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Presunção de Inocência e Execução Antecipada da Pena

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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
PÓS GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
Resenha Crítica de Caso 
Alessandra da Silva Cabral
Trabalho da disciplina: Reformas Processuais Penais
 
 Tutor: Prof.ª. MilayAdria Ferreira Francisco
Quixadá/CE
2020
PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA VERSUS EXECUÇÃO ANTECIPADA DA PENA
Referência: 
ABEL, Henrique. Considerações e perplexidades sobre o julgamento do HC 152.752. 2018. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/65513/consideracoes-e-perplexidades-sobre-o-julgamento-do-hc-152-752. Acesso em: 19 abr. 2018.
Dentre os pilares do Direito Constitucional, como os direitos e garantias fundamentais, também existem os princípios que se destacam na atualidade pela necessidade de serem rediscutidos em casos concretos, através de interpretações em face da aplicação destes, com o intuito de assegurar esses ditos direitos de forma justa.
O presente caso traz à baila o Habeas Corpus de nº. 152.752, impetrado por Luiz Inácio Lula da Silva, em face da condenação em primeira e segunda instâncias pelos crimes de lavagem de dinheiro e corrupção passiva, que vieram a cercear o seu direito de liberdade em face de sua reclusão, mesmo que ainda estejam pendentes recursos referentes ao referido caso.
A presunção de inocência, que se materializa em forma de princípio na Constituição Federal, em seu artigo 5º, inciso LVII, é um dos temas da disciplina de Reformas Processuais Penais e tem relevante importância no caso em comento, posto que o seu conteúdo e interpretação foi a fundamentação do referido pedido de habeas corpus.
O que veio a ser discutido com a impetração deste habeas corpus, fora a antecipação dos efeitos penais de cumprimento de pena que recaíram sobre o paciente, de forma a se levantar o questionamento sobre a multiplicidade na interpretação do princípio da presunção de inocência em diferentes momentos em casos anteriores.
Ademais, o referido caso veio a ser de grande repercussão social e midiática, por ter havido uma explosão de escândalos políticos, que trouxeram uma sério de conflitos entre oposição e apoiadores do ex-presidente. O que de certo modo, na visão de muitos, poderia interferir na decisão da Suprema Corte pela pressão social feita sobre a resolução deste caso.
O que se discutia para a resolução da lide, era nada mais do que a interpretação do dispositivo expresso na Constituição Federal referente ao princípio da presunção de inocência, que prevê a não imputação da culpa até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória. De acordo com a interpretação do pedido formulado, se o acusado viesse a ingressar com recurso em face de uma decisão, os efeitos da sentença condenatória em segunda instância só se valeriam após o esgotamento de todos os recursos cabíveis interpostos.
Os votos prolatados no caso em comento foram diversificados, a favor e contra o deferimento do pedido, tendo a maioria decidido pela prisão antes do final do processo. Os que foram de encontro ao pleito, muniram-se de justificativas, como por exemplo, a transformação dos tribunais de primeira e segunda instância em tribunais de passagem, o que foi o posicionamento do Ministro Alexandre de Morais.
Posicionamentos a favor do pleito embasaram-se na hipótese de prisão como sendo um desrespeito à Constituição Federal e que não há petrificação das jurisprudências proferidas pelo tribunal. Dentre os votos a favor, houve mudança no posicionamento anterior do Ministro Gilmar Mendes, usando como uma de suas justificativas o fato de que o sistema é falho. 
O princípio da presunção de inocência baseia-se na premissa do Artigo 5º, LVII da Constituição Federal, que aduz a relação de não se imputar a culpa por um crime antes do trânsito em julgado da sentença penal condenatória. Ademais, o fato de que o agente não seja considerado culpado, não implica afirmar que o mesmo é inocente, é o que se pode inferir da não culpabilidade.
A interpretação deste princípio aduz que o ônus processual imposto ao cometedor de crimes não se considera inconstitucional desde que não seja uma antecipação de culpa e da pena. Os debates e mudanças de posicionamento dos ministros geram insegurança quanto ao limite do referido ônus imputado ao agente no tocante ao cerceamento da liberdade ocorrido no referido caso.
Como regra de julgamento no âmbito processual penal, por sua vez, a presunção de inocência configura-se correlacionada com o princípio do in dubio pro reo, o qual consiste em privilegiar o indiciado sempre que, após o regular trâmite instrutivo do processo, não foram produzidas provas aptas a sustentar decisão condenatória ou, havendo provas, existe ainda alguma dúvida razoável a respeito da autoria ou da materialidade do fato típico. 
Podemos então inferir que o princípio de presunção de inocência é conquista histórica protegida constitucionalmente e que não pode, portanto, ser afastado, ainda que pela Corte Suprema do país. A presunção de inocência não é um conceito que se esvazia à medida em que mais decisões favoráveis à condenação do indivíduo são proferidas, pelo contrário – mantém-se forte e vigente até sobrevir sentença transitada em julgado.
Por fim, após análise do conteúdo principiológico da disciplina, bem como a análise do presente caso, seguido da leitura dos votos dos ministros e inferência destes no âmbito constitucional e processual penal, vê-se a necessidade de se rediscutir a interpretação do princípio da presunção de inocência, a fim de que haja uma uniformidade em sua aplicação nos casos concretos em razão de sua grande importância e recorrência, não deixando a sua interpretação exposta ao ativismo judicial desenfreado por parte dos juízes.
O presente caso trouxe à baila a recorrente mudança de entendimentos pela Suprema Corte, bem como a insegurança que isto pode causar, de forma que quando o caso envolve uma figura política, não se passa despercebido aos olhos dos cidadãos, até mesmo dos mais leigos. 
A medida necessária de que se uniformize o entendimento sobre a interpretação do princípio em questão traz consigo a segurança jurídica que se perde em meio a recorrentes mudanças nos julgados envolvendo a mesma questão. O engessamento das decisões não deve estar correlacionado com a mudança dos anseios sociais, posto que o que se discute são princípios fundamentais embasados na Constituição Federal, onde estes precisam ser garantidos independentemente do tempo e da evolução social.

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