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R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 10, n. 1, p. 195-209, 2002 195 ARTIGO ENVELHECIMENTO, ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE Sandra Mahecha Matsudo* Introdução Em razão de grande parte das evidências epidemiológicas sustentar efeito positivo de um estilo de vida ativo e/ou do envolvimento dos indivíduos em programas de atividade física e exercício na prevenção e minimização dos efeitos deletérios do envelhecimento (AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE, 1998), os cientistas enfatizam cada vez mais a necessidade de que a atividade física seja parte fundamental dos programas mundiais de promoção da saúde. Não se pode pensar hoje em dia em “prevenir” ou minimizar os efeitos do envelhecimento sem que, além das medidas gerais de saúde, se inclua a atividade física. Esta preocupação tem sido discutida não somente nos chamados países desenvolvidos ou do primeiro mundo, como também nos países em desenvolvimento como, é o caso do Brasil. O Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul tem dedicado atenção especial nos 26 anos de atividades ao estudo da relação envelhecimento, atividade física e aptidão física; 81% das pesquisas nessa área têm sido feitas na última década. Dando continuidade a esses estudos científicos dos últimos 15 anos do nosso Centro e pela pouca disponibilidade de dados longitudinais, surgiu em 1997 a idéia de iniciar um projeto longitudinal para analisar o efeito do processo de envelhecimento na aptidão física, no nível de atividade física e na capacidade funcional. Surgiu assim o Projeto Longitudinal de Aptidão Física e Envelhecimento de São Caetano do Sul, que inclui avaliação de variáveis antropométricas e neuromotoras da aptidão física, avaliação da capacidade funcional, mensuração do nível de atividade física, avaliação de variáveis psicológicas (auto-imagem, perfil de estado de humor, depressão) e avaliação da ingestão alimentar (MATSUDO S 2000a, b, c, 2001a, b; 2002). Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul – CELAFISCS & Programa Agita São Paulo. R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 10, n. 1, p. 195-209, 2002196 Efeitos do Envelhecimento - Nível Antropométrico Uma das mais evidentes alterações que acontecem com o aumento da idade cronológica é a mudança nas dimensões corporais. Com o processo de envelhecimento existem mudanças principalmente na estatura, no peso e na composição corporal. Apesar do alto componente genético no peso e na estatura dos indivíduos, outros fatores, como dieta e atividade física, fatores psicossociais e doenças, entre outros, estão envolvidos nas alterações desses dois componentes durante o envelhecimento. Há diminuição da estatura com o passar dos anos, por causa da compressão vertebral, do estreitamento dos discos e da cifose (FIATARONE-SINGH 1998a). Esse processo parece ser mais rápido nas mulheres do que nos homens, devido especialmente à maior prevalência de osteoporose após a menopausa. Embora a maioria dos dados provenha de estudos transversais e não-longitudinais, outra alteração da estrutura corporal é o incremento do peso corporal, que geralmente começa em torno dos 45 a 50 anos e se estabiliza aos 70, quando começa a declinar até os 80. A perda de peso é um fenômeno multifatorial que envolve mudanças nos neurotransmissores e fatores hormonais que controlam a fome e a saciedade, a dependência funcional nas atividades da vida diária relacionadas com a nutrição, o uso excessivo de medicamentos, a depressão e o isolamento, o estresse financeiro, as alterações na dentição, o alcoolismo, o sedentarismo extremo, a atrofia muscular e o catabolismo associado a doenças agudas e certas doenças crônicas. Com essas mudanças no peso e na estatura, o índice de massa corporal (IMC) também se modifica com o transcorrer dos anos. De acordo com dados da população americana, os homens atingem seu máximo valor de IMC entre os 45 e 49 anos, apresentando em seguida ligeiro declínio. Por outro lado, as mulheres somente atingem o pico entre os 60 e 70 anos, o que significa que elas continuam aumentando seu peso em relação à estatura por 20 anos mais depois de os homens terem estabilizado o seu valor (SPIRDUSO, 1995). A importância do IMC no processo de envelhecimento se deve ao fato de que valores acima da normalidade (26-27) estão relacionados com incremento da mortalidade por doenças cardiovasculares e diabetes, enquanto índices abaixo desses valores têm relação com aumento da mortalidade por câncer, doenças respiratórias e infecciosas. Além desse aumento da mortalidade, FIATARONE-SINGH (1998) cita também a maior prevalência em idosos obesos de osteoartrite do joelho, apnéia do sono, hipertensão, intolerância à glicose, diabetes, acidente vascular cerebral, baixa auto-estima, intolerância ao exercício, alteração da mobilidade e níveis elevados de dependência funcional. Da mesma forma, a autora observa R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 10, n. 1, p. 195-209, 2002 197 que o peso abaixo do ideal está associado com depressão, úlceras, fratura do quadril, disfunção imune, aumento da suscetibilidade de doenças infecciosas, prolongado período de recuperação de doenças e hospitalizações, exacerbação de doenças crônicas e alteração na capacidade funcional. No entanto, talvez um dos fenômenos da dimensão corporal mais estudados associados com o aumento da idade cronológica sejam as alterações na composição corporal, especialmente a diminuição na massa livre de gordura, o incremento da gordura corporal e a diminuição da densidade óssea. O ganho no peso corporal e o acúmulo da gordura corporal parecem resultar de um padrão programado geneticamente, de mudanças na dieta e no nível de atividade física relacionados com a idade ou de uma interação entre esses fatores. Embora a taxa metabólica de repouso diminua aproximadamente 10% por década, essas alterações metabólicas per se não explicam o aumento da gordura com a idade. Dentre as alterações antropométricas, o aumento da gordura nas primeiras décadas do envelhecimento e a perda de gordura nas décadas mais tardias da vida parecem ser o padrão mais provável de comportamento da adiposidade corporal com o processo de envelhecimento. Esse fato aconteceria por causa das diferenças nas técnicas de mensuração da gordura, no desenho experimental das pesquisas (transversais e longitudinais) e nos métodos de amostragem, como analisado nas amplas revisões realizadas por GOING et al. (1995) e FIATARONE-SINGH (1998). Segundo os autores, o padrão de aumento da gordura seguido por decréscimo provém dos estudos com medidas antropométricas, e, apesar das limitações metodológicas, esse comportamento pode estar sugerindo uma substituição da gordura subcutânea pela gordura visceral e maior sobrevivência dos mais magros nos idosos mais velhos. A distribuição da gordura também foi analisada pelos autores citados anteriormente. A partir dos dados analisados por eles parece existir redistribuição da gordura corporal dos membros para o tronco com o avanço da idade, ou seja, parece tornar-se mais centralizada. Entretanto, além desse fenômeno, os autores afirmam também que existe aumento da gordura da região superior do corpo, em relação a inferior, quando determinado pelas circunferências da cintura e do quadril, embora estas sejam medidas limitadas e indiretas da distribuição da gordura na parte superior do corpo. As análises das tomografias computadorizadas descritas por FIATARONE-SINGH (1998) revelam depósito de gordura intramuscular nos membros inferiores de idosos asilados e aumento da gordura visceral na região abdominal com o envelhecimento. Dados similares têm sido também encontrados por BEMBEN et al. (1995) em um estudo transversal com homens de 20 a 79 anos, em que a gordura corporal subcutânea R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 10, n. 1, p. 195-209, 2002198 nos membros foi similar em todas as faixas etárias, mas a gordura do tronco, especialmente a abdominal, aumentou significativamente com o avanço da idade. Efeitos da Atividade Física na Composição Corporal Uma das revisões mais completasnos aspectos antropométricos do envelhecimento e sua relação com a atividade física foi a realizada por FIATARONE-SINGH (1998a), a qual declarou que a maioria dos estudos transversais sugere que a atividade física tem papel de modificação das alterações de peso e composição corporal relacionadas à idade. De acordo com a análise da autora, os sujeitos que se classificam como mais ativos têm menores peso corporal, índice de massa corporal, porcentagem de gordura corporal e relação cintura/quadril do que os indivíduos da mesma idade sedentários. É interessante o posicionamento da autora em relação ao acúmulo e à distribuição da gordura corporal, em que considera que a modificação dessas variáveis que acontece com incrementos generalizados da atividade física (como caminhada) pode ser explicada por alterações no balanço energético durante muitos anos, ao contrário do que acontece com a massa muscular, que requer adaptações mais específicas, obtidas com atividades de alta resistência. De acordo com os dados apresentados por FIATARONE-SINGH (1998a), a maioria das revisões e meta-análises apresenta poucas evidências de que o exercício isoladamente contribua para modificar significativamente o peso e a composição corporal em idosos normais. Da mesma forma, nos idosos obesos faltam estudos metodologicamente adequados que permitam concluir que o exercício aeróbico sem restrição dietética pode reduzir significativamente o peso corporal, a porcentagem de gordura corporal, a adiposidade central ou o perfil de lipídeos. No entanto, algumas das evidências apresentadas por HURLEY e HAGBERG (1998) mostram que tanto o treinamento aeróbico como o treinamento de resistência provocam redução dos estoques de gordura em homens e mulheres idosos, mesmo sem restrição calórica. De acordo com os autores, os dois tipos de treinamento são efetivos em diminuir os estoques de gordura intra-abdominal de pessoas idosas e, surpreendentemente, o treinamento aeróbico não resultou em impacto muito maior que o treinamento de força, o que poderia ser explicado em parte pelo aumento da taxa metabólica de repouso com este último tipo de treinamento, mecanismo ainda controverso. Fazendo também uma análise crítica dos resultados disponíveis na literatura, GOING et al. (1995) enfatizaram que a maioria dos estudos comparativos conclui que os sujeitos idosos fisicamente ativos ou que treinam R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 10, n. 1, p. 195-209, 2002 199 apresentam porcentagens menores de gordura corporal, valores menores de dobras cutâneas do tronco e menor circunferência da cintura, embora muitos desses dados possam ter vindo de estudos com limitações metodológicas importantes na seleção da amostra. Da mesma forma, mais recentemente, FIATARONE-SINGH (1998) relatou resultados conflitantes em relação ao efeito do exercício físico na porcentagem de gordura corporal de indivíduos idosos: diminuição, sem alteração e até aumentos de gordura em 10 anos contínuos de treinamento de endurance em idosos. Com base nessas experiências, a literatura nessa área é limitada pela falta relativa, ao nosso conhecimento, de dados especialmente em mulheres na faixa etária acima de 60 anos, com estudos randomizados, controlados e com mensurações adequadas da gordura corporal, que limitam a nossa conclusão sobre o papel que o exercício desempenha na redução da gordura corporal. No entanto, independentemente dessas limitações, consideramos que o incremento da atividade física é fundamental no controle do peso e da gordura corporal durante o processo de envelhecimento, podendo também contribuir na prevenção e no controle de algumas condições clínicas associadas a esses fatores, como doenças cardiovasculares, diabetes, hipertensão, acidente vascular cerebral, artrite, apnéia do sono, prejuízo da mobilidade e aumento da mortalidade, como citadas por FIATARONE-SINGH (1998b). Efeitos do Envelhecimento - Nível Neuromuscular Entre os 25 e 65 anos de idade há diminuição substancial da massa magra ou massa livre de gordura de 10 a 16% por conta das perdas na massa óssea, no músculo esquelético e na água corporal total que acontecem com o envelhecimento. A perda gradativa da massa do músculo esquelético e da força que ocorre com o avanço da idade, também conhecida como sarcopenia (BAUMGARTNER et al., 1998), tem sido definida por alguns autores como a perda de massa muscular correspondente a mais de dois desvios-padrão abaixo da média da massa esperada para o sexo na idade jovem ou para outros com o mesmo critério em termos de desvio-padrão, mas utilizando a massa esquelética apendicular (massa em quilogramas dividida pelo quadrado da estatura). A perda da massa muscular e conseqüentemente da força muscular é a principal responsável pela deterioração na mobilidade e na capacidade funcional do indivíduo que está envelhecendo. Por essa razão, tem despertado o interesse de pesquisadores a procura das causas e mecanismos envolvidos na perda da força muscular com o avanço da idade e, dessa forma, a criação de estratégias R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 10, n. 1, p. 195-209, 2002200 para minimizar esse efeito deletério e manter ou melhorar a qualidade de vida nessa etapa da vida. A sarcopenia é um termo genérico que indica a perda da massa, força e qualidade do músculo esquelético e que tem impacto significante na saúde pública pelas suas bem reconhecidas conseqüências funcionais no andar e no equilíbrio, aumentando o risco de queda e perda da independência física funcional, mas também contribui para aumentar o risco de doenças crônicas como diabetes e osteoporose. De acordo com a maioria dos estudos analisados por CARTEE (1994) e PORTER et al. (1995), as conclusões são bem consistentes: o tamanho da fibra do tipo II é reduzido com o incremento da idade, ao passo que o tamanho da fibra do tipo I (fibra de contração lenta) permanece muito menos afetado. A atrofia preferencial das fibras do tipo II é a possível explicação, de acordo com VANDERVOORT (1992), para o maior risco de fratura traumática do quadril, já que as pessoas que habitualmente caem têm significativamente menor velocidade de andar. Na nossa opinião, isso se explica pelo fato de as fibras do tipo II serem também muito importantes na resposta a urgências do dia-a-dia, pois contribuem com o tempo de reação e principalmente de resposta, que assim inviabilizariam uma apropriada resposta corporal para situações de emergência, como a perda súbita de equilíbrio. Da mesma forma, a área das fibras do tipo II tem sido encontrada significativamente menor nos membros inferiores do que nos superiores, particularmente nas mulheres, o que indicaria diferenças no processo de envelhecimento e/ou diferenças no padrão de atividade dos membros. A perda da massa muscular é associada evidentemente a decréscimo na força voluntária, com declínio de 10-15% por década, que geralmente se torna aparente somente a partir dos 50 a 60 anos de idade. Dos 70 aos 80 anos tem sido relatada perda maior, que chega a 30%. Indivíduos sadios de 70-80 anos têm desempenho de 20 a 40% menor (chegando a 50% nos mais idosos) em testes de força muscular, em relação aos jovens. Essa perda do desempenho pode também ser explicada pelas mudanças nas propriedades intrínsecas das fibras musculares. Considerando as informações expostas por ROGERS e EVANS (1993) e BOOTH et al. (1994), podemos concluir que a perda de fibras musculares, motoneurônios, unidades motoras, massa muscular e força muscular começa entre os 50 e 60 anos; por volta dos 80 anos essa perda alcançaria 50% desses componentes. Parece que os dois maiores responsáveis por este efeito do envelhecimento são o progressivo processo neurogênico e a diminuição na carga muscular, o que poderia levar à hipótese de que essa atrofia muscular não seria R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 10, n. 1, p. 195-209, 2002 201 necessariamente uma conseqüência inevitável do incremento da idade. É claro que as pessoas que se mantêm fisicamente ativas têm somente perdas moderadas da massa muscular, mas quanto dessaperda de massa muscular é conseqüência do envelhecimento e/ou diminuição do nível de atividade física é desconhecido. Efeitos do Exercício nas Variáveis Neuromotoras Será que um apropriado programa de treinamento da força muscular consegue reduzir ou prevenir as alterações na massa e força muscular associadas ao envelhecimento? Em estudo tradicional realizado por FIATARONE et al. (1990), foram avaliados indivíduos de 86-96 anos que participavam de um programa de treinamento de oito semanas (3 vezes/semana) para fortalecer a musculatura dos membros inferiores, os quais mostraram melhora, em média, de 174% na força e 48% na velocidade do passo. No entanto, quatro semanas de suspensão do treinamento foram acompanhadas de diminuição de 32% na força, ressaltando a importância da continuidade do treinamento. A mesma autora publicou em 1994 (FIATARONE et al.,1994) outro estudo sobre os efeitos do treinamento de resistência e suplementação nutricional em idosos frágeis institucionalizados de 72 a 98 anos. Foi demonstrado incremento na velocidade de andar (11%), potência de subir escadas (28%) e, talvez o fato mais interessante da pesquisa, incremento da atividade física espontânea (34%), evidenciando assim como os ganhos em força muscular podem representar melhora no desempenho das atividades da vida diária. No entanto, em estudo posterior, os autores concluíram que a preservação da massa livre de gordura prediz a função muscular e a mobilidade no idoso (FIATATRONE-SINGH, 1998). No nosso Centro de Pesquisas temos desenvolvido nos últimos anos diversos protocolos de treinamento de força muscular em mulheres acima de 50 anos de idade (RASO et al., 1997a,b, 2000; SILVA et al., 1999a,c). RASO et al. (1997a,b) procuraram determinar o efeito de um programa de exercícios com pesos sobre o peso, a adiposidade e o índice de massa corporal em mulheres com idade média de 65,80 ± 8,15 anos. O programa foi constituído de três séries de 10 repetições a 50% de uma repetição máxima (1-RM) em seis exercícios (supino reto e inclinado, flexão e extensão de cotovelo, agachamento e “leg press” em 45º), três vezes por semana. Os autores concluíram que 4, 8 ou 12 semanas não foram suficientes para produzir efeito estatisticamente significativo em nenhuma das variáveis analisadas. O teste 1-RM foi realizado a cada quatro semanas, para possibilitar estímulo constante de acordo com a R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 10, n. 1, p. 195-209, 2002202 adaptação funcional à evolução do treinamento. Foi verificado incremento estatisticamente significativo após o período de treinamento para todos os exercícios (p<0,05). Com exceção do exercício de flexão de cotovelo, todos os demais demonstraram aumento significativo a partir da oitava semana. Os exercícios direcionados aos membros superiores incrementaram sua capacidade de produzir força muscular em valores que variaram de 25,6 a 66,8%, ao passo que o aumento observado nos membros inferiores variou de 69,7 a 135,2%. Esses dados confirmaram os resultados de trabalhos anteriores, em que o incremento da força muscular é maior para os membros inferiores, quando comparado aos superiores. No protocolo de ginástica localizada, realizado por SILVA et al. (1999) no CELAFISCS, constatou-se que quatro meses de atividades realizadas duas vezes por semanas em sessões de 90 minutos não foram suficientes para promover alterações da aptidão física de um grupo de mulheres de 59 a 68 anos de idade. Em estudo similar, SILVA et al. (1999), com mulheres previamente sedentárias submetidas a um programa de exercícios dos membros superiores e inferiores com pesos de 1 kg confeccionados com tecido, velcro e areia pela própria autora, verificaram que seis semanas de exercícios realizados duas vezes por semana proporcionaram aumento significante do equilíbrio (38,8%) e da velocidade de andar (18,1%) no grupo experimental, em relação ao grupo controle. Esses dados sugerem, portanto, que talvez as intensidades baixas e moderadas de treinamento da força muscular não sejam suficientes para promover melhoras na mobilidade em indivíduos idosos. Efeitos do Envelhecimento - Nível Cardiovascular e Respiratório Em ordem de prioridade, consideramos que, após o impacto das alterações do sistema neuromuscular na mobilidade e capacidade funcional do idoso, as alterações do sistema cardiovascular e respiratório exercem impacto negativo nessas variáveis da saúde e qualidade de vida do idoso. Um dos primeiros e mais clássicos estudos que verificaram o impacto da idade na potência aeróbica foi o desenvolvido por ROBINSON em 1930, conforme citado por SPIRDUSO (1995). Naquele estudo, o autor analisou dados transversais da potência aeróbica de homens ativos de 25 a 75 anos de idade, constatando um declínio desta variável de 10% por década (1% por ano), que são valores similares aos encontrados mais recentemente (e descritos pela mesma autora), de 0,8 a 1,1% por ano. R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 10, n. 1, p. 195-209, 2002 203 Trabalhos similares aos realizados com o sexo feminino foram feitos posteriormente por INBAR et al. (1994) e JACKSON et al. (1995) com homens de 20 a 70 anos de idade. De acordo com os dados encontrados por INBAR et al. com 1.424 homens sadios, houve declínio médio na ventilação pulmonar por minuto de 29 e 21% na freqüência respiratória. A potência aeróbica diminuiu em uma taxa média anual de 0,33 ml/kg-1.min-1 (35% no período, ou seja, em torno de 25,5 ml.min-1.ano), e a freqüência cardíaca máxima, a uma taxa de 0,685 batimento.min-1.ano-1 (em torno de 13%). No estudo de JACKSON et al. com uma amostra similar à de INBAR et al., de 1.499 homens sadios, analisados transversalmente e longitudinal (em média, quatro anos), o declínio do pico de VO 2 máx. relacionado à idade foi de 0,46 ml/kg-1.min-1/ano. Esses dados foram bem similares aos cálculos realizados por SHEPHARD (1991) - de 0,4-0,5 ml/ kg-1.min-1 por ano - e de WIEBE et al. (1999) - de 0,51 ml/kg-1.min-1/ano. No entanto, segundo SHEPHARD (1991), sempre deveriam ser consideradas a atividade física e a porcentagem de gordura corporal quando se avalia a diminuição do VO 2 máx. com a idade, o que corrobora o posterior posicionamento de JACKSON et al. (1995) de explicar 50% dessa diminuição pelo aumento da porcentagem de gordura corporal, a diminuição no peso de massa magra (0,12 – 0,15 kg/ano) e o auto-relato do nível de atividade física. Efeitos do Exercício nos Aspectos Metabólicos O ganho normal no VO 2 máx. com um programa de atividade física é de aproximadamente 10-15%, embora tenham sido observados incrementos de 40% (CUNNINGHAM e PATERSON 1990). Essas diferenças dependem basicamente de dois fatores: o VO 2 máx. inicial (menor valor ao começar é associado a maiores incrementos) e a intensidade do programa. Para observarmos melhor esse efeito do exercício no VO 2 , analisamos um estudo realizado no nosso laboratório, em que foi comparado o VO 2 em diferentes faixas etárias a partir dos 18 anos até os 81 anos. Os autores mostraram claramente que mulheres nas faixas etárias de 60-69 e de 70-81 anos, praticantes regulares de atividade física, possuem maiores valores de VO 2 quando comparadas às mulheres da mesma faixa etária não-praticantes de atividade física. Talvez o fato mais importante foi que as mulheres daquelas faixas etárias apresentaram valores de VO 2 máx. similares aos obtidos por mulheres sedentárias quase uma ou duas décadas mais novas (MACEDO et al., 1987). Os mecanismos que explicam as respostas cardiovasculares ao treinamento no idoso têm sido analisados por diversos autores (POULIN et al., R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 10, n. 1, p. 195-209, 2002204 1992; SPINA et al., 1993; TATE et al., 1994; SEALS et al., 1994; STACHENFELD et al., 1998; SPINA, 1998). A maioria desses estudos relata aumento em torno de 10-25% no consumo máximo de oxigênio após alguns meses de treinamento aeróbico. POULIN et al. (1992) quantificaram a resposta de idosos a um programa de treinamento de uma hora a 70% do VO 2 máx., realizadoquatro vezes por semana durante nove semanas, e encontraram aumentos significantes no VO 2 máx., ventilação máxima, limiar ventilatório e tempo de desempenho no exercício submáximo. Promoção do estilo de vida ativo Os programas de promoção da atividade física na comunidade para indivíduos acima de 50 anos de idade têm crescido em popularidade nos últimos anos. Considerando as novas propostas internacionais de atividade física como forma de promover saúde na população, surgiu o Programa Agita São Paulo, que tem como objetivo aumentar o nível de conhecimento da população sobre os benefícios da atividade física e aumentar o nível de atividade física da população do Estado de São Paulo (MATSUDO, 2000). Um dos focos principais do programa é a população da terceira idade, e a proposta de prescrição de atividade para essa população é realizar atividades físicas de intensidade moderada, por pelo menos 30 minutos por dia, na maior parte dos dias da semana, se possível todos, de forma contínua ou acumulada. O mais importante desse novo conceito é que qualquer atividade da vida cotidiana é válida e que as atividades podem ser realizadas de forma contínua ou intervaladas, ou seja, o importante é acumular durante o dia 30 minutos de atividade (MATSUDO et al., 2002) . Conclusões As evidências epidemiológicas apresentadas nos permitem concluir que a atividade física regular e a adoção de um estilo de vida ativo são necessários para a promoção da saúde e qualidade de vida durante o processo de envelhecimento. A atividade física deve ser estimulada não somente no idoso, mas também no adulto, como forma de prevenir e controlar as doenças crônicas não-transmissíveis que aparecem mais freqüentemente durante a terceira idade e como forma de manter a independência funcional. As atividades que devem ser mais estimuladas são as atividades aeróbicas de baixo impacto, preferencialmente o exercício com pesos, para estimular a manutenção da força R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 10, n. 1, p. 195-209, 2002 205 muscular dos membros superiores e inferiores, que deve ser a prioridade no idoso. Da mesma forma, o equilíbrio e os movimentos corporais totais devem fazer parte dos programas de atividade física na terceira idade. As evidências sugerem que a atividade física regular e o estilo de vida ativo têm papel fundamental na prevenção e no controle das doenças crônicas não-transmissíveis, especialmente aquelas que se constituem na principal causa de mortalidade: as doenças cardiovasculares e o câncer. Além disso, a atividade física está associada também com melhor mobilidade, capacidade funcional e qualidade de vida durante o envelhecimento. É importante enfatizar, no entanto, que, tão importante quanto estimular a prática regular da atividade física aeróbica ou de fortalecimento muscular, as mudanças para a adoção de um estilo de vida ativo no dia-a-dia do indivíduo são parte fundamental de um envelhecer com saúde e qualidade. Referências Bibliográficas AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE. Position stand on the recommended quantity and quality of exercise for developing and maintaining cardiorespiratory and muscular fitness, and flexibility in adults. Med. Sci. Sports Exerc., v. 30, p. 975-991, 1998b. BAUMGARTNER, R. N.; KOEHLER, K. M.; GALLAGHER, D. et al. Epidemiology of sarcopenia among the elderly in New Mexico. Am. J. Epidemiol., v. 147, p. 755-763,1998. BEMBEN, M. G.; MASSEY, B. M.; BEMBEN, D. A.. et al. Age related patterns in body composition for men aged 20-79 yr. Med. 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