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EXERCÍCIO DA ENFERMAGEM O ERRO E O PROFISSIONAL DE ENFERMAGEM ERRAR É HUMANO Quando pessoas se tornam pacientes, depositam confiança em profissionais de saúde para determinar os diagnósticos, os tratamentos e os cuidados necessários para a recuperação da saúde, tendo o direito de exigir que assumam a responsabilidade, também, pela garantia de sua segurança durante a implementação de todos os aspectos de atendimento. “Errar é humano” é uma expressão que está fortemente arraigada na nossa cultura popular e que é freqüentemente utilizada quando se quer expiar alguma culpabilidade de um ato involuntário equivocado cometido por uma determinada pessoa. Entretanto, quando o erro humano é cometido na atuação profissional referente à saúde de um paciente, esse conceito tão tradicional e perdoável na maioria dos casos não pode ser encarado de maneira simplória, posto que pode estar colocando em risco uma vida humana. Os eventos adversos podem estar presentes durante as ações desenvolvidas no sistema de saúde. Contudo, os erros devem ser classificados como eventos adversos evitáveis, pois são passíveis de prevenção. Ao mesmo tempo, um erro capaz de gerar um agravo ao paciente jamais será mera conseqüência de falha humana e sim de um sistema de atendimento que contribui para a ocorrência de problemas capazes de causar danos. Segundo Pedreira (2009), James Reason, proeminente pesquisador na área do erro humano, postula que jamais poderemos extinguir a possibilidade do erro, já que esta é uma característica imutável no ser humano, mas podemos transformar o ambiente no qual os seres humanos agem, desenhando sistemas que tornem mais fácil fazer o certo e mais difícil fazer o errado. Assim, para a busca da segurança do paciente há necessidade de se procurar continuamente implantar no sistema de saúde uma cultura de segurança. Neste tipo de abordagem, presente há décadas em outras atividades humanas, os erros são vistos como falhas no sistema e, assim, ações são realizadas para a melhoria dos planos ou das ações envolvidas. Como resultado espera-se que outras similares falhas possam ser prevenidas, por meio da implantação de sistemas de segurança capazes de detectá-las e preveni-las. A promoção da segurança do paciente envolve uma série de medidas e ações no recrutamento, na educação e na retenção de profissionais de saúde capacitados e habilitados, que possam trabalhar em ambientes seguros e com recursos suficientes. No entanto, pesquisas mostram que poucos são os profissionais de saúde que trabalham com o tempo, os recursos e os mecanismos que necessitam para prestar uma assistência segura a seus pacientes. No que concerne à enfermagem estudos têm demonstrado que o sistema de saúde não é desenhado para promover boas práticas de enfermagem. Os mais de 13 milhões de profissionais de enfermagem do mundo devem ter a segurança do paciente como fundamento de sua prática, mas poucos são os que trabalham em condições apropriadas que lhes permitam desenvolver os cuidados de enfermagem que aprenderam ou idealizaram para seus pacientes e familiares. Evidências científicas produzidas em diferentes países indicam que instituições que possuem adequado número de enfermeiros com maior qualificação profissional, sendo este último aspecto mais significante sobre os resultados, possuem melhores resultados em saúde e na promoção de segurança, com redução de taxas de infecção hospitalar, quedas, úlceras por compressão, erros de medicação, contribuindo com decréscimos significantes no tempo de permanência nas instituições de saúde e na mortalidade dos pacientes. 2 Para Gonçalves (2000), ERRO é a idéia falsa da realidade, distinguindo-se da ignorância, que é o completo desconhecimento da realidade. O ERRO também pode ser definido como o uso não intencional de um plano incorreto para alcançar um objetivo, ou a não execução a contento de uma ação planejada. Além disso, enfatiza que o erro é justificável, desculpável, quando se compara a conduta do agente com a da média das pessoas. Na prática de enfermagem, Bueno (1998), explorando erros na administração de medicamentos pela enfermagem, identificou fatores de risco mais comuns à ocorrência de erros. Os resultados indicaram que os fatores de risco mais comuns associados ao profissional referem-se à falta de atenção (negligência) e ao desconhecimento (imperícia). No caso de preparo e administração de drogas foram apontadas a punição e a educação como as intervenções a serem utilizadas, e a orientação e reciclagem como propostas para minimizar a ocorrência dos erros cometidos pela enfermagem. Isto se comprova de acordo com os achados de Freitas (2002), que apontou a negligência como a principal causa das ocorrências éticas com pessoal de enfermagem no que se refere à administração de medicamentos, destacando-se a categoria dos auxiliares de enfermagem como aquela em que esse tipo de falha técnica mais sobressai. O resultado desta pesquisa é condizente com a realidade, considerando que a categoria dos auxiliares de enfermagem era a mais abrangente e a que mais assumia o preparo e a administração de drogas nos hospitais na época, estando sob a supervisão do enfermeiro. Carvalho & Cassiani (2000) e Santos (1995) apontaram que a questão dos erros de medicação é uma das indicadoras da qualidade da assistência prestada aos clientes hospitalizados. Esses estudos enfatizaram a necessidade de propiciar um ambiente seguro, com disponibilidade de recursos humanos e físicos, assim como investimentos em educação e reciclagem em farmacologia e técnicas de administração de drogas como medidas necessárias a ser implementadas pelos serviços de enfermagem, com o respaldo e o apoio institucional, a fim de evitar a exposição da vida e a segurança do cliente a riscos dessa monta. É direito do profissional de enfermagem atualizar-se, porém é uma obrigação da instituição facilitar essa prática. Ao mesmo tempo, o enfermeiro, o técnico e o auxiliar de enfermagem precisam buscar a atualização, a reciclagem e o desenvolvimento profissional, tornando-se capazes de cuidar com mais segurança e preparo. Por outro lado, gerenciar as condições de trabalho e os riscos a que os clientes e os profissionais de enfermagem estão expostos é mais do que uma obrigação da instituição e da gerência do serviço de enfermagem: É um dever ético do enfermeiro evitar riscos desnecessários aos clientes. Ao mesmo tempo, trata-se de uma obrigatoriedade legal das instituições de saúde, no sentido de que elas têm o dever de oferecer condições de trabalho seguras, a fim de prevenir riscos, danos, prejuízos ou iatrogenias, decorrentes da deficiência ou insuficiência de recursos humanos e materiais. Sem dúvida, é melhor prevenir do que indenizar danos acarretados por profissionais envolvidos com a assistência direta ou indireta (enfermeiros, administradores, médicos, etc.). Poderá ser ainda menos dispendioso às empresas de saúde investir na atualização e no aprimoramento de seus empregados do que gastar com indenizações judiciais de grande monta do ponto de vista financeiro e moral. Por outro lado, é incoerente preocupar-se apenas com os riscos a que os clientes estão expostos ou com os danos sofridos e não investir no combate à causa maior do erro, que são o despreparo técnico, as más condições de trabalho e a remuneração insuficiente, que levam à dupla ou à tripla jornada de trabalho diário de muitos profissionais. (Oguisso, 2006) Disciplina: Introdução à Enfermagem Profa. Marilia J. Pereira
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