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AULA 3 CRIATIVIDADE E GESTÃO DE IDEIAS PARA INOVAÇÃO Profª Sonia Regina Hierro Parolin 02 CONVERSA INICIAL Chegamos à terceira aula! Vimos, até o momento, os conceitos de criatividade, a fisiologia do processo criativo, os modelos mentais e os bloqueios individuais à criatividade. Também estudamos como surge o processo criativo, quais são as fontes de informação, como buscar inspiração, como analisar ideias para inovação e quais os caminhos para transformar ideias em projetos. Esta aula e a próxima tratam de técnicas de criatividade, tanto de aplicação individual quanto em grupos. Daremos ênfase aos aspectos da aprendizagem coletiva nas técnicas de criatividade e à polinização cruzada de ideias. Iremos indicar o que elas são, como aplicá-las, quais os materiais e como é feita a condução pelo moderador. Algumas técnicas são mais conhecidas, como brainstorming, e outras menos difundidas, como a T.R.I.Z., que será abordada na Aula 4. CONTEXTUALIZANDO As técnicas de criatividade podem ser aplicadas em variados contextos e situações. Não há limites quando o assunto é possibilitar que as capacidades do pensamento convergente e divergente sejam aplicadas na geração de ideias. Imagine que você está na sua atividade profissional, na sua atividade de lazer, fazendo atividades domésticas ou atividades voluntárias. Imagine-se em uma situação real, em que você verdadeiramente possa aproveitar para exercitar a aplicação das técnicas de criatividade. Vai preparar uma reunião? Precisa resolver um problema? Quer desenvolver um projeto? Vai viajar e precisa planejar algo diferente? Ou, simplesmente, quer aprender a utilizar as técnicas? Ou, ainda, aceita um desafio? A empresa 3M lança desafios em seu site periodicamente1; são vários… Que tal exercitar as técnicas de criatividade para obter ideias para um dos desafios? Vejamos alguns desafios lançados pela empresa: Como conscientizar trabalhadores a usar equipamentos de proteção individual? Como processo de recrutamento e seleção de vagas pode ser mais inovador? Qual será o futuro da embalagem? 1 3M INOVAÇÃO. Disponível em: <http://www.3minovacao.com.br/ideias/>. Acesso em: 28 de setembro de 2017. 03 Qual ideia criativa resolveria um problema na sua comunidade? Organize seu tempo, suas ideias, materiais e papéis (que tal um caderno de desenho?), canetas hidrográficas coloridas, um ambiente confortável; escolha músicas agradáveis, e vamos trabalhar! TEMA 1 – OBJETIVOS DAS TÉCNICAS DE CRIATIVIDADE É bom destacar, logo de início – nas palavras de Fange (1961, p. 1) –, que “não haverá, jamais, um tempo em que todas as criações, todas as invenções e todas as novas ideias sejam concretizadas”. Isso porque o fluxo de ideias é mais intenso do que a capacidade humana para as concretizar. As contribuições para as novas realizações não dependem somente de poucas pessoas talentosas ou visionárias. Segundo Fange (1961, p. 2), ao contrário, representam, agora e no futuro, a soma das contribuições de milhares e dezenas de milhares de pessoas que exercem quaisquer atividades profissionais. Os aperfeiçoamentos que cada um imprime em sua própria área particular, combinados com as contribuições de terceiros, são o que determina o progresso. A falta de tais aperfeiçoamentos implicaria uma lenta degenerescência. O que o autor comenta é que as ideias surgem quando um indivíduo não está satisfeito com algo (quando ele supera os bloqueios relacionados à conformação social, por exemplo) e sente-se instigado a desenvolver e exercer o seu talento em sua área de atuação (seu domínio), em um esforço para contribuir com o progresso e aumentar a participação das pessoas no desenvolvimento das mais diversas várias frentes. A soma das contribuições de milhares de pessoas ao longo dos anos, nos aperfeiçoamentos que elas imprimem em diversas áreas, pode ser sintetizada no seguinte: há sequências e somatórias de invenções (ideias que tornaram-se descobertas em alguma área), o que torna certos produtos obsoletos, os quais são substituídos por produtos em novas bases tecnológicas. O aparelho de smart TV na atualidade é muito diverso da primeira TV, inventada em 1925. Essa evolução foi possível por uma somatória de contribuições ao longo do tempo. Esses são os objetivos macros das técnicas da criatividade: envolver as pessoas para promover avanços e resolver problemas a partir de novas combinações de elementos existentes, de forma a promover transformações em diversas áreas – para, enfim, promover o progresso! 04 Como as novas realizações dependem da contribuição de várias pessoas, o processo criativo torna-se uma aprendizagem cooperativa. O surgimento dos aparelhos de TV depende do desenvolvimento anterior do dispositivo de tubo iconoscópico para a transmissão de imagens. Essas criações foram realizadas por diferentes pessoas, em momentos diferentes e em diferentes locais. Movidos pelo progresso, os desenvolvedores e produtores industriais das TVs foram, sistematicamente, ao longo dos tempos, buscando combinações tecnológicas que viabilizassem novas versões de TVs, cada vez mais modernas. Uma omo curiosidade: a integração dos vários inventos que geraram a TV é creditada à RCA, em 1923, e foi recebida pela sociedade com ironia. Somente em 1941 deu- se a transmissão normal e contínua dos programas de TV. As técnicas de criatividade visam buscar novos elementos, novas ideias, métodos, caminhos e pontos de vista, os quais promovam avanços e novas oportunidades para “atacar” os problemas existentes. As técnicas auxiliam as pessoas a vencer hábitos arraigados, atitudes inflexíveis ou submissas e pensamentos corriqueiros – ou seja, a vencer os bloqueios mentais à criatividade. Nenhuma técnica – é bom frisar! – nos dará um resultado completo, com ideias espetaculares, de qualidade inquestionável. Nenhuma técnica que surte efeito para um determinado contexto, grupo de pessoas ou problema, será aplicável a todas as situações possíveis. É preciso aplicá-las; se determinadas técnicas não conduziram a novos pontos de vista, experimente outras; mas não desista! Nesse sentido, é essencial destacar que uma técnica de criatividade é um meio, é “qualquer processo que nos dê um novo ponto de vista ou que a ele nos conduza” (Fange, 1961, p. 37). Por vezes é um caminho longo até chegarmos a uma boa ideia, e depende das contribuições de diversas pessoas, além de junções e combinações de outras ideias, inclusive daquelas anteriormente consideradas como limitadas. Esse processo de combinações e junções de ideias, do qual participam várias pessoas, é atualmente chamado de “polinização cruzada”, e foi inspirado na natureza. Trata-se de uma forma altamente eficiente de potencialização de ideias. Veremos, nas aulas sobre criatividade nas empresas, que a “polinização cruzada” é amplamente utilizada. Na natureza, ela ocorre quando o pólen de uma flor fecunda o estigma de outra, de um mesmo indivíduo ou de outro, sendo que o agente principal da polinização cruzada é o vento; no entanto, em algumas espécies, insetos, abelhas e pássaros são importantes. Para que serve essa 05 metáfora nas técnicas de criatividade? O pólen, fecundando aqui e ali, refere-se às ideias que circulam e fecundam outras ideias, tornando-as mais férteis e mais vigorosas. As flores são as pessoas, que devem manter a mente aberta para oferecer, receber e assimilar a polinização cruzada. Também serve para que as pessoas sejam estimuladas a contribuírem umas com as outras, para que as ideias se fortaleçam, desfigurando a noção de que “a minha ideia” é mais importante que as demais. Último ponto relevante a ressaltar sobre os objetivos das técnicas de criatividade é sobre o registro das ideias para a solução de problemas. Afinal, “emtodos os esforços que fizermos para conseguir ideias, é muito importante que as registremos assim que ocorram. A ideia é uma coisa transitória; outros pensamentos tomam-lhe rapidamente o lugar” (FANGE, 1961, p. 44). Daí a importância de técnicas que viabilizem o registro de ideias, ressaltando o papel do moderador de não desprezar qualquer ideia, mesmo que pareça absurda, ou surja timidamente, ou que apareça de forma incipiente. Além disso, para as diversas situações na vida, é importante sempre ter perto de nós um bloco de notas e um lápis, ou utilizar o bloco de notas do nosso celular, tablet ou computador. Anote sempre suas ideias antes de julgá-las! Mas, como administrar o processo desde a geração das ideias até a verificação dos resultados gerados com sua implementação? Dualibi e Simonsen (2000, p. 24-34) nos dão alguns caminhos práticos, definidos em sete estágios, apresentados a seguir, de maneira bem resumida. 1. Identificação – Qual é o problema? A identificação correta do problema nos leva às etapas seguintes. “Olhar velhos problemas sob novos ângulos”. 2. Preparação – Pode ser direta ou indireta. Direta: quando acumulamos informações pertinentes ao problema a ser resolvido. “Podemos ter fatos sem pensar, mas não podemos pensar sem ter os fatos”. Indireta: pode ser eventualmente inconsciente. A pessoa continua envolvida no problema em busca de diversas inspirações. 3. Incubação – Refere-se à uma reação da mente contra a pressão angustiante da busca das soluções. As pessoas têm reações diversas no momento da incubação, quando as soluções ainda não surgiram claramente em suas mentes: Gandhi tecia, Eistein tocava violino ou lia Dostoievski, Mequinho sonhava com as novas jogadas de xadrez. 06 4. Aquecimento – Com o retorno da fase da incubação para a sensação de uma solução próxima, o estágio do aquecimento é quando sentimos que a solução está realmente ao alcance da mão, embora não possa ser ainda totalmente compreendida ou visualizada – está no limiar da criatividade. 5. Iluminação – Momentos dos insights. Quando a ideia estoura! Término da forte angústia que as pessoas sentem na incubação. Aparentemente, nesta fase as ideias surgem como se o esforço anterior não houvesse existido. Henri Poicanré estava em um ônibus quando lhe ocorreu sequencialmente uma ideia; para não a perder, ficou repetindo-a até poder descer, pegar uma caneta e passar a ideia para o papel. Depois, sentiu um alívio! 6. Elaboração – As ideias, antes abstratas, são colocadas de maneira mais organizadas, melhor elaboradas, conscientes. O roteiro do famoso filme O submarino amarelo, desenho animado que utilizava as figuras dos Beatles, foi escrito 21 vezes. 7. Verificação – Existe um intervalo de tempo entre iluminação, elaboração e verificação de uma ideia, que pode variar de segundos até vários anos. “É preciso comprovar que a ideia adotada como solução é, de fato, a solução”. Um gráfico de vendas requer soluções de curto prazo. O lançamento de novos produtos pode levar mais tempo. Newton, quando viu a maçã cair e teve a intuição da Lei de Gravidade, levou o resto da vida trabalhando na verificação dos conceitos As setes fases acima devem ser adotadas quando traçamos os objetivos que desejamos colher com a aplicação das técnicas para a criatividade. É preciso considerar que as pessoas, engajadas no processo criativo, passarão por essas fases, de maneira mais rápida ou mais lenta, dependendo do perfil de cada uma, das áreas em que elas estão envolvidas (domínio) e da organização da aplicabilidade, tratada a seguir. TEMA 2 – APLICABILIDADE DAS TÉCNICAS DE CRIATIVIDADE As técnicas de criatividade buscam o desenvolvimento de novos elementos, ideias, métodos, caminhos e pontos de vista, os quais promovam avanços e novas oportunidades para “atacar” problemas existentes. Ou seja: trata-se de levantar ideias para a solução de problemas. Na Aula 2, no item sobre o surgimento do processo criativo voltado para a inovação, vimos que o processo começa com uma intenção de alguém isoladamente ou com a estratégia da 07 organização, expressa em uma provocação para resolver algum problema, de modo a explorar ideias ou oportunidades, ou fazer algo melhor. Na prática, diz-se que as técnicas de criatividade visam capturar ideias para a “solução de problemas”, que nem sempre são problemas, vistos de uma forma negativa… Exercitar o pensamento convergente e divergente em síntese criativa é o que favorece o surgimento das ideias. Existem várias técnicas de estímulo à criatividade. Nos limitaremos às técnicas mais conhecidas – apresentaremos também a técnica T.R.I.Z., que é pouco difundida e utilizada no desenvolvimento de produtos. Muitas variações podem ocorrer na aplicação das técnicas, o que é muito positivo, pois promove a criatividade do próprio moderador. É importante lembrar que o domínio de técnicas de grupo deve caminhar ao lado do domínio das técnicas de criatividade; além disso, o objetivo deve ser claro, expresso em frases ou perguntas que estimulem a geração de ideias (perguntas vigorosas). Quando optar, portanto, pela aplicação das técnicas de criatividade? A resposta é simples: sempre que você quiser colher sugestões e ideias, de maneira a potencializar a criatividade, individual ou coletiva, e promover a participação das pessoas em torno de uma situação-problema, ou gerar avanços significativos, a aplicação de técnicas de criatividade é um instrumento poderoso, pois alavanca o processo criativo. Vamos elencar algumas sugestões para a aplicação das técnicas, lembrando que a escolha depende do contexto: Na aprendizagem. Utilizar técnicas de criatividade para aprofundar os temas, explorar as visões por vários ângulos. Por exemplo, ao tomar um fato na história do Brasil, o mindmapping poderá ajudar a estruturar suas principais ramificações. Os Seis Chapéus Pensantes poderão auxiliar na contagem da história pelos ângulos de diversos atores; No planejamento estratégico. Da empresa ou de áreas; desde a fase de levantamento de ideias, com aplicação do mindmapping, até a fase de julgamento, com P.N.I., ou melhoramento das sugestões com a utilização do S.C.A.M.P.E.R.. Por exemplo: quando é preciso decidir como melhorar um serviço, você pode envolver clientes e fornecedores nas fases de geração de ideias e no julgamento das ideias selecionadas; No desenvolvimento tecnológico de produto. Citamos, anteriormente, o exemplo do desenvolvimento da TV. Podemos citar vários outros exemplos, como o avanço dos carros e seus sistemas de segurança. Usualmente, no 08 desenvolvimento de produtos, as técnicas mais aplicadas são a T.R.I.Z. e a S.C.A.M.P.E.R. Importante ressaltar a noção de que as ideias, polinizadas entre si, sempre podem ser melhoradas e ampliadas. Além disso, nenhuma técnica de criatividade nos trará uma ideia pronta, bem desenhada, no ponto ideal de ser aplicada ou implementada. Ela nos trará uma quantidade de novas ideias que precisarão ser trabalhadas. Mesmo na fase de seleção das melhores ideias ou propostas de solução, elas precisarão de refinamento, de novos inputs. Portanto, da mesma forma que o processo do pensamento convergente e divergente é cíclico, o desenvolvimento das ideias também é. Quando algo está pronto (novo produto, novo serviço, novo processo, novo projeto) para ser implementado, precisa ser reavaliado. Certamente a ideias em jogo precisará de revisões, novos protótipos etc. Isso faz parte do progresso! TEMA 3 – BRAINSTORMING NA BASE DE TODAS AS TÉCNICAS Defendemos que o Brainstorming, além de ser uma técnica em si, está na base de todas as demais técnicas, em função de suas normas de condução. A técnica Brainstorming (literalmente: tempestade cerebral ou tempestade de ideias) foi criada pelo publicitário Alex Osborn, nos EUA, tanto para ser utilizadaindividualmente como em grupo. Sua finalidade é testar a capacidade criativa das pessoas, principalmente nas áreas de relações humanas. Existem regras básicas para uma sessão de Brainstorming. As principais são: ausência completa de crítica e o julgamento adiado: 1. Ausência completa de crítica – Durante a aplicação da técnica, o moderador e os participantes não poderão emitir qualquer tipo de crítica ou reação negativa, inclusive aquelas veladas, por expressões faciais ou por gestos sarcásticos. A ausência de crítica precisa ser muito bem internalizada, ao ponto de todos terem a confiança que não serão criticados por suas ideias. A técnica deve permitir a fluência total de ideias e não pode permitir censura. O moderador, ou algum voluntário, deve anotar as pérolas (e as abobrinhas também!). Não deve haver qualquer debate de ideias durante a sessão, para não causar inibições. Quanto mais ideias, melhor! Nenhuma ideia deve ser desprezada! 2. Julgamento adiado – Trata-se de uma decorrência da ausência completa de críticas durante a sessão de Brainstorming. Não fazer julgamentos 09 (principalmente precipitados) sobre as ideias que forem apresentadas é uma regra de ouro. O julgamento tende a interromper o fluxo da criação e deve ser recomendado no início da sessão. Dualibi e Simonsen (2000, p. 43-44) nos fazem alguns alertas sobre frases absolutamente proibidas em uma sessão de Brainstorming, e que devemos considerar para sessões com qualquer técnica de criatividade, tais como: “não, isso não serve”, “já foi experimentado e não deu certo”, “tsc, tsc, tsc” (com aquele sorriso superior). Nada que possa inibir o fluir livre de ideias deve ser tolerado. Acreditamos, inclusive, que após a sessão de ideias, no momento da seleção das melhores sugestões, o cuidado deve ser o mesmo, pois qualquer “escorregão” poderá pôr tudo a perder! Ou seja, se as pessoas se sentirem julgadas, não contem mais com elas. As ideias é que devem ser posteriormente analisadas, e não as pessoas, sempre com base em critérios pré-definidos. Assim, em uma sessão de Brainstorming, as pessoas devem ter total liberdade para falar o que quiserem, e deve haver igualdade de oportunidades para todos exporem suas ideias. 3.1 Como aplicar A técnica de Brainstorming pode ser aplicada de maneira individual ou coletiva. Em ambos os casos, as regras expostas anteriormente devem ser seguidas. Há os que defendem que a maioria das criações são individuais. Em alguns casos, como nas artes, na publicidade e propaganda, a criação individual ou em duplas pode ser mais intensiva. A sessão deve ser organizada em torno de um tema (ou situação-problema) claramente definido. Os participantes devem ser convidados antecipadamente, com tempo e local previamente estabelecidos, além da prévia divulgação do assunto que será abordado. Atualmente, estimula-se que os convidados tenham tempo antecipado para pesquisa, coleta de informações, conversas de “aquecimento”, de forma a se envolverem emocionalmente com o tema – com isso, o engajamento tende a ser estimulado. Lembre-se sempre dos sete caminhos práticos apresentados no item anterior, que podem ajudar a efervescer a sessão de criatividade. Em um ambiente previamente preparado (confortável e informal), e com o tempo previamente acordado (não mais que uma hora por sessão), o moderador deverá iniciar com uma contextualização do tema ou do problema, a qual deve 010 durar um tempo reduzido, para evitar a queda da energia do grupo (não é uma palestra!). Deve-se evitar que as pessoas se sintam em um ambiente formal. Se possível, é recomendável levantar, sentar, circular pelo ambiente. Deve-se evitar comportamentos que dispersem e desconcentrem as pessoas. Com o auxílio de um cavalete de flip-chart, papéis fixados nas paredes, ou papéis estendidos nas mesas, além de canetas coloridas e materiais diversos, o tema deve ser anotado, para que as ideias possam fluir. Algumas pessoas gostam de escrever, outras de falar, outras ainda de ouvir; de vez em quando, soltam umas pérolas (ou abobrinhas, no sentido da dispersão do foco da atividade, ou da desconcentração, o que pode até ser bom para a atividade, se não houver excessos); outros querem organizar a conversa, outros se sentem perdidos, e alguns falam sem parar. O moderador não pode perder de vista que essa dinâmica é própria de uma sessão de criatividade e deve estimular que todos emitam suas ideias. E também deve anotar o que acontece, mesmo que as pessoas estejam escrevendo em papéis individuais. Deve também estimular a “polinização cruzada”, para que as ideias se construam e se expandam umas sobre as outras. Como já foi dito, nenhuma ideia deve ser descartada, considerada errada, inadequada, absurda ou ridícula. A diversidade de pensamentos e experiências é muito importantes no processo. Para a fase posterior, de seleção das ideias, todos deverão visualizar que as suas ideias, e as dos outros, foram compiladas e anotadas. Pode ocorrer de as ideias serem posteriormente organizadas em clusters, conforme vimos em aula anterior. Já vimos que a dinâmica do pensamento convergente e divergente independe do uso de uma técnica específica; quanto mais a pessoa estiver envolvida com o tema, maior a propensão de a dinâmica produzir várias sínteses criativas. Em uma técnica específica, como o Brainstorming, ao definir-se opções e soluções, novos aprofundamentos e ideações vão surgir naturalmente. O plano de ação irá dirigir os esforços no sentido da implementação de soluções para a obtenção de resultados e posterior avaliação. Como devemos utilizar o Brainstorming como base de todas as demais técnicas? É preciso: manter as regras básicas: “ausência completa de crítica” e “julgamento adiado”; garantir a liberdade das pessoas de falar sobre o que quiserem; dar igualdade de oportunidades para todos exporem suas ideias; 011 não descartar nenhuma ideia; valorizar a diversidade de pensamentos e experiências das pessoas. TEMA 4 – REVERSE BRAINSTORMING O Reverse Brainstorming nos ajuda a resolver problemas combinando as regras do Brainstorming com a ideia de reversão (inversão: voltar ao ponto de partida). Ao combiná-las, poderemos ampliar o uso do Brainstorming para extrair ideias ainda mais criativas. A principal regra a ser adicionada é a reversão das perguntas positivas em perguntas negativas. Ao invés de perguntar: "Como resolvo ou evito esse problema?", a pergunta reversa seria: "Como eu poderia causar o problema?" Ao invés de perguntar: "Como faço para alcançar esses resultados?", a pergunta reversa seria: "Como eu poderia conseguir o efeito oposto?" Pode parecer estranho de início, mas reflita no caso a seguir. Estudo de caso Luciana é a gerente de uma clínica de saúde e ela tem a tarefa de melhorar a satisfação dos pacientes. Houve várias iniciativas de melhoria no passado e os membros da equipe se tornaram bastante céticos quanto à ideia de mais uma reunião para tratar sobre o mesmo assunto. A equipe está sobrecarregada, os membros da equipe estão "tentando o seu melhor" e não há apetite para "perder tempo" falando sobre isso. Então, Luciana decide utilizar algumas técnicas criativas de resolução de problemas que aprendeu. Isso, ela espera, tornará a reunião da equipe mais interessante e envolverá as pessoas de uma maneira nova. Talvez revele algo mais do que as "boas ideias" usuais. Para se preparar para a reunião da equipe, Luciana pensou cuidadosamente sobre o problema e formulou a seguinte questão: “Como melhorar a satisfação do paciente?”. Em seguida, ela reverteu a sentença: "Como tornamos os pacientes mais insatisfeitos?". Com isso, ela já começou a perceber que o novo ângulo poderia revelar alguns resultados surpreendentes. Ao reunir a equipe, todos se envolveram em uma sessão de Reverse Brainstorming.Eles se basearam em sua experiência de trabalho com os pacientes e também na experiência pessoal de serem pacientes e clientes de outras organizações. Luciana ajudou no fluxo livre das ideias, garantindo que as pessoas não julgassem as sugestões mais improváveis. Aqui estão apenas algumas das ideias "reversas": 012 Retirar as cadeiras da sala de espera; Colocar os pacientes que telefonam no modo espera (e esqueça-os); Deixar os pacientes a esperar do lado de fora, no estacionamento; Discutir os problemas do paciente em público. Ao encerrar a sessão de Reverse Brainstorming, a equipe apresentou uma longa lista de soluções "reversas". Agora é hora de olhar para cada uma em sentido inverso, para pensar em uma solução potencial. Discussões bem conduzidas são bastante reveladoras. Por exemplo: A – "Bem, claro, não deixamos pacientes lá fora no parque de estacionamento – já não fazemos isso". B – "Mas e quanto às manhãs, muitas vezes os pacientes esperam lá fora até o horário de abertura? A – "Mmm, verdade. Muito irritante para as pessoas". B – "Então, por que não abrimos a sala de espera 10 minutos antes?" A – "Certo, vamos fazer isso a partir de amanhã. Nesse horário, várias pessoas já estão trabalhando, então não vai ter problema". E assim foi. A sessão revelou muitas ideias, as quais em geral poderiam ser implementadas rapidamente. Luciana concluiu: "Foi esclarecedor e divertido olhar para o problema em sentido inverso. O incrível é que ajudou-nos a nos tornar mais amigáveis uns com os outros". Fonte: Elaborado com base em MindTools, 2017, tradução nossa. O caso nos traz as vantagems da aplicação do Reverse Brainstorming, evidenciando os pontos negativos do problema. Dualibi e Simonsen (2000, p. 44) ainda afirmam que, “dissecando-se livremente os defeitos de um produto ou serviço, podemos eventualmente criar ou descobrir novas qualidades ou aperfeiçoar aquilo que julgávamos já fosse bom”. A técnica possibilita que as pessoas tenham uma visão exterior do problema, pois quando estamos muito envolvidos com ele, perdemos a noção das suas diversas facetas. 4.1 Como aplicar Para a aplicação, deve-se seguir as mesmas regras do Brainstorming. O cuidado adicional está precisamente na reversão do problema. Portanto, é preciso escolher bem qual problema deverá ser explorado, com vistas a colher uma grande quantidade de ideias. Um exercício prévio com a pergunta reversa poderá 013 ajudar na escolha. Como trata-se de uma sessão em que buscamos somente os defeitos de um determinado produto, processo, serviço ou ideia, é preciso estar bem preparado para o que iremos ouvir e também ter certeza que o problema tem boas chances de ser resolvido a partir dessa técnica. O caso da Luciana exemplifica bem esse cuidado. Ela tinha dois problemas: a insatisfação dos clientes e o descrédito da equipe com a recorrência de novas reuniões para tratar do assunto. Ela resolveu os dois problemas. Sobre a questão da equipe, veja que a técnica também é útil quando o grupo é abertamente hostil, apresenta cinismo e baixa moral. O estímulo a ideias invertidas pode fazer sorrir um grupo que tem resistido a novas ideias para problemas antigos e difíceis. Por vezes, criticar é mais fácil do que gerar ideias. Então, use o Brainstorming reverso quando: as pessoas estiverem encontrando dificuldade para desenvolver ideias; as pessoas tiverem uma análise pessoal mais forte do que as preferências criativas; necessitar de um método diferente para criação de ideias, para obter ainda mais soluções; você conseguir reverter conceitualmente um problema (exemplo da Luciana). Como aquecimento do grupo para a aplicação da técnica, para que todos entendam do que se trata o Reverse Brainstorming, você pode utilizar algumas frases negativas, como exercício mental de identificação de opostos. Vejamos alguns exemplos: Exija que os usuários leiam todas as linhas da licença do software; Peça muitas informações pessoais antes de o cliente fazer login no site de compras; Use padrões defeituosos para ganhar mais dinheiro (por exemplo, padrão para uma assinatura de dois anos, e viabilizar um padrão de um ano, que provavelmente passará despercebido); Oculte o fato de que os produtos podem estar fora de estoque; Use etiquetas duplas de preços para enganar os usuários; Adicione coisas ao carrinho de compras do cliente de uma maneira furtiva. Os exemplos acima, além de serem negativos, são totalmente antiéticos. Vamos lembrar do que comentamos na Aula 1 sobre o que não é criatividade! A 014 ideia da técnica do Reverse Brainstoming é que, ao provocar um sentimento de repulsa ao antiético, ao provocar os participantes a emitir ideias negativas, eles posteriormente terão mais facilidade com a reversão de cada frase negativa com vistas a uma solução positiva. Por exemplo: saindo de “Peça muitas informações pessoais antes de o cliente fazer login no site de compras”, chegaríamos a “Minimize a quantidade de informações pessoais necessárias em todas as etapas da compra; explique porque determinada informação é necessária – por que precisamos de um número de telefone?”. Por último, a aplicação dessa técnica pode ser, às vezes, mais fácil do que o tradicional Brainstorming; além disso, pode ser divertido ajudar a motivar equipes cansadas, cínicas ou hostis. Vale ressaltar, por outro lado, que ela requer facilitação e moderação de qualidade, para que seja possível manter as ideias fluindo; requer também tempo para converter as ideias negativas em ideias positivas. Destacamos que essa técnica pode ser utilizada como complemento a outras. TEMA 5 – BRAINWRITING NA GERAÇÃO DE IDEIAS A técnica do Brainwriting visa gerar ideias escritas de forma silenciosa, individualmente ou em grupos. Foi originalmente popularizado na Alemanha, nos anos 70 (embora não tenha se originado lá)2. Existem dois tipos básicos de aplicação da técnica: 1. Brainwriting nominal – Ideias escritas que não são compartilhadas entre os demais participantes enquanto as pessoas geram suas ideias; 2. Brainwriting interativo – Ideias escritas que são compartilhadas entre os demais participantes enquanto são geradas, com a ideia de estímulo adicional. Um exemplo de Brainwriting interativo é o método Pin Cards, em que cada pessoa em um grupo escreve uma ideia em um cartão ou post-it e passa para a pessoa à direita para que ela acrescente sua ideia, e assim sucessivamente, por um certo tempo. As regras são as mesmas utilizadas para o Brainstorming: ausência completa de crítica e julgamento adiado; liberdade para as pessoas escreverem o que quiserem; igualdade de oportunidades para todos anotarem suas ideias; a 2 Vide: <http://www.creativityatwork.com/2011/01/10/brainwriting/>. 015 necessidade de não descartar nenhuma ideia; a valorização da diversidade de pensamentos e experiências das pessoas. 5.1 Como aplicar A técnica, tanto Brainwriting nominal quanto interativa, é aplicada em um período definido entre 10 a 15 minutos. Após esse tempo, as ideias são coletadas, organizadas em clusters de ideias e, em seguida, avaliadas e selecionadas. A técnica sempre se inicia com a apresentação do tema, problema, ou ideia a ser trabalhada pelo moderador. Se você optar por aplicar o Brainwriting como técnica de aquecimento de grupo, antes de utilizar outras técnicas, lembre-se de deixar isso claro desde o início. Nesse caso, o tema pode ser bem variado, positivamente estimulante, com o propósito de promover um clima propício para que as pessoas se engajem, confiantes, na sessão de criatividade. Para Brainwriting nominal, podemos adotar alguns procedimentos: Grupo de pessoas, no mesmo ambiente físico, sentadas em círculos ou separadas entre si, com canetas coloridas,fichas, cartões ou post-its. As pessoas anotam suas ideias e as colam em um painel de papel; Grupo de pessoas, conectadas por computadores em diversos locais. Elas emitem, ao mesmo tempo, suas ideias via chat (ou outro recurso online). Importante manter a ideia de que estão atuando “ao mesmo tempo”, para as pessoas sentirem-se conectadas entre si de alguma forma. Posteriormente, via streaming, hangout, ou outro recurso disponível, as pessoas poderão participar do processo de organizar as ideias em clusters, avaliar e selecionar. Esse recurso possibilita a participação de pessoas distantes fisicamente entre si, inclusive em países diferentes. Para Brainwriting interativo, as variações são inúmeras. Arthur B. Van Gundy (2014) nos dá sugestões para termos momentos divertidos e saudáveis com a aplicação dessa técnica. Podemos tentar que os participantes escrevam ideias sobre as asas de aviões feitos em papel (em cores de papel diferentes) – para a troca de ideias, eles podem arremessar os aviões entre as pessoas. As pessoas podem escolher um avião, usar a ideia já gravada nele como estímulo para anotar sua outra ideia, e arremessá-lo novamente, seguindo o comando do moderador. Outra sugestão divertida de Van Gundy (2014) é escrever uma ideia em um pedaço de papel, pregá-lo nas costas e, em seguida, caminhar por uma sala com outras pessoas. Iremos ler a ideia de alguém e, em seguida, adicionar 016 novas ideias, escrevendo no papel que vemos nas costas desse alguém, e assim sucessivamente por um tempo determinado (ele chama esse método de The Shirt Off Your Back). Basicamente, para o Brainwriting interativo, as pessoas recebem uma ideia de outra pessoa e, então, podem fazer umas das três coisas a seguir: 1. Usar a ideia do outro como um estímulo para uma nova ideia; 2. Usar a ideia do outro para pensar em uma modificação; 3. Passar o cartão, as fichas, cartões, post-its para a próxima pessoa. Van Gundy realizou um estudo detalhado sobre pesquisas que comparam as duas formas de Brainwriting com variações de Brainstorming, além de uma mistura de técnicas. Ele comenta que muitas pesquisas indicam que o Brainwriting sempre (sim, sempre!) resulta em mais ideias do que Brainstorming, com o mesmo tamanho de grupo e o mesmo período de tempo de aplicação das técnicas. Qual o motivo? A diferença está no que ele denomina como "bloqueio de produção". Significa que, no Brainwriting, tanto nominal quanto interativo, as pessoas emitem mais ideias – no Brainstorming, como as pessoas não podem falar suas ideias a todo o momento, para permitir que outros participem, a limitação fica mais evidente. FINALIZANDO Nesta aula, abordamos os objetivos das técnicas de criatividade e sua aplicabilidade. Introduzimos o Brainstorming, considerada a técnica basal das demais – o Reverse Brainstorming e o Brainwriting. Salientamos, desde o início, que não é possível que todas as ideias sejam concretizadas, pois o fluxo das ideias é mais intenso do que a capacidade humana de as implementar. No entanto, deveremos buscar envolver as pessoas para resolver problemas a partir de novas combinações de elementos existentes e impulsionar transformações em diversas áreas – para, enfim, promover o progresso! Esse processo de envolvimento gera a aprendizagem cooperativa através dos tempos, perceptível na evolução tecnológica, como no exemplo das transformações ocorridas no aparelho de TV. Destacamos os sete estágios de administração de processos, desde a geração de ideias até a verificação dos resultados gerados com sua implementação, e também as possíveis situações em que podemos aplicar determinada técnica. 017 Por fim, demos início à apresentação de três técnicas de criatividade. Na próxima aula, apresentaremos mais seis: S.C.A.M.P.E.R, P.N.I. (Positivo, Negativo e Interessante), Seis Chapéus Pensantes, Seis Sapatos Atuantes, Mindmapping e T.R.I.Z. 018 REFERÊNCIAS DUALIBI, R.; SIMONSEN JR., H. Criatividade e marketing. São Paulo: Makron Books, 2000. FANGE, E. K. VON. Criatividade profissional. São Paulo: Difusão Cultural, 1961. GUNDY, A. B. V. Generate Ideas Using Brainwriting. 2014. Disponível em: <https://www.creativityatwork.com/2011/01/10/brainwriting/>. Acesso em: 28 set. 2017. PREDEBON, J. Criatividade: abrindo o lado inovador da mente. São Paulo: Atlas, 1997. REVERSE brainstorming: a different approach to brainstorming. Mindtools. Disponível em: <https://www.mindtools.com/pages/article/newCT_96.htm>. Acesso em: 28 set. 2017.
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