[MICO] Micoses superficiais

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MICOSES SUPERFICIAIS
DERMATOFITOSES
1. Fungos dermatófitos
Dermatofitoses ou tinhas são micoses superficiais (atualmente cutâneas) que, na sua expressão clínica mais característica, apresentam lesões cutâneas de contornos arredondados em qualquer parte do tegumento cutâneo, mas preferindo certas regiões que emprestam à doença denominações próprias.
São organismos adaptados à invasão de estruturas queratinizadas, como pele, pêlos e unhas. Abragem os fungos dos gêneros Microsporum, Trichophyton e Epidermophyton.
2. Epidemiologia
São micoses contagiosas em que o contágio pode ser feito por contato direto, através de seres humanos, animais ou solo contaminado, e por contato indireto, através da exposição a fômites.
3. Classificação segundo o habitat
- espécies geofílicas: Microsporum gypseum.
- espécies zoofílicas: Microsporum canis e Trichophyton mentagrophytes variedade mentagrophytes (granular).
- espécies antropofílicas: Trichophyton mentagrophytes variedade interdigitale, Trichophyton rubrum, Trichophyton tonsurans, Trichophyton schoenleini, Epidermophyton floccosum.
4. Manifestações clínicas: lesões
- Tinea capitis: tinha do couro cabeludo.
- Tinea corporis: tinha da pele.
- Tinea unguium: tinha da unha ou onicomicose.
- Tinea cruris: tinha inguinal.
- Tinea favosa: favo.
5. Tinea capitis
- conhecida como tinha do couro cabeludo.
- ectotrix: Microsporum canis, Microsporum gypseum, Trichophyton rubrum e Trichophyton mentagrophytes variedade mentagrophytes (granular).
- endotrix: Trichophyton tonsurans.
- no couro cabeludo, o parasitismo exerce-se diretamente sobre os cabelos, enfraquecendo-os, partindo-os, produzindo as chamadas placas de tinha tonsurante nas suas variedades endotrix e ectotrix, a primeira atuando de dentro para fora, a segunda agindo, principalmente, de fora para dentro.
- a tinea capitis tonsurante é própria da infância, raramente ultrapassando a puberdade, quando entram em ação os hormônios que vão determinar os caracteres sexuais secundários. Isto não é verdadeiro para a tinha fávica.
- a “tinha não tonsurante” ou “tinha fávica”, o parasitismo exerce-se de maneira diferente: o cabelo, em si, é pouco afetado, observando-se ao microscópio apenas algumas hifas septadas no seu interior. Estas hifas invadem o bulbo do cabelo e o destroem: os cabelos soltam-se inteiramente, nunca mais se refazendo. Portanto, mesmo após a cura da infecção, a tinha fávica deixa placas alopécicas definitivas. Ainda tem outra característica importante: ao contrário das tinhas tonsurantes, que quase sempre se curam na puberdade, independentemente de terapêutica, o favo é infecção em todas as idades.
- em relação às tinhas de espécies antropofílicas, o processo frequentemente associa-se com infecção bacteriana, tornando a inflamação mais aguda ainda. As tinhas inflamatórias que acabamos de descrever expressam a forma clínica denominada Querion (Kerion de Celso).
				
		 Tinea capitis endotrix				 Tinea capitis ectotrix
			
	 Tinea capitis tricofítica				 Tinea capitis microspórica
6. Tinea corporis
- pode acometer qualquer parte do corpo.
- os agentes mais freqüentes são Trichophyton rubrum e Trichophyton mentagrophytes.
Tinea corporis
7. Tinea cruris
- acomete a região inguinal (virilha).
- comum nos homens adultos.
- acometimento geralmente bilateral.
- manifesta-se por uma lesão avermelhada, de bordas circinadas, quase sempre vesiculosas, podendo estender-se vários centímetros para a região crural, para o púbis, abdome e região glútea.
- os agentes mais freqüentes são Trichophyton rubrum e Epidermophyton floccosum.
Tinea cruris
8. Tinea pedis
- tem localização mais freqüente nos pés e espaços interdigitais.
- geralmente dissemina-se para a região plantar, para a borda e dorso dos pés.
- nas formas crônicas interdigitais está sempre presente uma fissura, cercada de lesão escamosa nas paredes dos artelhos.
- um segundo aspecto clínico da tinea pedis é a hiperqueratose da região plantar.
- outras vezes, predomina o aspecto vesiculoso, tendo como ponto de partida o espaço interdigital.
 Tinea pedis
9. Tinea unguium
- acometimento fúngico das unhas, conhecido como onicomicose.
- na onicomicose superficial (leuconíquia), o dermatófito responsável é o Trichophyton mentagrophytes.
- os dermatófitos atacam por cima, pelos cantos das bordas livres das unhas, de cima para baixo. As unhas intensamente parasitadas tornam-se friáveis e desagregam-se com facilidade.
- na onicomicose, as unhas perdem seu brilho característico, tornam-se opacas ou mesmo leitosas.
- comprometimento subungueal, mas não de matriz.
- maior prevalência em mulheres adultas.
 Onicomicose
10. Tinea favosa
- também chamada favo, tinha favosa, tinha crostosa.
- tem como característica clínica as lesões crostosas; estas, no couro cabeludo, chegam a dar impressão de um verdadeiro capacete.
- quando observadas isoladamente, têm as bordas elevadas e a parte central deprimida, lembrando cratera de vulcão. Descreve-se, ainda, um odor desagradável que exala das lesões.
- costuma-se descrever o Trichophyton schoenleinii como seu agente etiológico. Na verdade, outros dermatófitos podem produzir lesões semelhantes: T. violaceum, T. verrucosum e
Microsporum gypseum. 
- a infecção pode ir desde as formas mais benignas até as formas muito graves, generalizadas, viscerais, granulomatosas, transpondo, assim, a barreira dérmica e expressando-se como micose profunda.
11. Diagnóstico laboratorial
A) Coleta de material: amostra
- lesão seca e descamativa: raspado cutâneo.
- lesão exsudativa: raspado e/ou swab.
- lesão vesicular: colher o teto das vesículas e bolhas.
- couro cabeludo: raspado e pêlos tonsurados.
- lesões ungueais: raspado da massa ceratósica.
B) Exame micológico
B.1) Direto: amostra coletada
- o material é colocado entre lâmina e lamínula, misturado com uma solução de hidróxido de potássio (potassa) diluído em 20%.
- levar ao microscópio e observar o aspecto típico dos dermatófitos (hifas septadas ou artroconídios positivo ou negativo).
- parasitismo na pele e unha: escamas com hifas septadas, artrosporadas e artroconídios.
- parasitismo no pêlo: artroconídios dentro do pêlo ou fora do pêlo. O cabelo com parasitismo endotrix é sempre causado por Trichophyton tonsurans; já o parasitismo ectotrix é sempre causado por Microsporum canis ou Microsporum gypseum.
B.2) Identificação do agente: cultura das amostras
- meio de ágar-Sabouraud ou ágar-Mycosel.
- isolamento do agente.
- estudo da morfologia: macroscopia e microscopia da cultura.
B.3) Microsporum canis: microscopia da cultura
- hifas septadas hialinas.
- microconídios presentes (pequeno número).
- macroconídios em naveta, fusiforme ou canoa, com parede espessa e rugosa.
- com mais de 6 septações internas.
Macroconídio fusiforme, com 
mais de 6 células por parede 
 espessa
B.4) Microsporum gypseum: macroscopia da cultura
- cultura cor-de-canela médio ou intenso, granulosa, com a periferia terminando em aspecto típico “esparramado”.
- reverso castanho claro ou incolor.
B.5) Microsporum gypseum: microscopia da cultura
- hifas septadas hialinas.
- microconídios presentes (pequeno número).
- macroconídios em naveta ou canoa, com paredes finas geralmente sem espículas.
- com menos de 6 septações internas.
 Macroconídios fusiformes, em 
 “naveta”, com menos de 6 
 células, parede fina
B.6) Trichophyton rubrum: macroscopia da cultura
- cultura de aspecto aveludado ou finamente granuloso, com botão central cotonoso e halo vinhoso.
- o pigmento vinho pode se difundir no meio.
- reverso cor de vinho.
B.7) Trichophyton tonsurans: macroscopia da cultura
- cultura de aspecto granuloso.
- círculos com depressão central.
- cor amarelo sulfuroso de areia escuro.
- reverso com tonalidade ferrugem.
B.9) Epidermophyton floccosum: macroscopia da cultura
- cultura de aspecto arborescente e superficial, lembrando uma fina camurça.
- cor de tom esverdeado pardacento.
- reverso cor verde-limão.
B.9) Epidermophytonfloccosum: microscopia da cultura
- hifas septadas hialinas.
- não formam microconídios.
- macroconídios em forma de raquete, agrupados em cachos com septações transversais.
 macroconídios em clavas
CERATOFITOSES
1. Pitiríase versicolor
- micose superficial de evolução crônica e recidivante.
- patogenia: levedura lipofílica que vive saprofiticamente.
- se caracteriza por manchas cutâneas de tonalidades que variam da hipo a hiperpigmentação, com distribuição mais freqüente no tronco, membros superiores e face, mas distribuindo-se, às vezes atipicamente, pela região crural, membros inferiores, couro cabeludo, havendo referências de regiões palmar e plantar.
- fatores que facilitam a filamentação, tornando-a patogênica: oleosidade e sudorese excessiva da pele, substâncias lubrificantes, estados carenciais, higiene pessoal e uso indiscriminado de corticóides e antibióticos.
- conhecida como “pano branco”.
- etiologia: Malassezia spp (leveduras lipofílicas sapróbias da pele).
- formam hifas ou filamentos septados.
- o agente da pitiríase versicolor é antropofílico. A se considerar a Malassezia como o verdadeiro agente da micose, é um habitante normal da pele humana, aparecendo muito mais freqüentemente nos estados seborréicos.
- o Malassezia produz ácidos gordurosos livres em muitas regiões da superfície cutânea (ácido laurico, ácido mirístico, ácido palmítico, ácido esteárico, ácido oléico e outros) que revelam ação antifúngica.
- a Malassezia pode, em algumas ocasiões, se tornar sistêmica (profunda) produzindo uma malasseziose em pacientes submetidos à alimentação lipídica endovenosa.
A) Meio de cultura
- meios ricos em gordura (óleo de oliva), incubados a 37°C por um a duas semanas e colônia leveduriforme branco-amarelada.
- microscopicamente: células leveduriformes e brotamento único, com aspecto de “garrafa de boliche”.
- a cultura não é de uso rotineiro.
Pitiríase versicolor
2. Piedra branca
- micoses que se manifestam sob a forma de nódulos duros, consistência pétrea nos pêlos e cabelos, de coloração branca ou branca-amarelada.
- etiologia: Trichosporon spp.
- principais espécies patogênicas: T. inkin (virilha) ou T. ovóides (cabelos).
- epidemiologia: predominante em regiões de clima temperado.
- habitat: microbiota da pele humana, solo, água de lagos e animais domésticos.
- acomete os pêlos, principalmente na região genital e cabelos.
- nódulos com artroconídios e blastoconídios.
- tratamento: corte de cabelos e uso de shampoos.
A) Meio de cultura
- macromorfologia: colônia leveduriforme branca-amarelada, cerebriforme (aspecto de “cocada branca”), às vezes com discreto micélio aéreo, branco e cotonoso.
 nódulo branco-amarelado,
 formado por artroconídios