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PIGMENTAÇÃO E CALCIFICAÇÃO Patologia Geral Aplicada à Enfermagem Aluna: Aline de Souza Bitencourt Resumo das Pigmentações e Calcificações Pigmento : 'Que tem cor própria' Conceito: "Pigmentos são substâncias coloridas, algumas das quais são constituintes normais da célula, enquanto outros são anormais e acumulam-se nas células" (KUMAR, 2010, p.118). >Pigmentação é o processo de acúmulo normal ou patológico de pigmentos no organismo. Pigmentações Exógena Origem externa ao corpo que se deposita nos órgãos Endógena Produzida pelo próprio organismo Pigmentação Pigmentos Biliares O principal pigmento biliar é a Bilirrubina (Bb). É um pigmento amarelo, produto final do catabolismo da fração heme da Hb e de outras hemoproteínas (BRASILEIRO FILHO, 2016). Pigmentação endógena Podem ser: 1. derivados da hemoglobina, 2. melanina, 3. ácido homogentísico e 4. lipofuscina. Fonte: BRASILEIRO FILHO 2016. Derivados da Hemoglobina1. >As hemácias senescentes (não possuem mais função) são mandadas para o baço para degradação. >Há a separação da hemácia em fração heme + globina. >A fração heme dará origem a biliverdina através da enzima Heme-oxigenase. > A biliverdina é convertida em bilirrubina não- conjugada ou indireta pela enzima Biliverdina- redutase. Cinética da Bilirrubina Fonte: KUMAR, 2010. > Nos hepatócitos, a bilirrubina se solta da albumina e se conjuga com o ácido glicurônico tornando-se bilirrubina conjugada ou direta e é solúvel. > A bilirrubina conjugada é excretada pelos ductos biliares e segue para o intestino. >No intestino, sofre a ação de bactérias, dando a coloração característica das fezes. Fonte: KUMAR, 2010. >A bilirrubina não-conjugada é insolúvel e não consegue ser transportada na corrente sanguínea, por isso se liga a proteína albumina. >O complexo bilirrubina-albumina segue para o fígado. Hiperbilirrubinemia: Quantidade excessiva de bilirrubina no organismo. Manifesta-se na pele, mucosas e escleras de forma amarelada caracterizando uma icterícia. É a primeira indicação de um problema hepático. >Causas: Pré-hepáticas - Aumento na produção de Bb pela maior degradação das hemácias. Ex.: anemia hemolítica. Hepáticas - quando o fígado não consegue conjugar e acumula no sangue. Ex.: hepatite, cirrose, doenças genéticas. Pós-hepáticas - obstrução por tumores e atresia das vias biliares. >Icterícia fisiológica do Recém-nascido/neonatal A bilirrubina do feto é conjugada através da placenta durante a gestação. Após o nascimento (até duas semanas de idade) o maquinário hepático para conjugação e excreção da bilirrubina não amadurece completamente, caracterizando uma icterícia. É comum ser leve e transitória e aparece entre o segundo e quinto dia de vida. >Icterícia patológica - colestase neonatal Aumento de Bb no sangue em casos de atresia biliar e hepatite neonatal. Quando o nível de Bb ultrapassa 25mg/dl pode atravessar a membrana hematoencefálica e ocorrer lesão cerebral e sequelas neurológicas, condição chamada de kernicterus. Fototerapia: "Banho de luz" para tratamento, principalmente, da icterícia do recém-nascido. Transforma a Bb não-conjugada em um fotoisômero solúvel em água podendo ser excretado pelos rins. Fototerapia. Fonte: Google imagens. Hemossiderina Pigmento amarelo a castanho-dourado resultante da degradação da Hb, é composta da parte que contém ferro (Fe3+), sendo a principal forma de armazenamento de Fe. >O Fe é importante para o transporte de ferro e síntese de DNA, porém pode causar lesões ao organismo produzindo radicais livres. O corpo não excreta fisiologicamente o Fe. >É frequentemente encontrada nos macrófagos da medula óssea, fígado, baço e linfonodos. > A deposição excessiva de hemossiderina nos tecidos (hemossiderose) pode ser localizada ou sistêmica. Corante azul da prússia, reação de Perls em que devido ao Fe3+ se cora em azul. Fonte: Anatpat UNICAMP. Hemossiderose sistêmica em hepatócitos. Fonte: Anatpat UNICAMP. > Hemossiderose localizada: Encontrada em focos hemorrágicos, como em hematomas/contusão (não há rompimento da pele). As hemácias são rapidamente degradadas pelas células fagocitárias (macrófagos) e há liberação de hemoglobina e hemossiderina, biliverdina e bilirrubina o que dá a cor característica do trauma (equimose). Espectro Equimótico. Fonte: SlideShare. A hemossiderina representa agregados de micelas de ferritina. A ferritina forma grânulos de hemossiderina quando há um excesso de ferro. > Hemossiderose sitêmica: Ocorre devido a uma maior absorção de Fe quando há maior consumo na alimentação, na anemia hemolítica ou quando há tranfusão sanguínea. Não está associada a processos patológicos. Há uma condição genética chamada hemocromatose hereditária que é relacionada a maior absorção de Fe no intestino (absorve 3 a 4 vezes mais Fe que o normal). O acúmulo de ferro nos tecidos ao longo dos anos produz radicais livres que causam hipotrofia e fibrose do parênquima do fígado, pâncreas e coração que associa-se a cirrose hepática, diabetes mellitus e insuficiência cardíaca além de gerar uma pigmentação alterada na pele. Hemocromatose hereditária, pele ao longo dos anos. Fonte: MSD manuals. Derivada do grego melas = preto, é um pigmento preto-acastanhado. A melanina possui a função de proteção contra os raios ultravioleta (UV), é antioxidante e absorve o calor. A melanina é produzida nos melanócitos, células localizadas na camada basal da epiderme, cabelos e íris. 2. Melanina Melanócito. Fonte:ResearchGate. Melanócito. Fonte:EcuRed. >Melanogênese: A produção de melanina depende de tirosina e enzima tirosinase. Há a produção de feomelanina e eumelanina nos hepatócitos e a quantidade determinará as colorações das peles, cabelos e olhos juntamente com genética, hormônios e luz solar. > Hiperpigmentação melânica 1)Alta produção de melanina ou 2)Aumento no número de melanócitos. 1)Efélides sardas. 1)Melanose bucal gengivas enegrecidas. 2)Nevo pigmentado manchinhas ou sinais que podem ser normais ou neoplásicas. 2)Melanoma manchas que podem ser normais ou neoplásicas. > Hipopigmentação melânica Diminuição da produção de melanina. Albinismo alteração genética em que não há produção de melanina pelos melanócitos, porém possuem quantidade normal dessas células. Maior predisposição a câncer de pele. Vitiligo doença autoimune em que os melanócitos são destruidos. Manifesta-se como manchas apigmentadas na pele. Não há cura, pois não se sabe exatamente a causa. 3. Ácido homogentísico Pigmento em forma de grânulos de cor castanho- avermelhada ou amarelada que se forma no metabolismo da tirosina e é degredado pela enzima ácido homogentísico-oxidase. Quando há um erro no metabolismo (genética), ocorre o acúmulo de ácido homogentísico no organismo e gera uma doença conhecida como alcaptonúria ou ocronose. Essa doença se expressa através de pigmentações na pele, esclera e urina. Com o tempo pode estar associada a valvopatia cardíaca e artropatia degenerativa. 4. Lipofuscina Do latim fuscus= marrom. Também chamado de lipocromo e pigmento de desgaste e é relacionado ao envelhecimento, pois observa-se em pessoas mais idosas. Origina-se da peroxidação de lipídios das membranas celulares, resultante da ação de radicais livres (não gera lesão ao corpo). O acúmulo de lipofuscina na retina gera danos podendo levar a cegueira ou distúrbio visual grave. Pigmentação pulmonar causada pela inalação de micropartículas de carbono presentes no ar poluído, as quais são fagocitadas pelos macrófagos dentro dos alvéolos. O acúmulo desse pigmento escurece os pulmões e os linfonodos. > Comum em : moradores de áreas urbanas, fumantes, mineradores de carvão e moradores de áreas rurais que queimam lenha. Pigmentação enxógena Podem ser: 1. Sais de carbono - antracose, 2. Sais de prata - argiria, 3. Óxido de ferro - siderose, 4. chumbo - plumbismo e 5. Tatuagem. Sais de carbono- Antracose1. Fonte: Anatpat UNICAMP. Pulmão com antracose a fresco. Fonte: Anatpat UNICAMP. É a deposição de sais de prata em tecidos. Causa uma coloração acinzentada ou azul-acinzentada na pele. Acomete trabalhadores de minas de prata, relojoeiros, pacientes que utilizam medicamentos à base de prata etc. 2. Sais de prata- Argiria 3. Óxido de ferro - Siderose É a deposição de ferro nos pulmões principalmente em pessoas que manipulam o material, como mineradores de hematita. 4. Chumbo - Plumbismo A intoxicação por chumbo pode ocorrer de forma aguda ou crônica. > Aguda: contaminação via digestiva causando cólica, fadiga, anemia e irritabilidade. > Crônica: pessoas expostas ao chumbo a longo prazo. Causa disfunção renal, articular, óssea e comprometimento do sistema nervoso. É uma forma de pigmentação localizada na pele em que os macrófagos fagocitam o corante. > Há tatuagens transitórias, feitas em camadas da pele superficiais (estrato córneo da epiderme) e permanentes, feitas em camadas profundas da pele ( derme). > Os macrófagos ficam eternamente fagocitando o corante (quando na derme), por esse motivo muitas tatuagem ao longo dos anos tornam-se mais claras. 5. Tatuagem Microscopia de uma tatuagem. Corante em preto. Fonte: Google imagens. Pneumoconioses 1) Pneumoconioses de mineradores de carvão (antracose) A antracose gera uma fibrose intensa e grave comprometimento funcional do pulmão. Ocorre devido a exposição por anos/décadas, pois o carvão em si tem baixo potencial fibrinogênico. 2) Silicose Doença pulmonar causada por inalação da forma cristalina de dióxido de silício (SiO2), principalmente na extração do quartzo. > Gera intensa fibrose e é mais grave que a antracose devido a menor exposição e maior dano da sílica que incapacita o organismo de degradar e remover as partículas. Exposição de profissionais da mineração, indústria cerâmica, perfurações e fabricação de vidro. Nome genérico para doenças intersticiais causadas por inalação de partículas inorgânicas. Incluem 1) Antracose, 2) Silicose e 3) Asbestose. 3) Asbestose Foi proibida a manipulação no Brasil de asbesto/amianto em 2017. É um silicato que forma fibras afiladas que favorece a penetração no trato respiratório. > O asbesto é um potente indutor de fibrose e é um carcinógeno completo (altamente causador de câncer). Exposição de profissionais na produção de caixas d´água, telhas, freios de automóveis, confecção de roupas etc. > Não fumantes expostos ao asbesto: risco 5x > Fumantes expostos ao asbesto: risco 50x Amianto Silicose Antracose Gravidade das pneumoconioses Consiste na deposição de cálcio em locais normalmente não-calcificados (tecidos não- osteoides). É muito frequente, embora não traga consequências graves. > Cálcio: 98,9% se encontram nos ossos e dentes, 1 % se encontra dentro das células e 0,1% se encontra no plasma (corrente sanguínea). Importante para a estrutura e reserva no organismo, contração muscular, condução de impulsos no coração e sistema nervoso, coagulação sanguínea e manutenção de junções firmes entre as células. Calcificações Calcificação Distrófica Metastática Calcificação Distrófica Afeta tecidos lesados, ou seja, depende de lesão (degenerações, necroses, inflamações) e não depende dos níveis plasmáticos de cálcio. > Ocorre de forma localizada em: - Áreas de necrose de coagulação, caseosa e gordurosa. - Tecido conjuntivo fibroso de lesões antigas ( áreas de cicatrização). - Placas ateromatosas, trombos (flebólitos). - Válvulas cardíacas lesadas. - Tumores (liomiomas uterinos, carcinomas mamários etc). > Morfologia: aparência granular, amorfa e basofílica (Ca possui afinidade pela hematoxilina). Grânulos ou grumos brancos, palpáveis de consistência arenosa ou pétrea. > Patogenia: formação de mineral fosfato de cálcio. Fonte: Anatpat UNICAMP. Fonte: Anatpat UNICAMP. Calcificação Metastática Afeta tecidos não lesados, ou seja, afeta tecidos normais e depende de níveis de cálcio séricos elevados ( >60mg/dl). > Causas da Hipercalcemia: - Aumento da secreção de paratormônio - Destruição de tecido ósseo - Imobilizações prolongadas - Distúrbios relacionados à vitamina D - Insuficiência renal Hipercalemia: nível elevado de potássio (K+) no sangue Hipercalcemia: nível elevado de cálcio (Ca2+) no sangue Os tecidos mais comuns de calcificação metastática são mucosa gástrica, rins e pulmões pois excretam ácidos e possuem compartimento interno alcalino. > Hiperparatireoidismo primário Superprodução de PTH pelas paratireoides. Esse PTH estimula a absorção de cálcio no intestino, diminui a excreção de cálcio pelos rins e/ou retirará cálcio dos ossos captando para a rede sanguínea. Geralmente resulta em um adenoma ou hiperplasia. > Destruição do tecido ósseo Ocorre em tumores primários da medula óssea, doença óssea de Paget e neoplasias que podem gerar metástase como câncer de mama, pulmão, linfoma, leucemia, renal, cabeça e pescoço e gastrointestinal. Muitos pacientes com câncer apresentam uma hipercalcemia devido a essa destruição óssea. > Imobilizações prolongadas Membros imobilizados por um tempo muito longo aumenta a mobilização de cálcio ósseo. > Distúrbios relacionados a vitamina D A ingestão exagerada de vitamina D pode levar a uma absorção maior e gerar uma calcificação. Outra situação é a sarcoidose, em que ocorre um processo inflamatório com a formação de agregados anormais de células inflamatórias, os granulomas que liberam muita vitamina D para o organismo. > Insuficiência Renal - Hiperparatireoidismo secundário Os rins quando não estão funcionando adequadamente (perda de néfrons na IR), reduz a excreção de fósforo o que diminui a vitamina D e há uma menor absorção de cálcio no intestino. Devido a essa baixa absorção tem-se uma hipocalcemia, rapidamente identificada pelas paratireoides, que de forma compensatória hipersecretam PTH (ocorre hiperplasia da glândula). Cálculos Cáculo significa pedra, são massas sólidas e compactas de consistência argilosa à pétrea que se formam no interior de órgãos ocos e condutos naturais. OBS: Não se formam em tecidos. Fatores predisponentes à formação de cálculos: pH alcalino, carbonato e fosfato de cálcio no local e infecções e inflamações. > Não são uma calcificação distrófica e nem metastática. >Exemplos: nefrolitíase (rim), sialolitíase (glândulas salivares), colelitíase (vesícula biliar) e coledocolitíase (ductos biliares). Sinônimos: Calculose ou Litíase Nefrolitíase Cálculo renal Fatores predisponentes: urina supersaturada, estase urinária, inflamação e infecção das vias urinárias, alteração do pH urinário, volume urinário baixo e predisposição familiar. Colelitíase Cálculo biliar É assintomático em 80% dos casos. Fatores predisponentes: idade, sexo (mais comum em mulheres), contraceptivos orais, estase na vesícula biliar, predisposição familiar, cálculos de colesterol e pigmentares. > Cálculos de colesterol: composto por monoidrato de colesterol cristalino. É solubilizado na bile, quando excede a capacidade de solubilização torna-se nucleado em cristais sólidos de colesterol. >Cálculos pigmentares: mistura de sais de cálcio de bilirrubina não-conjugada, juntamente com sais de cálcio inorgânicos. Erros no material ou sugestões? contatar: alinesbitencourt@hotmail.com 1) O que é pigmentação? 2) Qual o tipo de pigmentação endógena que gera dano? 3) Onde encontramos melanina? 4) Como diferenciar a hemossiderina em uma lâmina microscópica? 3) Qual a diferença de bilirrubina direta e indireta? 4) Qual a função da fototerapia? 5) Qual a pneumoconiose mais grave e sua evolução? 6) O que é uma calcificação? 7) Qual a diferença de calcificação distrófica e metastática? 8) Os cálculos são calcificações? Por que? 9) Qual a diferença do hiperparatireoidismo primário e secundário? Exercícios Referências KUMAR, V., ABBAS, A.K., FAUSTO, N., ASTER,J.C. Robbins & Cotran. Patologia: Bases Patológicas das Doenças. Elsevier,Rio de Janeiro, 2010. BRASILEIRO FILHO, Geraldo. Bogliolo patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. UNICAMP. ANATOMIA PATOLÓGICA: ÍNDICE ALFABÉTICO DE ASSUNTOS. Disponível em: http://anatpat.unicamp.br/indexalfa.html. Acesso em: 28 abr. 2020. AQUINO, Vanessa Silvestre de. Pigmentação e calcificação patológica. 2020. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=YHnbfRDs4E4. Acesso em: 30 abr. 2020.
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