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89 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a: 2 6/ 08 /2 01 3 // R ed im en sio na m en to e m ud an ça d e no m e: A m an da - A lte ra çã o: M ár ci o - 11 /0 8/ 20 15 Trabalho de Pesquisa em serviço social Unidade III 7 O que é metOdOlOgia e cOmO utilizá‑la na abOrdagem pesquisa? Quando nos referimos à metodologia da pesquisa, estamos tratando da metodologia científica. Pensar em pesquisa nos remete a pensar no que é e como se deve pesquisar. Nesse caso, temos necessidade de uma prática consciente, científica, para que sejam alcançados os resultados concretos no que diz respeito às questões sociais, o objeto de ação do assistente social. O conceito de pesquisa refere‑se a algo que se busca para atender a determinados objetivos, por exemplo, saber qual o perfil socioeconômico de um determinado município. Pesquisar é se debruçar sobre uma variedade de coisas, situações e problemas que possibilitem atender aos objetivos definidos pelo pesquisador. Pesquisar é ainda ser criterioso na forma de buscar informações suficientes para responder a determinadas questões e buscar sistematicamente dados para saber sobre as causas e os efeitos de um fenômeno. Observação Em pesquisa social, pesquisar é buscar saber quais fatores podem explicar determinados fenômenos sociais, como o desemprego, a pobreza, a violência etc. Minayo et al (2000, p. 17) ensinam que a pesquisa é “a atividade básica da ciência na construção da realidade”. A pesquisa é um labor artesanal, que se não prescinde da criatividade, se realiza fundamentalmente por uma linguagem fundada em conceitos, proposições, métodos e técnicas, linguagem esta que se constrói com um ritmo particular (MINAYO et al, 2000, p. 25). A afirmação dos autores é muito pertinente, pois relaciona pesquisa com o labor artesanal: a atividade da pesquisa não é algo pronto e acabado que deve ser visto como um único padrão. A pesquisa requer trabalho e arte, o que se apresenta no cotidiano do pesquisador e nas inúmeras situações com as quais se defronta no seu cotidiano, para chegar à resposta de um determinado problema. Os autores também lembram que a pesquisa implica uso de linguagens, conceitos, métodos e técnicas; portanto, não se pesquisa sem uma compreensão sobre um determinado assunto ou objeto de estudo. Da mesma forma, é preciso saber que caminho o pesquisador deve seguir para chegar a reunir os elementos necessários à resolução de determinadas questões. 90 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a: 2 6/ 08 /2 01 3 // R ed im en sio na m en to e m ud an ça d e no m e: A m an da - A lte ra çã o: M ár ci o - 11 /0 8/ 20 15 Unidade III A metodologia da pesquisa diz respeito à forma como se faz a pesquisa, é o caminho a ser percorrido pelo pesquisador para alcançar seus objetivos. É ainda, conforme Minayo et al (2000, p. 16), “o caminho do pensamento e a prática exercida na abordagem da realidade”. Os autores afirmam que: a metodologia inclui as concepções teóricas de abordagem, a teoria e a metodologia caminham juntas e intrincavelmente inseparáveis. Enquanto conjunto de técnicas, a metodologia deve dispor de um instrumental claro, coerente, elaborado, capaz de encaminhar os impasses teóricos para o desafio da prática (MINAYO et al, 2000, p. 16). A metodologia implica o uso de métodos e de técnicas para se chegar a um fim, mas como nos alerta os autores, não é somente isso. Também requer o uso de instrumentos e uma visão crítica do profissional a respeito da realidade na qual vive e estuda. No Serviço Social, a metodologia da pesquisa é indispensável, contanto que o assistente social não conceba a pesquisa como uma mera tarefa de coletar dados sem nenhum propósito claro. As principais metodologias utilizadas no Serviço Social, conforme o objeto e os objetivos, podem ser de caráter quantitativo e ou qualitativo. Assim, temos uma variedade de métodos e de técnicas a serem utilizados pelo pesquisador e assistente social. A metodologia quantitativa dá prioridade a tudo o que pode ser mensurado, como o uso de questionários, escalas, amostragens. O profissional que adota esse método tem uma percepção generalizada quando confia piamente nos dados coletados e transformados em gráficos, tabelas e/ ou escalas. Na prática, geralmente, o assistente social é impelido a assumir essa conduta “objetivista”. Um exemplo do uso dessa postura se dá na adoção demasiada de aplicação de formulários e de questionários junto à população, sem que o profissional tenha a noção de fato da realidade em que foi inserido para trabalhar, muitas vezes, pela instituição a que está ligado. Almeida (2001, p. 1) assevera que: a pesquisa como forma de investigar a realidade social já era utilizada pelo Serviço social desde 1917, por meio da metodologia do diagnóstico social criada por Mary Richmond. A autora refere “a investigação ou coleta dos dados reais” como primeiro passo para a realização do diagnóstico, seguindo‑se “o exame crítico e a comparação das realidades averiguadas” para ser possível a interpretação e esclarecimento da dificuldade social. 91 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a: 2 6/ 08 /2 01 3 // R ed im en sio na m en to e m ud an ça d e no m e: A m an da - A lte ra çã o: M ár ci o - 11 /0 8/ 20 15 Trabalho de Pesquisa em serviço social A base teórica que orientou por muito tempo a pesquisa no Serviço Social era de caráter positivista, portanto mais voltado para o objetivismo, com o uso acentuado de técnicas e instrumentos de mensuração da realidade social. A partir da década de 1980, com o Movimento de Reconceituação, a pesquisa ganha um novo enfoque, agora com uma preocupação com o homem e sua totalidade. O que reclamava o Movimento de Reconceituação era uma maior articulação da teoria com a prática. Almeida (2001, p. 1) ensina que “a pesquisa é resgatada como condição básica para a construção teórico‑metodológica do projeto profissional de ruptura”. Nesse sentido, buscava‑se a superação do pragmatismo tradicional na profissão, conforme acentua o autor. A partir de então, a pesquisa no Serviço Social passou a utilizar uma metodologia do tipo qualitativa, com o uso de técnicas e instrumentos voltados para os aspectos subjetivos e comportamentais, antes ignorados na metodologia tradicional. Originalmente, a pesquisa qualitativa foi desenvolvida pelos antropólogos e depois pelos sociólogos. Mais tarde foi descoberta por educadores e outras áreas do conhecimento (ALMEIDA, 2001, p. 2). As principais orientações teóricas que permeiam a abordagem qualitativa são: a fenomenologia, o interacionismo simbólico e a análise compreensiva, cuja ênfase está no indivíduo e não na sociedade como um todo. As principais técnicas de pesquisa qualitativa são: estudo de caso, observação participante, história de vida, entrevista, entre outras. Veremos o método em ciências humanas e a pesquisa social. Perceba como, ao longo do tempo, os cientistas sociais buscaram novos caminhos que os fizessem aproximarem‑se de uma explicação mais concreta das realidades sociais, tarefa que não é tão simples. 7.1 O método em ciências humanas e a pesquisa social As ciências humanas apresentam características peculiares que as diferenciam das chamadas naturais ou exatas. A diferença fundamental está na natureza do seu objeto de estudo: o ser humano e a sociedade. Sem dúvida, trata‑se de um objeto que exige bastante atenção e paciência da parte do pesquisador. A partir de agora, serão desenvolvidos os conteúdos sobre os métodos em ciências humanas, com destaque para suas particularidades e seus principais aspectos. Você vai estudar sobre os principais métodos e técnicas das ciências humanas e saber sua importância na investigação da realidade. Comoo nome indica, as ciências humanas se ocupam em estudar o ser humano e a sociedade. Você deve estar se perguntando: como é isso? Como se estuda o homem e a sociedade? Pois bem, essa é a pergunta que os cientistas sociais fizeram ao longo do tempo e, ainda hoje, continuam a fazer, especialmente quando precisam realizar alguma pesquisa social. É na procura por responder a questões como essa que surgiram as metodologias a serem adotadas nas pesquisas que tratam da sociedade. Estamos nos referindo ao método nas ciências humanas. 92 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a: 2 6/ 08 /2 01 3 // R ed im en sio na m en to e m ud an ça d e no m e: A m an da - A lte ra çã o: M ár ci o - 11 /0 8/ 20 15 Unidade III Na tentativa de estudar cientificamente a sociedade por parte de estudiosos, Augusto Comte se baseou nos métodos utilizados nas ciências naturais, isto é, Comte pensava na objetividade das ciências sociais tal qual se pode encontrar nas ciências seguintes: química, física, biologia, matemática e astrologia. Entretanto, por que será que o precursor do Positivismo resolveu fazer isso? Podemos dizer que, na visão desse estudioso, como as ciências exatas trabalham com métodos e técnicas que permitam mensurar, quantificar, experimentar para se chegar a um resultado comprovável no que diz respeito à identificação das causas dos fenômenos, assim ele imaginou que isso poderia ser feito para estudar os fenômenos sociais. Em outras palavras, Comte percebia que existem leis naturais que regem a sociedade, portanto ela pode ser estudada, assim como se faz nas ciências da natureza. Com essa ideia, Augusto Comte funda o Positivismo que, mais tarde, influenciaria significativamente os estudos da sociedade. As ciências sociais fundam‑se sob a égide positivista. A Sociologia, a Antropologia, a Economia, o Direito, a Psicologia social, a História passam a adotar, a partir de seus pesquisadores, toda uma metodologia que auxiliasse nas pesquisas e nos estudos da sociedade de modo claro, objetivo, mensurável e sem rodeios. A partir de então, os pesquisadores buscam compreender as diferentes culturas, a política e as diversas realidades sociais por meio do paradigma positivista, cuja metodologia se coloca a serviço da sociedade industrial e capitalista. O modelo positivista é adotado como o único considerado científico pelo fato de trabalhar com a mesma lógica e metodologia das ciências naturais. Para saber as causas de determinados fenômenos sociais, acreditava‑se que, de posse de instrumentos e de técnicas de mensuração, tudo seria esclarecido. A ideia central do modelo positivista de pesquisa e análise da sociedade defende a neutralidade científica, de modo que se buscasse nas ciências naturais a metodologia da mensuração e da experimentação. Observe que essa forma de abordagem você viu também em teorias sociológicas, especialmente sobre o Positivismo e o Funcionalismo em Comte e Durkheim, respectivamente. Em uma sociedade que se industrializava de forma acelerada, esse modelo seria suficiente e único para encontrar respostas concretas aos fenômenos sociais; pelo menos é o que se esperava. Mais tarde, à medida que as pesquisas e os estudos eram difundidos, começou a se formar um ambiente de discussões. De um lado, pesquisadores e cientistas sociais pareciam maravilhados com os resultados alcançados. De outro lado, surgiam várias críticas ao modelo quantitativista, que também foi acusado de cientificista, devido à “frieza” com que tratava as questões sociais. No Positivismo, “a realidade é exterior ao indivíduo e a apreensão dos fenômenos é feita de forma fragmentada” (BAPTISTA, 1994, p. 19). Esse é um dos problemas centrais da abordagem objetivista. A partir dessa perspectiva, o indivíduo é tratado como mero objeto de pesquisa, sem que possa intervir na realidade e alterá‑la. 93 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a: 2 6/ 08 /2 01 3 // R ed im en sio na m en to e m ud an ça d e no m e: A m an da - A lte ra çã o: M ár ci o - 11 /0 8/ 20 15 Trabalho de Pesquisa em serviço social Baptista (1994, p. 20) afirma que: as pesquisas orientadas sob esse paradigma utilizam a experimentação, que é uma criação artificial cuja operacionalização faz uso de uma lógica hipotético‑dedutiva. A metodologia da experimentação busca a veracidade ou falsidade de hipóteses, validadas por processos dedutivos matemáticos, tipo causa e efeito. Os resultados são expressos em número, intensidade e ordenação; a realidade é exterior ao sujeito, com interdependência entre sujeito e objeto; as relações são lineares, ou seja, o processo é unilateral entre pesquisa e pesquisador: buscam‑se o consenso, conhecimentos operacionais, índices quantitativos. O modelo positivista nas ciências sociais aos poucos dá lugar à abordagem qualitativa. Baptista (1994, p. 21) acrescenta: A abordagem quantitativa, quando não exclusiva, serve de fundamento ao conhecimento produzido pela pesquisa qualitativa. Para muitos autores a pesquisa quantitativa não deve ser oposta à pesquisa qualitativa, mas ambas devem sinergicamente convergir na complementaridade mútua, sem confinar os processos e questões metodológicas a limites que atribuam, sem confinar os processos e questões metodológicas a limites que atribuam os métodos quantitativos exclusivamente ao Positivismo ou aos métodos qualitativos ao pensamento interpretativo, ou seja, a fenomenologia, a dialética, a hermenêutica. Observe que a autora não ignora o uso da metodologia quantitativa quando se refere à qualitativa, mas sim lembra que uma pode muito bem ser usada com a outra. Não se esqueça de que estamos tratando de ciência e, portanto, trabalhar com a abordagem qualitativa é mais uma opção do pesquisador, no sentido de vislumbrar os aspectos internos, isto é, interpretar, buscar uma explicação do fenômeno social a partir de dentro. Isso significa considerar os valores, intenções, ideologias, crenças e comportamentos, por exemplo. Na metodologia qualitativa, em vez da objetividade, damos lugar à subjetividade, à interpretação. Essa perspectiva ajuda a uma maior compreensão do fenômeno, uma vez que o pesquisador passa a dar maior atenção ao informante e à sua realidade. É importante saber que o fato de ter surgido outra proposta metodológica, em contraposição ao objetivismo, como é o caso da análise interpretativa, não significa que agora o pesquisador deve se apoiar apenas nessa nova metodologia para atender a todas as necessidades de análise social. É para isso que Baptista (1994, p. 21) chama a atenção. Para atuar com base no objetivismo, o assistente social se utiliza de instrumentos e técnicas de mensuração dos dados. Assim, faz uso de questionários, estatísticas, escalas experimentação. Em vários casos, é 94 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a: 2 6/ 08 /2 01 3 // R ed im en sio na m en to e m ud an ça d e no m e: A m an da - A lte ra çã o: M ár ci o - 11 /0 8/ 20 15 Unidade III evidente que é necessário esse tipo de abordagem da realidade. Mas, por outro lado, não se deve ter o objetivismo como único e perfeito para a análise e a compreensão dos fenômenos sociais: pobreza, violência, prostituição, corrupção, desemprego, entre outros. No caso da adesão à análise interpretativa, o assistente social prioriza as formas de inserção da realidade que permitam compreender os fatores subjetivos, os motivos das ações sociais, os comportamentos, entre outros. As pesquisas qualitativas fazem uso de instrumentos e técnicas como a observação participante, a história de vida, o estudo de caso, a história oral, a análise de conteúdo, as entrevistas, a pesquisa‑ação e os estudos etnográficos, como aponta Baptista (1994, p. 23). Esses métodose técnicas de pesquisas serão trabalhados no capítulo subsequente. saiba mais Sobre as metodologias qualitativas, leia: HAGUETTE, T. M. F. Metodologias qualitativas na sociologia. Petrópolis: Vozes, 1987. Veja também como fazer pesquisa qualitativa em ciências sociais em: GOLDEMBERG, M. A arte de pesquisar. Rio de Janeiro: Record, 1999. Os métodos nas ciências humanas requerem uma postura da parte do pesquisador ou do cientista social de muita atenção, paciência e, acima de tudo, atitude crítica. O objeto de estudo das ciências humanas é de natureza diferente das ciências naturais ou exatas, por isso necessita de flexibilidade para a pesquisa e a análise da realidade. Na busca da objetividade, predominou por muito tempo o paradigma positivista, o que levou a uma conduta indiferente da parte do pesquisador com os sujeitos/indivíduos, estes verdadeiros responsáveis pela realidade social. As lacunas deixadas pela prática objetivista levaram à formulação de novos métodos e técnicas de análise social: a metodologia qualitativa, com prioridade para a interpretação da realidade. É importante que você tenha percebido que a pesquisa é indispensável para se chegar à compreensão de um determinado fenômeno. Para tanto, é necessário o uso de uma metodologia adequada, de modo a proporcionar ao pesquisador e ao profissional das ciências sociais elementos suficientes para a compreensão das realidades. Ao relacionar com o Serviço Social, você deve ter percebido nas metodologias qualitativas e quantitativas formas de busca de compreensão e de explicação da sociedade. Em outros termos, significa a utilização de uma conduta científica, seja a partir de um olhar da objetividade ou da subjetividade. O 95 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a: 2 6/ 08 /2 01 3 // R ed im en sio na m en to e m ud an ça d e no m e: A m an da - A lte ra çã o: M ár ci o - 11 /0 8/ 20 15 Trabalho de Pesquisa em serviço social uso do modelo subjetivo não significa adotar uma prática alheia à ciência, nem descartar totalmente a objetividade, mas sim optar por uma conduta flexível e introspectiva. Você estudará sobre métodos e técnicas de ação e de pesquisa no Serviço Social. Serão destacados os principais métodos e as técnicas de pesquisa e de ação no Serviço Social e sua importância para a análise das realidades e das questões sociais. 8 Os métOdOs e as técnicas de pesquisa nO serviçO sOcial: cOletandO dadOs e analisandO‑Os O trabalho do assistente social demanda uma gama de recursos teóricos e metodológicos necessários para atender à sociedade e ao próprio profissional da área. No Serviço Social se detinha em um tipo de trabalho voltado para o atendimento social, mais especificamente de uma maneira sutil, sem uma preocupação maior com a mudança social. O trabalho do assistente social se resumia a ações isoladas, no auxílio aos menos favorecidos, mas como se fosse uma ação de caridade, de modo que via no assistido um problema isolado, alheio aos mecanismos que mantêm a estrutura injusta da sociedade e ao modelo econômico e social responsável pela desigualdade social. A forma de pesquisa e de prática do Serviço Social nasceu com base em uma perspectiva teórica e metodológica positivista; o que significa ter uma postura dos problemas sociais conforme a lógica e os interesses da sociedade industrial capitalista. Na prática, o assistente social atuava de forma pontual, munido de instrumentos e técnicas objetivistas: formulários, questionários, experimentos. Como aponta Setubal (1995, p. 38), a pesquisa, como forma de investigar a realidade social, já era utilizada pelo Serviço Social desde 1917, por meio da metodologia do diagnóstico social criado por Mary Richmond. Essa autora refere “a investigação ou coleta dos dados como reais”, como primeiro passo para a realização do diagnóstico, seguindo‑se “o exame crítico e a comparação das realidades averiguadas” (RICHMOND apud SETUBAL, 1995, p. 38) para ser possível a interpretação e o esclarecimento da realidade social. No Brasil, a metodologia quantitativista foi também por muito tempo a principal forma de prática do Serviço Social, seja no que diz respeito à ação ou à pesquisa social. Somente com o Movimento de Reconceituação, nos anos 1980, é que a pesquisa é resgatada como condição básica para a construção teórico‑metodológica do projeto profissional de ruptura. 8.1 as metodologias quantitativas e qualitativas no serviço social No Serviço Social, o uso das duas metodologias (quantitativa e qualitativa) pode ser encontrado em diversas situações. Conforme você já estudou até aqui, nota‑se a predominância de técnicas quantitativas, especialmente quando se usam questionários, formulários, dados estatísticos, amostras, escalas e outras formas de mensuração de dados da realidade social. 96 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a: 2 6/ 08 /2 01 3 // R ed im en sio na m en to e m ud an ça d e no m e: A m an da - A lte ra çã o: M ár ci o - 11 /0 8/ 20 15 Unidade III lembrete Como o próprio termo já indica, a metodologia quantitativa prioriza o que pode ser medido, enquanto a qualitativa prioriza o não quantificável, como é o caso de estudar os comportamentos e os sentidos dados às ações sociais. As duas metodologias têm sido fundamentais para estudar aspectos da realidade social. Quando se precisa saber sobre índices da saúde, da segurança, sobre moradia, epidemias, entre outros, os dados quantitativos são indispensáveis. As diversas organizações da sociedade, como empresas, escolas, hospitais, prefeituras e demais órgãos (públicos ou privados), em geral, para fazer algum tipo de acompanhamento de qualquer segmento da sociedade, necessitam levar em conta os dados quantitativos. É importante também saber que dados quantitativos podem ser utilizados para fazer uma leitura qualitativa de determinada realidade social. Portanto, não se deve pensar em utilizar apenas uma metodologia em qualquer pesquisa social. De acordo com os objetivos e objeto a ser estudado, é possível escolher instrumentos e técnicas qualitativas e/ou quantitativas. Conclui‑se que as metodologias quantitativas e qualitativas apresentam diferenças fundamentais na prática do Serviço Social. Ambas são importantes para a compreensão de determinados fenômenos sociais, todavia não devem ser supervalorizadas a fim de que não se adote uma postura objetivista nem tampouco interpretativa demais. 8.2 O que é pesquisa quantitativa: características gerais e referências Vimos que existem dois tipos básicos de pesquisas: qualitativa e quantitativa, agora o que faz de fato uma pesquisa ser quantitativa? A pesquisa quantitativa pode ser definida como aquela cujos objetivos, métodos e técnicas visam a quantificar aspectos da realidade. Para compreender melhor, vejamos alguns gráficos que dizem respeitos à pesquisa quantitativa, conforme apresentamos no quadro a seguir: 97 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a: 2 6/ 08 /2 01 3 // R ed im en sio na m en to e m ud an ça d e no m e: A m an da - A lte ra çã o: M ár ci o - 11 /0 8/ 20 15 Trabalho de Pesquisa em serviço social Quadro 12 – Tipos de gráficos Tipos de gráfico Exemplos Coluna Série 1 Série 2 Série 3 Categoria 1 Categoria 2 Categoria 3 Categoria 4 6 2 4 0 Figura 10 Linha Série 1 Série 3 Série 3 Ca teg ori a 1 Ca teg ori a 2 Ca teg ori a 3 Ca teg ori a 4 6 2 4 0 Figura 11 Pizza 1º Tri 2º Tri 3º Tri 4º Tri VENDAS Figura 12 Barra Série 1 Série 2 Série 3 Categoria 4 Categoria 3 Categoria 2 Categoria 1 Figura 13 98 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a: 2 6/ 08 /2 01 3 // R ed im en sio na m en to em ud an ça d e no m e: A m an da - A lte ra çã o: M ár ci o - 11 /0 8/ 20 15 Unidade III Área 35 30 25 20 15 5/1 /20 02 6/1 /20 02 7/1 /20 02 8/1 /20 02 9/1 /20 02 Série 1 Série 2 10 5 0 Figura 14 X Y Dispersão Valores Y Valores Y 3,5 3 2,5 2 1,5 1 0,5 0 0 Figura 15 Ações 70 60 50 Abrir Alto Baixo Fechar 40 30 20 10 0 5/1 /20 02 6/1 /20 02 7/1 /20 02 8/1 /20 02 9/1 /20 02 Figura 16 99 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a: 2 6/ 08 /2 01 3 // R ed im en sio na m en to e m ud an ça d e no m e: A m an da - A lte ra çã o: M ár ci o - 11 /0 8/ 20 15 Trabalho de Pesquisa em serviço social Superfícies Ca teg ori a 1 Ca teg ori a 2 Ca teg ori a 3 Ca teg ori a 4 Série 3 Série 1 6 4 2 0 4‑6 2‑4 0‑2 Figura 17 Rosca Vendas 1º Tri 2º Tri 3º Tri 4º Tri Figura 18 Bolha Valores Y Valores Y 4 3 2 1 0 0 1 2 3 4 Figura 19 100 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a: 2 6/ 08 /2 01 3 // R ed im en sio na m en to e m ud an ça d e no m e: A m an da - A lte ra çã o: M ár ci o - 11 /0 8/ 20 15 Unidade III Radar 0 10 20 30 40 5/1/2002 9/1/2002 6/1/2002 Série 1 Série 2 7/1/20028/1/2002 Figura 20 Os gráficos são utilizados para melhor visualização dos dados apresentados na pesquisa quantitativa. Para saber sobre os principais aspectos de um município, suas características gerais e suas carências, é necessário ter em mãos dados que demonstrem aspectos da realidade social em números. Costa (1987, p. 207) assevera que: qualquer acontecimento pode ser quantificável. Isso quer dizer que o investigador cria mecanismos segundo os quais um comportamento humano qualquer pode ser medido. Por exemplo, se quero investigar o grau de amizade que une as pessoas, posso criar algum critério pelo qual uma relação de amizade possa ser medida por dados observáveis. Observe que a autora afirma ser possível quantificar qualquer acontecimento; isso é verdade, todavia o pesquisador precisa ter cuidado para não se basear apenas no que pode ser quantificado, no caso de qualquer pesquisa que precise realizar. A possibilidade de poder quantificar qualquer acontecimento tem sua importância quando existe um olhar crítico acerca dos fatos e acontecimentos. Se um acontecimento ou situação pode ser quantificado, também é passível de ser manipulado, uma vez que vai depender de como os instrumentos são utilizados, o momento de sua aplicação, as pessoas, o contexto, entre outros fatores. Costa (1987, p. 207) afirma: os dados quantitativos fornecem também a possibilidade de ordenar os indivíduos segundo determinadas características. Por exemplo, seria possível determinar os alunos de baixa, média e alta frequência às aulas, e assim por diante. 101 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a: 2 6/ 08 /2 01 3 // R ed im en sio na m en to e m ud an ça d e no m e: A m an da - A lte ra çã o: M ár ci o - 11 /0 8/ 20 15 Trabalho de Pesquisa em serviço social No Serviço Social, é muito comum a utilização de dados quantitativos quando o profissional trabalha com determinados segmentos da sociedade – mulheres, negro, menores de rua, trabalhadores urbanos, agricultores, entre outros – e precisa ter algum dado geral sobre esse grupo. É de posse dos dados sobre o perfil dos meninos de rua, por exemplo, que o assistente social poderá estabelecer os critérios e ações a serem realizadas no sentido de contribuir para a solução de um determinado problema. Para a realização de uma pesquisa, o pesquisador social precisa se perguntar o que quer e o que vai pesquisar. Até que ponto os dados quantitativos que o assistente social pode ter acesso, vão servir para ajudar a responder as suas necessidades? Por outro lado, é possível trabalhar sobre determinadas questões sociais sem se debruçar sobre dados quantitativos? Questões como as apontadas anteriormente certamente servirão de base para que o assistente aocial saiba o que precisa ou, pelo menos, reflita sobre as necessidades de se aproximar o máximo possível da realidade. Em geral, pode‑se perceber como o profissional que atua em alguma instituição trabalha constantemente com a pesquisa quantitativa: os questionários e formulários preenchidos em hospitais, nas secretarias estaduais e municipais e nas prisões são exemplos de como podem ser importantes os dados quantificados. Há uma forte tendência por parte de quem trabalha nas instituições e organizações sociais em generalizar acerca de um grupo ou segmento estudado. É evidente que uma das funções da pesquisa quantitativa é generalizar, a partir de elementos extraídos de uma amostra; no entanto, esse procedimento pode levar a conclusões equivocadas. Para evitar conclusões precipitadas por parte do pesquisador, é necessário que se tenha o cuidado de verificar a metodologia adotada na pesquisa e na análise. Aquilo que é mostrado de forma geral, a partir dos dados quantitativos, só tem o seu devido valor quando se sabe quais os procedimentos adotados na oportunidade da coleta de dados. Nesse caso, se o próprio pesquisador é também o profissional, no caso o assistente social que vai trabalhar determinada questão social, tem‑se clareza quanto aos procedimentos, do contrário, a situação fica mais delicada. Uma das maiores dificuldades, por parte daquele que vai trabalhar com a pesquisa quantitativa, está na divisão de trabalho que, muitas vezes, é feita para se realizar um levantamento de dados; uma pesquisa pode demandar um trabalho em equipe, o que apresenta suas vantagens e desvantagens. A vantagem está na possibilidade de se realizar uma pesquisa mais ampla em curto período; a desvantagem está na fragmentação do trabalho e na falta de um maior controle da pesquisa. No Serviço Social, quando se tem um levantamento de dados sobre o grupo ou segmento social sobre o qual se está desenvolvendo algum tipo de trabalho, o profissional precisa ter consciência de que o material a que tem acesso refere‑se apenas a uma parte significativa, mas nunca a algo absoluto. 102 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a: 2 6/ 08 /2 01 3 // R ed im en sio na m en to e m ud an ça d e no m e: A m an da - A lte ra çã o: M ár ci o - 11 /0 8/ 20 15 Unidade III É importante ainda levar em consideração que, quando se trabalha com dados coletados por terceiros, o material que se tem em mãos pode estar defasado, isto é, pode ocorrer de ser um material já superado por novas pesquisas, ou até mesmo por falta de critérios mais rígidos quando da pesquisa e da análise. No caso de um pesquisador precisar coletar dados sobre indicadores sociais como emprego, renda, educação, moradia, entre outros, é importante consultar os órgãos públicos ou privados que tenham realizado algum levantamento. Para tanto, é necessário também ter clareza quanto aos dados disponíveis e se não há outros que, por algum motivo, não são do conhecimento do pesquisador. Têm sido de grande valia dados coletados por institutos de pesquisa que realizam censo e pesquisas de opinião. As estatísticas oficiais devem ser consideradas sempre que o pesquisador necessitar de dados sobre a população. Conclui‑se que um estudo sobre algum problema ou fenômeno social, por meio de uma metodologia quantitativa, tem sua importância para se fazer um levantamento geral. É evidente que nenhuma pesquisa sobre questões sociais deve ignorar o que envolve a maioria, como defendem os positivistas, por isso é que as pesquisas quantitativas têm sua relevância em diversas situações. 8.2.1 Instrumentos de coleta de dados em pesquisa quantitativa Toda pesquisa precisa ser feita com instrumentos e técnicasque favoreçam o pesquisador para uma percepção mais ampla possível acerca do problema estudado. Assim, ao longo do tempo, os cientistas sociais foram criando pouco a pouco um leque de instrumentos e de técnicas, conforme as necessidades e os contextos nos quais se encontravam. Veja alguns aspectos desse tipo de abordagem. 8.2.1.1 Amostragem Lakatos e Marconi (1991, p. 30) ensinam que “a amostra é uma parcela convenientemente selecionada do universo (população); é um subconjunto do universo”. População Amostragem Figura 21 103 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a: 2 6/ 08 /2 01 3 // R ed im en sio na m en to e m ud an ça d e no m e: A m an da - A lte ra çã o: M ár ci o - 11 /0 8/ 20 15 Trabalho de Pesquisa em serviço social As amostras podem ser: • simples; • sistemáticas; • aleatórias de múltiplo estágio; • estratificada proporcional e estratificada não‑proporcional; • por conglomerado; • por tipicidade; e • por quotas. As autoras descrevem cada tipo de amostra e apresentam as suas vantagens e desvantagens. Observe o quadro a seguir. Quadro 13 – Tipos de amostras – um comparativo Tipo Descrição Vantagens Desvantagens 1. Aleatória simples Atribuir a cada elemento da população um número único: selecionar a amostra utilizando números aleatórios. • Requer o mínimo de conhecimento antecipado da população. • Livra de possíveis erros de classificação. • Facilita a análise de dados e o cálculo de erros. • O conhecimento da população, que o pesquisador possa ter, é desprezado. Para a mesma extensão da amostra, os erros são mais amplos do que na amostragem. 2. Sistemática Usar ordem natural ou ordenar a população; selecionar ponto de partida aleatório entre 1 e 10; selecionar a amostra segundo intervalos correspondentes ao número escolhido. • Dá como efeito a estratificação e, portanto, reduz a variabilidade em comparação com A, se a população é ordenada com respeito à propriedade relevante. • Simplifica a colheita de amostra; permite verificação fácil. • Se o intervalo de amostragem se relaciona a uma ordenação periódica da população, pode ser introduzida variabilidade crescente. • Se há efeito de estratificação, as estimativas de erro tendem a ser altas. 3. Aleatória de múltiplo estágio Usar uma forma de amostragem aleatória em cada um dos estágios, quando há pelo menos dois estágios. • Oferece listas de amostragem, identificação e numeração apenas para elementos das unidades de amostragem selecionadas. • Diminui os custos de viagem se as unidades de amostragem são definidas geograficamente. • Os erros tendem a ser maiores do que em A ou B, para a mesma extensão da amostra. • Os erros crescem com o decréscimo do número de unidades de amostragem escolhidas 104 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a: 2 6/ 08 /2 01 3 // R ed im en sio na m en to e m ud an ça d e no m e: A m an da - A lte ra çã o: M ár ci o - 11 /0 8/ 20 15 Unidade III 4. Estratificada: a) Proporcional b) Não proporcional a) Escolher, de cada unidade de amostragem, amostra aleatória proporcional à extensão da unidade de amostragem. b) É a mesma que a anterior, exceto que a extensão da amostra não é proporcional à extensão da unidade de amostragem, mas ditada por considerações analíticas ou de conveniência. a) Assegura representatividade com respeito à propriedade que dá base para classificar as unidades; garante, pois, menor variabilidade que A ou C. • Decresce a possibilidade de deixar de incluir elementos da população por causa do processo classificatório. b) Podem ser avaliadas as características de cada estrato, pois são feitas comparações. • É mais eficiente que a anterior para comparações de estratos. a) Sob pena de aumentar o erro, requer informação acurada acerca da proporção de população em cada estrato. • Se não há listas estratificadas disponíveis, prepara‑las pode ser dispendioso; possibilidade de classificação errônea e de aumento da variabilidade. b) Menos eficaz do que a 1 para determinar características da população, isto é, maior variabilidade para a mesma extensão da amostra. 5. Por conglomerado Selecionar unidades por alguma forma de amostragem aleatória; as unidades últimas são grupos; selecioná‑los aleatoriamente e fazer contagem completa de cada uma. • Possibilita baixos custos de campo se os conglomerados são definidos geograficamente. • Requer relacionamento de indivíduos apenas nos conglomerados escolhidos. • Podem ser avaliadas as características dos conglomerados, bem como da população. • É suscetível de utilização em amostras subsequentes, já que os selecionados são os conglomerados e não os indivíduos e a substituição de indivíduos pode ser permitida. • Erros maiores para extensões semelhantes, do que os que ocorrem em outras amostras probabilistas. • Capacidade para colocar elemento da população em um só conglomerado é exigida; a incapacidade de assim agir pode resultar em duplicação ou omissão de indivíduos. 6. Por tipicidade Selecionar um subgrupo de população que, à luz das informações disponíveis, possa ser considerado como representativo de toda a população; fazer contagem completa ou subamostragem desse grupo. Reduz custo de preparação da amostra e do trabalho de campo, pois unidades últimas podem ser escolhidas de modo que fiquem próximas umas das outras. • Variabilidade e desvios das estimativas não podem ser controlados ou medidos. • Generalizações arriscadas ou considerável conhecimento da população e do subgrupo selecionado é requerido. 7. Por quotas • Igual a 6. • Introduzir algum efeito de estratificação. • Desvios devido à classificação que o observador faz dos sujeitos e à seleção não aleatória em cada classe são introduzidos. Fonte: Lakatos; Marconi (1991, p. 57‑58) 105 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a: 2 6/ 08 /2 01 3 // R ed im en sio na m en to e m ud an ça d e no m e: A m an da - A lte ra çã o: M ár ci o - 11 /0 8/ 20 15 Trabalho de Pesquisa em serviço social As considerações das autoras são importantes para perceber como uma pesquisa social pode ser feita de várias formas. Contudo, é necessário saber que técnica pode ser mais útil para o estudo de determinada questão social. Você pode perceber também como cada uma das formas apresentadas apresenta suas vantagens e desvantagens no que diz respeito à confiabilidade que oferece. Conforme Lakatos e Marconi (1991), a escolha do instrumental metodológico está diretamente relacionada com o problema a ser estudado; a escolha dependerá dos vários fatores relacionados com a pesquisa, ou seja, a natureza dos fenômenos, o objeto da pesquisa, os recursos financeiros, a equipe humana e outros elementos que possam surgir no campo da investigação. Lembre‑se de que uma amostra tem sua relevância quando de fato ela representa algo, isto é, se oferece condições para que se tenha um perfil ou noção do universo (população) estudado. Laville e Dione (1999, p. 169) afirmam: o caráter representativo de uma amostra depende evidentemente da maneira pela qual ela é estabelecida. Diversas técnicas foram elaboradas para assegurar tanto quanto possível tal representatividade; mas apesar de seu requinte, que permite diminuir muitas vezes os erros de amostragem, isto é, as diferenças entre as características da amostra e as da população de que foi tirada, tais erros continuam sempre possíveis, incitando os pesquisadores a exercer vigilância e seu senso crítico. A representatividade significa que a pesquisa feita aponta aquilo que a maioria ou a totalidade pensa ou sabe sobre algo, muito embora seja por amostra,uma vez que é praticamente impossível saber tudo sobre algo ouvindo toda a população. 8.2.1.2 Questionários e formulários Consiste em uma das formas mais comuns de pesquisa quantitativa e apresenta‑se de três formas: • aberto; • fechado; • misto. No aberto, temos uma pergunta que permite ao respondente apresentar livremente sua opinião sobre o assunto. Veja a seguir um exemplo, partindo da seguinte pergunta: O que significa o curso de Serviço Social para você? No questionário fechado, temos uma pergunta e, em seguida, um conjunto de opções para que o pesquisado responda. Observe o exemplo. 106 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a: 2 6/ 08 /2 01 3 // R ed im en sio na m en to e m ud an ça d e no m e: A m an da - A lte ra çã o: M ár ci o - 11 /0 8/ 20 15 Unidade III Como você analisa o curso de Serviço Social? a) Ruim. b) Regular. c) Bom. d) Ótimo. Observe que esse tipo de questão obriga o respondente a escolher uma das opções apontadas, isto é, trata‑se de um tipo de questionário que não apresenta liberdade para o indivíduo pesquisado. Assim, é possível uma maior manipulação. Em outros termos, significa que as respostas poderão não revelar de fato aquilo que se apresenta. Quanto ao misto, inclui os dois tipos de questões, abertas e fechadas. Veja o exemplo seguir. Como você analisa o curso de Serviço Social? a) Ruim. b) Regular. c) Bom. d) Ótimo. Por quê? Conforme Costa (1987, p. 185), os questionários são necessários sempre que um cientista não dispõe de dados previamente coletados pelas instituições públicas sobre determinados dados anteriormente coletados. 8.2.1.3 Formulário O formulário é um tipo de questionário que, em geral, apresenta um nível de questões que exige a presença do pesquisador para preencher. Em geral, o assistente social que trabalha em algum órgão público ou privado lança mão desses instrumentos de pesquisa. No caso dos órgãos públicos, tem sido muito comum a sua utilização. Veja no quadro a seguir as vantagens e desvantagens dos questionários e formulários, conforme aponta Lakatos e Marconi (1991). 107 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a: 2 6/ 08 /2 01 3 // R ed im en sio na m en to e m ud an ça d e no m e: A m an da - A lte ra çã o: M ár ci o - 11 /0 8/ 20 15 Trabalho de Pesquisa em serviço social Quadro 14 – Questionário e formulários – um comparativo Instrumentos Vantagens Desvantagens Questionário • Economiza tempo, viagens e obtém grande número de dados. • Atinge maior número de pessoas simultaneamente. • Abrange área geográfica mais ampla. • Economiza pessoal, tanto em adestramento quanto em trabalho de campo. • Obtém respostas mais rápidas e precisas. • Há maior liberdade nas respostas, em razão do anonimato. • Há mais segurança, pelo fato de as respostas não serem identificadas. • Há menos risco de distorção, pela não influência do pesquisador. • Há mais tempo para responder e em hora mais favorável. • Há mais uniformidade na avaliação, em virtude da natureza impessoal do instrumento. • Obtém respostas que materialmente seriam inacessíveis. • Percentagem pequena dos questionários que voltam. • Grande número de perguntas sem respostas. • Não pode ser aplicado a analfabetos. • Impossibilidade de ajudar o informante em questões mal compreendidas. • A dificuldade de compreensão, por parte dos informantes, leva a uma uniformidade aparente. • Na leitura de todas as perguntas, antes de respondê‑las, pode uma questão influenciar a outra. • A devolução tardia prejudica o calendário ou sua utilização. • O desconhecimento das circunstâncias em que foram preenchidos torna difícil o controle e a verificação. • Nem sempre é o escolhido quem responde ao questionário. • Exige um universo mais homogêneo. Formulário • Utilizado em quase todo segmento da população: analfabetos, alfabetizados, populações heterogêneas etc., porque seu preenchimento é feito pelo entrevistador. • Oportunidade de estabelecer rapport, devido ao contato pessoal. • Presença do pesquisador, que pode explicar os objetivos da pesquisa, orientar o preenchimento do formulário e elucidar significados de perguntas que não estejam muito claras. • Flexibilidade, para adaptar‑se às necessidades de cada situação, podendo o entrevistador reformular itens ou ajustar o formulário à compreensão de cada informante. • Obtenção de dados mais complexos e úteis. • Facilidade na aquisição de um número representativo de informantes, em determinado grupo. • Menos liberdade nas respostas, em virtude da presença do entrevistador. • Risco de distorções, pela influência do aplicador. • Menos prazo para responder às perguntas; não havendo tempo para pensar, elas podem ser invalidadas. • Mais demorado, por ser aplicado a uma pessoa de cada vez. • Insegurança das respostas, por falta do anonimato. • Pessoas possuidoras de informações necessárias podem estar em lugares muito distantes, tornando a resposta difícil, demorada e dispendiosa. Fonte: Lakatos; Marconi (1991, p. 98‑112) Tanto o questionário quanto o formulário requerem bastante cuidado e responsabilidade na sua formulação. As perguntas devem ser pensadas conforme o objetivo que se pretende alcançar com a pesquisa. É importante ainda ter muita atenção quando se está aplicando esses instrumentos; em geral, os principais problemas que se percebem no uso dos questionários é a falta de uma orientação maior por parte do pesquisador em relação ao pesquisado. Talvez seja por esse motivo que uma parte significativa dos questionários enviados para serem respondidos não retorna ao pesquisador. 108 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a: 2 6/ 08 /2 01 3 // R ed im en sio na m en to e m ud an ça d e no m e: A m an da - A lte ra çã o: M ár ci o - 11 /0 8/ 20 15 Unidade III Após a coleta dos questionários e formulários, o pesquisador deve fazer a tabulação dos dados, que consiste em ordenar e classificar as respostas, para, em seguida, saber o percentual de cada questão respondida. Feito isso, podem‑se utilizar planilhas, gráficos e tabelas, como forma de apresentação dos dados. 8.2.1.4 Escala Conforme destaca Lakatos e Marconi (1991, p. 114), a escala “é um instrumento científico de observação e mensuração dos fenômenos sociais. Foi idealizada com a finalidade de medir a intensidade das atitudes e opiniões na forma mais objetiva possível”. Podem ser utilizadas escalas em pesquisas de opinião referente a preconceito, patriotismo, preferências, entre outras. 8.2.1.5 Os testes Lakatos e Marconi (1991, p. 125) ensinam que os testes são instrumentos utilizados com a finalidade de obter dados que permitem medir o rendimento, a competência, a capacidade ou a conduta dos indivíduos, em forma quantitativa. Essa técnica é bastante utilizada na Psicologia e no Serviço Social, e pode ser importante em determinadas situações. Entre os testes, temos a sociometria, cuja finalidade é medir as relações entre o indivíduo e um grupo, para verificar sua influência ou sua liderança. Os instrumentos e as técnicas quantitativas apresentadas são comuns na pesquisa social e apresentam sua relevância. É importante que o pesquisador tenha uma conduta crítica para o uso deste ou daquele tipo de instrumento ou técnica. Assim seu trabalho pode ter maior credibilidade. Cada tipo de técnica apresenta também suas vantagens e suas desvantagens, o que exige muito cuidado por parte do pesquisador social. A utilização de métodos e técnicas quantitativas no Serviço Social pode ocorrer, por exemplo, da seguinte maneira: quando o assistente social é convocado para realizar uma pesquisa cujo objetivo é diagnosticar o perfil socioeconômico das famílias de um determinado setor ou bairro da cidade;nesse caso, o profissional visita as famílias munido de um questionário, cujos itens centrais podem ser a renda familiar, as condições de moradia, de saúde, de educação, número de filhos, entre outros. Esse tipo de diagnóstico geralmente é realizado pelos órgãos públicos para que, de posse dos dados, se faça um plano de ação visando a atender às principais necessidades da população carente. Esse tipo de pesquisa é também feita por escolas que destinam vagas para pessoas de baixa renda. Note que esse tipo de pesquisa quantitativa é importante para atender a algumas necessidades e exigências dos setores públicos e privados no que diz respeito à ação junto à população. O que gerou várias críticas ao modelo quantitativo adotado por instituições é o fato de se priorizar sempre esse tipo de metodologia e de abordagem, sem levar em consideração um trabalho mais efetivo junto à população, especialmente ouvindo mais as pessoas, vivenciando seus dilemas, respeitando as diferenças e buscando uma ação junto à comunidade de forma participativa; portanto, sem trazer projetos prontos para serem aplicados às populações, sem ter clareza das reais necessidades e interesses das pessoas. 109 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a: 2 6/ 08 /2 01 3 // R ed im en sio na m en to e m ud an ça d e no m e: A m an da - A lte ra çã o: M ár ci o - 11 /0 8/ 20 15 Trabalho de Pesquisa em serviço social Observação A abordagem qualitativa se mostra mais próxima da realidade da população, todavia também não deve ser a única a ser adotada nas diversas situações. O uso indiscriminado de uma metodologia qualitativa, sem que se leve em conta a dimensão real do problema; a compreensão clara das ideias e dos conceitos que orientam a ação ou a pesquisa também não leva a lugar nenhum. A metodologia qualitativa busca muito mais a interpretação da realidade do que a prática objetivista, com o uso contínuo de dados quantitativos. As principais técnicas utilizadas no Serviço Social, relacionadas a esse tipo de metodologia, são: história de vida, estudo de caso, entrevista, observação participante, entre outras. Assim, observamos que os métodos e as técnicas de pesquisa social do Serviço Social surgiram a partir das demandas sociais e também fundamentados em interesses e ideologias. Por exemplo, o tipo de metodologia que prioriza o objetivismo vai se adequar muito mais à sociedade industrial capitalista. Como a realidade se mostra objeto de estudo complexo para compreender, surge uma nova abordagem (qualitativa), cuja prioridade é o indivíduo como sujeito da realidade. A metodologia qualitativa se apoia em instrumentos e técnicas contrárias às do Positivismo. Logo, aqueles que trabalham as questões sociais passam a adotar em larga medida as técnicas de observação participante, entrevistas, história de vida, entre outras. 8.2.1.6 Métodos de abordagem: métodos quantitativos no Serviço Social Já sabemos que a metodologia quantitativa prioriza os aspectos que possibilitam a mensuração dos dados: questionários, estatísticas, experimentação, amostras. No Serviço Social, essa metodologia, embora tenha sua importância, contribui muito mais para uma prática conservadora. Não se pode negar a relevância dos métodos quantitativos para verificar algo da realidade social; o que não deve haver é uma supervalorização do uso de métodos e técnicas quantitativas, levando a falhas na percepção da realidade, uma vez que há uma forte tendência em considerar realidade apenas aquilo que pode ser medido por meio de estatísticas, gráficos, tabelas ou demonstrado com experimentações. O Serviço Social, quando se preocupava apenas com o diagnóstico quantitativo de uma dada realidade social, deixava de lado determinados aspectos da realidade que não apareciam nos dados quantitativos. Isso levava a interpretações muitas vezes precipitadas e atitudes de indiferença no que se refere à relação pesquisador e pesquisado – no caso, assistente social e assistidos. A metodologia quantitativa surgiu a partir da necessidade de se ter algo concreto que possibilitasse uma compreensão acerca de determinados fenômenos sociais. O termo quantitativo diz respeito à quantidade, isto é, aquilo que pode ser mensurado. 110 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a: 2 6/ 08 /2 01 3 // R ed im en sio na m en to e m ud an ça d e no m e: A m an da - A lte ra çã o: M ár ci o - 11 /0 8/ 20 15 Unidade III Minayo et al. (2000, p. 30) nos ensinam que: a questão do quantitativo traz a reboque o tema da objetividade. Isto é, os dados relativos à realidade social seriam objetivos se produzidos por instrumentos padronizados, visando a eliminar fontes de propensões de todos os tipos e apresentar uma linguagem observacional neutra. Como destacam os autores, a questão da objetividade constitui uma preocupação central à necessidade de objetividade, isto é, daquilo que pode ser demonstrado com propriedade e segurança, a ponto de não deixar nenhuma dúvida. Com isso, surge o quantitativismo na pesquisa social: o uso indiscriminado de instrumentos e técnicas, como questionários, formulários, tabelas, amostras, escalas, experimentos, entre outros recursos que possibilitem a mensuração. Para os adeptos da metodologia quantitativa, a realidade social poderia ser mensurada de tal forma que seria possível o controle total de determinados fenômenos sociais. Entretanto, o uso de métodos e técnicas quantitativas, embora tenha sua importância, pode iludir o pesquisador na busca da objetividade. Por exemplo, não é pelo fato de se ter aplicado um questionário, utilizando estatística, que se deve ter como verdade absoluta uma determinada pesquisa. Foi por isso que surgiram os métodos e as técnicas qualitativos, os quais percorrem um caminho diferente da perspectiva quantitativa. Optar pela metodologia qualitativa é adotar um caminho oposto ao da quantitativa. Esse tipo de pesquisa se preocupa “nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado [...] trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes”, afirma Minayo et al. (2000, p. 22). Esse tipo de metodologia se opõe à objetividade e à rigidez adotada na quantitativa. Qualitativo significa se preocupar com a qualidade e não com a quantidade. Aspectos comportamentais, significados, valores, costumes, entre outros aspectos, são estudados a partir da abordagem qualitativa, que veremos adiante. Para alguns autores, como é o caso de Minayo et al. (2000, p. 15), o “objeto das ciências sociais é essencialmente qualitativo. A realidade social é o próprio dinamismo da vida individual e coletiva com toda riqueza de significados dela transbordante”. Veja, portanto, como as ciências sociais apresentam fortes discussões, como esta que você pode perceber: será que devemos utilizar somente uma dessas metodologias e ignorar a outra? Evidentemente que não, pois ambas têm sua importância no estudo dos fenômenos sociais. Para atender à necessidade de compreensão dos fenômenos sociais, as ciências sociais, entre elas a Sociologia, nasceram com base positivista, de modo a priorizar uma metodologia quantitativa para o estudo da sociedade. Foi com o processo de industrialização que a pesquisa social se desenvolveu. A dinâmica social protagonizada pelo surgimento das indústrias, pela urbanização e pelo mercado demandou estudos diversos com vistas à formação de uma sociedade organizada. Os estudos realizados acerca das populações e de suas demandas têm contribuído significativamente para que os gestores das cidades saibam que ações devem ser realizadas a curto, médio e longo prazo. 111 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a: 2 6/ 08 /2 01 3 // R ed im en sio na m en to e m ud an çad e no m e: A m an da - A lte ra çã o: M ár ci o - 11 /0 8/ 20 15 Trabalho de Pesquisa em serviço social É de posse dos indicadores sociais que é possível adotar medidas necessárias para as áreas como: saúde, educação, moradia, segurança, entre outras necessidades sociais. Baptista (1994, p. 25) nos ensina que: ao invés de serem excludentes ou opostas, as técnicas qualitativas e quantitativas, se devidamente utilizadas em uma pesquisa, poderão ser igualmente eficazes no aproveitamento e conhecimento do tema em estudo. O importante é ressaltar que o pesquisador deve não só estar seguro das referências teórico‑metodológicas em que se está apoiando para que possa transitar e se movimentar sem se sentir em uma camisa de força de uma ou outra linha metodológica. A pesquisa social pode ser feita com base em métodos quantitativos ou qualitativos. Estes últimos têm sido bastante priorizados para o estudo de questões sociais. Não se pode radicalizar quanto à importância desta ou daquela metodologia, mas é importante saber até que ponto uma complementa a outra. O surgimento de estudos com bases qualitativas trouxe importantes descobertas e contribuiu para se ter uma visão mais ampla sobre determinadas realidades. No Serviço Social, o uso das duas metodologias (quantitativa e qualitativa) pode ser encontrado em diversas situações. Conforme você já estudou até aqui, nota‑se a predominância de técnicas quantitativas, especialmente quando se usam questionários, formulários, dados estatísticos, amostras, escalas e outras formas de mensuração de dados da realidade social. As duas metodologias têm sido fundamentais para estudar aspectos da realidade social. Quando se precisa saber sobre índices da saúde, da segurança, sobre moradia, epidemias, entre outros, os dados quantitativos são indispensáveis. As diversas organizações da sociedade, como empresas, escolas, hospitais, prefeituras e demais órgãos (públicos ou privados), em geral, para fazer algum tipo de acompanhamento de qualquer segmento da sociedade, necessitam levar em conta os dados quantitativos. É importante também saber que dados quantitativos podem ser utilizados para fazer uma leitura qualitativa de determinada realidade social. Portanto, não se deve pensar em utilizar apenas uma metodologia em qualquer pesquisa social. De acordo com objetivos e objeto a ser estudado, é possível escolher instrumentos e técnicas qualitativas e ou quantitativas. saiba mais Para aprofundar o assunto desenvolvido até aqui, leia: BARRILI, H. C. et al. A pesquisa em Serviço Social e nas áreas humano‑sociais. Rio Grande do Sul: Edipucrs, 1998. 112 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a: 2 6/ 08 /2 01 3 // R ed im en sio na m en to e m ud an ça d e no m e: A m an da - A lte ra çã o: M ár ci o - 11 /0 8/ 20 15 Unidade III 8.2.2 Como se analisam dados quantitativos? Até o momento tratamos da pesquisa quantitativa, suas características, instrumentos e técnicas. Contudo, é necessário saber como se faz para analisar os dados obtidos das mais variadas formas: questionários, testes, formulários, escalas, conforme estudamos anteriormente. Alguns procedimentos são necessários para a análise dos dados. Primeiro, é preciso levar em conta os objetivos da pesquisa. Nesse caso, vale rever o projeto de pesquisa, item por item, uma vez que tudo está relacionado ao problema e objetivos da pesquisa. Feita a pesquisa por meio de aplicação de questionário, levantamentos estatísticos e testes, o pesquisador precisa saber como tratar os dados, fazer comparações para tirar suas conclusões. No caso de o pesquisador ter aplicado questionários ou formulários em um determinado ambiente em estudo, primeiramente precisa fazer a tabulação, a classificação e as comparações necessárias. A análise de dados quantitativos é feita pelo profissional capacitado, no caso, um estatístico; essa fase, evidentemente, trata‑se de uma análise tipicamente estatística. Segundo Laville e Dionne (1999, p. 199), a análise estatística é habitualmente realizada em dois tempos: um primeiro em que se descrevem e caracterizam os dados e um segundo em que se estudam os nexos e as diferenças, em que se fazem inferências etc. Não vamos nos ater à esfera da estatística propriamente dita, nem à matemática ou a qualquer operação que envolva cálculo, até mesmo por entender que não é da alçada do pesquisador social saber todo tipo de cálculo. Para a análise quantitativa, é fundamental que o pesquisador tenha segurança de que o material coletado que está ao seu dispor é de confiança. Isto é uma regra básica: caso os dados tenham sido coletados pelo próprio pesquisador, é evidente que não ocorrerão problemas de procedência. Agora, resta saber o que fazer com o material em suas mãos. É importante que quem for fazer a análise tenha clareza quanto aos objetivos e hipóteses que lhes servirão de ponto de partida para sua análise. No caso de se precisar de um especialista, “deve‑se dar ao trabalho de dialogar com o expert para fazer com que este compreenda o que ele pretende e lhe explique os tratamentos sugeridos”, afirmam Laville e Dionne (1999, p. 204). Você já deve ter percebido, em determinadas apresentações de dados, que, em geral, fazem‑se análises a partir de comparações, considerando o maior índice ou o menor. Devem‑se ainda verificar os índices que se repetem. Essa repetição, provavelmente, revela algo importante, conforme seja o objetivo da pesquisa. Outro ponto a ser considerado é quando um índice pode ser relacionado: 113 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a: 2 6/ 08 /2 01 3 // R ed im en sio na m en to e m ud an ça d e no m e: A m an da - A lte ra çã o: M ár ci o - 11 /0 8/ 20 15 Trabalho de Pesquisa em serviço social [...] a outro, de modo a apontar determinadas implicações. Rudio (1992, p. 98‑99) nos ensina que a partir dos dados obtidos, o pesquisador terá diante de si um amontoado de respostas que precisam ser ordenadas e organizadas para que possam ser analisadas e interpretadas. Para isso, devem ser codificadas e tabuladas, começando‑se o processo pela classificação. Rudio (1992) se refere a três etapas importantes na análise: codificação, tabulação e classificação. É esse o caminho básico para qualquer análise que se precisa fazer: classificar é dividir um todo em partes, dando ordem às partes e colocando cada uma no seu lugar. Para que haja classificação é necessário que um todo ou universo seja dividido em suas partes, sob um determinado critério ou fundamento que é a base da divisão a ser feita. À medida que se segue tal procedimento de classificação, percebe‑se também uma conduta com vistas à objetividade, à clareza e à precisão por parte do pesquisador. A classificação não deve ser feita de forma aleatória, lembra Rudio (1992), mas é necessário que determinadas normas sejam obedecidas, sendo geralmente indicadas as seguintes: • na mesma classificação não pode haver mais de um critério; • as categorias em que o todo é dividido devem abranger cada um dos indivíduos, pertencentes ao universo, sem deixar nenhum de fora. Não se pode, por exemplo, dar apenas as categorias solteiro e casado para dividir os professores de uma faculdade, uma vez que ficariam de fora os desquitados, divorciados, entre outros; • a classificação também deve ser constituída por categorias que se excluam mutuamente, de forma que não seja possível que um indivíduo fique em mais de uma categoria. Quanto à codificação, ela significa “o processo pelo qual se coloca uma determinada informação, isto é, o dado que ela oferece, na categoria que lhe compete, de modo a atribuir a cada categoria um item e dando‑se para cada item um símbolo” (Rudio 1992, p. 99). Esse símbolo pode ser em forma de letras ou números, entre outros possíveis. Veja um exemplode codificação: Imaginemos, para exemplo, que foi aplicado a um grupo de alunos da faculdade W um questionário somente com a seguinte pergunta fechada: Qual o seu julgamento, de modo geral, sobre a competência dos professores desta faculdade? Sublinhe a alternativa que indica sua resposta: ótima – boa – regular – má – péssima. Para codificar as respostas obtidas é necessário, primeiro, classificar as indagações do questionário, tendo em vista uma previsão das diversas possibilidades de serem respondidas. Assim, vamos supor, então, que haja um item A, referente às características dos informantes 9 no começo do questionário) e um item B, referente às respostas para a pergunta (foi uma só) do questionário. Como se vê, para cada item foi 114 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a: 2 6/ 08 /2 01 3 // R ed im en sio na m en to e m ud an ça d e no m e: A m an da - A lte ra çã o: M ár ci o - 11 /0 8/ 20 15 Unidade III assinalado um símbolo, respectivamente “A” e “B”. Imaginemos que para o ítem A foram pedidas apenas duas características: idade e sexo. Podemos, então, atribuir para o primeiro o símbolo I e para o segundo, o símbolo II. Mas estas duas categorias devem ser subdivididas. Teremos, então, para o item A – características dos informantes: A.1 – sexo: A.1.1 – masculino e A.2‑ Idade: A.2.1 – até 18 anos completos; A.2.2 – de mais de 18 até 19 anos; A.2.3 – de mais de 19 anos até 20 anos completos; A.2.4 – de mais de 20 anos até 21 anos completos (imaginemos que na referida classe não exista ninguém de menos de 18 anos e nem de mais de 21 anos). E teremos para o item B – respostas para a pergunta: B.2 p‑ boa; B.3 – regular; B.4 – má; B.5 péssima (RUDIO, 1992, p. 100). A partir do exemplo apontado de codificação, é possível passar para o processo de tabulação, tendo em vista que foram atribuídos na classificação os itens, categorias e símbolos. Depois, pode‑se organizar tudo o que foi classificado e, com isso, é possível ter uma visão geral do que foi pesquisado, isto é, a opinião, conforme os pesquisados. Após os dados serem codificados e tabulados, vem agora a necessidade da análise: busca‑se saber o que significam aqueles dados, o que revelam. Após a análise, é possível, portanto, interpretar os dados. Conclui‑se que não é possível uma análise favorável, isto é, objetiva, sem que se saiba como fazer, quais os procedimentos a serem seguidos. É por isso que o pesquisador deve ter os conhecimentos básicos sobre organização, classificação, codificação e tabulação, a fim de que saiba o que revelam os números. 8.3 O que é pesquisa qualitativa: características gerais e referências lembrete A metodologia qualitativa nasce em contraposição à rigidez protagonizada pelos modelos baseados nas ciências naturais. A característica marcante da metodologia qualitativa é “o fato de que as pesquisas são formuladas para fornecerem uma visão de dentro do grupo pesquisado”, afirmam Victoria et al. (2000, p. 37). Considerar a visão interna do grupo nesse tipo de pesquisa é uma postura totalmente diferente da utilizada na quantitativa; significa ouvir os indivíduos na sua forma mais completa possível. Quando o pesquisador social adota essa metodologia, ele deve estar ciente de que não interessa saber simplesmente o que a maioria pensa sobre algo, mas também perceber nas entrelinhas como de fato a realidade de um determinado grupo se apresenta nos seu aspecto mais comezinho, mais íntimo possível. 115 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a: 2 6/ 08 /2 01 3 // R ed im en sio na m en to e m ud an ça d e no m e: A m an da - A lte ra çã o: M ár ci o - 11 /0 8/ 20 15 Trabalho de Pesquisa em serviço social Minayo (2004, p. 10) considera: as metodologias de pesquisa qualitativa entendidas como aquelas capazes de incorporar a questão do significado e da intencionalidade como inerentes aos atos, às relações, e às estruturas sociais, sendo essas últimas tomadas tanto no seu advento quanto na sua transformação, como construções humanas significativas. É com o foco no significado das ações e na intencionalidade que o pesquisador social se coloca em uma posição mais humana. Desse modo, não atua como se o objeto estudado fosse algo estranho à vida. Em outros termos, podemos afirmar que se trata de um olhar mais atento e com muito respeito aos pesquisados; na abordagem qualitativa as pessoas não são meros informantes, nem tampouco o que dizem se traduz em números ou estatísticas. Surgidas a partir de sociólogos e antropólogos, a pesquisa qualitativa foi sendo aos poucos reconhecida como fundamental nas ciências sociais. Triviños (1987, p. 120) nos ensina que: “os pesquisadores perceberam rapidamente que muitas informações sobre a vida dos povos não podem ser quantificadas”, mas sim interpretadas de forma muito mais ampla, de modo a abandonar as metodologias quantitativas típicas do Positivismo e do Funcionalismo. Uma das formas de estudo qualitativo se dá com o que os cientistas sociais chamam de trabalho de campo: quando o pesquisador deixa sua postura técnica e burocrática para conhecer novas culturas e modos de vida. Foi dessa forma que os antropólogos realizaram estudos com base em visitas e convivências com nativos. São exemplos dessa postura as pesquisas realizadas por Franz Boas, entre 1883 e 1902, e, também, as experiências de campo de Bronislow Malinowski nas Ilhas Trobriand, ente 1915 a 1916, conforme destaca Goldenberg (1999, p. 20‑21). Os estudos de Franz Boas foram marcantes para as ciências sociais, especialmente para a Antropologia, tendo inspirado vários pesquisadores na primeira metade do século XX. Entre os estudiosos destacam‑se Ralph Linton, Ruth Bemedict e Margareth Mead, os quais são considerados representantes da Antropologia cultural americana. Tais estudiosos utilizaram “métodos e técnicas de pesquisa qualitativa somada a modelos conceituais próximos da psicologia e psicanálise”, afirma Goldenberg (1999, p. 21). Já nos anos 1970, nos Estados Unidos, destacam‑se as pesquisas de Clifford Geertz, que propõem uma análise cultural hermenêutica, inspiradas nas ideias de Weber. Seus trabalhos situam‑se em uma ótica interpretativa. Para Geertz, o estudioso deve fazer uma descrição em profundidade (descrição densa) das culturas como textos vividos como teias de significados que devem ser interpretados (GOLDENBERG, 1999). 116 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a: 2 6/ 08 /2 01 3 // R ed im en sio na m en to e m ud an ça d e no m e: A m an da - A lte ra çã o: M ár ci o - 11 /0 8/ 20 15 Unidade III 8.3.1 O Interacionismo simbólico e a Escola de Chicago A Escola de Chicago se tornou um dos importantes centros de estudos e de pesquisas sociológicas dos Estados Unidos. A partir de 1915, o Departamento de Sociologia realiza estudos na cidade de Chicago com o intuito de produzir conhecimentos que contribuíssem para a solução de determinados problemas sociais, como imigração, ato infracional, criminalidade, desemprego, vulnerabilidade econômica e social, entre outros. O método dos pesquisadores dessa Escola é conhecido como interacionismo simbólico, cujo propósito é “compreender as significações que os próprios indivíduos põem em prática para construir seu mundo social” (GOLDENBERG, 1999, p. 27). Vale lembrar que a Escola de Chicago, muito embora tenha iniciado um estudo interacionista simbólico, também trabalhou com dados quantitativos; todavia, sua preocupação maior é com o tratamento qualitativo. Goldenberg (1999, p. 30) aponta que: em 1929, Shaw e outros pesquisadores publicaram uma obra sobre a delinquência urbana em que recensearam cerca de 60 mil domicílios de “vagabundos, criminosos e delinquentes” de Chicago, para demonstrar as taxasde criminalidade em diferentes bairros. A abordagem qualitativa, com o apoio de dados quantitativos, constitui uma importante forma de estudo das questões sociais. Não se pode radicalizar acerca dos métodos e técnicas de pesquisa social; para cada situação, conforme seja o objetivo da pesquisa, é necessário o uso de estatísticas para que se tenha uma visão mais concreta do fenômeno em questão. Estudos com base nessa metodologia interacionista podem contribuir para uma maior compreensão de certos problemas sociais e as ações dos seus atores. No Serviço Social, essa perspectiva metodológica tem sua importância no caso dos assistentes sociais que atuam junto aos indivíduos e grupos sociais em situação de risco: crianças e adolescentes em situação de rua, presos, infratores, entre outros sujeitos que se encontram à margem da marginalidade. A questão que não pode ser ignorada pelos pesquisadores, cientistas sociais e assistentes sociais é quanto à necessidade da realização de um estudo sobre qualquer questão social com base na credibilidade. Para isso, os métodos, instrumentos e técnicas utilizadas devem ser suficientes para a explicação de determinados fenômenos sociais. Conclui‑se que as pesquisas, tanto quantitativa quanto qualitativa, exigem a coerência e a capacidade de responder aos dilemas da sociedade, de modo a contribuir para ações cada vez mais competentes no sentido de promover uma vida melhor. A preocupação em estudar os fenômenos sociais a partir de dentro do grupo (caso da pesquisa qualitativa) é uma opção fundamental para não se prender às regras científicas, objetivistas, que muitas 117 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a: 2 6/ 08 /2 01 3 // R ed im en sio na m en to e m ud an ça d e no m e: A m an da - A lte ra çã o: M ár ci o - 11 /0 8/ 20 15 Trabalho de Pesquisa em serviço social vezes, em vez de ajudar na compreensão de uma dada realidade, somente complicam. Não cabe negar a importância de cada uma das metodologias, mas deve‑se saber como melhor utilizá‑las com vistas à aproximação máxima da realidade. 8.3.2 Sobre os instrumentos e técnicas na pesquisa qualitativa Toda atividade de pesquisa requer seus instrumentos adequados para a coleta de dados. Conforme os objetivos fixados criteriosamente no projeto, o pesquisador necessita saber a forma mais adequada para a realização do seu trabalho. Alguns instrumentos e técnicas de pesquisa qualitativa são, em geral, também encontrados na quantitativa, como questionários, entrevistas e outros recursos. Todavia, outros instrumentos são peculiares da qualitativa, tendo em vista a necessidade de se ter uma representação da realidade a ser estudada a partir de dentro do grupo. Vimos os instrumentos e técnicas que estão disponibilizados, como entrevista, questionário, formulário, diário de campo, história de vida, observação, análise documental (técnicas); quanto aos instrumentos destacados foram: questionário, formulário, o diário de campo, gravador, máquina fotográfica. Contudo, conforme o contexto em que o pesquisador esteja atuando, são várias as possibilidades de utilização de instrumentos de pesquisa. Tendo em vista já termos desenvolvido o tema, serão destacados aqui alguns aspectos relevantes quanto aos instrumentos de pesquisa qualitativa, afinal não faz sentido saber apenas quais os instrumentos, mas principalmente por que e como eles podem ser utilizados. O pesquisador necessita, acima de tudo, encontrar a forma mais adequada para coletar as informações necessárias à sua empreitada. Ele deve, consequentemente, evitar improvisos. Quando se elabora o projeto de pesquisa, o pesquisador já deve ter definido, na metodologia, as técnicas que servirão ao seu trabalho; para o atingimento de cada objetivo define‑se a metodologia mais adequada. Quando se pesquisa em situações totalmente adversas, é preciso ser criativo e saber aproveitar a oportunidade; nesse sentido, vale lançar mão das diferentes técnicas as mais originais possíveis. Em uma observação de campo, lápis, papel e gravador são fundamentais. Entretanto, para não perder a oportunidade de informações, caso não se tenha no momento esses instrumentos, resta contar com a criatividade. Há casos em que é preciso ter uma memória fotográfica e, mais tarde, quando o pesquisador retorna a sua casa, colocar no papel tudo aquilo de que se lembra. Na observação, tudo é importante para o pesquisador, desde que se tenha critérios claros em função dos objetivos definidos anteriormente. Laville e Dionne (1999, p. 181) são da opinião de que: um instrumento é dito válido se ele faz bem seu trabalho, isto é, se permite trazer as informações para as quais foi construído. Um instrumento é 118 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : L uc as M an sin i - d at a: 2 6/ 08 /2 01 3 // R ed im en sio na m en to e m ud an ça d e no m e: A m an da - A lte ra çã o: M ár ci o - 11 /0 8/ 20 15 Unidade III dito fidedigno, se conduz aos mesmos resultados quando se estuda, em momentos diversos, um fenômeno ou uma situação que não deveria ter mudado no intervalo. Há que se ter o cuidado na forma como o pesquisador se coloca para a coleta de dados. Para não inibir a pessoa ou grupo pesquisado, é importante propiciar uma situação mais tranquila e original possível, até mesmo porque não se trata de teatro ou situação em que as pessoas posassem para uma seção de fotos. Nesse caso, é fundamental a familiaridade, a convivência com os pesquisados, a fim de que se criem oportunidades para que a observação do fenômeno ou de uma dada situação‑problema seja a mais natural possível. É esse o sentido que os autores destacam, quando se referem à validade e à fidedignidade. O gravador é uma opção do pesquisador, todavia é preciso saber em que situação usá‑lo. Uma regra básica é que nenhum pesquisador deve desrespeitar os direitos dos pesquisados; assim, jamais devem ser gravadas conversas ou entrevistas sem que a outra parte esteja ciente e tenha aceitado. Para tanto, é importante combinar hora e local com antecedência, bem como assegurar‑se de que o momento é oportuno. Há casos em que embora o pesquisador tenha combinado, o contexto não se apresenta propício. Talvez você já tenha ouvido algum profissional dizer que perdeu seu tempo, pois uma entrevista que havia marcado não foi como esperava: ocorre, por exemplo, de o entrevistado, embora tendo aceitado, se mostrar arredio ou apressado, de modo que tudo fica praticamente impossível. Goldenberg (1999, p. 90) assevera que: como qualquer relação pessoal, a arte de uma entrevista bem sucedida depende fortemente da criação de uma atmosfera amistosa e de confiança. As características pessoais do pesquisador e dos pesquisado são decisivas. É muito importante não criar antagonismos nas primeiras abordagens. As atitudes e opiniões do pesquisador não podem aparecer em primeiro plano. Ele deve tentar ser o mais neutro possível, não sugerindo respostas. O uso do gravador apresenta vantagem quando o pesquisador sabe exatamente o momento certo, a pessoa entrevistada, o ambiente, bem como não esquece que é preciso uma postura ética perante o respondente. Contudo, é possível adotar a entrevista sem o uso desse instrumento, o que exige anotações a partir das perguntas realizadas. Esse recurso deve ser utilizado sem que provoque qualquer sinal de inibição ou mal‑estar no entrevistado. É recomendável que, ao retornar, o pesquisador tenha o cuidado e a paciência de transcrever a entrevista que conseguiu gravar, a fim de que não se perca no meio do trabalho; é preferível que esse trabalho seja feito pelo próprio pesquisador. No entanto, caso não tenha tempo suficiente, em função da demanda de trabalho, o pesquisador deve encontrar alguém de confiança para essa empreitada. Todo esse cuidado deve ser tomado, por que há vantagens para o pesquisador