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Resenha Processos Grupais

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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA E INSTITUCIONAL
Resenha Crítica de Caso 
Jéssica Marcelle Lorena Silva Pires
Trabalho da disciplina Processos Grupais
 Tutor: Prof. Flaviany Ribeiro da Silva
Belo Horizonte
2020
A TÉCINICA DE GRUPOS-OPERATIVOS À LUZ DE PICHON-RIVIÈRE E HENRI WALLON
Referência: BASTOS, A. B. B. A técnica de grupos-operativos à luz de Pichon-Rivière e Henri Wallon, Psicólogo informação, ano 14, n, 14 jan./dez. 2010. Disponível em http://pos.estacio.webaula.com.br/Biblioteca/Acervo/Basico/PG0330/Biblioteca_48623/Biblioteca_48623.pdf. Acesso em 27 de abril de 2020.
O artigo traz as contribuições de Wallon e Pichon-Rivière no tocante às interações interpessoais como formação da pessoa e a técnica de grupos operativos na sua ligação com psicólogos e psicopedagogos na efetivação da saúde.
Pichon-Rivière começou sua experiência com grupos-operacionais quando, no hospital em que trabalhava, ocorreu uma greve de enfermeiras, comprometendo o atendimento aos doentes mentais. Diante da situação, Rivière propôs um cuidado dos próprios pacientes entre si de acordo com suas capacidades. Os resultados foram positivos no quesito integração do grupo. Desse modo, percebeu também a influência da família enquanto grupo na formação individual do sujeito. Seus trabalhos são baseados tanto na Psicanálise quanto na Psicologia Social. Para ele,
o objeto de formação do profissional deve instrumentar o sujeito para uma prática de transformação de si, dos outros e do contexto em que estão inseridos. Defende ainda a ideia de que aprendizagem é sinônimo de mudança, na medida em que deve haver uma relação dialética entre sujeito e objeto e não uma visão unilateral, estereotipada e cristalizada. (BASTOS, 2010).
A aprendizagem proporcionada por grupos é construída por meio de problematizações coletivas, que permitem a interação uns com os outros. Sendo assim, o sujeito se forma individualmente permeado na relação com o outro, em um ambiente que possibilita a promoção da empatia e da abertura a pontos de vista diversos.
A autora descreve o conceito de Psicologia Social segundo Gayotto, cuja percepção afirma que o sujeito se forma na influência do meio social em que se insere. Ou seja, a formação dos processos mentais psíquicos é constituída da percepção subjetiva do ambiente. Este, por sua vez, participa da formação da psique dos indivíduos. Henri Wallon também salienta o interacionismo como meio dialético entre sujeito e ambiente social, relacionando a construção do conhecimento às relações, desde a infância, às questões socioculturais, de modo a transformar a realidade e também ser transformado por ela, reciprocamente. Vale ressaltar que, para ele, o ser humano é essencialmente social. Não é algo imposto, mas biológico.
Outra contribuição importante de Wallon é a reflexão sobre a diferenciação do sujeito em relação ao outro. A criança, aos poucos, a partir da socialização familiar, se compreende individualmente por meio das suas relações, entendendo o que é seu corpo e o corpo do outro e, posteriormente, percebendo suas ideias em diferenciação às ideias do outro, de modo a entender a sua função no grupo familiar ou em outro grupo social que faça parte. No caso desse último é fundamental que a criança se identifique totalmente e busque o objetivo comum coletivo, ao passo que se diferencia em sua função individual e forma sua personalidade.
Já para Rivière, o grupo é transformador da realidade, e os seus participantes se relacionam e criam vínculos pelo compartilhamento de objetivos comuns. O autor afirma que o vínculo acontece de modo “bi-corporal e tripessoal, isto é, em todo vínculo há uma presença sensorial corpórea dos dois, mas há um personagem que está interferindo sempre em toda relação humana, que é o terceiro.” (RIVÈRE, 1988 apud BASTOS, 2010). O vínculo não acontece de forma aleatória, ele tem uma razão e um objetivo. É a maneira como o sujeito se relaciona com o outro a partir de uma estrutura particular adequada a cada caso e momento, permeada por figuras internalizadas em cada pessoa.
Rivière propõe o conceito de grupos operativos, que se trata de um coletivo de pessoas em interação, com um objetivo comum e uma tarefa, seja ela explícita, como a aprendizagem, tratamento ou diagnóstico, ou implícita, quando se trata da vivência subjetiva do grupo. Outros elementos que fundamentam um grupo são a duração, o tempo, quem coordena e quem observa, os quais são chamados de fixos. Os debates das questões concernentes ao grupo muitas vezes produzem contradições e são um objeto fundamental de análise. É apresentado o conceito de cone invertido, que é um esquema de vetores que verifica a operatividade do grupo. Estes vetores são: pertença, o sentimento de fazer parte do grupo; cooperação, a contribuição para o desenvolvimento do grupo; pertinência que se trata do comprometimento eficaz nas tarefas; comunicação, no tocante ao intercâmbio da informação; aprendizagem que é a compreensão da natureza da tarefa; e a tele que é o grau de empatia, positiva ou negativa.
O principal objetivo de um grupo operativo é a mudança em um processo de problematizações, onde pode haver resistência, ansiedade ou medo por parte dos integrantes e, a partir daí, quando há resoluções e encaminhamentos, pode-se dizer que o grupo está realizando a tarefa. Na execução dessa tarefa cada integrante do grupo traz a sua história pessoal, entendida como verticalidade. À medida que o grupo caminha na construção coletiva, gerando sua identidade, pode-se dizer que se trata de horizontalidade.
São perceptíveis os papéis representativos em cada grupo de trabalho, como o coordenador, que é aquele que problematiza e promove ligação entre as falas dos integrantes; e o observador, que tem a função de realizar o registro das reuniões, além de relembrar e discutir com o coordenador os pontos relevantes. Estes são os papéis fixos, uma vez que há outros que podem se revezar ao logo do processo, como o porta-voz, que é aquele que expressa o que está implícito no grupo; o bode expiatório, que viabiliza o processo de culpa do grupo; e o líder de mudança, o qual contribui para a execução da tarefa dialeticamente.
O modo de condução do grupo pode acontecer de forma direcionada ou livre, proporcionando o repensar e o problematizar, tanto coletivo como individual. Atribui-se, então, um caráter terapêutico ao grupo, que se transforma através do exercício da escuta.
A autora cita Kupfer, a respeito de ser possível estabelecer um paralelo entre a troca de informações em um grupo com a troca de informações em um consultório entre paciente e psicólogo, no sentido de desconstrução e emancipação dos sujeitos envolvidos. No âmbito da Psicopedagogia, cita Rubinstein, destaca-se a maneira particular do sujeito de aprender, sem desconsiderar a influência dos adultos, no caso das crianças e sua subjetividade. Na visão de Rivière, a aprendizagem e a saúde mental se associam, e para psicólogos e psicopedagogos, os grupos operativos são instrumentos para reflexão da aprendizagem, cujos sujeitos tornam-se autônomos no ato de aprender.

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