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1 3. PERCEPÇÃO Há muita coisa para ver, mas nossos olhos da manhã descrevem um mundo diferente do que os olhos da tarde contemplam, enquanto os olhos da noite, cansados, só podem registrar um mundo noturno cansado. John Steinbeck 3.1 Fundamentos teóricos da percepção e sua influência no comportamento A percepção é algo individual e influi na forma como as pessoas se comportam na organização; é a base para o entendimento do comportamento humano nas organizações, se entendermos os fatores que levam a moldar ou distorcer a percepção. • Cada pessoa compreende a realidade de forma diferente. • O fato de um perceber de uma determinada forma não exclui a percepção do outro (certo-errado). • A não percepção do ponto de vista do outro pode acarretar problemas nos níveis prático e relacional. • Percepções diferentes podem aprofundar relacionamentos. Segundo Robbins (2004), percepção é o processo em que as pessoas selecionam, organizam e interpretam informações existentes, por meio de suas impressões sensoriais (tato, olfato, paladar, audição e visão) com a finalidade de dar sentido ao ambiente ou ao modo como veem objetos e situação. Pensamos de modo usual, criando um padrão que se ajusta ao nosso padrão tradicional, ou àquilo que gostaríamos que nosso padrão fosse, e raramente tentamos a verdadeira interpretação de uma situação. A percepção não reflete a realidade objetiva. Vemos o mundo da forma como fomos condicionados a vê-lo; na verdade, quando descrevemos o que vemos, estamos descrevendo a nós mesmos, nossas percepções e paradigmas. 3.2 Fatores que influenciam na percepção Existem vários fatores que interferem na nossa percepção, como a atenção, os fatores externos e internos: 2 Fatores da situação • Momento • Ambiente de trabalho • Ambiente social Fatores do observador • Atitude • Motivação • Interesse • Experiência • Expectativa • Emoção • Valores Fatores do alvo • Novidade • Sons • Movimento • Tamanho • Proximidade • Tempo • Semelhança Dentre os fatores que influenciam nossa percepção, temos os fatores internos, ou seja, os fatores ligados ao observador. A forma como observo e interpreto uma situação, objeto ou pessoa está intimamente ligada aos meus valores, crenças, experiências passadas, interesse, emoção e motivação. Por exemplo, você pode passar todos os dias pela mesma rua e nunca ter reparado um restaurante, mas se você estiver com fome, com certeza notará. Outro ponto importante a ser destacado é a respeito do conceito que cada um tem de si mesmo, ou seja, sua autopercepção, pois ela influenciará fortemente a forma como vemos os objetos e as pessoas. Ela pode variar de acordo com as relações que mantemos, o trabalho que desenvolvemos e como lidamos com os nossos sucessos e fracassos. Os fatores externos, ou do alvo, também podem interferir na nossa percepção; o fato de estar mais próximo, como, por exemplo, a estratégia utilizada nos supermercados de se colocar o que se quer vender no campo de visão do consumidor. Podemos citar outros fatores do alvo, como o tamanho, o tempo, a semelhança etc. Como o alvo está sempre relacionado a uma situação, esses fatores também irão interferir. O nosso foco de estudo está em como percebemos os outros (heteropercepção), está ligado à impressão que tenho a respeito do outro, pelas suas ações, pela sua voz, pelos seus gestos, seu movimento, sua reação e pela experiência que tive com o outro. 3 3.3 Os vieses que interferem na forma de julgarmos o mundo O comportamento (atitude, conduta) das pessoas é que nos leva a percebê-las e julgá-las. Segundo Soto (2002), a teoria da atribuição procura explicar como julgamos de maneiras diferentes as pessoas, diante do sentido que atribuímos a um dado comportamento. A teoria sugere que quando observamos o comportamento de alguém, tentamos identificar se o que o motiva é interno ou externo. Ainda segundo o mesmo autor, as causas internas estariam sob o controle do indivíduo, enquanto as causas externas estariam relacionadas a uma situação externa que ocasionou tal comportamento. Por exemplo, se um colaborador chega atrasado, posso atribuir que ele acordou tarde por ter ficado na “farra” ou atribuir ao trânsito. Aqui entram três fatores que irão interferir na atribuição: • Diferenciação: refere-se a comportamentos diferentes em situações diferentes. Se existe um comportamento que é habitual (chegar atrasado), a atribuição será a uma causa interna; caso contrário, se não é um comportamento habitual, o observador atribuirá a uma causa externa. • Consenso: quando todas as pessoas que enfrentam determinada situação respondem de maneira semelhante. Por exemplo, se todos os colegas do funcionário que chegou atrasado fazem o mesmo percurso, e também chegaram atrasados, a atribuição será a uma causa externa, se o consenso for alto. • Coerência: o observador sempre busca uma coerência nas ações das pessoas. Se o funcionário chega sempre atrasado, a atribuição será a uma causa interna. Quanto mais coerente o comportamento, mais a atribuição tenderá a ser interna. Soto (2002) nos diz que observamos e julgamos as ações segundo um contexto situacional. Há evidências de que, quando julgamos o comportamento das outras pessoas, tendemos a superestimar as causas internas, ou pessoais. Podemos, com isso, incorrer no erro fundamental de atribuição. Ele dá o exemplo: uma gerente de vendas atribui o fraco desempenho de seus vendedores à preguiça deles, e não ao lançamento de um produto concorrente. Existe também a tendência das pessoas de atribuírem o seu sucesso a fatores internos, e os fracassos, a fatores externos. Considerando que o processo perceptivo é pessoa e sofre a influência de vários fatores, ela pode sofrer distorções. 4 Distorções da percepção Distorção é o fenômeno pelo qual transformamos a realidade para que ela se adapte à nossa cultura, à nossa crença, aos nossos valores e até mesmo às impressões e intenções momentâneas. Abaixo, algumas distorções de percepção: • percepção seletiva: as pessoas selecionam o que veem, ouvem e falam, a partir de seus antecedentes, atitudes, experiências e interesses; • efeito de halo: impressão da pessoa a partir de uma só característica; • projeção: atribuição das características próprias a outra pessoa; • estereótipo: juízo formado a respeito da pessoa, segundo a percepção do grupo a qual pertence; • efeito de contraste: avaliação da pessoa a partir de comparação. As pessoas devem ter o cuidado ao julgar outras, pois podem cometer erros de julgamento em função das distorções apresentadas. Abaixo, são citados alguns processos que sofrem o impacto da nossa percepção e, por isso, devemos estar atentos às distorções, para que os mesmos sejam realizados com equidade: • entrevistas de emprego; • avaliação de desempenho; • tomada de decisão; • definição de estratégias; • lealdade do empregado; • esforço do empregado. Podemos adotar algumas medidas no sentido de minimizar as distorções de percepção e melhorar a nossa capacidade de perceber, como, por exemplo: • aumentar a frequência de observações e em situações diferenciadas; • coletar percepções de outras pessoas buscando o aumento de informações e confirmando ou não a sua percepção; • estar conscientes das distorções perceptivas; • estar conscientes da administração da impressão de si mesmo e dos outros; • ter consciência de que as relações interpessoais são influenciadas pela maneira como as pessoas se percebem e interpretam as suas percepções; • quanto melhor a compreensão de mim mesmo, maior a possibilidade de compreensão do outro. 3.4 A ética no processo decisório Quando os funcionários são solicitados a classificarem as características mais importantes que buscam em um líder, a honestidade e a ética estão 5 quase no topo da lista. O termo ética refere-seao estudo dos princípios ou valores morais que determinam se as ações estão certas ou erradas e se os resultados são bons ou ruins. As pessoas se baseiam em seus valores éticos para determinar a coisa certa a se fazer. A importância da conduta empresarial ética está quase constantemente no noticiário, ainda que não pareça haver nenhum declínio perceptível nas transgressões. As considerações éticas devem ser um critério importante na orientação do processo decisório de todas as organizações. Três critérios éticos para o processo decisório Para compreender melhor a ética empresarial, precisamos considerar três tipos distintos de princípios éticos: utilitarismo, direitos individuais e justiça distributiva. Enquanto seus valores pessoais podem empurrar você mais para um princípio do que para os outros, todos os três devem ser considerados ativamente para colocar em teste as questões éticas importantes. Utilitarismo Aconselha a buscar o maior bem para o maior número de pessoas. Em outras palavras, devemos escolher a opção que proporcione o mais alto grau de satisfação para as pessoas afetadas. Algumas vezes, isso é conhecido como princípio da consequência porque se concentra nas consequências das nossas ações e não em como as obtemos. Um problema com o utilitarismo é que é quase impossível avaliar os benefícios ou custos de muitas decisões, particularmente quando as partes interessadas têm necessidades e valores amplamente variados. Outro problema é que a maioria de nós não se sente confortável ao adotar comportamentos que parecem antiéticos para alcançar resultados éticos. O enfoque no utilitarismo pode promover a eficiência e a produtividade, mas pode resultar também no desrespeito aos direitos de alguns indivíduos, especialmente os pertencentes a minoria, dentro das organizações. Direitos individuais Reflete a crença de que todas as pessoas têm direitos que as permitem agir de certa maneira. Alguns dos direitos mais citados é o da liberdade de ir e vir, a segurança física, a liberdade de expressão, o julgamento justo e a proibição da tortura. O princípio dos direitos individuais inclui mais do que direitos legais, mas também os direitos humanos, concedido a todas as pessoas como uma norma moral da sociedade. Um problema com os direitos individuais é que uns podem conflitar com outros. O direito dos acionistas de serem informados sobre as atividades da empresa pode acabar conflitando com o direito de um executivo à privacidade, por exemplo. Ele protegeria, com base no direito à liberdade de expressão, os 6 “dedos-duros” que denunciassem à imprensa ou aos órgãos governamentais as práticas ilegais ou antiéticas cometidas por suas organizações. O uso dos direitos protege os indivíduos de atos ilegais e é coerente com a liberdade e a privacidade, mas pode acarretar uma sobrecarga de questões legais, sob risco de prejudicar a eficiência e a produtividade. Justiça distributiva Sugere que as pessoas similares às outras devem receber benefícios e ônus similares; os que são diferentes devem receber benefícios e ônus diferentes na proporção da sua dessemelhança. Por exemplo, esperamos que dois funcionários que contribuem igualmente em seu trabalho devem receber recompensas similares, enquanto os que fazem uma contribuição menor devem receber menos. Uma variação do princípio da justiça distributiva diz que as desigualdades são aceitáveis quando beneficiam os menos favorecidos na sociedade. Assim, os funcionários em empregos arriscados devem ser mais bem pagos se o seu trabalho beneficiar outras pessoas menos favorecidas. Um problema com o princípio da justiça distributiva trata da dificuldade em chegar a um consenso sobre quem é similar e quais fatores são relevantes. O enfoque na justiça protege os interesses dos mais fracos e sub-representados, mas pode estimular um espírito de acomodação que reduz a propensão aos riscos, à inovação e à produtividade. Os tomadores de decisões, especialmente em organizações privadas, sentem-se confortáveis e seguros com relação ao utilitarismo. Várias ações questionáveis, como demissões em massa, podem ser justificadas quando são definidas como de interesse “da organização”, de seus trabalhadores e acionistas. Mas muitos críticos sentem que essa perspectiva precisa mudar. A crescente preocupação da sociedade com os direitos humanos e a justiça social sugerem que os gestores devem desenvolver padrões éticos baseados em critérios não utilitaristas. Essa situação coloca um grande desafio para os executivos, pois respeitar a justiça social e os direitos humanos traz uma carga muito maior de ambiguidade do que o uso de referências utilitárias, como as consequências sobre a eficácia e a produtividade. Isso ajuda a explicar por que os executivos têm sido cada vez mais alvo de críticas por sua atuação. Aumento de preços, venda de produtos que põem a saúde dos consumidores em risco, fechamento de fábricas, demissões em massa, mudança dos centros de produção para outros países com a finalidade de reduzir custos e outras decisões do gênero podem ser justificáveis sob a ótica utilitarista. Mas não pode mais ser o único critério para julgar as boas decisões. 7 Elaborada pelo professor Celso de Carvalho Vieira UNIP – Campus Cambuí – Campinas -SP Fevereiro/2020 8 BIBLIOGRAFIA BRANDÃO, Leonor C. “Comportamento Organizacional” – Conteúdo Disciplina On Line – Comportamento Humano nas Organizações – UNIP . São Paulo, 2012. McSHANE, Steven L, VON GLINOW, Mary A. Comportamento organizacional. Porto Alegre: AMGH Editora, 2013. ROBBINS, Stephen P, JUDGE, Timothy A, SOBRAL, Filipe. Comportamento organizacional: teoria e prática no contexto brasileiro. 14ª Ed. São Paulo: Pearson Education, 2010. SOTO, Eduardo. Comportamento Organizacional: o impacto das emoções. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002.
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