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Anemia Ferropriva Infantil Disciplina: Dietoterapia Infantil Profa. Patricia Schwengber Anemia Ferropriva • Deficiência no tamanho ou número de hemácias ou na quantidade de hemoglobina que contêm. Esta deficiência prejudica a função básica dos eritrócitos: troca gasosa (entrega de O2 e retirada de CO2 nos tecidos). • A anemia por deficiência de ferro é a carência nutricional mais prevalente em todo o mundo, com consequências para toda a população. Eritrócitos normais: uniformidade de tamanho e coloração Eritrócitos são hipocrômicos, microcíticos (VCM) e com tamanho irregular (anisocitose) Anemia ↓ No ou Tamanho de Eritrócitos ↓ Concentração Hemoglobina Limita a troca gasosa Valores normais de Hemoglobina 0 a 4 anos e 11 meses > 11g/dL 5 a 11 anos > 11,5g/dL CAUSAS DA ANEMIA Carências nutricionais Cirrose Hepática Doenças do TGI (acloridria*) Efeitos Coleterais Fármacos Anormalidades GENÉTICAS Deficiência de FERRO Ingestão inadequada Absorção inadequada ↑ excreção ↑ Necessidade Interferência de Fármacos Anemia de Doença Crônica (distúrbio no metabolismo do ferro; ↓ nas hemácias) Agentes Antioxidantes (Vitamina C) (SOLÚVEL) Fármacos que interferem no metabolismo do Fe Colestiramina Pancreatina Antiácidos RanitidinaCimetidina Tetraciclina Antiretrovirais Estágio I: depleção moderada das reservas de ferro, sem disfunção orgânica. Estágio II: depleção grave das reservas, mas ainda sem disfunção orgânica. Este estágio compreende mais de 50% dos casos. Estágio III: deficiência de ferro com disfunção, mas ainda sem anemia. Estágio IV: deficiência de ferro com disfunção + anemia. A ANEMIA SÓ OCORRE NO ESTÁGIO IV! ESTÁGIOS DA DEFICIÊNCIA DE FERRO Krause Transferrina É uma proteína constituída por uma única cadeia polipeptídica com dois sítios de ligação, quimicamente distintos, para os átomos de íon férrico e ferroso. É sintetizada predominantemente no fígado. Tem como finalidades: captar e transportar o ferro em condições solúveis (+2) dos sítios de absorção até os locais de utilização e armazenamento e proteger o organismo dos efeitos tóxicos do ferro livre (+3). PTNs associadas ao Metabolismo do FERRO Receptor da Transferrina O Receptor da Transferrina é uma proteína composta por duas cadeias polipeptídicas idênticas. Uma molécula de transferrina liga-se a cada uma das duas subunidades do receptor da transferrina. Ferro Ferritina Receptor Transferrina PTNs associadas ao Metabolismo do FERRO Ferritina A Ferritina é constituída por uma proteína (apoferritina), e ferro. A apoferritina comunica-se com a superfície celular do enterócito através de seis canais, pelos quais o ferro pode entrar (e depositar-se como microcristais de óxido férrico) ou sair. A mobilização do ferro da Ferritina requer a ação de agentes quelantes e redutores (ácido ascórbico, glutation e cisteína), que penetram no interior da molécula através dos canais da ferritina, atingindo o seu núcleo em que reduzem: Fe +3 Fe +2 PTNs associadas ao Metabolismo do FERRO ESTÁGIOS DA DEFICIÊNCIA DE FERRO EM ADULTOS Parâmetro Estágio I Estágio II Estágio III Estágio IV Comentário TIBC / CTLF colorimétrico 300 - 360 360 390 410 Guarda relação com a [ ] de transferrina. A transferrina tem uma considerável capacidade de ligação ao ferro e ele estima a quantidade máxima de ferro que pode se ligar a transferrina. Ferritina < 25 20 10 < 10 A medida que a depleção aumenta a ferritina (uma PTN de armazenamento de ferro) vai reduzindo na tentativa de manter o suprimento de ferro orgânico. Absorção de ferro 10 - 15 10 -15 10 - 20 10 – 20 De forma adaptativa a capacidade de absorção de ferro vai aumentando na medida que a depleção piora Ferro sérico < 120 115 < 60 < 40 Quanto > o estágio, < o conteúdo de ferro sérico Saturação de transferrina 30 30 < 15 < 10 > Saturação de transferrina > ferro sérico Valores Bioquímicos NORMAIS Exame HEMOGRAMA HOMEM Hemoglobina 0 a 4 anos e 11 meses: > 11mg/dL 5 a 11 anos: > 11,5 mg/dL Hematócrito 0 a 4 anos e 11 meses: > 33% 5 a 11 anos: > 34% Volume corpuscular médio (VCM) 1 a 2 anos: > 74 fl 3 a 4 anos: > 76 fl Hemoglobina corpuscular média (HCM) < 24 pg RDW 14% Ferritina 0 a 5 anos: > 12g/L > 5 anos: > 12g/L – meninas > 12g/L - meninos Ferro sérico 22 a 184 g/L Saturação de transferrina 1 a 2 anos: > 10% 3 a 5 anos: > 12% 6 a 11 anos: > 14% Vitolo A principal causa da alta prevalência da anemia na infância é a restrição do mineral, tanto qualitativa como quantitativamente, bem como os elevados requerimentos de ferro nos grupos biológicos mais susceptíveis à anemia. Lactentes, crianças pequenas e a as mulheres em idade fértil são os mais vulneráveis. CAUSAS DA ANEMIA FERRORPIVA NA INFÂNCIA MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS da ANEMIA Palidez cutaneomucosa Irritabilidade e cefaleia Fadiga e dispneia Cansaço físico Fraqueza muscular Sonolência Tontura Dano no desenvolvimento psicomotor Anorexia X Geofagia e Amilofagia Retardo de crescimento Distúrbios Orgânicos na Anemia Ferropriva Pele pálida e Mucosa pálida Pálpebra inferior rosa claro Unhas Côncavas Língua – atrofia das papilas e Queilite – inflamação lábios As reservas de ferro ao nascimento, que são formadas durante o período gestacional, desempenham importante função na determinação dos fatores de risco para a Anemia durante a infância. O aleitamento materno exclusivo até 6M de vida e a manutenção do leite materno a partir dessa idade, juntamente com a alimentação complementar adequada: está relacionada à menor prevalência de Anemia. A quantidade de ferro presente no leite de vaca é de 0,6 mg/L e a absorção é de apenas 10%. Logo, o risco de Anemia é maior entre as crianças em aleitamento artificial (3x) e entre as crianças em aleitamento misto (2x) do que entre as amamentadas com leite materno. FATORES DIETÉTICOS ASSOCIADOS À ANEMIA FERROPRIVA A absorção de Ferro dos alimentos depende de vários fatores, tais como: o estado nutricional de ferro do indivíduo, por exemplo, quando há deficiência, há maior absorção. Outro fator determinante na ocorrência da Anemia é o clampeamento do cordão umbilical. O atraso do clampeamento do cordão umbilical permite a passagem continuada do sangue da placenta para o bebê durante mais 1 a 3 minutos após o nascimento. Esse breve atraso é conhecido por aumentar as reservas de ferro do bebê em até 50% aos 6 meses de idade nos bebês nascidos a termo. FATORES DIETÉTICOS ASSOCIADOS À ANEMIA FERROPRIVA Ferro DIETÉTICO Ferro NÃO HEME (Fe3+) Férrico 2 a 10% absorvidos Hortaliças, leguminosas, cereais e ovos Intensificadores de absorção (Fe3+ → Fe2+) Vitamina C e A pH ácido gástrico Ferro HEME (Fe2+) Ferroso 20 a 30% absorvidos + Solúvel + Absorvível Carnes, peixes, e aves Ferro heme e Ferro não-heme Para atingir a recomendação de Vit C: ½ laranja 1 kiwi ¼ goiaba ✓ O ferro é absorvido pelas células intestinais, ( duodeno) = é transportado na corrente sanguínea pela transferrina + receptor de transferrina e estocado nas células hepáticas como ferritina. ✓Estômago libera ácido e gastrina: Fe (+3) Fe (+2) (Fe +2: forma absorvível) Ferro no Organismo Existem fatores determinantes dos requerimentos de ferro durante a infância e são: - Reservas de ferro ao nascer; - Necessidade crescimento; - Necessidade repor perdas. Crianças pequenas, devido à capacidade gástrica reduzida, comem em pequenas quantidades; assim, os alimentos enriquecidos e fortificados devem ser indicados. A densidade de ferro nos alimentos complementares recomendada pelo MS (2002) para crianças é de: ▪ 4mg/ 100kcal dos 6 a 8 meses; ▪ 2,4 mg/ 100kcal dos 9 aos 11 meses ▪ 0,8mg/ 100 kcal dos 12 aos 24 meses. Faixa etária RDA/AI (mg) EAR (mg) UL (mg) 0 a 6 meses 0,27 6,9 40 7 a 12 meses 11 6,9 40 1 a 3 anos 7 3,0 40 4 a 8 anos 10 4,1 40 9 a13 anos - meninas 8 5,7 40 9 a 13 anos - meninos 8 5,9 40 RECOMENDAÇÃO DE FERRO PARA CRIANÇAS ✓ Programa Nacional de Suplementação de Ferro (de 6 a 24 meses) - Com a suplementação deve-se observar a absorção de Cobre e Zinco, pois a absorção destes minerais pode ser prejudicada (Chemin). SUPLEMENTAÇÃO UNIVERSAL E PROFILÁTICA DE FERRO Público alvo: Suplemento utilizado: Dosagem: Periodicidade: Crianças 6-24 meses Sulfato ferroso gotas 25 mg/mL 1 mg/Kg peso/dia Diariamente Gestantes Sulfato ferroso Ácido fólico 40 mg de ferro elementar 400mcg de ácido fólico Solução oral 0,2 mg/mL Diariamente Puérperas Sulfato ferroso 40 mg de ferro elementar Diariamente CGAN - Ministério da Saúde, 2017 CGAN - Ministério da Saúde, 2017 Fortificação das Farinhas de Trigo e Milho com Ferro • Resolução RDC n. 344 da ANVISA (2002) obrigatória a adição de ferro e ácido fólico nas farinhas de trigo e milho destinadas ao consumidor e ao uso industrial. Cada 100g de farinha deve fornecer 150mcg de folato e 4,2mg de ferro. • Para monitorar a efetividade da fortificação das farinhas como estratégias da anemia, o MS institui a Comissão Interinstitucional para Implementação, Acompanhamento e Monitoramento das Ações de Fortificação de Farinhas de Trigo, de Milho e de seus Subprodutos (Portaria n. 1.793, de 11 de agosto de 2009). CGAN - Ministério da Saúde, 2017 Tratamento Clínico da Anemia Ferropriva • OBJETIVO: – Melhorar a anemia – Reposição das reservas de ferro • Suplementação: – Ferro elementar (ferroso) – Recomendação para crianças e adolescentes: 30mg/ dia – Efeitos colaterais: constipação, diarreia, náusea, dor abdominal, especialmente em doses > 120mg/ dia – Manter a suplementação por 3 meses para correção dos depósitos de Ferro – Realizar exame bioquímico para avaliar a ferritina. Ferro elementar (Forma ferrosa) Jejum (melhor absorção com estômago vazio) ↑ irritação gástrica e intestinal INDICA-SE: ANTES das refeições Tratamento NUTRICIONAL na Anemia Ferropriva ESTRATÉGIAS NUTRICIONAIS NA PREVENÇÃO DA ANEMIA • Melhorar escolhas alimentares para ↑ ingestão de Ferro: ✓ 3x/ semana carne vermelha ✓ 2x/ dia oferecer após a refeição salgada fruta rica em Vit C ✓ Adicionar folhosos verdes escuro às preparações; ✓ Utilizar farinhas enriquecidas com Ferro; ✓ Não permitir a substituição de refeições salgadas por alimentos lácteos, biscoitos e guloseimas ou lanches. – Incluir fonte de vitamina C em cada refeição – Evitar inibidores da absorção do ferro – Leite apenas 3x/ dia longe do horário das grandes refeições QUELANTES DE FERRO Carbonatos Oxalatos Fosfatos Fitatos Fibras vegetais Chá e café (Tatnino ↓ 50%) Gema de ovo (FOSVITINA) EDTA (conservante) VCM Anemia Megaloblástica Hemoglobina Deficiência de B12 e/ou Ácido Fólico Causas • Má absorção de vitamina B12 (cobalamina): drogas como antiácidos (hidróxido de alumínio, hidróxido de magnésio), drogas bloqueadoras da secreção de suco gástrico (omeprazol, cimetidina e ranitidina), neomicina. • A vitamina B12 ingerida na dieta necessita ser liberada e transferida para proteínas transportadoras, presentes no sistema digestivo. A liberação destas proteínas dependente da secreção de ácido hipoclorídrico e pepsina. Quando a secreção destes está diminuída devido à ação dos medicamentos, ocorre a supressão da cobalamina ingerida. • Má absorção de folato: fenobarbital, primidona, trimetoprim, fenitoína e contraceptivos orais. Observou-se que os anticoncepcionais hormonais causam aumento da excreção urinaria da vitamina, ou defeito na absorção do folato. Outra hipótese é que estas drogas induzam um aumento da demanda de folatos nos órgãos reprodutivos. • Fármacos como metotrexato, sulfazalazina e pirimetamina causam inibição da conversão do ácido fólico a folínico, enquanto que o catabolismo do folato é acelerado quando se administra fenitoína, podendo também, apresentar efeito direto sobre a síntese de DNA in vitro. • Os anticonvulsivantes podem determinar carência de folato por mecanismos ainda desconhecidos. Os alimentos ricos em vitamina B12 são especialmente de origem animal, como peixes, carnes, ovos, queijo e leite REFERÊNCIAS • ACCIOLY, E. et al. Nutrição em Obstetrícia e Pediatria. 2ª ed. - Rio de Janeiro: RJ, Cultura Médica: Guanabara Koogan, 2012. • VITOLO, M.R. Nutrição - Da Gestação ao Envelhecimento. 2ª Edição, Ed. Rubio, 2014. • Weffort, R.S.; Lamounier, J. A. Nutrição em Pediatria: da neonatologia à adolescência. 2ª Edição, Ed. Manole, 2017. • MAHAN, L.K., ESCOTT-STUMP, S. Krause: Alimentos, Nutrição e Dietoterapia. 13ª Edição, São Paulo: Elsevier, 2013. • CHEMIN, S.M. & MURA, J.P. Tratado de Alimentação, Nutrição e Dietoterapia. 2ª edição. São Paulo: Roca, 2011.
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