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"planeta", "H20" são nomes ou conceitos universais. "N~pol.e~o", ."Terra", "o Atlântico" são conceitos ou nomes singulares ou mdtvtduats. Nesses exemplos, os conceitos ou nomes individuais parecem caract~rizar-se ou por serem nomes próprios ou por terem de ser definidos por meio de nomes próprios; ao passo que os conceitos ou nomes universais podem ser definidos sem o uso de nomes pró- prios. Considero de fundamental importância a distinção entre conceitos ou nomes universais e individuais. Toda aplicação da Ciência assenta- -se numa inferência de casos singulares a partir de hipóteses científicas (que são universais); isto é, baseia-se na dedução de predições sin- gulares. Em todo enunciado singular devem ocorrer conceitos ou nomes individuais. Os nomes individuais que ocorrem nos enunciados singulares da ciência aparecem, freqüentemente, sob feição d!! coordenadas espaço- ·tem'JOrais. Isso se CORijlreende facilmente, bastando considerar que a ap.'icação de um sistema espaço-temporal de coordenadas sempre envolve referência a nomes individuais. Temos, com efeito, de fixar- -lhe os pontos de origem e só podemos fazê-lo empregando nomes próprios (ou seus equivalentes). O uso dos nomes "Greenwich" e "o ano de nascimento de Cristo" ilustra o que pretendo dizer. Por esse método, um número arbitrariamente grande de nomes individuais pode ser reduzido a uns poucos. 1 Expressões vagas e gerais, tais como "esta coisa", "aquela coisa", e assim por diante, podem por vezes ser empregadas como nomes individuais, talvez acompanhadas de algum tipo de gesto. Em resumo, podemos utilizar signos que não são nomes próprios, mas que, em determinada medida, são passíveis de substitui~ão por nomes próprios ou coordenadas individuais. Todavia, ( 1 ) As unidades de medida do sistema de coordenadas, antes estabelecidas por meio de nomes individuais (a rotação da Terra; o metro-padrão locali- zado em Paris), podem ser definidas, em princípio, através de nomes u~iversais - .por meio, digamos, do comprimento de onda ou da freqüência de uma luz monocromática, emitida por certos tipos de átomos submetidos a determinado tratamento. ' 67 tamente universais" nunca podem ser verificados e, em conseqüência, rejeitam-nos, com base ou no critério de significado, por eles acolhido, e que reclama verificabilidade, ou com base em alguma consideração similar. É claro que, admitida uma concepção de leis naturais que ignora a distinção entre enunciados singulares e universais, o problema da in- dução poderá parecer resolvido, pois, obviamente, tornam-se perfeita- mente admissíveis inferências que levam a enunciados apenas numeri- camente universais a partir de enunciados singulares. Contudo, é igualmente claro que o problema da indução, sob seu ângulo metodo- lógico, não é tocado por esta solução. Em verdade, a verificação de uma lei natural só pode ser levada a efeito se se estabelecer empírica- mente cada um dos eventos singulares a que a lei poderia aplicar-se e se se verificar que cada um desses eventos se conforma efetivamente com a lei - tarefa evidentemente impossível. De qualquer forma, a questão de saber se as leis da Ciência são estritamente ou numericamente universais não pode ser resolvida atra- vés de argumentação. Trata-se de uma dessas questões que só podem ser resolvida por acordo ou convenção. Tendo em vista a situação metodológica referida, considero útil e frutífero encarar as leis natu- rais como enunciados sintéticos e estritamente universais ("enuncia- dos-todos"). Isso equivale a encará-los como enunciados não verifi- cáveis, que podem ser apresentados sob a forma seguinte: "de todos os pontos do espaço e do tempo (ou em todas as regiões do espaço e do tempo) é verdadeiro que ... ". Em contraste, chamo de enunciados "específicos" ou "singulares" os enunciados que dizem respeito apenas a certas regiões finitas do espaço e do tempo. A distinção entre enunciados estritamente universais e enunciados apenas numericamente universais (que são realmente uma espécie de enunciado singular) será aplicada tão-somente a enunciados sintéticos. Devo, entretanto, mencionar a possibilidade de aplicar essa distinção também a enunciados analíticos (a certos enunciados matemáticos, por exemplo). 3 ( 3 ) Exemplos: ( a) Todo número natural tem um sucessor. ( b) Excetuando os números 11, 13, 17 e 19, todos os números situados entre 10 e 20 são divisíveis. [N. T.: entenda-se, são divisíveis por números diversos da unidade e do prpprio número; isto é, não são números primos.] 66 14. CoNCEITos UNIVERSAis E CoNCEITos INDIVIDUAIS .A distinç~o .e~tre_ enunciados u.niversais e singulares prende-se estreitamente a dtsttnçao entre concettos ou nomes universais e indi- viduais. É comum elucidar essa distinção recorrendo a exemplo do tipo se- guinte: "ditador", "planeta", "H20" são nomes ou conceitos universais. "N~pol.e~o", ."Terra", "o Atlântico" são conceitos ou nomes singulares ou mdtvtduats. Nesses exemplos, os conceitos ou nomes individuais parecem caract~rizar-se ou por serem nomes próprios ou por terem de ser definidos por meio de nomes próprios; ao passo que os conceitos ou nomes universais podem ser definidos sem o uso de nomes pró- prios. Considero de fundamental importância a distinção entre conceitos ou nomes universais e individuais. Toda aplicação da Ciência assenta- -se numa inferência de casos singulares a partir de hipóteses científicas (que são universais); isto é, baseia-se na dedução de predições sin- gulares. Em todo enunciado singular devem ocorrer conceitos ou nomes individuais. Os nomes individuais que ocorrem nos enunciados singulares da ciência aparecem, freqüentemente, sob feição d!! coordenadas espaço- ·tem'JOrais. Isso se CORijlreende facilmente, bastando considerar que a ap.'icação de um sistema espaço-temporal de coordenadas sempre envolve referência a nomes individuais. Temos, com efeito, de fixar- -lhe os pontos de origem e só podemos fazê-lo empregando nomes próprios (ou seus equivalentes). O uso dos nomes "Greenwich" e "o ano de nascimento de Cristo" ilustra o que pretendo dizer. Por esse método, um número arbitrariamente grande de nomes individuais pode ser reduzido a uns poucos. 1 Expressões vagas e gerais, tais como "esta coisa", "aquela coisa", e assim por diante, podem por vezes ser empregadas como nomes individuais, talvez acompanhadas de algum tipo de gesto. Em resumo, podemos utilizar signos que não são nomes próprios, mas que, em determinada medida, são passíveis de substitui~ão por nomes próprios ou coordenadas individuais. Todavia, ( 1 ) As unidades de medida do sistema de coordenadas, antes estabelecidas por meio de nomes individuais (a rotação da Terra; o metro-padrão locali- zado em Paris), podem ser definidas, em princípio, através de nomes u~iversais - .por meio, digamos, do comprimento de onda ou da freqüência de uma luz monocromática, emitida por certos tipos de átomos submetidos a determinado tratamento. ' 67 também os conceitos universais podem ser indicados, mesmo _que ape- nas vagamente, com o auxílio de gestos. Assim, podemos apontar para certas coisas (ou eventos) individuais e então enunciar por uma frase como "e outras semelhantes" (ou "e assim por diante") nossa intenção de encarar tais indivíduos apenas como representantes de alguma classe que em termos próprios deveria receber um nome universal. Não há dúvida de que aprendemos o uso de palavras universais, ou seja, sua aplicação a indivíduos, por meio de gestos e recursos similares. A base lógica de aplicações desse tipo está em que os conceitos individuais podem ser conceitos não apenas de elementos, mas também de classes, e está em que podem representar conceitos universais não apenas numa relação correspondente à de um elemento para uma classe, mas ainda numa relação correspondente à de uma subclasse para uma classe. Exemplificando, meu cão Lux não é apenas um elemento da classe dos cães vienenses, o que