Prévia do material em texto
INSTITUTO BRASILEIRO DE MEDICINA E REABILITAÇÃO BÁRBARA NOGUEIRA SILVA DA ROSA APS- ATIVIDADE PRÁTICA SUPERVISIONADA RIO DE JANEIRO 2019 análise de caso O caso construído a ser analisado refere-se ao paciente Senhor M. um homem, de 74 anos que manifesta sinais da doença de Alzheimer. Encaminhado ao atendimento psicológico pela junta médica sob a qual está submetido, o paciente não se mostrou receptivo ao ambiente terapêutico por não entender sua finalidade. O paciente por sua vez, mostrou-se com humor deprimido e cabisbaixo, frequentemente elucidando comentários de que estava ficando louco e que não era mais o mesmo. No motivo do encaminhamento também constava o aparecimento desse humor e de uma tristeza ocasionada pela confusão em que o paciente se encontrava. Já demonstrava alguns sinais do avanço da doença, ao esquecer-se de ter tomado os remédios para pressão, buscava toma-los novamente, tendo que ser monitorado quanto ao funcionamento destes para sua própria segurança, por vezes também se esquecia de que havia almoçado, ficando bravo quando todos à sua volta já estavam se servindo. Faz-se necessário então esclarecer que era de costume em sua casa que ele, na posição de chefe da casa, sentava-se para comer antes dos demais, e só após o término dele é que as outras pessoas poderiam sentar-se à mesa. O senhor M. sempre trabalhou de forma manual, em sua própria marcenaria, localizada em uma cidade pequena do Nordeste Brasileiro. É casado há mais de 50 anos e têm cinco filhas, todas adultas e morando fora de casa, algumas inclusive em outro estado. Sempre foi o provedor da casa e o chefe da residência, sua palavra era sempre a final e incontestável, sendo motivo de diversos conflitos com algumas de suas filhas. Duas delas foram expulsas de casa, pelo mesmo, por não “agirem segundo suas vontades e aprenderem a dureza do mundo”. A relação com a esposa, por sua vez, foi modificada ao longo dos anos se tornando mais carinhosa e afetuosa, em sua juventude o senhor M. fora um marido infiel e que constantemente se utilizava de agressões verbais sobre influência de álcool. Com o passar dos anos, largou a bebida e modificou sua postura de infidelidade, concentrando-se no seu trabalho e em reparar seu matrimônio. Sua autoridade dentro de casa sempre foi mantida como lei pela esposa, embora as filhas tenham tido conflitos pela postura rígida do pai. A filha mais nova, inclusive, passou por um período longo sem falar com o pai. Senhor M. perdeu os pais ainda no início de sua vida adulta, ficando profundamente abalado pela perda do pai, com quem tinha uma relação de proximidade maior, tendo com a mãe uma relação mais conturbada. Pelos últimos meses, os comportamentos de esquecimento do Senhor M. veem aumentando consideravelmente, o que começou com o esquecer de onde colocou a ferramenta, passou a gradualmente aumentar para o esquecimento de atividades cotidianas como almoçar, tomar remédios e escovar os dentes. O paciente por sua vez se apresenta lúcido na maior parte do tempo, e quando se dá conta das confusões que tem feito, se sente envergonhado, tendo procurado estar o tempo todo mais atento, o que além de cansativo não garante que ele lembre-se de tudo. Negando que algo estivesse errado com ele, justificava seus esquecimentos como uma simples falta de atenção por estar com a cabeça “muito cheia”. É possível verificar que a autoestima do paciente se encontra baixa e que ele busca se esquivar da condição patológica ao falar que não precisa de assistência médica, ou que os médicos só estão falando isso pra “tirar dinheiro dele”. Com o aumento dos episódios de esquecimento, uma das filhas do paciente foi morar com eles para ajudar a mãe a cuidar do pai, na entrevista com a mesma, ela relata ter sido desde sempre a filha mais próxima do pai, ele a ensinou a fazer todas as coisas que ele sabia como; caçar, fazer móveis, pescar, atirar entre outros. No relato da filha foi possível perceber que o humor do pai tem decaído consideravelmente, ele se sente diminuído por ter que ter alguém tomando conta dele, e frequentemente se irrita com a constante presença dela e da mãe. O senso de independência do paciente, em seus momentos lúcidos, está comprometido. Houve um episódio que levou a filha às lágrimas ao contar, que foi quando o pai, cada vez mais esquecido, precisou da ajuda dela para poder urinar. Ela contou que ele chorou copiosamente e depois pediu pra ficar sozinho em seu quarto. O paciente então passa por conflitos internos intensos ao mesmo tempo em que enfrenta quadros patológicos gravíssimos. Sua independência, controle do corpo e até mesmo o controle que possuía como o Chefe da casa, se encontram no momento comprometidos. O luto que ele sofre pela perda da posse dessas instâncias leva o Senhor M. a sentir como outra pessoa dentro de seu próprio corpo, o que o leva ao humor deprimido. Existe uma visão do senso comum de que idosos não possuem objetivos e metas em sua vida, mas pelo contrário, essa ideia deve ser combatida. Promover qualidade de vida para a terceira idade se faz necessária ao fazer desse idoso um ser agente no mundo e não apenas passivo esperando a morte chegar. A pirâmide etária brasileira está se modificando, atualmente se encontra em transição, ou seja, em breve a população mais velha será predominante. Não se pode então, tratar a terceira idade como o estacionamento antes do final. Na ultima fase do desenvolvimento, segundo Erickson, é a chamada Geratividade, que consiste na oitava etapa da consolidação e formação do ego, cuja função é auxiliar o idoso a sentir-se vivo e encontrar satisfação na velhice. O paciente, por sua vez experiencia a falta dessa geratividade pela carência desse envolvimento vital necessário para uma boa qualidade de vida, por passar por um quadro patológico degenerativo. A sensação de inutilidade e de falta de independência leva o idoso a viver em “estagnação” e sofrimento psíquico acentuado. Ele está vivenciando precocemente a perda de elementos que em geral acontece apenas na nona etapa do desenvolvimento aos 85 anos. Especialmente por se tratar de um homem ativo, que sempre se fez ouvir como o líder de um ambiente, que agora ele não mais possui controle. A perda das habilidades físicas acarreta a contestação de sua independência e controle. Toda a segurança de si, a autoestima, e senso de propriedade construídos ao longo da vida acabam sofrendo um enfraquecimento. As forças psicossociais adquiridas ao longo da vida acabam não sendo suficientes para manter uma visão positiva sobre si. Essas últimas fases do desenvolvimento são perpassadas pelo entendimento da morte, da sabedoria, do estreitamento das relações, da contemplação de seu legado e no entendimento da resolução da crise da nona etapa que é a conquista da força psicossocial, promotora da capacidade do idoso de transcender as limitações do próprio corpo. No caso referente, porém ao sofrer de um quadro demencial, que avança rapidamente no Senhor M. essas forças psicossociais, e a capacidade de resolver as crises se encontram muito comprometidas. Não é porem por ser um quadro degenerativo em um idoso, que não se faça necessária, a intervenção psicoterapêutica, especialmente focada em práticas de reabilitação cognitiva para promover a melhor qualidade de vida possível para esse paciente. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FRONZA, Joice Laíse; PILLATT, Ana Paula. Tratamentos psicológicos para idosos com doença de alzheimer: uma revisão narrativa. Psic., Saúde & Doenças, Lisboa , v. 19, n. 3, p. 764-775, dez. 2018 . Disponível em <http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1645-00862018000300023&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 14 nov. 2019. LIMA, Priscilla; COELHO, Vera; GUNTER, Isolda. Envolvimento vital: um desafio na velhice. SBGG, Goiânia, 30 dez. 2011. Disponível em: https://academicos.ibmr.br/administracao/paginaInicial.php. Acesso em: 14 nov. 2019.