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. Como b, x, y ∈ Q enta˜o y′(x) avaliada em P = (x, y) e´ um nu´mero Racional, que denoto aqui de A. A equac¸a˜o da reta tangente e´ do tipo: rP : y = Ax+B onde o valor do coeficiente linear B se obteˆm de: y = Ax+B ⇔ B = y − Ax, e portanto B tambe´m e´ um nu´mero Racional. As coordenadas x dos pontos na intersecc¸a˜o F (x, y) ∩ rP sa˜o as soluc¸o˜es de: F (x, y) = 0 e y = Ax+B, ou seja, soluc¸o˜es de (Ax+B)2 − x3 − b x− a = 0, ou, equivalentemente, −x3 + A2 x2 + (2AB − b) x+B2 − a = 0. Agora e´ o momento de lembrar que a coordenada x de P = (x, y) e´ uma ra´ız dupla ou tripla desse polinoˆmio, ja´ que rP e´ tangente a` curva F (x, y) nesse ponto (tripla seria o caso de um ponto de inflexa˜o). CAPI´TULO 15. DERIVADAS DE FUNC¸O˜ES IMPLI´CITAS 215 No caso em que x e´ ra´ız dupla exatamente, pelo Teorema 4.1 do Cap´ıtulo 13: −x3 + A2 x2 + (2AB − b) x+B2 − a = (x− x)2 · q(x). onde o grau do polinoˆmio q(x) e´ 3 − 2 = 1. Ademais os coeficientes de q(x) sa˜o Racionais (Teorema 7.1, Cap´ıtulo 6 e Digressa˜o). Ou seja, q(x) = q1 x+ q0, com q0, q1 ∈ Q e a ra´ız de q(x) e´ −q0 q1 . O ponto Q 6= P buscado e´ portanto: Q = ( −q0 q1 , A ( −q0 q1 ) +B ), que nitidamente tem coordenadas Racionais. Se P e´ ponto de inflexa˜o, enta˜o Q = P , ou seja, rP ∩ F (x, y) = {P,Q} = {P}. � Exemplo 4.1. Considere a curva analisada por Billing, em 1937: y2 − x3 + 82 x = 0. Fora o o´bvio (0, 0) ha´ treˆs pontos com coordenadas Racionais relativamente simples P1 = (−1, 9), P2 = (−8, 12), P3 = (49 4 , 231 8 ). A Figura a seguir mostra como o Maple plota para essa curva: 15 y 50 10 x 5-5 0 -50 20 100 -100 0 Vou implementar neste Exemplo o que a prova da Afirmac¸a˜o 4.1 nos ensinou (as contas tediosas foram feita com o Maple). 4. TANGENTES, PONTOS RACIONAIS DE CU´BICAS E CO´DIGOS SECRETOS 216 A reta tangente ao gra´fico local y = y(x) de F (x, y) = 0 em P1 = (−1, 9) e´: rP1 : − 79 18 x+ 83 18 . A intersecc¸a˜o rP1 ∩ F (x, y) = {P1, Q1} tem Q1 = ( 6889 324 ,−517339 5832 ) ∼ (21,−88). Ver a Figura: y 50 100 0 -100 x 1510 205-5-10 -50 0 Agora podemos continuar o processo. Tomo Q1, a tangente rQ1 e determino rQ1 ∩ F (x, y) = {q1, Q2} onde Q2 tera´ coordenadas Racionais. Fac¸o as contas e obtenho: rQ1 : − 44588977 6208068 x+ 4653507299 72701712 Q2 = ( 3143435938720609 346860974633616 , −6994054838592555031151 6460009551215289641664 ) ∼ (9,−1). A Figura a seguir mostra isso: CAPI´TULO 15. DERIVADAS DE FUNC¸O˜ES IMPLI´CITAS 217 y 50 100 x 0 2010-10 155 -100 -50 -5 0 Um Teorema de Billing diz que se continuamos o processo, agora em Q2 e assim sucessivamente, produzimos uma infinidade de pontos da curva com coordenadas Racionais. O mesmo ocorreria se tive´ssemos comec¸ado com P2 ou P3. 4.1. Co´digos secretos. Agora imagine que algue´m quer criar uma operac¸a˜o de duplicac¸a˜o muito estranha. Poderia definir que, para4 P1 := (−1, 9), 2 ? P1 := Q1 = ( 6889 324 ,−517339 5832 ). E depois, do mesmo modo5 2 ? Q1 := Q2 Ou seja: 4 ? P1 = ( 3143435938720609 346860974633616 , −6994054838592555031151 6460009551215289641664 ). Agora note que: • 4 ? P1 e´ obtido a partir de P1 de modo exato (por ser Racional), computa- cionalemte de modo ra´pido, apesar de ser completamente diferente de P1 • mas a natureza de 4 ? P1 torna-se impenetra´vel se na˜o digo quem e´ P1 ou qual a equac¸a˜o da cu´bica que usei. 4De fato na teoria de curvas el´ıpticas se tomaria no lugar de Q1 o ponto da cu´bica que e´ sime´trico de Q1 em relac¸a˜o ao eixo dos x. 5Novamente, se usa de fato que o ponto da cu´bica que e´ sime´trico de Q2 em relac¸a˜o ao eixo dos x. 5. DERIVAC¸A˜O IMPLI´CITA DE SEGUNDA ORDEM 218 • essa enorme assimetria entre a passagem P1 7→ 4 ? P1 e a passagem 4 ? P1 7→ P1 e´ a base de um co´digo secreto poderoso. O leitor que se sentiu instigado deve procurar enta˜o estudar a teoria de criptografia sobre as chamadas cu´bicas na forma de Wierstrass. 5. Derivac¸a˜o impl´ıcita de segunda ordem Na Sec¸a˜o 5 do Cap´ıtulo 3 associamos a Figura: y 1 2 0 -2 -1 x 21,50,50 1-1 -0,5 a` curva y2 − x3 − 1 = 0. Mas tem algo que na˜o ficou plenamente justificado. Parece na Figura que ha´ 2 pontos de inflexa˜o, em torno de x ∼ 0.8. Vamos considerar ao inve´s daquela curva, outra bem parecida (mas mais adequada para nossas contas): F (x, y) = y2 − x3 − 4x = 0. A inflexa˜o deve aparecer onde a segunda derivada y′′(x) muda de sinal, ou seja onde y′′(x) = 0. So´ que ja´ sabemos que aqui na˜o se trata de um gra´fico, mas apenas de uma curva. Por isso precisamos da derivac¸a˜o impl´ıcita, so´ que agora para calcular a segunda derivada. Ja´ sabemos que se y 6= 0: y′(x) = − ∂F ∂x ∂F ∂y = 3x2 + 4 2y . Enta˜o calculo y′′(x) = ( 3x2 + 4 2y )′ pela regra do quociente, obtendo: y′′(x) = 12x · y − (3x2 + 4) · 2y′(x) 4y2 = CAPI´TULO 15. DERIVADAS DE FUNC¸O˜ES IMPLI´CITAS 219 = 12x · y − (3x2 + 4) · 2( 3x2+4 2y ) 4y2 = = 12xy2 − 9x4 − 24x2 − 16 4y3 . Preciso ver as ra´ızes de y′′(x), ou seja, as ra´ızes de 12x(x3 + 4x)− 9x4 − 24x2 − 16 ja´ que posso substituir y2 = x3 + 4x. Ora, 12x(x3 + 4x)− 9x4 − 24x2 − 16 = 3x4 + 24x2 − 16, que sabemos resolver (pense em z = x2 e resolva 15z2 + 72z − 16 = 0). Assim obtenho as ra´ızes: −2 3 √ −9 + 6 √ 3, 2 3 √ −9 + 6 √ 3, −2 3 √ −9− 6 √ 3, 2 3 √ −9− 6 √ 3, das quais a u´nica Real e positiva e´ x := 2 3 √ −9 + 6 √ 3 ∼ 0.78. Para este valor de x ha´ dois valores de y na curva y2 = x3 + 4x: 2 9 √ 6(−9 + 6 √ 3)3/2 + 54 √ −9 + 6 √ 3 ∼ 1.9 e −2 9 √ 6(−9 + 6 √ 3)3/2 + 54 √ −9 + 6 √ 3 − 1.9 Agora, ja´ que ja´ temos y′(x), e´ um trabalho tedioso achar a equac¸a˜o da reta tangente em por exemplo: ( 2 3 √ −9 + 6 √ 3 , 2 9 √ 6(−9 + 6 √ 3)3/2 + 54 √ −9 + 6 √ 3 ). Com essa equac¸a˜o posso plotar a cu´bica e sua tangente, que mostra bem que ha´ uma inflexa˜o nesse ponto: 6. EXERCI´CIOS 220 y 4 8 0 -8 x 51 40-2 -4 2 3-1 6. Exerc´ıcios Exerc´ıcio 6.1. (resolvido) Considere F (x, y) = y2 − x3 = 0. Considere o ponto (1, 1) dessa curva. i) usando o Teorema 2.1 verifique que perto de (1, 1) essa curva e´ o gra´fico de uma func¸a˜o y = y(x). ii) calcule a derivada da func¸a˜o do item i) em (1, 1). iii) note que (1,−1) tambe´m esta´ na curva F (x, y) = y2 − x3 = 0 e portanto ela na˜o e´ globalmente um gra´fico de y = y(x). Exerc´ıcio 6.2. Considere a cu´bica F (x, y) = y2 − x3 − 4x = 0. Um fato muito bonito e´ que esta curva so´ tem 3 pontos com coordenadas Racionais: (0, 0), (2, 4) e (2,−4). Suponha esse fato. Por outro lado ∂F (x,y) ∂y = 2y na˜o se anula em (2, 4) nem em (2,−4), o que nos da´ a oportunidade de usar o me´todo das tangentes (Afirmac¸a˜o 4.1) para obter pontos racionais a partir deles. i) conclua sem fazer nenhuma conta que as retas tangentes a F (x, y) em (2, 4) e em (2,−4) passam pela origem (0, 0). ii) fac¸a as contas e obtenha as equac¸o˜es dessas duas retas tangentes. CAP´ıTULO 16 Func¸o˜es inversas e suas derivadas Vimos na Sec¸a˜o 1.2 do Cap´ıtulo 5 da Parte 1, que quando referidos ao mesmo sistema cartesiano os gra´ficos de y = f(x) e de sua inversa y = f−1(x) , enta˜o elas se relacionam por uma reflexa˜o na diagonal y = x. Logo uma reta tangente ao gra´fico y = f(x) de coeficiente angular a = B/A 6= 0 se transforma numa reta tangente ao gra´fico refletido, mas agora de coeficiente angular 1 a = A/B (ja´ que os acre´scimos na coordenada x e y que definem A e B ficam invertidos quando refletimos na diagonal).