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LEGISLAÇÃO COMERCIAL E SOCIETÁRIA AULA 1 Profa. Karla Regina Quintiliano Santos Ribeiro 2 CONVERSA INICIAL Bem-vindo à disciplina de Legislação Comercial e Societária. A legislação comercial e societária tem como finalidade regulamentar as relações oriundas dos contratos de comercio. A complexa relação comercial iniciou-se na Antiguidade, não como a conhecemos atualmente, pelos fenícios, que produziam, em suas casas, bens destinados à troca. Com o passar do tempo, esta atividade de fins econômicos – o comércio – expandiu-se, principalmente com a burguesia e a implantação do capitalismo. Com essas mudanças sociais, uma normatização jurídica foi criada e modificada ao longo dos tempos. A relação comercial está presente em nossas vidas, basta lembrar todos os bens de consumo que estão presentes em nossa casa: televisão, computador, entre outros. Esses bens derivam de empresas, que são organizações econômicas de propriedade dos empresários. Assim, a complexidade das relações entre o mercado e os empresários está presente no nosso cotidiano, seja por meio dos bens consumidos, seja por meio de conversas informais. Em nossas aulas, analisaremos, de forma mais profunda, a legislação, suas características e a relação entre o mercado e os contratos de consumo, considerando a importância da legislação para assegurar direitos à empresa em um mercado capitalista. Curiosidade: quantas empresas possuem no Paraná? Veja no site do IBGE: http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/temas.php?lang=&codmun=410690&idtema=11 5&search=parana%7Ccuritiba%7Cestatisticas-do-cadastro-central-de-empresas- 2011 CONTEXTUALIZANDO Antes de falar em legislação comercial e societária, é importante lembrar que o objetivo desta legislação é regular a relação que o empresário, por meio da sua empresa, tem com o consumidor. Neste sentido, faz-se imprescindível conhecer o significado de empresário e empresa. O comércio que surge com os fenícios é intensificado e se expande ao longo do tempo, à medida que foram estabelecidos intercâmbios entre culturas distintas, que permitiram a evolução da tecnologia e dos meios de transporte. O comércio derrubou fronteiras internacionais, transformando o planeta em um único mercado. 3 Neste contexto, surge a legislação comercial, movimento normativo regulador, que vem sendo aprimorado, visto que o mercado está em constante modificação. No Brasil, o primeiro Código Comercial é promulgado em 1850. Este teve boa parte revogada com a entrada em vigor do Código Civil de 2002. É importante destacar que existem várias leis esparsas que também regulam o comércio, como é o caso da Lei nº 8.078/1990 (Código de Defesa do Consumidor) e da Lei n° 11.101/2005 (Lei de falência e recuperação de empresas). TEMA 1 – CONCEITOS E NOÇÕES DE EMPRESAS A ideia de empresa advém da constituição italiana de 1942, que integrou o código civil e a legislação comercial, fazendo o código comercial desaparecer. O conceito de comerciante, diferentemente, advém do direito francês – sistema da comercialidade. O conceito de empresa está ligado ao direito italiano, que constitui normas legislativas específicas para as atividades empresariais, que não possuem nenhuma ligação com a prática tradicional e profissional dos atos de comércio. Não houve uma simples troca de nomenclatura de comerciante para empresário, mas sim o surgimento de um novo ordenamento jurídico que estabeleceu regras para os empresários, na mesma proporção das regras estabelecidas para os comerciantes. Os empresários são definidos não como especuladores, mas como responsáveis pela produção. Os comerciantes correspondem aos empresários comerciais, pois os dois conceitos referem-se ao indivíduo que exerce atividade econômica intermediária. Quando o legislador italiano faz essa diferenciação entre comerciante e empresário, transforma consideravelmente o processo de recuperação em juízo e falência, visto que somente as empresas se submetem a esses regimes, não podendo ser utilizado pelos profissionais liberais nem pelos comerciantes. Todos os indivíduos que trabalhem sob a rubrica de empresário serão submetidos a esses institutos jurídicos de recuperação e falência. Como dito, o código civil italiano de 1942 ocasionou modificações ao introduzir um novo conceito na legislação, todavia a palavra empresa não foi definida, optou-se dar significado ao termo empresário: “é empresário quem exerce profissionalmente uma atividade econômica organizada, tendo por fim a produção ou a troca de bens ou de serviços”. 4 Neste mesmo contexto, a legislação brasileira trouxe semelhantemente o artigo 966 no seu Código Civil: “considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa”. Como a legislação não trouxe expressamente o conceito de empresa, coube aos doutrinadores jurídicos a tarefa de definir esse termo, bem como identificar a natureza deste no âmbito jurídico. Verifica-se, a partir da definição do código civil italiano, o aspecto subjetivo de quem desempenha a empresa, ou seja, o sujeito é o empresário que pode ser pessoa física ou jurídica. No Código Civil, vários artigos mencionam a palavra empresa como uma atividade empresarial dirigida para determinada finalidade produtiva. Perceba que, neste contexto, existe um perfil funcional. A empresa propriamente dita tem um perfil objetivo ou patrimonial, pois refere-se a um estabelecimento, um conjunto de bens móveis e imóveis, corpóreos e incorpóreos, utilizado pelo empresário para sua atividade. Saindo deste princípio, pode-se verificar três aspectos que compõem a empresa: pessoa, bens e atividade. Fonte: Negrão (2015, p.67) 5 Observando a figura acima, a empresa é vista como uma consequência da organização do empresário e de seus colaboradores. Juntos, eles formam um núcleo social organizado, visando a uma finalidade econômica comum, desempenhada por uma relação hierárquica, cujo o poder de mando é do empresário. Assim, verifica-se o perfil coorporativo. Saindo dos pressupostos acima apresentados, a empresa é definida como uma atividade econômica organizada de produção ou circulação de bens e serviços para o mercado, praticada pelo empresário, de forma profissional, por meio de um conjunto de bens. TEMA 2 – DIREITO DE EMPRESA: CONCEITO, AUTONOMIA E HISTÓRIA O comércio deve ter surgido deste que o homem adquiriu características da espécie humana, por oposição a outras espécies mais antigas. A atividade comercial organizada remonta à Antiguidade, que, juntamente com a descoberta da escrita, proporcionou o surgimento de regras, tornando os relacionamentos comerciais mais estáveis, como aconteceu na Mesopotâmia, no Antigo Egito, na Fenícia ou ainda na Grécia. Na Grécia, existia um ordenamento jurídico com regras comerciais para o tráfico marítimo e terrestre, com tribunais especializados para sua aplicação. A Roma Antiga também tinha um código de conduta comercial desenvolvido para dirimir possíveis litígios, entretanto esse ordenamento jurídico desenvolveu-se paralelamente a um sistema jurídico civil. As regras de conduta comercial eram esparsas e não constituíam um código propriamente dito. Na Idade Média, com o surgimento dos burgos edo Renascimento Mercantil, o comércio torna-se mais intenso, caracterizando todos os povos daquela época, o que contribuiu para o nascimento do direito comercial. Nesse momento, aparece um regime jurídico específico para regulamentar as atividades comerciais. Logo, o direito comercial surge como um fenômeno histórico, cuja origem está ligada à afirmação dos burgueses, que tinham um espírito empreendedor, trazendo uma nova concepção de organização mercantil nas comunas italianas. A Idade Média tem como característica um poder descentralizado nas mãos da nobreza feudal, incapacitada de impor e aplicar regras a todos, visto que a legislação era diferente em cada feudo. Além disso, cada feudo era influenciado pelo direito canônico, que repudiava o lucro, principal finalidade dos 6 comerciantes. Neste contexto, a classe burguesa, também chamada de comerciantes, começa a se organizar e constrói suas próprias regras, à medida que a atividade mercantil vai sendo desenvolvida. Do século XII ao XVI, o direito comercial é definido pelo direito de classe, por um direito profissional, dirigido pelos próprios comerciantes e aplicado nas corporações de ofício por um cônsul, eleito pelos próprios associados. Nesta primeira etapa do direito comercial, o uso e o costume são aplicados como regra e o Estado não contribui para o ordenamento jurídico que está nascendo. Os séculos XVII e XVIII são marcados pelo mercantilismo, pela expansão colonial e pela evolução de grandes sociedades, sempre sob a autorização de um Estado. Neste contexto, o direito comercial procede de um poder central. Neste momento, só havia associação caso o Estado a considerasse lícita. No século XIX, durante o liberalismo econômico, surge o Código de Napoleão de 1806, que traz, pela primeira vez, o conceito de comerciante, definindo-o como aquele que pratica, com habitual profissionalidade, atos de comércio. É importante destacar que, na legislação napoleônica, o direito privado é paralelo ao direito comercial, visto que o código civil atendia aos interesses da nobreza fundiária, com foco no direito de propriedade. O direito comercial valorizava o espírito da burguesia comercial e industrial. Com essa distinção, era necessário delimitar o direito comercial e, consequentemente, nasce a teoria dos atos de comércio, que tinha como principal finalidade regulamentar as relações jurídicas que envolvessem ações definidas como atos de comercio. O direito comercial baseia-se exclusivamente na figura dos atos comerciais, todavia, ao longo do tempo, surgem outras atividades econômicas importantes que não estão englobadas no conceito de comercio. Neste cenário, em 1942, a Itália edita um novo código civil, que traz o conceito de empresário. Além disso, o código civil unifica as relações civis e comerciais em um mesmo dispositivo legislativo. Essa unificação, entretanto, foi totalmente formal, pois o direito comercial era uma disciplina autônoma e independente do direito civil. A relevância deste código italiano encontra-se no estabelecimento da teoria da empresa, a qual não se limita em regular apenas as relações jurídicas dos atos de comércio, mas sim quaisquer atividades econômicas que sejam exercidas de forma empresarial. 7 TEMA 3 – PRINCÍPIOS DO DIREITO DA EMPRESA O direito da empresa é um dispositivo jurídico que normatiza o exercício de atividade econômica organizada. Neste ordenamento jurídico, encontram-se as regras para disciplinar o mercado. Entretanto, é importante ressaltar que, para o desenvolvimento econômico e social de um Estado, é necessário que essas normas sejam norteadas por princípios específicos. Princípios são um rol de padrões de conduta que norteiam o ordenamento jurídico e podem ou não estar expressamente escritos na legislação. No caso da legislação empresarial, verifica-se um rol de princípios específicos que conduzem a construção e manutenção de uma sociedade capitalista, que são: livre-iniciativa, propriedade privada, autonomia da vontade e valorização do trabalho humano. Vamos ver alguns deles. Liberdade de iniciativa Vem expressamente prevista na Constituição Federal de 1988, no artigo 170: “a ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre- iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: ”. No princípio da livre- iniciativa, está embutido quatro condições, a saber: É indispensável que as empresas privadas tenham acesso aos bens e serviços para que possam se desenvolver; O lucro é a principal finalidade; Proteção jurídica para os investimentos privados; Reconhecimento que a empresa gera emprego e riquezas para a sociedade. Nos tribunais, a livre-iniciativa, muitas vezes, tem sua importância diminuída quando esse é analisado junta com outros princípios constitucionais. Cabe mencionar a ação de inconstitucionalidade 1.950, cujo relator foi o ministro Eros Grau. O acórdão dessa ação traz uma ideia de que a livre-iniciativa contraria os princípios sociais, e por consequência, a liberdade econômica das empresas particulares deve ser restrita. 8 Liberdade de concorrência Esse princípio também está previsto expressamente na Constituição Federal no artigo 170: “A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre-iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: (...) IV – livre concorrência; (...)”. O Estado tem como obrigação respeitar a liberdade de concorrência, nesse sentido, foi criado o CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), cuja finalidade é defender a livre concorrência. Outra ação do Estado, que teve como respaldo a liberdade de concorrência, foram as privatizações de empresas estatais, entretanto, neste caso, o que aconteceu foi que o Estado deixou de exercer diretamente a atividade econômica que privatizou, porém exerce por meio de agências reguladoras. As agências reguladoras são órgãos de controle que, muitas vezes, desenvolvem barreiras competitivas que podem influenciar negativamente e enfraquecer o princípio da livre concorrência. Nos contratos empresariais, esse princípio permanece resguardado, visto que não sofrem nenhuma intervenção estatal. Garantia e defesa da propriedade privada Esse princípio, também está elencado no artigo 170 da Carta Magna: “A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre- iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: (...) II – propriedade privada; (...)”. A propriedade privada dos meios de produção deve ser garantida e defendida, visto que é essencial para um regime capitalista de livre mercado. Atualmente, este princípio está sendo revisto e, gradativamente, os juristas estão incorporando a função social em seu cerne. Princípio da preservação da empresa No direito empresarial, o princípio da preservação vem inspirando modificações legislativas, como é o caso da Lei nº 11.101/2005 (Lei de falência e recuperação de empresas), e está baseando inúmeras decisões judiciais. Esse princípio tem como finalidade preservar a empresa, para as instituições 9 mercantis são a base do mercado, mantem-se os empregos, bem como os tributos. Existem outros princípios que estão implícitos no direito empresarial, entre eles, pode-se citar: o princípio da limitação de responsabilidade dos sócios, o princípio da autonomiados títulos de crédito, o princípio da maximização dos ativos. TEMA 4 – FONTES DO DIREITO DE EMPRESA As fontes são a matéria-prima da ordem jurídica, ou ainda, instrumentalização do direito positivo. Logo, pode-se entender as fontes como os elementos que compõem o processo de produção do direito. As fontes são o que gera o direito, são respostas instrumentais que concretizam o ordenamento jurídico. As fontes podem ser classificadas de acordo com sua contribuição direta para a elaboração da norma, ou seja, em imediatas ou mediatas. As fontes imediatas são aquelas que são criadas pelo processo legislativo. Já as fontes mediatas são elaboradas sem o processo legislativo e contribuem indiretamente para a criação da norma jurídica. Fonte imediata lei Fonte mediata usos, analogia e princípios gerais de direito É importante destacar que a Constituição Federal estabelece como primazia a legalidade e seu artigo 5º, inciso II, prevê que “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma senão em virtude de lei.”. Assim, a lei é a fonte do direito, tendo a Constituição como lei suprema, seguida pelas leis complementares, leis ordinárias, leis delegadas, medidas provisórias, decretos legislativos e resoluções, sucessivamente. O Código Comercial traz leis ordinárias que têm caráter nacional. Esse ordenamento reflete os anseios da sociedade de uma época na busca de soluções para as relações geradas pelo empresário. Existem dois tipos de fontes no direito comercial: fonte primária e fonte secundária. 10 Fontes primárias O princípio da legalidade está intrínseco no Estado democrático de direito, ou seja, o Estado que tem a Constituição como reguladora. A lei é a forma que o Estado se manifesta diante das situações jurídicas. Logo, pode-se entender que a lei é a fonte principal do direito comercial, o qual tem a Constituição como referência para todas as demais regras. A Constituição traz princípios importantes para o direito comercial – como a livre concorrência, a defesa do consumidor e a função social da propriedade – disciplinados no Capítulo I, do Título VII, da CF. A empresa tem, fundamentalmente, os princípios constitucionais como base para seu exercício. Feita essa breve consideração, as fontes primarias no direito comercial são: Constituição Federal: as disposições sobre a ordem econômica e financeira (artigo 170 e seguintes); Código Comercial, na parte que está vigente; Código Civil; As leis comerciais em geral. Fontes secundárias Na prática, a lei pode ser omissa e não trazer uma solução para o caso concreto. Como o órgão judiciário não pode se omitir por falta de previsão legal, o recurso é utilizar fontes secundárias que estão expressas no art. 4º da Lei de Introdução ao Direito Brasileiro, são elas: a analogia, os usos e os princípios gerais de direito. Analogia Baseia-se em uma comparação entre objetos de dois tipos diferentes. Em duas situações jurídicas semelhantes, na falta de preceitos legislativos em um dos casos, utiliza-se a solução já constituída do outro. A analogia é um processo interpretativo da lei, na qual procura-se um recurso em um preceito já existente. Quando não existe uma norma para uma determinada situação, utiliza-se por analogia uma regra já existente no sistema para uma hipótese fundamentalmente idêntica. 11 Princípios Gerais de Direito O artigo 4º da LINDB dispõe que, nos casos omissões, utiliza-se a analogia, e não existindo, os princípios gerais de direito. Assim, quando a lei não resolve o caso concreto, utiliza-se a analogia, caso essa também não possa solucionar, deverá ser utilizado os princípios gerais de direito. Os princípios gerais do direito não são fontes, pois não se tratam de regras, são a estrutura do direito positivo. Usos ou Costume O Código Civil traz a importância do uso em diversos dispositivos, entre eles, no artigo 111, que diz: “o silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa”. O artigo 113 do mesmo código traz: “Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração”. Podemos citar também os artigos 628, 658 e 695 a 701. Todos esses trazem o uso ou o costume como forma a ser utilizada na prática do direito. A forma de se utilizar o uso/costume está na crença da sociedade de que o direito está sendo utilizado. Como fonte secundária são costumes utilizados de forma contínua, uniforme e com conformidade legal e assentamento por uma sociedade. Pode- se entender costume, no direito comercial, como acordos tácitos entre os interessados, ou ainda, uma mera convenção preestabelecida de forma tácita, conforme o princípio da boa-fé. Os artigos 87 e 88 do Decreto 1800/96 estabelecem as fases do procedimento de assentamento do uso e do costume no direito comercial: “o assentamento de usos ou práticas mercantis é efetuado pela Junta Comercial. § 1º Os usos ou práticas mercantis devem ser devidamente coligidos e assentados em livro próprio, pela Junta Comercial, ex officio, por provocação da Procuradoria ou de entidade de classe interessada. § 2º Verificada, pela Procuradoria, a inexistência de disposição legal contrária ao uso ou prática mercantil a ser assentada, o Presidente da Junta Comercial solicitará o pronunciamento escrito das entidades diretamente interessadas, que deverão manifestar-se dentro do prazo de noventa dias, e fará publicar convite a todos os interessados para que se manifestem no mesmo prazo. § 3º Executadas as diligências previstas no parágrafo anterior, a Junta Comercial decidirá se é verdadeiro e registrável o uso 12 ou prática mercantil, em sessão a que compareçam, no mínimo, dois terços dos respectivos vogais, dependendo a respectiva aprovação do voto de, pelo menos, metade mais um dos Vogais presentes. § 4º Proferida a decisão, anotar-se-á o uso ou prática mercantil em livro especial, com a devida justificação, efetuando- se a respectiva publicação no órgão oficial da União, do Estado ou do Distrito Federal, conforme a sede da Junta Comercial. Art. 88. Quinquenalmente, as Juntas Comerciais processarão a revisão e publicação da coleção dos usos ou práticas mercantis assentados na forma do artigo anterior. ” É importante destacar que a Junta Comercial não faz prova absoluta, pode o juiz solicitar a outra parte contraprova para avaliar seu valor probatório. TEMA 5 – TEORIA DA EMPRESA Com o passar do tempo, a noção de direito comercial torna-se desatualizada, visto as modificações no mercado, principalmente após a Revolução Industrial, que introduziu diversas atividades mercantis, muitas das quais não estão no rol dos atos de comércio. Em 1942, como já mencionado, o novo código civil italiano traz a teoria da empresa, porém não fez a devida conceitualização do termo empresa. Essa tarefa foi desempenhada pelo jurista italiano Alberto Asquini, que analisou a empresa por vários perfis: subjetivo, funcional, objetivo e corporativo. Lembro ainda que o código civil italiano reuniu, em um único dispositivo legal, as regras das relações civis e comerciais, porém essa unificação foi exclusivamente formal, visto que o direito civil e o direito empresarial possuem autonomia e independência entre si, pois são dotados de características, princípios e institutos próprios. O aspecto mais relevante do código civil italiano foi a elaboração da teoria da empresa, na qual o direito do comerciante transforma-se em direito da empresa, passando de regrasque atendem somente os atos de comércio para legislar todos os atos dos empresários. A teoria da empresa traz que o direito comercial não estabelece regras somente para os atos oriundo do comércio, mas sim para qualquer atividade econômica, especificamente, empresarial. Logo, qualquer atividade mercantil, exercida empresarialmente deve ser regida pelo direito empresarial. 13 A teoria da empresa se baseia no tripé empresário–estabelecimento empresarial–atividade empresarial. Essa teoria tem como pressuposto que a empresa pode ser conceituada diferentemente, sendo ela: Uma atividade econômica organizada, Um estabelecimento empresarial, Empresário. Esses conceitos são notórios quando analisarmos o artigo 1.º da Lei 8.934/1994 (Lei de Registro de Empresas Mercantis), no artigo 2.º da Lei 6.404/1976 (Lei das Sociedades por Ações) e no art. 863 do Código de Processo Civil. Em cada um destes dispositivo, o termo empresa foi utilizado de forma diferente. A teoria da empresa se refere às regras legislativas empresariais, que veem a empresa como um organismo econômico que se utiliza de fatores de produção para atender os anseios do mercado de forma organizada. No Brasil, foi adotada a teoria francesa dos atos de comércio, que também não abrangia algumas atividades econômicas importante para o mercado. Entretanto, com a promulgação do Código Civil italiano de 1942, percebe-se que a legislação brasileira modificou-se no sentindo de assimilar conceitos italianos. Por volta do ano de 1960, verifica-se uma maior semelhança na legislação brasileira com a italiana, inclusive na jurisprudência dos tribunais. Logo, pode-se dizer que a teoria da empresa começa a ficar mais presente no dia a dia dos tribunais. Cabe destacar o julgado do STJ, REsp 777.074/MG, Rel. Min. José Delgado, DJ 05.12.2005, p. 245, no qual traz no seu julgamento que as empresas não precisavam pagar contribuições destinadas ao SESC e SANC por não serem atividades de comércio e sim atividades empresariais. Outro exemplo de que a legislação brasileira começava a se utilizar as ideias da teoria da empresa foi a edição do Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/1990), que traz o conceito de empresário. Entretanto, vale citar a Lei 4.137/1962, já revogada, que trazia no seu artigo 6º: “considera-se empresa toda organização de natureza civil ou mercantil destinada à exploração por pessoa física ou jurídica de qualquer atividade com fins lucrativos”. No Brasil, a teoria da empresa foi consolidada no Código Civil de 2002. Neste código, o legislador revogou boa parte do Código Comercial de 1850, bem como unificou uma parte do direito comercial com o direito civil. No artigo 966, 14 consolidou a teoria da empresa, conceituando empresário como aquele que “exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços”. O artigo 2.037 “salvo disposição em contrário, aplicam-se aos empresários e às sociedades empresárias as disposições de lei não revogadas por este Código, referentes a comerciantes, ou a sociedades comerciais, bem como a atividades mercantis”. O Código Civil de 2002 uma legislação especifica, autônoma, destinada a normatizar atividades econômicas realizadas por um sujeito de direito – o empresário. Em suma, com a edição da Lei 10.406/2002, a legislação brasileira abandonou a teoria francesa e adotou a teoria italiana da empresa. TROCANDO IDEIAS Sobre o princípio da livre-iniciativa, analise a ação de inconstitucionalidade (ADIN 1950/2005). Disponível em http://www.sbdp.org.br/arquivos/material/188_ADI%201950.pdf Para fixar, assista ao de vídeo Direito Empresarial - Teoria da empresa, disponível em https://www.youtube.com/watch?v=6Lo45NeOVOA Leia o artigo A empresa, o empresário e o empreendedor no contexto do moderno direito empresarial, de autoria de Maria Bernadete Miranda. Disponível em http://www.direitobrasil.adv.br/arquivospdf/artigos/eee.pdf NA PRÁTICA 1) Sobre o Direito Empresarial, analise as afirmações abaixo e assinale a alternativa correta: a) O conceito de comerciante está ligado ao direito italiano. b) O conceito de empresa está ligado ao direito francês. c) O conceito de comercio e o de empresa estão ligados ao direito francês. d) O conceito de comercio e o de empresa estão ligados ao direito francês. e) O conceito de empresa está ligado ao direito italiano. Gabarito: a resposta correta é a alternativa E. A ideia de empresa advém da constituição italiana de 1942, que integrou o código civil e a legislação comercial, fazendo o código comercial desaparecer. Já o conceito de comerciante advém do direito francês – sistema da comercialidade. O conceito de empresa está ligado ao direito italiano, que constitui normas legislativas específicas para as atividades empresariais, que não possuem nenhuma ligação com a prática tradicional e profissional dos atos de comércio. 15 2) Sobre a história do direito comercial e do direito empresarial, assinale a alternativa correta: I. No século XII ao XVI, o direito comercial é definido pelo direito de classe, por um direito profissional, dirigido pelos próprios comerciantes, aplicado nas corporações de ofício por um cônsul eleito pelos associados. II. Com o liberalismo econômico, no século XIX, em 1806, o Código de Napoleão traz, pela primeira vez, o conceito de comerciante, definindo-o como aquele que pratica, com habitual profissionalidade, atos de comércio. III. O direito comercial baseia-se exclusivamente na figura dos atos comerciais, todavia, ao longo do tempo, surgem outras atividades econômicas importantes que não estão englobadas no conceito de comércio. Assim, em 1942, a Itália edita um novo código civil que traz o conceito de empresário. a) Está correto apenas o item I. b) Estão corretos os itens I, II e III. c) Estão corretos apenas os itens I e III. d) Estão corretos apenas os itens II e III. e) Estão corretos apenas os itens I e II. Gabarito: Todas as afirmações estão corretas. A alternativa correta é a letra B. 3) Os princípios são um rol de padrões de conduta que norteiam o ordenamento jurídico e podem ou não estar expressamente escritos na legislação. São princípios que guiam o direito empresarial: I. Liberdade de iniciativa II. Liberdade de concorrência III. Garantia e defesa da propriedade privada IV. Princípio da preservação da empresa a) Está correto apenas o item I. b) Estão corretos os itens I, II, III e IV. c) Estão corretos apenas os itens I, II e III. d) Estão corretos apenas os itens II e III. e) Estão corretos apenas os itens I e IV. 16 Gabarito: Todas as afirmações estão corretas. No caso da legislação empresarial, há um rol de princípios específicos que conduzem à constituição e manutenção de uma sociedade capitalista, são eles: livre-iniciativa, propriedade privada, autonomia da vontade e valorização do trabalho humano A alternativa correta é a letra B. 4) As fontes são a matéria-prima da ordem jurídica, ou ainda, instrumentalização do direito positivo. São fontes primárias do direito comercial: I. Constituição Federal – as disposições sobre a ordem econômica e financeira (artigo 170 e seguintes); II. Código Comercial, na parte que está vigente; III. Código Civil; IV. As leis comerciais em geral. a) Está correto apenas o item I. b) Estão corretos os itens I, II, III e IV. c) Estão corretos apenas os itens I, II e III. d) Estão corretos apenas os itens II e III. e) Estão corretos apenas os itens I e IV. Gabarito:Todas as afirmações estão corretas. A alternativa correta é a letra B. 5) A noção de direito comercial torna-se, com o passar do tempo, desatualizada, devido às modificações no mercado, principalmente, após a Revolução Industrial, que introduziu diversas atividades mercantis, muitas das quais não estão no rol dos atos de comércio. Neste contexto, analise as afirmações e assinale a alternativa correta: I. Em 1942, o novo código civil italiano traz a teoria da empresa. II. A conceitualização do termo empresa foi desempenhada pelo jurista italiano Alberto Asquini, que analisou a empresa por vários perfis: subjetivo, funcional, objetivo e corporativo. III. O código civil italiano elaborou a teoria da empresa, na qual o direito do comerciante transforma-se em direito da empresa. Passa-se de regras que atendem somente os atos de comércio para legislar todos os atos dos empresários. a) Está correto apenas o item I. b) Estão corretos os itens I, II, III e IV. c) Estão corretos apenas os itens I, II e III. d) Estão corretos apenas os itens II e III. 17 e) Estão corretos apenas os itens I e IV. Gabarito: Todas as afirmações estão corretas. A alternativa correta é a letra B. SÍNTESE O conceito de empresa tem sua origem na constituição italiana de 1942, que fez nascer uma legislação que com normas para os indivíduos que exercem atividade econômica e que não estão abarcados no conceito de comerciante. A palavra empresa não foi definida, mas optou-se dar significado ao termo empresário: “é empresário quem exerce profissionalmente uma atividade econômica organizada tendo por fim a produção ou a troca de bens ou de serviço”. A legislação brasileira trouxe algo semelhantemente no artigo 966 do Código Civil: “Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa”. Apesar do conceito de empresa não estar nítido na legislação, existem vários dispositivos que trazem o termo empresa e verifica-se três aspectos que compõem a empresa: pessoa, bens e atividade. Para constituir um ordenamento jurídico, os legisladores utilizam-se de princípios. No caso da legislação empresarial, estão ligados com a manutenção de uma sociedade capitalista. Neste contexto, pode-se citar os princípios da livre-iniciativa, da propriedade privada, da autonomia da vontade e da valorização do trabalho humano Os princípios conduzem os ordenamentos jurídico, entretanto as fontes do direito são a instrumentalização do direito positivo. Essas fontes podem ser classificadas em imediatas (lei) ou mediatas (usos, analogia e princípios gerais de direito). Na legislação empresarial, as fontes primarias são a Constituição Federal (as disposições sobre a ordem econômica e financeira, artigo 170 e seguintes); a Código Comercial (parte que está vigente); Código Civil; e as leis comerciais em geral. As fontes secundárias são analogia, princípios gerais de direito e usos ou costume. 18 A legislação é um produto social que se transforma ao longo do tempo. Neste sentido, o direito empresarial também é fruto da sociedade, que se modificou ao longo do tempo. Com a Revolução Industrial, surgem atividades empresariais que a legislação comercial não regulamentava. Em 1942, o novo código civil italiano traz a teoria da empresa, na qual o direito do comerciante, transforma-se em direito da empresa, neste contexto, passa de regras que atendem somente os atos de comércio para legislar todos os atos dos empresários. No Brasil, a legislação também foi modificada pela influência do código civil italiano. Em 2002, foi promulgado o Código Civil, que traz uma legislação especifica, autônoma, destinada a normatizar atividades econômicas realizadas por um sujeito de direito – o empresário. Em suma, com a edição da Lei 10.406/2002, a legislação brasileira abandonou a teoria francesa e adotou a teoria italiana da empresa. REFERÊNCIAS BASSO, Maristela. Curso de direito internacional privado. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2016 BERTOLDI, Marcelo M.; RIBEIRO, Marcia Carla Pereira. Curso avançado de direito comercial. 10 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. BRASIL.; CURIA, Luiz Roberto; CÉSPEDES, Lívia; NICOLETTI, Juliana. Código comercial (1850). 60 ed. São Paulo: Saraiva, 2015. COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial: direito de empresa. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial: direito de empresa. 28 ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: revistas dos tribunais, 2015. COELHO, Fábio Ulhoa. Comentários à lei de falências e de recuperação de empresas. 10 ed. São Paulo: Saraiva, 2014. FAZZIO JR., Waldo. Manual de direito comercial. 17 ed. Rio de Janeiro: Atlas, 2016 19 MAMEDE, Gladston. Direito empresarial brasileiro, v.1. Empresa e atuação empresarial. Rio de Janeiro: Atlas, 2016 NADER, Paulo. Curso direito civil, v.3 contratos. Rio de Janeiro: Forense, 2015. NEGRÃO, Ricardo. Manual de direito comercial e de empresa. São Paulo: Saraiva, 2015 REQUIÃO, Rubens; REQUIÃO, Rubens Edmundo. Curso de direito comercial. São Paulo: Saraiva, 2015 TEIXEIRA, Tarcísio. Direito empresarial sistematizado doutrina, jurisprudência e prática. 5 ed. São Paulo: Saraiva, 2015
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