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TEOLOGIA SISTEMÁTICA [Clique em ÍNDICE] VOLUME III CHARLES HODGE, D.D. Tradutor e digitador: Carlos Biagini Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 2 ÍNDICE PARTE III – SOTERIOLOGIA (continuação) CAPÍTULO XV REGENERAÇÃO §1. Uso do termo. §2. Natureza da Regeneração Não é uma mudança na substância da alma A regeneração não consiste num ato da alma A postura do doutor Emmons A doutrina do professor Finney A postura do Dr. Taylor Observações A regeneração não é uma mudança em nenhuma faculdade A regeneração não é meramente iluminação Não é uma mudança exclusiva dos mais elevados poderes da alma. Posturas especulativas modernas O corpo e a alma são um Deus e o homem são um Soteriologia destes filósofos Doutrina de Ebrard Doutrina de Delitzsch Doutrina da Igreja latina Doutrina da Igreja Anglicana §3. A doutrina evangélica Exposição da doutrina A regeneração é um ato de Deus Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 3 A regeneração é ato do poder de Deus A regeneração não é um ato no sentido subjetivo do termo Não é uma mudança de substância É uma nova vida É um novo nascimento Um novo coração Toda a alma é objeto desta mudança §4. Objeções à doutrina evangélica A negação do sobrenaturalismo A confiança em falsas teorias psicológicas Objeções baseadas na perfeição divina CAPÍTULO XVI A FÉ §1. Observações preliminares §2. A natureza psicológica da fé. A ideia primária da fé é confiança O sentido mais restringido da palavra A fé não deve ser considerada simplesmente como uma graça cristã Definições da fé baseadas em sua natureza subjetiva A fé é distinguida da opinião e do conhecimento Objeções a esta definição A fé não é uma convicção voluntária Observações a esta definição de fé Definições de fé baseada nos objetos da fé Objeções a esta definição Definições baseadas sobre a classe de evidência em que repousa a fé Observações a esta definição A fé é convicção baseada no testemunho Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 4 Este ponto de vista é quase universalmente mantido O sentido estrito da palavra “fé” Prova com base no uso geral do termo Prova da consciência Prova da Escritura §3. Diferentes classes de fé Fé morta, ou especulativa Fé temporal Fé salvadora O que significa o testemunho do Espírito Prova por meio de declarações expressas das Escrituras 1 Coríntios 2:14 Prova da maneira em que os apóstolos agiram Prova com base na prática na Igreja Prova com base na Analogia §4. Fé e conhecimento É necessária uma Revelação Sobrenatural? Devem as verdades da revelação ser demonstráveis pela razão? É possível que verdades reveladas não sejam filosoficamente reivindicadas? As tentativas para fazer isto são inúteis Pode o que é verdadeiro em Religião ser falso em Filosofia? Os Pais sobre esta questão Ensino Luterano neste ponto Sir William Hamilton A postura dos filósofos especulativos Podem os objetos da fé estar acima da razão, e entretanto, não contra ela? Os objetos da fé são consistentes com a Razão A fé no irracional é impossível O conhecimento, essencial para a fé O conhecimento, a medida da fé Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 5 Prova de que o conhecimento é essencial para a fé A doutrina Romanista a respeito desta questão §5. Fé e sentimentos Fé religiosa mais do que simples assentimento A doutrina protestante Prova da doutrina protestante §6. Fé e amor Os Romanistas fazem com que o amor seja essencial à fé §7. O objeto da fé salvadora Fé geral Fé especial O testemunho de Cristo É dito que somos salvos ao receber a Cristo O ensino dos Apóstolos Cristo nosso Resgate Vivemos em Cristo pela fé Cristo não é recebido só num Papel Especial Requer-se do pecador crer que Deus o ama? Prova desta doutrina Gálatas 2:20 §8. Os efeitos da fé. União com Cristo A justificação, efeito da fé A participação da vida de Cristo, efeito da fé A paz como fruto da fé Certeza A santificação é um fruto da fé A certeza da salvação O oitavo capítulo de Romanos Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 6 CAPÍTULO XVII JUSTIFICAÇÃO §1. Enunciado simbólico da doutrina. Presidente Edwards Pontos incluídos nas anteriores declarações da doutrina §2. A justificação é um ato forense. Prova da doutrina recém-anunciada Pelo uso da Escritura Justificação é o oposto de Condenação Argumento com base em formas equivalentes de expressão Argumento com base no enunciado da doutrina O argumento do Apóstolo na Epístola aos Romanos Argumento derivado da base da justificação A justificação não é mero perdão Argumento com base na imutabilidade da lei Argumento com base na natureza de nossa união com Cristo Argumentos com base nos efeitos adscritos à justificação A doutrina de Calvino §3. As obras não são a base da justificação. A doutrina Romanista A doutrina Remonstrante A doutrina Protestante §4. A justiça de Cristo é a base da justificação. Significado dos termos A justiça de Cristo é a justiça de Deus §5. A imputação de justiça. §6. Prova da doutrina. O argumento do Apóstolo O paralelo entre Adão e Cristo Outras passagens que ensinam a mesma doutrina Argumento com base nos ensinos gerais da Bíblia Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 7 §7. Consequências da imputação da justiça de Cristo §8. Relação da fé com a justificação. A doutrina Romanista A postura Remonstrante A doutrina Protestante §9. Objeções à doutrina Protestante da justificação Diz-se que conduz à libertinagem Inconsistente com a Graça do Evangelho Deus não pode declarar que o Injusto seja Justo A justiça de Cristo é devida a Ele mesmo Os crentes seguem culpados e suscetíveis de castigo Esta teoria refere-se unicamente à aparência externa §10. Afastamentos da doutrina Protestante Osiander Stancarus Piscator Doutrina Arminiana Comparação das diferentes doutrinas §11. Posturas modernas a respeito da justificação. Teorias racionalistas Teorias filosóficas Teólogos especulativos Ebrard de Erlangen Objeções a estas teorias Estas teorias são antibíblicas Estas teorias levam os homens a confiar em si mesmos CAPÍTULO XVIII SANTIFICAÇÃO §1. Sua natureza. É uma obra sobrenatural Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 8 Prova de seu caráter sobrenatural Todos os exercícios de santidade são atribuídos ao Espírito como seu autor Somos ensinados a orar por arrependimento, fé e outras graças Argumento com base na união do crente com Cristo Argumento com base em doutrinas relacionadas §2. Em que consiste a santificação. Despojando-se do Velho Homem, e revestindo-se do Novo Paulo detalha sua própria experiência em Romanos 7:7-25 O ensino de Romanos 7:7-25 Gálatas 5:16-26 Efésios 4:22-24 §3. O método da santificação. A alma é conduzida ao exercício da fé O efeito da união com Cristo A obra interna do Espírito Deus chama ao exercício as graças do Seu povo A igreja e os Sacramentos como meios da Graça O ofício régio de Cristo §4. Os frutos da santificação, ou, as boas obras. Sua natureza A doutrina Romanista a respeito das boas obras As obras de supererrogação Preceitos e conselhos O sentido em que os frutos do Espírito nos crentes são chamados bons §5. A necessidade das boas obras. Antinomianismo §6. A relação das boas obras com a recompensa. A doutrina Romanista Refutação a esta doutrina Romanista Doutrina dos antigos teólogos protestantes Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 9 §7. O perfeccionismo. A doutrina Protestante Argumento com base nas representações gerais da Escritura Passagens que descrevem oconflito entre a carne e o Espírito Argumento com base na Oração do Senhor Argumento com base na experiência dos cristãos §8. Teorias do perfeccionismo. A teoria Pelagiana A teoria Romanista A teoria Arminiana A Lei à qual os crentes estão sujeitos A teoria de Oberlin A relação entre as teorias de perfeição CAPÍTULO XIX A LEI §1. Observações preliminares. A personalidade de Deus está envolvida na ideia da Lei; e, portanto, toda moralidade está baseada na religião Princípios Protestantes limitando a obediência às leis humanas Liberdade cristã em assuntos indiferentes O uso escriturístico da palavra Lei Como a Lei é revelada Diferentes classes de leis Até onde se podem deixar de lado as leis contidas na Bíblia? Quando uma Lei Divina é substituída por outra. A perfeição da Lei O Decálogo Regras de Interpretação §2. A divisão do conteúdo do Decálogo. Argumentos em favor da disposição adotada pelos Reformados Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 10 §3. O prefácio aos Dez Mandamentos. §4. O primeiro mandamento. Este é o principal de todos os mandamentos §5. A invocação dos santos e anjos. Mariolatria §6. O segundo mandamento. A proibição do culto às imagens As razões que se anexam a este mandamento A doutrina e prática da igreja de Roma quanto às imagens A doutrina Tridentina Belarmino Relíquias Observações A doutrina Protestante a respeito desta questão §7. O terceiro mandamento Significado do mandamento Juramentos A legitimidade dos juramentos Quando os juramentos são lícitos A forma de um juramento Normas que regem a interpretação e obrigação de um juramento A doutrina Romanista Votos A legitimidade dos votos Votos monásticos §8. O quarto mandamento. Seu desígnio O sábado foi instituído desde o princípio, e é de obrigação perpétua Evidência direta da instituição do Sábado antes de Moisés Objeções Como o Sábado deve ser santificado? Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 11 As leis dominicais O estado da questão A prova de que esta é uma nação cristã e protestante Esta influência decisiva do cristianismo, é razoável e correta As demandas dos infiéis são injustas Conclusão §9. O quinto mandamento. Seu desígnio A relação filial A promessa Deveres paternos A obediência devida aos magistrados civis Obediência à Igreja §10. O sexto mandamento. Seu desígnio A pena capital O homicídio em autodefesa Guerra Suicídio Duelos §11. O sétimo mandamento. O celibato História O casamento, instituição divina O casamento como instituição civil A monogamia Conclusões Polígamos convertidos O divórcio O divórcio, sua natureza e efeitos Razões para o divórcio A doutrina da Igreja de Roma Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 12 O casamento é um sacramento A leis dos países Protestantes a respeito do divórcio Inglaterra França Alemanha Os Estados Unidos O dever da Igreja e de seus oficiais A prostituição, o mal social Casamentos proibidos A base ou razão de tais proibições A teoria de Agostinho Segue em vigor a lei levítica do casamento? Como se deve interpretar a lei levítica? Graus proibidos Observações finais §12. O oitavo mandamento. A comunidade de bens Comunismo e socialismo Sociedade internacional Violações do Oitavo Mandamento §13. O nono mandamento. A importância da verdade Detrações Falsidade Classes de falsidade Reserva mental Fraudes piedosas Falsificações Falsos milagres Relíquias §14. O décimo mandamento. Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 13 CAPÍTULO XX OS MEIOS DA GRAÇA §1. A Palavra. O testemunho da História A que se deve atribuir o poder da Palavra? O papel da Palavra como meio da graça A doutrina Luterana Observações §2. Os sacramentos. Sua natureza. O uso da palavra sacramento O uso teológico e definição da palavra A doutrina Luterana A doutrina Romanista A doutrina Remonstrante §3. Número dos sacramentos. Confirmação Penitência Ordem ou ordenação Casamento Extrema-unção Razões para fixar o número dos Sacramentos em Sete §4. A Eficácia dos sacramentos A doutrina Zwingliana e Remonstrante A doutrina da igreja Reformada A doutrina Luterana A doutrina Romanista Em que sentido os sacramentos contêm a graça? A doutrina «Ex Opere Operato» O Administrador §5. A necessidade dos sacramentos. §6. A validade dos sacramentos. Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 14 §7. O Batismo. O modo do batismo O uso da palavra nos clássicos Uso das palavras na Septuaginta e nos Apócrifos O uso do Novo Testamento O uso patrístico A universalidade do Evangelho Argumento com base no desígnio da ordenança §8. A fórmula do batismo §9. Os sujeitos do batismo Qualificações para o batismo de adultos Teoria da Igreja romana Teoria da Igreja puritana A comum teoria Protestante §10. O Batismo de crianças. 1ª Proposição: A Igreja visível é uma instituição divina. 2ª Proposição: A Igreja visível não se compõe exclusivamente dos regenerados. 3ª Proposição: A Comunidade de Israel era a Igreja. 4ª Proposição: A Igreja sob a Nova Dispensação é idêntica àquela sob a Antiga. 5ª Proposição: Os requisitos para a admissão na igreja antes do advento são os mesmos que os requeridos para admissão na igreja cristã. 6ª Proposição: As crianças eram membros da igreja sob a economia do Antigo Testamento. 7ª Proposição: não há nada no Novo Testamento que justifica a exclusão dos filhos dos crentes da membresia na igreja. 8ª Proposição: As crianças necessitam e podem receber os benefícios da redenção. §11. Os filhos de quem têm direito ao batismo? Diferença entre o uso judeu e cristão Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 15 Doutrina da Igreja de Roma sobre o batismo de crianças Teorias com que muitos protestantes mantêm a conveniência do batismo de crianças além daquelas de pais crentes A doutrina puritana sobre este tema Doutrina e usos das Igrejas Reformadas §12. A eficácia do batismo Doutrina das igrejas Reformadas Prova da doutrina reformada O batismo é uma condição de salvação O batismo como um dever O batismo como meio de graça Regeneração batismal Argumentos diretos contra a doutrina da regeneração batismal §13. A doutrina luterana a respeito do batismo. Sua necessidade Seus efeitos A que se refere esta eficácia do batismo? A condição em que a eficácia do batismo foi suspensa §14. Doutrina da Igreja de Roma. §15. A Ceia do Senhor. A Ceia do Senhor é uma ordenança divina de obrigação perpétua. Os elementos a empregar-se na Ceia do Senhor As ações sacramentais O partir do pão A distribuição e recepção dos elementos O desígnio da Ceia do Senhor Requisitos para a Ceia do Senhor §16. A doutrina da Igreja Reformada sobre a Ceia do Senhor. Postura Zwingliana A doutrina de Calvino Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 16 Confissões em que os Zwinglianos e os Calvinistas estão de acordo. O sentido em que Cristo está presente na Ceia do Senhor. Manducação O que se recebe na Ceia do Senhor A eficácia da Ceia do Senhor como um sacramento §17. Pontos de vista modernos a respeito da Ceia do Senhor. A aplicação destes princípios à Ceia do Senhor Observações §18. A doutrina Luterana. A declaração da Doutrina nos Livros Simbólicos Manducação Modo da presença O benefício recebido na Ceia do Senhor §19. A Doutrina da Igreja de Roma. A Transubstanciação Prova da Doutrina A negação do cálice aos leigos A Ceia do Senhor como sacrifício Observações §20. A Oração. O objeto da oração Os requisitos da oração aceitável Diferentes classes de oração Oração Pública A oração como meio da graça O poder da oraçãoTeologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 17 PARTE IV: ESCATOLOGIA CAPÍTULO I O ESTADO DA ALMA DEPOIS DA MORTE §1. A doutrina Protestante A doutrina de uma vida futura no Antigo Testamento O estado intermediário §2. O sono da alma. Refutação da doutrina do sonho da alma §3. Doutrina patrística do estado intermediário. §4. Doutrina da Igreja de Roma. O Limbus Patrum O Limbus Infantum O inferno O céu O purgatório Argumentos empregados em favor da doutrina Argumentos contra a doutrina História da doutrina CAPÍTULO II A RESSURREIÇÃO §1. A doutrina escriturística. Os corpos dos homens ressuscitarão A identidade de nosso corpo futuro com o presente Em que consiste esta identidade? A natureza do corpo da ressurreição §2. História da doutrina. Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 18 CAPÍTULO III A SEGUNDA VINDA §1. Observações preliminares. §2. A doutrina comum da Igreja. §3. A vinda pessoal de Cristo. §4. A chamada dos Gentios. §5. A conversão dos judeus. Serão os judeus restaurados à sua própria terra? §6. O Anticristo. O Anticristo de Daniel O Anticristo do Apocalipse Doutrina Católica Romana do Anticristo CAPÍTULO IV OS EVENTOS CONCOMITANTES DA SEGUNDA VINDA §1. A ressurreição geral. O tempo desta Ressurreição Geral §2. O Juízo final. A doutrina da Igreja §3. O fim do mundo. Observações §4. O reino dos céus. A consumação §5. A teoria do advento premilenial. Aguardavam os Apóstolos a segunda vinda em seu tempo? §6. O castigo futuro A duração do castigo futuro Objeções A Bondade de Deus Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 19 PARTE III SOTERIOLOGIA (continuação) Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 20 CAPÍTULO XV REGENERAÇÃO § 1. Uso do termo. A mudança subjetiva operada na alma pela graça de Deus é designada de várias maneiras na Escritura. É chamada um novo nascimento, uma ressurreição, uma nova vida, uma nova criatura, uma renovação da mente, um morrer para o pecado e viver para a justiça, uma translação das trevas à luz, etc. Em linguagem teológica chama-se regeneração, renovação, conversão. Estes termos se empregam frequentemente de maneira intercambiável. Às vezes se empregam para denotar todo o processo de renovação espiritual ou restauração da imagem de Deus, e às vezes para denotar uma etapa determinada deste processo. Assim, Calvino dá a este termo seu sentido mais amplo: «Numa palavra, afirmo que o arrependimento é uma regeneração espiritual, cujo fim não é outro senão restaurar em nós e voltar para sua antiga perfeição à imagem de Deus, que pela transgressão de Adão tinha ficado empanada e quase destruída. ... Mas esta restauração não se verifica num momento, nem num dia, nem num ano; mas Deus vai incessantemente destruindo em Seus escolhidos a corrupção da carne.»1 Para os teólogos do século dezessete, a conversão e a regeneração eram termos sinônimos. Nos atos do Sínodo de Dort, encontramos expressões tais como “Status conversionis aut regenerationis,” e “effecta ad conversionem sive regenerationem prævia”. John Owen, em sua obra sobre o Espírito Santo, segue o mesmo uso. O quinto capítulo do terceiro livro dessa obra se intitula “A natureza da regeneração,” e um dos cabeçalhos debaixo dele é “A conversão não vem só pela persuasão moral.” “Se o Espírito Santo,” diz ele, “não age contrário aos homens na regeneração ou conversão,” então segue por esse diapasão. Turretino, 1 Institución, libro III, cap. III, 9. Edición de FELIRE, Rijswijk, 1968, vol. I pág. 454. Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 21 como vimos, distingue entre o que ele chama “conversio habitualis” e “conversio actualis.” “Conversio habitualia seu passiva, fit per habituum supernaturalium infusionem a Spiritu Sancto. Actualis vero seu activa per bonorum istorum exercitium. . . . Per illam homo renovatur et convertitur a Deo. Per istam homo a Deo renovatus et convertus convertit se ad Deum, et actus agit. Illa melius regeneratio dicitur, quia se habet ad modum novæ nativitatis, qua homo reformatur ad imaginem Creatoris sui. Ista vero conversio, quia includit hominis ipsius operationem.”2 Isto é claro e preciso. Porquanto estas duas coisas são distintas, deveriam ser designadas com termos diferentes. As questões se o homem é ativo ou passivo na regeneração e se a regeneração é efetuada pela influência mediata ou imediata do Espírito deve ser respondida de uma maneira se a regeneração incluir a conversão, e de outra se é tomada em seu sentido restringido. Na Bíblia geralmente se preserva a distinção: μετάνοια (metanoia), arrependimento, mudança da mente, volta a Deus, isto é, conversão, é aquilo que o homem é chamado a fazer; ἀναγέννησις (anagénnësis), regeneração, é o ato de Deus. Deus regenera; a alma é regenerada. Na Igreja Romanista a justificação é fazer subjetivamente justo, isto é; livre de pecado e interiormente santo. O mesmo com a regeneração, e o mesmo com a santificação. Portanto, estes termos são, na teologia dessa igreja, constantemente intercambiados. Inclusive entre os Luteranos, na «Apologia da Confissão de Augsburgo», faz-se que a regeneração inclua a justificação. Quer dizer, faz-se para incluir todo o processo pelo qual se transfere ao pecador de um estado de pecado e condenação a um estado de salvação. Na “Fórmula de Concórdia,” diz-se: “Vocabulum regenerationis interdum in eo sensu accipitur, ut simul et remissionem peccatorum (quæ duntaxat propter Christam contingit) et subsequentem renovationem complectatur, quam Spiritus Sanctus in illis, qui per fidem justificati sunt, operatur, quandoque etiam solam remissionem peceatorum, et 2 Locus xv. quæs. iv. 13, edit. Edinburgh, 1847, vol. ii. p. 460. Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 22 adoptionem in filios Dei significat. Et in hoc posteriore usu sæpe multumque id vocabulam in Apologia Confessionis ponitur. Verbi gratia, cum dicitur: Justificatio est regeneratio. . . . Quin etiam vivificationis vocabulum interdum ita accipitur, ut remissionem peccatorum notet. Cum enim homo per fidem (quam quidem solus Spiritus Sanctus operatur) justificatur, id ipsum revera est quædam regeneratio, quia ex filio iræ fit filius Dei, et hoc modo e morte in vitam transfertur. . . . Deinde etiam regeneratio sæpe pro sanctificatione et renovatione (quæ fidei justificationem sequitur) usurpatur. In qua significatione D. Lutherus hac voce, tum in libro de ecelesia et conciliis, tum alibi etiam, multum usus est.”3 Embora este uso impreciso dos termos fosse inevitavelmente acompanhado de grande confusão, a própria «Fórmula de Concórdia», e os teólogos Luteranos posteriores, foram mais precisos. Em especial estabeleceram uma clara distinção entre a justificação e tudo o que significasse uma mudança subjetiva no pecador. Na Igreja primitiva o termo regeneração expressava frequentemente não uma mudança moral interior, mas uma mudança externa de estado ou relação. Entre os judeus, quando um pagão vinha a ser prosélito à sua religião, dizia-se que tinha nascido de novo. A mudança de seu estado de fora para dentro da teocracia era chamado regeneração. Este uso passou em certa medida à Igreja Cristã. Quando um homem torna-se membro da Igreja, dizia-se que tinha nascido de novo; e o batismo, que era o rito de iniciação, era chamado regeneração. Este uso da palavra não desapareceu totalmente. Segue-se fazendo às vezes uma distinção entre regeneração e renovação espiritual. A primeira é externa, a segunda interna. Alguns dos defensores da regeneração batismal fazem esta distinção e interpretam a linguagem dasfórmulas da Igreja da Inglaterra em conformidade com ela. A regeneração que tem lugar no batismo, para eles, não é uma 3 III. 19, 20, 21; Hase, Libri Symbolici, 3d edit. p. 686. Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 23 mudança espiritual no estado da alma, mas somente um nascimento na Igreja visível. § 2. Natureza da regeneração. Por consentimento quase universal, a palavra regeneração não é usada hoje em dia para designar toda a obra de santificação, nem as primeiras etapas daquela obra incluída na conversão, e muito menos a justificação ou nenhuma mera mudança de estado externo, mas é usada para mudança instantânea da morte espiritual à vida espiritual. Portanto, a regeneração é uma ressurreição espiritual: o começo de uma nova vida. Às vezes a palavra expressa o ato de Deus. Deus regenera. Às vezes designa o efeito subjetivo de Seu ato. O pecador é regenerado. Vem a ser nova criação. É nascido de novo. E isto é sua regeneração. Estas duas aplicações da palavra estão conectadas tão intimamente que não se produz confusão. A natureza da regeneração não recebe mais explicação na Bíblia que a que se dá de seu autor, Deus, no exercício da suprema grandeza de seu poder; seu sujeito, toda a alma; e seus efeitos, vida espiritual, e todos os seus conseguintes atos e estados em santidade. Sua natureza metafísica é deixada como um mistério. Não é a província da filosofia ou da teologia que tem que resolver esse mistério. É, entretanto, o dever do teólogo examinar as diversas teorias sobre a natureza desta mudança salvadora, e rejeitar todos os que sejam inconsistentes com a Palavra de Deus. Não é uma mudança na substância da alma A regeneração não consiste em nenhuma mudança na substância da alma. O único defensor da doutrina oposta entre teólogos protestantes foi Flacius Illyricus, chamado assim pelo lugar de seu nascimento. Foi um dos teólogos luteranos mais proeminentes no que se chama a segunda Reforma na Alemanha. Ele fez um grande serviço à causa da verdade em resistir à sinergia de Melâncton, e as concessões que esse eminente mas Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 24 cedente reformador estava disposto a fazer aos papistas. Ele contribuiu com algumas das obras mais importantes da época em que viveu à reivindicação da fé protestante. Seu “Catalogus Testiam Veritatis,” destinado a provar que a doutrina da Reforma teve suas testemunhas em todas as idades, e sua “Clavis Scripturae Sacræ;” e especialmente a grande obra histórica “The Magdeburg Centuries” (em treze volumes, fólio), da qual foi o iniciador e principal autor, dão fé de sua aprendizagem, talentos, e a indústria incansável. Seu fervente espírito e sem concessões o envolveu em muitas dificuldades e dores. Morreu esgotado pelo sofrimento e o trabalho, diz seu biógrafo, um desses homens de fé dos quais o mundo não era digno. Sempre extremo em suas opiniões, sustentou que o pecado original era uma corrupção da substância da alma, e a regeneração de uma mudança dessa substância quanto a restaurar sua pureza normal. Todos os seus amigos que se tinham aliado a ele em sua controvérsia com os sinergistas e os partidários do interino Leipzig, agora o abandonaram, e ele ficou sozinho. Na “Fórmula de Concórdia,” adotada para resolver todas as controvérsias da época, estes pontos de vista peculiares de Flacius foram condenados como um renascimento virtual da heresia maniqueísta. Insistia-se em que se a substância da alma é pecado, Deus, por quem cada alma é criada, deve ser o autor do pecado; e que Cristo, quem, ao assumir nossa natureza, converteu-se em consubstancial conosco, deve ser um participante do pecado. Nenhuma Igreja cristã assumiu a responsabilidade pela doutrina de Flacius, ou assumiu que a regeneração implica uma mudança da essência da alma. A regeneração não consiste num ato da alma A regeneração não consiste em qualquer ato ou atos da alma. A palavra aqui, é óbvio, deve ser entendida não como incluindo a conversão, e muito menos toda a obra de santificação, mas em seu sentido restringido para o começo da vida espiritual. A opinião oposta, Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 25 que faz a regeneração, inclusive em seu sentido mais estrito, um ato da alma, celebrou-se por classes muito diferentes dos teólogos. Está, é óbvio, envolvido na doutrina de Pelágio, que nega o caráter moral a tudo menos aos atos da vontade. Se “todo pecado é pecado,” e “todo amor é amor,” então cada mudança moral no homem deve ser uma mudança de uma forma de atividade voluntária a outra. Como depois os remonstrantes mantiveram o princípio em questão fizeram a regeneração consistir no próprio ato do pecador na conversão a Deus. A influência exercida sobre ele foi uma influência a que ele poderia ceder ou resistir. Se ele cedeu, foi uma decisão voluntária, e nessa decisão consistiu sua regeneração, ou o início de sua vida religiosa. A postura do doutor Emmons O Dr. Emmons, sustentando que todo pecado e a santidade consiste em atos, que age, quer seja pecaminoso ou santo, são imediatamente criados por Deus, faz a regeneração consistir em dar a Deus o começo de uma série de atos sagrados. Em seu discurso sobre a Regeneração, a primeira proposição que se compromete estabelecer é, “que o Espírito de Deus, na regeneração, não produz nada senão o amor.” Este se mantém em oposição aos que dizem que o Espírito produz uma nova natureza, o princípio, a disposição, ou sabor. “Os que estão no estado de natureza,” diz ele, “não estão em nenhuma necessidade de ter um novo poder, ou faculdade, ou princípio de ação produzido neles, com o fim de que cheguem a ser santos. Eles são tão capazes de amar como de odiar a Deus. . . . Isto é certo para todos os pecadores, que são agentes morais, e os próprios objetos do governo moral, antes como depois da regeneração. Sempre que, portanto, o divino Espírito os renova, regenera, ou santifica, Ele não tem ocasião de produzir qualquer coisa em suas mentes, além de amor.”4 “O amor que o Espírito de Deus produz na regeneração é o amor de benevolência, e não o amor de 4 Sermon 51, Works, edit. Boston, 1842, vol. v. p. 112. Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 26 complacência.”5 “Embora não haja uma conexão natural ou necessária entre o primeiro exercício do amor e todos os exercícios futuros da graça entretanto, há uma conexão constituída, que faz exercícios futuros da graça como certos, como se tivessem passado de uma nova natureza, ou um princípio sagrado, como muitos supõem.”6 Sua primeira inferência da doutrina de seu sermão é: “Se o Espírito de Deus produz nada mais que amor na regeneração, então não há motivo para a distinção que se faz com frequência entre a regeneração, a conversão e a santificação. São, em natureza e tipo, precisamente os mesmos frutos do Espírito. Na regeneração, Ele produz santos exercícios, na conversão, Ele produz santos exercícios, e na santificação, Ele produz santos exercícios.”7 Em segundo lugar, “Se o Espírito de Deus na regeneração produz nada mais que amor, então os homens não são mais passivos na regeneração que na conversão ou na santificação. Aqueles que sustentam que o Espírito divino na regeneração produz algo antes do amor como fundamento da mesma, quer dizer, uma nova natureza, ou um novo princípio de santidade, sustentam que os homens são passivos na regeneração, mas ativos na conversão e na santificação. ... Mas se o que se disse neste discurso é verdade, não há uma nova natureza, ou princípio de ação, produzido na regeneração, mas só o amor, que é atividade em si.”8 A doutrina do professor Finney O Professor Finney, em suas “Conferências sobre Teologia Sistemática, ensina: (1.) Que a satisfação, a felicidade, a beatitude, é o único bem absoluto; a virtudeé só relativamente boa, quer dizer, boa quando tende a produzir felicidade. (2.) Que toda virtude descansa na intenção de promover a felicidade do ser, quer dizer, do ser universal. 5 Ibid. p. 114. 6 Sermon 51, Works, edit. Boston, 1842, vol. v. p. 116. 7 Ibid. p. 116. 8 Ibid. pp. 117, 118. Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 27 Não há virtude na emoção, sentimento ou qualquer estado da sensibilidade, visto que estes são involuntários. Amar a Deus embora não seja a complacência em sua excelência, mas antes, “o querer-lhe bem.” (3.) Todo pecado é o egoísmo, ou a eleição de nossa própria felicidade em lugar do bem do ser universal. (4.) Todo agente moral é sempre “como algo pecaminoso ou santo bem como com seus conhecimentos possam ser.” (5.) “Como a lei moral é a lei da natureza, é absurdo supor que completa obediência a ela não deveria ser a condição inalterável da salvação.”9 (6.) A regeneração é uma mudança “instantânea” de todo pecado à santidade completa.”10 Trata-se de uma simples mudança de propósito. O sistema do professor Finney é um produto notável da lógica inflexível. É valiosa como uma advertência. Isso mostra até que extremos a mente humana pode transportar-se, quando abandonada à sua própria orientação. Começa com certos axiomas, ou, como ele os chama, verdades da razão, e destes chega a conclusões que de fato são deduções lógicas, mas que abalam o sentido moral, e não provam nada, senão que suas premissas são falsas. Seu princípio fundamental é que a capacidade limita a obrigação. O livre-arbítrio se define como “o poder de escolher, ou negar-se a escolher, em cumprimento da obrigação moral em todos os casos.”11 “A consciência da afirmação da capacidade para cumprir qualquer requerimento, é uma condição necessária da afirmação da obrigação de cumprir esse requerimento.”12 “Falar da incapacidade para obedecer a lei moral, é falar coisas sem sentido.”13 Entretanto, reconhece-se que a capacidade do homem se limita aos atos da vontade, portanto o caráter moral só pode afirmar-se de tais atos. 9 Lectures on Systematic Theology, by Charles G. Finney, edit. Oberlin, Boston, and New York, 1846, p. 364. 10 Ibid. p. 500. 11 Lectures on Systematic Theology, by Charles G. Finney, edit. Oberlin, Boston, and New York, 1846, p. 26. 12 Ibid. p. 33. 13 Ibid. p. 4. Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 28 Os atos da vontade são eleições ou vontades. “Por eleição tem-se por objeto a seleção ou eleição de um fim. Por vontade tem-se por objeto os esforços executivos da vontade de assegurar o final previsto.”14 Somos responsáveis, portanto, só por nossas eleições na seleção de um fim último. “Em geral se aceita que a obrigação moral respeita estritamente só a intenção última ou a eleição de um fim por si mesmo.”15 “Tenho que a obrigação moral respeita a intenção última somente. Agora estou preparado para dizer, ainda mais, que esta é uma primeira verdade da razão.”16 “O correto pode afirmar-se só de boa vontade, e o mal só de egoísmo. . . . É adequada para ele [para o homem] a intenção do bem supremo do ser como uma fim. Se honestamente fizer isto, ele não pode, fazendo isto, errar em seu dever, porque ao fazer isto, ele realmente realiza tudo de seu dever.”17 “O caráter moral pertence exclusivamente à intenção última da mente, ou à eleição, diferente da vontade.”18 A finalidade de ser eleito é “o bem supremo do ser.” “O bem pode ser físico ou moral. O bem natural é sinônimo de valor. O bem moral é sinônimo de virtude.”19 Bem moral é só um bem relativo. Cumpre uma demanda de nosso ser, e portanto produz satisfação. Esta satisfação é o bem supremo do ser.”20 “Venho agora a indicar o ponto sobre o qual é o tema central, ou seja: Que alegria, felicidade, ou satisfação mental, é o único bem final.”21 “De que valor é a verdade, o direito, o justo, etc., além do prazer como a satisfação mental derivados dos mesmos às existências sensíveis.”22 14 Ibid. p. 44. 15 Ibid. p. 26. 16 Ibid. p. 36. 17 Ibid. p. 149. 18 Ibid. p. 157. 19 Ibid. p. 45. 20 Ibid. p. 48. 21 Ibid. p. 120. 22 Lectures on Systematic Theology, by Charles G. Finney, edit. Oberlin, Boston, and New York, 1846, p. 122. Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 29 Segue-se destes princípios que os homens cumprem seu dever geral, e são perfeitos, se tiverem a intenção da felicidade do ser em geral. Não há moralidade em emoções, sentimentos, ou sentimentos. Estes são estados involuntários da sensibilidade, e são em si mesmos nem bons nem maus. “Se alguma ação externa ou estado de sensação existe, em oposição à intenção ou a eleição da mente, não pode por nenhuma possibilidade ter um caráter moral. O que está além do controle de um agente moral, ele não pode ser responsável”23 “O amor pode, e com frequência existe, como todos sabem, na forma de um mero sentimento ou emoção. . . . Esta emoção ou sentimento, como todos sabemos, é puramente um estado involuntário da mente. Devido ao fato de que é um fenômeno da sensibilidade, e é óbvio, um estado passivo da mente, que não tem em si mesmo caráter moral.”24 A gratidão, “como um mero sentimento ou fenômeno da sensibilidade. . . não tem caráter moral.”25 O mesmo é dito sobre a benevolência, a compaixão, a misericórdia, consciência, etc. A doutrina é: “Nenhum estado da sensibilidade. . . tem caráter moral em si mesmo.”26 O amor que tem a excelência moral, e que é o cumprimento da lei, não é um sentimento de complacência, mas “boa vontade,” desejando o bem ou a felicidade de seu objeto. Deveria um homem, portanto, sob o impulso de um sentimento benévolo, ou um sentido do dever, realizar um ato correto, ele pecaria como de fato se, sob o impulso da malícia e da cobiça, ele realizasse um ato mau. A ilustração é que, pagar uma dívida de um senso de justiça, é tão mau quanto roubar um cavalo de cobiça. Um homem “pode ser prevenido [de cometer] injustiça comercial por uma consciência constitucional ou frenológica ou senso de justiça. Mas isto é só um sentimento da sensibilidade, e se restringido só por isso, ele é tão absolutamente egoísta, como se tivesse roubado um 23 Ibid. p. 164. 24 Ibid. p. 213. 25 Ibid. p. 278. 26 Ibid. p. 521. Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 30 cavalo na obediência à cobiça.”27 “Se o homem egoísta fosse pregar o evangelho, seria só porque sobretudo era muito agradável ou gratificante para si mesmo, e não a todos por amor ao bem de ser como um fim. Se ele deve converter-se num pirata, seria exatamente pela mesma razão. ... Seja qual for o curso que toma, ele toma precisamente pela mesma razão; e com o mesmo grau de luz que deve começar com o mesmo grau de culpabilidade.”28 Alimentar os pobres com um sentimento de benevolência, e assassinar um pai com um sentimento de malícia, envolve o mesmo grau de culpabilidade! Tal sacrifício à lógica nunca foi feita antes por qualquer homem. Mas ainda mais maravilhoso, se for possível, é a declaração de que um homem pode “sentir-se profundamente maligno e sentimentos de vingança contra Deus. Mas o pecado não consiste nestes sentimentos, nem necessariamente os implica.”29 A excelência moral não é um objeto de amor. Dizer que estamos obrigados a amar a Deus porque Ele é bom, diz-se que é “mais absurdo. O que é amar a Deus? Por que, como se tem lembrado, não é exercer uma mera emoção da complacência nEle. É à vontade de algo para Ele.”30 “Deve-se dizer que a santidade de Deus é o fundamento de nossa obrigação de amá-Lo, eu pergunto em que sentido pode ser assim? Qual é a natureza ou forma de que o amor, que sua virtude nos põe na obrigação exercitar? Não pode ser uma mera emoção de complacência, por emoções que os estados involuntáriosda mente e simples fenômenos da sensibilidade, aplicam-se sem a fraqueza da legislação e a moralidade.”31 “Estamos na obrigação infinita a amar a Deus, e querer Seu bem com todo nosso poder, porque o valor intrínseco de Seu bem- estar, se Ele é santo ou pecador. A condição de que Ele é santo, estamos 27 Ibid. p. 317, 318. 28 Ibid. p. p. 355. 29 Lectures on Systematic Theology, by Charles G. Finney, edit. Oberlin, Boston, and New York, 1846, p. 296. 30 Ibid. p. 64. 31 Ibid. p. 91. Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 31 na obrigação de querer Sua felicidade real, mas certamente estamos na obrigação de querer com não mais que todo nosso coração, e alma, e mente e força. Mas isto é-nos requerido fazer porque o valor intrínseco de Sua bem-aventurança, qualquer que seja Seu caráter.”32 Seguramente tal sistema é um ὑπόδειγμα τῆς ἀπειθείας. A postura do Dr. Taylor O sistema do Dr. Taylor, de New Haven está de acordo com a do professor Finney em fazer com que o livre-arbítrio inclui o poder pleno; em limitar a responsabilidade e o caráter moral dos atos voluntários, com relação à felicidade como o bem supremo; e em fazer a regeneração consistir num mudança de propósito. Os dois sistemas diferem, entretanto, no essencial quanto ao fundamento da obrigação moral ou natureza da virtude; e quanto à natureza dessa mudança de finalidade em que consiste a regeneração. O Professor Finney adota a teoria comum eudemonística que faz a felicidade do ser, quer dizer, do universo, o bem supremo; e portanto faz com que a virtude consista no propósito de governo promover essa felicidade, e todo pecado no propósito de buscar nossa própria felicidade, em vez da alegria de ser; consequentemente, a regeneração é uma mudança desse propósito, quer dizer, é uma mudança do egoísmo à benevolência. O Dr. Taylor, por sua vez, reconheceu o fato de que como o desejo da felicidade é um elemento constitutivo de nossa natureza, ou a lei de nosso ser, deve ser inocente, pelo que não deve confundir-se com o egoísmo. Ele portanto, deduziu que este desejo de felicidade é justamente o princípio de ação no controle de todas as criaturas sensíveis e racionais. O pecado consiste em buscar a felicidade na criatura; a santidade na busca da felicidade em Deus; a regeneração é o propósito ou a decisão de um pecador em busca de sua felicidade em Deus e não no mundo. Esta mudança de objetivo, ele às vezes chama uma “mudança 32 Ibid. p. 99. Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 32 de coração,” às vezes “dar o coração a Deus,” às vezes “amar a Deus.” Como a regeneração é a eleição de Deus como nosso bom chefe, é um ato inteligente, voluntário da alma, e portanto deve efetuar-se de acordo com as leis estabelecidas da ação mental. Supõe os atos preliminares de consideração, avaliação e comparação. O pecador contempla a Deus como fonte de felicidade, estima que sua adequação às necessidades de sua natureza. Compara-O com outros objetos de eleição, e decide escolher a Deus como sua porção. Às vezes a palavra regeneração é utilizada num sentido amplo, incluindo todo o processo de exame e decisão; às vezes num sentido restringido, pela própria decisão. Sendo tal a natureza da regeneração, é certamente provocada pela influência da verdade. A Bíblia revela a natureza de Deus, e Sua capacidade e vontade para fazer felizes Suas criaturas; exibe todos os motivos que devem determinar a alma para tomar Deus como porção. Como a regeneração é um ato racional e voluntário, é inconcebível que esta teria lugar, salvo em vista de considerações racionais. Não se nega a influência do Espírito neste processo. Admite-se o fato de que todas as considerações que deveriam determinar o pecador para fazer a eleição de Deus, fique sem efeito salvador, a menos que o Espírito o faça eficaz. Estas opiniões se apresentam em detalhe no “Christian Spectator” (uma revista trimestral) ao redor de 1829. Sobre a natureza da modificação em questão, o Dr. Taylor diz: “A regeneração, considerada como uma mudança moral da qual o homem é o tema — dando a Deus o coração — fazendo um novo coração — amando a Deus supremamente, etc., são termos e frases que, em uso popular, denota um ato complexo. . . . Estas palavras, em todo falar e escritura comum, usa-se para designar um ato, e entretanto, este ato inclui um processo de atividades mentais, que consistem na percepção e a comparação de motivos, a estimativa de seu valor relativo, e a eleição ou querer da ação exterior.” “Quando falamos dos meios de regeneração, usaremos a palavra regeneração num sentido mais limitado que seu conteúdo popular comum; e o confinaremos, principalmente por amor da fraseologia conveniente, ao Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 33 ato da vontade ou do coração, diferente de outros atos mentais relacionadas com ela; ou a esse ato da vontade ou do coração que consiste numa preferência de Deus a todos os outros objetos; ou a essa disposição do coração, ou que regula o afeto ou a finalidade do homem, que o consagra a serviço e glória de Deus.”33 “O amor ou o desejo da felicidade, é a principal causa ou razão de todos os atos preferivelmente ou eleição que fixa soberanamente sobre qualquer objeto. Em cada ser moral que forma um caráter moral, deve haver um primeiro ato moral preferivelmente ou eleição. Isto deve respeitar um único objeto, a Deus ou ao dinheiro, como o bom chefe, ou como um objeto de afeto supremo. Agora de onde vem essa opção ou preferência? Não de uma eleição prévia ou preferência do mesmo objeto, pois falamos da primeira eleição do objeto. A resposta que a consciência humana dá, é que o ser constituído com capacidade para a felicidade deseja ser feliz; e sabendo que ele é capaz de obter satisfação de diferentes objetos, considera que a maior felicidade pode ser derivada, e como neste respeito ele julga ou estima seu valor relativo, então ele escolhe ou prefere um ou outro como seu bem supremo. Embora isto deva ser o processo mediante o qual um ser moral forma a sua primeira preferência moral, substancialmente o mesmo processo é indispensável para uma mudança desta preferência. A mudança consiste na preferência de um novo objeto como o bem supremo; uma preferência que a preferência anterior não tem tendência a produzir, mas uma tendência direta a prevenir; uma preferência, portanto, não são resultado de, ou em qualquer maneira por uma prévia preferência de um objeto dado, mas resultam dos atos de considerar e comparar as fontes de felicidade, que são ditadas pelo desejo da felicidade ou o amor próprio.”34 Sendo a Regeneração uma mudança de finalidade, o modo em que se produz se explica assim. “Se o homem sem a graça divina é um agente 33 Christian Spectator, vol. i. New Haven, 1829, pp. 16-19. 34 Ibid. p. 21. Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 34 moral, então ele está qualificado a examinar, comparar e estimar os objetos de eleição como meio de felicidade, e capaz também de tal entusiasmo constitucional à vista do bem e o mal posto antes que ele, como poderia resultar em seu dar seu coração a Deus, sem a graça. ... O ato de dar a Deus o coração tem que produzir-se em perfeito acordo com as leis do livre-arbítrio e da ação voluntária. Se a graça que interpõe infringe essas leis, o efeito não pode ser a ação moral; e devem violar estas leis, se é que prescinde da classe de atividades intelectuais que agora se examina. O que quer que seja, portanto, a influência que assegura uma mudança de coração no pecador, a mudança em si é uma mudança moral, e implica o exercício de todas as faculdades e capacidades do agente moral, que na natureza das coisas são essenciais para uma ato moral.”35 Na página anterior se havia dito: “As Escrituras nos autorizama afirmar, em geral, que o modo de influência divina é consistente com a natureza moral desta mudança como um ato voluntário do homem; e, também, que é através da verdade, e implica a atenção à verdade da parte do homem.”36 “Não pode,” o Dr. Taylor pergunta: “Aquele que formou a mente do homem, chegar a ela com uma influência de seu Espírito, que concordará com todas as leis da ação voluntária e moral? Porque motivos, sem uma interposição divina, não assegurará esta mudança moral no homem pecador, e porque não têm a eficácia positiva em sua produção, deve Deus em sua produção dispensar os motivos por completo? Devem as conexões adequadas entre os motivos e os atos de vontade, ou entre o exercício dos afetos e a percepção de seus objetos, ser dissolvidas, e não têm lugar? Deve Deus, se por Sua graça Ele leva os pecadores a dar-Lhe seu coração em santo amor, obter a mudança de tal maneira que eles não terão a percepção prévia ou a vista do objeto de seu amor; e não sabem o que queiram ou a quem amam, em lugar de seus ídolos antigos? Limita assim uma teologia 35 Christian Spectator, 1829, p. 223. 36 Ibid. p. 17. Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 35 consistente ao Único Santo, e o obriga a obter o mais perfeito do impossível, na transformação do caráter moral do homem pecador?”37 Isto pode ser uma explicação correta do processo de conversão, com a que este sistema confunde a regeneração. A conversão é certamente um voltar voluntário da alma do pecado para Deus. Pela natureza do caso que se produz aproximadamente por motivos adaptados, ou não seria nem racional nem santo. Mas isto não prova nada quanto à natureza da regeneração. A análise mais precisa das leis da visão não pode lançar luz sobre a forma em que Cristo abriu os olhos dos cegos. Observações É evidente que estes pontos de vista da regeneração são meras teorias filosóficas. O Dr. Emmons assume que é tal a dependência de uma criatura ao Criador, que não pode agir. Nenhuma criatura pode ser uma causa. Não há eficiência nas segundas causas. Logo, é óbvio, a primeira causa deve produzir todos os efeitos. Deus cria tudo, até volições. Na alma só há atos ou exercícios. A regeneração, portanto, é um ato ou volição criado por Deus; ou, é o nome dado à abertura de uma nova série de exercícios que são santos em lugar de pecaminosos. O professor Finney assume que a capacidade plenária é essencial para a atividade moral; que um homem, pelo que respeita à sua vida interna, tem um poder só sobre suas eleições e volições; tudo, portanto, ao que é responsável, tudo o que constitui o caráter moral, deve cair sob a categoria de eleição, a seleção de um fim último. Assumindo, além disso, que a felicidade é o único bem absoluto, todo pecado consiste no exercício indevido de nossa própria felicidade, e toda virtude na benevolência ou na finalidade de buscar a felicidade do ser. A regeneração, portanto, consiste na mudança da finalidade de buscar nossa própria felicidade, com o fim de buscar como nosso fim último a felicidade do universo. 37 Ibid. p. 433. Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 36 O Dr. Taylor, está de acordo com o Professor Finney da natureza da atividade livre, e na doutrina de que a felicidade é o bem supremo, mantém com ele em que todo pecado e santidade consistem na ação voluntária. Mas assumindo que o amor próprio, diferente do egoísmo, é o motivo em toda ação moral racional, ele faz com que a regeneração consista na eleição de Deus como a fonte de nossa própria felicidade. Todas estas especulações estão fora da Bíblia. Não têm autoridade ou valor porque não se derivam de sua verdade inerente, e qualquer homem está em liberdade para controvertê-las, se não se encomendarem a sua própria razão e consciência. Mas além disso, o caráter puramente filosófico destes pontos de vista, seria fácil demonstrar, não só que não têm nenhuma base válida em que descansar, mas também em que são inconsistentes com os ensinos da Escritura e com a genuína experiência cristã. Isto será tratado quando o relato bíblico da regeneração for considerado. A regeneração não é uma mudança em nenhuma faculdade A regeneração não consiste numa mudança em qualquer dá faculdades dá alma, se na sensibilidade, ou a vontade ou ou intelecto. Segundo alguns teólogos, vos sentimentos ou ou coração, não sentido restringido dá palavra, É a sede exclusiva dou pecado original. A corrupção hereditária, em outras palavras, face-se consistir na aversão dou coração dá coisas divinas, e uma preferência corta coisas dou mundo. Ou fim a ser efetuado na regeneração, portanto, É simplesmente corrigir esta aversão. A compreensão, insiste--se, quanto À verdade moral e religiosa refere--se, entende corretamente e aprecia ou que se ama; e de igual maneira, não mesmo âmbito, cremos que ou entendemos como correto e bom. Portanto, se vos sentimentos forem atos ou que devem ser, todas ás demais operações dá mente, ou ou homem interior, terá razão. Esta teoria se baseia em parte numa visão errônea dou significado dá palavra “coração” usada nas Escrituras. Numa multidão de casos, e Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 37 em todos vos casos em que se fala dá regeneração, significa a alma inteira; quer dizer, inclui ou intelecto, a vontade e a consciência, assim como todos vos afetos. Daí a Bíblia fala dois olhos, dois pensamentos, dois propósitos, dois projetos, assim como dois sentimentos ou afetos dou coração. Na linguagem dá Escrituras, portanto, um “novo coração” não significa simplesmente um novo estado de sentimento, mas uma mudança radical na estado de toda a alma ou dou homem interior. Além disso, esta teoria passa por alto ou que a Bíblia constantemente assume: a unidade de nossa vida interior. Ás Escritura não contemplam ou intelecto, a vontade e vos afetos, como independentes, elementos separáveis de um todo. Estas faculdades São só diferentes formas de atividade em uma e a mesma subsistência. Nenhuma execução dá afetos pode ocorrer Sem um exercício dou intelecto, e, se ou objeto É moral ou religioso, Sem incluir um exercício te correspondam de nossa natureza moral. A regeneração não é meramente iluminação Outra teoria antagônica igualmente unilateral, é que o intelecto só está em falta, e que a regeneração reduz-se na iluminação. Este ponto de vista é muito mais plausível que o anterior. A Bíblia faz a vida eterna consistir no conhecimento; pecado é cegueira ou escuridão; a transição de um estado de pecado a um estado de santidade é uma translação da escuridão à luz; diz-se que os homens devem ser renovados até o conhecimento, quer dizer, o conhecimento é o efeito da regeneração, a conversão diz-se que é efetuada pela revelação de Cristo; o rechaço dEle como o Filho de Deus e Salvador dos homens refere-se ao fato de que os olhos dos que não creem estão cegados pelo deus deste mundo. Estas representações bíblicas provam muito. Demonstram que o conhecimento é essencial para todos os santos exercícios; que a verdade como objeto de conhecimento, é de vital importância, e que o erro é sempre mau e com frequência fatal; e que o efeito da regeneração, à medida que se manifesta em nossa consciência, consiste principalmente em Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 38 compreensão ou discernimento espiritual das coisas divinas. Estas representações também provam que na ordem da natureza, o conhecimento ou discernimento espiritual, é antecedente e causativo relativamente a todos os santos exercícios dos sentimentos ou afetos. É a compreensão da verdade espiritual que desperta o amor, a fé e alegria; e não o amor que produz o discernimento espiritual. Foi a visão que Paulo tinha da glória divina de Cristo que o fez imediatamente e para sempre seu adorador e servidor. As Escrituras, entretanto, não ensinam que a regeneraçãoconsiste exclusivamente na iluminação, ou que as faculdades cognitivas são exclusivamente o tema da força renovadora do Espírito. É a alma como tal a que está espiritualmente morta; e deve ser a alma um novo princípio de vida controlador de todos os seus exercícios, quer seja da inteligência, da sensibilidade, da consciência ou da vontade que se comunica. Não é uma mudança exclusiva dos mais elevados poderes da alma. Há outro ponto de vista do sujeito, que cai dentro deste cabeçalho do que pode chamá-la regeneração parcial. que se baseia em tricotomia, ou a assunção de três elementos na constituição do homem, ou seja, o corpo, a alma e o espírito (o σῶμα, ψυχή y πνεῦμα), o primeiro material, o segundo animal, o terceiro espiritual. Para o segundo, quer dizer, para a alma ou ψυχή, faz-se referência ao que o homem tem em comum com os animais inferiores, vida, sensibilidade, vontade e compreensão; para o espírito o que é peculiar a nós como seres racionais, morais, religiosos, ou seja, de consciência e razão. Este terceiro elemento, o πνεῦμα, ou razão, é com frequência chamada divina; às vezes em sentido literal, e às vezes num sentido figurado. Em qualquer caso, de acordo com a teoria em questão, não é a sede do pecado, e está corrompida pela Queda. Continua sendo, embora nublada e pervertida pela desordem nos departamentos mais baixos de nossa natureza, o ponto de contato e a conexão entre o homem e Deus. Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 39 Isto ao menos é um ponto de vista do assunto. Segundo outra opinião, nem o corpo nem a alma (que não sejam σῶμα nem ψυχή), tem um caráter moral. A sede da vida moral e divina é exclusivamente o πνεῦμα ou espírito. Diz-se que esta está paralisado pela Queda. É morto em sentido figurado, não suscetível de impressão das coisas divinas. Há tantas teorias sobre a natureza da regeneração entre os defensores desta tríplice divisão na constituição do homem, como há sistemas da antropologia. A ideia comum a todas, ou a uma maioria delas, é que a regeneração consiste na restauração do πνεῦμα ou o espírito à sua normal influência controladora de todo o homem. Segundo alguns, este é um processo natural em que um homem animal, quer dizer, um homem governado pela ψυχή, chega a ser razoável, ou pneumático, quer dizer, regido pelo πνεῦμα ou poderes superiores de sua natureza. Segundo outros, é um efeito sobrenatural devido à ação do Espírito (Πνεῦμα) divino sobre o πνεῦμα humano ou o espírito. Em qualquer caso, entretanto, o πνεῦματικός, ou o homem espiritual, não é alguém em quem habita o Espírito Santo como um princípio de uma nova vida, espiritual, mas que está governada por seu próprio πνεῦμα ou espírito. Segundo outros mais, o πνεῦμα ou razão no homem é Deus, a consciência de Deus, o Logos, e a regeneração é a ascendência adquirida gradualmente deste elemento divino de nossa natureza. Com referência a estes pontos de vista da regeneração é suficiente observar: (1.) Que a tríplice divisão de nossa natureza nos quais se fundou é antibíblica, como já tratamos de demonstrar. (2.) Admitindo que existe uma base para tal distinção, não é de classe assumida nestas teorias. A alma e o espírito não são distintas substâncias ou essências, uma das quais pode ser santa e a outra profana, ou negativa. Isto é incompatível com a unidade de nossa vida interior, que as Escrituras constantemente assumem. (3.) Subverte a doutrina escriturística da regeneração e a santificação para fazer o princípio que rege no novo ser seu próprio πνεῦμα ou espírito, e não o Espírito Santo. Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 40 Posturas especulativas modernas A filosofia especulativa moderna introduziu uma mudança tão radical nas opiniões entretidas da natureza de Deus, de Sua relação com o mundo, da natureza do homem e de sua relação com Deus, da pessoa e obra de Cristo e da aplicação de Sua redenção para a salvação dos homens, para que todas as antigas, e, pode-se dizer com segurança, formas das Escrituras destas doutrinas foram superadas, e outras que foram apresentadas, que são ininteligíveis sem a luz dessa filosofia, e que em grande medida reduzem as verdades da Bíblia à forma de dogmas filosóficos. Deixamos de ouvir do Espírito Santo como a terceira pessoa da Trindade, aplicando aos homens a redenção comprada por Cristo; da regeneração por Sua onipotência, ou de Sua morada nos corações dos crentes. As formas desta nova teologia são muito diferentes. Todos elas são talvez compreendidas sob três categorias: em primeiro lugar, as que são abertamente panteístas, apesar de que afirma ser cristã; em segundo lugar, as que são teístas, mas não admitem a doutrina da Trindade; e em terceiro lugar, os que tratarão de acomodar a teologia como um a filosofia nas formas da doutrina cristã. Ao todo, não obstante, a antropologia, a cristologia, a soteriologia, a eclesiologia defendidas, são tão mudadas que se tornam impossíveis de reter em sua exposição os termos e fórmulas com as quais a Igreja desde o princípio foi familiar. A regeneração, a justificação e a santificação são termos quase antiquados; e o que resta das verdades desses termos se utilizam para expressar, combinam-se na ideia de um desenvolvimento de uma nova vida divina na alma. Quanto à antropologia, estas modernas especulativas, ou como com frequência se chamam, e são chamados por outros, místicas, os teólogos ensinam: (1.) Que não há dualismo no homem entre a alma e o corpo. não há mais que uma vida. O corpo é a alma projetando-se para o exterior. Sem um corpo não há alma. (2.) Que não há verdadeiro dualismo entre Deus e o homem. A identidade entre Deus e o homem é o último resultado da especulação moderna; e é a ideia fundamental do cristianismo. Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 41 O corpo e a alma são um Quanto ao primeiro destes pontos, Schleiermacher 38 diz: “não há um ser espiritual e um mundo físico, corporal e uma existência espiritual do homem. Estas representações não conduzem a nada, mas o mecanismo morto de uma harmonia restabelecida. Corpo e espírito são reais só em e com o outro, de modo que a ação corporal e espiritual só pode ser relativamente distinta.” O falecido Presidente Rauch39 diz: “Um dualismo admite dois princípios para um único ser, oferece muitas dificuldades, e a maior é que não pode dizer como os princípios podem unir-se num terceiro. Um rio pode ter sua origem em duas fontes, mas uma ciência não pode, e muito menos a vida individual.” “Seria um erro dizer que o homem compõe-se de duas substâncias essencialmente diferentes, de terra e alma; mas ele é só a alma, e não pode ser outra coisa. Esta alma, entretanto, desdobra-se na vida externa do corpo, e internamente na vida da mente.” Assim Olshausen 40 ensina que a alma não tem subsistência, senão no corpo. O Dr. J. W. Nevin 41 diz: “Não temos direito de pensar no corpo de maneira nenhuma como uma forma de existência e por si mesmo, em que a alma como outra forma de existência é empurrada de uma maneira mecânica. Ambos formam uma vida. A alma para ser completa, para desenvolver-se absolutamente como uma alma, deve exteriorizar-se, lançar-se no espaço, e esta exteriorização é o corpo.” Deus e o homem são um Quanto ao segundo ponto, ou a unidade de Deus e o homem, como a alma se exterioriza no corpo, “dividindo a si mesmo, unicamente que sua unidade pode chegar a ser, portanto, mais livre e completa 38 Dialektik, sect. 290-295; Works, Berlin, 1839, 3d div. vol. iv. part 2. pp. 245-255. 39 Psychology, New York, 1840, pp. 169, 173. 40 Commentary, 1 Cor. xv. 20. 41 Mystical Presence, edit Philadelphia, 1846, p. 171. Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 42 intensamente,”42 desta maneira o próprio Deus Se exterioriza no mundo. Schleiermacherdiz, é em vão tratar de conceber a Deus como existente, quer seja antes ou fora do mundo. Podem distinguir-se no pensamento, mas são só “zwei Werthe pieles dieselbe Förderung, dois valores do mesmo postulado.” De acordo com esta filosofia, é igualmente verdadeiro: “não há mundo, não há Deus,” como “não há corpo, não há alma.” “O mundo,43 em seu ponto de vista inferior, não é simplesmente um teatro ou cenário em que o homem deve atuar sua parte como candidato para o céu. Em meio de todas as suas diferentes formas de existência, tudo está impregnado com o poder de uma só vida, que vem em última instância, a seu sentido pleno e a força só na pessoa humana.” O mundo, portanto, está impregnado pelo poder de uma só vida;” a forma mais alta dessa vida (na terra) é o homem. O que é essa vida? Qual é este princípio impregnante que se revela em formas múltiplas da existência, e culmina no homem? É, certamente, Deus. O homem, portanto, como Schleiermacher, diz, é “a forma existencial” de Deus na terra.44 Ullmann45 indica que os místicos alemães na Idade Média ensinaram “a unidade da Deidade e a humanidade.” Os resultados alcançados pelos místicos sob a guia dos sentimentos, diz ele, a filosofia moderna chegou pela especulação. Esta doutrina da unidade essencial de Deus e o homem, os teólogos especulativos adotam como ideia fundamental do cristianismo. Trabalhar essa ideia numa forma compatível com o teísmo e o Evangelho, é o problema que os teólogos trataram de resolver. Estes intentos deram lugar em alguns casos, ao panteísmo declarado cristão, como é chamado; em outros, em formas de doutrina tão perto de ser panteísta que dificilmente se distingue do próprio panteísmo; e em todos, numa 42 Mystical Presence, edit. Philadelphia, 1846, p. 172. 43 Mercersburg Review, 1850, vol. ii. p. 550. 44 Dorner’s Christologie, 1st edit., Stuttgart, 1839, p. 488. 45 “Charakter des Christenthums,” Studien und Kritiken, 1845, erstes Heft, p. 59. Veja-se também uma tradução deste artigo no princípio de The Mystical Presence, by J. W. Nevin, D. D. Philadelphia, 1846. Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 43 modificação radical, não só da teologia da Igreja como se expressa em suas normas recebidas, mas também da forma bíblica das doutrinas cristãs, se não de sua essência. Isto é visto como verdade na antropologia deste sistema, que destrói a diferença essencial entre o Criador e Suas criaturas, entre Deus e o homem. A cristologia desta teologia moderna já se apresentou em seus aspectos essenciais. Não há dualismo em Cristo como entre a alma e o corpo. Os duas são uma vida. Tampouco há dualismo entre a divindade e a humanidade nEle. O divino e o humano em Sua pessoa são uma vida. Ao ser o homem ideal ou perfeito, Ele é o Deus verdadeiro. A deificação que a humanidade tinha chegado em Cristo, não é um ato sobrenatural da parte de Deus; é alcançado por um processo de desenvolvimento natural em Seu povo, quer dizer, a Igreja. Soteriologia destes filósofos A soteriologia deste sistema é simples. A alma se projeta no corpo. Eles são uma vida, mas o corpo pode ser muito para a alma. O desenvolvimento desta única vida em sua forma dupla, para dentro e para fora, não pode ser simétrica. Portanto a humanidade como uma vida genérica, uma forma da vida de Deus, tal como se projeta externamente no mundo de Adão em diante, não se desenvolveu corretamente. Se fosse deixado sem ajuda não chegaria à meta, ou se desenvolve a si mesma como divina. Um novo começo, portanto, deve ser dado à mesma, um começo novo criado. Isto se faz mediante uma intervenção sobrenatural que resulta na produção da pessoa de Cristo. NEle a divindade assume a forma de um homem, — a forma de existência de homem, — Deus faz- se homem, e o homem é Deus. Esta entrada renovada, por assim dizer, de Deus ao mundo, esta forma especial de vida divino-humana, é o cristianismo, que é constantemente declarada “a vida de Cristo,” “uma nova vida teantrópica.” “Os homens fazem-se cristãos por ser partícipes desta vida. Convertem-se em partícipes desta vida pela união com a Igreja e a recepção dos sacramentos. A encarnação de Deus continua na Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 44 Igreja, e este novo princípio da “vida divino-humana” desce de Cristo aos membros de sua Igreja, tão naturalmente e tanto por um processo de desenvolvimento orgânico, como a humanidade, derivada de Adão, desdobra em si mesmo seus descendentes. Cristo, portanto, salva-nos, não tanto pelo que fez, como pelo que Ele é. Ele não fez nenhuma satisfação à justiça divina; nenhuma expiação pelo pecado; nenhum cumprimento da lei. Não há, portanto, realmente nenhuma justificação, nem verdadeiro perdão, inclusive, no sentido comum da palavra. Há uma cura da alma, e com essa cura a eliminação dos males incidentes à doença. Os que se fazem partícipes deste novo princípio de vida, que é verdadeiramente humano e verdadeiramente divino, fazem-se um com Cristo. Todo o mérito, justiça, excelência, e o poder, inerente à vida “divino-humana,” é óbvio, pertencem àqueles que participam dessa vida. Esta justiça, excelência, etc., são nossas. Elas são subjetivos em nós, e formam nosso caráter, assim como a natureza derivada de Adão era a nossa, com todas as suas corrupções e fraquezas. Se for perguntado o que é a regeneração, de acordo com este sistema, a resposta provavelmente seria, que é um termo obsoleto. Não há espaço para o que geralmente era significado pela palavra, e não há razão para manter a própria palavra. A regeneração é uma obra do Espírito Santo. Mas este sistema em sua integridade não reconhece o Espírito Santo como uma pessoa distinta ou agente. E os que se veem obrigados a fazer o reconhecimento de Sua personalidade, são evidentemente envergonhados pela admissão. O que as Escrituras e o atributo da Igreja ao Espírito, operando com a liberdade de um agente pessoal, quando e onde lhe pareça, este sistema atribui à “a vida teantrópica” de Cristo, operando como uma nova força, de acordo com as leis naturais do desenvolvimento.46 A impressão feita sobre os leitores dos teólogos modernos desta escola, é a realizada por qualquer outra forma de disquisição filosófica. 46 Mystical Presence, edit. Philadelphia, 1846, pp. 225-229. Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 45 Não tem, e de sua própria natureza não pode ter nada mais que a autoridade humana. Este sistema pode ser adotado como uma questão de opinião, mas não pode ser um objeto de fé. E portanto não pode apoiar as esperanças de uma alma consciente da culpa. Na volta de tais escrituras à Palavra de Deus, a transição que estes teólogos nos querem fazer crer, é de culpa à fé, mas a consciência do cristão, é como a transição da confusão de línguas em Babel, onde ninguém entende a seus companheiros, à enunciação harmoniosa daqueles “que falaram sendo inspirados pelo Espírito Santo.” Doutrina de Ebrard Dos escritores que pertencem à classe geral de teólogos “especulativos”, alguns se aderem muito mais perto das Escrituras que outros. O Dr. J. H. A. Ebrard, de Erlangen, já tem sido reiteradamente referido como afeito à fé reformada; e em que conscientemente se aparta dela, ele se considera como único a cumprir seus princípios legítimos. Seu “Dogmatik,” de fato, tem um caráter muito mais bíblico que a maioria dos sistemas modernos da Alemanha. Em Ebrard, como em outros, encontramos um compromisso entre a doutrina da Igreja da regeneração e a moderna teoria da encarnação de Deus na raça humana. Não só é uma distinção que faz entre o arrependimento, a conversão, e a regeneração; mas também verdadeiro arrependimento e a conversão autêntica são feitos preceder à regeneração. Os dois anteriores tomam lugar na esfera da consciência. Em todos os estados e exercícios relacionados com o arrependimento e a conversão, a almaé ativa e cooperativa; e a única influência exercida por Deus ou Seu Espírito, é mediata e moral. Não é até que o pecador obedeceu à ordem de arrepender-se, crer em Cristo, e a voltar a Deus, que Deus dá à alma esse algo divino que a torna uma nova criatura, e sua união vital orgânica com Cristo. Neste último processo a alma é simplesmente passiva. Deus é o único agente. O que se diz que é comunicada à alma é Cristo, a pessoa de Cristo, a vida de Cristo, Sua Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 46 substância, ou uma nova substância. Uma distinção, entretanto, faz-se entre essência e substância. Ebrard insiste47 em que o mais oculto, o germe substancial de nosso ser é nascer de novo na regeneração — não meramente mudado, mas recém-nascido. Entretanto, diz que a “essentia animæ humanae” não se muda, e assente à declaração de Bucan: “Renovatio fit non quoad essentiam ut deliravit Illyricus, sed quoad qualitates inhærentes.” O que ele afirma,48 com frequência em outras partes, quer dizer, “Que Cristo, real e substancial, nasce em nós.” Mas acrescenta que as palavras “real e substancial” se utilizam para proteger- se contra a hipótese de que a regeneração consiste simplesmente num pouco de exercício interior, ou estado transitório da consciência. É, como ele ensina realmente, muito mais; algo menor que a consciência; uma mudança no estado da alma, que determina os atos e exercícios que se manifestam na consciência, e se manifestam na vida. Encontra sua doutrina da regeneração, não no que Calvino e alguns poucos dos teólogos reformados ensinaram sob esta divisão, mas no que eles ensinam da Ceia do Senhor, e da união mística. Calvino49 diz: “Sunt qui manducare Christi carnem, et sanguinem ejus bibere, uno verbo definiunt, nihil esse aliud, quam in Christum ipsum credere. Sed mihi expressius quiddam ac sublimius videtur voluisse docere Christus . . . . nempe vera sui participatione nos vivificari. . . .Quemadmodum enim non aspectus sed esus panis corpori alimentum sufficit, ita vere ac penitus participem Christi animam fieri convenit, ut ipsius virtute in vitam spiritualem vegetetur.” “Temos aqui sem dúvida,” diz Ebrard,50 “a doutrina de uma comunicação secreta, mística da substância de Cristo ao centro importante no homem (a ‘alma’), que se desenvolve por um lado, no físico, e por outro, na vida puramente intelectual.” 47 Dogmatik, edit. Königsberg, 1852, vol. ii. p. 320. 48 Ibid. p. 300. 49 Institutio, IV. xvii. 5, edit. Berlin, 1834, vol. ii. p. 403. 50 Dogmatik, vol. ii. p. 310. Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 47 Estes escritores estão corretos em negar que a regeneração é uma mera mudança nos propósitos, ou sentimentos, ou estados de consciência de alguma classe no homem; e também em afirmar que se trata da comunicação de um novo e permanente princípio da vida à alma. Mas se apartam da Escritura e da fé da Igreja universal na substituição da natureza teantrópica de Cristo,” “sua vida divino-humana,” “a humanidade genérica curada e elevada à potência de uma vida divina” (quer dizer, deificada), pelo Espírito Santo. Esta substituição faz-se abertamente na obediência à ciência moderna, à nova filosofia que tem descoberto uma verdadeira antropologia e revelou “a verdadeira unidade de Deus e o homem.” Como já se comentou, supõe-se que a transmissão da natureza “teantrópica de Cristo” levava consigo seus méritos, assim como sua bênção e poder. Tudo o que temos de Cristo, temos dentro de nós. E se podemos descobrir pouco de Deus, e pouco como Deus em nossas almas, tão pior. É tudo o que temos que esperar, até que nossa vida interior se desenvolva. O Cristo interior (como alguns dos Amigos [Quakeres] também ensinam), é, segundo este sistema, todo o Cristo que temos. Ebrard, portanto, segundo uma opinião identifica a regeneração e a justificação. “Regeneração,” diz,51 “como o ato de Cristo, é a causa (‘causa efficiens’) da justificação; Ele comunica Sua vida a nós, e desperta uma nova vida em nós. Esta é a justificação, uma mudança interior subjetiva, o que implica mérito, assim como a santidade. Este fator de confusão a obra do Espírito Santo na regeneração, com o ato judicial, objetivo da justificação, pertence ao sistema. Ao menos, é só no terreno da vida infundida que se pronunciam justos aos olhos de Deus. O que recebemos é “a verdadeira vida divino-humana de Cristo,” e “o que pode ser de mérito, virtude, eficácia ou valor moral de qualquer maneira, na obra mediadora de Cristo, tudo é apresentado na vida, pelo poder de que solo este trabalho se obteve, e na presença dos que só pode- se ter a realidade ou a estabilidade. A imaginação de que os méritos da 51 Ibid. p. 315. Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 48 vida de Cristo pode ser separado de sua própria vida, e transmitidos sobre seu povo nesta forma de resumo, no terreno de uma constituição jurídica meramente externa, não é bíblico e contrário a toda razão, ao mesmo tempo.”52 A regeneração consiste na comunicação da vida de Cristo, sua substância, à alma, e esta vida divino-humana compreendendo todo o mérito, virtude, ou eficácia que pertence a Cristo e sua obra, — regeneração consiste na justificação, da que é a base e a causa. Doutrina de Delitzsch Delitzsch dedica uma divisão de sua “Biblical Psychology” ao tema da regeneração. Começa o debate com um discurso sobre a pessoa de Cristo. “Quando se deseja examinar a nova vida espiritual do homem redimido, partimos do divino arquétipo humano, a pessoa do Redentor.”53 O homem foi, quanto ao seu espírito e sua alma, sua composição originária, a imagem de Deus, e o espírito era a “imagem de Sua natureza triúna e a última [a alma] de Sua sétupla ‘doxa.’ O homem estava em liberdade para conformar sua vida com o espírito, ou o princípio divino dentro dele, ou permitir o controle de sua vida a ser assumida pela alma. A ruína era a consequência da Queda. Isto pode ser corrigido e o homem redimido só por “um novo começo da intensidade criativa similar.”54 Este novo início foi efetuado na encarnação. O Filho de Deus fez-Se homem, não por assumir nossa natureza, no sentido comum dessas palavras, mas por deixar de ser todo-poderoso, onisciente e onipresente, e encolhendo para Si mesmo os limites da humanidade. Era uma vida humana em que Ele assim entrou, uma vida como um espírito, alma e corpo. Não há dualismo na pessoa de Cristo, como entre o corpóreo e o espiritual, ou entre o humano e o divino. É a natureza 52 Mystical Presence, by J. W. Nevin, D. D., Philadelphia, 1846, p. 191. 53 A System of Biblical Psychology, by Franz Delitzsch, D. D., translated by R. R. Wallis, Ph. D.; Edinburgh, 1867, p. 381. 54 Ibid. p. 382. Teologia Sistemática (Charles Hodge) – Volumes I, II, III 49 divina em forma humana, ou esta natureza divino-humana, que é pura e simples, embora perfeitamente humana, que se comunica ao povo de Deus em sua regeneração. Para esta comunhão na vida de Cristo, a fé é indispensável, e portanto, diz Ebrard, os bebês não podem ser objeto de regeneração, conquanto Delitzsch, luterano, sustenta que os crianças são capazes de exercer a fé, e, portanto são suscetíveis de ser regeneradas. O que se recebe de Cristo, ou a de Seu povo, que são feitos partícipes, é “o Espírito, a alma, o corpo de Cristo”55 O novo homem, ou o segundo Adão, fez-se um “espírito que dá vida,” e pouco a pouco submete o velho homem, ou nossa natureza de Adão, e traz todo o homem (πνεῦμα, ψυχή y σῶμα), espírito, alma e corpo, à altura da vida de Cristo, em quem o divino e o humano se fundem num, ou antes, aparecem em sua unidade original. A comunicação da vida teantrópica à alma é um ato do Espírito divino em que não temos nem a atividade