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COACHING E CARREIRA Ana Clara Aparecida Alves de Souza Coaching e gestão do desempenho humano Objetivos de aprendizagem Descrever o processo de gestão do desempenho humano. Identificar o papel do coaching para feedbacks assertivos e as boas práticas de feedback. Relacionar comunicação, coaching e modelos de gestão do desempenho. Introdução O coaching, pelas premissas que o fundamentam, configura-se como uma metodologia que busca a potencialização do desempenho dos assessorados (coachees), de maneira que, independentemente da neces- sidade apresentada, o estímulo seja voltado tanto para questões pessoais quanto para questões profissionais. O processo é desafiador, uma vez que a proposição da metodologia não é identificar necessidades e entregar soluções, mas criar mecanismos que envolvem uma melhor comunica- ção, uma maior autoconsciência e uma maior responsabilidade sobre as próprias práticas. O coaching estimula a identificação de cenários e leva o assessorado a refletir sobre como as coisas se configuram, qual é a sua participação nessa configuração e como ele pode se moldar conforme aquilo que sabe e pode mobilizar. Assim, encontram-se respostas a partir da própria reflexividade. Neste capítulo, você vai compreender como ocorre o processo de gestão do desempenho. Nessa perspectiva, você vai avaliar o papel do coaching para feedbacks assertivos, reforçando boas práticas de feedback. Por fim, você vai analisar a relação entre comunicação, coaching e modelos de gestão do desempenho. Processo de gestão do desempenho A sociedade contemporânea está passando por um período de grandes trans- formações sociais, políticas, econômicas e culturais, às quais as organizações precisam se adaptar continuamente. Como exemplos, podemos citar os efeitos da globalização e as novas tecnologias de informação e comunicação, que afetam as relações sociais globalmente. Essas grandes transformações resultam em um processo de reestruturação produtiva, que abrange processos de racionalização organizacional e técnicas inovadoras incorporadas ao ambiente empresarial, como novas tecnologias e novos modelos de gestão. Na busca pela vantagem competitiva, diante desse ambiente em constante mudança, as organizações têm buscado maneiras de se aperfeiçoarem por meio da melhoria do seu desempenho, conforme lecionam Ribeiro e Reis Neto (2017). A gestão do desempenho começou a se apresentar como um mecanismo necessário às empresas a partir do surgimento do capitalismo e das grandes indústrias. É na concepção da administração como ciência que as escalas e os processos para avaliação do desempenho tomaram corpo e, desde então, evoluem com base nas diversas configurações possíveis da atualidade. Se- gundo Brandão e Guimarães (2001), inicialmente, a gestão de desempenho consistia em uma metodologia que buscava controlar o tempo e os movimentos. A partir daí, a gestão de desempenho evoluiu, passando a considerar outros fatores fundamentais do processo organizacional, incluindo questões mais particulares dos colaboradores. A gestão do desempenho consiste em um processo maior de gestão organizacional, que permite rever estratégias, objetivos, processos de trabalho e políticas de recursos humanos. O objetivo desses processos maiores é corrigir desvios, dando sentido de continuidade e sustentabilidade à organização. A proposição fundamental da gestão por desempenho é integrar subsistemas de recursos humanos (gestão de carreira, remuneração, recrutamento e seleção, treinamento e desenvolvimento, entre outros) à estratégia da organização. Pode também empregar diferentes tipos de indicadores, relacionados ao resultado do trabalho ou ao comportamento ou processo utilizado para alcançá-lo. No nível Coaching e gestão do desempenho humano2 individual, a gestão de desempenho pode, por exemplo, avaliar o trabalhador pelos resultados decorrentes do trabalho realizado e pelos conhecimentos, habilidades e atitudes manifestadas — enfim, suas competências —, relevantes para a consecu- ção de objetivos organizacionais, conforme apontam Brandão e Guimarães (2001). Nesse sentido, Brandão e Guimarães (2001) discorrem sobre as aproxi- mações possíveis entre a gestão de competências e a gestão de desempenho, conforme mostra a Figura 1. Os autores destacam a ênfase nas pessoas nesses processos, que buscam a melhoria do desempenho das organizações. Nessa perspectiva, a gestão de competências e a gestão de desempenho podem ser compreendidas como instrumentos que fazem parte de um movimento que se volta a oferecer alternativas eficientes à gestão das organizações. Figura 1. Processo de gestão de desempenho baseado em competências. Para se configurarem como práticas gerenciais inovadoras, Brandão e Guimarães (2001) defendem que a gestão de competências e a gestão de desempenho devem ter como objetivo, principalmente, o desenvolvimento das pessoas em um sentido mais amplo, não focando apenas na melhoria das performances profissional e organizacional. Dessa forma, competência e desempenho representariam um valor econômico para a organização e um valor social para o indivíduo. O coaching se centra nessa noção fundamental de potencialização do indivíduo nas suas mais diversas esferas sociais e busca promover essa po- tencialização por estímulos reflexivos e comunicacionais. Junto com a ino- vação dos instrumentos de gestão do desempenho, que trata de desenvolver 3Coaching e gestão do desempenho humano o indivíduo para além do âmbito profissional, surge o desafio de colocar essa mudança em prática. Para tanto, a implementação dessa nova perspectiva da gestão de desempenho deve vir acompanhada das práticas de aprendizagem coletiva, de desenvolvimento de equipes e de gestão do conhecimento. Assim, podem ser oferecidas múltiplas oportunidades de crescimento profissional, que estimulem as pessoas não apenas a desenvolver coletivamente competências, mas também a compartilhá-las. Na gestão de desempenho, o coaching pode ser utilizado como mecanismo para estimular o acompanhamento contínuo. Brandão et al. (2008) destacam que instrumentos de gestão do desempenho permitem que a organização identifique o gap existente entre as competências necessárias para concretizar a estratégia corporativa e as competências dispo- níveis internamente. A partir desse diagnóstico, a organização pode planejar ações, visando a captar e desenvolver competências. No final do processo, ocorre uma avaliação, em que os resultados alcançados são comparados com os que eram esperados, gerando informações para retroalimentar o processo. Cokins (2004) lembra que, mesmo com uma estratégia claramente defi- nida, os conflitos são uma condição natural nas organizações. Entretanto, a resolução de problemas e a melhoria no desempenho requerem cooperação, trabalho em equipe e pessoas que se esforcem visando ao benefício de todos. O autor exemplifica que algumas empresas de capital aberto são pressionadas por investidores a cortarem custos, para atender às expectativas de lucro, e isso, geralmente, se traduz em demitir funcionários. Entretanto, as decisões baseadas apenas em demissões e reduções de custos podem roubar de uma organização seus principais talentos. Dessa forma, é necessário que os sistemas de recursos humanos reconhe- çam os funcionários como ativos intangíveis a serem valorizados, cada um com habilidades e experiências únicas. Nesse sentido, a gestão deve buscar o aumento do lucro, obtendo mais de seus recursos existentes, em vez de removê-los com demissões. Esse imperativo aumenta o interesse na gestão de desempenho. Alinhando-se a essa perspectiva de validade e utilidade do processo de gestão de desempenho, Ribeiro e Reis Neto (2017) afirmam que identificar o profissional com desempenho superior, que traz resultados significativos para a empresa e que não deveria ser perdido para o mercado, é ainda um desafio, tanto para os gestores quanto para a área de recursos humanos,