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UNIVERSIDADE ESTACIO DE SÁ CURSO DE DIREITO THAIS PEREIRA MARTINS DO CRIME DE TRÁFICO DE ÓRGÃOS HUMANO E A PUNIBILIDADE COM BASE NA LEI N.º 9.434/97 Rio de Janeiro 2019.2 THAIS PEREIRA MARTINS DO CRIME DE TRÁFICO DE ÓRGÃOS HUMANO E A PUNIBILIDADE COM BASE NA LEI N.º 9.434/97 Artigo Científico Jurídico apresentado à Universidade Estácio de Sá, Curso de Direito, como requisito parcial para a conclusão da disciplina Trabalho de Conclusão de Curso. Prof.º Orientador: Ronaldo Figueiredo Brito Rio de Janeiro 2019.2 DO CRIME DE TRÁFICO DE ÓRGÃOS HUMANO E A PUNIBILIDADE COM BASE NA LEI N.º 9.434/97 Thais Pereira Martins 1 RESUMO O presente artigo visa suscitar sobre um tema bastante relevante na sociedade brasileira e no âmbito jurídico a respeito do tráfico de órgãos humano, tipificação criminal e punibilidade, assim como o combate a este tipo de crime com base na lei 9.434/97. Sabe-se que o comércio de órgãos no Brasil é proibido e a doação é normatizada pela lei dos transplantes nº 9.434/97, com 25 artigos a respeito do assunto tanto para doação Inter vivos e post-mortem, todos respaldados pelo art. 199 no parágrafo 4º Constituição Federal de 1988. Pois o nosso Sistema Nacional de Transplantes possui diversas falhas e irregularidades no tocante à sua gerência e a coordenação por parte do Ministério da Saúde e por essa razão ocorre este tipo de crime, por isso analisarei a exploração para remoção de órgãos e como pode ser aplicada a lei nº 9.434/97. Para levantar informações importantes a respeito do tema foi feita uma abordagem caracterizada por mostrar um estudo exploratório de cunho qualitativo e qualitativo através de dados da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), pesquisas bibliográficas documentais, jurisprudenciais e doutrinais. Palavras-chave: tráfico de órgãos; humano; crime; lei n° 9.434/97; Brasil. SUMÁRIO 1. Introdução. 2. Desenvolvimento. 2.1. A importância de transplantes no Brasil. 2.2. Uma Análise da Lei nº 9.434/97 do crime e punibilidade do tráfico de órgãos. 2.3. Casos reais de tráficos de órgãos no Brasil. 3. Conclusão. Referências. 1 Graduanda do Curso de Direito da Faculdade Estácio de Sá. http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988 4 2 1. INTRODUÇÃO Este trabalho objetiva analisar o crime de tráfico de órgãos humano e a punibilidade com base na lei nº 9.434/97. Já que pesquisas mostram que, em 2017 houve um crescimento de 14% na taxa de doadores efetivos. No primeiro semestre deste ano, o país atingiu o número de 17 doadores por um milhão na população. Referente ao ano de 2016 o país é o segundo no mundo que mais realiza transplantes renais e hepáticos, foram realizados 22.355 transplantes neste mesmo ano, sendo que seria necessário mais que o dobro para que pudesse suprir a demanda. Com isso pode-se percebe que o Brasil ainda possui um déficit referente a transplantes, restando pacientes nas filas de espera ou até mesmo, aqueles que falecem por não ter havido tempo hábil. A desproporção entre a oferta e a procura, os pacientes acabam buscando amparo no comércio ilegal de órgãos, em face da demora nas filas de espera pela falta de doações, sujeitando-se até mesmo aos riscos do mercado clandestino. Na concepção de Matte (2017), o Brasil vem: [...] sendo reconhecido mundialmente pela quantidade expressiva de transplantes que realiza todos os anos, a demanda de doadores de órgãos não é suficiente em relação ao número de pacientes na fila de espera do sistema de saúde nacional. Devido à desproporção entre a oferta e a procura, os pacientes acabam buscando amparo no comércio ilegal de órgãos, em face da demora nas filas de espera pela falta de doações, sujeitando-se aos riscos do mercado clandestino. O tráfico de órgãos move um comércio bilionário ao redor do mundo, correspondendo a um percentual expressivo do total de transplantes realizados. Enquanto que a saúde do país é falha na garantia da vida dos cidadãos, o mercado clandestino, mais uma vez dando mais um leque de opções para que as pessoas estejam dispostas a vender seus órgãos em troca de quantias ou da quitação de dívidas decorrente até mesmo da crise que o país se encontra nos últimos anos, e pacientes que anseiam a sobrevivência e que, portanto, pagam altas quantias para comprá-los. É importante analisar o tráfico de órgãos no mercado clandestino no país e também a respaldação da lei nº 9.434/97 sobre o assunto e a maneira que a mesma se opera. 2 Fonte: (MATTE, 2017, p. 05). 5 O estudo neste trabalho discute como é feito a doação que é normatizada pela lei dos transplantes nº 9.434/97 a partir dos princípios constitucionais do direito à vida e à dignidade da pessoa humana. Entende-se que a comercialização de órgãos não é passível de legalização tão branda, uma vez que viola o princípio da dignidade da pessoa humana, causando mais prejuízos em longo prazo do que benefícios com o equilíbrio entre a oferta e a procura. Só que no primeiro momento, é crucial ser abordado sobre a importância transplantes no Brasil. Para a presente pesquisa de Trabalho de Conclusão de Curso foi feito uma análise exploratória de cunho qualitativo e quantitativo de dados da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO) e também base no âmbito jurídico quanto ao tráfico de órgãos humano e a importância da aplicação da lei 9.434/97, a partir de levantamentos de informações imprescindíveis e grande relevância a respeito do tema através de pesquisas bibliográficas documentais, jurisprudenciais e doutrinais. 2. DESENVOVIMENTO 2.1. A IMPORTÂNCIA DE TRANSPLANTES NO BRASIL O transplante de órgãos tanto no Brasil e no mundo é de extrema importância com objetivo de salvar muitas vidas, já que é um ato de caridade e amor ao seu semelhante. Além disso, cada ano que passa, milhares de vidas são salvas através de transplantes de órgãos. Por isso é preciso que a população seja conscientizada sobre a importância da doação de órgãos é vital para melhorar a realidade dos transplantes no Brasil. No Brasil existe o transplante é um procedimento cirúrgico que é regulado pela Lei nº 9.434/1997respaldada pelo art. 199 parágrafo 4º da Constituição Federal de 1988 no qual um órgão ou tecido doente é substituído por outro saudável. Entretanto, para que a transplante aconteça é necessário que haja doadores: vivos ou mortos. Atualmente qualquer pessoa pode ser doadora, menos aquelas pessoas portadores de doenças infecciosas ativas ou de câncer. Fumantes, em geral, não são doadores de pulmões, mas podem doar outros órgãos e tecidos. Atualmente são mais de 80% dos transplantes são realizados com sucesso. 6 A doação e alocação de órgãos é um processo difícil e muito delicado, pois depende da confiança da população no sistema e do compromisso dos profissionais da área da saúde no diagnóstico de morte encefálica. O nosso país é o segundo do mundo em número de transplantes e, para continuar com esse ranking, é essencial a atuação do Ministério da Saúde, dos governos estaduais, das entidades como um todo no processo de doação e transplantes. Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO) traz dados de 2011 a 2018 essenciais sobre o número de doações efetivas realizadas hoje no país. Observe na tabela abaixo: DOAÇÃO DE ÓRGÃOS NO BRASIL DE 2011 ATÉ 20183 DOAÇÕES DE ÓRGÃOS 2011 2012 2013 2014 2015 20162017 2018 Número de doadores efetivos 2.048 2.406 2.526 2.713 2.854 2.981 3.415 3.531 Número de doadores efetivos (pmp) 10,7 12,6 13,2 14,2 14,1 14,6 16,6 17,0 Número de notificações (potenciais doadores) 7.238 8.025 8.871 9.351 9.698 10.158 10.629 10.779 Número de notificações (pmp) 37,9 42,1 46,5 49,0 47,8 49,7 51,6 51,9 Recusa familiar 1.937 2.315 2.622 2.610 2.613 2.571 2.740 2.753 Percentual de recusa das entrevistas __ 41% 47% 46% 44% 43% 42% 43% Parada cardíaca 1.205 1.188 1.292 1.156 1.164 1.136 1232 988 Contraindicação médica 832 836 1.150 1.349 1.416 1.594 1559 1.545 Outros 1.216 1.280 1.281 1.523 1.651 1.876 1683 1.961 Ao analisar minuciosamente os dados da tabela acima é notável que o números de doadores efetivos cresceram gradativamente, pois no ano de 2011 tinham 2.048 (dois mil e quarenta e oito) doadores, já no ano de 2018 finaliza com 3. 531 (três mil e quinhentos e trinta um) doadores, assim também como o número de recusa familiar também aumentou nos últimos oito anos, isso é um dado preocupante, por isso é muito importante uma política de conscientização por parte 3 Fonte: IRODAT 2018 7 do governo para aumentar os números de doadores e salvar vidas de pessoas que necessitam dos transplantes de órgãos. Agora abaixo nota-se os números de transplantes por ano de cada órgão: NÚMERO ANUAL DE TRANSPLANTES DE 2008 ATÉ 20184 ÓRGÃOS 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 Coração 166 160 228 271 311 353 357 380 353 2.98 1 4.820 Fígado 1.412 1.496 1.603 1.727 1.757 1.810 1.882 2.122 2.182 18.50 2 26.283 Intestino 0 0 0 0 0 1 0 0 0 1 5 Multivisceral 0 0 1 0 2 0 1 0 4 8 8 Pâncreas 133 181 153 143 128 121 135 113 146 1.588 2.977 Pulmão 61 49 69 80 67 74 ////92 112 121 837 1.248 Rim 4.655 4.982 5.432 5.464 5.662 5.589 5.532 5.932 5.923 57.275 93.677 Pela análise dos dados, o número de coração, fígado, pâncreas e principalmente rim aumentaram nos últimos anos, entretanto o número ainda é muito pequeno, já que existem 32.716 pacientes cadastrados em lista de espera para um transplante dos seguintes órgãos: rim, fígado, coraç/ão, pulmão, pâncreas e córnea. Os dados são da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO). Para receber um órgão, o individuo carece de estar inscrito em uma lista de espera monitorada pelo Sistema Nacional de Transplantes. O que vai determinar a compatibilidade do paciente com o doador é o tipo sanguíneo, a dosagem de algumas substâncias colhidas no exame de sangue e características físicas. Ainda segundo a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), dos mais de 30 mil pacientes na lista de espera, 15.593 (quinze mil e quinhentos e noventa e três) ingressaram no primeiro semestre de 2018, sendo que 1.286 (mil duzentos e oitenta e seis) morreram neste mesmo período. Já das mais de 21.000 (vinte mil) pessoas que esperam pelo um rim, 5.493 (cinco mil e quatrocentos e noventa e três) passaram a esperar entre janeiro e junho de 2018 e 728 (setecentas e vinte e oito) não sobreviveram, em resumo são dados tristes e lamentáveis, ao explorar bem a fundo os dados da ABTO são notórios, pois mostra que: A taxa de não autorização familiar manteve-se em 43%, tendo sido inferior a 35% apenas no PR (27%) e SC (33%) e foi superior a 70% em RR (73%), 4 Fonte: IRODAT 2018. BRASIL,2018 8 PI (74%) e MT (80%). O trauma crâneo-encefálico ocasionou a morte encefálica em 33% dos doadores, sendo superior a 50% em três estados, MA (57%), CE (57%) e PA (75%). Analisando as regiões, observamos que o Sul, com 35,9 doadores pmp, obteve uma taxa duas vezes superior à do Brasil (17,0 pmp) e do Sudeste (18,3 pmp), três vezes superior à do Nordeste (10,8 pmp) e Centro-Oeste (12,0 pmp) e dez vezes acima da do Norte (3,6 pmp). Caso a pessoa desejar ser doador não precisa assinar nem pagar, tem apenas que comunicar a família para que, caso necessário, o procedimento seja autorizado. Para doações em vida, o doador deve ter mais de 18 anos de idade e o receptor deve ser cônjuge ou parente consanguíneo, caso não tenha nenhum vinculo familiar, será preciso autorização judicial, para Silva (2014): A vontade de doar em vida um órgão ou tecido para fins de tratamento ou pesquisa é legal desde que obedeça todos os critérios clínicos tecnológicos do conselho federal de medicina observando as normas jurídicas. O doador deverá preferencialmente deixar por escrito diante de duas testemunhas especificando qual órgão será retirado [...]. Por isso existe até uma campanha “Doe órgãos. Doe vida.” que objetiva conscientizar a família sobre a doação de órgãos pelo fato de existir muitos pacientes na fila de espera. Veja pelo o slogan da campanha do Ministério da Saúde. CAMPANHA DO MINISTÉRIO DA SAÚDE5 Milhares de pessoas no Brasil aguardam nas filas de espera de transplante, por causa da insuficiência ou mal funcionamento do seu órgão, infelizmente ficam a mercê de uma série de fatores que influenciam na expectativa de sua sobrevivência. Uma dela é que o receptor precisar encontrar um doador que seja compatível com o seu tipo sanguíneo para realizar o transplante, para isso o paciente tem que 5 Fonte: Ministério da Saúde. SILVA 2014,p.8 9 respeitar a ordem na fila de espera, não haja outros pacientes que aguardam a mais tempo na fila, ou que estejam em condições mais graves de saúde e que também possuam compatibilidade sanguínea com o doador. Então, além de ser necessário encontrar um doador compatível, é importante que o receptor o encontre a tempo, já que a cada dia que passa o seu órgão perde ainda mais a funcionalidade, diminuindo a sua expectativa de sobrevivência, com intuito de conscientizar a população a respeito da importância da doação de órgãos, o Ministério da Saúde sempre faz campanha televisado para que a pessoa avise sua família ou deixe por escrito a sua vontade de doar órgãos para que objetive salvar vidas pessoas que necessitam de transplante para continuar vivendo. Por essa razão, é possível observar o quanto é importante o transplantes para salvar vidas, só que infelizmente devido a essa necessidade tão gritante de doadores, o tráfico de órgãos e tecidos têm sido um crime que tem se tornado cada vez mais crescente no Brasil, principalmente nas grandes capitais. Hoje o tráfico de órgãos é um dos mercados clandestinos que rende muito dinheiro no mundo, por isso é interessante conhecer as legislações e punibilidade para este tipo de crime com base na lei. O tráfico de órgãos é uma situação assombrosa e preocupante, muitas pessoas traficam seu órgão em momento mais difícil da vida das pessoas, seja por doença ou alguma dificuldade financeira. Segundo Hanser (2015) é um crime difícil de ser descoberto, por muitas vezes serem de profissionais que confiamos à vida e muitos desses crimes acontecem em consultórios e salas cirúrgicas clandestinas ou não. 2.2. UMA ANÁLISE DA LEI Nº 9.434/97 DO CRIME E PUNIBILIDADE DO TRÁFICO DE ÓRGÃOS Há uma lei dos transplantes nº 9.434/976, com 25 artigos a respeito do assunto tanto para doação Inter vivos e post-mortem, todos respaldados pelo art. 199 no parágrafo 4º Constituição Federal de 1988. A Lei brasileira n.º 9.434/97 que regulamenta a doação de órgãos, tecidos e partes do corpo humano, isto pode ser visto em seu artigo 9º, os parágrafos 3º a 8º, além disso, existem condições para a 6 Lei criada em 04 de fevereiro de 1997 que dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins detransplante e tratamento e dá outras providências. http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988 10 doação de órgãos entre vivos, conforme lei só é permitida a doação referida neste artigo quando se tratar de órgãos duplos, de partes de órgãos, tecidos ou partes do corpo cuja retirada não impeça o organismo do doador de continuar vivendo sem risco para a sua integridade e não represente grave comprometimento de suas aptidões vitais e saúde mental e não cause mutilação ou deformação inaceitável, e corresponda a uma necessidade terapêutica comprovadamente indispensável à pessoa receptora. No inciso 4° o doador deverá autorizar, preferencialmente por escrito e diante de testemunhas, especificamente o tecido, órgão ou parte do corpo objeto da retirada. A doação poderá ser revogada pelo doador ou pelos responsáveis legais a qualquer momento antes de sua concretização. O indivíduo juridicamente incapaz, com compatibilidade imunológica comprovada, poderá fazer doação nos casos de transplante de medula óssea, desde que haja consentimento de ambos os pais ou seus responsáveis legais e autorização judicial e o ato não oferecer risco para a sua saúde. É será vedado à gestante dispor de tecidos, órgãos ou partes de seu corpo vivo, exceto quando se tratar de doação de tecido para ser utilizado em transplante de medula óssea e o ato não oferecer risco à sua saúde ou ao feto. Sendo o autotransplante depende apenas do consentimento do próprio indivíduo, registrado em seu prontuário médico ou, se ele for juridicamente incapaz, de um de seus pais ou responsáveis legais. Ao examinar artigo 9º, os parágrafos 3º a 8º a doação de órgãos é extremamente burocrático porque visa dirimir com “as transgressões da finalidade do transplante”. Por isso que o doador quando tem a mesma compatibilidade, poderia ser coagido a realizar a doação do órgão, atentando contra a sua dignidade e dispondo de sua integridade física em benefício de outro indivíduo, entretanto é totalmente proibido pela legislação brasileira esse tipo de ato. A doação entre vivos precisa ser de espontânea vontade e principalmente consciência do doador. Na lei dos transplantes nº 9.434/97 é bem visível que só pode realizar transplante por uma equipe médica, isso tanto na rede pública quanto na rede privada, só pode acontece caso a autorização da gestão nacional do sistema único de saúde e também a remoção do órgão com a autorização do doador e tem que obedecer às normas que regulamentam tal procedimento, somente é permitida retirar órgãos duplos para não prejudique o organismo do doador. Para doador post mortem a lei n° 9.434/97 é bem clara em seu artigo 3º que a retirada post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano destinados a transplante ou 11 tratamento deverá ser precedida de diagnóstico de morte encefálica, constatada e registrada por dois médicos não participantes das equipes de remoção e transplante, mediante a utilização de critérios clínicos e tecnológicos definidos por resolução do Conselho Federal de Medicina. O artigo 3° explicita e deixa bem claro que, os órgãos destinados a transplante devem ser precedidos através de diagnósticos de morte encefálica, e, tem que haver sido registrado por dois médicos, neste caso é até permitido a presença de um médico de confiança da família que acompanha e atesta a morte encefálica. Então para negociar tecidos ou órgãos ou partes do corpo humano é considerado crime punível de três a oito anos, todos aqueles facilita esta transação incorre em punição, Além do mais o tráfico de órgãos e sua maioria é praticado pelos profissionais da saúde, sendo a punibilidade para este tipo de crime encontra-se no na Seção I – Dos crimes dos artigos 14 a 20 da lei nº 9.434/977. Nunca foi e nem será permitido comercializar de órgãos ou tecidos humano, a pessoa que prontifica fazer doação ou a família do morto não deve receber por isso, todavia deve pautar de um princípio fundamental que é o respeito ao corpo humano e, principalmente, a vida. Com o avanço da ciência, a medicina expande cada vez o “transplante de órgãos cresce significativamente e com ela o desespero e angustia de quem espera, abrindo uma brecha para que inicie o desvio de órgãos e alimentando o mercado negro de transplantes”. Com o propósito de diminuir com este crime tão bárbaro que é o tráfico de órgão humano, é necessário que haver uma fiscalização rigorosa para tal ato. Já que na Constituição Federal de 1988 em seu artigo 1º e no inciso III um dos princípios que rege como sendo fundamental é a “dignidade da pessoa humana”. Para minimizar este ato ilegal é dever do Estado “promover benefícios sociais que garantam ao cidadão o mínimo para a sobrevivência e bem-estar, de modo que este possa ter o seu direito à autonomia respeitado sem se colocar em situação somente para garantir sua sobrevivência”. 2.3. CASOS REAIS DE TRÁFICOS DE ÓRGÃOS NO BRASIL 7 Fonte: (SILVA, 1997, p. 09) (MATTE, 2017, p. 82). 12 O tráfico de órgãos não trata de um simples “tráfico de beco”. Um caso real ocorreu no ano de 2016 por meio de uma investigação realizada pela Polícia Federal que descobriu um esquema de tráfico de órgãos, ocorreu que uma brasileira que foi vítima desse tipo de crime na Venezuela. Sendo que a vítima realizou uma cirurgia estética, morreu e o corpo voltou ao Brasil sem vários órgãos. Os parentes da vítima só descobriram que haviam retirado os órgãos da mulher quando o corpo chegou ao Brasil. É um caso que se enquadra na nova lei. Antes, só era punido o tráfico para exploração sexual ou trabalho escravo. No entanto, agora, quem aliciar, transportar ou alojar pessoas de forma violenta para retirada de órgãos pode pegar até oito anos de prisão. O corpo da vítima estava sem o coração, os pulmões, os rins e o intestino, ela faleceu na Venezuela, aos 52 anos. Havia ido para lá para fazer plástica, a polícia de Roraima disse que estar “investigando a causa da morte e a retirada dos órgãos dela e de uma paciente do Amazonas, que teria tido o corpo liberado sem um rim”, isso revela que a prática do tráfico de órgão é crime praticado de maneira constante e os culpados dificilmente são punidos. Outro caso de tráfico de órgãos ocorrido com brasileiros que viajavam até a África do Sul, onde eram submetidos a uma cirurgia para retirada do órgão. O órgão era transplantado em cidadãos de Israel, que iam para a África do Sul somente para realizarem a transplantação, e chegavam a pagar cerca de 120 mil dólares pelo órgão. Além disso, o esquema só foi descoberto porque uma moradora de uma comunidade de Recife questionou a delegada Beatriz Gilson se a comercialização de órgãos era legalizada, e acabou contando da existência da quadrilha. O esquema era organizado, tendo diversos envolvidos, inclusive um local físico para a realização de exames de verificação de compatibilidade. Segundo Torres (2007) os antigos doadores eram responsáveis por encontrar novos doadores, os quais eram indicados à quadrilha, e encaminhados para a clínica para realizarem exames de saúde e de compatibilidade sanguínea. Em alguns casos os doadores que iam para o exterior realizar a cirurgia jamais voltavam, e os familiares que ficaram no Brasil eram ameaçados de morte pela quadrilha para manterem-se calados. Os lucros eram altíssimos, os participantes da quadrilha possuíam bens de luxo na cidade, e aqueles antigos doadores que eram responsáveis por encontrar 13 novos doadores recebiam promoções e prêmios a cada doador novo que indicassem. Felizmente, o esquema criminoso foi descoberto e os envolvidos foram julgados ou deportados, no entanto isso não afastou a realidade vivida pelasvítimas nem o fato de que o Brasil está na rota deste comércio ilegal. Ainda relatam sobre um caso mais próximo, que aconteceu no Rio Grande do Sul, onde foi descoberto que a Faculdade de Medicina do Instituto Médico Legal de Passo Fundo vendia cadáveres para universidades do resto do estado, os quais eram utilizados para ensinar os estudantes de medicina sobre a anatomia humana. É preciso haver uma fiscalização rigorosa entre as fronteiras para que diminua ou acaba com o mercado clandestino de tráfico de órgãos. 3. CONCLUSÃO A forma de um pensamento para que encontre soluções para os problemas da sociedade é a utilização do mercado como mecanismo de equilíbrio nas relações sociais, já que essa suposta solução ao desequilíbrio entre a oferta e a procura de órgãos que são necessários para transplantes, qual seja a legalização adotada no Brasil do comércio de órgãos, é somente mais uma tentativa de expandir o mercantilismo a todas as áreas sociais. Isso mostra que na utilização do corpo como objeto de fácil comecializaçao, afrontando os principios à dignidade da pessoa humana, uma vez que o indivíduo se torna um meio para satisfação das necessidades de um outro ser, vendendo-se como se objeto fosse de meros valores. Neste sentido, vê-se a utilização da classe C como meio para satisfação dos interesses e necessidades das classes A, tendo em vista que, geralmente, quem vende os seus órgãos são pessoas de baixa renda que não conseguem manter o mínimo existencial para sobrevivência, e acabam sendo persuadidos pelos intermediários a venderem seus órgãos, como forma de enriquecimento rápido, o que não acontece, pois, muitos sao ludibriados e não recebem o prometido. Os valores pagos aos doadores de órgãos não somam nem metade do que os que negaciam os chamados intermediarios, faturam com a transação, pois cobram valores muito mais altos, as quais têm dinheiro para comprar a sua própria sobrevivência. De outro lado, o da classe mais baixa perde a sua dignidade e ao vende o que tem de único bem, aumentando, co m i s so , mais as desigualdades 14 sociais. Se a comercialização de órgãos no Brasil fosse legalizada, as pessoas de baixa renda seriam atraídas ao comércio de órgãos seriam coagidas a venderem seus órgãos em troca de quantias injustas. Quando estes indivíduos estivessem necessitando de um transplante, em face de terem sido acometidos de doenças que causam a insuficiência de órgãos, eles não teriam condições financeiras para arcar com os custos de um órgão no mercado legalizado, e o Estado não poderia lhes fornecer. Mais uma vez, se estaria diante da utilização das classes baixas para garantia das necessidades das classes altas. Como garantidor dos direitos fundamentais do cidadão, o dever de evitar que o cidadão tome decisões que lhe tirem seus direitos básicos, por se encontrar em estado de necessidade, o Estado é o responsavel de promover benefícios sociais que garantam ao cidadão o mínimo para a sobrevivência e bem-estar, de modo que este possa ter o seu direito à autonomia respeitado sem se colocar em risco a sua sobrevivência. Com forma de minimizar o desequilíbrio entre a oferta e a procura por órgãos para transplante. É necessária que seja feita promoção de campanhas sociais de incentivo aos cidadãos, bem como a prestação de informações à sociedade sobre a morte encefálica, e também sobre o destino dos órgãos captados para doação, tendo em vista que a população possui poucas informações sobre esse tema como propaganda midiática. Se a população tiver conhecimento sobre o assunto, as pessoas passarão a fazer declarações públicas sobre o seu desejo de ser ou não doador de órgãos, o que viabiliza a estruturação de um sistema informatizado que permita as equipes médicas terem acesso a essas declarações, pois somente com esse tipo de iniciativa que o Brasil alcançará o equilíbrio entre a oferta e a procura por órgãos, minimizando assim o tráfico de órgãos. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei Federal n° 9.434/97, de 4 de fevereiro de 1997. Lei dos transplantes de órgãos. 1997. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9434.m. Acesso em: 25 ago. 2019. 15 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1990, p. 03-08. BRASIL. Registro Estatísticos Brasileiro de Transplantes. (Site). 2018. Disponível em: http://www.abto.org.br/abtov03/default.aspx?. Acesso em: 25 set. 2019. BRASIL. Secretaria Nacional de Justiça. Tráfico de pessoas: uma abordagem para os direitos humanos. 1º edição. Brasília: Ministério da Justiça, 2013. HANSER, Ingrid Foltz. Comércio de partes do corpo humano: tráfico de órgãos no Brasil e argumentos acerca da discriminação. (Trabalho de Conclusão de Curso). 2015. Disponível em: file:///C:/Users/Polly/Downloads/13. pdf. Acesso em: 24 ago. 2019. MATTE, Nicole Lenhardt. Tráfico de órgãos: a (im) possibilidade da legalização da comercialização de órgãos no Brasil e os entraves à doação. (Monografia). 2017. Disponível em: https://www.univates.br/bdu/bitstreaNicoleLenhardtMatte.pdf. Acesso em: 23 ago. 2019. SILVA, Waldimeiry Corrêa da; SOUZA, Caio Humberto Ferreira Dória de. O tráfico de órgãos no Brasil e a lei Nº 9.434/97. (artigo). 2014. Disponível em: http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=0064f599ed0adb58. Acesso em: 24 ago. 2019. TORRES, Caetano Alves. Tráfico de Órgãos Humanos e crime organizado: sob a ótica da tutela dos direitos humanos. 2007. 54 f. Monografia (Graduação) – Curso de Direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Disponível em: . Acesso em: 25 nov. 2019. file:///C:/Users/Polly/Downloads/13 1. INTRODUÇÃO 2.1. A IMPORTÂNCIA DE TRANSPLANTES NO BRASIL 2.2. UMA ANÁLISE DA LEI Nº 9.434/97 DO CRIME E PUNIBILIDADE DO TRÁFICO DE ÓRGÃOS 3. CONCLUSÃO REFERÊNCIAS
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