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APS - O último dia de um condenado - crítica

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FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS 
 
 
 
GUILHERME GIGEK DE OLIVEIRA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O ÚLTIMO DIA DE UM CONDENADO 
Um resumo crítico, reflexivo e analítico da obra de Victor Hugo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
São Paulo Capital 
2019 
SUMÁRIO 
1 RESENHA................................................................................................ 03 
1.1 Prefácios.............................................................................................. 03 
1.2 O último dia de um condenado: o livro............................................. 04 
2 CRÍTICA JURÍDICA PESSOAL À PENA DE MORTE............................ 09 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 RESENHA 
1.1 Prefácios 
O livro se inicia com dois prefácios. O primeiro deles é uma pequena história com 
personagens comuns da sociedade francesa do século XIX comentando sobre 
o seu livro. Já o segundo é uma espécie carta direta de Victor Hugo (autor do 
livro) explicando a função social da obra, colocando sua opinião sobre a polêmica 
retratada: a pena de morte. 
O primeiro prefácio inicia-se com um diálogo um sujeito gordo, o senhor Ergasto, 
um poeta elegíaco, um lacaio, a senhora Blinval, um filósofo, um sujeito magro 
e senhoras; todos representando diferentes faces da sociedade francesa. 
O poeta, após ler um romance agradável a todos, pergunta aos outros se leram 
o último romance publicado, sem citar o nome completo, mesmo assim todos 
perceberam qual romance o poeta se referia. 
Em uníssono, os membros da conversa declaram seus assombros em relação à 
obra, classificando-a como abominável, a qual só poderia ser escrita por um 
homem horrível e vil, uma vez que este queria, com a publicação do livro, iniciar 
uma revolta contra a pena de morte. 
As personagens argumentavam que o apenado era um ser desprezível, uma vez 
que este foi condenado por ter cometido um crime, e que por isso deveria passar 
pelas sensações de medo e sofrimentos relatadas no livro, que eram inerentes 
ao condenado à morte. Entretanto, todos concordavam com o fato de que a obra, 
ao retratar tais sensações, causa dores semelhantes em seus leitores. 
Em dado momento, eles comentam que a história era uma obra anarquista 
(segundo o dicionário Michaelis: anarquismo é uma doutrina social e movimento 
político, de enorme relevância na história moderna, surgido durante o século XIX 
e início do século XX, que defende a ideia de que a sociedade pode existir de 
forma independente em relação ao Estado, até antagônica a ele, considerando 
dominadores os poderes exercidos pelos organismos governamentais, 
administrativos e religiosos, os quais, além de dispensáveis, são negativos para 
o estabelecimento e desenvolvimento de uma estrutura social marcada pela 
extinção das classes sociais e liberta da dominação do homem pelo homem, 
capaz, assim, de propiciar o atendimento às necessidades de livre crescimento 
humano.), ou seja, eles achavam que o autor estava fazendo política contra a 
pena de morte através do romance. 
Assim como boa parte da sociedade francesa da época, os personagens são 
declaradamente a favor da pena de morte, uma vez que os condenados tinham 
consciência do que fizeram, da ilicitude de seus atos, já que esses não eram 
crianças. 
Vale comentar que, na França do século XIX, as decapitações pela eram 
normais, uma herança da revolução francesa, que é a primeira revolução 
burguesa-liberal do mundo, e como tal, foi extremamente sangrenta, com 
inúmeras fortes políticas por via da guilhotina. Entretanto, embora hoje tal prática 
seja extrema aos nossos olhos, a sociedade francesa acreditava que funcionava 
tal método de justiça. Dito isso, era, para muitos, revoltante ver uma obra em que 
um sistema de justiça dado como justo fosse alvo de tamanhas críticas. Para 
esses muitos, a obra subvertia a ordem social. 
O segundo prefácio é menor que o primeiro, e ele se resume em uma mensagem 
em primeira pessoa feita pelo próprio autor, o romancista e dramaturgo Victor 
Hugo, autor de grandes obras como: Os miseráveis, Notre-dame de Paris e o 
próprio O último dia de um condenado. 
Nessa carta o autor fala sobre o objetivo político da obra, que era fazer as 
pessoas repensarem a moral das penas capitais, em especial sobre a morte pela 
guilhotina. Além disso, o autor faz uma critica a sociedade francesa, e a justiça 
também, pelos horrores que eram as execuções públicas, em plena luz do dia, 
em alguma praça central das cidades. 
1.2 O último dia de um condenado: o livro 
O livro em si inicia-se como uma espécie de diário, em que o condenado, um 
homem o qual não teve seu nome revelado, conta sobre os seus dias de 
clausura, sobre os sofrimentos passados, as humilhações, as dores e os medos 
que este passou enquanto esteve no corredor da morte. 
Fazia cinco semanas que o personagem principal fora preso, era um homem 
jovem, educado e rico, mas que fora despido de qualquer dignidade dentro da 
prisão. 
Em alguma manhã de agosto, após três dias de audiências e duas noites mal 
dormidas – devido à incerteza do futuro, as inquietações e ao terror do local onde 
se encontrava – o personagem principal foi levado, novamente, a sala de 
audiência, para presenciar a sua sentença. 
A sua entrada na sala provocou cochichos de desaprovação, bem como barulho 
de armas em riste; o homem era definitivamente o centro dos olhares de 
todos. Entretanto, mesmo com toda aquela pressão e as noites mal dormidas, o 
home não sentiu medo, mas sim esperança de que sua liberdade fosse 
devolvida. 
Essa esperança não se concretizou, e uma agonia se abateu no homem 
enquanto o escrivão lia a sentença dada pelo júri. Ao fim da sentença, 
desesperado e sendo levado para fora da sala de audiência, o condenado só 
conseguia negar, inutilmente, a decisão judicial, enquanto a multidão, que antes 
cochichava, gritava enfurecidamente que o homem era um condenado a morte. 
Uma vez fora da sala, tudo ao seu redor se tornou branco e pálido. 
O condenado, logo após receber a sentença, foi levado para uma carruagem 
escura, fétida e rodeada de grades. Quando olhou para fora dessas, o 
condenado conseguiu ver duas moças conversamos, e percebeu uma dizendo 
a outra que sua execução ocorreria em seis semanas. O condenado presumiu 
que essa notícia provavelmente referia-se a ele. 
Quando a carruagem finalmente chegou em seu destino, uma penitenciária, o 
condenado visualizou o quão arruinado e antigo o prédio era, e que as janelas 
tinham grades ao invés de vidros. A visão era um lembrete de essa era a sua 
nova vida, até a sua morte. 
Já transformado em um presidiário, esse não possuía algumas regalias comuns, 
dado que ele não recebia, em suas refeições, nem facas, nem garfos. Além 
disso, o condenado era obrigado a utilizar um colete de forças que amarrava os 
braços. 
Nas semanas seguintes dentro da prisão, o condenado, como muita massagem 
ao ego dos carcereiros, acabou por conquistar o respeito desses, e com isso 
ganhou o direito a um passeio com os demais presos por semana, bem como o 
direito de não mais utilizar o opressivo colete. 
Além dos carcereiros, o condenado acabou por enturmar-se com os demais 
presos, sendo que esses até o ensinavam diferentes jargões chulos típicos da 
prisão, todo domingo após a missa. 
O condenado utiliza-se de um diário (que viria a ser a obra em si) para expor 
seus pensamentos, contar como eram seus dias de clausura aguardando a sua 
execução, bem como pensar nas pessoas de sua vida, as quais ele deixará. Em 
dado momento, ele faz uma crítica filosófica à pena capital, e conclui que a pena 
de morte é, na verdade, um show de horror e impiedade, uma vez que aqueles 
que o julgaram não o fizeram pensando nas consequências da sua morte para 
com os outros que não ele, mas sim fizeram porque se sentem triunfantes com 
o poder de decidir quem viveou morre. Em suma, o prazer obtido pelos juízes e 
jurados com a dor moral dos condenados a morte pela guilhotina era mais 
importante que a dor física desses, e isso era macabro. 
Conforme o condenado vai escrevendo o seu diário, ele passa a dizer a si 
mesmo que o objetivo desse é, em um futuro no qual o homem já não mais 
estaria presente, salvar desgraçados, inocentes ou culpados, do mesmo 
sofrimento que ele vinha passando, uma vez, hipoteticamente, os juízes, quando 
lessem a obra, veriam o quão degradante é o corredor da morte e se 
compadeceriam dos réus. 
Tendo como base a conversa que escutara enquanto era levado para a prisão, 
o condenado, após calcular, concluiu que, das seis semanas que passaria preso 
antes de sua execução, cinco já tinham se passado. Tal perspectiva foi 
assustadora para esse, uma vez que a cada dia que se passava, menos um dia 
ele possuía de vida. 
O condenado, dias antes a sua execução, fizera seu testamento, uma vez que, 
além de sua condenação à morte, ele também teria que pagar uma multa relativa 
ao uso da forca que viria a matá-lo. Nesse momento, o apenado percebe que vai 
deixar mãe, esposa e uma garotinha de só três anos de idade no mundo, e que 
essas, após sua morte, ficarão sem amparo, uma vez que essas perderão – por 
força da lei – um filho, um marido e um pai. 
Embora o condenado, em dado momento do livro, diga que não se preocupa 
nem com a mãe – mesmo que essa seja idosa e, provavelmente, vá morrer 
assistindo a sua execução – nem com a esposa – embora essa seja 
mentalmente e fisicamente fraca, e, provavelmente, ficará louca com a sua morte 
– ele acha injusto que essas sejam afetadas pela sua morte, e que isso não 
poderia ser chamado de justiça, uma vez que os efeitos da pena não se 
restringiriam ao condenado, mas seria transmitida a terceiros. Vale ressaltar que 
o homem em momento algum se coloca como inocente, e até foi dito que seu 
crime foi ter derramado sangue ilegitimamente, mas não se sabe de quem foi. 
Mesmo que, de forma narcisista, não se preocupasse nem com a mãe, nem com 
a esposa, o condenado verdadeiramente preocupava-se com o que seria de sua 
filha, a pessoa que ele mais amava no mundo. Tal sentimento de preocupação 
piorou no momento em que a menina foi visitá-lo na prisão, mas, devido a 
situação em que o homem se encontrava – sujo, barbudo e maltrapilho – a 
garotinha não o reconheceu, uma vez que, em sua jovem mente, sua pai era 
bem mais bonito e elegante do que o homem em sua frente. O apenado, 
magoado com a situação, pede que a garota seja retirada e que nunca mais 
volte, para que assim não mais o veja em tal desumano estado. 
Em dos muitos momentos de tédio, o apenado descreve sua cela como um 
cômodo com quatro paredes, escuro, húmido, sem janelas ou respiradouros, de 
oito pés quadrados. Tanto de dia, quanto de noite, sempre há um guarda em 
frente a porta da sua cela, com seus olhos vidrados em cada ação do condenado. 
A cadeia a qual ele estava preso um dia foi o castelo de Bicêtre, um edifício 
construído para o cardeal de Winchester, um cardeal que ficou muito famoso por 
ter mandado queimar Joana d’Arc, uma heroína da guerra dos cem anos contra 
a Inglaterra acusada de feitiçaria pela igreja católica. 
Nas paredes de sua escura cela existiam palavras e desenhos feitos por boa 
parte daqueles que algum dia estiveram na mesma situação que a dele. Entre 
as muitas assinaturas percebeu-se os nomes de quatro assassinos conhecidos, 
e o pensamento de que estava na cela que um dia já os abrigou provocou nele 
uma imensa sensação de terror. Entretanto, após tal pensamento, lembrou-se 
de que os mortos estavam mortos, e o sepulcro é a prisão de onde nenhum preso 
fugiu ainda, e ele também não iria. 
Em outro momento da obra, a prisão amanheceu com um clima parecido com o 
de uma festa. Curioso e determinado a descobrir o motivo para aquele clima, 
perguntou ao carcereiro o que estava ocorrendo. Esse lhe contou que, na 
verdade, estava ocorrendo a execução de alguns outros condenados naquele 
dia, e o convidou para assistir ao evento, como há muito estava entediada, 
acabou por aceitar a proposta. 
Após todos os procedimentos de segurança necessários serem feitos pelo 
guarda, o personagem principal foi levado para contemplar a cerimônia. De um 
parapeito perto do local de execução, o homem assistiu os condenados 
caminharem para suas mortes, enquanto os presos animadamente gritavam de 
outros parapeitos com a expectativa de ver horrorosas e sangrentas mortes. 
Quanto finalmente os eram colocados na guilhotina, a multidão se calava e 
somente se escutava o choro, os gemidos e os gritos finais daqueles que 
perdiam as suas cabeças. 
No dia seguinte, acreditando estar doente, o condenado pede para ser levado à 
enfermaria. Entretanto, ele estava, para os padrões de uma cadeia do século 
XIX, saudável e forte. Contudo, enquanto era liberado dos cuidados médicos, 
surge em sua cabeça uma persistente ideia de fugir, uma vez que as pessoas 
que trabalhavam na enfermaria tinham os achado formoso e interessante. O 
apenado ponderou que, se essas pessoas podiam salvar-lhe de uma febre, por 
que não poderia salvar-lhe também da sentença de morte? 
O condenado, após tamanho devaneio, ficou olhando o sol, que antes estava 
desaparecido, pela janela do recinto ambulatorial. O homem se cansara de 
Bicêtre, e desejou que, para afastar-lhe o tédio, Deus mandasse uma ave para 
cantar seu doce canto para ele, em um jeito de piedade celestial. Para surpresa 
do condenado, no mesmo instante em que terminou seu pedido, surge uma voz 
doce, pura e suave de uma adolescente contando uma música lenta e fraca. 
A voz era encantadora, entretanto, a música possuía sentido incompreensível e 
velado; não era uma energia alegre que ela irradiava, mesmo que todos os 
versos fossem proferidos por uma voz aveludada e aconchegante. O condenado, 
com aquilo, refletiu que a cadeia realmente era um inferno na terra, uma coisa 
profana, que há de corromper tudo que nela adentra, já que tudo se torna triste 
lá dentro, até mesmo a uma bela voz como aquela. 
Na manhã do dia seguinte o guarda entrou, pedindo desculpas pelo incomodo, 
na cela do condenado, e pergunta-lhe qual era o que desejava almoçar. 
Posteriormente, o próprio diretor entrou na cela, dessa vez perguntando se o 
homem teria algum pedido ou desejo, tratando o sempre com uma formalidade 
exagerada dentro do ambiente da prisão. Diante disso, o personagem começa a 
perceber, horrorizado, que aquele era seu último dia de vida. 
O horror diminuiu quando o diretor se retirou, já que tinha aceitado que tinha se 
acabado. 
Posteriormente ao diretor, foi a vez do padre entrar em sua cela, questionando-
lhe se estava resignado. O clérigo trazia junto de si uma carta do procurador-
geral, que dizia que a sentença seria executada ao fim daquele dia, na Praça 
Grève, em cerimônia pública. 
O padre, ao fim da leitura da carta, saiu da cela e disse que voltaria dali trinta 
minutos para encaminhá-lo para fora da cadeia. 
Enquanto estava sozinho, o homem só conseguia pensar que tinha somente 
trinta minutos para arranjar uma saída. No entanto, quando o santíssimo padre 
voltou para pegá-lo, nenhuma ideia tinha lhe surgido. Enquanto era tirado da 
cela, pausou um último instante para olhá-la, e percebeu que, diante do medo 
da morte, passou a amar aquele ambiente de clausura. 
O apenado foi encaminhado ao Palácio da Justiça, onde o puseram em uma 
detenção de quatro paredes formadas por grades de ferro, uma janela também 
com grades, e uma porta com o ferrolho trancado. 
Em seus últimos momentos, o homem solicitou uma mesa, uma cadeira e lápis, 
para assim escrever suas últimas declarações no companheiro diário. Seu 
pedido foi atendido. 
Depois de escrever suas derradeiras palavras, clamou por uma cama, para 
assim dormir uma última vez antes de morrer. 
Após aguardar muito tempo,sendo visitado por padres, fazendo uma breve 
amizade com seu novo guarda, finalmente tinha chegado o momento final. O 
condenado estava tão nervoso que o crucifixo em seu peito tremia junto de si. 
Enquanto era levado para a praça Grève, sua carroça passou por uma ponte em 
que duas moças lamentavam pela execução de algum tão novo. 
Quando chegavam perto do local de execução, tornou-se notável a presença de 
uma enorme multidão gritando, entretanto, o homem, por conta de seu horror 
crescente, não conseguia nem sequer escutá-la. A multidão o conhecia, mas ele 
não os conhecia, as lojas tinham escritas direcionadas ao homem, mas ele não 
conseguia lê-las. 
Quando a comitiva finalmente parou na praça, o condenado pediu uma 
oportunidade de fazer uma declaração. E nessa ele pediu perdão ao magistrado 
presente, ao comissário, pois naquele instante, pela primeira vez, tinha se 
arrependido de seus atos. 
O homem sentia horror pela morte que iria ter, principalmente na idade jovial em 
que se encontrava. Nos últimos segundos o homem gritou, enquanto o juiz e o 
carrasco o colocavam na guilhotina e se retiravam, mas transformou esse grito 
em lamento enquanto o carrasco, o homem que tiraria sua vida, subia as 
escadas. 
2 CRÍTICA JURÍDICA PESSOAL À PENA DE MORTE 
O autor da obra, Victor Hugo, fez esse livro com a intenção política de 
demonstrar à sociedade francesa do século XIX, que já estava acostumada a 
penas capitais desde a monarquia, a barbaridade que é a pena de morte, ainda 
mais porque ela era feita de forma bárbara pela guilhotina, e porque era um 
espetáculo administrado pelo Estado com a intenção de horrorizar a população. 
Victor Hugo, no entanto, não caracterizou o condenado como um coitado, 
alguém inocente que fora condenado a morte por algo que não fizera. Mas sim 
o colocou como um homem, rico, letrado, alguém que a população francesa da 
época chamaria de alta sociedade, que tinha cometido o crime de matar alguém, 
e por isso foi condenado. Tal opção do autor foi vital na articulação da ideia de 
que, mesmo que a pena de capital fosse aplicada ao criminoso que realmente 
tenha cometido o ato ilícito, ainda sim essa é excessivamente desumana, cruel 
e brutal. 
Tal mensagem dado por Victor Hugo não foi bem aceita pela população da 
França na época, pois era vista como subversiva a ordem social vigente, uma 
vez que trazia diferentes reflexões sobre assuntos que não eram comentados 
cotidianamente, tais como: violência estatal, direitos humanos e vontade popular 
por sangue. 
Entretanto, mesmo que hoje, dois séculos dessa obra, já em um mundo 
contemplado pelos direitos humanos, existem grupos sociais, bem como países 
inteiros, que utilizam ou defendem a utilização de métodos brutais de punição à 
criminosos. 
O Brasil, segundo 5° XLVII a da Constituição Federal, não aplicará pena de morte 
em época de paz, entretanto, existem grupos político-sociais que defendem a 
introdução da possibilidade de pena de morte no ordenamento jurídico brasileiro. 
Dito isso, mesmo com toda a bagagem evolutiva do ponto de vista dos direitos 
humanos, parte da sociedade ainda está desejando que nosso Estado se torne 
um abatedouro humano. 
Além disso, a de se considerar que o a justiça brasileira, bem como qualquer 
poder judiciário do mundo, comete erros. Entretanto, se esse erro for cometido 
em uma condenação à morte, uma vida inocente vai ser retirada sem qualquer 
chance de volta, já que o que está morto, biologicamente, não pode voltar a vida. 
Um ponto importante mostrado no livro que se faz ver ainda na realidade atual é 
a existência da violência por parte do Estado. As forças policiais brasileiras são, 
por exemplo, segundo a Anistia Internacional, as que mais matam no mundo, 
sendo notável o número de execuções de pessoas já rendidas ou feridas. 
Outro ponto importante que foi ressaltado pelo livro é a vontade de sangue da 
população em geral, que gritava em gozo todo vez que alguém era executado 
na guilhotina. Tal vontade de sangue também persiste na sociedade em dias 
atuais, uma vez que, por exemplo, segundo o professor emérito de sociologia da 
USP, o Mestre José de Souza Martins, no Brasil é registrado um linchamento – 
tanto na modalidade tentada, quanto na consumada – por dia. 
Em suma, a sociedade atual, assim como a sociedade francesa do século XIX, 
ainda tem muito a aprender sobre violência estatal e infrações aos direitos 
humanos com a obra de Victor Hugo.

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