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0 Versão preliminar – em processo de Revisão EDUCAÇÃO INFANTIL REFERENCIAL CURRICULAR REME 1 Versão preliminar – em processo de Revisão MARCOS MARCELO TRAD Prefeito Municipal ELZA FERNANDES Secretária de Educação SORAIA INÁCIO CAMPOS Secretária adjunta de Educação WALDIR LEONEL Superintendente de Políticas Educacionais MÔNICA OLIVEIRA INÁCIO PRESTES Gerente do Ensino Fundamental e Médio ISABEL CRISTINA CORRÊA Gerente da Educação Infantil ALCIONE APARECIDA RIBEIRO VALADARES Chefe da Divisão de Avaliação MAGALI LUZIO Chefe da Divisão de Educação e Diversidade LIZABETE DE LUCCA COUTINHO Chefe da Divisão de Educação Especial GUILHERME MATHIAS FERRARI Chefe da Divisão de Tecnologias Educacionais MARIA JOSÉ DO AMARAL Chefe da Divisão de Coordenação Pedagógica Referencial Curricular – REME EDUCAÇÃO INFANTIL 2 Versão preliminar – em processo de Revisão SUMÁRIO APRESENTAÇÃO .......................................................................................................... 5 REFERENCIAL CURRICULAR PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE CAMPO GRANDE – MATO GROSSO DO SUL .. 7 DA EDUCAÇÃO ESPECIAL NO REFERENCIAL CURRICULAR DA REME . 11 CULTURA DIGITAL - COMO A BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR/BNCC PREVÊ A UTILIZAÇÃO DAS TECNOLOGIAS? .......... 14 DOCUMENTO ORIENTATIVO – RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS E DE GÊNERO ........................................................................................................................ 16 Educação em direitos humanos........................................................................... 17 Gênero e diversidade sexual ................................................................................ 18 Sugestões para a abordagem de gênero e sexualidade: .................................... 19 Étnico-racial – Questões afro-brasileiras e indígenas ....................................... 20 Sugestões para a abordagem do trabalho com a Lei n o 10.639/2003: ............. 20 Sugestões para a abordagem do trabalho com a Lei no 11.645/2008: ............. 21 AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL ............................................................................... 22 AVALIAÇÃO EM LARGA ESCALA ........................................................................ 23 Referencial Curricular da Rede Municipal de Ensino (Reme) ................................. 25 REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 27 PARA INICIAR OS TRABALHOS ............................................................................ 29 ASPECTOS CONCEITUAIS SOBRE A EDUCAÇÃO INFANTIL ........................ 31 O CURRÍCULO PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL - EIXOS NORTEADORES 34 INTERAÇÕES E BRINCADEIRAS: eixos norteadores do currículo na educação infantil ............................................................................................................................. 36 OS OBJETIVOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL E DIREITOS DE APRENDIZAGEM ........................................................................................................ 38 APRENDIZAGEM, CONHECIMENTOS E SABERES NA EDUCAÇÃO INFANTIL ...................................................................................................................... 41 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO ............................................... 43 AVALIAÇÃO E TRANSIÇÕES NA EDUCAÇÃO INFANTIL .............................. 49 Como avaliar? ...................................................................................................... 50 Referencial Curricular – REME EDUCAÇÃO INFANTIL 3 Versão preliminar – em processo de Revisão A documentação pedagógica ............................................................................... 50 Os Instrumentos ................................................................................................... 52 Relatórios .............................................................................................................. 52 Transições na educação infantil .......................................................................... 54 CAMPO DE EXPERIÊNCIAS COMO POSSIBILIDADE DE ARRANJO CURRICULAR PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL ................................................. 56 CAMPO DE EXPERIÊNCIAS: O EU, O OUTRO E O NÓS .................................. 59 GRUPO 1 – Bebês de 04 meses a 02 anos........................................................... 59 GRUPO 2 – Crianças entre 02 e 03 anos ........................................................... 61 GRUPO 3 – Crianças entre 03 e 04 anos ........................................................... 63 GRUPO 4 – Crianças entre 04 e 05 anos ........................................................... 66 GRUPO 5 – Crianças entre 05 e 06 anos ........................................................... 68 CAMPO DE EXPERIÊNCIAS: CORPO, GESTOS E MOVIMENTOS ................ 71 GRUPO 1 – Bebês entre 04 meses e 02 anos ...................................................... 71 GRUPO 2 – Crianças entre 02 e 03 anos ........................................................... 73 GRUPO 3 – Crianças entre 03 e 04 anos ........................................................... 75 GRUPO 4 – Crianças entre 04 e 05 anos ........................................................... 77 GRUPO 5 – Crianças entre 05 e 06 anos ........................................................... 79 CAMPO DE EXPERIÊNCIAS: TRAÇOS, SONS, CORES E FORMAS ............... 82 GRUPO 1 – Bebês entre 04 meses e 02 anos ...................................................... 82 GRUPO 2 – Crianças entre 02 e 03 anos ........................................................... 84 GRUPO 3 – Crianças entre 03 e 04 anos ........................................................... 86 GRUPO 4 – Crianças entre 04 e 05 anos ........................................................... 88 GRUPO 5 – Crianças entre 05 e 06 anos ........................................................... 90 CAMPO DE EXPERIÊNCIAS: ESCUTA, FALA, ESCRITA, PENSAMENTO E IMAGINAÇÃO .............................................................................................................. 93 GRUPO 1 - Bebês entre 04 meses e 02 anos ...................................................... 93 GRUPO 2 – Crianças entre 02 e 03 anos ........................................................... 96 GRUPO 3 – Crianças entre 03 e 04 anos ........................................................... 98 GRUPO 4 – Crianças entre 04 e 05 anos ......................................................... 100 GRUPO 5 – Crianças entre 05 e 06 anos ......................................................... 103 CAMPO DE EXPERIÊNCIAS: ESPAÇOS, TEMPOS, QUANTIDADES, RELAÇÕES E TRANSFORMAÇÕES ..................................................................... 107 GRUPO 1- Bebês entre 04 meses e 02 anos ..................................................... 107 Referencial Curricular – REME EDUCAÇÃO INFANTIL 4 Versão preliminar – em processo de Revisão GRUPO 2 – Crianças entre 02 e 03 anos ......................................................... 109 GRUPO 3 – Crianças entre 03 e 04 anos ......................................................... 112 GRUPO 4 – Crianças entre 04 e 05 anos ......................................................... 114 GRUPO 5 – Crianças entre 05 e 06 anos ......................................................... 117 CAMPO DE EXPERIÊNCIAS: MUNDO SOCIAL E NATURAL - INVESTIGAÇÃO, RELAÇÃO, TRANSFORMAÇÃO E PRESERVAÇÃO ....... 120 GRUPO 1 – Bebês entre 04 meses e 02 anos .................................................... 120 GRUPO 2 – Crianças entre 02 e 03 anos .........................................................122 GRUPO 3 – Crianças entre 03 e 04 anos ......................................................... 125 GRUPO 4 – Crianças entre 04 e 05 anos ......................................................... 127 GRUPO 5 – Crianças entre 05 e 06 anos ......................................................... 130 PALAVRAS FINAIS ................................................................................................... 133 REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 134 Referencial Curricular – REME EDUCAÇÃO INFANTIL 5 Versão preliminar – em processo de Revisão APRESENTAÇÃO Pensar o currículo de uma rede com, aproximadamente, 200 escolas, entre unidades de tempo integral, escolas rurais e urbanas de ensino infantil, ensino fundamental anos iniciais e finais e ensino médio demanda grande esforço e comprometimento dos servidores da Rede Municipal de Ensino de Campo Grande/Reme. Tal prática não se restringiu à participação de professores lotados nas escolas ou no Órgão Central, mas de todos os agentes escolares, com contribuições de todos os trabalhadores das unidades escolares. Dessa forma, buscou-se respeitar uma característica histórica da Reme, qual seja, a construção de propostas curriculares próprias, lançando mão do conhecimento prático e teórico de docentes e demais profissionais da área pedagógica da Secretaria Municipal de Educação de Campo Grande/Semed e das escolas. Assim, como um dos compromissos educacionais desta gestão, apresenta-se a reestruturação do Referencial Curricular da Reme, visto que o momento em que vivemos é de importância ímpar, com a construção e homologação da Base Nacional Comum Curricular/BNCC, proposta prevista já na Constituição Federal de 1988. A partir de sua homologação em dezembro de 2017, estados e municípios teriam dois anos para discutirem e reestruturarem suas propostas curriculares, considerando a BNCC e propondo desdobramentos, visando a atender às particularidades das redes de ensino. Dessa feita, a Semed, por meio da Superintendência de Gestão das Políticas Educacionais/Suped, apresenta um documento curricular que respeita a diversidade e a heterogeneidade características do nosso município. Ainda, cabe destacar que pensar um currículo passa, necessariamente, por refletir sobre o sistema social que queremos, pois nossos estudantes estarão, em breve, estruturando as ações que impactam a vida de cada munícipe. Nesse sentido, destaca-se a participação efetiva das escolas de ensino fundamental e escolas de educação infantil na reestruturação e reorientação do Referencial Curricular da Reme, uma vez que professores e demais profissionais lotados nesses locais são os conhecedores das realidades, podendo, assim, contribuir com a construção de uma proposta que se aproxime ao máximo das potencialidades locais. Ainda, destaca-se que o Referencial ora apresentado irá oferecer subsídios teórico-metodológicos e práticos para a construção dos Projetos Político-Pedagógicos das unidades escolares da Reme. Referencial Curricular – REME EDUCAÇÃO INFANTIL 6 Versão preliminar – em processo de Revisão Ademais, evidencia-se o compromisso desta Secretaria em disponibilizar, no prazo estabelecido pelo Ministério da Educação/MEC e pelo Conselho Nacional de Educação/CNE, um Referencial Curricular reestruturado por professores, com o objetivo de atender às demandas educacionais contemporâneas, mas sem perder de vista as experiências exitosas já delineadas e aplicadas na Rede Municipal de Ensino de Campo Grande. Com isso, ratifica-se as potencialidades de uma rede de ensino tão extensa, comprovando a necessidade de que manter os investimentos em educação, bem como o diálogo na construção deste documento, contribui para uma sociedade mais justa e igualitária. Elza Fernandes Secretária Municipal de Educação de Campo Grande MS Referencial Curricular – REME EDUCAÇÃO INFANTIL 7 Versão preliminar – em processo de Revisão REFERENCIAL CURRICULAR PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE CAMPO GRANDE – MATO GROSSO DO SUL Prof. Dr. Waldir Leonel 1 Caros profissionais de educação da Rede Municipal de Ensino de Campo Grande Apresentamos a versão preliminar do Referencial Curricular da Rede Municipal de Ensino em consonância com a Base Nacional Comum Curricular2, construída, coletivamente, pelos profissionais de educação da Reme durante o Programa de Formação “Reflexões Pedagógicas: diálogos entre a teoria e a prática”, em 2019. Salientamos que este trabalho coletivo, no referido Programa de Formação, levou-nos a refletir acerca da compreensão do currículo no processo educacional. Sendo assim, não pretendemos trabalhar com conceito fechado e ideal de currículo, uma vez que não podemos eleger uma única definição. Nesse sentido, as discussões propostas enfatizam que o currículo na escola pode ser construído pelos próprios alunos, bem como os conhecimentos produzidos integrarem-se aos contextos sociais, políticos, culturais e intelectuais vivenciados por estudantes e professores, ou seja, respeitando a diversidade de cada indivíduo. Ao assumirmos a complexidade do conceito de currículo, concordamos com Pacheco (2005, p. 30), Enquanto expressão de um projeto, o conceito de currículo tem sofrido, ao longo dos tempos, uma erosão natural que o tem transportado desde uma concepção restrita de plano de instrução até uma concepção aberta de projecto de formação, no contexto de uma determinada organização. De fato, Pacheco (2005) nos faz concluir que o currículo não pode ter esta visão limitada de um plano de conteúdo apenas para ser seguido pelos professores. Nessa discussão, 1 Superintendente de Gestão das Políticas Educacionais da Secretaria Municipal de Educação de Campo Grande- MS 2 Homologada pela Resolução do Conselho Nacional de Educação n. 2, de 22 de dezembro de 2017 e pela e pela resolução n. 4, de 17 de dezembro de 2018 que instituíram e orientaram a implantação da Base Nacional Comum Curricular no âmbito da Educação Básica, Referencial Curricular – REME EDUCAÇÃO INFANTIL 8 Versão preliminar – em processo de Revisão é importante destacar a visão de Gomes (2007), que afirma que o currículo não pode organizar-se em torno da transmissão de conhecimentos e conteúdos, ou seja, a partir de um plano institucional, mas em um sentido mais amplo e significativo abarca os aspectos políticos e históricos, conseguinte a construção de conhecimentos por meio da interação entre os sujeitos envolvidos. Dessa forma, entendemos o currículo não como um mero documento da educação, mas como Moreira (1997, p. 9), enxerga: “um artefato social e cultural”, imbricado com as características da sociedade e da educação carregado de poder, controle, não sendo“[...] um elemento inocente e neutro de transmissão desinteressado do conhecimento social”. Sobre as influências no currículo das relações de poder e controle Silva (1995, p.194), pontua que, [...] o conhecimento, a cultura e o currículo são produzidos no contexto das relações sociais e de poder. Esquecer esse processo de produção – no qual estão envolvidas as relações desiguais de poder entre grupos sociais – significa reificar o conhecimento e reificar o currículo, destacando apenas os seus aspectos de consumo e não de produção. Com base nas ideias de Silva (1995), e Moreira (1997), problematizamos o currículo escolar como um campo de tensão entre os saberes sistematizados e os saberes informais e como um campo de confrontos que está em constante processo de construção de conhecimentos. Assim,um currículo como “artefato cultural”, jamais pode resumir-se em uma documentação rígida e acabada. Pensar o currículo na escola exige práticas democráticas, reflexivas e avaliativas para as futuras tomadas de decisões em diferentes tempos e espaços da sala de aula. É necessário refletir, permanentemente, o significado do currículo no contexto educacional. Na perspectiva do currículo como artefato cultural, as práticas pedagógicas devem permitir um espaço para a criação de conceitos significativos das diferentes manifestações sociais, materializadas nos diversos grupos existentes do contexto educacional. Sob esta ótica, o currículo é compreendido como um instrumento orientador da prática docente, assumindo Referencial Curricular – REME EDUCAÇÃO INFANTIL 9 Versão preliminar – em processo de Revisão um trabalho compartilhado com convicções, valores e princípios científico-sociais, além de considerar os aspectos político-epistemológicos3. Ao debater a dimensão político-epistemológica presente no currículo, Oliveira (2003, p.68) afirma que, Isso significa que, se desejamos trabalhar por e reconhecer as experiências de emancipação social, precisamos associá-las à crítica e à possível formulação de novas premissas epistemológicas que incorporem a validade e a legitimidade de diferentes saberes, práticas e modos de estar no mundo, superando a hierarquização hoje dominante entre uns e outros e viabilizando processos interativos entre os diferentes que não os tornem desiguais. A partir dessa reflexão sobre o currículo como compromisso político e pedagógico, defendemos a prática docente voltada para o atendimento à diversidade. Por esse prisma, apoiamos os questionamentos de Torres Santomé (1995), ao declarar que os conteúdos explícitos presentes nos currículos de determinadas instituições escolares negam e silenciam culturas, por um lado enfatizam certos aspectos da cultura dominante, demarcam territórios e por outro lado tornam invisíveis os aspectos culturais de outras, aumentando o fosso da diferença. Uma das formas de enfrentarmos esta desigualdade cognitiva é problematizarmos o currículo além dos textos prescritivos em documentos oficiais como nos orienta as Diretrizes Curriculares Nacionais (BRASIL, 2013), Assim, as políticas curriculares não se resumem apenas a propostas e práticas enquanto documentos escritos, mas incluem os processos de planejamento, vivenciados e construídos em múltiplos espaços e por múltiplas singularidades no corpo social da educação (BRASIL, 2013, pp.23-24). As Diretrizes Curriculares Nacionais (2013) retratam com veemência a necessidade de a escola e do profissional da educação não se aterem apenas na compreensão explícita do currículo existente em um documento oficial. Em tal contexto, a instituição escolar deve valorizar o currículo que emerge das raízes culturais e dos saberes do dia a dia dos alunos e, dar um novo significado a estas riquezas culturais e, consequentemente, construírem um 3 A epistemologia também pode ser vista como a filosofia da ciência. A epistemologia trata da natureza, da origem e validade do conhecimento, e estuda também o grau de certeza do conhecimento cientifico nas suas diferentes áreas, com o objetivo principal de estimar a sua importância para o espírito humano. Disponível em: <http://www.significados.com.br/epistemologia/>. Acesso em 10 de jul 2016. http://www.significados.com.br/epistemologia/ Referencial Curricular – REME EDUCAÇÃO INFANTIL 10 Versão preliminar – em processo de Revisão currículo “vivo”, ou seja, com inspirações dos alunos, professores, enfim de toda a comunidade escolar no processo educacional. Uma forma de manter este currículo “vivo”, em rede com alunos e professores, com especial atenção às práticas culturais, reside no fato da valorização da diversidade. Para Gomes (2007, p.17), a diversidade no âmbito cultural pode ser compreendida como, A construção histórica, cultural e social das diferenças. A construção das diferenças ultrapassa as características biológicas, observáveis a olho nu. As diferenças são também construídas pelos sujeitos sociais ao longo do processo histórico e cultural, nos processos de adaptação do homem e da mulher ao meio social e no contexto das relações de poder. Sendo assim, mesmo os aspectos tipicamente observáveis, que aprendemos a ver como diferentes desde o nosso nascimento, só passaram a ser percebidos dessa forma, porque nós, seres humanos e sujeitos sociais, no contexto da cultura, assim os nomeamos e identificamos. Ainda, com relação às ideias propostas por Gomes (2007), o conceito de diversidade é complexo, não basta conceituá-lo apenas como diferença, dessemelhança, dissimilitude. A diversidade não se resume a definições abstratas, mas é construída no contexto social “[...] pode ser entendida como um fenômeno que atravessa o tempo e o espaço e se torna uma questão cada vez mais séria quanto mais complexas vão se tornando as sociedades”(GOMES, 2007, p.19). Portanto, a diversidade é uma construção que se inicia com o nascimento do indivíduo e perpassa toda a sua vida enquanto sujeitos sociais. Para Lima (2006), A diversidade é norma da espécie humana: seres humanos são diversos em suas experiências culturais, são únicos em suas personalidades e são também diversos em suas formas de perceber o mundo. Seres humanos apresentam, ainda, diversidade biológica. Algumas dessas diversidades provocam impedimentos de natureza distinta no processo de desenvolvimento das pessoas (as comumente chamadas de “portadoras de necessidades especiais”). Como toda forma de diversidade é hoje recebida na escola, há a demanda óbvia, por um currículo que atenda a essa universalidade. (LIMA, 2006, p.17). A concepção defendida por Lima (2006), e Gomes (2007), nos provoca a entender que diversidade é construída pelos próprios indivíduos, bem como está, intimamente, ligada ao Referencial Curricular – REME EDUCAÇÃO INFANTIL 11 Versão preliminar – em processo de Revisão contexto sócio-histórico e cultural dos sujeitos e não apenas às características biológicas. Assim, aos professores, ao planejarem as aulas com base no Referencial Curricular da Rede Municipal de Ensino de Campo Grande, torna-se fundamental considerar o respeito à diversidade do aluno nas práticas pedagógicas, ou seja, refletir sobre a implementação propostas pedagógicas que impulsionem à reflexão acerca das estratégias metodológicas mais adequadas para atender à diversidade, conhecimentos e habilidades dos alunos. Ressaltamos que a diversidade cultural faz parte da vida do ser humano, enfim da sociedade. Sendo assim, a promoção e a construção de currículos que primam pelo atendimento da “diferença”, busca uma educação multicultural que compreende a diversidade como subsidio teórico metodológico para a elaboração dos planejamentos e estratégias em sala de aula, e, por conseguinte, a valorização dos saberes dos alunos relacionados aos aspectos cultural, linguístico, étnico, de gênero, bem como, o respeito às possibilidades de aprendizagem dos alunos da educação especial. No tangente ao assunto em questão, um dos direitos dos alunos na instituição escolar é o planejamento de ações metodológicas que podem suscitar atividades significativas com foco nas especificidades dos alunos. Logo, planejar estratégias diferenciadas, requer do docente a aproximação e valorização da heterogeneidade dos alunos e uma compreensão ampla e significativa do Referencial Curricular da Rede Municipal de Ensino de Campo Grande-MS. Na oportunidade, desejamos um ótimo trabalho e reafirmamos o compromisso da Superintendência de Gestão das Políticas Educacionais da Rede Municipal de Ensino de Campo Grande-MS em apoiar as práticas docentes visando oportunizar aos alunos uma educaçãode qualidade. DA EDUCAÇÃO ESPECIAL NO REFERENCIAL CURRICULAR DA REME Por muito tempo a educação especial seguiu um modelo médico e clínico, o que pode ser exemplificado pelo fato do médico Jean Marc Gaspard Itard, ser considerado o “pai da educação especial”, por ter elaborado o primeiro programa sistemático de educação especial pela tentativa de recuperação e educabilidade do menino Vitor de Aveyron, “o menino selvagem”, (FARIA et al., 2018). Referencial Curricular – REME EDUCAÇÃO INFANTIL 12 Versão preliminar – em processo de Revisão O diálogo com a área médica e clínica, de acordo com as necessidades postas à sociedade de cada época, promoveu possibilidades de superação das limitações, em busca de melhorias da qualidade de vida das pessoas com deficiência. Assim, a educação especial, subsidiada pelas contribuições da perspectiva clínica, apresenta-se como possibilidade de acesso ao conhecimento, orientando práticas pedagógicas em todas as etapas e níveis de ensino, a fim de oportunizar a escolarização de estudantes com deficiência. A educação especial, com base nas atuais orientações oficiais, é entendida como: [...] uma modalidade de ensino que perpassa todos os níveis, etapas e modalidades, realiza o atendimento educacional especializado, disponibiliza os recursos e serviços e orienta quanto a sua utilização no processo de ensino e aprendizagem nas turmas comuns do ensino regular (BRASIL, 2008, p. 10). Nessa perspectiva, a educação especial é uma modalidade de ensino transversal a todos os níveis, etapas e modalidades. No âmbito da educação inclusiva, propõe às escolas o desafio de construir, coletivamente, condições para atender as especificidades dos alunos com deficiência, possibilitando o acesso, a permanência e a aprendizagem no ensino regular, disponibilizados por meio de recursos, serviços, acessibilidade arquitetônica, mobiliários adequados/adaptados, atendimento educacional especializado (AEE), a formação continuada de professores e demais profissionais da educação, estabelecendo articulação intersetorial na implantação das políticas públicas, buscando a participação da família e da comunidade. A educação especial da Rede Municipal de Ensino do município de Campo Grande, no Mato Grosso do sul, visando à construção de uma escola para todos, oferece por meio da Divisão de Educação Especial/DEE os recursos e serviços necessários aos alunos com deficiência, tais como: tecnologia assistiva, acessibilidade, material e mobiliário adequado/adaptado, salas de recursos multifuncionais, Braille, tipos ampliados, sorobã, libras, meios auxiliares de locomoção e higiene, bem como os profissionais de apoio, os quais auxiliam o professor regente, na presença de alunos público-alvo da educação especial (pessoa com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento, altas habilidades) quando comprovada a necessidade. A reflexão sobre a educação para todos, por meio da Constituição Federal dispõe, no Art. 205 que a educação é direito de todos, sendo pela Resolução do CNE/CEB n. 2/2001, definida as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na educação básica. Referencial Curricular – REME EDUCAÇÃO INFANTIL 13 Versão preliminar – em processo de Revisão A Resolução Semed n. 188, de 5 de Novembro de 2018, traz o entendimento mais atual sobre a inclusão dos alunos público-alvo da educação especial nas classes comuns da Rede Municipal de Ensino de Campo Grande, MS. Em seu Art. 7º, afirma que essa inclusão “[...] exige que a unidade de ensino se organize de forma a oferecer possibilidades objetivas de aprendizagem a todos os alunos, especialmente àqueles com deficiências.” (CAMPO GRANDE, 2018, p. 1). Para que essas possibilidades objetivas sejam viabilizadas, a referida resolução dispõe, em seu Art. 8º, que cada unidade de ensino deve prever e propor: I. sustentabilidade do processo inclusivo mediante aprendizagens cooperativas em sala de aula, com trabalho de equipe na escola e constituição de redes de apoio; II. serviços de apoio pedagógico especializado, mediante atuação colaborativa entre técnicos da DEE/Semed, professores da sala de recursos multifuncionais, auxiliar pedagógico especializado, tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa, estagiário e do assistente de inclusão escolar, sempre que houver necessidade; III. critérios de agrupamento dos alunos (público-alvo da educação especial) com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, pelas diversas classes do ano letivo em que forem classificados, de maneira que se privilegie a interação entre os pares. (CAMPO GRANDE, 2018, p. 26). Portanto, cabe à escola atender as demandas socioculturais, promover as mudanças necessárias, no espaço físico e na formação docente, para proporcionar e mediar a aprendizagem de todos, pois, de acordo com a Declaração Mundial sobre Educação para Todos: [...], cada pessoa, criança, jovem ou adulto deve estar em condições de aproveitar as oportunidades educativas, voltadas para satisfazer suas necessidades básicas de aprendizagem. (BRASIL,1990, p. 3) Conforme assegura a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, é considerada pessoa com deficiência, aqueles que apresentam, “impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais em interação com diversas barreiras podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas”. Nesse contexto, a Rede Municipal de Ensino, busca atender a necessidade histórica da educação brasileira de promover as condições de acesso, participação e aprendizagem dos alunos público-alvo da educação especial no ensino regular, mediante as diversas especificidades entre eles, possibilitando a oferta do atendimento educacional especializado Referencial Curricular – REME EDUCAÇÃO INFANTIL 14 Versão preliminar – em processo de Revisão nas salas de recursos multifuncionais, de forma não substitutiva ao ensino regular comum, mas consolidando um sistema educacional inclusivo que possibilite garantir uma educação de qualidade para todos. CULTURA DIGITAL - COMO A BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR/BNCC PREVÊ A UTILIZAÇÃO DAS TECNOLOGIAS? Em um momento de transformações tecnológicas exponenciais, alta conectividade, mobilidade, ubiquidade, inteligência artificial, internet, robótica, realidade virtual, realidade aumentada, drones e automação os educadores enfrentam o desafio de desenvolver a fluência tecnológica, além de construir conhecimento utilizando a tecnologia com foco na pesquisa científica e inovação. Em rota de colisão, temos uma escola estruturada nos moldes do século XIX, docentes formados em instituições datadas do século XX e alunos nascidos no século XXI. Nesse contexto, entra em cena a Base Nacional Comum Curricular/BNCC 2 documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais a todos os alunos, ele deve ser desenvolvido ao longo das etapas e modalidades da educação básica, com vistas a assegurar seus direitos de aprendizagem e desenvolvimento, em conformidade com o que preconiza o Plano Nacional de Educação/PNE . A BNCC é o documento norteador no âmbito nacional para a formulação dos currículos dos sistemas e redes de ensino dos Estados, Distrito Federal e dos Municípios e das propostas pedagógicas das instituições escolares. Integra a política nacional da educação básica e deverá contribuir para o alinhamento de outras políticas e ações, em âmbito federal, estadual e municipal, referentes à formação de docentes, às matrizes de avaliações, aos exames nacionais, à elaboração de conteúdos educacionais e aos critérios para a oferta de infraestrutura adequada à finalidade de assegurar o desenvolvimento integral dos estudantespor meio das dez competências gerais para a educação básica, pautado nos princípios de equidade, direitos de aprendizagem e a concepção do conhecimento curricular contextualizado pela realidade local, social e individual da escola e dos seus alunos. A definição de competência adotada pela BNCC é a mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e Referencial Curricular – REME EDUCAÇÃO INFANTIL 15 Versão preliminar – em processo de Revisão valores com intuito de resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho. Ao adotar esse enfoque a Base indica que as decisões pedagógicas devem ser orientadas para o desenvolvimento de competências, por meio da explicitação clara acerca do que aprender, para que aprender, como ensinar, como promover redes de aprendizagem colaborativa e como avaliar o aprendizado. Indicando, assim, aos educadores a necessidade de compreender a complexidade, a não linearidade, a diversidade que compõem os processos educacionais e formativos da educação básica, por meio de uma visão plural, singular e integral do aluno. Rompendo, dessa forma, com visões reducionistas, a superação da fragmentação disciplinar do conhecimento, o estímulo a sua aplicação na vida real, a importância do contexto para dar sentido ao que se aprende e o protagonismo do aluno em sua aprendizagem e na construção de seu projeto de vida. A BNCC reconhece os benefícios que a cultura digital promove nas esferas sociais. Diante das inúmeras interações multimidiáticas e multimodais, oportunizadas pelas tecnologias digitais de informação e comunicação (TDICs), a proposta da Base é trabalhar o uso da tecnologia integrada ao currículo aplicado como intervenção social contextualizada, desenvolvendo essa que é uma das dez competências gerais da educação básica citadas pelo documento, Competência Geral 5 (BRASIL, 2017, pag. 9) Figura 1 -Diagrama das Competências Gerais da BNCC Fonte 1- http://movimentopelabase.org.br/wp- content/uploads/2018/03/BNCC_Competencias_Progressao.pdf http://movimentopelabase.org.br/wp- Referencial Curricular – REME EDUCAÇÃO INFANTIL 16 Versão preliminar – em processo de Revisão Utilizar tecnologias digitais de comunicação e informação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas do cotidiano (incluindo as escolares) ao comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos e resolver problemas. Ao utilizar as tecnologias como estratégia de ensino é preciso ter clareza de todos os fazeres pedagógicos. No projeto, no planejamento, no currículo, nas competências e habilidades que se quer desenvolver e no processo avaliativo. O grande desafio para o uso da tecnologia nos processos educacionais é a preparação dos professores para essa prática, os docentes precisam identificar o próprio nível de maturidade em relação ao uso das tecnologias, no intuito de desenvolver as habilidades a partir de práticas pedagógicas inovadoras, contemporâneas e significativas. Precisam consumir e entender a mecânica de produção da mesma, para adquirir segurança e construir, gradativamente, a cultura digital no âmbito da vida pessoal e profissional. Estabelecer uma conexão entre os conteúdos e a tecnologia disponível com intuito de alterar o papel de meros consumidores de tecnologia dos estudantes para pessoas criativas capazes de desenvolver estratégias e artefatos para resolução de problemas e engajamento na produção de tecnologia de modo responsável. DOCUMENTO ORIENTATIVO – RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS E DE GÊNERO A educação deve estar voltada não só para fatores do conhecimento científico, mas também para fatores que englobam os interesses filosóficos, humanitários e sociais, sendo associados a valores éticos e de cidadania. Deve estar, também, voltada para a ética, para a cidadania, para os direitos humanos e pluralidade cultural, por meio de discussões de temáticas como o debate sobre o ser, o mundo e o cotidiano, o enfrentamento às discriminações étnico-raciais e sociais, à intolerância religiosa, às discussões de gênero e diversidade sexual, aos conflitos geracionais, dentre outros, possibilitando a formulação de conceitos e valores rumo a uma nova consciência do papel social como indivíduo. Sendo assim, cabe ressaltar que os alunos/as irão ampliar sua concepção de mundo de forma criativa e crítica, entendendo, com esta abordagem curricular, que no cotidiano, não só o escolar, ele tem a oportunidade de vivenciar e conviver com as diferenças, condições estas imprescindíveis na constituição da cidadania. Referencial Curricular – REME EDUCAÇÃO INFANTIL 17 Versão preliminar – em processo de Revisão Com o propósito de disseminar, nas unidades escolares, a importância do reconhecimento e enfrentamento das discriminações raciais, a Divisão de Educação e Diversidade/DED da Secretaria Municipal de Educação de Campo Grande/SEMED, propõe algumas sugestões para a valorização da identidade e o reconhecimento da cidadania, ética e educação em direitos humanos como também da cultura e da história Afro-Brasileira e indígenas como forma de incentivar e fortalecer a autoestima de nossos alunos. Educação em direitos humanos A educação em direitos humanos é, essencialmente, a formação de uma cultura de respeito à dignidade humana por meio da promoção e da vivência dos valores da liberdade, da justiça, da igualdade, da solidariedade, da cooperação, do respeito e da paz. Portanto, a formação dessa cultura significa criar, influenciar, compartilhar e consolidar mentalidades, costumes, atitudes, hábitos e comportamentos que decorrem, todos, daqueles valores essenciais – os quais devem se transformar em práticas (BENEVIDES, 2000)4. Assim, a escola precisa fortalecer boas práticas e combater ações que levem ao preconceito e discriminação de todos os modos. Objetivos da abordagem da educação em direitos humanos: levar o/a estudante a compreender que o conceito de cidadania foi construído por meio de lutas e transformações históricas e sociais; promover debates sobre bullying escolar; refletir sobre suas ações na convivência social e democrática; criar oportunidades para o desenvolvimento de relações interpessoais, cognitivas, afetivas, éticas e estéticas, a fim de propiciar ambiente propício para a convivência social e democrática; comprometer-se com a construção da cultura de paz na comunidade; criar a consciência de que é preciso respeitar e valorizar o "outro", demonstrando equilíbrio nas relações, atitudes de cooperação, respeito, afeto e aceitação perante os demais colegas; 4 BENEVIDES, Maria Victoria. Educação em Direitos Humanos: De que se trata? . Palestra de abertura do Seminário de Educação em Direitos Humanos, São Paulo, 18/02/2000. Disponível em: < http://hottopos.com/convenit6/victoria.htm> Referencial Curricular – REME EDUCAÇÃO INFANTIL 18 Versão preliminar – em processo de Revisão resgatar valores, limites, regras de convivência, promovendo a socialização entre crianças, por meio de ações do seu cotidiano; ensinar as noções básicas de justiça aos alunos/as, com o enfoque que a justiça não pode ser apenas um discurso, mas uma prática; compreender o conceito de violência em suas diferentes formas (verbal, psicológica, física, etc.) e suas múltiplas representações na sociedade; estudar, por meio de atividades diversificadas, o conteúdo da Declaração Universal dos Direitos Humanos; desenvolver, nos alunos/as, os valores de igualdade e equidade; propiciar a promoção dos direitos humanos nas relações na escola, no bairro, na comunidade, no país e no mundo; realizar o estudo da Constituição da República Federativado Brasil (Artigos 1º ao 6º e histórico), entendendo sua importância para a nação. Gênero e diversidade sexual No ambiente escolar e doméstico é que o sujeito começa a ser estereotipado, com vistas, sempre, às normas que a sociedade considera corretas. A Lei n. 11.340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha, tornou-se o principal mecanismo legal para coibir e punir a violência doméstica praticada contra as mulheres no Brasil. A Lei traz um conjunto de normas que visa a proteger a mulher e sua família. Quanto à sua abrangência, a Lei nº 11.340/2006, destina-se tão somente às mulheres em situação de violência segundo o proferido no Título III CAPÍTULO I DAS MEDIDAS INTEGRADAS DE PREVENÇÃO. V- a promoção e a realização de campanhas educativas de prevenção da violência doméstica e familiar contra a mulher, voltadas ao público escolar e à sociedade em geral e a difusão desta Lei e dos instrumentos de proteção aos direitos humanos das mulheres; VIII- a promoção de programas educacionais que disseminem valores éticos de irrestrito respeito à dignidade da pessoa humana com a perspectiva de gênero, raça ou etnia; Referencial Curricular – REME EDUCAÇÃO INFANTIL 19 Versão preliminar – em processo de Revisão IX- o destaque, nos currículos escolares de todos os níveis de ensino, para os conteúdos relativos aos direitos humanos, à equidade de gênero e de raça ou etnia e ao problema da violência doméstica e familiar contra a mulher. Nesse sentido, a educação é um instrumento primordial para a prevenção e erradicação da violência, por isso, acreditamos que a escola tem papel fundamental na desconstrução da violência contra a mulher. Alinhado à Lei Maria da Penha temos a Lei Municipal nº 6.126/2018, que dispõe sobre o ensino de noções básicas sobre a Lei Maria da Penha nas escolas municipais de Campo Grande- MS, de forma transversal ou extracurricular. Ao levar o conteúdo da Lei Maria da Penha para as escolas, objetiva-se mostrar a relevância da referida Lei, além de ajudar a conscientizar os estudantes sobre a necessidade de combater a violência contra a mulher, tudo com vistas à prevenção da violência doméstica. Assim, pretende-se trabalhar a formação de uma nova consciência com os jovens, torná-los cidadãos com novos comportamentos e agentes transformadores de sua realidade. Sugestões para a abordagem de gênero e sexualidade: envolver alunos/as, funcionários/as e famílias/comunidade em discussões/eventos a respeito da mulher e seu papel na sociedade (direitos, dificuldades, preconceitos, conquistas), buscando, sempre, a transformação da escola em um lugar da liberdade, do respeito e da boa convivência; promover o combate ao preconceito de gênero (machismo/sexismo/misoginia); promover estudos a respeito de bullying, como forma de orientar os/as alunos/as diante dessas práticas de violência e, ao mesmo tempo, contribuir para que ele/ela possa diferenciar o bullying do sexismo, da misoginia, do racismo e da homofobia; ampliar os espaços de discussões sobre as relações de gênero e sexualidade, a fim de produzir mudanças significativas em nossa sociedade, amenizando as desigualdades de gênero; realizar uma reflexão crítica em relação às especificidades da mulher e do homem, sobre traços da identidade de gênero que promovam a vulnerabilidade de meninos e meninas; refletir sobre a função paterna, materna e fraterna, questionando relações de poder que estimulam a violência e abuso de poder entre a mulher e o homem; Referencial Curricular – REME EDUCAÇÃO INFANTIL 20 Versão preliminar – em processo de Revisão entender que o respeito às diferenças sexuais merece cuidado e deve a mesma atenção e cuidado dado a outras formas de discriminação; desenvolver atividades a respeito da Lei Maria da Penha (Lei Nº 11.340/2006), atendendo à Recomendação nº 2/2013. promover medidas que assegurem o uso do nome social de travestis e transexuais nos ambientes escolares municipais. Étnico-racial – Questões afro-brasileiras e indígenas A Lei federal no 10.639/2003 tornou obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira, fruto da luta e reivindicações de professores, estudiosos, movimentos sociais entre outros. Exatamente por conta do envolvimento dos movimentos sociais que - ao se pensar no trabalho e estudos sobre as questões que envolvem os povos africanos e afrodescendentes – que pontuamos o estudo sobre a Lei no 10.639/2003 e não apenas a Lei no 11.645/2008, que acrescenta a questão indígena. Corroborando com essa decisão, os povos indígenas também compreendem que a luta e a história de seus ancestrais são pontuais. Portanto, tanto os estudos quanto as produções realizadas pelas Universidades e pelo Ministério da Educação/MEC são claros ao relacionar a Lei no 10.639/2003 para o estudo da História e Cultura Afro-Brasileira, e a Lei no 11.645/2008 para o estudo da História e Cultura Indígena. Sugestões para a abordagem do trabalho com a Lei n o 10.639/2003: proporcionar, ao(à) aluno(a) e/ou professor(a), o fortalecimento de sua autoestima e a (re)construção de sua personalidade, tendo como referência as ações heroicas de várias personalidades negras (antigas e atuais); promover uma nova visão da história dos africanos, enfocando seus reinados e impérios, sua cultura e descobertas científicas; favorecer condições para que alunos e professores se apropriem de novos saberes sobre a participação de personalidades negras em nossa história; reconhecer que o tráfico humano foi uma atividade fundamental para o capitalismo mercantilista e que o Brasil, além de ser o país que mais importou escravos negros, foi o último a reconhecer/aceitar a abolição da escravatura; Referencial Curricular – REME EDUCAÇÃO INFANTIL 21 Versão preliminar – em processo de Revisão discutir a repercussão da “Lei Áurea” como um ato político, resultante não apenas das ações de abolicionistas, mas principalmente da pressão internacional e seus reflexos práticos, para a vida dos negros escravizados e na construção do racismo nos dias atuais; conhecer algumas personalidades negras e sua contribuição nos diversos setores da sociedade: políticos, artistas, cientistas, estudiosos, líderes locais, entre outros; estudar a importância dos quilombos, como centros de luta e resistência contra a escravização, e as comunidades remanescentes de quilombos que existem em nosso estado/cidade; identificar a relevância do estudo sobre o dia da consciência negra – 20 de novembro, em relação ao dia 13 de maio, que de acordo com as orientações do MEC5, deverá ser lembrado como o dia nacional de luta contra o racismo. Sugestões para a abordagem do trabalho com a Lei no 11.645/2008: diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira; história e luta dos povos indígenas no Brasil; cultura Indígena brasileira, bem como enfatizar a cultura indígena presente em nosso estado; os povos indígenas na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil; diferenças étnicas entre os povos indígenas, considerando suas diversidades culturais, sociais, políticas e econômicas; cosmologia (concepções a respeito da origem do Universo e de todas as coisas que existem no mundo, tais como: mitos, origem do homem, relações ecológicas entre animais, plantas e outros elementos da natureza, da origem da agricultura, da metamorfose de seres humanos em animais, da razão de ser de certas relações sociais culturalmente importantes); 5 Orientações do MEC no livro: Práticas pedagógicas de trabalho com relações étnico-raciais na escola na perspectiva da Lei no 10.639/2003, página 47: 21 de março – Dia Internacional pela Eliminaçãode Todas as Formas de Discriminação; 13 de maio – Dia Nacional de Luta contra o Racismo; 25 de maio – Dia da Libertação da África; 25 de julho – Dia da Mulher Negra Latino-Americana e do Caribe; 28 de setembro – Lei do Ventre Livre; 20 de novembro – Dia Nacional da Consciência Negra. Referencial Curricular – REME EDUCAÇÃO INFANTIL 22 Versão preliminar – em processo de Revisão territórios e terras indígenas (conceito e localização geográfica no território nacional e regional). AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL A avaliação Institucional, interna e externa, tem por finalidade subsidiar as escolas na identificação de suas potencialidades e fragilidades com o intuito de melhorar a qualidade do ensino e a qualidade social. Nessa perspectiva, ressaltamos que a autoavaliação institucional, nas unidades escolares da Reme, é indispensável para traçar metas a curto, a médio e longo prazo, bem como tomar decisões inerentes ao processo educacional. Por meio desta ferramenta, aliada a avaliação de desempenho e outros indicadores, escolas e mantenedora poderão analisar e discutir as metas e ações a serem desenvolvidas e propiciar elementos para a construção de políticas educacionais destinadas as especificidades de cada unidade e a todos os segmentos que dela fazem parte, com o objetivo de melhorar a qualidade da educação, bem como a qualidade social da escola. A escola para alcançar a qualidade social necessita atentar “[...] para um conjunto de elementos e dimensões socioeconômicas e culturais que circundam o modo de viver e as expectativas das famílias e de estudantes em relação à educação” (SILVA, 2009, p. 225), bem como compreender “[...] as políticas governamentais, os projetos sociais [...] voltados para o bem comum; [...]” (SILVA, 2009, p. 225). Isso posto, buscar a qualidade da educação, tendo como uma das ferramentas a autoavaliação institucional, significa ratificar a função social da escola, isto é, a transmissão e a produção do conhecimento científico, além de valores para convivência na sociedade. Sua função social tem variado ao longo do tempo, relacionando-se aos diferentes momentos da história, às culturas de países, regiões e povos. Isto porque cada sociedade e cultura cria suas próprias formas de educação e de escolarização. Guardando uma especificidade com os diferentes contextos de origem, ao mesmo tempo mantêm-se elementos comuns ao processo de transmissão de conhecimentos, valores e formas de convivência social que constituem a essência da tarefa escolar. (PENIN; VIEIRA, 2002, p.14). Face ao exposto, com o intuito de confirmar essa função, a implementação da autoavaliação precisa acontecer de forma democrática e transformadora. Para tanto é necessário que ocorra: Referencial Curricular – REME EDUCAÇÃO INFANTIL 23 Versão preliminar – em processo de Revisão a) Adesão voluntária: o projeto deve ser desejado por toda a comunidade, estimulada a participar de reuniões democráticas. b) Avaliação total e coletiva: a escola deve ser avaliada por todos (pais, alunos, funcionários, gestores, professores e comunidade). c) Respeito à identidade: as especificidades da escola deverão ser consideradas na avaliação interna, que pode ser complementada por externa. d) Unidade de “linguagem”: o entendimento comum dos conceitos, princípios e finalidades do projeto deve ser buscado. e) Competência técnico-metodológica: deve-se ter uma base científica que direciona o projeto e legitima os dados coletados. (FERNANDES, 2002, p. 43, grifo no original). Nesse contexto, a Avaliação Institucional interna na Reme se fundamenta em: promover uma cultura de autoavaliação nas escolas, estimular a realização sistemática da autoavaliação como instrumento de acompanhamento da implementação do Projeto Político Pedagógico (PPP) e subsidiar as escolas e a Semed com indicadores que possibilitem a reflexão da realidade de cada unidade de ensino, com vistas a traçar metas para o aperfeiçoamento dos trabalhos realizados e dos serviços prestados. Tal proposta é uma oportunidade para a escola voltar-se para o levantamento/conhecimento da sua realidade, utilizando metodologias e instrumentos que possibilitem uma análise abrangente e profunda sobre a sua estrutura institucional. AVALIAÇÃO EM LARGA ESCALA A Secretaria Municipal de Educação de Campo Grande - MS, acompanhando o contexto de desenvolvimento dos sistemas de avaliação no Brasil e pensando em primar pela qualidade da educação na Rede Municipal de Ensino de Campo Grande - Reme, realiza avaliações externas de desempenho desde 1999. Nessa perspectiva o Programa Municipal de Avaliação Externa de Desempenho de Alunos da Rede Municipal de Ensino de Campo Grande –PROMOVER foi instituído por meio da Lei n. 4.358, de 29 de dezembro de 2005. O PROMOVER é um programa que visa monitorar, nortear as ações da Semed relativas à avaliação dos alunos matriculados na REME, normatizando as regras e as condições em que realizam as avaliações na Rede Municipal de Ensino de Campo Grande – MS (CAMPO GRANDE, 2011, p. 28). Dentre os fundamentos do Promover destacam-se o monitoramento da qualidade do ensino ofertado pela Reme, o fornecimento de dados e indicadores para subsidiar a política municipal de educação, a definição de prioridades de atendimento às escolas, a criação de Referencial Curricular – REME EDUCAÇÃO INFANTIL 24 Versão preliminar – em processo de Revisão banco de dados com série histórica de resultados e a busca de melhores índices nos processos de ensino e de aprendizagem. Esses fundamentos justificam a necessidade de se realizar avaliações de desempenho e avaliações diagnósticas na rede. Para realizar as avaliações externas de desempenho e avaliações diagnósticas, o Promover tem como base o Referencial Curricular da Reme que, por sua vez, é elaborado em consonância com as políticas nacionais de educação, como a Base Nacional Comum Curricular, uma vez que ela é Referência nacional para a formulação dos currículos dos sistemas e das redes escolares dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e das propostas pedagógicas das instituições escolares, a BNCC integra a política nacional da Educação Básica e vai contribuir para o alinhamento de outras políticas e ações, em âmbito federal, estadual e municipal, referentes à formação de professores, à avaliação, à elaboração de conteúdos educacionais e aos critérios para a oferta de infraestrutura adequada para o pleno desenvolvimento da educação. (BRASIL, 2017, p. 8, grifo nosso). Alinhado com a BNCC e com o Referencial Curricular da Reme, para elaboração dos testes das avaliações, são utilizados documentos norteadores denominados de Matrizes de Referência que descrevem as competências/habilidades, de forma abrangente, de cada componente curricular avaliado. Essas Matrizes delineiam o que do Referencial Curricular será avaliado levando em consideração aspectos relevantes para o desenvolvimento e a construção do conhecimento dos alunos. Esse documento auxilia técnica e pedagogicamente na elaboração das avaliações e não pode substituir o Referencial Curricular da Reme nas escolas. O maior desafio de todo esse processo avaliativo está relacionado à divulgação e utilização dos resultados pelas escolas. Esse processo será mais efetivo se os dados forem interpretados pedagogicamente de forma que todos na escola se apropriem deles e os analisem a partir do seu contexto com foco na transformação da realidade apresentada. Nesse sentido, as avaliações de desempenho e diagnósticas configuram-se em uma importante iniciativa de âmbito municipal, com vistas a fornecer informações que possam subsidiar a tomada de decisão, o planejamento de ações e o direcionamento de intervenções em prol da aprendizagem dos alunos da Reme.Referencial Curricular – REME EDUCAÇÃO INFANTIL 25 Versão preliminar – em processo de Revisão Referencial Curricular da Rede Municipal de Ensino (Reme) Mônica de Oliveira Inácio Prestes 6 Durante o ano de 2019, os professores/técnicos da Gerência do Ensino Fundamental e Médio (Gefem) realizaram formações com os professores das diferentes áreas do conhecimento, abordando temáticas em conformidade com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Um dos objetivos da BNCC é orientar e respaldar o trabalho pedagógico do professor em suas práticas de sala de aula, além de direcionar o processo de ensino e aprendizagem dos diferentes componentes curriculares, visando a aprimorar a qualidade da educação básica, podendo ocasionar a reestruturação e transformação do agir pedagógico in loco. Neste Referencial, os conhecimentos teórico-práticos necessários aos aprendizes para o desenvolvimento da cidadania crítica atualizada estão propostos/indicados nos diferentes componentes curriculares, por meio das recomendações e/ou habilidades a serem desenvolvidas nos diversos saberes específicos. Ainda, o documento preza pela formação continuada e pela liberdade de concepções pedagógicas do docente da Reme, que vêm sendo um fator determinante no que se refere à qualidade do fazer pedagógico. Esses preceitos, além de serem reflexos das lutas dos professores frente à valorização da profissão docente, são previstos na Lei 9.394/1996, como um dos pilares no processo de desenvolvimento da educação nacional brasileira. Assim sendo, o processo de construção do conhecimento ocorre durante toda a formação do sujeito. Por isso, expressamos a importância de o docente estar em constante (re)construção de suas práticas, de sua identidade profissional, por meio de reflexões demoradas, integrando novos conhecimentos à sua formação e experiências adquiridas. A consolidação da aprendizagem se dá por meio de vivências e práticas de ensino e aprendizagem em relação aos fatores sociais, econômicos e culturais que influenciam diretamente nos processos de construção das cidadanias, proporcionando ao aluno estruturas cognitivas capazes de fazê-lo progredir na vida escolar de forma significativa. 6 Gerente do Ensino Fundamental e Médio (Gefem) Referencial Curricular – REME EDUCAÇÃO INFANTIL 26 Versão preliminar – em processo de Revisão Diante das necessidades apontadas, esta Secretaria vem subsidiar o trabalho pedagógico por meio deste documento curricular, visando a repassar os conhecimentos teóricos/práticos mediados por “novas” estratégias voltadas para um “novo” olhar e fazer pedagógicos, podendo conduzir a resultados positivos e produtivos. Desse modo, motivando o corpo técnico educacional e docentes a superarem os obstáculos e obterem atitudes que se engajem no desenvolvimento da qualidade do ensino e da aprendizagem, oportunizando aos discentes a construção das habilidades linguísticas, científicas e sociais essenciais em sua formação cidadã crítica. Nessa perspectiva, o documento, que ora propomos, é formado com base em compromissos sociais e epistemológicos interessados em pedagogias decoloniais, em que se busca estabelecer “novos” padrões de aprendizagem, em consonância com as políticas nacionais e os instrumentos legais norteadores. Com isso, almeja-se, ainda, proporcionar orientações pedagógicas aos educadores da Reme, via encontros de formação continuada, realizados em quatro momentos durante o ano, bem como, estratégias metodológicas sugeridas durante os encontros. Busca-se, também, propiciar aos educandos um ensino indissociável das suas especificidades, conforme o progresso desses alunos, por meio de ações que possam proporcionar aos aprendizes condições de desenvolverem “adequadamente” habilidades mais complexas dos conteúdos do ano escolar. Esses conhecimentos elementares possuem um papel preponderante na formação de cidadãos para o convívio social e para a atuação no campo laboral. Valorizando, assim, suas capacidades para uma agência de participação efetiva na sociedade contemporânea. Diante da relevância da formação humana como fonte de construção pessoal, Zabala (1990, p .201) defende “o processo de desenvolvimento que o sujeito humano percorre até atingir um estado e „plenitude” pessoal‟”. Qual seja, entende-se que a aprendizagem é um processo social, cultural indispensável ao homem, mormente para o profissional da educação no agir docente. Destarte, pensando na importância de os professores estarem em constante processo de formação, a Semed, acreditando em seus profissionais e no valor do seu trabalho da Reme, propõe este Referencial Curricular para contribuir com o desenvolvimento e aperfeiçoamento da prática de ensino e aprendizagem. Referencial Curricular – REME EDUCAÇÃO INFANTIL 27 Versão preliminar – em processo de Revisão REFERÊNCIAS BRASIL. Atendimento Educacional Especializado: Deficiência Física. Brasília: MEC/SEESP/SEED, 2007 BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Brasília: MEC. 2017. Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_20dez_site.pdf>. Acesso em: 17 mai. 2019. BRASIL. Decreto n° 7.611, de 17 de novembro de 2011. Dispõe sobre a educação especial, o atendimento educacional especializado e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 2011. BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação. Ministério da Educação. Brasília: DF, 2013. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Básica. Base nacional comum curricular. Brasília, DF, 2017. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Manual de Orientação: Programa de Implantação de Sala de Recursos Multifuncionais. Brasília: MEC/SEESP, 2010. BRASIL. Política Nacional da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília: MEC/SEESP, 2008. BRASIL. Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência. Decreto n. 3298, 20 dez 1999. MEC/SEESP, 1999. BRASIL. Resolução CNE/CEB nº 2, de 11 de setembro de 2001. Institui Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. Diário Oficial da União, Brasília, 2001. BRASIL. Resolução CNE/CEB nº 4, de 2 de outubro de 2009. Institui Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educação. Diário Oficial da União, Brasília, 2009. CAMPO GRANDE (MS). Secretaria Municipal de Educação. Educação de qualidade: Programa Municipal de Avaliação Externa de Desempenho dos Alunos da Reme (PROMOVER). Soraya Regina de Hungria Cruz, Marcia Regina Teixeira Mortari Végas, Maria Elisabete Cavalcante (org.). Campo Grande: SEMED, 2011. CAMPO GRANDE. Resolução n.188, de 5 de novembro de 2018. Dispõe sobre a inclusão do aluno público alvo da educação especial na rede Municipal de Ensino e dá outras providências. Diário Oficial de Campo Grande (DIOGRANDE n.5.406), Campo Grande, MS, 2018. FARIA, Karla Tomaz et al. Atitudes e práticas pedagógicas de inclusão para o aluno com autismo. Revista Educação Especial, v. 31, n. 61, p. 353-370, 2018. FERNANDES, Maria Estrela Araújo. Avaliação institucional da escola: base teórica e construção do projeto. 2. ed. Fortaleza: Demócrito Rocha, 2002. FREITAS, Luis Carlos et al. Avaliação Educacional: caminhando pela contramão. p. 5. Ed – Petrópolis, Rio Janeiro: Vozes, 2012. – (coleção Fronteiras Educacionais). Referencial Curricular – REME EDUCAÇÃO INFANTIL 28 Versão preliminar – em processo de Revisão Gomes, Nilma Lino. Indagações sobre currículo: diversidade e currículo.Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2007. LIMA, Elvira de Souza. Currículo e desenvolvimento humano. In: MOREIRA, Antonio Flávio e ARROYO, Miguel. Indagações sobre currículo. Brasília: Departamento de Políticas de Educação Infantil e EnsinoFundamental, nov. 2006, p.11- 47 Referencial Curricular – REME EDUCAÇÃO INFANTIL 29 Versão preliminar – em processo de Revisão PARA INICIAR OS TRABALHOS A Secretaria Municipal de Educação de Campo Grande/Semed, na busca de qualificar as ações desenvolvidas com as crianças, oferecendo suporte para o trabalho docente, desenvolveu este Referencial Curricular em consonância com as diretrizes estabelecidas pela Base Nacional Comum Curricular/BNCC e com os demais documentos legais norteadores da educação infantil. Assim, o presente documento tem como objetivo orientar a elaboração das propostas curriculares das instituições de educação infantil que favorecem a promoção de vivências e conhecimentos essenciais e significativos para as todas as crianças inseridas nas escolas municipais. O estudo e a reflexão sobre o ensino e a aprendizagem das crianças na Rede Municipal de Ensino/Reme foram incrementados com o processo de construção da BNCC, culminando com a publicação do documento intitulado “Orientações Curriculares para a Educação Infantil: jeitos de cuidar e educar”, em 2017. Entretanto, as discussões sobre o currículo continuaram nos âmbitos nacional, estadual e municipal e, após a homologação da BNCC, em dezembro de 2017, fez-se necessária a elaboração deste Referencial Curricular em conformidade com os campo de experiências apresentados pela política recém-implantada, visando a uma melhor aprendizagem por parte da criança, concebida como sujeito de direitos que precisa ser entendida em suas especificidades e atendidas em seus modos próprios de aprender e de agir no mundo. Neste sentido, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL, 2009) e a BNCC (2017), consideram a criança como centro do planejamento que, em suas múltiplas interações e relações estabelecidas nas práticas cotidianas, constroem sua identidade pessoal e coletiva, sendo que, por meio das brincadeiras e das mais diversas experimentações e aprendizagens, constrói sentidos em relação ao contexto natural e social ao qual está inserida, produzindo cultura (BRASIL, 2009). Sendo assim, este material traz, ao longo de sua organização, um breve histórico da educação infantil no Brasil e na Reme, evidenciando o cuidar e o educar vinculados à concepção de infância e de criança construídas socialmente. Ainda, encontram-se presentes no documento: elementos que consideram a pluralidade, a diversidade, as diferenças e, fundamentalmente, elementos culturais e seus contextos; aspectos conceituais em torno da educação, do conhecimento, currículo e da aprendizagem; os eixos condutores do trabalho Referencial Curricular – REME EDUCAÇÃO INFANTIL 30 Versão preliminar – em processo de Revisão docente, bem como os processos de acompanhamento e avaliação/transições do desenvolvimento infantil. Ademais, estão expressos neste Referencial Curricular, a relação entre os direitos de aprendizagem e o desenvolvimento infantil, os campos de experiências que organizam o trabalho dos professores para/com as crianças e a definição do que vem a ser “experiência” no contexto da educação infantil. Na sequência, são apresentados os saberes e conhecimentos que, associados aos objetivos de aprendizagens dos campos de experiências, legitimam a intencionalidade das práticas docentes, a partir das turmas nas quais os bebês e as crianças encontram-se agrupados no município de Campo Grande. Dessa forma, a compreensão presente na legislação posta e nas produções da comunidade científica sobre a identidade da educação infantil como uma etapa da educação básica, não é a de preparar as crianças para séries/anos subsequentes, mas promover o efetivo aprendizado e desenvolvimento integral das crianças de zero a 5 anos de idade. Assim, este Referencial Curricular pretende contribuir com as escolas municipais e com os professores no exercício da docência na educação infantil. Bom trabalho! Equipe da Gerência da Educação Infantil Referencial Curricular – REME EDUCAÇÃO INFANTIL 31 Versão preliminar – em processo de Revisão ASPECTOS CONCEITUAIS SOBRE A EDUCAÇÃO INFANTIL A Gerência da Educação Infantil, por meio da Semed, defende a importância da educação infantil no processo de democratização da educação brasileira e na construção da cidadania das crianças. Torna-se, desse modo, fundamental compreender melhor essa etapa da educação básica, assegurando o acesso e a permanência das crianças e a qualidade da educação ofertada. Legalmente, a educação infantil se constituiu como dever do Estado e direito de todas as crianças de zero a 5 anos, a partir da Constituição Federal de 1988, concebida como primeira etapa da educação básica e normatizada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional/LDB nº 9394/96. Já incluída nos sistemas de ensino e seguindo orientações da LDB, em 1999, foram elaboradas, pelo Conselho Nacional de Educação, as primeiras Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEIs) – revisadas, posteriormente, pela Resolução do CNE/CEB n.05/2009. Atualmente, a educação infantil também segue as normatizações dispostas na BNCC (2017). Nesse prisma, a legislação brasileira, desde a CF (1988), vem se consolidando como mecanismo fundamental para a garantia do direito à educação infantil, revelando uma concepção de criança, expressa nas DCNEIs (2009), em seu art. 4º, enquanto “sujeito histórico e de direitos que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura” (BRASIL, 2009, p.12). Com relação à concepção de criança, esta vincula-se à compreensão que se tem de infância, a qual apresentou diferentes configurações a depender do contexto histórico. Em outrora, na Idade Média, a criança era vista como um adulto em miniatura e ao longo do tempo, as transformações sociais foram conduzindo essa concepção para a que corresponde ao contexto atual, em que o cidadão é um sujeito de direitos e, por sua vez, as crianças ganharam visibilidade no processo de conquistas de seus direitos, dentre eles o da educação. O reconhecimento da educação infantil é fruto de uma longa construção histórica marcada por conquistas e contradições. A literatura pontua que as creches atendem, historicamente, as demandas observadas em meio à sociedade. Desse modo, a necessidade de atendimento à criança pequena surgiu e se modificou de acordo com as transformações das Referencial Curricular – REME EDUCAÇÃO INFANTIL 32 Versão preliminar – em processo de Revisão condições sociais e políticas que os grupos sociais vivenciaram ao longo do tempo, em contextos culturais diversos. Em Campo Grande, o atendimento da criança na educação infantil, até o ano de 2007, estava a cargo do município e do Estado, entretanto, a partir do Decreto nº 10.000 de 27 de junho de 2007, essa responsabilidade passou a ser apenas da gestão municipal, de maneira compartilhada entre as Secretarias de Assistência Social e de Educação. Já em 2014, o cuidado e a educação das crianças se tornaram responsabilidade integral da Semed. No início de 2019, os chamados Centros de Educação Infantil (CEINFs) receberam a nomenclatura de Escolas Municipais de Educação Infantil (EMEIs), pelo Decreto nº 13.755, de 08 de janeiro de 2019, reiterando o compromisso da Secretaria de com a educação das crianças. Assim, a legislação vigente consolida uma nova concepção sobre a educação infantil, assegura como direito a todas as crianças, visando ao desenvolvimento integral e entendendo o cuidado e a educação como algo indissociável ao processo educativo.No entanto, ainda vivemos em um país marcado pela desigualdade socioeconômica, de modo que as instituições de educação infantil necessitam buscar propostas de trabalho que considerem as especificidades da infância e a importância dos conhecimentos socialmente produzidos, articulando-os com a aprendizagem e o desenvolvimento necessários, e que conceba a criança como cidadã e sujeito de direitos, com necessidades singulares e características diferenciadas de outras faixas etárias. Compreendemos as EMEIs como espaços de formação de conceitos capazes de promover nas crianças a humanização, no seu tempo e espaço bem como o acesso a todas as linguagens presentes na cultura que servem para expressar, interagir, elaborar e ampliar os conhecimentos, nas múltiplas relações que as mesmas estabelecem com a natureza e a sociedade em situações variadas de interações com seus pares e com os adultos que a cercam, possibilitando vivências e experiências através das quais possam ampliar seus referenciais de mundo, de conhecimento e de cultura. De acordo com as DCNEI (2009, p. 18), a educação infantil tem como objetivos: “1) garantir para todas as crianças o acesso a processos de apropriação, renovação e articulação de conhecimentos e aprendizagens de diferentes linguagens e 2) o direito à proteção, à saúde, à liberdade, à confiança, ao respeito, à dignidade, à brincadeira, à convivência e à interação com outras crianças”, considerando as interações e brincadeiras como os eixos estruturantes do trabalho pedagógico para esta etapa da educação básica e a BNCC (2017), na qual se Referencial Curricular – REME EDUCAÇÃO INFANTIL 33 Versão preliminar – em processo de Revisão estabelece os seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento que asseguram as condições pelas quais as crianças inseridas na educação infantil são capazes de aprender e se desenvolver. Em âmbito municipal, as orientações para o trabalho com a educação infantil na Reme, em 2017, presentes no documento “Orientações Curriculares para a Educação Infantil: jeitos de cuidar e educar” (2017), evidenciam que as escolhas curriculares não se restringem apenas aos conteúdos a serem ensinados e aprendidos e reconhecem os momentos de alimentação, banho, sono e acolhidas como partes integrantes de um projeto de formação humana. Para tanto, a atividade docente necessita de intencionalidade pedagógica, uma vez que as especificidades do trabalho com as crianças de zero a 5 anos exige saberes sobre como elas aprendem, se desenvolvem e quais são suas necessidades cognitivas, sociais, emocionais e físicas. Assim, é preciso que o professor compreenda que “há uma especificidade clara no trabalho do professor de educação infantil que é a de ter a sensibilidade para as linguagens da criança, para o estímulo à autonomia, para mediar a construção de conhecimentos científicos, artísticos e tecnológicos e, também, para se colocar no lugar do outro, aspectos imprescindíveis no estabelecimento de vínculos com bebês e crianças pequenas” (BARBOSA, 2009, p.37). Outro aspecto fundamental para a garantia da qualidade da educação ofertada às crianças é o diálogo e o compartilhamento de responsabilidades com os familiares e/ou seus responsáveis, na medida em que a educação infantil possui um caráter educativo complementar à ação da família (BRASIL, 1996) e que essa prática possibilita um maior conhecimento das necessidades individuais de cada sujeito, garantindo que a criança seja o centro de todas as ações planejadas nas instituições. Ainda, favorecer a presença dos responsáveis na escola e colocá-los a par dos movimentos e práticas pedagógicas que compõem o cotidiano das crianças são iniciativas que precisam ser asseguradas pelas unidades educacionais. Receber bem a ansiedade e insegurança destes responsáveis, compreendendo seus anseios e objetivos é essencial para que as crianças se desenvolvam, integralmente, respeitando seus ritmos e tempos. Referencial Curricular – REME EDUCAÇÃO INFANTIL 34 Versão preliminar – em processo de Revisão O CURRÍCULO PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL - EIXOS NORTEADORES Considerando as especificidades da educação infantil, o currículo nessa etapa da educação básica é definido pelas DCNEI (2009) como “conjunto de práticas que buscam articular as experiências e os saberes das crianças com os conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, ambiental, científico e tecnológico, de modo a promover o desenvolvimento integral de crianças de 0 a 5 anos de idade”. (BRASIL, 2009, p.12). Sendo assim, evidencia-se a relevância do currículo para a qualidade da educação ofertada, bem como a do conhecimento no processo de aprendizagem e desenvolvimento das crianças, de modo que suas experiências e vivências sejam enriquecidas para além do conhecimento cotidiano vivido por elas nos diferentes espaços em que interagem. A seleção, organização e distribuição do conhecimento que será acessado no espaço escolar é uma tarefa que cabe aos órgãos competentes, neste caso, a Secretaria de Educação, por meio da elaboração deste Referencial e das escolas, na construção de sua Proposta Pedagógica (PP) 7 . O conjunto desses conhecimentos deve possibilitar às crianças, ao longo de sua vida escolar, vivenciar experiências que as ajudem a construir conceitos e formar opiniões sobre o mundo e as relações sociais e culturais que estamos submetidos na sociedade. Dessa forma, este Referencial foi estruturado, atendendo à especificidade dos conhecimentos e saberes relativos a essa faixa etária, possibilitando a organização das práticas educativas e conferindo um caráter intencional às ações docentes desenvolvidas nas instituições. Diante da necessidade de fazer do conhecimento um dos elementos centrais na escrita desse documento curricular, este foi estruturado de modo que sirva de base para que cada instituição elabore sua Proposta Pedagógica (PP), marcando a sua identidade e dando referências para os professores organizarem os planos anuais e planejamentos diários de sua ação docente. Assim, o currículo torna-se parte integrante da PP das unidades escolares, como objeto do trabalho do professor e fundamental para as propostas desenvolvidas visando às aprendizagens e o desenvolvimento das crianças. Visto que, a partir da Conferência Mundial 7 De acordo com a Deliberação CME/CG/MS N. 1.903, de 6 de abril de 2016, em seu artigo 2º, inciso XIII - proposta pedagógica é o instrumento norteador das ações pedagógicas e administrativas desenvolvidas pela instituição de ensino. Referencial Curricular – REME EDUCAÇÃO INFANTIL 35 Versão preliminar – em processo de Revisão sobre Educação para Todos (1990) e seus desdobramentos, concebemos o currículo como um direito de todos os alunos, de qualquer idade, de acesso ao conhecimento. Ou seja, para além de garantir uma base comum de conhecimentos às crianças, deve-se promover a reflexão sobre as diferenças culturais, econômicas, sociais, possibilitando que o acesso aos conhecimentos permita uma ampliação de conceitos sobre o mundo e suas múltiplas relações. Logo, é a diferenciação entre conhecimento cotidiano e conhecimento escolar, e o entendimento da relevância do segundo na instituição educativa, que possibilita que as crianças possuam elementos fundamentais ao estabelecer relações mais amplas na exploração e conhecimento da realidade. As concepções contemporâneas sobre as crianças, infância, a aprendizagem e o desenvolvimento das crianças de 0 a 5 anos colaboram para o entendimento de um currículo que contemple o desenvolvimento integral das crianças em diversas dimensões, compreendendo-as em sua multiplicidade e indivisibilidade. Nesse sentido, a BNCC (2017) reitera o que as DCNEI (2009) propõem, ao eleger as interações e brincadeiras como os eixos norteadores
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