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TB0231 Este documento é autorizado apenas para uso para revisão do educador por Oscar Javier Celis Ariza, Universidade Estacio de Sá até Março de 2016. Cópia ou postagem é uma infração de copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu ou 617.783.7860 JOHN M. ZERIO MARCO A. CONEJERO Resíduos no Brasil: Um Grande Mercado Emergente Introdução Até o final de 2005, o Brasil tinha começado a consolidar sua transformação econômica histórica. De um passado de inflação descontrolada e desgoverno econômico a um futuro de moeda estável, crescimento econômico sólido, e balanças comerciais positivas, o progresso econômico tinha trazido expectativas mais altas e menores contrastes entre classes, regiões e comunidades. Um dos problemas mais difíceis enfrentados por países emergentes rápidos como o Brasil foi a criação e a gestão de infraestruturas de serviços básicos. Uma infraestrutura deficiente tinha impacto negativo na capacidade econômica de um país e efetividade na produção e distribuição de mercadorias e serviços; contudo, a área de serviços humanos básicos tinha os efeitos mais degradantes. As classes desamparadas do Brasil eram mal atendidas cronicamente e suas necessidades ignoradas por sucessivas administrações. A elite política do país reconheceu que tinha chegado a hora de tratar das necessidades humanas mais básicas com novas políticas, elevados investimentos de capital, e uma nova mentalidade. A gestão de resíduos sólidos tornou-se uma prioridade maior na administração do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (conhecido popularmente como Lula). Crescimento demográfico, afluência econômica, maior consumo, e urbanização continuaram a aumentar a taxa de geração de resíduos sólidos. O problema foi criado pelo fato de que a capacidade de processamento de resíduos atual estava sob grave pressão em grandes áreas demográficas urbanas brasileiras, e praticamente ruía em grandes áreas do país. Além disso, as práticas atuais contribuíram para a liberação de grandes quantidades de gás metano, um gás estufa (GHG), na atmosfera, e poluíram o solo e a água em uma grande porcentagem de municípios pequenos e de tamanho médio. Não obstante seu sucesso econômico entre os países emergentes, o Brasil enfrentou grandes dificuldades no financiamento de investimentos em projetos de infraestrutura. As necessidades da sociedade agora, em 2010, eram muitas vezes maiores que a capacidade do governo de financiar, executar e gerenciar tais empreendimento de larga escala. O pensamento inovador, a abertura ao compartilhamento de riscos, a resolução política foram necessárias para instalar soluções que acelerariam o fornecimento de serviços de gestão de resíduos em ampla escala e com a qualidade que a sociedade brasileira exigia. Gestão de Resíduos Sólidos - Um Problema Global O crescimento econômico, a expansão de atividades industriais, a crescente urbanização, e um número maciço de novos consumidores de países emergentes entrando na economia de mercado contribuíram para um aumento rápido no volume de resíduos sólidos no mundo inteiro. Isso representa um crescente desafio de gestão para comunidades e governos. Prevê-se que quase 1,8 bilhões de toneladas de resíduos sólidos tenham sido geradas apenas em 2003. 1 A situação é mais grave em países emergentes onde a infraestrutura é normalmente insuficiente, as comunidades são mal atendidas, e os governos são dominados pela falta de recursos. O Banco Mundial previu que em países em desenvolvimento, era característico que municípios gastassem entre 20%-50% de seu orçamento disponível na gestão de resíduos sólidos (depósito em campo aberto com queima a céu aberto é o padrão), embora 30%-60% de todos os ___________________ 1 Global Waste Management Market Report, 2004a. Copyright © 2010 Thunderbird School of Global Management. Todos os direitos reservados. Este caso esteve preparado pelo Professor John M. Zerio e Marco A. Conejero, doutorando da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto, para fins de discussão em sala de aula apenas, e não para indicar gestão eficaz ou ineficaz 2 TB0231 Este documento é autorizado apenas para uso para revisão do educador por Oscar Javier Celis Ariza, Universidade Estacio de Sá até Março de 2016. Cópia ou postagem é uma infração de copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu ou 617.783.7860 resíduos sólidos urbanos tenham permanecido não recolhidos, e menos de 50% da população tenha sido atendida. Em contraste, o custo da gestão de resíduos sólidos adequada no mundo desenvolvido foi menos de 10% do orçamento nacional. 2 As Diferentes Realidades do Brasil O Brasil é o quinto maior país no mundo, e tem um terço das florestas do mundo. Em 2004, ele tinha uma população de 180 milhões, e seu produto interno bruto era o décimo do mundo. Além disso, o Brasil é o país mais industrializado da América Latina, e São Paulo é a terceira maior cidade no mundo. Sua base industrial inclui aço, automóveis, aeronaves, energia hidrelétrica, energia nuclear e eletrônicos. Contudo, em 2004, aproximadamente 25% da população ainda vivia abaixo da linha da pobreza. Os grupos de baixa renda tinham acesso limitado a cuidados de saúde, educação, contratação, água limpa e serviços de saneamento. O Brasil tinha uma das mais elevadas taxas de desigualdade de renda, com a renda dos 20% mais ricos igual a 33 vezes a renda dos 20% mais pobres. O coeficiente Gini do Brasil, comumente usado como indicador da qualidade da distribuição de renda, era 0,55 em 2002, colocando-o em igualdade com África do Sul, Bolívia e Haiti. O desenvolvimento humano desigual permaneceu o maior desafio para o governo brasileiro. Embora saudado como salvador pelas classes de renda baixo e como um bom administrador pelas classes industriais, Lula e sua administração foram incapazes de mudar a falta de eficiência que infeccionou todos os níveis da máquina do por de décadas. O Brasil figurou como 125º dentre 134 países no número de procedimentos exigidos para abrir um negócio. Além da falta de eficiência, o governo é conhecido por corrupção e padrões éticos inferiores. Contudo, os sucessos da corrente administração de Lula, especialmente seu maior compromisso a retirar da pobreza as pessoas do espectro econômico mais baixo, oferecem muita esperança. Isso é confirmado pelo apoia a novas políticas consideradas no Congresso, maior alocação de fundos para serviços básicos, e renovado interesse em criar um ambiente positivo para parcerias com o setor privado. O Efeito Estufa Embora a simples menção do efeito estufa traga preocupação, ele na verdade é benéfico, e a vida na terra não pode existir sem ele. O nome foi cunhado para invocar uma estufa com teto e paredes transparente que permitem que os raios do sol adentrem e aqueçam o interior. Quando a estufa está fechada, o calor permanece dentro das paredes, fazendo com que a temperatura interna seja mais alta que a externa. A atmosfera da terra funciona de forma similar. A energia da radiação eletromagnética emitida pelo sol chega à atmosfera, em sua maior parte na forma de radiação solar. Uma parte menor desta radiação é composta de radiação infravermelha (calor) e raios ultravioletas. Uma parte da radiação é refletida de volta ao espaço, outra parte é Figura 1 O Efeito Estufa Fonte: http://www.global-greenhouse-warming.com. ________________ 2 Developing Integrated Solid Waste Management Plan, 2006, United Nations Environmental Programme, p. 4. Parte da radiação solar é refletida pela Terra e pela atmosfera. A radiação infravermelha é emitida pela superfície da Terra. Cerca de metade da radiação solar é absorvida pela superfície da Terra e a aquece. TERRA Radiação solar alimenta o sistema climático. O Efeito Estufa Parte da radiação infravermelha passa pela atmosfera, mas a maior parte dela é absorvida e reenviada em todas as direçõespor moléculas de gás estufa e nuvens. O efeito disso é o aquecimento da superfície da Terra e do interior da atmosfera. SOL TB0231 3 Este documento é autorizado apenas para uso para revisão do educador por Oscar Javier Celis Ariza, Universidade Estacio de Sá até Março de 2016. Cópia ou postagem é uma infração de copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu ou 617.783.7860 absorvida pela atmosfera, e uma outra parte passa por ela e atinge a superfície da Terra. A superfície reflete de volta uma parte da radiação eletromagnética e absorve o restante. A radiação absorvida passa por um processo físico, sua energia é transformada; o resultado é que o planeta emite calor na forma de radiação térmica (ondas longas). 3 O calor irradia ao espaço, embora um pouco permaneça retido na atmosfera devido à presença de gases, produzindo assim o efeito estufa. Se o efeito estufa natural não existisse, a temperatura média na superfície da terra seria aproximadamente 15-20º C abaixo de zero. Com o efeito estufa, a temperatura global média na superfície da terra é 15°C. 4 Noventa e nove por cento da atmosfera da terra é composta por três gases que não estão relacionados ao efeito estufa: nitrogênio (N2), oxigênio (O2), e argônio (ar). Se a atmosfera fosse completamente composta por estes gases, não haveria nenhum efeito estufa. O efeito estufa ocorre por causa da presença de outros gases, embora em concentrações inferiores (aproximadamente um por cento). Estes gases inibem a transmissão de um pouco do calor atmosférico ao espaço, e isso faz com que a temperatura da Terra aumente. Os gases que causam o efeito estufa (chamado gases estufas - GHG) são normalmente compostos de moléculas que ocorrem naturalmente na atmosfera. Os mais relevantes são o gás carbônico (CO2), vapor d'água (H2O), metano (CH4), ozônio (O3), e óxido nitroso (N2O). Estes gases são chamados GHGs por causa de sua capacidade de reter calor, da mesma forma que o vidro em um carro fechado ou a cobertura de uma estufa sob o sol. 5 Embora o efeito estufa seja necessário para a vida na terra, sua intensificação pode causar dano ambiental e econômico enorme. Esta intensificação é o resultado de emissões adicionais de GHG que a atividade humana gera na produção agrícola e industrial, gado, gestão de resíduos, assim como hábitos de consumo do consumidor. Desde a Revolução Industrial, as atividades humanas geraram um aumento contínuo em concentrações de GHG na atmosfera. Os cientistas chamam isso de interferência antropogênica no clima; em outras palavras, uma alteração causada por atividades humanas. O efeito estufa começou a alarmar a comunidade científica nas últimas décadas do século XX por causa de um rápido aumento nas concentrações de GHG na atmosfera devido a emissões antropogênicas. A principal preocupação foi o gás carbônico porque os níveis de CO2 tinham aumentado de um volume de 280 partes por milhão no período que precedeu a Revolução Industrial a quase 360 partes por milhão hoje. além disso, novos gases com as mesmas propriedades, mas advindos apenas de atividades antropogênicas, especialmente industriais, começaram a acentuar o efeito estufa; os principais são os hidrofluorocarbonetos (HFCs), perfluorcarbonetos (PFCs), hexafluoreto de enxofre (SF6), clorofluorcarbonetos (CFCs), e hidroclorocarbonetos (HCFCs). 6 O gás carbônico é responsável por mais de 60% do efeito estufa antropogênico intensificado. O CO2 permanece na atmosfera por pelo menos 100 anos. Este gás está presente naturalmente na atmosfera, mas a queima de carvão, petróleo e gás natural — em plantas termelétricas, indústrias, automóveis e sistemas de domésticos aquecimento libera o carbono armazenado nestes combustíveis fósseis a níveis sem precedente. Ao mesmo tempo, o desflorestamento — como a queima e a desertificação — libera o carbono de árvores. As emissões de CO2 anuais desde a Revolução Industrial aumentaram em mais de 23 bilhões de toneladas, ou quase um por cento da massa total do gás carbônico na atmosfera. 7 O gás metano contribui com 20% do aumento no efeito estufa. As fontes principais antropogênicas de GHG são a agricultura - principalmente plantações de arroz inundadas para e criação de gado -, aterros e drenagem de resíduos relacionada à mineração de carvão e à produção de gás natural. O aumento das emissões de metano (que aumentaram _____________ 3 J. Goldemberg, and Walter Reid, Eds., Promoting Development While Limiting Greenhouse Gas Emissions: Trends and Baselines, UNDP and WRI, New York, 1998. 4 Ibid. 5 IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change) (1990). Climate Change: The IPCC Scientific Assessment. Report Prepared for IPCC by Working Group I, edited by J. T. Houghton et al. Cambridge: Cambridge University Press. 6 UNFCC—United Nationals Framework Convention on Climate Change, The Kyoto Accord, 1997. 7 UNFCC—United Nationals Framework Convention on Climate Change, The Marrakech Accord, 2001. 4 TB0231 Este documento é autorizado apenas para uso para revisão do educador por Oscar Javier Celis Ariza, Universidade Estacio de Sá até Março de 2016. Cópia ou postagem é uma infração de copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu ou 617.783.7860 100% nos últimos 150 anos) começaram mais recentemente que o aumento do gás carbônico. Contudo, atingirá o nível do CO2 mais rapidamente, embora o metano tenha um ciclo de vida de apenas 12 anos na atmosfera. 8 Efeitos do Aquecimento global Abaixo estão algumas consequências que os cientistas do IPCC preveem como resultado do aquecimento global: 9 Crescente aumento do nível do mar Derretimento de geleiras e das placas polares Perda de biodiversidade Aumento na incidência de doenças transmitidas por mosquitos e outros vetores (malária, febre amarela, dengue, por exemplo) Alterações nos níveis de precipitações Intensificação de fenômenos meteorológicos extremos (como secas, inundação, ciclones e tempestades tropicais) Desertificação e perda de áreas agrícolas Piora de problemas relacionados ao abastecimento de água doce Aumento nos fluxos migratórios As consequências sociais e econômicas são, pelo menos potencialmente, catastróficas. Sempre que houver degradação ambiental, há também uma possível perda significativa da capacidade produtiva. Os seguintes resultados negativos também podem ocorrer: Escassez de alimentos e outras mercadorias Preços mais altos Perda de renda Níveis mais altos de desemprego Aumento da pobreza Aumento da desigualdade na distribuição de renda e bem-estar social Aumento dos conflitos e violência em geral Perda de direitos de gerações futuras (ambiente menos saudável) Em alguns casos, o impacto pode ser irrevogável. Nações insulares e cidades localizadas em zonas costeiras estão mais vulneráveis a alterações climáticas; elas vivem com a possibilidade de inundação a médio e longo prazo. Estima-se que um bilhão de pessoas vivem em áreas que podem ser diretamente afetadas (Bangladesh, Holanda, Boston e Nova Iorque, por exemplo). De acordo com o IPCC, a expectativa é que os níveis oceânicos aumentarão entre 90 e 880 mm. O Modelo de Gestão Integrada de Resíduos No passado, gestão de resíduos sólidos significava principalmente a coleta, depósito em terra, e incineração de resíduos caseiros. A eliminação de resíduos industrial não recebia muita atenção. Em um livro seminal mas controverso de 1972, Limits to Growth, Dennis Meadows 10 argumentou que o material da terra e os recursos energéticos são finitos. Ficou aparente que aterros e incineradores não eram suficientes para tratar os enormes volumes de resíduos sólidos gerados por comunidades e indústrias. Em 1997, a Comissão Mundial para Meio-Ambiente e Desenvolvimento promoveu o conceito de desenvolvimento sustentável e, com ele, a ideia da reciclagem como forma de reduzir resíduos. Subsequentemente, o conceitode gestão integrada de resíduos sólidos emergiu. O alvo da gestão sustentável de resíduos é recuperar produtos valiosos de resíduos com menos energia e um impacto ambiental mais positivo. 11 Os vários fluxos de resíduos (residenciais, comerciais, agrícolas e industriais) são, consequentemente, abordados com portfólios de opções complementares. Estas incluem redução da fonte, reciclagem, reutilização, incineradores e aterros. _______________ 8 Ibid. 9 IPCC, 2001b. 10 D. Meadows et al., Limits to Growth. New York: Universe Books, 1972. 11 F. McDougall et al., Integrated Solid Waste Management. Wiley, 2009, p. 10. TB0231 5 Este documento é autorizado apenas para uso para revisão do educador por Oscar Javier Celis Ariza, Universidade Estacio de Sá até Março de 2016. Cópia ou postagem é uma infração de copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu ou 617.783.7860 Há duas escolas de pensamento sobre gestão integrada de resíduos sólidos. Uma escola propõe que os resíduos devem ser tratados dentro de uma cadeia estrita de impactos, conhecidos como o Princípio de Hierarquia, que declara que a prevenção e a minimização de resíduos devem ter prioridade sobre reciclagem e tratamento, com a alienação ambientalmente segura terminando a cadeia. Os resíduos são segregados na fonte tanto quanto possível para aprimorar a qualidade dos materiais de reutilização e reciclagem, e também para reduzir a energia usada na coleta e transporte. 12 Ao invés de considerar lixo como um agregado homogêneo que deve ser enterrado, devemos tratá-lo de acordo com o valor energético de seus principais componentes. Assim, alguns devem ser reutilizados, alguns reciclados ou compostados, alguns incinerados, e o lixo restante deve ser enterrado. Figura 2. Princípio de Hierarquia A outra escola defende uma interpretação mais livre. Ela sugere que a gestão integrada de resíduos consista de um menu de opções, e que tecnologias específicas devem ser empregadas conforme as dadas situações econômicas, sociais e ambientais. Além disso, a abordagem deve ser holística. Esta escola não tenta prever o melhor processo para um determinado tipo de resíduo. Por exemplo, o papel pode ser reciclado, compostado, ou incinerado com recuperação de energia. As oportunidades ambientais e econômicas na gestão de resíduos sólidos são significativas. Os resíduos após o consumidor contribuíram aproximadamente com 1.300 milhões de toneladas de gás carbônico a emissões globais de gás estufa, ou aproximadamente 5% do total, em 2005. 13 Enquanto outros setores e países fazem progresso limitado na redução de CO2, a indústria de gestão de resíduos contempla uma situação muito melhor. Entre 1996 e 2003, as emissões do setor recuaram 16% a 23% em economias desenvolvidas. 14 Novas tecnologias mostram potencial para o futuro; contudo, o problema no nível global permanece complexo. O aumento da atividade econômica e da industrialização, especialmente em países emergentes, está intensificando a geração de resíduos sólidos. Conforme o mundo fica mais consciente do impacto ambiental de resíduos sólidos e de sua contribuição para os níveis de GHG, uma nova perspectiva começa a emergir: resíduos sólidos como recursos. Com o uso da tecnologia adequada, podemos pensar em resíduos como um provedor de materiais e de energia. Consequentemente, os resíduos devem ser tratados como um componente regular do fluxo de materiais em uma economia, uma perspectiva ilustrada na Figura 5. Tecnologias de Gestão de Resíduos e GHG Nas últimas décadas, as tecnologias de processamento de resíduos fizeram grandes avanços. Novas tecnologias afetaram quase todas as atividades da corrente de resíduos, da coleta até o transporte dos resíduos, e de processos térmicos avançados a aterros. Aterro com Recuperação de Gás Aterros estão comumente usados para desfazer-se do lixo residencial e também de certos tipos de resíduos comerciais e industriais. Vários gases são produzidos pela decomposição da matéria orgânica, inclusive alguns que são prejudiciais à vida humana e ao meio-ambiente. Um aterro pode ser considerado um reator biológico. Os resíduos sólidos são o insumo; o biogás e o chorume são o produto. O chorume é um líquido escuro de biodegradabilidade limitada com ________________ 12 P. Dorvil, Private Sector Participation in Solid Waste Management: Empirical Evidence from Morocco. Working paper, CWG-WASH Workshop, 2006, Kolkata, India. 13 J. Bogner et al., Waste Management, in Climate Change: Mitigation. Fourth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. 14 Waste and Climate Change. White Paper published by the International Solid Waste Association, Vienna. www.iswa. org. Prevenção de Resíduos (Inclusive reciclagem interna de resíduos ) Eliminação não controlada Mais Desejável Menos desejável Reciclagem Externa de Resíduos e refugo Tratamento de Resíduos Eliminação controlada 6 TB0231 Este documento é autorizado apenas para uso para revisão do educador por Oscar Javier Celis Ariza, Universidade Estacio de Sá até Março de 2016. Cópia ou postagem é uma infração de copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu ou 617.783.7860 alta concentração de matéria orgânica, metais pesados e outras substâncias que podem ser ambientalmente prejudiciais, especialmente para fontes de água. A Figura 6 ilustra o processo realizado em um aterro. O biogás que resulta da decomposição da matéria orgânica na ausência de oxigênio é inflamável e tem alto valor calorífico. A composição típica de gás de aterro é metano (45%- 60%), gás carbônico (40%-60%), nitrogênio (2%-5%), e pequenas concentrações de oxigênio, enxofre, amônia e monóxido de carbono. O metano tem o impacto ambiental mais elevado. Seu potencial para contribuir para o aquecimento global é 20% a 25% maior que o gás carbônico porque é mais eficaz em reter radiação infravermelha e tende a persistir por mais tempo na atmosfera. Portanto, os projetos ambientais que visam a redução de metano têm impacto positivo imediato. Aterros estão na quinta posição entre as principais fontes de emissões, atrás de combustíveis fósseis, pecuária, cultivo de arroz, e queima de biomassa. Estima-se que o metano é responsável por 18% dos gases que causam aquecimento global. Esta contribuição representa aproximadamente 500 milhões de toneladas por ano, das quais 40 a 75 milhões são atribuídos a emissões por aterros. 15 O gás do aterro é produzido pela decomposição dos resíduos despejados. Os resíduos coletados são acumulados, cobertos com plástico, e compactados pelo material depositado no topo, formando várias camadas de materiais. A decomposição anaeróbica (sem oxigênio) ocorre e o biogás é produzido. O gás é liberado lentamente durante um longo período de tempo e, se não for capturado, é liberado à atmosfera. A implementação de um sistema de extração de gás usando poços verticais ou coletores horizontais é a abordagem mais eficaz para reduzir emissões de gás metano. Incineração A incineração tem sido amplamente usada em países desenvolvidos, especialmente em países com espaço de terra limitado para aterros. A maior parte dos incineradores queimam lixo misturado, isto é, refugo não classificado. Eles atendem normas para emissões muito estritas e fora são há mais de 50 anos. O lixo é queimado sob condições controladas a temperaturas acima de 900ºC. Os gases da queima são usados para gerar eletricidade ou calor. Este processo gera dois tipos de resíduos: as cinzas inferiores, e os resíduos do tratamento de gás de combustão. A quantidade de cinzas produzida é aproximadamente 10% por volume da quantidade de lixo processada. Isso representa uma redução significativa da quantidade de material de aterro. Além disso, as emissões de GHG são eliminadas no processo, e a energia é vendida a clientes industriais e torna-se uma fonte de receita do operador da unidade.Os investimentos de capital tendem a ser altos, e a maior parte dele é voltado ao controle de sistemas, gestão de emissões, e processos de limpeza. Há uma necessidade de manter uma operação contínua em altos níveis de utilização de capacidade por causa de custos fixos elevados. A incineração tem uma imagem pública ruim, contudo, e tem sido alvo de oposição vocal por grupos ambientais. A indústria reduziu suas emissões a níveis mais elevados que o satisfatório, e representa um dos meios mais eficientes de tratar termicamente resíduos e recuperar a energia de resíduos municipais. Tratamento Biológico Compostagem, digestão anaeróbica e tratamento mecânico-biológico (MBT) estão inclusos no tratamento biológico. Compostagem e digestão anaeróbica exige a separação dos resíduos. Compostagem é a divisão aeróbica (com oxigênio) da matéria orgânica executada por bactérias, fungos e insetos encontrados no solo. Compostagem municipal envolve a coleta e o processamento de vários resíduos orgânicos, inclusive resíduos de jardim e cozinha, resíduos agrícolas e resíduos de processamento de alimentos industriais. Compostagem reduz os resíduos orgânicos em 30%-50% do volume. Dependendo de sua qualidade, o composto pode ser diretamente utilizado na agricultura como estrume de qualidade inferior ou condicionador de solo, ou enriquecido com nitrogênio para recuperação do solo. Digestão anaeróbica é um processo bioquímico que se realiza em tanques vedados, sem oxigênio, em que tipos particulares de bactérias digerem a biomassa. Os diferentes tipos de bactérias trabalham conjuntamente para dividir os resíduos orgânicos, resultando na produção de biogás e do material restante, conhecido como digestato. O biogás 15 Abu Qdais et al., “Solid Waste Landfills as a Source of Green Energy: Case Study of Al Akeeder Landfill,” ICEGES—Jordan, 2009, p. 2. TB0231 7 Este documento é autorizado apenas para uso para revisão do educador por Oscar Javier Celis Ariza, Universidade Estacio de Sá até Março de 2016. Cópia ou postagem é uma infração de copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu ou 617.783.7860 produzido é uma mistura de gases; metano e gás carbônico compõem mais de 90% do total. A separação é essencial em sistemas de digestão anaeróbicos, e o material não biodegradável deve ser removido. O biogás resultante pode ser usado para aquecimento e geração de eletricidade local. O digestato, dependendo de sua qualidade, pode ser usado como fertilizante ou recuperador de solo. A vantagem principal da digestão anaeróbica em comparação ao aterro é o volume reduzido de resíduos. Esta tecnologia está bem estabelecida e comprovada, e começou a ganhar presença em países da Europa Ocidental. Tratamento Biológico Mecânico (MBT) O tratamento biológico mecânico consiste de várias tecnologias que podem ser combinadas para otimizar o tratamento de resíduos sólidos municipais variados reunidos em sacos pretos ou caixas de lixo. A operação mecânica (classificação, trituração e esmagamento) separa os resíduos em fluxos diferentes. A operação envolve correias transportadoras, ímãs industriais, tambores e trituradores. Materiais que podem ser reciclados, como vidro, plástico, alumínio e papel, são separados e transferidos para uma unidade de reciclagem. O material biológico é levado a uma unidade de compostagem ou a um digestor anaeróbico. Consequentemente, o MBT basicamente reduz o volume de resíduos sólidos. Quando o material reciclável é removido e refugo sólido é separado, apenas 0,6 por tonelada permanece como resíduo dos processos biológicos. Em comparação com o aterro, o MBT pode reduzir teoricamente a geração de CH4 em até 90%. 16 A Figura 3 ilustra o sistema do MBT. Gestão de Resíduos Sólidos no Brasil De acordo com os dados do censo publicados pelo Instituto Brasileiro da Geografia e Estatística (IBGE) em 2000, 228.413 toneladas métricas foram coletadas diariamente no Brasil, ou aproximadamente 99% do total produzido. Adicionalmente, o censo mostrou que dentre os 5.507 municípios, 63,6% descartaram os resíduos sólidos coletados em campo aberto, 18,4% aterros controlados utilizados, e apenas 13,8% levaram os resíduos a aterros sanitários. As estimativas mais recentes publicadas pela Agência Ambiental do estado de São Paulo (CETESB) destacaram o fato que 84% das emissões de metano geradas por resíduos sólidos ocorreram em campo aberto. Os municípios são responsáveis por todas as atividades de saneamento, inclusive a coleta e a eliminação pública de resíduos sólidos. As partes industriais e comerciais são responsáveis pelo manuseio de todos os resíduos de suas atividades. Embora legalmente definido pela lei federal (Lei 6938/1981), a execução disso tem sido impedida por ______________ 16 J. M. Bogner et al., Waste Management, in Climate Change, 2007, IPCC, p. 602. Resíduos Variados (ex: sacos domésticos) Digestato/Humus © Renewable Energy Assioiantion 2007-2009 Compostage m Resíduos para Energia Elétrica Refugo Sólido Recicláveis para Reciclagem Digestão Anaeróbica Biogás e Eletricidade Figura 3. MBT - Tratamento Biológico Mecânico Melhor Recuperação de Solo Instalação de Recuperação de Material de MRF - seleção mecânica 8 TB0231 Este documento é autorizado apenas para uso para revisão do educador por Oscar Javier Celis Ariza, Universidade Estacio de Sá até Março de 2016. Cópia ou postagem é uma infração de copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu ou 617.783.7860 orçamentos apertados e baixas receitas municipais, e a execução tem se mostrado limitada devido à falta de colaboradores treinados e de compromisso administrativo. Tipos de Aterros Os aterros são o destino primário de resíduos sólidos municipais no Brasil. Os aterros variam no nível de tecnologia, abordagens a seleção e reciclagem, e gestão geral. Estes são os três tipos mais importantes: Campo Aberto (lixão) Também conhecido como aterro aberto, eles representam uma solução inadequada para a eliminação de resíduos sólidos. Os caminhões de coleta municipal, as contratadas de coleta de resíduos, e o grande público despejam resíduos sólidos nestas áreas segregadas. Há poucos ou nenhum controle ambiental e nenhuma atenção é dada a liberação de gás de metano, captura de chorume, ou seu impacto no solo, água e ar. A alta porcentagem de materiais orgânicos combinado com muito plástico contribui para o aumento de gases, e incêndios frequentes. As estradas que levam a estes campos são muitas vezes estradas de terra e ficam quase intransitáveis durante longas chuvas. Catadores e funcionários municipais estão muitas vezes presentes em grandes números para selecionar materiais de reciclagem. Este trabalho é feito manualmente, muitas vezes sem equipamento de segurança básico, e o risco de acidentes, contaminação e doenças são altos. Os locais abertos são um perigo à saúde e uma fonte de problemas ambientais para as comunidades. Aterro Controlado No contexto brasileiro, os aterros controlados são antigos campos abertos que sofreram um processo de recuperação parcial e limitado esforço de engenharia. O chorume é capturado e impedido de atingir rios e correntes d'água, o metano e outros gases são liberados e às vezes queimados, as células de coleta são compactadas e cobertas adequadamente com plástico. Assim, novos resíduos são mais adequadamente orientados e processados. Este tipo de aterro não atende normas ambientais, posto que ele não tem revestimento sintético e camada de barro no fundo para evitar contato com o solo local. Portanto, o risco de poluição do solo e da água persiste, embora o risco de poluição do ar, odores, e liberação de biogás seja consideravelmente reduzido. Sua existência é tolerada por agências ambientais como uma segunda opção; no entanto, quando eventos desastrosos ocorrem, eles podem ser embargados por autoridades estatais locais. Aterro Sanitário Como os aterrossanitários são construídos seguindo normas sólidas de engenharia ambiental, eles diferenciam-se em muitos aspectos de aterros abertos e aterros controlados. Para evitar a contaminação de lençóis freáticos, o fundo do aterro é coberto com camadas de barro e plástico grosso. Os resíduos são juntados e empilhados em células contíguas que são cobertas e vedadas diariamente com revestimento plástico. Um sistema de tubos perfurados corre horizontalmente entre e acima dos revestimentos, coleta o chorume (água gerada durante a decomposição de resíduos e água de chuva que entrou em contato com os resíduos) que é filtrado pelo lixo. Estes tubos levam o chorume a uma central de tratamento. Além disso, os tubos verticais que corem pelas camadas compactas de resíduos capturam o gás metano produzido durante a decomposição de resíduos. O gás pode ser queimado, ou convertido em energia térmica ou eletricidade. Um aterro TB0231 9 Este documento é autorizado apenas para uso para revisão do educador por Oscar Javier Celis Ariza, Universidade Estacio de Sá até Março de 2016. Cópia ou postagem é uma infração de copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu ou 617.783.7860 sanitário é um biorreator projetado para produzir decomposição anaeróbica de resíduos. Os resíduos não são expostos ao tempo, e não são uma fonte de contaminação, odores, moscas, ou incêndios. Ver Figura 4 para uma ilustração da estrutura de um aterro sanitário. Aterros sanitários podem prover uma melhor relação custo/benefício para municípios brasileiros. De acordo com um Estudo do Banco Mundial de 2004, um aterro sanitário é o sistema com melhor custo-eficiência para alienação de resíduos sólidos na maior parte das áreas urbanas em países em desenvolvimento. A compostagem de resíduos sólidos custa duas a três vezes (por tonelada) mais que aterros sanitários, e os custos de incineração cinco a dez vezes mais. 17 Catadores: Parceiros na Reciclagem A alienação adequada de resíduos sólidos é um desafio ambiental enfrentado por quase toda cidade do mundo em desenvolvimento, poucas das quais operam aterros sanitários ou integram programas de gestão de resíduos sólidos. Onde quer que os municípios eliminem seus resíduos em aterros abertos, há um pequeno exército de pessoas pobres que tentam ganhar a vida a partir dos resíduos. Os catadores, como são chamados, tornaram-se participantes importantes da gestão de resíduos urbanos. A expansão das atividades e recompensas de reciclagem que os mecanismos econômicos trazem para a reutilização de vidro, papel e metais criou exércitos de catadores que coletam e separam o lixo mais visível em locais abertos em todo o mundo. O desemprego e a falta de moradia agravaram estas condições. Um estudo de 2003 patrocinado pelo governo brasileiro (Forum Lixo e Cidadania, 2003) previu que 500.000 pessoas, inclusive adultos e crianças, trabalham em locais abertos. A isso, devemos acrescentar o grande número de compradores itinerantes que compram a sucata de casas e locais comerciais para vender a ferro velhos. Esta é a única fonte de renda da maioria destes trabalhadores; eles ganham menos de US$ 250 por mês e muitas vezes vivem perto de aterros. No Brasil, eles são responsáveis pela reciclagem de uma grande parte do vidro, do papel e do alumínio reciclados. Não há nenhuma lei para regular seu trabalho, nem benefícios sociais ou de contratação, e a ocupação é também muito perigosa. É bastante comum encontrar famílias inteiras, inclusive várias crianças menores, trabalhando ombro a ombro em um aterro. Eles estão continuamente expostos aos contaminantes no solo e ao chorume. Por isso, eles tornaram-se um problema social e médico para as autoridades. ________________ 17 S.Cointreau, Sanitary Landfill Design and Siting Criteria. Guidance Published by the World Bank as an Infrastructure Note, 2004. http://www.eawag.ch/organisation/abteilungen/sandec/publikationen/publications_swm/downloads_swm/ land_fill_design.pdf. Tubo de Drenagem de Água Subterrânea Tubo de Coleta de Chorume Faixa Seccional Tubo de Ventilação de Gás Inclinado Quadro de Avisos Estrada de Chegada Cerca Solo de Cobertura Curral Fosso de Drenagem Tubo de Ventilação de Gás Tubo Vertical Areia Protetora Revestimento Face de Trabalho Instalação de Lavagem de Veículos Ponte de pesagem Local Office Portão Instalação de Tratamento de Chorume Tanque de Retenção Represa de Retenção de Resíduos do Aterro Tanque de Retenção de Chorume Figura 4. Desenho de um Aterro Fonte: Osaka Prefectural Government, Solid Waste Management, 20/07/10 http://www.menlh.go.id/apec_vc/osaka/eastjava/wst_mng_en/page1.html 10 TB0231 Este documento é autorizado apenas para uso para revisão do educador por Oscar Javier Celis Ariza, Universidade Estacio de Sá até Março de 2016. Cópia ou postagem é uma infração de copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu ou 617.783.7860 Quando operadores públicos e privados avaliam seus sistemas de gestão de resíduos sólidos, eles também devem considerar como essas atividades estão organizadas. De um lado, eles representam um problema social difícil para governos locais; do outro lado, contudo, eles são um link produtivo no sistema de reciclagem de resíduos. E, enquanto o sistema econômico não for capaz de integrá-los e gerar trabalho para eles, eles continuarão a receber sua magra renda com a procura de resíduos negociáveis. Como regra geral, quanto menos organizados são os catadores, menos provavelmente é que eles agreguem valor aos materiais secundários que eles coletam, e mais vulnerável estão à exploração de negociantes intermediários. A cadeia de reciclagem, isto é, a rota que os recicláveis tomam, não é necessariamente curta. A cadeia inclui intermediários, que compram dos catadores e então transportam o material recicladores em atacado ou a pequenos recicladores. Os atacadistas consolidam, compactam/esmagam e embalam o material, e enviam cargas completas a indústrias de fabricação, como moinhos de papel, processadores de vidro quebrado e produtores de alumínio. A evolução natural para aterros sanitários causará um deslocamento social grave destas populações de trabalho, algo que as políticas federais devem considerar cuidadosamente. Não deve passar despercebido que o sistema atual, embora falho e socialmente injusto, considerando a sustentabilidade, tornou o Brasil o líder mundial em recuperação de alumínio, com 89%. Financiamento de Aterros Sanitários: A Oportunidade de Comercializar Carbono O Protocolo de Quioto, 18 assinado em 1997, é um acordo feito por 184 nações que prometem reduzir as emissões de GHG em uma média de 5% em comparação aos níveis de 1990 anteriores a 2012. De acordo com o Protocolo de Quioto, as nações desenvolvidas podem emitir certa quantidade de gás carbônico ou seu equivalente anualmente. Os governos emitem subsídios de emissão a poluidores dentro de suas fronteiras, que podem então ser comprados e vendidos por empresas no mundo inteiro. Essa é a base de um sistema comercial de crédito de carbono. O Protocolo criou dois mecanismos com base em projetos para reduzir emissões: Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (CDM), e Implementação Conjunta (JI). Estes mecanismos permitem que os governos conduzam projetos de redução da emissão no exterior e medir os resultados alcançados em comparação com as suas metas de Quioto. Projetos de JI ocorreram em países desenvolvidos que tinham metas de redução de emissões quantitativas de acordo com o Protocolo de Quioto e os projetos CDM ocorreram em países em desenvolvimento que não tinham nenhuma meta de redução quantitativa. Em 1998, o Banco Mundial lançou o mercado global de finanças de carbono, um desdobramento dos mecanismos de JI e CDM. O mercado financeiro permitiu que países em desenvolvimento vendessem reduções de emissão certificadas (CERs) a nações desenvolvidas para queeles possam então depositar para atender seus próprios requisitos de redução. Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (CDM) O fundamento usado para CDM é que as emissões de GHG são um problema global, e que os lugares onde as reduções ocorrem são menos importantes que a realização das próprias reduções. As reduções podem ser feitas onde os custos forem mais baixos. Por exemplo, posto que muitas fábricas em países em desenvolvimento usam processos sujos e ineficientes, é muitas vezes menos caro reduzir emissões nestas fábricas do que substituir o equipamento mais moderno usado em nações desenvolvidas. Conquanto a maior parte das reduções de emissão deve ser feita domesticamente, o CDM permite que poluidores em países desenvolvidos complementem suas reduções investindo também em projetos em países em desenvolvimento. Em troca do investimento, as empresas ganham CERs que nações desenvolvidas podem usar para cumprir seus compromissos de Quioto. No Brasil, um aumento constante da consciência ambiental em quase cada nível da sociedade sugere que há uma vontade crescente por parte de municípios, de estados e do governo federal para aumentar investimentos em aterros sanitários. Aterros projetados já são uma solução atual em mega cidades e representam a maior parte dos resíduos sólidos tratados. De acordo com a Primeira Avaliação de Emissões Antropogênicas de GHG publicada pelo CETESB (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) em 1994, aproximadamente 805.000 toneladas de gás metano foram geradas no país, com 84% originadas de resíduos municipais. Um estudo semelhante pelo Centro de Economia Aplicada 18 Esta seção é adaptada do caso da Universidade de Stanford, Waste Concern, escrito por David Hanley e Davina Drabkin, Case SI-71, junho de 2007. TB0231 11 Este documento é autorizado apenas para uso para revisão do educador por Oscar Javier Celis Ariza, Universidade Estacio de Sá até Março de 2016. Cópia ou postagem é uma infração de copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu ou 617.783.7860 - CEPEA (2004) previu que o gás metano produzido em aterros brasileiros tinha o potencial de gerar as seguintes quantidades da energia elétrica e créditos de carbono: Tabela 1. Produção Potencial de Biogás em Aterros Municipais de Resíduos Sólidos Potência Elétrica (MW) Créditos de Carbono (tCO2e) a Ano Cenário Conservador Cenário Otimista Cenário Conservador Cenário Otimista 2005 278,3 344,3 10.840.898 13.411.862 2010 314,9 389,5 12.265.481 15.174.291 2015 356,2 440,7 13.877.266 17.168.317 a Preços de Crédito de Carbono previstos a aproximadamente US$ 5 por tonelada em 2005. Fonte: CEPEA (2004). Em 2005, houve aproximadamente 5.400 projetos de CDM no mundo inteiro em várias etapas de avaliação, aprovação e operação. A China estava na primeira posição com 2.024 projetos (37%), seguidos pela Índia com 1.446 projetos (27%), e pelo Brasil com 417 projetos (8%) do total. Os projetos sob desenvolvimento na China tinham um potencial de redução de emissões de 2,97 bilhões de toneladas de CO2, correspondente a 48% do total mundial. Os projetos da Índia tinham um potencial de 1,38 bilhões de tons de CO2, e o Brasil tinha um potencial de 367 milhões de tons de CO2 (6%). Parceira Público-Privada (PPP) O déficit de infraestrutura no Brasil é um teste reconhecido para que o país aumente sua competitividade na economia global, e representa um desafio ainda maior para atingir as Metas de Desenvolvimento do Milênio. As estimativas indicam a necessidade de um investimento de R$ 41 bilhões (US$ 24 bilhões) para atender as demandas básicas do país para serviços de gestão de resíduos de água e sólidos. As necessidades em outros setores, como portos, estradas de ferro, escolas e hospitais, são também relativamente grandes e exigem um compromisso sério de longo prazo pelo governo. Os bancos de desenvolvimento desempenham um pequeno papel no financiamento de projetos municipais, mas é o governo federal que tem a função crítica de estabelecer políticas e prover fundos de programas locais. Estes foram tradicionalmente financiados via taxação ou empréstimo interno, acrescentando à dívida pública (53% do PNB em 2004). Em muitos casos, os grandes projetos de infraestrutura ganharam acesso ao financiamento privado internacional via obrigações de longo prazo, ou GDRs (Recibos de Depósito Globais). Enquanto estas obrigações são instrumentos eficientes para economias internacionais, seu escopo é limitado a projetos muito grandes, como usinas e transporte público. Para tratar suas necessidades de capital, o Brasil exige outros instrumentos que permitiriam que seus estados e municípios acessem mercados de crédito domésticos e explorem fluxos de capital estrangeiros buscando rendimentos atraentes. Uma proposta de lei federal decretar a execução de Parcerias Público-Privadas. O governo brasileiro espera que esta lei, quando aprovada, abra o caminho para que o setor privado torne-se um importante participante na prestação de serviços essenciais. Esta função é historicamente um monopólio do estado. Conquanto as estruturas jurídicas e institucionais são essenciais, as condições que tornam esta relação atraente para o capital privada ainda são pouco entendidas. Os riscos financeiros e as recompensas que podem ser aceitáveis para este tipo do investimento em um ambiente político que é por vezes “demasiado fluido” precisarão ser cuidadosamente avaliados. Uma PPP pode ser considerada um “empreendimento cooperativo entre os setores públicos e privados, criado na especialização de cada parceiro que melhor atenda as necessidades públicas claramente definidas pela alocação apropriada de recursos, riscos e recompensas.” 19 Diferentes modelos foram tentados em países emergentes usando como modelo a experiência de PPP em países como Reino Unido, Canadá e Estados Unidos. A sedução dos projetos de infraestrutura brasileiros são as economias de escala que suas grandes populações urbanas oferecem. No Brasil, o interesse de investidores do setor privados provavelmente se concentrará em mega cidades. Contudo, a motivação central do governo é estender serviços de infraestrutura às cidades pequenas e médias, as quais apresentam o maior déficit de serviços. O equilíbrio destes dois interesses será essencial para a implementação bem sucedida de PPPs no Brasil. A inclusão de PPPs na lista de opções para atrair capital e especialização do setor privado tem vários benefícios para o governo brasileiro; o seguinte é o principal: _____________ 19 Canadian Council for Public Private Partnerships 12 TB0231 Este documento é autorizado apenas para uso para revisão do educador por Oscar Javier Celis Ariza, Universidade Estacio de Sá até Março de 2016. Cópia ou postagem é uma infração de copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu ou 617.783.7860 Grandes despesas adiantadas exigidas em muitos contratos de concessão podem ser evitadas As contratadas privadas são capazes de prover serviços mais eficientemente e com custo inferior devido a maiores economias de escala e especialização de competências As parceiras podem gerar novos postos de trabalho e apoiar o desenvolvimento econômico local PPPs podem reduzir os problemas de orçamento dos municípios e reduzir a necessidade de emitir dívidas ou aumentar impostos PPPs permitem uma gestão mais equilibrada dos riscos do projeto (comercial, financeiro e técnico) PPPs são monitoradas por mercados financeiros que, em grande extensão, garantem que os projetos permanecerão dentro do orçamento e do prazo Tabela 2. Tipos de Parcerias Público-Privadas Operação-Manutenção (OM) O setor privado é responsável por todos os aspectos da operação e manutenção. Embora o setor privado possa não assumir a responsabilidade de financiar, ele pode gerenciar um fundo de investimento de capital e determinar como o fundo deve ser usado junto com o setor público. Projetar-Construir-Operar(DBO) O setor privado é responsável pelo design, construção, operação e manutenção de um projeto durante um período especificado antes da entrega dele ao setor público. Projetar-Construir-Financiar- Operar (DBFO) O setor privado é responsável pelo financiamento, design, construção, operação e manutenção de um projeto. Em quase todos os casos, o setor público manterá a propriedade completa do projeto. Construir-Operar-Transferir" (BOT) O setor privado é responsável pelo financiamento, design, construção, operação e manutenção de um projeto por um período de concessão. O ativo é transferido de volta ao governo no fim do período de concessão, muitas vezes sem qualquer custo. Construir-Controlar-Operar (BOO) Semelhante a um projeto BOT, mas o setor privado mantém a propriedade do ativo eternamente. O governo só aceita comprar os serviços produzidos por uma duração fixa. Fonte: H. K. Young et al., Towards a Comprehensive Understanding of Public Private Partnerships for Infrastructure Development, California Management Review, Winter 2009. A estrutura de compromisso e cooperação típica a uma PPP é, por definição, estruturada em um modelo adequado e justo de alocação de riscos. Espera-se que os projetos visionados para o Brasil exijam investimentos de US$ 100 milhões em média e se estendam por períodos de 15 anos ou mais. Os investidores e operadores desejarão ter garantia de receitas estáveis e ambientes operacionais sem problemas. Os governos e os órgãos políticos, por outro lado, buscarão formas de maximizar os benefícios do serviço às comunidades e de garantir que os operadores privados não extraiam benefícios injustos da sociedade. O risco nas PPPs deve ser, em princípio, alocado para quem for mais capaz de gerenciá-lo com custos menores, considerando que o interesse público. 20 Regas para procurement, negociação e audiências públicas na maioria dos casos definirão os termos dos contratos. Quando os interesses de várias partes interessadas forem considerados, os riscos associados aos projetos de PPP pode ser catalogados como se segue: Categoria Fator de Risco Riscos Políticos Expropriação, solvência do governo, corrupção, mudanças políticas Condições Econômicas, falta de garantias, inflação, taxas de câmbio, taxas de juros, condições de crédito Riscos de Construção Custo maior que o esperado, atrasos, disponibilidade de mão de obra, condições locais, aquisição de terras Riscos de Operação e Manutenção Custo de manutenção e operação maior que o esperado, competência do operador, nível de produtividade, disponibilidade de equipamentos/materiais Riscos de Mercado e de Receita Demanda insuficiente, concorrência, preço inflexível, tetos em outras receitas Riscos Jurídicos Interferência do governo na escolha de subcontratadas, mudanças de políticas fiscais, ações ou omissões de autoridades públicas evitando a conclusão do projeto, legislação ineficiente, não cumprimento da legislação, revisão de cláusulas de contrato, falta de confidencialidade. Fonte: Adaptado de H. K. Young et al., Towards a Comprehensive Understanding of Public Private Partnerships for Infrastructure Development, California Management Review, Winter 2009. 20 J. Quiggin, Public Private Partnerships: Options for Improved Risk Allocation, UNSW Law Journal, 2005, Vol. 29 (3), p. 290. TB0231 13 Este documento é autorizado apenas para uso para revisão do educador por Oscar Javier Celis Ariza, Universidade Estacio de Sá até Março de 2016. Cópia ou postagem é uma infração de copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu ou 617.783.7860 Participantes Globais Apostando no Campo A esperada aprovação de uma nova estrutura reguladora de Parcerias Público-Privadas dividirá o passado e o presente na expansão de serviços de infraestrutura a grandes segmentos da população brasileira. Espera-se que o novo ambiente jurídico estabeleça um ambiente governado por normas justas, transparentes e éticas. Os investidores institucionais, os operadores e as empresas de serviços de tecnologia têm esperado por este momento. Grandes empresas domésticas e globais têm conduzido estudos de viabilidade para decidir como estruturar a parceria para serviços municipais que entrarão em uma fase de procurement em breve. O déficit da gestão de resíduos sólidos no Brasil representa uma oportunidade comercial forte para empresas mais inovadoras e mais eficientes. Os competidores estão em seus postos. A corrida vai começar. Veolia Environmnet, a gigante francesa com receita superior a US$ 40 bilhões e especialização global na gestão de resíduos sólidos e tratamento de água, esteve no Brasil por várias décadas. Através de suas próprias subsidiárias e vários empreendimentos conjuntos, Veolia tem uma grande marca, com resistência significativa em todas as áreas de serviços de tratamento de água. Sua divisão de gestão de resíduos sólidos tem vendas globais de US$ 9 bilhão e figura como a empresa número dois no mundo. GDF Suez S.A. é uma gigante de serviços de infraestrutura com vendas de US$ 85 bilhões e forte presença em distribuição de gás natural, geração e distribuição de energia elétrica e energia renovável. Suez controla a Vega S/A. Serviços de Engenharia, um grande provedor de serviços de gestão de resíduos sólidos em São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador, com vendas acima de US$ 300 milhões. Elecnor do Brasil é uma subsidiária do maior conglomerado de infraestrutura espanhol, o Grupo Elecnor, com vendas de US$ 2 bilhões e uma presença em telecomunicações, distribuição de gás, geração de força e tratamento de água. Elecnor é um parceiro de empreendimento conjunto no Consorcio Recipar, que recebeu o contrato de gestão de resíduos de Curitiba, sétima maior cidade do Brasil. Essencis Soluções Ambientais S.A. é um braço ambiental do Grupo Camargo Correa, a maior e mais global empresa de construção no Brasil. As principais divisões da Camargo Correa é produção de cimento, concessões de energia, concessões de estradas e construção. O grupo tem participações minoritárias em empresas de aço, construção naval, aeroportos e calçados. As receitas do grupo se aproximam de US$ 9 bilhões. Vital Engenharia é uma subsidiária de Grupo Queiroz Galvão, uma empresa de construção e infraestrutura com atividades na área de produção de aço, desenvolvimento residencial e urbano, gestão de água, construção de estradas e gestão de resíduos. Com vendas de US$ 3,2 bilhões e ampla presença no nordeste do Brasil, a empresa é um grande provedor de serviços a municípios de tamanho médio. Nova Gerar é uma subsidiária da Haztec, um conglomerado privado com sede no Rio de Janeiro e divisões operacionais em biorreparo de locais perigosos, tratamento de água, equipamento de controle de poluição, distribuição de água e manuseio integrado de resíduos. Dois terços de seu capital estão nas mãos de dois fundos de investimento administrados pelo Bradesco e pelo Banco Real. Nova Gerar construiu uma imagem distintiva como pioneira na obtenção da aprovação de seu aterro de Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, sob a estrutura CDM e comercializando os créditos de carbono gerados pela captura e conversão de gás metano. Dados sobre receitas não estão disponíveis. 14 TB0231 Este documento é autorizado apenas para uso para revisão do educador por Oscar Javier Celis Ariza, Universidade Estacio de Sá até Março de 2016. Cópia ou postagem é uma infração de copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu ou 617.783.7860 P ar q u es p ú b li co s e ja rd i n s R es íd u o s In d u st r ia i s C O N S U M O E m p r es as M u n ic í p i o s H ab it a çõ e s C O L E T A P r o d u t o s P R O D U Ç Ã O C ar n e s e g r ão s P r o d u t o s A t ac ad o V ar ej i st as T R A T A M E N T O S F ÍS I C O - Q U Í M IC O S A es co lh a te cn o ló g ic a é u m a fu n çã o d e d ive rs as v ar iá v e i s C O M P O S T A G E M R ec u p e ra çã o a g rí co la S E P A R A Ç Ã O / R E C IC L A G E M Figura 5. Gestão de resíduos: Recursos e Tecnologias IN C I N E R A Ç Ã O R e c u p e r a ç ã o d e e n e r g ia R e c u p e r a ç ã o d e m a te r ia is A T E R R O S A g r ic u lt o r es D E S C O N T A M IN A Ç Ã O D O S O L O E n e rg ia in t T R A N S F M T R A N S F O R M A Ç Ã O M at ér i as P r im as In su m o d e E n e rg ia TB0231 15 Este documento é autorizado apenas para uso para revisão do educador por Oscar Javier Celis Ariza, Universidade Estacio de Sá até Março de 2016. Cópia ou postagem é uma infração de copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu ou 617.783.7860 Coleta de Resíduos Após Consumo Biogá/Chorume Aterro Sanitário com Coleta de Gás Metano e Tratamento de Chorume. Aterro Sanitário Figura 6. Aterros Sanitários
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