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Maquiavel: O cidadão sem fortuna, o intelectual de virtú - Os clássicos da Política

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Maquiavel 
Mesmo sendo visto de diversas formas (mestre da 
maldade ou conselheiro que alerta os dominados contra 
a tirania, por exemplo), o nome Maquiavel e os termos 
derivados deste, são muito mais conhecidos do que o 
autor e a obra. Sobre o autor, sua preocupação em todas 
as suas obras é o Estado. Não o melhor Estado, aquele 
tantas vezes imaginado, mas que nunca existiu, mas sim 
o Estado capaz de impor a ordem. Seu ponto de partida e 
de chegada é a realidade concreta. Verita effettuale: A 
verdade efetiva das coisas, esta é a regra metodológica de 
Maquiavel: Ver e examinar a realidade tal como ela é e 
não como se gostaria que ela fosse. Assim, e com seus 
questionamentos: como fazer reinar a ordem? Como 
instaurar um Estado estável? O autor promove uma 
ruptura com o saber que existiu ao longo dos séculos; 
coloca fim à ideia de uma ordem natural e eterna. Gera 
uma indagação radical e de uma nova articulação sobre o 
pensar e fazer política. 
Analisando o passado, é possível prever o futuro de 
determinada sociedade, pois a história é cíclica e é dessa 
forma por que é impossível extinguir as paixões e os 
instintos humanos. 
A presença inevitável em todas as sociedades, de duas 
forças opostas “uma das quais provém de não desejar o 
povo ser dominado nem oprimido pelos grandes, e a outra 
de quererem os grandes dominar e oprimir o povo”. O 
principado e a república, são as respostas a anarquia 
decorrente da natureza humana e do confronto entre os 
grupos sociais, porém, o regime a ser instaurado depende 
da situação em que a sociedade se encontra. Quando a 
nação se encontra ameaçada, é necessário um governo 
forte, que crie e coloque seus instrumentos de poder para 
inibir a vitalidade das forças desagregadoras. O príncipe é 
um agente de transição em uma fase em que a nação se 
acha ameaçada de decomposição. Já, quando a sociedade 
encontra formas de equilíbrio, ela está preparada para a 
república. 
Maquiavel enfrentou também a crença na predestinação. 
A atividade política exigia virtú, o domínio sobre a 
fortuna. Fortuna está relacionada á uma determinada 
situação ou circunstância (política, econômica, social, etc) 
que pode colocar em risco a manutenção do poder do 
governante. A fortuna é a sorte. Para o governante 
manter seu estado, ele não poderia contar apenas com 
suas características pessoais, mas com um pouco de 
sorte, tanto para o bem, quanto para o mal. A sorte aqui 
refere-se a oportunidade, acaso, destino. 
Uma circunstância ou situação não pode acabar com um 
governo ou com seu governante desde que este tenha a 
virtú (habilidade). Qualidades e habilidades pessoais do 
governante em conseguir manter o seu governo, ou 
utilizar isso para atingir determinados objetivos. A virtú 
seriam as qualidades pessoais, únicas, próprias do 
governante em se manter e manter seu governo estável. 
Cap I: Todos os Estados que exercem ou exerceram poder 
sobre os homens, foram e são repúblicas ou principados. 
Os principados são hereditários ou novos. Se novos, ou 
são totalmente novos ou anexados á algum Estado 
hereditário que os adquiriu. 
Cap II: É muito mais fácil manter um Estado hereditário 
do que um estado novo. Basta apenas manter nele a 
ordem estabelecida pelos antepassados. 
Cap III: Quando o principado é misto (um é anexado a 
outro), as dificuldades são maiores, pois os homens estão 
acostumados a se rebelar e lutar contra quem os governa, 
na crença de um governante melhor surgir. Quando o 
povo não está habituado a viver livre, é mais fácil dominá-
lo e manter seu poder (extinguindo a linhagem do 
príncipe que os dominava e não modificando as antigas 
condições como leis e impostos). Mesmo que a língua seja 
diferente, os costumes são semelhantes e, portanto, não 
é tão difícil a harmonização entre os povos. 
Quando se adquirem Estados numa província com língua, 
costumes e instituições diversas, começam as 
dificuldades. Um dos meios para evitar conflitos e tornar 
o principado duradouro, é o príncipe nele residir. Estando 
lá, o príncipe toma conhecimento de qualquer desordem 
que possa acontecer e a resolve rapidamente. Por outro 
lado, a população fica feliz ao saber que o príncipe está 
tão perto e que podem recorrer á ele facilmente. 
Outro meio eficaz é colonizar o novo Estado pois há 
poucas despesas e prejudica poucas pessoas, tirando o 
campo de algumas para dar aos novos habitantes. Ao tirar 
o campo, essas pessoas são poucas para se rebelar contra 
o príncipe, mas em contrapartida, essa ação gera um 
certo receito em outros cidadãos, que, com medo de que 
o mesmo aconteça com eles, passam a ser mais fiéis. 
Ter um exército gera muito mais custos, sua manutenção 
drena os recursos dos Estados, a quantidade de pessoas é 
maior, portanto, o espaço necessário para abrigá-las seria 
maior também, ocupando residências particulares e 
gerando a ira nos cidadãos. Os exércitos são tão inúteis, 
quanto úteis são as colônias. 
Cap IV: Os principados foram governados de duas formas 
distintas – Um príncipe (suprema autoridade) que tem 
servidores que o ajudam a governar aquele reino ou, um 
príncipe e barões que são antigos e não podem ser 
destituídos de suas funções pelo rei. 
Cap V: Quando se conquista um país que antes vivia em 
liberdade, há três maneiras de conservá-lo: Destruí-lo, ir 
morar nele ou deixa-lo viver com suas leis, exigindo-lhe 
um tributo e estabelecendo nele um governo de poucas 
pessoas que o mantenham fiel ao conquistador. 
Cap VI: Nos principados inteiramente novos, onde existe 
um novo príncipe, a dificuldade vai variar de acordo com 
a virtú deste governante. 
Cap VII: Alguns chegam à condição de príncipe sem 
nenhum esforço, voam nas asas da fortuna, e só veem as 
dificuldades depois de subir ao poder. Assim, não podem 
e nem conseguem se manter. Não possuem aptidão para 
governas. Também, os Estados que surgem e crescem 
depressa, não tem raízes ou estruturas necessárias para 
sua consolidação. Na primeira tempestade o Estado será 
extinguido, a menos que o príncipe seja virtuoso e consiga 
conservá-lo. Apenas a virtude do príncipe pode salvar. 
Cap VIII: Existe dois meios pelo qual o cidadão pode 
chegar ao principado – práticas criminosas ou através do 
favor de outro concidadão. 
Cap IX: Um cidadão pode se tornar príncipe com a ajuda 
de seus compatriotas e isso constitui um principado civil. 
Para alguém governá-lo, não é necessário ter 
exclusivamente virtú ou fortuna, mas sim uma astúcia 
afortunada. Das tendências opostas de não desejar o 
povo ser dominado nem oprimido pelos grandes e da 
vontade dos grandes de dominar e oprimir o povo, 
surgem nas cidades, o principado ou a liberdade ou a 
anarquia. O principado origina-se da vontade do povo ou 
da dos grandes, conforme a oportunidade se apresente a 
uma ou outra dessas duas categorias de indivíduos. 
Vendo uma parte ou outra que não podem fazer frente 
entre si, começam a dar força a um de seus pares, até que 
este se torne o governante e conquistem seus interesses 
de forma velada. 
Quem sobe ao poder com ajuda dos grandes encontra 
muitas dificuldades, porém que sobe com o favor popular 
não encontra em torno de si ninguém ou quase ninguém 
que não esteja disposto a obedecer-lhe. O intento dos 
pequenos é mais honesto do que os grandes, pois 
enquanto os grandes querem oprimir, os pequenos não 
querem ser oprimidos. 
Cap X: Quando o príncipe tiver homens e dinheiro 
suficiente, pode se defender sozinho em uma batalha. 
Porém, quando não estiver nessas condições, deve 
recorrera ajuda alheia. 
Cap XI: Principados eclesiásticos – “Nesses, todas as 
dificuldades consistem em adquirir-lhes a posse; porque, 
para isso, cumpre ter virtude [virtù] ou boa sorte. Para 
conservá-los, porém, nem de uma nem de outra coisa se 
necessita. As antigas instituições religiosas que lhes 
servem de base são tão sólidas e de tal natureza,que 
permitem aos príncipes manterem-se no poder seja qual 
for o modo como procedam e vivem. Os chefes destes 
principados são os únicos que têm Estados e não os 
defendem, que têm súditos e não os governam. Os seus 
Estados, embora indefesos, ninguém lhos tira, e os seus 
súditos, conquanto livres da tutela governamental, não se 
preocupam com isso, nem buscam ou podem subtrair-se 
à soberania deles. Tais principados são, pois, os únicos 
seguros e felizes”. 
Cap XII: Os principais alicerces de qualquer Estado, seja 
ele novo, velho ou misto, consiste nas boas leis e nos bons 
exércitos. Existem diversos tipos de tropas com que um 
príncipe defende seu Estado: próprias, mercenárias, 
auxiliares e mistas. As mercenárias e auxiliares são inúteis 
e perigosas. Tropas mercenárias são desunidas, 
ambiciosas, sem disciplina e infiéis. 
Cap XIV: Os príncipes devem ter como prioridade as 
armas e a arte da guerra, só assim podem manter seu 
Estado. 
Cap XV: Se infere que um príncipe que quer se conservar 
no poder, tem de aprender os meios de não ser bom e a 
fazer uso ou não deles, conforme as necessidades. 
Cap XVIII: Existe dois modos de combater, um com as leis 
(homem), outro com a força (animal), e a um príncipe é 
importante saber comportar-se como os dois, quando 
necessário. Um príncipe sábio não pode e nem deve se 
manter fiel as suas promessas quando, extinta a causa 
que o levou a fazê-las, o cumprimento delas lhe traz 
prejuízo. Um príncipe deve ser extremamente cauteloso 
em só pronunciar palavras bem repassadas das cinco 
qualidades referidas, para que todos, ouvindo-o e vendo-
o, o creiam a personificação da clemência, lealdade, 
brandura, retidão e religiosidade. Não é necessário a um 
príncipe ter todas as qualidades mencionadas, mas é 
indispensável que pareça tê-las. 
Cap XIX: Se usurpar os bens e as mulheres de seus súditos, 
o príncipe acarretará ódio para si. Deve tomar cuidado 
com suas atitudes e decisões, para não passar a imagem 
de ser leviano, inconstante, covarde, entre outros. Suas 
ações devem representar sua grandeza, coragem, 
austeridade e vigor. Assim, terá autoridade, e essa 
autoridade juntamente com o amor dos súditos, faz com 
que dificilmente alguém o questione ou conspire contra 
ele. O príncipe deve tomar cuidado com dois perigos: O 
interno (vindo dos súditos) e o externo (proveniente de 
estrangeiros). Quanto aos estrangeiros, se tiver boas 
armas e aliados, estará a salvo. Quanto aos súditos deve 
estar sempre atento, porém se evitar o ódio e o desdém 
contra si, além de captar a amizade dos que os servem, 
estará a salvo.

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