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Transtorno do Espectro Autista 2

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AULA 2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TRANSTORNO DO ESPECTRO 
AUTISTA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof.ª Lígia Maria Bueno Pereira Bacarin 
 
 
 
 
2 
INTRODUÇÃO 
Prezados cursistas, nesta aula, apresentam-se no âmbito dos Transtornos 
Globais do Desenvolvimento (TGD), os “autismos” como um transtorno que não 
apresenta um modelo pronto, de fácil identificação ou classificação, mas sim que 
se caracteriza como um transtorno comportamental de causas neurológicas 
múltiplas. Assim, tal transtorno poderá ser identificado e diagnosticado com maior 
probabilidade de acertos clínicos e institucionais. 
Nesse sentido, retoma-se a compreensão que estabelece o princípio básico 
do TEA como um transtorno comportamental, pois só será possível detectar uma 
criança autista e encaminhá-la para um diagnóstico clínico ao se observar seu 
comportamento, principalmente nos seus primeiros cinco anos de vida. 
Salienta-se a necessidade da observação, pois não é rara a existência de 
autistas que não apresentam qualquer sinal físico de alteração, autistas com 
síndromes (enquadrando-se em uma gama variada delas) e autistas que não 
apresentam nenhuma síndrome. A desmistificação se apresenta nesse momento 
como uma das formas de se combater, nas mais diversas áreas profissionais que 
atuam com autismo, a percepção de que só há o diagnóstico de TEA se a criança 
apresentar alguma característica física que indique a presença de uma síndrome. 
Com a concepção de TEA com foco no comportamento da criança, existem 
características-alvo que auxiliam no estágio de observação e investigação: 
 Dificuldade de interação social; 
 Déficit quantitativo e qualitativo de comunicação social; 
 Padrões de comportamento, atividades e interesses repetitivos e 
estereotipias. 
Nesse sentido, após a definição dessa tríade, o TEA se conceitua 
atualmente como um distúrbio complexo de desenvolvimento, comportamental, de 
etiologias múltiplas de graus variáveis e causas diversas. Isso significa que: 
 Os comportamentos são comuns entre todos os indivíduos do TEA; 
 O que muda é a intensidade das manifestações e a gravidade do 
acometimento. 
Tendo em vista tantos pormenores, a problemática que orientará este 
modulo é: quais são atualmente as características do TEA? E, a partir delas, quais 
os desdobramentos para o seu diagnóstico? 
 
 
3 
TEMA 1 – SINAIS DE ESPECTRO AUTISTA ASSOCIADO: FUNDAMENTO DA 
MUDANÇA CONCEITUAL 
Conforme o organograma a seguir, existem questionamentos que estão 
além da superfície da mera mudança terminológica: 
Figura 1 – Diferenciação entre TGD e TEA 
 
Considerando que o DSM é um manual de diagnóstico de transtornos 
mentais que ajuda tanto a nortear e a direcionar a avaliação de comportamento de 
seres humanos (sejam crianças, adolescentes ou adultos) como a orientar as 
práticas clínicas e institucionais de todos os profissionais envolvidos no tratamento 
do TEA, devemos analisar a nomenclatura apresentada na sua quinta edição, uma 
vez que a mudança não foi apenas nominal, mas conceitual. 
O termo espectro já carrega em si um questionamento: o que ele significa? 
O que esse termo significa no âmbito do autismo? Para desenvolver essas 
questões, tem-se como sinônimo analítico o termo sombra, utilizado pelo 
neurologista Clay Brites (C. Brites; L. Brites, 2018) para elucidar essa temática. 
Para esse pesquisador, a sombra não se refere ao sujeito propriamente dito, mas 
representa apenas uma imagem formada a partir da intensidade de suas 
características: suave, moderada ou severa. 
A relevância dessa analogia é considerar que a intensidade da “sombra” 
depende da forma como o objeto está posicionado em relação ao Sol. Isto é, existe 
uma continuidade entre poucos sintomas e muitos sintomas, por isso há crianças 
com quadros leves quando se faz o diagnóstico de TEA, sobretudo na faixa entre 
um ano e meio até dois anos de idade. Com as intervenções, o quadro pode 
evoluir a tal ponto que a criança não apresente mais os sintomas detectados 
anteriormente. Então, tal qual a sombra do Sol, esse espectro se modifica 
conforme uma série de determinações e possibilita a mudança nos traços do TEA 
que a criança tem. 
 
Espectro ou 
transtorno? 
 TGD 
 TEA 
 
Diferentes graus de 
comprometimento 
 
 
4 
Quanto às causas do TEA, observa-se que os estudos ainda não são 
conclusivos, porém existem vários relatos de anormalidades orgânicas, 
neurológicas, biológicas, além de fatores genéticos, imunológicos e perinatais, 
achados bioquímicos e neuro-anatômicos relacionados ao autismo. Nesse 
sentido, 
As várias patologias associadas com os TID suportam a hipótese de que 
as manifestações comportamentais que definem este complexo de 
sintomas podem ser secundárias a uma grande variedade de insultos ao 
cérebro. A heterogeneidade desses distúrbios pode ser devida a 
etiologias distintas ou a uma combinação de fatores, tais como etiologia, 
predisposição genética e fatores ambientais (Gadia; Tuchman; Rotta, 
2004, p. 86). 
Importante observar que muitas crianças apresentam outros transtornos, 
como por exemplo TDAH, com sinais de espectro autista associados, mas isso 
não é o TEA. Ou seja, não é o quadro principal, mas o autismo vem associado a 
esse transtorno. Nesse sentido, a mudança de nomenclatura também foi 
importante para reforçar que esses traços também precisam de intervenção, 
sobretudo porque muitas crianças ficavam sem abordagem direcionada para as 
suas características autísticas, porque apresentavam um quadro muito leve e 
secundarizado em relação ao quadro principal. 
Ao se constatar cientificamente o prejuízo que essa perspectiva equivocada 
acarretou aos sujeitos, percebe-se a importância de se detectar o grau do espectro 
para se poder fazer uma intervenção. Todavia, 
[...] mesmo quando distúrbios autistas são diagnosticados 
adequadamente, isto é, utilizando critérios diagnósticos apropriados, há 
uma variação considerável no perfil sintomático, dependendo da 
etiologia subjacente. O diagnóstico de autismo requer uma apreciação 
clínica cuidadosa: avaliações de linguagem e neuropsicológica, bem 
como exames complementares (por exemplo, estudos de cromossomas 
incluindo DNA para X-frágil e estudos de neuroimagem ou 
neurofisiologia, quando apropriados) podem ser necessárias em casos 
específicos, para permitir identificar subgrupos mais homogêneos, de 
acordo com o fenótipo comportamental e a etiologia. Somente assim 
conseguiremos obter uma compreensão da patofisiológica desses 
distúrbios e estabelecer intervenções e prognósticos mais específicos 
(Gadia; Tuchman; Rotta, 2004, p. 86). 
Contraditoriamente, ao se abranger os traços que compõem o TEA, 
percebeu-se o aumento considerável e marcante da frequência de TEA na 
população. Dentre as hipóteses sobre as causas desse aumento, uma das mais 
aceitas na comunidade cientifica é que ocorreu um salto de qualidade no 
conhecimento dos profissionais que realizam os diagnósticos, ou seja, hoje se 
 
 
5 
detecta um maior número de traços e mais cedo, o que abre um diagnóstico mais 
preciso e consequentemente um aumento no índice oficial de casos. 
Considerando que o DSM-4 classificava de outra forma o autismo, percebe-
se que ainda prevalece uma confusão entre a compreensão atual do TEA e a 
forma anterior como o autismo ou os autismos eram analisados. Observe o 
organograma a seguir. 
Figura 1 – Organograma 
Percebe-se pela pirâmide da Figura 1 que a caracterização do autismo 
hierarquizava os indivíduos, porém não apresentava um elo que justificasse esse 
ranqueamento para além dos sintomas neurológicos. Para melhor compreensão 
da mudança entre o DSM-4 e o DSM-5, retoma-se o conceito conforme a 
metodologia elaborada pela Associação de Amigos do Autista (AMA). 
Percebe-se que na definição atual do conceito, o autismo é uma 
síndrome, ou seja, um conjunto de sintomas que o caracterizam como uma 
doençaque causa transtorno de neurodesenvolvimento e, como consequência, 
alterações comportamentais. O salto de qualidade na compreensão se encontra 
em entender que essas características não são estanques e assimétricas, porém, 
necessariamente são pertinentes à mesma síndrome porque se caracterizam 
sempre por desvios qualitativos na comunicação, na interação social e no uso da 
imaginação1. 
Entretanto, entende-se que podem coexistir três grupos de situações que 
dificultam o diagnóstico clínico: 
 
1Estes três desvios, que ao aparecerem juntos caracterizam o autismo, foram chamados por Lorna 
Wing e Judith Gould, em seu estudo realizado em 1979, de “Tríade”. A Tríade é responsável por 
um padrão de comportamento restrito e repetitivo, mas com condições de inteligência que podem 
variar do retardo mental a níveis acima da média (Mello, 2007, p. 15). 
1 - Autismo Clássico
2 - Sindrome de Rett
3 - Transtorno 
desintegrativo da Infância
4 - Transtorno Global do 
Desenvolvimento não 
específico
5 - Síndrome de Asperger
O topo da pirâmide, o Grau 1, 
caracterizaria o grau mais severo, 
e o Grau 5, o mais leve. 
Todavia, essa caracterização não 
existe mais e, a partir do DSM 5, a 
compreensão se transformou. 
 
 
 
6 
 O TEA pode ser a síndrome principal, que coexiste com traços ou aspectos 
de outras síndromes secundárias; 
 O TEA pode ser a síndrome secundária, pois apenas alguns traços ou 
aspectos se fazem presentes em relação a uma outra síndrome principal; 
 O TEA pode ser a única síndrome, porém, com espectros variados 
conforme cada indivíduo. 
Tomando por base a análise conceitual elencada, o DSM-5 apresenta a 
seguinte classificação do TEA: 
Figura 2 – Classificação 
 
Observa-se que o Autismo Clássico, o Transtorno Desintegrativo da 
Infância e o Transtorno Global do Desenvolvimento não específico foram 
dissolvidos nessa nova classificação do DSM-5. 
TEMA 2 – CONSEQUÊNCIA PARA O DIAGNÓSTICO A PARTIR DO DSM-5 
Se por um lado a mudança na classificação de autismo ou autismos facilitou 
a identificação da síndrome a partir da categorização como suave, moderado ou 
severo, por outro lado essa transformação requer um maior tempo de observação 
e investigação para definir o espectro em que classifica o grau da criança com 
TEA. Essa é a primeira consequência decorrente da nova maneira de se 
diagnosticar o TEA. 
Por exemplo, é comum que nos deparemos com diagnósticos precipitados 
que definem um sujeito com traços de TEA como portador de Deficiência 
Intelectual — ou, como também pode ser denominado, com retardo mental. Mello 
(2007, p. 13-14) explica que o “autismo se diferencia do retardo mental porque, 
Severo
Moderado
Leve
 
 
7 
enquanto no primeiro a criança apresenta um desenvolvimento uniformemente 
defasado, no autismo o perfil de desenvolvimento é irregular”. 
Silva, Gaiato e Reveles (2012, p. 29) apresentam uma interessante 
analogia para explicar o espectro autista: 
Quando jogamos uma pedrinha em um lago de água parada, ela gera 
várias pequenas ondas que formam camadas mais próximas e mais 
distantes do ponto no qual a pedra caiu. O espectro autista é assim, 
possui várias camadas, mais ou menos próximas do autismo clássico 
(grave), que poderia ser considerado o centro das ondas, o ponto onde 
a pedra atingiu a água. Esse espectro pode se manifestar nas pessoas 
de diversas formas, mas elas terão alguns traços similares, afinal todas 
as ondulações derivam do mesmo ponto. 
A analogia apresentada no excerto acima demonstra que o autismo possui 
diferentes manifestações, e para que os equívocos nos diagnósticos se tornem 
menos frequentes, há necessidade de que os profissionais que atuam com o TEA, 
cada qual em sua área, apropriem-se do conhecimento científico acerca do 
desenvolvimento das pesquisas e dos estudos sobre o tema. 
Para que se possa precisar a maior abrangência das consequências do 
DSM-5 para o diagnóstico do TEA, torna-se necessário o resgate de outro grupo 
de conceitos que acompanham a elaboração desses diagnósticos antes da 
mudança paradigmática. Esses conceitos são, conforme a OMS (2007): 
 Deficiência: toda e qualquer perda, falta ou alteração de estrutura ou 
função, qualquer que seja sua causa 
 Incapacidade: restrição, consequente de deficiência, da habilidade de 
desempenhar uma atividade funcional comum para o ser humano 
 Desvantagem: decorrente de deficiência e/ou incapacidade que impede o 
sujeito de desempenhar um papel que esteja de acordo com idade, sexo, 
fatores sociais e culturais. 
 A análise dos conceitos remete a uma determinação de prioridades no nível 
de importância desses conceitos ao se estudar TEA. Ou seja, um conceito decorre 
do outro. A Figura 3 esquematiza essa reflexão: 
 
 
8 
Figura 3 – Prioridades 
Com a análise do organograma apresentado na Figura 3, infere-se que, 
para o diagnóstico do TEA, é preciso considerar a patogênese: 
Fatores genéticos e ambientais têm sido associados à etiologia e 
fisiopatologia do TEA, indicando etiologia multifatorial. [...] O TEA tem 
sido associado a alterações no sistema imunológico e a diversos 
distúrbios metabólicos, a exemplo da elevação do estresse oxidativo e 
deficiências relacionadas à mutilação, anormalidades na função 
mitocondrial, além da baixa desintoxicação de metais pesados do 
organismo. Outros pesquisadores que estudaram cuidadosamente a 
cadeia transportadora de elétrons (CTE) nas células imunológicas 
sugerem que cerca de 80% dos autistas exibem algum grau de 
anormalidade em seu mecanismo. Esses distúrbios biológicos podem ter 
como causa défices nutricionais. Contudo, em relação às outras 
patologias, a amplitude e a profundidade dessas deficiências 
nutricionais, assim como as ineficiências ou disfunções bioquímicas, 
podem afetar o funcionamento do sistema nervoso e levar ao 
agravamento do transtorno. A identificação da presença desses 
distúrbios é importante por permitir a triagem, tratamento e 
possivelmente estratégias de prevenção e pode permitir a identificação 
de biomarcadores e tratamentos direcionados para as anormalidades 
metabólicas, pois o fenótipo é diverso (Lázaro, 2016, p.19). 
TEMA 3 – A DIFERENÇA ENTRE TRANSTORNOS ESPECÍFICOS DE LINGUAGEM 
E TEA 
Para a superação dos equívocos nos diagnósticos, não basta apenas a 
preocupação com as mudanças nas terminologias. O importante é estabelecer um 
referencial teórico e metodológico que embase a detecção precoce do TEA na 
infância. 
MUDANÇAS 
CONCEITUAIS
• DEFICIÊNCIA
• de doença à síndrome
MUDANÇAS 
CONCEITUAIS
• INCAPACIDADE
• de causa afetiva à cognitiva
MUDANÇAS 
CONCEITUAIS
• DESVANTAGEM
• de base psicogênica à base biológica
MUDANÇAS 
CONCEITUAIS
• PREVALÊNCIA
• de quadros raros a quadros frequentes 
MUDANÇAS 
CONCEITUAIS
• TERAPÊUTICAS
• de tratamentos antipsicóticos ao tratamento de sintomas-alvo
• de psicoterapia de base analítica a abordagens pedagógicas com base 
cognitivo-comportamental
 
 
9 
Nesse sentido, um dos equívocos mais cometidos acontece durante a 
avaliação de uma criança que apresenta um quadro grave de atraso de fala ou de 
linguagem em geral: o profissional — tanto da área clínica, que faz o diagnóstico, 
como da área institucional, que faz a avaliação cognitiva — pode chegar a uma 
conclusão equivocada, pois os espectros do TEA possuem algumas 
características que podem se confundir com Transtornos Específicos de 
Linguagem (Specific Language Impairment – SLI), tais como: Transtorno 
Semântico Pragmático, Transtorno de Aprendizagem não Verbal (TANV), entre 
outros. 
Um Transtorno Específico de Linguagem, na definição de Befi-Lopes (2004, 
p. 989), é definido como 
[...] um acometimento da linguagem onde não existe perda auditiva, 
alteração no desenvolvimento cognitivo e motor da fala, síndromes, 
distúrbios abrangentes do desenvolvimento, alterações 
neurossensoriais, lesões neurológicas adquiridasou qualquer outra 
patologia que justifique essa dificuldade. 
3.1 Diagnóstico para os Transtornos Específicos da Linguagem 
Segundo Chevrie-Muller (2007), o diagnóstico do Distúrbio Específico de 
Linguagem é multidisciplinar e caracteriza-se por um método de exclusão, ou seja, 
deve-se descartar a possibilidade de qualquer outra patologia antes de se afirmar 
que a criança apresenta exclusivamente um distúrbio de linguagem. 
Para essa autora, a avaliação de linguagem precisa ser averiguada em 
suas modalidades expressivas e receptivas, bem como quanto aos seus 
diferentes aspectos: fonológico, lexical, morfossintático, semântico e pragmático. 
Chevrie-Muller (2007) afirma que esse exame permitirá classificar o distúrbio 
quanto ao tipo e avaliar sua gravidade, tendo por referência o desenvolvimento 
normal que seria esperado para a idade da criança. 
Por sua vez, Jakubowicz (2003) comenta sobre a dificuldade de se 
diferenciar um Distúrbio Específico de Linguagem de um simples atraso quando a 
criança é ainda pequena. Segundo a autora, na França é comum que o 
diagnóstico seja confirmado somente na idade de cinco anos. 
3.1.2 Características do Distúrbio Específico de Linguagem 
Considerando os estudos de Tourrette (2014, p. 220), têm-se que as 
características do Distúrbio Específico de Linguagem incluem: 
 
 
10 
1. Dificuldade de linguagem expressiva e/ou receptiva, sendo a compreensão 
normalmente melhor do que a expressão. 
2. Atraso na aquisição das primeiras palavras. 
3. Falha na discriminação dos fonemas. 
4. Frases mal elaboradas (algumas vezes sem artigos, preposições ou 
concordância verbal). 
5. Fonologia, semântica, sintaxe e pragmática são atingidas em graus 
diferentes. Uma criança pode ter mais dificuldade para produzir os fonemas 
da língua, enquanto outra tem mais dificuldade para construir frases 
gramaticalmente corretas. 
Importante: uma mesma criança pode apresentar mais problemas em 
relação à fonologia num momento e em relação à semântica num outro momento, 
ou seja, o quadro nem sempre é estável. 
Antes do DSM-5 essas confusões eram mais constantes e frequentes. 
Atualmente, com o aumento do número de pesquisas, as metodologias para 
definição desses transtornos são mais precisas. Hoje existem escalas, avaliações 
multidisciplinares, entre outros recursos que auxiliam os profissionais a 
diagnosticarem com maior precisão. 
Bishop (1987, p. 159) afirma que o Distúrbio Específico de Linguagem é 
“uma dificuldade persistente para adquirir e desenvolver a fala e a linguagem. 
Aparentemente a criança possuiu todas as condições para falar, mas ela não 
consegue ou apresenta muita dificuldade neste processo”. Durante muito tempo, 
quando descartada a hipótese de problemas auditivos, esse distúrbio foi 
interpretado como sinal de falta de estímulos ou como indicativo de transtornos 
mais globais no desenvolvimento, como o TEA e a Deficiência Intelectual. 
Para Bishop (1987), o distúrbio específico de linguagem pode gerar 
consequências para o processo de aprendizagem da escrita e leitura. As crianças 
afetadas geralmente não conseguem se alfabetizar na idade prevista e 
demonstram sérias dificuldades para acompanhar as atividades em sala de aula, 
pois não conseguem compreender a relação entre o som e a escrita. A aquisição 
e o desenvolvimento da linguagem oral são determinantes para o aprendizado da 
leitura e escrita. 
 
 
 
 
11 
TEMA 4 – O TRANSTORNO INVASIVO DO DESENVOLVIMENTO (TID) 
O TEA apresenta características observáveis (conhecidas cientificamente 
como fenótipos) que se enquadram no TID, uma vez que este inclui singularidades 
em três graus: social, da comunicação e do comportamento. Para entender melhor 
o TEA, é importante que tenhamos uma melhor definição da categoria de TID, 
uma vez que 
O TID não-autístico compreende duas categorias bem definidas, 
incluindo critérios operacionalizados (transtornos desintegrativo e 
síndrome de Rett) e uma categoria residual maior (TID-SOE). As 
pesquisas atuais estão tentando identificar grupos dentro da categoria 
de TID-SOE. Há algumas propostas de categorias com base clínica 
(TDMC; EPD; transtorno de prejuízo multidimensional e crianças 
esquizoides) e algumas categorias que estão relacionadas com 
hipóteses de um déficit etiológico primário, que poderia levar ao fenótipo 
comportamental (transtornos do aprendizado não verbal, SSP, 
transtornos de vinculação). É importante notar que nem todos os 
indivíduos que preenchem critérios de transtornos do aprendizado não 
verbal, SSP ou transtorno de vinculação preencherão critérios de TID. 
No entanto, esses critérios globais têm sido úteis no planejamento 
terapêutico. (Mercadante; Van Der Gaag; Schwartzman, 2006, p. 13) 
Figura 4 – Diagrama das categorias do Transtorno Invasivo de Desenvolvimento 
 
Fonte: Mercadante; Van Der Gaag; Schwartzman, 2006, p. 19. 
Conforme análise realizada pelo Dr. Jair de Jesus Mari (2019) para a ONG 
Autismo & Realidade, observa-se que 
 
 
12 
Nova edição do DSM trouxe uma nova estrutura de sintomas, e a tríade 
de sintomas que modela déficits de comunicação separadamente de 
prejuízos sociais do DSM-IV, que foi substituído por um modelo de dois 
domínios composto por um domínio relativo a déficit de comunicação 
social e um segundo relativo a comportamentos/interesses restritos e 
repetitivos. Além disso, o critério de atraso ou ausência total de 
desenvolvimento de linguagem expressiva foi eliminado do DSM-5, uma 
vez que pesquisas mostraram que esta característica não é universal, 
nem específica de indivíduos com TEA. 
Isto é, para Mari (2019), a reorganização dos subdomínios aumenta a 
clareza e continua a fornecer sensibilidade adequada, ao mesmo tempo que 
melhora a especificidade necessária por meio de exemplos de diferentes faixas 
de idade e níveis de linguagem. 
Figura 5 – Níveis de gravidade no TEA – DSM5 
 
Fonte: Cornel, 2013. 
 
 
 
 
13 
TEMA 5 – A TRÍADE COMPORTAMENTAL PRIORIZADA NA AVALIAÇÃO 
Quando se avalia o comportamento de uma criança, três grandes 
alterações de comportamento são priorizadas. 
Figura 6 – Níveis de gravidade 
 
Essas três grandes alterações de comportamento observáveis no processo 
de diagnóstico do TEA podem estar presentes ao mesmo tempo em uma mesma 
criança ou não. Do mesmo modo, o TEA pode apresentar nenhuma dessas 
alterações e, em outros casos, pode apresentar quadros de alucinação, de 
psicose, entre outros comportamentos. Ou seja, as alterações podem aparecer 
todas ou apenas alguns delas em crianças com TEA. Com isso, muitas vezes 
essas alterações de comportamento não são passíveis de separação durante o 
processo avaliativo, e, ao se produzir o diagnóstico de TEA, elas precisam 
aparecer para que também sejam tratadas. 
O TEA carece de um Diagnóstico Diferencial: 
 Com o grupo dos transtornos específicos do desenvolvimento: 
o Transtornos do desenvolvimento do aprendizado 
o Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade 
 Fora do grupo dos transtornos de desenvolvimento: 
o Esquizofrenia 
o Transtorno Desafiador de Oposição 
Alterações de comportamento
Hiperatividade 
motora
Alterações de 
conduta: 
comportamento 
disruptivo
Ansiedade e 
Depressão
 
 
14 
Prezados cursistas, neste módulo foram elencados elementos para o 
aprofundamento dos pressupostos básicos do TEA, tomando por base a 
compreensão do TEA como uma síndrome pertencente ao grupo dos Transtornos 
Globais do Desenvolvimento. 
Para sintetizar esse debate, faz-se necessário retomar as questões que 
orientaram a trajetória neste módulo: 
Quais são atualmente as características do TEA? 
A partir delas, quais os desdobramentos para o diagnóstico do TEA? 
Infere-se que muitas das características observadas no TEA também são 
vistas em outros distúrbios de desenvolvimento e em certas doenças psiquiátricas. 
O que distingue o autismo são o número, a gravidade, a combinação e a interaçãode problemas, os quais resultam em danos funcionais importantes. O autismo é 
um conjunto de déficits, e não uma ou outra característica. 
Conforme Júlio-Costa e Moreira Antunes (2017), o autismo é um dos 
transtornos neuropsiquiátricos com maior influência genética e, na prática, isso 
significa que, na maior parte dos casos, os sintomas são expressos precocemente 
e se manifestam durante toda a vida. Para os autores: 
Saber identificar essas características é a base do diagnóstico do 
TEA, pois este é essencialmente clínico. Ele depende do 
conhecimento do profissional e da capacidade de descrever os 
sintomas atuais e do histórico de desenvolvimento. Em razão 
disso, propomos um passo a passo da avaliação diagnóstica. Mas 
qual seria a função do diagnóstico, se não dar um norte para a 
família, principalmente sobre as intervenções necessárias para a 
criança? Assim a penúltima parte do livro aborda um modelo de 
intervenção focado nos pais e outros programas com maior base 
científica para o TEA. Por fim, tendo ciência da quantidade de 
informações falsas divulgadas sobre o autismo, fechamos o livro 
com a discussão sobre esses mitos e o que a ciência fala sobre 
eles. Este livro é fruto de muito trabalho e da vontade de garantir 
o que há de melhor para as crianças com TEA e suas famílias 
(Júlio-Costa; Moreira Antunes, 2017, p. 36). 
Nesse sentido, infere-se ao desta aula que, embora definido por uma tríade 
principal de sintomas, o fenótipo dos pacientes com TEA pode variar muito, 
abrangendo desde indivíduos com deficiência intelectual (DI) grave e baixo 
desempenho em habilidades comportamentais adaptativas até indivíduos com 
quociente de inteligência (QI) normal, que levam uma vida independente. Esses 
indivíduos também podem apresentar uma série de outras comorbidades, como 
hiperatividade, epilepsia, distúrbios de sono e gastrintestinais. 
 
 
15 
Leitura complementar 
Texto de abordagem teórica 
JÚLIO-COSTA, A.; ANTUNES, A, M. Transtorno do espectro autista na prática 
clínica. São Paulo: Pearson Clinical Brasil, 2017. (Coleção Neuropsicológica na 
Prática Clínica) 
As autoras desenvolvem uma sistematização detalhada da avaliação, do 
diagnóstico e da intervenção do TEA. O protocolo de avaliação, adotado pelas 
autoras, foca os sintomas do TEA. 
Texto de abordagem prática 
BRITES, L.; BRITES, C. Como saber do que seu filho precisa? São Paulo: 
Gente, 2018. 
Os neurologistas desenvolveram nessa obra uma metodologia de sete pilares 
para que os pais e responsáveis pelas crianças com TEA possam se organizar 
cotidianamente. 
Saiba mais 
BACKES, B.; ZANON, R. B.; BOSA, C. A. A relação entre regressão da linguagem 
e desenvolvimento sócio comunicativo de crianças com transtorno do espectro do 
autismo. CoDAS, v. 25, n. 3, p. 268-273, 2013. 
As autoras abordam as consequências da relação entre regressão da linguagem 
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