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Sapatas ou Estacas? Quando usar? Adriana Ribeiro Especialização em Estrutura da Construção Civil FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba Sorocaba/ SP - Brasil ar.eng.const@gmail.com.br Resumo— A fundação se divide em Fundação Direta, também conhecida por Fundação Rasa ou Superficial, e Fundação Profunda. A prática de uma fundação depende de inúmeras atividades e é desempenhada por profissionais com diferentes formações e experiências. A má execução construtiva pela falta de informações, tanto por quem executa, quanto pelo projetista, podem afetar o desempenho dos elementos da fundação a longo prazo. A melhor escolha, as causas patológicas e possíveis soluções para esses problemas serão abordadas nesse artigo, de forma direta e sem muitos detalhes. Palavras-chave — Fundação; Patologia; Soluções. I. INTRODUÇÃO undações são elementos estruturais com a função de transmitir as cargas da estrutura ao terreno onde elas se apoiam. Para se ter êxito em uma execução de fundação, deve- se ter, além de uma mão de obra qualificada, conhecimento do solo, projeto estrutural e do material que será usado. A investigação do solo é feita através de sondagem executada por empresas especializadas. Através dessa sondagem e pelas cargas calculadas em um projeto estrutural, inicia-se a escolha da fundação. Segundo Beterquini, Koga e Miranda (2017, p.17), “Com a compreensão de todos os possíveis tipos de patologia, a qual permite uma ação mais qualificada, não só do profissional responsável, mas também de todos ligados direta ou indiretamente à obra; e também utilizando a boa prática, atendendo adequadamente às normas e executando a fundação com mão-de-obra qualificada, obtém-se uma estrutura sem maiores problemas no decorrer dos anos”. II. OBJETIVO Neste artigo serão abordadas as principais diferenças entre uma sapata e uma estaca, mostrando alguns problemas causados pela má escolha do tipo de fundação e possíveis soluções. III. FUNDAÇÃO SUPERFICIAL (RASA OU DIRETA) A Norma Brasileira que trata o assunto das fundações é a 6122/2010 – Projeto e Execução de Fundações. Segunda a norma, é considerado um elemento de fundação superficial (rasa ou direta) quando a carga da edificação é transmitida ao terreno por uma base da fundação duas vezes maior que sua altura (H < 2B). Podemos citar como fundação direta sapatas, radier, blocos, sapatas associadas, vigas de fundação e as sapatas corridas. 1. SAPATA ISOLADA Elemento de fundação direta feita de concreto armado que transmitem as ações de um único pilar centrado, com seção não alongada, dimensionado de modo que as tensões de tração não sejam resistidas pelo concreto, mas sim pela armadura. Sua base em planta pode ser quadrada, retangular ou trapezoidal. É o tipo de sapata mais utilizada. Figura 1 – Sapata isolada Fonte: www.flickr.com/photos/tecdaconstrucao/3793508457 2. SAPATA ASSOCIADA Sapata comum a vários pilares, cujos centros, em planta, não estejam situados em um mesmo alinhamento. Transmitem as ações de dois ou mais pilares adjacentes. São utilizadas quando não é possível a utilização de sapatas isoladas para cada pilar, por estarem muito próximas entre si, o que provocaria a superposição de suas bases (em planta) ou dos bulbos de pressões. Neste caso, convém empregar uma única sapata para receber as ações de dois ou mais pilares. O centro de gravidade da sapata normalmente coincide com o centro de aplicação das cargas dos pilares. Para condições de carregamento uniformes e simétricas, as sapatas associadas resultam em uma sapata corrida simples, de base retangular. Usualmente, as sapatas associadas são projetadas com viga de rigidez (enrijecimento), cujo eixo passa pelos centros de cada pilar. F Figura 2 – Sapata Associada Fonte: www.escolaengenharia.com.br/sapatas-de-fundacao/ 3. SAPATA CORRIDA É um tipo de fundação com formato de uma viga, sujeita à ação de uma carga distribuída linearmente de paredes, muros ou qualquer elemento alongado. O dimensionamento deste tipo de sapata é idêntico ao de uma laje armada em uma direção. Por receber ações distribuídas, não é necessária a verificação da punção em sapatas corridas. Como vantagens das sapatas corridas como fundação estão o baixo custo e rapidez para a execução, versatilidade, pouca escavação e baixo consumo de concreto e o uso de ferramentas simples para a escavação. Figura 3 – Sapata Corrida Fonte: www.escolaengenharia.com.br/sapatas-de-fundacao/ 4. BLOCO Elemento de fundação direta feita de concreto armado, dimensionado de modo que as tensões de tração possam ser resistidas pelo concreto, sem a necessidade de armadura. Pode ter suas faces verticais, inclinadas ou escalonadas e apresentar em planta secção quadrada ou retangular. Segundo a Norma Brasileira 6118/2014 – Projeto de Estruturas de Concreto - Procedimento, o bloco deve ter altura suficiente para permitir a ancoragem da armadura de arranque dos pilares. Em blocos com duas ou mais estacas em uma única linha, é obrigatória a colocação de armaduras laterais e superior. Em blocos de fundação de grandes volumes, é aconselhável analisar a necessidade da utilização de armaduras complementares. A figura abaixo mostra um bloco de concreto armado já preparado com os arranques para receber o pilar da estrutura. Figura 4 – Blocos Fonte: www.guiadaengenharia.com/wp-content/uploads/2018/01/bloco- fundação-superficial.jpg IV. FUNDAÇÃO PROFUNDA 1. ESTACAS São peças alongadas, cilíndricas ou prismáticas, cravadas ou confeccionadas no solo. Pode ser de madeira, concreto ou aço. Pré-Moldadas ou Moldadas In-loco. São utilizadas sozinhas ou em grupo, solidarizadas por um bloco rígido de concreto armado (bloco de coroamento). Existem vários tipos de estacas, as mais utilizadas são Strauss, Escavada, Frank, Hélice Contínua, Raiz, Pré-Moldada de Concreto, Metálica e Madeira. A escolha do tipo de estaca a ser utilizada depende da topografia do terreno e sondagem do solo. Por exemplo: área onde o nível d’água não atingir a profundidade da estaca, pode-se usar uma estaca escavada. Se houver a presença de água pode-se usar uma estaca Strauss, Hélice Contínua e Pré-Moldada de Concreto Armado. Figura 5 – Estaca Fonte: http://blogpraconstruir.com.br/etapas-da-construcao/estacas/ Figura 6 – Estaca Strauss Fonte: Arquivo pessoal Figura 7 – Estaca Strauss Fonte: Arquivo pessoal 2. TUBULÕES – a diferença entre o tubulão e a estaca é a base alargada do tubulão. Para finalizar a escavação de um tubulão é necessário a descida de um operário para completar a escavação da base alargada. Por esse motivo o diâmetro de um tubulão deve ser maior ou igual a 70 cm. Existem dois tipos de tubulões. 2.1. A céu aberto – pode ter ou não revestimento e em geral utilizado acima do nível d’água. Figura 8– Tubulão a céu aberto Fonte: www.escolaengenharia.com.br/tubulao-a-ceu-aberto/ 2.2. Pneumático ou ar comprimido São revestidos com concreto armado ou aço (Benoto) e utilizados abaixo do nível d’água. Figura 9 – Tubulão de Ar Comprimido ou pneumático Fonte: sites.google.com/site/langeotecniaefundacao/contato/produtos V. QUAL TIPO DE FUNDAÇÃO ESCOLHER Depois de todo o projeto estrutural de superestrutura de uma edificação pronto, o próximo passo é a escolha do tipo de fundação que será utilizado. Para fazer essa escolha deve-se analisar a sondagem de solo feita na área em que será construída a edificação. Segundo a NBR 8036/1983 – Programação de sondagens de simples reconhecimento dos solos para fundações de edifícios, as sondagens devem ser, no mínimo: 02 sondagens para até 200m² de área da projeção em planta do edifício,01 sondagem para cada 200 m² de área da projeção em planta do edifício, até 1200 m² de área. Entre 1200 m² e 2400 m² deve-se fazer uma sondagem para cada 400 m² que excederem de 1200 m². Acima de 2400 m² o número de sondagens deve ser fixado de acordo com o plano particular da construção pelo projetista. Nos casos em que não houver ainda disposição em planta dos edifícios, como nos estudos de viabilidade ou de escolha de local, o número de sondagens deve ser fixado de forma que a distância máxima entre elas seja de 100 m, com um mínimo de três sondagens. Com a planta de carga e sondagem de solo o projetista fará a escolha da fundação através do tipo de solo e sua capacidade de carga. Em solos com baixa capacidade de carga deve-se utilizar uma fundação profunda e a sua profundidade vai depender da resistência de cada camada de solo e da carga que esse solo terá que resistir. VI. PATOLOGIAS Muitas construções são executadas sem o devido estudo do solo através da sondagem para ter uma economia maior na construção. Normalmente essa ausência do estudo do solo ocorre em construções de pequeno porte, mas também presente em algumas construções de médio porte. Mas essa economia pode gerar gastos muito grandes posteriormente. Nesses casos a fundação utilizada é a fundação direta, em sua maioria, sapatas. A falta desse estudo pode causar patologias na construção depois de executada. Em alguns casos podem levar a edificação à ruína. No dimensionamento de uma fundação deve-se usar um fator de segurança para evitar recalques na estrutura causados pela ruptura do terreno e deformações excessivas nele provocadas. O recalque pode ocasionar efeitos estruturais, arquitetônicos e funcionais. Os danos estruturais são danos causados à estrutura (vigas pilares e lajes). Figura 10 – Recalque da fundação Fonte:engcivil.maquinadeaprovacao.com/posts/artigo/recalque-diferencial- entenda-este-fenomeno/43 Os danos arquitetônicos são causados à estética da edificação, como trincas em paredes e acabamentos. Os danos funcionais são os causados à utilização da estrutura, como ruptura de esgotos e galerias, emperramento de portas e janelas, etc. Segundo CONSOLI. N.C.; MILITITSKY. J.; SCHNAID. F., os recalques diferenciais máximos em fundações assentes em solos granulares (areia) é de pelo menos 25mm da indicação de Tezarghi e Peck (1948), ou conforme Skemptom e Mac Donald (1956), 25mm para recalque diferencial e 40mm para recalque total. As principais causas de recalques em uma edificação são o rebaixamento do lençol freático, solos colapsíveis, escavações em áreas adjacentes à fundação, vibrações e escavação de túneis. Em locais onde foi encontrado um solo colapsível o fator de segurança de cálculo que deve ser utilizado é 4. Nos demais casos o fator de segurança utilizado é 3. Utiliza-se um fator de segurança alto para o dimensionamento das fundações por não se saber com exatidão o que será encontrado no subsolo. Mesmo com os estudos de sondagem de solo, não se tem como ter certeza do que há lá embaixo. Figura 11 – Recalque da fundação Fonte: www.nucleodoconhecimento.com.br/engenharia-civil/recalque-de- fundacoes VII. CONCLUSÃO Muitos problemas nas edificações podem ser evitados se todos os estudos da área e projeto estrutural forem feitos. Apenas um profissional qualificado poderá garantir a integridade futura da edificação. A economia que se faz não fazendo esses estudos e projetos podem causar problemas graves na edificação, podendo haver a perda da edificação parcial ou totalmente. O valor para se fazer o reforço da estrutura é alto, podendo ser inviável se alcançar o valor da edificação. REFERÊNCIAS [1] CONSOLI. N.C.; MILITITSKY. J.; SCHNAID. F. “Patologia das Fundações”. 2ª ed. Oficina de Textos. São Paulo, 2013. 208p. [2] BERTERQUINI. A. B. T.; KOGA. L. M.; MIRANDA. M. O. “Patologias da Fundações”. Disponível em: <http://ojs.toledo.br/index.php/engenharias/article/view/2543/148>. Data de visualização: 28 Out 2017. Adriana Ribeiro. Engenheira civil, especialista em Estrutura da Construção civil pela Faculdade de Engenharia de Sorocaba. Nascida em São Roque, cidade do interior do estado de São Paulo, em 13 de junho de 1978.