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Atividade: Resumo do Documentário “Holocausto Brasileiro”. ALUNO: EDUARDO PRUDENTE VARGAS DA SILVA MANICÔMIO OU CAMPO DE CONCENTRAÇÃO ABANDONO, ESQUECIMENTO, TORTURA, TRABALHOS ESCRAVOS, TRATAMENTO DESUMANO, TRÁFICO DE CORPOS… O REFLEXO DA SOCIEDADE QUE TENTAMOS ESCONDER. “Eles iam sofrer, mas era o recurso” “Eu acho que é uma missão muito difícil, quem cuida de um louco” (Frase dita por um morador do Município de Barbacena ao relatar algumas histórias sobre o Hospital Colônia) No ano de 1903, foi criado o Hospital Colônia, na cidade de Barbacena - Minas Gerais, para tratar de pacientes com tuberculose e pouco tempo depois voltou o atendimento para a área psiquiátrica, onde sua atuação marcou a história da cidade e do tratamento psiquiátrico, mas não de uma forma positiva. O Hospital se tornou num manicômio, um “local para loucos”, mas não havia tratamento médico, recuperação, cuidado e zelo. O que antes era um Hospital, havia se tornado um manicômio que de manicômio só tinha o nome. O Hospital se tonou numa prisão, num campo de concentração, em terra sem “direito”, lugar de tortura, miséria, abandono. O critério de seleção dos internos era simples: O quão dispensável você é? Segundo relato, muitas pessoas eram enviadas para o Colônia pois a sociedade entendia que: Eu posso me ver livre daquela pessoa; Aquela comunidade pode expulsar aquela pessoa do seu convívio, aquela família pode se “desemcumbir”; Aquela pessoa de alguma maneira incomoda; É só enviar para Barbacena. Segundo relatos de moradores da cidade e de ex-funcionários, semanalmente chegavam mais internos para o hospital: • Terça e quinta: “O trem dos loucos”, um vagão completo com pessoas encaminhas para o Hospital Colônia. Importante notar que a frase: “Vagão dos Loucos” encontrava-se espalhada por todo o vagão, para que outras pessoas não se aproximassem. • Quarta-feira: O Hospital de Raul Soares semanalmente enviava um ônibus cheio de pacientes do hospital, juntamente outras pessoas que eram enviadas pela polícia belorizontina, utilizando o critério: alcoólatras, quem cometesse algum ato ílicito, “inguiço”(enguiço), pessoas que estivessem causando algum tipo de transtorno. Em sua maioria, chegavam sem nome, sem identificação, sem documentos, com enfermidades. O “Hospital” por vezes é comparado a um outro “Hospital” que ficou conhecido durante a Segunda Guerra Mundial: Auschwitz. A maior rede de centros de concentração do nazismo alemão. O Colônia “de Horrores” estima que mais de 60.000 internos morreram durante o funcionamento do Hospital, contudo este número é ínfimo perto da realidade, em razão de: 1. Não havia qualquer controle, cadastro ou registro do número de internos, do número de óbitos, não de uma forma organizada. Segundo relato de ex- funcionários, os registros eram anotados avulso, em folhas, não havendo um controle rígido. Deve-se levar em consideração que os funcionários em sua maioria não eram alfabetizados, ou eram semianalfabetos, visto que o Hospital não adotava nenhum critério técnico para suas contratações. 2. Embora não admitido pelo Colônia, o tráfico de corpos para as Universidades de Medicina de todo o país era alto, registros encontrados apontam a venda das peças anatômicas: 1800 corpos para 17 faculdades do Brasil entre 1969 e 1980. Contudo, visto que o Hospital foi inaugurado em 1903, 66 anos estão obscuros sobre ocorreu. Segundo relatos de ex-funcionários o Hospital contava com uma estrutura precária em todos os âmbitos: ausência de equipamentos na enfermaria, alimentação de baixa qualidade, equipe reduzida, havendo 1 médico para 3 pavilhões, etc. Podemos elencar alguns excertos: “Tínhamos uma bacia onde fervíamos uma seringa, para aplicação da medicação. Usávamos a mesma seringa em todos os pacientes.”(Trecho escrito com liberdade poética, não estando ipsis literis) “Foi morrendo um atrás do outro, atrás do outro” (Trecho escrito com liberdade poética, não estando ipsis literis) “De repente começou a vir uma canja branca, rala, que a gente servia com a caneca nos pratos de alumínio, ai foi acabando, acabando, aquela quantidade de paciente morreu, por falta de alimentação”(Trecho escrito com liberdade poética, não estando ipsis literis) “Eu por sinal, dei muito eletrochoque”(Trecho escrito com liberdade poética, não estando ipsis literis) “O Pavilhão Crispin tinha cerca de 400, homens, violentos, que não recebiam medicação.”Trecho escrito com liberdade poética, não estando ipsis literis) Os funcionários também relatam o uso abusivo de medicação nos internos, visando que os internos não causassem “problemas”, e em casos mais graves, utiliza-se o eletrochoque, para “acalmar” o paciente, sob o pretexto de ser medida terapêutica. Contudo, se analisar os relatos de funcionários, o eletrochoque também era usado como medida de repressão: “O paciente fazia umas travessuras, levava eletrochoque.”(Trecho escrito com liberdade poética, não estando ipsis literis) Os pacientes não eram considerados serem humanos, estavam ali depositados, como visto muitas vezes, o Hospital é chamado de depósito. Um local onde os internos aguardavam “pacientemente” a hora de suas mortes. “Aqui era depósito, sempre foi depósito, sempre!”(Trecho escrito com liberdade poética, não estando ipsis literis) “Um cemitério foi construído acoplado ao Hospital, o que é estranho para um Hospital, o que mostra que a expectativa do Hospital não era curar, cuidar, mas somente aguardar o momento.” (Trecho escrito com liberdade poética, não estando ipsis literis) Vê-se que em momento algum o Hospital tinha a intenção de curar, de ajudar pacientes que realmente possuíam doenças psiquiátricas, mas fazer dinheiro, lucrar com a tristeza de outros. “Doido, não tinha coisa melhor para dar dinheiro”(Trecho escrito com liberdade poética, não estando ipsis literis) Além do alto custo mensal do Hospital para os cofres públicos e os atendimentos particulares que aumentavam de forma significativa o faturamento do Hospital, o Hospital encontrou outra forma de ter renda. Como já demonstrado, a venda dos corpos para “fins didáticos” tomou proporções gigantescas, onde os corpos eram comprados por diversas Faculdades “renomadas” de Medicina do país. Assim, enquanto estava operante, o Hospital Colônia foi uma das fontes de todo o tráfico de corpos no país. No início da década de 70, a situação se agrava. O Hospital de Neuropsiquiatria Infantil de Oliveira encerra suas atividades, transferindo para o Hospital Colônia cerca de 140 crianças portadores de algum tipo de deficiência. Importante destacar que o Hospital de Neuropsiquiatria Infantil de Oliveira também era considerado um depósito, onde abrigava as crianças que foram abandonados pelos país, principalmente por terem um filho portador de deficiência. Alguns ex-internos e ex-meninos de Oliveira sobreviveram e hoje contam suas histórias, das quais colocam em cheque toda a defesa apresentada pelo Hospital Colônia ao longo desses anos. Antônio da Silva é um Ex-menino de Oliveira, relata que era obrigado a tomar um remédio que entortava o seu corpo, limitando os movimentos, que mesmo sendo criança, levava choques, apanhava das enfermeiras, era obrigado a ficar nu no pátio, na cela, onde era jogado água no chão. Quando questionado sobre sua idade, Antônio não sabe dizer. Geraldo Antônio da Silva é um Ex-Interno, relata que é órfão, e que foi morar com sua madrinha. Como toda criança, fazia suas bagunças, aprontava. Ele alega que: “Eu era muito arteiro, ai ela(madrinha) me mandou pra lá!” Manuel Nascimento é um Ex-menino de Oliveira, relata que por vezes esteve a beira da morte, relata diversas agressões por partes enfermeiras, era obrigado a ficar nu na cela, obrigado a fazer faxina. Segundo ele, foi internado pelo próprio pai, e que em todos os anos que esteve no Hospital, nunca foi visitado por nenhum familiar. Embora o pai tenha o abandonado, ele relata ainda sentir saudade do pai. Sueli era uma interna, conhecidapor temperamento forte. Mas com razão, Sueli teve uma filha, que foi tirada dela e adotada por uma funcionária que nunca permitiu o contrato entre mãe e filha. Anos depois a filha de Sueli descobriu que era adotada e foi atrás de sua mãe, contudo descobriu que Sueli havia falecido há 1 (um) ano. O Hospital é responsável desumanização institucionalizada, onde: “60.000 pessoas que tiveram a morte antecipada por uma instituição e por uma ciência que se propunha a fazer elas ficarem vivas, propunhas elas a melhorar.” No ano de 1979, o psiquiatra italiano Franco Basaglia visitou o Hospital e disse que: “essa é a coisa mais cruel que já vi”, comparando-o com a atuação dos campos de concentração. Após sua visita, iniciou-se o processo para o fechamento, contudo ocorreu em um processo demorado. No ano de 2001 foi promulgada a Lei de Atenção ao Portador de Transtorno Mental no Brasil, Lei nº 10.2016/2001, que instituiu modelos de atendimento humanizado, subs leitos e residências terâpeuticas. No Hospital Colônia, adotou pelo modelo de residência terâpeutica. Em vista ao Lar Abrigado em Belo Horizonte, pode-se ver a felicidade de Antônio Martins Ramos, um Ex-menino de Oliveira ao apontar as fotos dele nas paredes, em mostrar brinquedos, ao colocar um chapéu. Vê-se que essas pessoas não são monstros, objetos ou animais (sendo que nem os animais merecem ser tratados como eles foram), e só precisam de amor e carinho. Muitas outras atrocidades aconteceram entre os muros do Hospital Colônia, e que devemos ter como exemplo para que isso não se repita. Importante ressaltar que o Hospital Colônia nada mais foi um reflexo da sociedade, da permissão da sociedade, sendo alimentado e protegido por toda a sociedade, inclusive os crimes cometidos na época. Décadas se passaram, e hoje somos uma nova sociedade, mudada e devemos não repetir, nem permitir atos como estes.
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