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1 SUMÁRIO 1 DEFICIÊNCIA SENSORIAL ............................................................... 3 1.1 Conceito ...................................................................................... 3 1.2 Tipos............................................................................................ 3 2 SURDO-CEGUEIRA .......................................................................... 4 3 MÚLTIPLA DEFICIÊNCIA SENSORIAL ............................................ 4 3.1 Dados estatísticos ....................................................................... 5 4 CAUSAS DA DEFICIÊNCIA AUDITIVA ............................................. 5 4.1 Fatores de risco ........................................................................... 6 4.2 Identificação ................................................................................ 6 5 EXAMES PARA DIAGNÓSTICO CORRETO .................................... 7 6 MÚLTIPLA DEFICIÊNCIA SENSORIAL ............................................ 7 6.1 Surdo cegueira ............................................................................ 8 7 CONDIÇÕES BÁSICAS ................................................................... 10 8 TRABALHO DE EQUIPE ................................................................. 12 8.1 O papel da família ..................................................................... 13 8.2 Planificação futura ..................................................................... 17 9 ASPECTOS EDUCACIONAIS IMPORTANTES PARA A INCLUSÃO 20 10 DIFERENÇAS ENTRE DIFICULDADES E DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM ............................................................................................. 22 11 TIPOS DE DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM ........................... 25 12 DISTÚRBIOS DE ENTRADA ........................................................ 25 13 DISTÚBIOS DE PERCEPÇÃO VISUAL ....................................... 25 14 DISTÚBIOS DE PERCEPÇÃO AUDITIVA ................................... 27 14.1 Distúrbios de Integração ........................................................ 28 14.2 Distúrbios de Sequência ........................................................ 28 14.3 Distúrbios de Abstração ......................................................... 28 14.4 Distúrbios de Memória ........................................................... 29 14.5 Distúrbios de Saída ................................................................ 30 14.6 Distúrbios de Linguagem........................................................ 30 14.7 Distúrbios de Atividade Motora .............................................. 32 2 14.8 A Dislexia ............................................................................... 32 14.9 Disgrafia ................................................................................. 39 14.10 Má organização da página ..................................................... 40 14.11 Má organização das letras ..................................................... 40 15 FORMAS E PROPORÇÕES ........................................................ 41 15.1 Disortografia ........................................................................... 43 15.2 Características da disortografia: ............................................. 43 15.3 Afasia ..................................................................................... 44 15.4 Discalculia .............................................................................. 45 15.5 Acalculia ................................................................................. 46 15.6 Gagueira ................................................................................ 46 15.7 Terapias da gagueira ............................................................. 48 BIBLIOGRAFIA .................................................................................. 49 3 1 DEFICIÊNCIA SENSORIAL Fonte: www.bullshitguru.com 1.1 Conceito A deficiência sensorial se caracteriza pelo não funcionamento (total ou parcial) de algum dos cincos sentidos. Classificamente a surdez e a cegueira são consideradas deficiências sensoriais, mas déficits relacionados ao tato, olfato ou paladar, também podem ser enquadrados em tal categoria. 1.2 Tipos - Visual - Auditiva - Surdo-cegueira - Múltipla deficiência sensorial Deficiência visual: Refere-se a uma perda total ou parcial da visão. Deficiência auditiva: Refere-se a uma perda total ou parcial da audição 4 2 SURDO-CEGUEIRA É uma deficiência única que apresenta a perda da audição e da visão de tal forma que a combinação das duas deficiências impossibilita o uso dos sentidos a distância, cria necessidades especiais de comunicação, causa extrema dificuldade na conquista de metas educacionais, vocacionais, recreativas, sociais. Elas podem ser congênitas ou adquiridas. 3 MÚLTIPLA DEFICIÊNCIA SENSORIAL Considera-se uma criança com Múltipla Deficiência sensorial aquela que apresenta deficiência visual e auditiva associadas a outras condições de comportamento e comprometimentos, sejam eles na área física, intelectual ou emocional e dificuldades de aprendizagem. Quase sempre os canais de visão e audição não são os únicos afetados, mas também outros sistemas como: Sistema tátil – toque Vestibular – equilíbrio Proprioceptiva – posição corporal Olfativo – aromas e odores Gustativo – sabor Surdez com deficiência leve ou severa: Surdez com distúrbios neurológicos de conduta emocionais; Surdez com deficiência física leve ou severa; Baixa visão com deficiência física leve ou severa; Baixa visão com deficiência mental leve ou severa; Baixa visão com distúrbios neurológicos, emocionais e de linguagem e conduta; Baixa visão com deficiência física leve ou severa; Cegueira com deficiência física leve ou severa; Cegueira com deficiência mental leve ou severa; 5 Cegueira com distúrbios emocionais, neurológicos, conduta e linguagem que causam atraso no desenvolvimento global, vocacional, social e emocional, dificultando sua autossuficiência. 3.1 Dados estatísticos Não se tem números precisos, pois o surdo-cegueira e a múltipla deficiência em geral ocorrem em conjunto com outras deficiências mascarando a deficiência sensorial. 4 CAUSAS DA DEFICIÊNCIA AUDITIVA Fonte: imong.com.br Icterícia Otite média crônica Citomegalovírus Falta de oxigênio Sarampo Traumatismos (acidentes) Glaucoma Medicação teratogênica 6 Retinose pigmentar Tumor cerebral Toxoplasmose Prematuridade Meningite Medicações ototóxicas Hidro e microcefalia Fator Rh Caxumba Catarata Casamentos consanguíneos Rubéola materna 4.1 Fatores de risco Epidemias de doenças como rubéola, sarampo, meningite; Infecções hospitalares; Falta de saneamento básico; Doenças venéreas; Gravidez de risco. 4.2 Identificação Pode apresentar movimentos estereotipados e repetitivos; Não antecipa as atividades; Não demonstra saber a função dos objetos e brinquedos, utilizando-os de maneira inadequada; Pode rir e chorar sem causa aparente; Pode apresentar resistência ao contato físico; Empurra o olho provocando sensações; 7 Apresentam dificuldades na comunicação, no entendimento de rotinas diárias, gestos e no reconhecimento de pessoas significativas no seu ambiente. Pode apresentar distúrbios no sono. Não explora o ambiente de maneira adequada, tropeça muito e bate nos móveis, objetos, etc... Gosta de ficar em locais com luminosidade; Pode não reagir a sons, barulhos, movimentos, toques, odores e outros estímulos; 5 EXAMES PARA DIAGNÓSTICO CORRETO Exames laboratoriais Avaliação genética Exames médicos (neurológicos,visão, audição e físico). Diagnóstico diferencial 6 MÚLTIPLA DEFICIÊNCIA SENSORIAL Fonte: www.pathstoliteracy.org 8 Considera-se uma criança com múltipla deficiência sensorial aquela que apresenta deficiência visual e auditiva associadas a outras condições de comportamento e comprometimentos, sejam eles na área física, intelectual ou emocional, e dificuldades de aprendizagem. Quase sempre, os canais de visão e audição não são os únicos afetados, mas também outros sistemas, como os sistemas tátil (toque), vestibular (equilíbrio), proprioceptivo (posição corporal), olfativo (aromas e odores) ou gustativo (sabor). Limitações em uma dessas áreas podem ter um efeito singular no funcionamento, aprendizagem e desenvolvimento da criança (Perreault, 2002). Crianças que apresentam graves comprometimentos múltiplos e condições médicas frágeis: 1. Apresentam mais dificuldades no entendimento das rotinas diárias, gestos ou outras habilidades de comunicação; 2. Demonstram dificuldades acentuadas no reconhecimento das pessoas significativas no seu ambiente; 3. Realizam movimentos corporais sem propósito; 4. Apresentam resposta mínima a barulho, movimento, toque, odores e/ou outros estímulos. Muitas dessas crianças têm dificuldade na obtenção e manutenção do estado de alerta. Isso é crítico porque a prontidão é o estado comportamental em que as crianças estão mais receptivas à estimulação, aprendem melhor e são capazes de responder de uma maneira socialmente aceita. Crianças com múltipla deficiência sensorial têm uma variedade de necessidades especiais que se assemelham às necessidades da criança surdocega. Nesse sentido, toda a abordagem descrita neste documento aplica-se também à criança com múltipla deficiência sensorial. 6.1 Surdo cegueira A criança surdo cega não é uma criança surda que não pode ver e nem um cego que não pode ouvir. Não se trata de simples somatória de surdez e cegueira, nem é só um problema de comunicação e percepção, ainda que englobe todos esses fatores e alguns mais (McInnes & Treffy, 1991). Segundo 9 Telford & Sawrey (1976), quando a visão e audição estão gravemente comprometidas, os problemas relacionados à aprendizagem dos comportamentos socialmente aceitos e a adaptação ao meio se multiplicam. A falta dessas percepções limita a criança surdo cega na antecipação do que vai ocorrer a sua volta. A entrada da mãe no quarto do bebê, por exemplo, pode não significar tranquilidade, comida ou carinho, mas pode promover instabilidade e insegurança. Sua dificuldade na antecipação dos fatos faz com que cada experiência possa parecer nova e assustadora, como ser transportada de um lugar para o outro, sentir na boca a introdução de um alimento novo ou ser tocado repentinamente. Ainda como resultado da privação da visão e audição, sua motivação na exploração do ambiente é proporcionalmente diminuída. Seu mundo se limita ao que por casualidade está ao alcance de sua mão e, sobretudo, a si mesmo. Essas crianças precisam ser encorajadas a desenvolver um estilo de aprendizagem próprio para compensar suas dificuldades visuais e auditivas e para estabelecer e manter relações interpessoais. Portanto, as trocas interativas das crianças precisam estar orientadas para o desenvolvimento dos sentidos remanescentes, entre eles, cutâneo, cinestésico (corporal - articulações e músculos; e, sensorial - visceral), gustativo e olfativo, como forma de acesso à informação na ausência dos sentidos da visão e audição. Myklebust (1971) afirma que quando faltam os sentidos de distância, o tato assume o papel de sentido-guia, sendo complementado pelos sentidos remanescentes na exploração e no estabelecimento de contatos com o mundo exterior. Como lembram Vygotski (1995), e Salomon (2002), é necessário que os estímulos proporcionados sejam apropriados à singularidade de cada criança. Telford & Sawrey (1976) destacam a importância de despertar na criança, por meio de outros canais sensoriais, o desejo de aprender. É, portanto, preciso vencer “o isolamento do indivíduo surdo cego e só depois de ter sido estabelecido o contato efetivo e seu isolamento ser reduzido é que a instrução formal se torna possível” (Telford & Sawrey, 1976, p. 389). Além de não poder valer-se dos sentidos de distância (visão e audição) para captar informações reais do mundo, a criança surdocega pode apresentar alguns problemas decorrentes de saúde, aspecto que pode vir a interferir no 10 processo de ensino e aprendizagem. Em ambos os casos o desafio é complexo: as crianças precisam desenvolver formas de comunicação inteligíveis com os seus interlocutores, antecipar sucessos futuros ou o resultado de suas ações. Além dessas questões, é importante que a criança esteja motivada a participar de experiências externas, ainda que básicas, como alimentação, higiene, lazer etc. O processo de aprendizagem ocorre por repetição e estimulação orientada em contextos naturais, dado que a surdo cegueira interfere na capacidade de aprendizagem espontânea e na capacidade de imitação. 7 CONDIÇÕES BÁSICAS Fonte: www.featureshoot.com 11 Para o atendimento de crianças com necessidades educacionais especiais, especificamente das crianças surdo cegas, as escolas necessitam desenvolver, além do currículo formal baseado nas atividades tradicionais da escola (conceitos básicos de matemática, leitura e escrita, etc.), um currículo com objetivos funcionais adequados à faixa etária e às necessidades específicas desses educandos. Um currículo com objetivos funcionais, isto é, objetivos que atendam as reais necessidades do educando, está relacionado a capacidades básicas de autonomia, tais como: 1) comunicação (capacidade de receber e enviar a um parceiro informação significativa usando formas adequadas e alternativas de comunicação expressiva); 2) atividades de vida diária (capacidade de se organizar em ambientes significativos, tais como a casa, a escola ou a comunidade); 3) alimentação (orientar e contribuir para uma mastigação adequada, escolha de alimentos, auto alimentação); 4) controle de esfíncteres (capacidade de usar adequadamente o banheiro); 5) higiene pessoal (capacidade de cuidar do próprio corpo), e 6) orientação e mobilidade (capacidade de movimentar e localizar-se em ambientes conhecidos por meio da identificação dos espaços e pistas do ambiente). Todo trabalho pedagógico assumido por profissionais com crianças surdo cegas deverá ter uma atitude nova diante do saber. Faz-se necessário edificar um novo modo de ser e fazer, isto é, o trabalho pedagógico precisa ter uma base caracterizada pela transdisciplinaridade. Wertheim (apud Nicoluescu, 2000), ao abordar esse tema, cita os artigos 13 e 14 da Carta da Transdisciplinaridade, que diz: “A ética transdiciplinar recusa toda atitude que evita o diálogo e a discussão, seja qual for sua origem - de ordem ideológica, científica, religiosa, econômica, política ou filosófica. O saber compartilhado deverá conduzir a uma compreensão compartilhada, baseada no respeito absoluto das diferenças entre os seres, unidos pela vida comum sobre uma única e mesma Terra. Rigor, abertura e tolerância são características fundamentais da atitude e da visão transdiciplinar. O rigor na argumentação, que leva em conta todos os dados, é a barreira às possíveis distorções. A abertura comporta a aceitação do desconhecido, do inesperado e do imprevisível. A tolerância é o reconhecimento do direito às ideias e verdades contrárias às nossas” (p.7). 12 Assim, com base na transdisciplinaridade, é necessário aprender a compartilhar e a partilhar os diferentes tipos de saberes na busca de condições mais adequadas ao desenvolvimento das potencialidades presentes na criança surdocega ou com múltipla deficiência sensorial. Para isso, a experiência precisa ser compartilhadapor todos os envolvidos no processo educativo: família, profissionais e comunidade. Nesse processo, os ambientes deverão ser adequados à diversidade das crianças, ou seja, isentos de barreiras arquitetônicas, adaptados em termos visuais e sinalizados com referências indicativas do local. Para isso, faz-se necessário utilizar materiais apropriados às necessidades do educando, tais como cores contrastantes, texturas diferenciadas, objetos de referência que facilitem a mobilidade e a identificação dos locais pelos educandos. 8 TRABALHO DE EQUIPE Um aspecto muito importante no desenvolvimento de um currículo é a abordagem de como trabalhar em equipe. A abordagem que melhor favorece a educação da criança surdocega é a da transdisciplinaridade. Nessa abordagem, os profissionais que observam e/ ou atuam com a criança partilham e respeitam os conhecimentos sobre suas respectivas áreas ou especialidades entre si. Essa filosofia é diferente da multidisciplinaridade, na qual vários profissionais atuam com a criança de forma independente. Na transdisciplinaridade, um profissional é o facilitador, recebendo orientações de todos os outros e coordenando tais informações, ou seja, a criança surdocega é vista como um todo (McLetchie & Riggio, 2002). Segundo Linder (1993), desenvolver uma equipe transdisciplinar funcional é um processo complexo, que apresenta desafio pessoal, interpessoal e administrativo. Os profissionais iniciantes no processo transdisciplinar devem estar conscientes dessas tarefas e confrontá-las diretamente (Comerdi, 2001, p. 25). O objetivo do trabalho transdisciplinar é conseguir que a intervenção direta com a criança integre as informações vindas de todos os envolvidos no processo (família, professores, técnicos e especialistas) e responsáveis pelo 13 desenvolvimento do programa. Por exemplo, ao ensinar a criança surdocega a alimentar-se sozinha, é necessário a presença de profissionais de distintas áreas do conhecimento. Cada profissional contribuirá com informações importantes para a maximização da aprendizagem, assim: Fisioterapeuta - orientar quanto ao posicionamento correto para atividade; Instrutor de língua de sinais - informar sobre o desenvolvimento da comunicação gestual e sinalizada da criança; Guia-intérprete - facilitar a comunicação do instrutor com os demais profissionais que atuam no ambiente escolar; Assistente social - manter contato com os pais, buscando informações a respeito da rotina da criança, hábitos e preferências alimentares; Terapeuta ocupacional - adaptar utensílios, materiais e equipamentos; Fonoaudiólogo - orientar sobre o uso de pistas de objetos a utilizar, sobre funções de comunicação que é possível desenvolver durante a alimentação e sobre mastigação, quando necessário; Professor da sala de recursos - orientar quanto às pistas visuais, uso de contrastes, iluminação e tamanho dos objetos, a orientação e mobilidade no ambiente, quando necessário, quanto ao uso de andadores, bengalas ou pré-bengala; Psicólogo - avaliar os comportamentos, habilidades sociais e cognição que podem influir na habilidade da criança; Pais ou responsáveis - informar sobre as expectativas quanto à alimentação, hábitos e comportamentos sociais, atendendo as preferências da criança. 8.1 O papel da família O papel da família é da máxima importância em todo o processo educacional da criança surdo cega. Segundo Freeman (1991), o sucesso no 14 processo da educação das crianças surdo cegas depende em grande parte dos pais, por serem eles, ao longo da vida, as pessoas que maior influência terão na educação de seus filhos. Quando eles participam do processo educacional, apoiando e compartilhando conhecimentos com os profissionais, a criança surdocega aprende a amenizar os obstáculos que enfrenta. Sem a participação da família é impossível realizar o trabalho com base na transdisciplinaridade, necessário ao adequado desenvolvimento do programa educacional. As famílias, por um lado, têm informações outorgadas pelo amor e criam muitas situações de aprendizagem que devem ser compartilhadas pelos professores e outros membros da equipe. Por outro lado, os pais devem adquirir os conhecimentos necessários que são transmitidos pela equipe, numa parceria de igual para igual, conforme lembra Jesus (2002). 15 Fonte: images.virgula.uol.com.br É importante a participação das crianças surdo cegas nos diversos meios da sociedade (shoppings, restaurantes, parques, clubes, zoológicos, museus e outros) para que conheçam outras pessoas e explorem novos ambientes. Nesses espaços, faz-se necessário estimulá-las a se comunicar com outras pessoas. Os pais, ao acompanharem os filhos na exploração de novos ambientes, ampliam as condições de comunicação. Quando uma criança apresenta alguma necessidade especial, as preocupações dos pais são mais frequentes. A culpa em relação às causas que ocasionaram essas necessidades muitas vezes é difícil de ser superada. Muitas vezes a família fica muito desestruturada com a chegada de um filho surdo cego. Os pais se sentem despreparados para enfrentar a tarefa de acompanhar o desenvolvimento do filho. Ele precisa de muitas atenções diferentes daquelas que os pais têm realizado com outros filhos ou das quais, naturalmente, têm noções quando são pais pela primeira vez. É por isso que os pais e a família como um todo precisam de um apoio mais intensivo no início da caminhada como pais de surdo cegos. Dessa forma, faz-se necessário um trabalho de apoio aos pais, partilhando com eles o programa do próprio filho (Demarchi & Solér, 2002). Segundo Brown (apud Araóz, 1999), os pais necessitam participar de organizações e/ou associações. Essa forma de participação política possibilita aos pais trocar experiências com outras famílias, passar a se sentir parte de um grupo, fortalecer-se enquanto grupo na defesa dos direitos de seus filhos. Além desses aspectos, as associações de pais possibilitam-lhes sentirem-se úteis, contribuindo, apoiando e recebendo apoio. As organizações de famílias, permitem aos pais participarem de muitas ações que auxiliam diretamente a eles, e, por conseguinte levam a uma melhoria do atendimento das crianças surdo cegas (Brown, apud Araóz, 1999). Nesse sentido, recomenda-se apoiar e estimular as famílias a se organizarem como grupo. Araóz (2002), ao discutir essa questão, coloca a importância da relação de empatia mútua entre os profissionais e as famílias. Nessa relação, os pais ou o professor trocam as referências que possuem e as utilizam nas tomadas de decisões. 16 No Brasil, Jesus & Soares (apud Araóz, 1999) realizaram um estudo no qual analisaram os dados de pesquisas desenvolvidas com grupos de pais por algumas instituições educacionais que trabalham com surdo cegos. Segundo esses autores, nos trabalhos com os pais são elaborados conflitos de aceitação, desenvolvidos conhecimentos, expostas necessidades, expressas opiniões. O resultado desse estudo evidenciou que o trabalho com os pais influiu no crescimento do trabalho educacional com a criança surdocega. Maia et al. (2001) defendem a necessidade de os profissionais facilitarem situações para que os pais resgatem papéis que eles deixaram de assumir em função dos cuidados que implica a educação de um surdo cego ou múltiplo deficiente sensorial, como trabalhar, estudar, ter uma atividade de lazer, entre outras. No dizer de Palácios (2002), “os membros da família encarregados do cuidado diário da criança têm necessidades que parecem ‘invisíveis’ para os outros membros da comunidade” (pág.173), entre elas o descanso, já que dedicam cuidados especiais ao filho por muitas horas ao dia, durante todos os dias do ano. Araóz (1999), após entrevistas com muitas famílias de surdo cegos, detecta a importância de promovera interação dos pais e profissionais no trabalho transdisciplinar, no qual todos desenvolvem conhecimentos e trabalham juntos. Essa ação deverá envolver os irmãos e outros familiares, como afirma Maia et al. (2001), em um trabalho de inclusão da criança na comunidade. Nesse trabalho, a planificação dos objetivos a serem alcançados é bastante eficiente. Quando os objetivos são levantados por todos, o compromisso com eles é geral, tornando-se, assim, muito mais fáceis de serem alcançados. Os pais devem ter legalmente a possibilidade de escolher uma escola para os seus filhos. É importante que, nessa escolha, sejam aconselhados de forma isenta, não competindo aos técnicos influência nas decisões, mas sim informá-los sobre os recursos disponíveis. O papel dos pais nesse processo é fundamental como interlocutores e elementos de decisão no futuro da criança. Compete aos professores e a outros técnicos apoiá-los, auxiliando-os no desempenho do seu papel de pais, e não atribuindo a eles o papel de especialistas. 17 Os pais devem ser parte da equipe escolar para poder planejar o processo educacional do seu filho e serem agentes ativos e transformadores nesse processo, compartilhando experiências, somando e partilhando com o professor. 8.2 Planificação futura O trabalho que a escola irá desenvolver com as crianças surdo cegas tem como objetivo o sucesso em sua vida futura. É necessário estabelecer intervenções nas quais os objetivos estejam de acordo com as reais necessidades da criança. Por isso, é importante que toda a comunidade escolar e local estejam envolvidas no processo de escolarização e desenvolvimento da criança surdocega. Deve-se planejar alternativas de inclusão da criança surdocega nas atividades sociais e culturais, enfim, pensar formas que viabilizem sua vida em sociedade. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional define que a educação de crianças com necessidades educacionais especiais será realizada preferencialmente na rede regular de ensino (art.58, parágrafo 3o). As escolas necessitam, portanto, adaptar-se à nova realidade por meio de um desenvolvimento no sentido da diferenciação de intervenção que possibilite respostas adaptadas à realidade de cada criança e que dê a todas elas oportunidades de aprendizagem e desenvolvimento. Nesse processo, as crianças devem ser consideradas como elementos chave nas decisões sobre métodos de ensino a utilizar, devendo, sempre que possível funcionar como ponto de referência nas decisões relacionadas com os assuntos e conteúdos a ensinar. Mazzotta (1973), ao abordar a relação entre a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e a Constituição Federal, comenta: “Os propósitos da educação de qualquer brasileiro, seja ele considerado ‘deficiente’ ou não, decorrem dos pressupostos da sociedade brasileira e estão na Constituição Federal e nas leis de educação. A educação básica que se pretende para todos está voltada para a formação integral do educando, em seu tríplice aspecto: um, individual, de ‘auto realização’; outro, individual e 18 social, de qualificação para o trabalho; e um terceiro, predominantemente social, de preparo para o exercício de uma cidadania consciente” (p.20-21). A adoção da Declaração de Salamanca (Brasil, 1997), ocorrida na Espanha em 1994, gerou no Brasil, a partir de 1998, um movimento a favor da inclusão, estabelecendo aos órgãos federais e estaduais diretrizes educacionais e decretos oficiais para matricular as crianças com deficiência nas escolas regulares. Cabe lembrar que, segundo Dens, o princípio fundamental da inclusão é a valorização da diversidade, pela qual cada pessoa tem uma contribuição a dar. A educação inclusiva abandona, assim, a ideia de que a criança tem que ser normal para contribuir. Bov (1993), refere-se à inclusão como uma abertura de educadores e escolas para que a criança deficiente não fique excluída do convívio dos demais. A inclusão responsável se faz com profissionais acompanhando a criança, de acordo com as possibilidades dela e seu nível de comprometimento. Faz-se com todo o cuidado, desenvolvendo atividades que tragam benefício à criança deficiente no nível em que ela tem condições de participar, nunca sendo esquecida, nunca permitindo à professora comum o acúmulo de tarefas. A inclusão é a possibilidade de participar das atividades comuns a todos, de forma que a criança tenha condições de fazê-lo, ainda que seja apenas estar no pátio da escola junto com os demais. A posição desses especialistas aponta para uma questão central, que é a de definir com clareza que inclusão está sendo focalizada e qual o tipo de inclusão que propiciaria a criança com necessidades especiais maior benefício para seu desenvolvimento e bem estar. É importante ter isso muito claro quando se fala de educação inclusiva de uma criança com múltipla deficiência sensorial ou surdocega. Para essa inclusão, há necessidade de um preparo cuidadoso em vários níveis e aspectos, entre os quais caberia citar: 1) a formação de profissionais para o atendimento das pessoas deficientes, bem como para assessorar os professores das classes comuns; 2) o exame das condições quanto a possibilidades e limites que as escolas oferecem, adequando-as, quando houver necessidade; 3) a luta pela inclusão, fundamentada na análise das 19 formas possíveis para que isso se realize em benefício da criança deficiente; 4) o conhecimento, da pessoa envolvida na inclusão da criança deficiente na escola, de seus próprios limites pessoais e de formação e daquilo em que pode contribuir para esse processo; 5) a exigência de que os projetos educacionais se façam numa dialética teoria-prática, numa constante avaliação do que está ocorrendo com a criança deficiente. Fonte: barrigasdeamor.pt Como afirma Mazzotta (1973), “A escolha do recurso educacional mais apropriado a cada aluno constitui um dos aspectos mais relevantes da educação especial”. Nesse sentido, devemos salientar que, a despeito de se indicar como mais desejável a integração do aluno com características excepcionais na escola comum, nem por isso se pode ignorar a validade e importância dos recursos educacionais 20 segregados, a partir do momento em que forem esgotadas todas as possibilidades de seu atendimento em recursos integrados. Dessa forma, a decisão sobre o encaminhamento de um aluno para um determinado recurso educacional deve estar fundamentada nas necessidades educacionais específicas e na situação global do aluno, suas possibilidades pessoais, atitudes dos pais, condições dos recursos escolares da comunidade” (p.41). Assim, nesse contexto, serão apresentadas a seguir as modalidades de educação para a criança surdo-cega ou com múltipla deficiência sensorial. 9 ASPECTOS EDUCACIONAIS IMPORTANTES PARA A INCLUSÃO O trabalho em equipe é fundamental porque propicia melhores condições de interação entre os vários integrantes desse processo (pais, professores de salas de recursos, professor intérprete, professor guia- intérprete, terapeutas, direção e coordenação escolar, equipe operacional e comunidade). O processo educativo de crianças surdo cegas exige alterações no currículo, nas estratégias e nos recursos que nem sempre são fáceis de concretizar em uma sala de aula tradicional. A atuação dos especialistas se torna mais significativa quando acontece no cotidiano das atividades escolares, como apoio à atuação do professor da classe regular. Incluir crianças surdo cegas com necessidades educacionais específicas nas escolas de ensino regular exige atenção às suas respostas e ao seu progresso na escola. Assim, a oferta de serviços de apoio pedagógico especializado constituirá uma alternativa de qualidade, sobretudo se forem levadas em conta determinadas características dessa população e as especificidades do seu atendimentoeducacional, tais como: simples que sejam, requer técnicas de trabalho individual com estratégias específicas, que incluem maior número de modulações e repetições em contexto diversificado, por vezes difíceis de se concretizarem na sala de aula; Currículo complementar com objetivos funcionais, relacionados com atividades básicas de autonomia, tais como higiene, alimentação, orientação e 21 mobilidade e notações específicas em braile, que não constam no currículo formal; Ambientes estruturados e seguros, que melhorem as condições de intervenção pedagógica e facilitem a participação da criança surdocega. Muitas vezes, nem sempre é fácil conseguir isso no ensino regular, em decorrência do número de crianças por sala; Equipamentos e materiais específicos que possam de alguma forma facilitar o processo de aprendizagem e desenvolvimento das crianças surdo cegas; Existência de problemas de saúde graves que dificultam uma participação mais ativa das crianças na vida escolar e exigem a utilização de materiais adequados (aspirações de secreções, colchões etc.), bem como atendimento e acompanhamento da criança na rede hospitalar, caso seja necessário. A organização de tempos e locais específicos em função das necessidades individuais da criança e das disponibilidades existentes apresenta duas faces: por um lado, facilitam a aquisição de determinadas competências; por outro lado, comprometem a inserção social das crianças no seu meio escolar e na comunidade. Para facilitar as interações, é necessário estar atento para algumas condições, dentre elas: Inserção da criança na sala de aula, participando com as outras crianças em atividades comuns adaptadas e deslocando-se à sala de recursos quando houver atividades específicas; Localização das salas de recursos em lugares estratégicos dentro da escola, com acesso fácil aos espaços comuns (à rua, por exemplo, para ser mais facilmente utilizada como recurso educacional e espaço de aprendizagem para todos, isto é, permitir a oportunidade de a criança sair da escola para atividades extra-classe, explorando ambientes diferentes); Incentivo para a participação das crianças em atividades conjuntas com as demais crianças da escola, como recreio, festas, educação física, entre outras. A surdo cegueira não deve ser vista meramente pelo ângulo físico e social como prejuízo estrutural ou, ainda, como uma realidade comprometedora 22 das atividades normais da pessoa. Precisa ser considerada dentro de um contexto mais amplo e existencial do ser humano, conforme prevê a base da abordagem transdisciplinar. 10 DIFERENÇAS ENTRE DIFICULDADES E DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM Existe uma ampla discussão entre autores e profissionais da área da educação com relação a esse assunto. No entanto, não há um consenso ou uma posição definida para o mesmo. Dessa forma, vamos adotar neste estudo o princípio de que existem determinadas diferenças entre os termos “dificuldades” e “distúrbios” de aprendizagem. O termo “dificuldades” pode ser usado para designar qualquer tipo de obstáculos encontrados pelos indivíduos no processo de ensino-aprendizagem. Eles podem ser das mais diversas ordens. Muitas vezes, os problemas não estão no aluno, mas ligados a elementos externos que o influenciam. Abaixo veremos exemplos de fatores que causam dificuldades na aquisição do conhecimento: Problemas sociais como a desnutrição; Ausência de motivação; Conflitos familiares; Baixa qualidade do sono; Diferenças culturais; Deficiências na estrutura da educação: salas superlotadas; professores mal remunerados, pouco treinados e sobrecarregados; Material didático inadequado; Inadequação metodológica; Mudanças no padrão de exigências da escola; Baixo QI (Quociente de Inteligência) Falta de interesse; Problemas na visão; 23 Problemas na audição; Problemas genéticos; Comprometimentos neurológicos; Assim, pode-se perceber que, independente da natureza das causas, elas podem gerar dificuldades e até mesmo impedimentos nas capacidades de aprendizado dos indivíduos. Porém, durante este estudo, o foco será dado aos Distúrbios de Aprendizagem. Eles também causam dificuldades no processo de aprendizagem, porém suas causas estão ligadas a características específicas dos indivíduos que refletem em dificuldades também específicas como será visto. Abaixo estão relacionadas algumas características de pessoas que possuem Distúrbios de Aprendizagem: Apresentam quociente de inteligência normal, muito próximo da normalidade ou até mesmo superior; Não apresentam deficiências sensoriais, nem neurológicas significativas; Possuem rendimento escolar insatisfatório em relação às demais pessoas que se encontram na mesma faixa etária; Apresentam uma disfunção no sistema nervoso central; Suas dificuldades são detectadas, na maioria das vezes, no início da alfabetização, quando passa a frequentar a escola e nota-se suas diferenças de aprendizado em relação ao restante do grupo; Têm dificuldades em um aspecto específico da aprendizagem (leitura, fala, escrita, matemática, raciocínio); 24 Fonte: www.movimentodown.org.br Ao contrário das dificuldades de aprendizagem, que podem estar ligadas a problemas externos ou a um conjunto de elementos, os distúrbios de aprendizagem estão mais vinculados ao próprio aluno independente de questões relacionadas, por exemplo, à estrutura geral da educação ou ao ambiente familiar e suas condições econômicas, atingindo o aluno em nível individual. Essas questões podem influenciar de forma negativa a aprendizagem, mas não são determinantes nesses casos. As características que devem ser observadas em alunos que possuem distúrbios de aprendizagem, são dificuldades específicas para a realização de atividades como a leitura, a escrita, a fala, o raciocínio e as habilidades matemáticas. Esses precisam de atenção e tratamentos diferenciados como a ajuda de profissionais especializados, formas diferentes de ensino, escolas com recursos específicos, entre outras. É preciso estar claro, como já foi dito anteriormente, que a confirmação de um diagnóstico de distúrbio de aprendizagem, depende de um conjunto de fatores e exames específicos. Alunos com dificuldades causadas por outros motivos podem ter seus problemas sanados quando inseridas em ambientes 25 com qualidades diferenciadas de organização, ambientes saudáveis e profissionais capacitados. As dificuldades de aprendizagem podem ser transitórias quando suas causas são tratadas ou eliminadas, enquanto os distúrbios permanecem pela vida toda, já que são disfunções do sistema nervoso. Eles também podem e devem ser tratados, porém, essas ações representam alternativas para que as pessoas possam conviver de forma saudável com suas limitações e saber como superá-las e não constituem curas definitivas. Dessa forma, a disfunção neurológica é uma característica fundamental para diferenciar uma criança com distúrbios de aprendizagem daquelas que apenas apresentam algumas dificuldades. Aqueles têm uma relação médica, o que explica o fato de apenas uma pequena parte da população que encontra dificuldades de aprendizagem, terem nos distúrbios as causas de seus problemas. 11 TIPOS DE DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM As pessoas que possuem distúrbios de aprendizagem têm capacidade menor para realizar determinadas atividades e uma afinidade e facilidade maior para outras. E estes podem ser classificados em distúrbios de entrada ou saída. Como veremos a seguir. 12 DISTÚRBIOS DE ENTRADA Os distúrbios de entrada se caracterizam pelas informações chegadas ao cérebro que podem ser através do ouvido (entrada de audição) e da visão (entrada visual). E esse processo todo de entrada, é realizado no cérebro. 13 DISTÚBIOS DE PERCEPÇÃO VISUAL O distúrbiode percepção visual não se caracteriza por pessoas quem têm dificuldades para enxergar em função de problemas como, por exemplo, a 26 miopia e o astigmatismo. Nesse distúrbio, as duas características mais presentes são: • Dificuldade em definir a posição e/ou forma do que se vê; • A entrada de informação pode ser recebida com letras ao contrário ou giradas. Essas características podem fazer com que a criança confunda letras semelhantes como o b com o d, o g com o q, o f com o v e outras variações de letras que possuem um som parecido na hora de se dizer alguma coisa como, por exemplo, em faca = vaca. Os alunos têm esses distúrbios detectados geralmente na fase em que estão começando a ler, escrever e copiar letras e desenhos. Algumas das dificuldades que elas costumam apresentar são: • Leitura (trocam as linhas na hora da leitura, pulam palavras) • Erros na avaliação de profundidade (esbarram o tempo todo nas coisas) • Não conseguem entender direita e esquerda, em cima e embaixo. • Não conseguem determinar sua posição no espaço • Não conseguem participar de atividades esportivas como pegar uma bola ou pular corda, por serem inseguras com as informações que recebem. Essas dificuldades fazem com que o aluno tenha uma limitação para fazer as coisas, pois ele não consegue determinar a sua posição no espaço, podendo se confundir em locais como campos abertos ou ginásios. Na hora de praticar algum esporte, por exemplo, ao jogar futebol, o cérebro dele vai precisar perceber a posição correta da bola e o seu trajeto e dizer para as partes do seu corpo exatamente o que elas precisam fazer. A má percepção de distância ou de velocidade ou a fato de seu cérebro orientar o corpo de forma errônea, faz com que ela não alcance a bola de maneira alguma. 27 No momento de transmitir a informação, é encontrada uma dificuldade consideravelmente grande, pois a criança recebe uma informação que ultrapassa o seu objetivo ou não chega a ele, como o exemplo da bola. 14 DISTÚBIOS DE PERCEPÇÃO AUDITIVA Assim como o distúrbio de percepção visual, este está ligado às dificuldades da leitura. A percepção auditiva consiste na transformação do som para uma informação. As pessoas com distúrbio de percepção auditiva, não conseguem fazer esta transformação com perfeição, pois o conteúdo que é recebido no cérebro chega distorcido, apresentando várias falhas como, por exemplo, a troca de palavras. Elas também não têm a capacidade de processar as entradas de som tão rápido como as outras pessoas, o que é conhecido como retardo auditivo. São características de pessoas com distúrbio de percepção auditiva: Dificuldades em distinguir pequenas diferenças nos sons compreendendo a mensagem de forma incorreta. Exemplo: Confundir bala com bola. Dificuldades com a relação figura e fundo. Exemplo: O aluno está assistindo televisão num local em que há outras pessoas conversando. Alguém, em outro cômodo, chama a criança e começa a falar com ela. A mesma não consegue distinguir a voz, demorando para percebê-la. Esses alunos são vistos pelos pais e educadores como aqueles que nunca prestam atenção a nada do que lhe é dito. Para lidar com pessoas que apresentam essas características, é preciso falar devagar, dar as instruções separadamente para que elas consigam acompanhar as mesmas, entre outros cuidados. Se as falas forem realizadas de forma rápida, provavelmente partes das informações serão perdidas. 28 14.1 Distúrbios de Integração (Problemas de coordenação motora, hiperatividade, falta de habilidade social, impulsividade, chorar a toa e problemas comportamentais), também constituem distúrbios de entrada, mas estão ligados a outros sentidos diferentes da visão e da audição. Quando as informações chegam ao cérebro, elas precisam ser compreendidas, o que se dá em dois momentos: a sequência e a abstração. As pessoas podem ter esse distúrbio em uma área ou outra ou, ainda, em ambas. 14.2 Distúrbios de Sequência Os alunos que apresentam esse distúrbio compreendem as informações transmitidas, mas não conseguem repetir suas sequências. Veja alguns exemplos abaixo: Uma criança pode ouvir ou ler uma história, mas, na hora de recontá-la, pode inverter a ordem dos fatos discorrendo, primeiramente, sobre o final e depois ir para o início da história. Nas operações matemáticas, os problemas são entendidos, mas, as ordens invertidas: Exercício: 4 + 2 = ? Resposta dada pela criança: 4 + 6 = 2. Pessoas com essas características também podem encontrar dificuldades com jogos de tabuleiro que exijam um movimento em sequência; ao colocar cada coisa em seu lugar arrumando uma mesa de jantar, ou, ainda, ao realizar a grafia de palavras, trocando a ordem das letras. Uma criança que tem dificuldade em dar sequência ao que é visto, tem um distúrbio de sequência visual e outra que tenha dificuldade em dar sequência ao que é ouvido, tem distúrbio de sequência auditiva. 14.3 Distúrbios de Abstração A abstração diz respeito à capacidade de dar significados às coisas. Em alunos com distúrbios de abstração, a informação recebida é registrada e 29 colocada na sequência correta. Porém, não se pode fazer relações com o conhecimento adquirido e nem significá-lo. Exemplo: Um educador pode ler uma história sobre policiais e perguntar para o aluno se ele conhece algum policial que seja da família ou alguém com quem tenha contato. Esse aluno não tem capacidade para responder a esse questionamento, pois ele consegue falar apenas do policial da história de forma específica e não sobre esses profissionais de forma geral. 14.4 Distúrbios de Memória Quando se recebe uma informação, além da mesma ter que ser registrada e compreendida, ela precisa ser arquivada para que possa ser usada em outros momentos, o que se dá através da memória. Existem três tipos de memória: a imediata, a de curto prazo e a longo prazo. A memória imediata, também é conhecida como memória de trabalho. É breve e fulgaz, gerencia a realidade mantendo a informação por alguns segundos ou minutos, até que esta seja processada. Ela pode ser ilustrada como a memória de um número de telefone consultado na lista telefônica, que é geralmente esquecido depois de digitado. Localiza-se no córtex pré-frontal do cérebro. A memória a de curto prazo faz com que a pessoa tenha a capacidade de manter as informações no foco da consciência, organizar os dados e sequenciar atividades antes das informações a serem armazenadas. A seguir, essas informações saem do foco da consciência, ou seja, deixam os circuitos da memória operacional e são processadas e consolidadas em longo prazo em outras regiões do cérebro. E é então, o que chamamos de memória de longo prazo a qual capacita a pessoa a reter e consolidar as informações que poderão ser evocadas após minutos ou décadas. Por exemplo: a lembrança de amigos da infância, o endereço de suas respectivas casas...É ativada com através da repetição do ato. Alunos com distúrbios de memória, geralmente têm a sua memória de curto prazo afetada. Esses problemas também podem atingir de forma 30 significativa o desempenho escolar. Muitas vezes são necessárias de 10 a 15 repetições para memorizar algo que uma criança sem este distúrbio o faria em 3 ou 5 repetições. No entanto, essas pessoas não possuem dificuldades na memória de longo prazo, podendo lembrar de determinados acontecimentos nos mínimos detalhes. 14.5 Distúrbios de Saída Assim como determinadas pessoas encontram dificuldades na forma como recebem as informações, outras têm problemas no momento da saída de informações, ou seja, no momento de concretização do conhecimento adquirido. Isso é percebido quando o aluno realiza ações como escrever, desenhar, atividades motoras e outras. Quando essa dificuldade implica na escrita ou nafala, ela é chamada de Distúrbios de Saída de Linguagem e, quando se dá na realização de atividades musculares, é chamada de Distúrbios de Saída Motora. 14.6 Distúrbios de Linguagem Os distúrbios de linguagem podem ser divididos em dois tipos: Distúrbio de Linguagem Espontânea e Distúrbio de Linguagem de Demanda. A linguagem espontânea se dá quando o indivíduo inicia uma conversa através de um comentário, um cumprimento ou um questionamento. Nesta forma de comunicação, a pessoa que inicia a conversa escolhe o assunto que será tratado (provavelmente um do qual tenha conhecimento e facilidade para discorrer), usa o tempo necessário para organizar seus pensamentos e encontrar as melhores palavras para se expressar. Porém, pessoas com distúrbio de aprendizagem espontânea, encontram dificuldades em realizar tal tarefa, não iniciando diálogos ou, então, o fazendo de forma inadequada. 31 Já a linguagem de demanda se dá quando alguém iniciou uma conversa e é preciso interagir. Pessoas que são portadoras deste distúrbio, geralmente não possuem dificuldade com a linguagem espontânea. Fonte: wetheblind.files.wordpress.com Na linguagem de demanda, a outra pessoa é quem estabelece a circunstância na qual você tem que se comunicar, de forma que não há tempo para organizar os pensamentos e encontrar as palavras adequadas, mas, ainda assim, é preciso responder de forma apropriada. Pessoas com esses problemas costumam pedir para que a pergunta seja repetida, pois, dessa maneira, conseguem mais tempo para pensar na resposta. Quando são forçadas a dar uma resposta, o fazem de maneira confusa e é difícil acompanhá-las. Isso pode parecer contraditório, já que este mesmo indivíduo consegue falar perfeitamente em outros momentos como, por exemplo, quando inicia uma conversa. Esses alunos podem ser vistos como preguiçosos pelos professores, afinal, falam normalmente através da linguagem espontânea e, quando são questionadas, dizem que não sabem ou simplesmente não respondem. Esse é o tipo de dificuldade que é detectada quando não se conhece esse distúrbio, 32 originando, portanto a necessidade de se ter profissionais capacitados para o processo de ensino-aprendizagem. 14.7 Distúrbios de Atividade Motora Os distúrbios de atividade motora podem ser divididos em dois tipos: distúrbio de atividade motora grosseira e distúrbio de atividade motora fina. O distúrbio de atividade motora grosseira é caracterizado pela dificuldade de usar grandes grupos musculares. Ele faz com que o aluno seja desajeitado fazendo-o cair sobre as coisas ou enfrentar problemas para realizar atividades físicas como correr, escalar ou nadar. Já o distúrbio de atividade motora fina, consiste na dificuldade de realizar tarefas que demandam que muitos músculos trabalhem juntos. Ele é percebido quando o aluno começa a escrever. Ele apresenta uma incapacidade de fazer com que os músculos da mão dominante trabalhem em conjunto. A sua velocidade de escrever não consegue acompanhar o ritmo do seu pensamento, o que resulta em uma letra lenta e feia. Escrever exige uma série de elementos que acabam passando despercebidos para as pessoas que não possuem tais dificuldades como a forma, o tamanho, o espaçamento e o posicionamento. Para alunos com distúrbios de atividade motora fina, esse processo é muito mais complicado. A partir desse momento serão conhecidos os principais distúrbios de linguagem e de atividade motora, sendo que eles podem ser classificados como um e/ou outro. Dislexia; Disgrafia; Disortografia; Afasia; Discalculia; Acalculia; Gagueira e Déficit de atenção 14.8 A) Dislexia A dislexia tem sido o distúrbio de maior incidência nas salas de aula. Ela reflete na dificuldade de aprendizagem na qual a capacidade de um aluno para ler ou escrever está abaixo do seu nível de inteligência. A mesma pode ser 33 caracterizada como uma insuficiência para assimilar os símbolos gráficos da linguagem. Sua origem é congênita (nata) e hereditária e seus sintomas podem ser identificados logo na pré-escola em crianças que demoram a começar a falar ou trocam os sons das letras e têm dificuldades para aprender a ler e escrever. Ela pode ser chamada de “a mãe dos transtornos de aprendizagem” porque foi a partir da identificação deste problema que se iniciou uma busca pelo conhecimento de todos os outros tipos de distúrbios existentes. Com o passar do tempo, surgiu à necessidade de estabelecer as diferenças entre os problemas na aprendizagem e, a partir de então, eles começaram a ser subdivididos e classificados. A dislexia também foi conhecida durante um grande período como “cegueira verbal congênita” devido às dificuldades para ler e escrever em pessoas que possuíam visão normal. Esse distúrbio se dá em alunos com audição, visão e inteligência normais, que vivem em ambientes familiares saudáveis e possuem condições econômicas adequadas. Assim, em casos de dislexia, as causas não podem ser atribuídas a questões emocionais, culturais ou instrucionais. Embora esses fatores tenham uma influência no desempenho de pessoas disléxicas, eles não são determinantes. Nos indivíduos que não possuem dislexia, a área esquerda do cérebro é a responsável pela percepção e pela linguagem, subdividida em três partes: uma que processa fonemas, outra que analisa as palavras e a última que reconhece as palavras. Essas três partes trabalham em conjunto e dão capacidade para que os indivíduos aprendam a ler e escrever. Os alunos conseguem realizar essa tarefa apenas quando reconhecem e processam fonemas, memorizando as letras e seus sons. Com o tempo e o desenvolvimento do aluno na leitura e na escrita, sua memória permanente começa a ser construída, o que faz com que ela reconheça as palavras com mais agilidade e sem grande esforço. As crianças disléxicas possuem falhas nas conexões cerebrais. Elas podem contar apenas com a região do cérebro responsável por processar fonemas e sílabas, enquanto a área responsável pela análise de palavras, não 34 exerce a sua função. Suas ligações cerebrais não incluem a área responsável pela identificação de palavras e, portanto, a criança não consegue reconhecer palavras que já tenha lido ou estudado. A leitura se torna um grande esforço para ela, pois toda palavra que ela lê aparenta ser nova e desconhecida. Para simplificar, pode-se dizer que a dislexia é causada por alterações nas áreas do cérebro responsáveis pelos sons da linguagem e do sistema que transforma o som em escrita. Esse distúrbio é confundido com frequência com outros problemas de adaptação escolar como os atrasos de desenvolvimento e a deficiência mental ligeira, afinal, o aluno disléxico tem dificuldades em compreender o que está escrito e de escrever o que está pensando. Quando tenta expressar-se no papel, o faz de maneira incorreta e o leitor não compreende as suas ideias. Abaixo você pode ver algumas das características mais encontradas por alunos que têm dislexia: Fraco desenvolvimento da atenção Falta de capacidade para brincar com outras crianças Atraso no desenvolvimento da fala e escrita Atraso no desenvolvimento visual Falta de coordenação motora Dificuldade em aprender rimas/canções Falta de interesse em livros impressos Dificuldade em acompanhar histórias Dificuldade com a memória imediata e a organização em geral A pronúncia ou a soletração de palavras monossilábicas é uma dificuldade evidente Inversão de palavras de maneira parcial ou total. Exemplo: A palavra “casa” é lida como “saca”. Inversão das letras e números. Exemplo: “p” por “b”; “3 por “5” Alteração na ortografia em função de alterações no processo auditivo Cometem erros na separação das palavras Dificuldades em distinguir esquerda e direita 35 Alteração na sequência das letrasque formam as sílabas e palavras Dificuldades na matemática Pobreza de vocabulário Escassez de conhecimentos prévios (memória de longo prazo) Falhas na elaboração de orações complexas e na redação espontânea Copiam as palavras de forma errada mesmo observando na lousa como são escritas. Além disso, os disléxicos também sofrem com a falta de rapidez ao ler. Sua leitura é sem ritmo e, muitas vezes e com muito sacrifício, decodificam as palavras, mas não conseguem compreendê-las. As características colocadas acima não são suficientes para se fechar um diagnóstico a respeito da dislexia, afinal, existem outros distúrbios de aprendizagem que também possuem elementos parecidos, no entanto, elas podem ser usadas como um ponto a partir do qual se é levado a procurar a ajuda de profissionais especializados e buscar formas de superação. A dislexia é responsável por altos índices de repetência e abandono escolar. A ausência de conhecimentos dos professores contribui para uma evasão escolar e o agravamento dos problemas enfrentados pelos alunos. Essas são incompreendidas em seu fracasso e não valorizadas em suas tentativas vãs para superar suas dificuldades, desenvolvendo uma imagem negativa sobre si mesmas. A escola se torna um ambiente que causa ansiedade e as exigências dos pais e professores acabam se revertendo em comportamentos agressivos, inibições e outros. Os alunos disléxicos precisam olhar e ouvir atentamente, prestar atenção aos movimentos da mão enquanto escrevem e da boca quando falam para associar os fonemas aos seus sons e à sua escrita. É recomendada a montagem de “manuais” de alfabetização apropriada para pessoas com essas dificuldades. Além disso, o sucesso escolar de um disléxico está baseado em uma terapia multisensorial (uso de todos os sentidos), sempre combinando atividades que motivem o uso da visão, da audição e do tato para ajudá-lo a ler e soletrar corretamente as palavras. 36 Abaixo estão colocadas algumas atitudes que podem ajudar essas pessoas no processo de aprendizagem: Usar folhas quadriculadas para matemática. Usar letras com várias texturas. Usar máscara para leitura de texto. Evitar dizer que a criança é lenta, preguiçosa ou compará-la aos outros alunos da classe. Não forçar a criança a ler em voz alta em classe a menos que demonstre desejo em fazê-lo. Suas habilidades devem ser julgadas mais em suas respostas orais do que nas escritas. Sempre que possível, a criança deve ser encorajada a repetir o que foi lhe dito para fazer, isto inclui mensagens. Sua própria voz é de muita ajuda para melhorar a memória. Revisões devem ser frequentes e importantes. Copiar do quadro é sempre um problema, tente evitar isso, ou dê- lhe mais tempo para fazê-lo. Demonstre paciência, compreensão e amizade durante todo o tempo, principalmente quando você estiver ensinando a alunos que possam ser considerados disléxicos. Ensine-a quando for ler palavras longas, a separá-las com uma linha a lápis. Dê-lhes menos dever de casa e avalie a necessidade e aproveitamento desta tarefa. Não risque de vermelho seus erros ou coloque lembretes como “você precisa estudar mais para melhorar”. Procure não dar suas notas em voz alta para toda classe, isso a humilha e a faz infeliz. Não a force a modificar sua escrita, ela sempre acha sua letra horrível e não gosta de vê-la no papel. A modulação da caligrafia é um processo longo. 37 Use sempre uma linguagem clara e simples nas avaliações orais e principalmente nas escritas. Uma língua estrangeira é muito difícil para eles, faça suas avaliações sempre em termos de trabalhos e pesquisas. Além do apoio da escola, os alunos precisam receber apoio em casa. Os pais e demais responsáveis devem ajudar a melhorar sua autoestima, oferecendo carinho, sendo compreensivos e elogiando a cada acerto alcançado e encorajando a realização de tarefas em que se saiam bem e que podem ser estimulantes. Também devem ser ajudados em seus trabalhos escolares e não se pode permitir que seus problemas escolares implicassem em mau comportamento ou falta de limites. Fonte: hospitaldeolhosdoparana.com.br Para diagnosticar corretamente a dislexia, deve-se procurar a ajuda de profissionais como fonoaudiólogos, psicólogos, neurologistas e psicopedagogos. Não se espera encontrar todas as dificuldades numa única criança disléxica, mas a presença de pelo menos uma delas, associada às dificuldades de ler, pode fazer supor a existência de um quadro de dislexia. Os 38 problemas podem ser avaliados através de um acompanhamento adequado e direcionado às condições de cada caso. Faz-se necessário adequar métodos e materiais que atendam o desenvolvimento do aluno, bem como o acompanhamento e a observação para que se conheça as particularidades de cada um considerando o seu tempo e a sua construção de saberes. É importante que se fale sobre o “dom da dislexia”. Pois, quando um dislexo domina alguma coisa, ele a aprendeu tão bem que pode fazê-la sem pensar sobre o que está fazendo. Obs: Irlen ou dislexia da leitura – Irlen é uma síndrome que pode afetar além da leitura, outras áreas variadas da vida do indivíduo. A sensibilidade à luz pode causar desde simples incômodos em determinados ambientes ou circunstâncias, até prejuízos em habilidades, tais como: prática de esporte com bola, coordenação motora fina e grossa, habilidades musicais, coordenação espaço temporal, entre outras. Um indivíduo mesmo com acuidade visual dentro dos padrões de normalidade (ou seja, enxergando bem), tem chances de ser portador da síndrome, já que se trata de uma disfunção da percepção e não uma patologia ligada diretamente aos olhos. Ela está relacionada diretamente a déficits na codificação e decodificação das informações visuais pelo sistema nervoso central. É necessário um diagnóstico diferencial por profissionais especializados, uma vez que não pode ser detectada através de exames oftalmológicos de rotina, nem por testes padronizados para verificação de dificuldades de aprendizagem. Esta é uma síndrome conhecida no Brasil há aproximadamente cinco anos, através de cursos oferecidos pela Fundação do Hospital de Olhos de Minas Gerais. O uso da lâmina overlarys(overleis), proporciona conforto, nitidez, estabilidade e fluência durante a leitura. Esta pode ser usada como lente dos óculos ou sobre postas em textos. 39 14.9 B) Disgrafia A disgrafia também é conhecida como “letra feia” porque as crianças que possuem esse tipo de distúrbio, apresentam uma escrita muito feia. Isso leva a um desempenho ruim na escola mesmo em alunos que possuem inteligência normal ou acima da média. Esse problema constitui uma deficiência na qualidade do traço gráfico, o que se reflete através de grandes dificuldades para escrever corretamente a linguagem falada. O aluno com disgrafia tem dificuldades em coordenar as informações visuais e na realização motora do ato de escrever. Alguém que tem apenas dificuldades para escrever, mas não apresenta problemas em outras atividades motoras, provavelmente não tem este distúrbio. Existem dois tipos de disgrafia: a motora e a pura. A primeira atinge a maioria das crianças com este distúrbio e consiste na dificuldade em escrever palavras e números corretamente. A segunda é mais difícil de ser diagnosticada porque aparece quando ao aluno sofre algum trauma emocional e isso se reflete na sua letra. Existem alguns sinais que podem indicar as relações entre os problemas causados por este distúrbio e as condições emocionais: Letras pequenas demais podem indicar uma timidez excessiva. Letras grandes demais podem indicar um aluno que necessita estar sempre no centro das atenções. Letras feitas com muita força, que chegam a marcar as outras páginas do caderno, podemindicar que o aluno esteja tenso. No entanto, a disgrafia acontece também em alunos com capacidade intelectual normal, sem qualquer transtorno neurológico, sensorial, motor ou afetivo. Eles, ainda que tenham boas notas e facilidade de se expressar pela fala, não conseguem planejar os movimentos para conseguir o traçado da letra. Ao observarem os conteúdos de uma lousa ou um papel, não são capazes de reproduzir o que viram. Algumas das características mais encontradas em crianças com este tipo de distúrbio são: Letras ilegíveis Traços pouco precisos ou incontrolados 40 Falta de pressão nos traços ou pressão muito forte a ponto de marcar o papel Letras distantes ou extremamente juntas Omissão de letras Dificuldade em manter uma frase na mesma linha Dificuldade em recordar a grafia correta para representar um determinado som ouvido ou elaborado mentalmente. O aluno escreve devagar, retocando cada letra, realizando de forma inadequada às uniões entre as letras ou amontoando-as para esconder os erros ortográficos. A ortografia pode ser verificada como uma das dificuldades da disgrafia a partir do momento que se exige rapidez e um ritmo gráfico de um aluno que ainda não automatizou a relação som-letra. Nesse caso, a escrita das palavras é lenta e, na maioria das vezes, incompleta, porque o aluno tem certas dificuldades em recordar com rapidez qual a grafia para representar determinado som. Podendo os elementos citados serem resumidos em três características básicas: 14.10 Má organização da página Essa característica está ligada à orientação espacial, ou seja, o aluno encontra dificuldades para organizar sua escrita numa folha de papel. O texto é apresentado de forma desordenada com margens mal feitas ou inexistentes, espaço entre palavras e linhas irregulares. 14.11 Má organização das letras Incapacidade de seguir as regras caligráficas. O traçado é de má qualidade e os contornos das letras são deformados. 41 15 FORMAS E PROPORÇÕES Refere-se ao grau de limpeza do traçado das letras, sua dimensão (muito grandes ou minúsculas), desorganização das formas e escrita alongada ou comprimida. A disgrafia normalmente é observada um ou dois anos depois que o aluno aprende a escrever. É comum que os professores demorem para perceber o problema, pois eles estão mais preocupados com o desenvolvimento intelectual dos alunos do que com o motor. Embora não se treine de forma efetiva a organização espacial das crianças, exige-se que elas tenham uma boa escrita, o que pode ser visto como uma problemática na educação infantil. O professor deve ficar atento às possíveis posturas inadequadas para poder corrigi-las o mais cedo possível e, junto com um profissional especializado, estabelecer estratégias de ajuda que favoreçam a qualidade do traçado gráfico. Uma grande parte dos professores não conhecem os distúrbios ligados à aprendizagem e acabam julgando de forma errônea seus alunos ao dizer que eles não são caprichosos, são preguiçosos e pouco esforçados. Por esse e outros motivos, é preciso saber que o que diferencia uma letra sem capricho da disgrafia, é o fato de o aluno ter também outras dificuldades motoras leves como problemas na hora de amarrar o sapato ou abotoar a camisa. A idade mais indicada para se começar a tratar a disgrafia é a partir dos oito anos, quando a letra começa a se firmar. Quando não tratado, o distúrbio pode trazer problemas mais sérios na vida adulta, entre eles a dificuldade de comunicação. Em processos seletivos como vestibulares, por exemplo, é preciso escrever textos relativamente longos e tem-se pouco tempo disponível pra isso. Candidatos que sofrem com a disgrafia, já se apresentam em desvantagem na concorrência. Além da antecedência, a disgrafia precisa ser superada através de tratamentos psicológicos e treinos motores. Sem a busca de um tratamento, a criança começa a se sentir atrasada em relação aos outros alunos e não compreende porque não consegue se expressar através das palavras no caderno. A finalidade dos tratamentos é fazer com que a criança atinja o 42 domínio do gesto e do instrumento, a percepção e compreensão da imagem a reproduzir. Algumas atitudes podem ser tomadas no sentido de minimizar os problemas causados pela disgrafia. Pode-se citar como exemplo exercícios como o ombro (como os realizados com o brinquedo “vai e vem”), para o cotovelo (como os realizados ao jogar peteca), para os punhos e mãos (como brincar com massinhas ou argilas e pintar com lápis de cor ou giz de cera). Deve-se destacar ainda a importância dos esportes. Através deles é possível trabalhar a orientação espacial e a coordenação motora da criança. Brincadeiras como jogar vôlei, xadrez e peteca também podem ajudar na melhora da letra, já que fazem a criança usar as mãos e planejar os movimentos. Não se pode descartar o papel que pais e professores têm nesse processo. Eles precisam estar cientes das capacidades motoras da criança e não exigir resultados que estão acima daqueles que ela pode apresentar num dado momento. É claro que não se pode esperar que o aluno desenvolva suas habilidades sozinho, mas sim estimular esse desenvolvimento através de práticas motoras baseadas em crescimentos graduais que exijam pouco a pouco mais rapidez e controle do ato motor. O desenvolvimento do controle motor é uma característica básica para atingir a qualidade na escrita. Afinal, o ato de escrever mobiliza uma série de segmentos do corpo. Antes de se atingir o nível ideal de desenvolvimento motor, que permite a realização da escrita de forma rápida, precisa, legível e sem cansaço, a coordenação motora passa por diversos estágios. Em cada estágio um segmento do corpo realiza uma função até chegar o momento em que se atinge o controle total do ato de escrever, que é caracterizado pela fixação do cotovelo na mesa e a rápida movimentação dos dedos durante a escrita. No início da alfabetização, é natural que escrita do aluno não saia de forma perfeita no papel, afinal, ele está apenas começando a aprender. No entanto, se com o tempo e o treinamento em cadernos de caligrafia, o aluno ainda estiver longe de escrever corretamente, é preciso que pais e educadores 43 comecem a buscar as causas dessas dificuldades e procurem formas de superação. Não se pode esquecer também que o traçado gráfico é feito de características pessoais e, portanto, vai adotando peculiaridades individuais ao longo do desenvolvimento de cada um. Baseados nisso, responsáveis e professores não podem impor nenhum modelo de letra para os alunos, mas sim, respeitar o seu grafismo desde que ele seja legível, claro e atinja o objetivo principal da escrita, que é a transmissão da linguagem oral com o máximo de eficiência sem o desprendimento de grandes esforços. 15.1 Disortografia A disortografia também é um problema encontrado na linguagem, onde o aluno apresenta dificuldades em realizar a escrita e a fala, lidar com todas as sinalizações gráficas e outros conhecimentos que as crianças da 2ª série do ensino fundamental I, já deveriam saber e ter total domínio. Assim como outros distúrbios, a disortografia também está ligada à dislexia e apresenta algumas características presentes em outros problemas, o que dificulta a identificação do tipo de distúrbio com o qual se está lidando. Por isso, é de extrema importância que os educadores tenham conhecimentos suficientes para exercer a profissão e trabalhar o desenvolvimento de seus alunos. Eles certamente precisarão observar de forma atenta às dificuldades dos alunos para poder deixar os pais cientes e procurar a melhor maneira de dar o atendimento necessário para tais alunos durante o processo de ensino- aprendizagem. 15.2 Características da disortografia: Troca de grafemas: Geralmente as trocas de grafemas (unidadesgráficas) que representam fonemas homorgânicos (fonemas que têm a articulação realizada pelo mesmo órgão do aparelho responsável pela emissão de sons, sendo as trocas mais frequentes àquelas que envolvem o p ou o b), acontecem por 44 problemas de discriminação auditiva. Quando o aluno troca fonemas na fala, a tendência é que ela escreva apresentando as mesmas trocas, mesmo que os fonemas não sejam auditivamente semelhantes. Falta de vontade de escrever. Dificuldade em perceber as sinalizações gráficas (parágrafos, travessão, pontuação e acentuação). Dificuldade no uso de coordenação/subordinação das orações. Aglutinação ou separação indevida das palavras. Os pais desses alunos precisam ser orientados a levar seus a especialistas para que possam ter orientações mais precisas do caso, podendo também ter o conhecimento se este distúrbio possui algum tipo de tratamento para diminuir as dificuldades. Existem alguns fatores que devem ser analisados no processo de verificação dos educadores: Nível de escolaridade Frequência dos erros e quais acontecem A frequência de palavras no vocabulário A frequência visual Através dessas colocações, os educadores conseguem ter um diagnóstico mais preciso do distúrbio, podendo realizar um trabalho eficiente, apresentando menos falhas quando comparados a educadores sem conhecimento sobre o assunto. 15.3 Afasia Este distúrbio também está ligado à linguagem e tem como principais características a perda das capacidades e habilidades da comunicação tanto escrita, como falada. Ele está muito envolvido com a área da neurologia clínica, uma vez que pode originar-se de acontecimentos como acidentes vasculares cerebrais, infecções e outros, afetando, dessa forma, áreas específicas do cérebro responsáveis pela comunicação. De acordo com o local da lesão cerebral, são 45 ocasionados tipos diferentes de alterações. Por isso, a afasia divide-se em quatro tipos: Afasia de Broca; Afasia de Wernicke; Afasia de Condução e Afasia Global. O fato de elas estarem divididas em tipos diferentes, possibilita aos profissionais da área médica uma maior facilidade para darem diagnósticos e encontrar o melhor tratamento. 15.4 Discalculia A discalculia está ligada às dificuldades com as habilidades matemáticas. Os alunos são capazes de compreender as lições transmitidas, mas quando tentam colocar em prática o que aprenderam, acabam trocando e invertendo as ordens das operações. Pessoas com discalculia não apresentam problemas fonológicos, mas encontram dificuldades em: Visualizar conjuntos de objetos dentro de um conjunto maior. Conservar a quantidade. Exemplo: Não compreender que 1kg é igual a quatro pacotes de 250 g Os sinais de soma, multiplicação e os demais. Sequenciar números, como, por exemplo, o que vem antes do 11 e depois do 15 (antecessor e sucessor). Classificar números. Dificuldade na memória de trabalho. Dificuldade de memória em tarefas não-verbais. Dificuldade na soletração de não-palavras (tarefa de escrita). Dificuldade na memória de trabalho que implica contagem. Dificuldade nas habilidades viso-espaciais. Dificuldade nas habilidades psicomotoras e perceptivo-táteis. Montar operações. Contar através dos números cardinais e ordinais. 46 Estabelecer correspondência um a um: não relaciona o número de alunos de uma sala à quantidade de carteiras. 15.5 Acalculia A acalculia também é uma dificuldade relacionada às habilidades matemáticas e está diretamente ligada à discalculia. O aluno não tem dificuldade com elementos como a contagem, mas sim em como relaciona isso com o mundo que a cerca. A acalculia ocorre quando o indivíduo, após sofrer lesão cerebral, como um acidente vascular cerebral ou um traumatismo crânio- encefálico, perde as habilidades matemáticas já adquiridas. A perda ocorre em níveis variados para realização de cálculos matemáticos. 15.6 Gagueira Ainda hoje não se sabe ao certo quais são as causas da gagueira. Ela é um distúrbio ligado às dificuldades da fala e pode prejudicar o cotidiano daqueles que a possuem. Devido à sua incidência, ás dificuldade que pode causar na aprendizagem e à importância de saber como lidar com ela, julgou- se relevante abordá-la neste material. Esse distúrbio é caracterizado por uma fala que envolve bloqueios, hesitações, prolongamentos e repetição de sons, sílabas e palavras. A fala também pode ser acompanhada de tensão muscular, piscar de olhos, irregularidades na respiração e caretas. Os alunos sentem grande dificuldade para achar o que será dito, fazendo repetições de palavras até encontrarem uma saída. Algumas de suas possíveis causas são: Genética/Hereditariedade; Alterações cerebrais; Prematuridade; Distúrbio no sistema nervoso central; Freio da língua muito curto: Traumas de nascimento; Infecções ou Problemas emocionais Os alunos com gagueira devem ser reconhecidos e aceitos como normais. Não se pode humilhar ou criticar uma criança por falar dessa maneira, afinal ela não tem conhecimento acerca da causa do seu erro e, atitudes como 47 essas, apenas o deixa mais nervosa, aumentando a sua dificuldade de fala. Portanto, é preciso manter as crianças em boas condições físicas, ambientes familiares saudáveis e com bons exemplos de fala. É importante que elas desenvolvam sua autoconfiança, através do destaque de suas aptidões e da minimização de suas deficiências. A fala é uma das coisas mais esperadas pelos pais de crianças pequenas, independentes de quantos filhos eles já tenham, essa expectativa sempre existe. Por isso, eles sempre ficam repetindo palavras o tempo todo e, conforme o tempo vai passando, começam a fazer isso com frases maiores. Assim, as palavras vão sendo gradualmente juntadas e cada passo é motivo de felicidade para os pais e demais familiares ou responsáveis. Diante dessa empolgação, os pais podem perceber determinadas falhas na fala de seus filhos. No entanto, a maior parte deles, demora em procurar a ajuda e opinião de especialistas no assunto. Eles sempre tendem a buscar uma causa muito depois do começo da gagueira e, até este momento, criam desculpas para si mesmos acreditando que seja apenas uma fase ou algo normal nas crianças pequenas. Esse comportamento apenas dificulta a aplicação de técnicas capazes de auxiliar no desenvolvimento dessas crianças. As características da gagueira complicam-se com o passar do tempo, pois o sujeito acaba se adaptando ao seu modo de falar, embora nunca esteja satisfeito consigo mesmo por não ser capaz de participar de uma conversa por mais simples que ela possa parecer. Os professores também têm um papel de suma importância no desenvolvimento dos alunos com gagueira. Eles podem agir em sala de aula através de ações como aceitar a criança e manter uma postura objetiva em relação ao seu problema; eliminar ao máximo as dificuldades e interrupções da criança e motivar as demais a fazerem isso também; criar um ambiente calmo e sereno evitando tensões; evitar falas rápidas; dando ênfase às habilidades que ela possui; encorajando-a a falar, mas sem forçá-la. Existem determinadas terapias usadas no tratamento da gagueira. Algumas delas estão dispostas a seguir. 48 15.7 Terapias da gagueira A terapia é algo que ajuda o paciente a diminuir aquilo em que ele apresenta dificuldades, no caso da gagueira, a fala. Existem diversos tipos de terapia para este distúrbio. Abaixo estão descritas algumas técnicas: Técnica “Sombreananto”: Na aplicação desta técnica, faz-se uma gravação com a voz de alguém e o detentor de gagueira a escuta através de fones de ouvido. Ele tem que repetir imediatamente o que escuta em voz baixa, de modo que escuta e fala quase ao mesmo tempo. Isso permite que ele alcance a fluência através da repetição. Técnica
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