar acima de todos os grupos da sociedade, independente de
quaisquer diferenças entre indivíduos ou grupos, não devendo representar a vontade de alguns,
mas ser objetivamente imparcial.
Os liberais também argumentam que o governo do Estado sobre os indivíduos deve ser limitado,
pois todo poder coercitivo precisa de justificativa e de limites para impedir o totalitarismo do
Estado contra os indivíduos, e é nesse contexto que existiria o Livre mercado, ou seja, uma
economia que seguiria seu fluxo “natural” sem que os Estados interferissem ou se tornassem
economicamente dominantes.
Segundo os Liberais, um mercado livre, sem a interferência do governo, é um mercado muito mais
eficiente e que havendo a concorrência leal, sem que o governo favoreça uma empresa ou outra, a
economia atinge um estado ideal de equilíbrio. O Liberalismo foi uma reação ao
Mercantilismo, cujas práticas já não atendiam às novas necessidades do capitalismo; o princípio
básico do Liberalismo é a independência da economia de qualquer regra externa a ela mesma, ou
seja, a economia deveria ser regida por leis econômicas, sem a interferência das leis políticas do
Estado.
Você sabia?
Alguns defensores dessa concepção liberal, inspirados em Adam Smith e outros autores liberais,
são influenciados pelos trabalhos produzidos pela Escola Austríaca de pensamento econômico.
Alguns dos autores mais famosos dessa escola são Ludwig Von Mises, Carl Menger e Friedrich
Hayek. A Escola Austríaca foi influente no início do século XX e foi por um tempo considerada por
muitos como sendo parte do pensamento econômico dominante. No Brasil, muitas organizações
liberais da atualidade, chamadas de direita ou novíssimas direitas, são tributárias dessa tradição de
pensamento e defendem essa prática econômica e política.
23/04/2020 O estado, o mercado e as dinâmicas de poder
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É uma bela descrição de uma sociedade idealizada, onde tudo funciona para o bem de todos e cada
instituição e cada indivíduo cumprem perfeitamente sua função. No entanto, investigando a
história humana, alguns autores apontam um cenário mais sombrio. Achille Mbembe chamou de
razão mercantil a maneira liberal de governar os indivíduos, que mesmo defendendo a liberdade,
mantinha muitas pessoas em escravidão. Segundo Mbembe (2018)
A expansão do liberalismo como doutrina econômica e arte específica de governar foi
financiada pelo comércio de escravos, num momento em que, submetidos a uma acirrada
concorrência, os Estados europeus se esforçaram para ampliar seu poder e consideravam o
resto do mundo sua propriedade e seu domínio econômico. Em gestação desde a segunda
metade do século XV, a plantation em particular e, mais tarde, a colônia constituíram, nessa
perspectiva, engrenagens essenciais de um novo tipo de cálculo e de consciência planetária.
Esse novo tipo de cálculo concebia a mercadoria como forma elementar de riqueza, sendo o
modo de produção capitalista, nessas condições, uma imensa acumulação de mercadorias. As
mercadorias só têm valor porque contribuem para a formação de riqueza. É, aliás, nesse
sentido que são utilizadas ou trocadas. Na perspectiva da razão mercantilista, o escravo
negro é simultaneamente um objeto, um corpo e uma mercadoria. Enquanto corpo-objeto ou
objeto-corpo, possui uma forma. É também uma substância potencial. Essa substância, que
gera seu valor, deriva de sua energia física. É a substância trabalho. O negro é, desse ponto
de vista, uma matéria energética. Essa é a sua primeira porta de entrada no processo de
troca. Existe uma segunda porta, à qual acede por via de seu estatuto de objeto de uso, que
pode ser vendido, comprado e utilizado.
Segundo Lazzarato (2017) “o liberalismo é apenas uma das subjetivações possíveis do capitalismo
gerido pelo Estado (...) Na crise, os neoliberais não procuram governar o menos possível, mas, pelo
contrário, governar tudo, até os mínimos detalhes”. Portanto, essa junção defendida pelos liberais e
neoliberais baseadas no livre mercado e no Estado de Direito, seria apenas uma máscara para o
real controle que o Estado promove sobre os indivíduos e que não potencializa liberdades, mas, ao
contrário, suspende a democracia.
Quase dois séculos depois, o cenário político e social na Europa já é outro; a classe dos
proprietários, chamados de capitalistas liberais, depois de se tornarem a classe dominante e
consolidarem seu domínio sobre os trabalhadores, intensificaram sua força por meio do Estado.
De modo geral, Karl Marx afirmou que o Estado é um instrumento criado pelas classes
dominantes para garantir o seu domínio econômico, pois suas leis e determinações sempre
atendem aos interesses da classe dominante, garantindo seu domínio sobre os trabalhadores.
Essa imagem estilizada retrata alguns dos intelectuais mais importantes para o Liberalismo do século XX.
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23/04/2020 O estado, o mercado e as dinâmicas de poder
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A força do Estado se deve ao seu monopólio do uso legítimo da violência, ou seja, quando as leis e
normas do Estado falham, essa instituição estatal ainda possui o recurso da força, através das
polícias (civil, militar e federal) e das forças armadas (exército, marinha e aeronáutica), que
garantem os interesses da classe dominante e a ordem que lhes interessa.
Um outro elemento que reforça essa ordem e que também busca garantir o domínio das classes
proprietárias, ocorre através da força das ideias e é chamada de ideologia. Para Marx, as ideias
dominantes de uma época, são as ideias da classe dominante, argumentando que as referências
culturais são produzidas pelos homens, e principalmente pelos homens que ao longo da história
humana vão adquirindo poder sobre outros homens. Segundo Marx (1976),
Os indivíduos que constituem a classe dominante possuem, entre outras coisas, uma
consciência, e é em consequência disso que pensam; na medida em que dominam enquanto
classe e determinam uma época histórica em toda sua extensão, élógico que esses indivíduos
dominem em todos os sentidos, que tenham, entre outras, uma posição dominante como seres
pensantes, como produtores de ideias, que regulamentem a produção e a distribuição dos
pensamentos de sua época; as suas ideias são, portanto, as ideias dominantes de sua época.
Isso quer dizer que, quando uma classe se torna dominante (do ponto de vista econômico e
político), ela também consegue difundir a sua “visão de mundo” e os seus valores. Assim, uma
classe impõe os seus interesses sobre as demais, que adotam as suas concepções e acabam sendo
exploradas sem perceberem a sua condição. A ideologia, portanto, é vista por Marx como um
conjunto de falsas representações da realidade, que servem para legitimar e consolidar o poder das
classes dominantes.
Estado e ideologia seriam, portanto, ferramentas para se exercer o poder que Marx identificou na
sociedade capitalista do século XIX; tendo Marx identificado que o conflito era o motor das
relações sociais no contexto capitalista, percebeu que o Estado se tornou o grande mediador desses
conflitos entre trabalhadores e proprietários, apesar de tender para o lado dos proprietários.
A política no sentido estrito, ou seja, como ato de governar, como fenômeno ligado à gestão ou
à “administração pública”, implica necessariamente o poder: ninguém governa sem conflitos;
e ninguém governa sem mobilizar recursos para realizar seus interesses, crenças ou
motivações, impondo-os sobre outrem. A política em sentido amplo, aquela que envolve formas
ocultas, imperceptíveis e mesmo dissimuladas de influência, conflito e controle, também
implica o poder. Por isso, não é possível separar política de poder. Na verdade, o que
chamamos de fenômenos políticos ou processos políticos envolve necessariamente o poder:
todo fenômeno político implica relações entre indivíduos, grupos ou instituições que possuem
algum caráter agonístico (isto é, conflituoso). Seja de forma dissimulada, como uma relação
em que uma parte influencia imperceptivelmente outra, estimulando-a a adotar certas atitudes
ou formas de pensar; seja da forma mais explícita, como em uma relação de conflito claro e
aberto, em que uma parte obriga a outra, sob ameaça, a adotar certa atitude ou realizar
determinada ação, a política sempre envolve poder.
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6. Conclusão
Refletir a respeito do poder é revelador, pois nos ajuda a compreender diversos aspectos das
relações humanas e da vida em sociedade.
É também um tema polêmico, pois nos obriga a questionar as relações humanas e seu fundamento,
levando-nos até mesmo a reavaliar nossas relações com nossos semelhantes e com as instituições
que fazem parte de nosso cotidiano.
Você já pensou sobre como as relações de poder moldam a maneira como você pensa e percebe a
realidade? Tente agora refletir sobre toda a teia de relações de poder que envolvem a sua vida!
7. Referências
BLACKBURN, Simon. Dicionário Oxford de filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.
BOBBIO, Norberto. Dicionário de política. Brasília: Universidade de Brasília/São Paulo: Imprensa
Oficial do Estado de São Paulo, 2000.
BOBBIO, Norberto. Liberalismo e Democracia. Ed. Brasiliense, 1994.
BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Rio de Janeiro: Ed. Bertrand Brasil, 2006.
CERRONI, Umberto. Política. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1993.
CODATO, A.; LEITE, F.; MEDEIROS, P. Ciências Políticas I. Curitiba: Ed. IESDE, 2009.
FOUCAULT, Michel. Em Defesa da Sociedade. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 2000.
_________________ Estratégia, Poder-Saber. (Ditos e Escritos IV). Rio de Janeiro: Ed. Forense
Universitária, 2010.
__________________ Microfísica do poder. Rio de Janeiro, Graal, 1979.
LAZZARATO, Maurício. O governo do homem endividado. São Paulo: Ed. N-1, 2017.
MARX; ENGELS. A ideologia alemã. Lisboa: Presença/Martins Fontes, 1976.
MBEMBE, Achille. Crítica da razão negra. São Paulo: N-1 Edições, 2018.
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23/04/2020 O estado, o mercado e as dinâmicas de poder
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