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UNIDADE 01 Noções Introdutórias: conceitos de consumidor, fornecedor e formação da relação de consumo. Riscos de desenvolvimento. O Estado como fornecedor. Direitos básicos dos consumidores e princípios fundamentais. Da qualidade dos produtos e serviços e a proteção do consumidor. Responsabilidade civil pelo fato e pelo vício do produto e do serviço. Defeito do produto/serviço. Excludentes da responsabilidade civil no CDC. Prazos prescricional e decadencial. 1. A Relação de Consumo A Lei n° 8078/90, intitulada Código de Defesa do Consumidor (CDC), inaugurou o amparo normativo nominal e sistematizado para a defesa das relações de consumo. Seu primeiro dispositivo apresenta sua justificação constitucional (enquanto direito fundamental – art. 5, CF - e princípio da ordem econômica – art. 170, CF). Em seguida, passa a conceituar os destinatários e objeto de sua proteção. É assim que nos arts. 2° e 3° passa a apresentar os elementos subjetivo (consumidor e fornecedor), objetivo (produto e serviço) e teleológico (finalidade - destinatário final) da relação de consumo. A lei conceitua como consumidor: (i) toda pessoa física ou jurídica que adquire bem ou serviço como destinatário final (conceito standard – art. 2°, caput, CDC). É necessário aqui que, independentemente de se tratar de pessoa física ou jurídica, aquele que retira do mercado de consumo um bem ou serviço o faça como destinatário final. Relativamente à figura da pessoa jurídica como consumidora, existem correntes doutrinárias para explicar essa situação, ora flexibilizando e entendendo tratar-se sempre de consumidora (teoria maximalista), ora entendendo-se necessário avaliar quando a pessoa jurídica é destinatária final fática e econômica do bem retirado do mercado de consumo (teoria finalista) e, ainda, uma terceira corrente que tem sido aceita pelo Superior Tribunal de Justiça que se utiliza do critério finalista e subjetivo, ou seja: a pessoa jurídica para ser considerada consumidora deve mostrar- se vulnerável ou não ter fins lucrativos e, ainda, demonstrar que o bem ou serviço que adquiriu está fora de seu âmbito de especialidade, não sendo insumo ou bem de produção do produto ou serviço final que coloca no mercado; (ii) coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis que haja intervindo nas relações de consumo (art. 2°, par.ún., CDC); todas as vítimas de um acidente de consumo, ainda que não tenham adquirido diretamente o bem ou contratado o serviço (art. 17, CDC) e todas as pessoas expostas às práticas comerciais, elencadas no Capítulo V do CDC. Essas três hipóteses indicam o conceito de consumidor por equiparação, ou seja, aquele que se afeta com a existência de uma relação de consumo de maneira coletiva ou ainda que não tenha dela participado diretamente, remunerando o bem ou o serviço. Por fornecedor, entende-se (art. 3°, caput. CDC): (i) toda pessoa física (que, com habitualidade e mediante remuneração disponibilizam bens ou serviços no mercado de consumo) ou jurídica; (ii) pública ou privada; (iii) nacional ou estrangeira; (iv) os entes despersonalizados, identificado por pessoa(s) física(s) e que possuem uma espécie de fundo de comércio, ainda que não formalizada (p.ex. camelôs e barracas de venda de alimentos na rua); (v) [todos e quaisquer desses] que desenvolvam atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. Como se vê o tipo legal amplo proporciona a consideração de todas as espécies de fornecimento, da produção à disposição final ao consumidor; (vi) Fornecedor possui habitualidade e obtenção de lucro e deve estar ligado a uma atividade fim. Elementos objetivos da relação de consumo: (i) Produto - qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial (art. 3°, §1°, CDC); (ii) Serviço - qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, ainda que indireta, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista. A ADI n° 2591 pretendeu afastar as instituições financeiras das relações de consumo, mas não obteve êxito (v. abaixo link sobre). Diante desses elementos pode-se extrair o conceito de relação de consumo: aquela em que um consumidor, pessoa física ou jurídica retira do mercado de consumo, a título gratuito ou oneroso, um bem ou serviço, como destinatária final. Em uma relação de consumo, o fornecedor que se apresenta no mercado, inclusive o ente público, assume todos os riscos da sua atividade de maneira direta e objetiva (teoria do risco), que contempla o fortuito interno, ou seja, aquele que, em virtude do negócio, é extremamente possível que aconteça, embora fortuito. Pressupõe-se a sua expertise técnica para o negócio ao qual se propõe, não se admitindo, via de regra, qualquer escusa para a má prestação de sua atividade, àquilo a que se propõe no mercado. Pondera-se, no entanto, tendo já decisões nesse sentido, que o fortuito externo - aquele que não está ligado diretamente às condições e riscos que razoavelmente se esperam na espécie de negócio (produto ou serviço) colocado no mercado – é causa excludente de responsabilidade do fornecedor. 2. Princípios norteadores e Direitos básicos Os princípios (art. 4°, CDC) e direitos básicos (art. 6°, CDC) nortearão todas as relações de consumo. Princípios têm por “objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo” (art. 4°, caput, CDC) e são (art. 4°, I a VIII, CDC): (i) reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo – pressuposto máximo de toda a relação de consumo, dada a clara diferença de equilíbrio na relação entre consumidor e fornecedor. Consagração do princípio constitucional da isonomia; (ii) ação governamental no sentido de proteger efetivamente o consumidor, por: iniciativa direta, incentivo à criação e desenvolvimento de associações representativas, presença do Estado no mercado de consumo, garantia de produtos e serviços com padrões adequados de qualidade, segurança, durabilidade e desempenho; (iii) harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica – evidenciando-se a proteção ao mercado de consumo como um todo; (iv) boa-fé – pressuposto imediato a consumidor e fornecedor; (v) equilíbrio nas relações de consumo – de acordo com o princípio da isonomia também; (vi) educação – para a formação (letramento) de consumidores, prévia à informação; (vii) informação – para atividade consciente no mercado; Educação e informação são aspectos atinentes a fornecedores e consumidores, quanto aos seus direitos e deveres, para a melhoria do mercado de consumo. (viii) incentivo à criação pelos fornecedores de meios eficientes de controle de qualidade e segurança de produtos e serviços, assim como de mecanismos alternativos de solução de conflitos de consumo – questiona-se muito a arbitragem para as relações de consumo em virtude do princípio da vulnerabilidade. Ademais, há direitos consumeristas indisponíveis que, por si só, afastam, a possibilidade de arbitragem (v. Lei n° 9307/96); (ix) coibição e repressão eficientes de todos os abusos praticados no mercado de consumo, inclusive a concorrência desleal e utilização indevida de inventos e criações industriais das marcas e nomes comerciais e signos distintivos, que possam causar prejuízos aos consumidores – nota-se a proteção ao mercado como um todo e à atenção das regras consumeristas como princípio da ordem econômica e que deve se harmonizarcom os demais insculpidos no art. 170, CF; (x) estudo constante das modificações do mercado de consumo; (xi) racionalização e melhoria dos serviços públicos – vez que o Estado pode ser fornecedor. Lembre-se de que princípios são inspirações e diretrizes à adequada aplicação da lei. Podem ser positivados ou não e se constituem norma jurídica à medida em que são considerados fontes do direito para a integração normativa (art. 4°, LINDB). Entre eles não há hierarquia, de modo que devem ser todos considerados em equilíbrio e harmonia diante de uma situação posta em conflito. A antinomia, portanto, para eles é aparente e não pode ser real. Os direitos básicos também se constituem diretivas para a relação consumerista, estão para o CDC assim como os direitos fundamentais estão para a Constituição Federal. Pode-se dizer que são um núcleo mínimo de respeito e proteção. São eles (artigo 6°, I a X, CDC): (i) proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos; (ii) educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações; (iii) informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem – a informação é um dos direitos mais elementares e importantes para as relações de consumo: corresponde a um dever do fornecedor. Não basta que exista: deve ser também adequada ao público a que se destina, bem como verdadeira. Recentemente houve uma inovação legislativa, com a inserção da discriminação dos tributos na composição do preço também como direito básico do consumidor. (iv) proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços; (v) modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes – apenas fatos supervenientes e não quaisquer fatos - que as tornem excessivamente onerosas; (vi) efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos; (vii) acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica, administrativa e técnica aos necessitados; (viii) facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação e quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências – este direito tem caráter eminentemente processual e será comentado em tópico pertinente, abaixo. ATENÇÃO! Não deixe de ler a parte processual sobre este tema, na UNIDADE 02; (ix) adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral. Você notará que estes aspectos gerais, insculpidos nos princípios e direitos serão mais detalhados nas normas que passaremos a analisar, podendo-se dizer, então, que dos artigos 1° ao 7° o CDC apresenta uma parte geral, seguindo-se dos tipos civis especiais. 1. Da qualidade dos produtos e serviços e a proteção do consumidor Qualidade dos produtos e serviços constitui-se a proteção do consumidor em amplo espectro: integridade física e patrimonial. Dependendo do objeto (saúde/segurança ou patrimônio), a proteção se apresenta sob uma modalidade de responsabilidade civil, não se afastando, qualquer que seja, de sua característica principiológica (art.4°, caput, CDC) e de sua natureza jurídica de direito básico (art. 6°, I e VI, CDC). O Capítulo IV do CDC traz o tema dividido em cinco sessões: proteção à saúde e à segurança; responsabilidade pelo fato de produto/serviço; responsabilidade pelo vício de produto/serviço; decadência e prescrição e desconsideração da personalidade jurídica. É pressuposto legal que os bens e serviços colocados no mercado de consumo sejam seguros, não acarretem riscos à saúde e segurança do consumidor, além dos inerentes e previsíveis e, ainda, assim, que sejam estes ostensiva e claramente informados, com a adoção, ainda, pelo fornecedor, de medidas quaisquer outras medidas necessárias e pertinentes (arts. 8° e 9°, CDC). Ademais, não pode o fornecedor colocar no mercado produto nocivo ou perigoso e, caso isto ocorra, com a descoberta posterior de um problema no processo produtivo que conceda ao produto característica de nocividade ou periculosidade, a sociedade deverá ser alertada e o produto retirado do mercado (art. 10). A isto dá-se o nome de recall. Além de cuidar para que o produto não gere [mais] danos, com a informação ampla à sociedade, por meio de publicidade, e ao Estado, deve o fornecedor sanar o problema do produto, com o conserto ou troca, conforme o caso. As regras de recall também estão descritas na Portaria MJ 487/12. 2. Responsabilidade civil pelo fato e pelo vício do produto e do serviço. Defeito do produto/serviço Temas disciplinados nas Seções II e III do Capítulo V do CDC apresentam diferenciação conceitual e de responsabilidade civil muito importantes para você conhecer. Portanto, fique atento aos elementos e proteção que a lei imprime para adequadamente identificar a proteção legal para o caso concreto que se lhe apresentar. Consideremos o termo defeito. Nos referimos cotidianamente a ele, não é? Entendemos como sendo aquele problema que um produto ou serviço apresentou e que inutiliza ou compromete a funcionalidade do bem temporária ou definitivamente. Pois bem, essa utilização do termo defeito é amparada pela lei, mas não com esta denominação. Defeito, como consideramos agora a sua conotação, é o que o CDC chama de vício. Mas também há uma definição técnica jurídica, legal, para o termo defeito: o de acidente de consumo ou fato de produto/serviço. Diante dessas considerações, depreende-se: (i) defeito em sentido coloquial é sinônimo de vício (arts. 18 a 22, CDC) e corresponde a um dano intrínseco ao produto ou ao serviço. Nele se contém. A ele não extrapola. Indica uma impropriedade ou inadequação na qualidade ou quantidade do produto ou serviço, ou seja, produtos cujos prazos de validade estejam vencidos (e que não tenham causado danos à saúde do consumidor); produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos à vida ou à saúde, perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as normas regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação; produtos ou serviços que, por qualquer motivo, se revelem inadequados ao fim a que se destinam ou que não atendam as normas regulamentares de prestabilidade (arts. 18, §6° e 20, §2°, CDC); (ii) defeito em sentido jurídico é acidente de consumo, fato de produto/serviço (arts. 12 a 14, CDC) e extrapola o âmbito do produto ou serviço, atingindo a saúde, segurança ou patrimônio do consumidor. Um produto ou serviço, de acordo com os arts. 12, §1° e §2° e 14, §1° e § 2°, CDC, não pode ser considerado defeituoso quando, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes de: apresentação (produto) ou modo de fornecimento (serviço); o uso (produto) ou resultado (serviço) e os riscos que razoavelmente dele se esperam; a época em que foi colocado em circulação (produto) ou fornecido (serviço) e/ou quando outro produto de melhor qualidade ter sido colocado no mercado ou forem adotadas novas técnicas para a execução do serviço. Lembre-se que é direito básico das relações de consumo (v. tópico supra) o acompanhamento das novas técnicas. Pois bem. Entendida a diferenciação conceitual, passa-se à previsão legal para a responsabilidade civil em cada caso, tendo-se em mente que a regra geral é a daresponsabilidade objetiva (independente de culpa) e solidária (art. 7°, par.ún, CDC - igual para todos) dos fornecedores indicados em cada tipo legal a seguir em comento, com algumas exceções, como se demonstrará. Como fato de produto/serviço indica periculosidade ou nocividade do bem jurídico colocado no mercado de consumo, normalmente refere-se a uma falha no processo produtivo e, portanto, via de regra, a responsabilidade é de todos os fornecedores que integraram a cadeia produtiva. Veja: Art. 12, caput, CDC - O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos. Repare que o tipo legal traz todos os verbos possíveis para a descrição de qualquer parte do processo produtivo: essa é a exegese da lei! E, para serviço: Art. 14, caput, CDC - O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. Nos dois dispositivos, também, há a clara indicação da responsabilidade objetiva dos fornecedores. Neste ponto, cabe ponderar sobre duas exceções. A primeira consiste na indicação excepcional e taxativa da agregação da responsabilidade solidária do comerciante, consoante o art. 13, CDC, quando: (i) o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser identificados; (ii) o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor, construtor ou importador; (iii) não conservar adequadamente os produtos perecíveis. Não se trata, neste passo, de excludente de responsabilidade de qualquer um dos fornecedores da relação em conflito, mas somente a integração do comerciante, em virtude de circunstâncias muito específicas, no rol de co-responsáveis. As excludentes serão tratadas em tópico específico, adiante. Ressalte-se que o fornecedor que, sob o modelo de responsabilidade legal, reparar o dano ao consumidor, terá direito de regresso relativamente aos demais pares da cadeia de consumo, de acordo com sua participação no evento danoso (art.13, par.ún., CDC). A outra ponderação corresponde à única exceção do CDC para a responsabilidade objetiva: a do profissional liberal. Admite o art.14, §4°, CDC que exclusivamente para o profissional liberal que tiver ocasionado acidente de consumo, a responsabilidade será subjetiva. TRATA-SE DA ÚNICA EXCEÇÃO À RESPONSABILIDADE OBJETIVA NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. O prazo decadencial para reclamar de defeito/acidente de consumo/fato de produto ou serviço, segundo o art.27, CDC, é de cinco anos. Por sua vez, sendo o vício um problema de qualidade NO produto ou NO serviço (e a eles adstrito), a solução para a reparação de danos é diversa. Para os vícios de qualidade de produtos ou serviços duráveis e não duráveis, os fornecedores (todos os envolvidos na relação de consumo posta: do fabricante ao comerciante) respondem solidária (art. 18, caput, CDC) e objetivamente (art.7°, par.ún., CDC), aos danos, bem como à disparidade, com a indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza. Oportuniza-se ao consumidor, diante do vício de qualidade de produto, então (art.18, §1°, CDC): (i) a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso. Admite-se a substituição por produto de espécie, marca ou modelo diversos, mediante complementação ou restituição de eventual diferença de preço (art.18, §4°, CDC); (ii) a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; (iii) o abatimento proporcional do preço. Uma destas hipóteses, via de regra, deve ser exigida pelo consumidor se, após 30 dias, o fornecedor não sanar o vício. Tal prazo pode ser convencionado expressamente entre as partes (e não em contrato de adesão e nem como excludente de responsabilidade de quaisquer dos fornecedores da cadeia de consumo) entre sete e 180 dias (art.18, §2°, CDC). Todavia, este prazo passa a ser desconsiderado, podendo o consumidor valer-se das alternativas acima indicadas, se o produto lhe for essencial ou em razão da extensão do vício, ocasionando a diminuição do valor do produto (art. 18, §3°, CDC). E, no caso de fornecimento de produtos in natura, será responsável perante o consumidor o fornecedor imediato, exceto quando identificado claramente seu produtor (art. 18, §5°, CDC). #DICA É COMUM EM PROVAS ENTENDER QUE A RESPOSTA IMEDIATA EM CASO DE VÍCIO APARENTE É A RESTITUIÇÃO DO VALOR PAGO (DINHEIRO) AO CONSUMIDOR. Para o caso de vício de qualidade de serviço, as hipóteses de reparação são similares, determinando, alternativamente e à escolha do consumidor: (i) a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível, que poderá ser confiada a terceiros e por conta e risco do fornecedor (art.20, §1°); (ii) a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; (iii) o abatimento proporcional do preço. O serviço público prestado diretamente pelo Estado ou por concessionárias e permissionárias também tem essa proteção legal, com a especificidade de que, por sua natureza, devem ser adequados, eficientes e seguros e quanto aos essenciais (v. art. 11, Lei n° 7783/89), contínuos (art.22, CDC). Quanto ao vício de quantidade, a regra é a prescrita no art.19, CDC: Art. 19. Os fornecedores respondem solidariamente pelos vícios de quantidade do produto sempre que, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, seu conteúdo líquido for inferior às indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou de mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha: I - o abatimento proporcional do preço; II - complementação do peso ou medida; III - a substituição do produto por outro da mesma espécie, marca ou modelo, sem os aludidos vícios; IV - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos. § 1° Aplica-se a este artigo o disposto no § 4° do artigo anterior. § 2° O fornecedor imediato será responsável quando fizer a pesagem ou a medição e o instrumento utilizado não estiver aferido segundo os padrões oficiais. Os vícios podem ser aparentes (imediatamente identificáveis) ou ocultos (identificados de maneira não imediata e que não sejam originários do desgaste natural do produto ou da má utilização pelo consumidor). A caracterização de um ou outro interfere no dies a quo do prazo de decadência: para o aparente da entrega do produto ou término da execução do serviço (art.26, §1°, CDC) e para o oculto, assim que for dada ciência (art.26, §3°, CDC). Ademais, os prazos decadenciais fixam-se de acordo com a natureza do bem: se duráveis (p. ex. eletroeletrônicos, máquina fotográfica, vestuário...), 90 dias e não duráveis, 30 dias (p.ex. alimentos..). 3. Excludentes da responsabilidade civil no CDC Pela disciplina do CDC, admite-se a excludente de responsabilidade em raras situações. Em se tratando de fato de produto/serviço, as hipóteses em que se exonera o fornecedor de responsabilidade são taxativas (arts. 12, §3° e 14, §1°) e quando provar que: (i) não colocou o produto no mercado ou não prestou o serviço; (ii) embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste; (iii) a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro A letra do CDC não traz mais nenhuma hipótese de excludente de responsabilidade e, ao contrário,para o caso de vício, reforça em seu art. 21, que a ignorância do fornecedor quanto à existência do vício não o desonera de seu ônus reparatório. Majoritariamente a doutrina afasta as excludentes de caso fortuito e força maior nas relações de consumo, diferentemente para a disciplina puramente civil. Modernamente, no entanto, passou-se a considerar o caso fortuito numa situação muito especial, como possível excludente de responsabilidade para o Direito consumerista: o fortuito externo, isto é, aquele absolutamente ligado a ato da natureza e desvinculado de qualquer variável do negócio do fornecedor. Este desconsiderado como eventual excludente de responsabilidade. QUESTÕES DE FIXAÇÃO 1. Quaisquer fatos são possíveis de suscitar a revisão contratual? Explique. 2. Conceitue o sujeito fornecedor na relação de consumo. 3. Quais os princípios nas relações de consumo? 4. Quais os direitos básicos nas relações de consumo? 5. Diferencie conceitualmente fato de produto de vício de produto. 6. Indique a responsabilidade civil em caso de defeito. 7. Quais são os prazos de decadência em caso de vício e de fato de produto/serviço? 8. Caso fortuito e força maior são considerados excludentes de responsabilidade para as relações de consumo?
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