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CONSULTA FÍSICO-FUNCIONAL / FISIOTERAPÊUTICA 1. O DIAGNÓSTICO FISIOTERAPÊUTICO “Para o fisioterapeuta o movimento é o seu trabalho. E para o ser humano estar vivo é estar em movimento. Então, o fisioterapeuta deve ser o primeiro profissional a ser buscado pelo ser humano, para que este tenha boa qualidade de vida” Lucas, 2009. --------------------------------------------------------------------------------------------------------- Independentemente das especialidades fisioterapêuticas, resguardando métodos e técnicas específicas das mesmas, o diagnóstico relativo à consulta do fisioterapeuta, também conhecido como diagnóstico cinesiológico funcional, tem o sistema de movimento como principal objeto de análise. Pois é sabido que à luz do movimento humano podemos encontrar situações cinesiopatológicas ou patocinesiológicas. Ou seja, disfunções de movimento que podem determinar doenças, ou doenças que podem determinar disfunções de movimentos, respectivamente. Neste sentido, é importante frisar o que representa o diagnóstico geral fisioterapêutico, citando MOURA FILHO1: “.....O Diagnóstico Fisioterapêutico constitui o conjunto de procedimentos e rotinas diagnósticas, realizadas pelo fisioterapeuta, com a finalidade de identificar, quantificar e qualificar o distúrbio cinético-funcional 2 de órgãos e sistemas, sensíveis à abordagem fisioterapêutica, direta ou sinergicamente. Cada profissional de saúde elabora o diagnóstico de seus pacientes voltado às suas peculiaridades de intervenção. No caso do profissional ter no bojo de sua intervenção profissional a administração farmacológica, o tipo de distúrbio a ser identificado, qualificará o distúrbio de forma a encaminhar esta tipicidade de abordagem. Tomemos como exemplo a Asma Brônquica. Este é um exemplo de diagnóstico nosológico, peculiar à abordagem médica. Esta entidade nosológica, sob a perspectiva médica, envolverá uma abordagem farmacológica para tratar o distúrbio imunológico envolvido, combatendo o edema de mucosa e o broncoespasmo. Sob a ótica fisioterapêutica, o paciente não tem asma, mas uma discinesia muscular respiratória associada ao conjunto de distúrbios mecânicos identificados como "limitação do fluxo aéreo", com diversos componentes cinetico-funcionais envolvendo os músculos respiratórios e o comprometimento da biomecânica toraco- abdominal. O Diagnóstico Fisioterapêutico foi previsto na Resolução número 80 (anexo 01) do Egrégio COFFITO, publicada no D.O.U. 093 de 21/05/87, Seção I, Pág. 7609, cujo Artigo 1º é transcrito a seguir: "É competência do FISIOTERAPEUTA, elaborar o diagnóstico fisioterapêutico compreendido como avaliação físico-funcional, sendo esta, um processo pelo qual, através de metodologias e técnicas fisioterapêuticas, são analisados e estudados os desvios físico- funcionais intercorrentes, na sua estrutura e no seu funcionamento, com a finalidade de detectar e parametrar as alterações apresentadas, considerados os desvios dos graus de normalidade para os de anormalidade; prescrever, baseado no constatado na avaliação físico- funcional as técnicas próprias da Fisioterapia, qualificando-as e 3 quantificando-as; dar ordenação ao processo terapêutico baseando- se nas técnicas fisioterapêuticas indicadas; induzir o processo terapêutico no paciente; dar altas nos serviços de Fisioterapia, utilizando o critério de reavaliações sucessivas que demonstrem não haver alterações que indiquem necessidade de continuidade destas práticas terapêuticas." A elaboração do diagnóstico fisioterapêutico é realizada no procedimento de CONSULTA, procedimento este, que requer a aplicação dos recursos de diagnose para que sejam elaborados o PROGNÓSTICO, ou seja, a estimativa do nível de funcionalidade e as potencialidades a serem obtidas, na previsão de um determinado período de tempo e o PLANO DE INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA. Um Diagnóstico Fisioterapêutico adequado é o único meio para a prescrição e administração de uma abordagem fisioterapêutica eficaz. É recomendado ao fisioterapeuta que sistematize sua rotina de consulta na clínica, consultório ou hospital, dando a importância adequada a este procedimento, realizando num espaço adequado, seja no consultório ou na enfermaria, com privacidade, silêncio, boa iluminação e ventilação. Apesar de que alguns profissionais enfrentam alguma dificuldade para realizarem suas consultas por conveniências de alguns serviços em função de adequações aos planos de saúde, somos convencidos de que a própria sociedade se encarregará de reconhecer a desqualificação destes serviços, migrando naturalmente para serviços e profissionais que administram uma prática fisioterapêutica compromissada com a qualidade e com a efetividade de suas intervenções....” Existe uma característica muito marcante no diagnóstico fisioterapêutico quando comparado ao diagnóstico nosológico (médico). Normalmente o diagnóstico médico faz referência ao comprometimento dos órgãos ou das estruturas componentes dos mesmos. Mas, o diagnóstico fisioterapêutico faz referências às funções normalmente relacionadas a estes órgãos ou estruturas. E obviamente as funções 4 comprometidas relacionadas ou não com o diagnóstico médico são as que se referem ao movimento. Sendo assim, a conclusão diagnóstica fisioterapêutica pode ser múltipla, pois os componentes a serem analisados a partir das disfunções de movimento devem ser explorados individualmente, para que possam ser quantificados e qualificados, com ou independentemente do diagnóstico nosológico. Os itens, ou funções relacionadas ao movimento, mais comuns do diagnóstico fisioterapêutico, independentemente da especialidade fisioterapêutica, são a mobilidade articular ativa e a força muscular. Juntamente com estas há possibilidade de se quantificar e qualificar o tônus muscular, a coordenação motora, a resistência muscular, reflexos musculares e outras funções neurológicas, além de funções relacionadas à marcha. Uma peculiaridade do diagnóstico fisioterapêutico é a necessidade de aprofundar a interpretação da função sensorial “dor” se a história clínico-fisioterapêutica demonstrar que está interferindo em demais funções relacionadas ao movimento. Por exemplo, a amplitude de movimento de determinado complexo articular apresenta determinado percentual de incapacidade para determinando movimento, tendo em vista a presença de dor. Nestas situações a quantificação da incapacidade deste movimento estará baseada no quantitativo de dor, e não no encontrado gonimetricamente para o movimento. Ou seja, a dor prepondera ao diagnóstico do movimento. O profissional fisioterapeuta não pode deixar de levar em consideração que o seu laudo ou parecer deve compor um diagnóstico próprio e de acordo com a 5 Resolução 370 de novembro de 2009 (anexo 02). Nesta existe a obrigatoriedade profissional de concluir suas consultas de acordo com os padrões de equiparação da CIF – Classificação Internacional de Funcionalidade Incapacidade e Saúde. Desta forma, como a Resolução 370 determina que sejam quantificadas, qualificadas e codificadas as incapacidades físico-funcionais, é importante que o profissional fisioterapeuta desenvolva seu diagnóstico sob suas bases, sendo diagnóstico geral ou específico. Não importando a função, o diagnóstico deve ser equiparado quantitativamente e qualitativamente conforme abaixo: Figura 01. Referencial de equiparações quantitativas à CIF Quadro 01. Quantificação, Qualificação e Codificação pela CIF. 6 2. QUANTIFICAÇÃO, QUALIFICAÇÃO e CODIFICAÇÃO PELA CIF Especificamente os fisioterapeutas devem executar seus diagnósticos cinesiológicos funcionais de acordo com a Resolução 370 do COFFITO (anexo 02). Esta resolução versa sobre a utilização da CIF – Classificação Internacional de Funcionalidade,Incapacidade e Saúde6, da OMS – Organização Mundial da Saúde. Para a composição adequada da codificação orientada pela CIF é muito importante que o diagnóstico da estrutura comprometida esteja claro. Ou seja, o diagnóstico do profissional médico será elucidador para a complementação da codificação da estrutura relacionada ao movimento (ossos, tendões articulações, tendões e músculos principalmente). Para a emissão do diagnóstico físico-funcional, geralmente não há necessidade de se adicionar códigos “d” e “e” da CIF. Devemos então fazer breve explanação sobre a CIF. 7 2.1 Contexto da CIF – Classificação Internacional de Funcionalidade Incapacidade e Saúde. Traduzindo da página oficial da OMS – Organização Mundial de Saúde, assim como a CID – Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde6, mais comumente conhecido como o CIF, também é uma classificação da OMS. Esta versa sobre a saúde e domínios relacionados à saúde. Estes domínios são classificados a partir do corpo, das perspectivas individuais e sociais, por meio de duas listas, Uma lista de Funções e Estruturas do corpo, e uma lista de domínios de Atividade e Participação, pois o funcionamento de um indivíduo e a deficiência que o mesmo possa apresentar, ocorre em um contexto. Ela foi endossada por todos os países membros da OMS (total de 191) na sua 54ª Assembleia em 22 de Maio de 2001, e foi traduzida para a língua portuguesa, versão brasileira em 2003. Como classificação, a CIF agrupa sistematicamente diferentes domínios de uma pessoa com uma determinada condição de saúde. A Funcionalidade é um termo que engloba todas as funções do corpo, atividades e participação. De maneira similar, Incapacidade é um termo que inclui deficiências, limitação de atividades ou restrição na participação. A CIF também relaciona os fatores ambientais que interagem com todos estes constructos. Neste sentido, a classificação permite ao utilizador registrar perfis úteis da funcionalidade, incapacidade e saúde dos indivíduos em vários domínios. As análises dos domínios da CIF se baseiam em seus capítulos e devem ser resumidas a códigos, que objetivam a uniformidade internacional para compreensão da saúde mundial. As pesquisas e condutas de interferência para a melhora da saúde de determinada região são, dentre outros, objetivos da CIF e da CID pela OMS. São 08 (oito) capítulos para Funções do Corpo, 08 (oito) para Estruturas do Corpo, 09 (nove) para atividades e participação, e 05 (cinco) para Fatores Ambientais. 8 Quadro 02. Estrutura básica da CIF As valências físicas mais comprometedoras da funcionalidade, e que são alvo de uma consulta geral fisioterapêutica são a “força” a “mobilidade articular”. Na CIF estão presentes capítulos com códigos nos permitem quantificar por equiparação estas valências físicas. De uma maneira prática, o capítulo 7 da CIF é o ponto de partida para a atuação fisioterapêutica, e os códigos de “força” e “mobilidade articular” são peças fundamentais para a confecção dos documentos clínicos e legais fisioterapêuticos. Qualquer outra função determinadas por capítulos da CIF e que interfira com o movimento também deverá ser quantificada. O fisioterapeuta deve conhecer principalmente os qualificadores da CIF para Estruturas e Funções do Corpo, para que possa desenvolver uma codificação de incapacidade encontrada. As funções corporais como força, mobilidade articular, dor, sensibilidade, equilíbrio, marcha, dentre outras, possuem somente um qualificador. Este qualificador é o de gravidade da alteração da função. Já o código de estruturas do corpo, que são as regiões anatômicas determinadas pelo CID, possuem 03 (três) qualificadores: o de gravidade, o de natureza da alteração estrutural e o de localização: 9 Fig. 02. Qualificadores e Quantificadores de funções e estruturas CIF. Exemplo: Como compor um quadro de diagnóstico geral fisioterapêutico para o caso de um examinado do sexo feminino, 48 anos, que apresenta amplitude de 135º para o movimento de abdução do complexo articular do ombro esquerdo, apresenta força de preensão manual de 19 kgf e que refere dor grau 4 ao movimento ativo analisado. A documentação nosológica apresenta uma codificação CID S42.0 e informação que a fratura atingiu 75% do corpo do osso. a) Análise da Mobilidade Articular O normal seria 180º para o movimento de abdução5. Como o examinado apresentou 135º de amplitude de forma ativa, possui então 75% da capacidade ideal. Significa então que seu déficit, ou incapacidade de movimento de abdução, será a diferença entre o ideal e o encontrado no exame. Possui então 25% de incapacidade, equivalente a 100% - 75%. Este déficit quantitativo se encontra entre 25% e 50% pelo equiparador da CIF, sendo então classificado como MODERADO. 10 Para desenvolver a codificação basta acessar o Capítulo 7 da CIF – Funções relacionadas ao movimento - e localizar o código base relacionado à mobilidade articular de várias articulações, já que foi analisado o complexo articular do ombro (não se analisa o ombro como se fosse uma articulação). Sendo assim, o código mais adequado é o b7101. Adicionando o qualificador do equiparador da CIF para funções graves, o código passa a ser escrito como b7101.3. Fig. 03. Equiparação da CIF para mobilidade articular de 180º. b) Análise da Força Muscular O normal seria 44 kgf para a força de preensão manual com a utilização do dinamômetro Jamar3. Como o examinado apresentou 19 kgf, possui então 43% da capacidade ideal. Significa então que seu déficit, ou incapacidade de força de preensão, será a diferença entre o ideal e o encontrado no exame. Possui então 57% de incapacidade, equivalente a 100% - 43%. Este déficit quantitativo se encontra entre 50% e 95% pelo equiparador da CIF, sendo então classificado como GRAVE. Para desenvolver a codificação basta acessar o Capítulo 7 da CIF – Funções relacionadas ao movimento - e localizar o código base relacionado à força muscular. Sendo assim, o código mais adequado é o b7300. Adicionando o qualificador do equiparador da CIF para funções graves, o código passa a ser escrito como b7300.3. 11 Fig. 04. Equiparação da CIF para força de preensão manual de 44 kgf. c) Análise da Sensibilidade Dolorosa ao Movimento Ativo de Abdução O normal seria não apresentar dor ao movimento. Como o examinado apresentou pela escala numérica de referência4 o valor 4, possui então 40% de incapacidade. Fig. 05. Representação de uma escala visual para referencial de dor. Este déficit quantitativo se encontra entre 25% e 49% pelo equiparador da CIF, sendo então classificado como MODERADO. Para desenvolver a codificação basta acessar o Capítulo 2 da CIF – Funções sensoriais e dor - e localizar o código base relacionado à dor nas articulações. Sendo assim, o código mais adequado é o b28016. Adicionando o qualificador do equiparador da CIF para funções moderadas, o código passa a ser escrito como b28016.3. 12 Fig. 06. Equiparação da CIF para sensibilidade dolorosa. d) Análise da Estrutura Comprometida No Capítulo 7 da CIF – Estruturas relacionadas ao movimento - o código da estrutura comprometida é s7200 para “ossos da região do ombro”. Como há informação que o comprometimento da estrutura óssea é de 75%, o primeiro qualificador do código será “3”. A natureza da alteração estrutural para determinação do segundo qualificador é “5”, relacionado à “descontinuidade”. A posição da estrutura, como se trata do esqueleto apendicular direito, recebe o terceiro qualificador como número “1”. Sendo assim o código CIF completo da estrutura seria s7200.351. Fig. 07. Equiparaçãoda CIF para o comprometimento estrutural. Importante observar neste exemplo, que o aspecto sensorial da dor ficou em um patamar quantitativo abaixo do determinado pela mobilidade articular. Significa então, que o movimento de abdução do complexo articular do ombro direito possui uma incapacidade de 69% efetivamente. Ou seja, se a dor 13 quantificada possuísse um escore acima do analisado para a mobilidade articular, o escore desta seria preponderante para a esta mobilidade. Neste sentido, a incapacidade do movimento seria a mesma apontada para a dor. Veja então como ficaria o resumo do diagnóstico fisioterapêutico, observando que há para o exame realizado “vários” diagnósticos para o mesmo problema nosológico: FUNÇÃO QUANTIFICADOR QUALIFICADOR CÓDIGO Mobilidade Articular Ativa – Abdução: Marques/20032 69% GRAVE b7101.3 Força de Preensão Manual: Dinamômetro Jamar3 57% GRAVE b7300.3 Dor: Escala Multidimensional – Numérica - de Avaliação da Dor4 40% MODERADO b28016.2 ESTRUTURA QUANTIFICADOR QUALIFICADOR CÓDIGO Clávícula Direita 75% GRAVE b7200.351 Quadro 03. Diagnóstico fisioterapêutico – CIF. 14 3. CONSULTA FISIOTERAPÊUTICA GERAL Para que possamos empreender um tratamento físioterapêutico a um cliente é necessária a execução de um procedimento prévio que é o diagnóstico. Ou seja, precisamos identificar o que se encontra fora da normalidade em nosso universo de atuação. Isto quer dizer que devemos quantificar o percentual de variação anormal para que possamos emitir alta baseada na evolução positiva das anormalidades encontradas. Importante ressaltar que diferentemente da alta de um procedimento médico, a alta fisioterapêutica nem sempre ocorrem em um único dia. Ou seja, pode ser emitido alta por evolução de um determinado comprometimento físico funcional e continuar o tratamento para outros parâmetros ainda deficitários em relação à normalidade. Podemos identificar, por exemplo, que um indivíduo possui déficit de força estática dinamométrica de preensão manual e déficit de amplitude de movimento geral ântero- posterior. Com a prescrição ou tratamento fisioterapêutico até determinado momento, ele pode receber alta de um parâmetro e permanecer tratando outro. Isto inclusive possibilita que os valores financeiros do tratamento se reduza para o cliente. Os fisioterapeutas devem observar um organograma mínimo para a consulta fisioterapêutica, introduzindo parâmetros até então negligenciáveis ao profissional, como a obrigatoriedade da devolutiva ao cliente sobre sua evolução, o diagnóstico do percentual de gordura determinado através da composição corporal, e o diagnóstico do déficit de atividade física (sedentarismo): 15 Fig. 08 – Esquema de consulta geral (Lucas, 2009). 3.1 REANÁLISES EM SÉRIE A evolução do tratamento físico deve ser obrigatória de acordo com a Resolução COFFITO 80 (anexo 01). Desta forma convém que o profissional desenvolva critérios de reanálise das incapacidades físico funcionais para que possa computar em percentual a evolução e eventualmente emitir alta de algum parâmetro: 16 Fig. 09 – Exemplo de planilha de consultas e reanálise sequenciais em programa excel do pacote Microsoft Office. 3.2. A COMPOSIÇÃO CORPORAL A composição corporal geral deve ser integrada à conculta fisioterapêutica tendo em vista a grande relação da morfologia corporal e o sistema de movimento. Para tanto diversos são os métodos para a determinação da composição corporal. A ênfase para a maioria deles é para a determinação do percentual de gordura e de sua relação com a massa corporal total (erroneamente chamada de peso). No mercado as técnicas de composição corporal são divididas basicamente entre técnicas antropométricas (perimetrias e dobras cutâneas) e técnicas laboratoriais e/ou baseadas em equipamentos, como a pesagem hidrostática, a emissão de raio x de dupla energia (DEXA), a ressonância magnética e o método da água deuterada. Mas estes são muito caros e não estão acessíveis em muitos locais. 17 Por este motivo as técnicas antropométricas são mais utilizáveis em nosso mercado. É consenso que existem técnicas mais precisas de acordo com o gênero, idade e perfil étnico dos indivíduos avaliados. Porém sabe-se que existem técnicas mais generalistas e que podem ser utilizadas de forma criteriosa pelos profissionais, como é caso das análises antropométricas. Há dois protocolos válidos e confiáveis que utilizam técnicas antropométricas baseadas por perimetria (fita métrica) divididas para homens e para mulheres: PROTOCOLO DE PENROE - MULHERES %G= ([0,55 x CG) - ( 0,24 x Est) + (0,28 x CA) - 8,43 Est = estatura (cm); CA = cintura alta (cm); CG=circ.glúteo (cm) PROTOCOLO DE DOTSON & DAVIES– HOMENS G% = + [85,20969 . log (AB - Pç)] - [69,73016 . log (estatura em polegadas)] + 37,26673 AB = Circ. Abdome; Circ. Pç = pescoço Quadro 04. Protocolos de determinação de percentual de gordura por perimetria. 3.2.1 BIOIMPEDÂNCIA Dos métodos que conferem maior precisão à composição corporal o scaneamento por bioimpedância é o mais prático e acessível. Desta forma a mais recomendada seria a “Bioimpedância Tetrapolar Multifrequencial Multisegmentada de oito pontos de contato”. Como qualquer método de composição corporal é muito importante a observação dos protocolos de execução. 18 Fig. 10 – Exemplo de Scanner de Bioimpedância Tetrapolar Multifrequencias de oito pontos. 3.3 DIAGNÓSTICO DE SEDENTARISMO Diversos são os métodos para auxílio da determinação do gasto calórico em movimentação, ou mensuração do gasto calórico da atividade física. Todos os procedimentos procuram se aproximar do padrão ouro para este objetivo que é atualmente a “água duplamente marcada”: Sensores de movimento simples (Caltrac, Tritac...); Sensores de movimento conjugados (Armband Sensewear, Bodymedia Fit...); Pedômetros; Pulseiras de movimento (Loop Polar, Garmin Vivo Fit...); Monitores de Frequência Cardíaca (Polar FT1, Polar RS800 CX, Garmin 405....); Questionário de Atividade Física (IPAQ); Calorimetria Indireta Portátil (VO2000, Medgen...); Calorimetria Direta (Câmaras calorimétricas, Termografia por infravermelho...). Fig. 11. Métodos para medidas da atividade física. https://drive.google.com/file/d/0B4Vum8NY54D1a3lqUWRxUDVCVG8/edit?usp=sharing 19 3.3.1 MONITORIZAÇÃO DA FREQUÊNCIA CARDÍACA Pela praticidade, pela margem de erros controláveis, baixo custo e simplicidade de operação a monitorização contínua da frequência cardíaca, em repouso e em atividade, é uma boa opção para análise da atividade física. Vamos imaginar então um indivíduo que possua os seguintes dados metabólicos: Taxa Metabólica de Repouso de 1200 kcal; Média FC repouso de 65 bpm; Média FC atividade de 82 bpm e dorme 10 (dez) horas. Para calcular o gasto calórico/dia devemos seguir os seguintes passos: 1. Passo – Determina-se o referencial de sedentarismo: 1200 x 1,4 = 1680 kcal/dia 2. Passo – Determina-se o gasto calórico por minuto em repouso: 1200 / 1440 = 0,83 kcal/min/repouso 3. Passo – Determina-se o gasto calórico por batimento em repouso: 0,83 / 65 = 0,013 kcal/batimento/repouso 4. Passo – Determina-se o gasto calórico por batimento em atividade: (82 x 0,012) / 65 = 0,016 kcal/batimento/atividade 5. Passo – Determina-se o gasto calórico por minuto em atividade: 0,016 x 82 = 1,312 kcal/min/atividade 6. Passo – Determina-se o gasto calórico dia em repouso: 0,83 x 600 min (10 horas de sono) = 498 kcal 7. Passo – Determina-se o gasto calórico dia em atividade: 1,312 x 840 min (16 horas em atividade) = 1102 kcal 8. Passo – Determina-se o gasto calórico dia/real: 498 + 1102 = 1600 kcal/dia 9. Passo – Realiza-se a comparação com o referencialde sedentarismo: 1680 - 1600 = 80 kcal de déficit (indivíduo sedentário matematicamente) 10. Passo – Interpreta-se sobre a necessidade de prescrição quantitativa de movimento. Como 80 kcal é menor que 5% do valor ideal, que seria 84 kcal, não haveria necessidade de prescrição, cabendo somente orientações em relação ao mínimo aumento de movimentação pelo indivíduo. 20 Para compor o diagnóstico de acordo com a CIF, caso houvesse relevância, bastaria identificar qual seria o máximo de sedentarismo possível para o cliente e comparar com o déficit apresentado. Como um indivíduo sedentário (matematicamente) não chega a utilizar por volta de 40% de sua taxa metabólica de repouso, este seria o quantitativo máximo de sedentarismo. Neste exemplo a taxa equivale a 1200 kcal, então 100% de sedentarismo seria 480 kcal (40% de 1200 kcal), então teríamos: 100% ..............................480 kcal X % ................................. 80 kcal X = (80 kcal x 100%)/480 kcal Então o indivíduo seria quantitativamente 17% sedentário. Isto corresponde a uma qualificação LEVE pela CIF. Para desenvolver a codificação basta acessar o Capítulo 5 da CIF – Funções do aparelho digestivo e dos sistemas metabólico e endócrino - e localizar o código base relacionado às funções metabólicas gerais. Sendo assim, o código mais adequado é o b540. Adicionando o qualificador do equiparador da CIF para funções leves, o código passa a ser escrito como b540.1. Para colher os valores da Média de Frequência Cardíaca em atividade de vida diária (atividade), convêm que o fisioterapeuta ofereça o monitor de frequência cardíaca (Polar FT1, por exemplo) para que o cliente realize a coleta em pelos menos 03 (três) dias típicos. Convém também que seja oferecido formulário próprio para o indivíduo (ou de forma online), além de oferecer ensinamento sobre a operação do aparelho. Obviamente, sabendo que há métodos mais precisos para a determinação da Taxa Metabólica de Repouso, como a Calorimetria Indireta ou Termometria Cutânea, se houver a possibilidade de executá-lo os cálculos apresentados seriam poupados e obviamente a margem de erros diminuiria. 21 4. PASSO A PASSO DA CONSULTA FISIOTERAPÊUTICA GENERALIZADA É muito importante que o fisioterapeuta possa interpretar que nem toda consulta fisioterapêutica é realizada com o objetivo do desenvolvimento de um plano de tratamento. Pois, se a fisioterapia é uma ciência da saúde que também se relaciona com a prevenção e a promoção da saúde, o cliente pode procurá-lo somente para que conheça o seu quadro físico funcional (saúde física), ou para compará-lo com consultas anteriores. Este é o procedimento mais comum nas situações CINESIOPATOLÓGICAS. Já a consulta realizada com fim específico de tratamento fisioterapêutico se enquadra na situação PATOCINESIOLÓGICA. O fisioterapeuta deve ser capaz de oferecer sua consulta para a comunidade enfocando os dois tipos de procedimentos que envolvem o sistema de movimento7 , tendo em vista a diferenciação do seu diagnóstico em relação aos demais profissionais da saúde, especialmente o médico. Este posicionamento profissional é determinante para a demarcação da identidade profissional fisioterapêutica perante a sociedade7. 1º PASSO - AGENDAMENTO DA CONSULTA: • As consultas devem ser agendadas para duração de 01 (uma) hora. • Informe ao cliente que a cobrança será realizada previamente. Deve possuir o valor mínimo de R$ 64,50 de acordo com a Resolução COFFITO 428/2013 – Referencial Nacional de Procedimentos Fisioterapêuticos (RNPF), salvo exceções do mesm: • De acordo com seu adicional de especialização, ou valores de mercado, você poderá estipular valor maior para sua consulta. • Informe a data e a hora disponível para o cliente. 22 • Dê prazo de 24 horas para o cliente realizar o pagamento da consulta. • Convém que a cobrança seja feita via meios de pagamento online, com envio para e-mail do cliente ou botão de pagamento em site do profissional. (Moip, Pagseguro, PayPal, etc.). • Após confirmação do pagamento faça contato com o cliente, reafirmando a data e o horário. • Solicite ao cliente que compareça com os “exames” mais recentes e relevantes e que não modifique a sua rotina. 2º PASSO – PROCEDIMENTOS INICIAIS: • Preencha uma Ficha de Identificação do cliente, preferencialmente digitalizada em seu computador ou em software específico. Deve possuir número de registro do cliente para início da formação do Prontuário de acordo com a Resolução COFFITO 414/2012 (anexo 03). • A Ficha de identificação deve possuir dados do Local, data (dia, mês, ano), nome e registro profissional consultor e no mínimo os seguintes dados do cliente: 1. Nome Completo; 2. Data de nascimento; 3. Idade atual; 4. Gênero; 5. Perfil Étnico; 6. Estado Civil; 7. Escolaridade; 8. Profissão/Ocupação (há quanto tempo); 9. Endereço Completo (Rua....Número....Bairro...Cidade...País); 10. Contatos Diretos (e-mails, telefones e redes sociais). 3º PASSO – ENTREVISTA (anamnese) • Seu prontuário deve conter espaço para Informações Relevantes levantadas pela entrevista inicial. (Recomendamos a leitura do livro “Métodos de Avaliação Clínica e Funcional”, de Silvia Maria Amado João). 23 • A primeira parte da entrevista (anamnese) consiste em fazer perguntas ao cliente sobre alguns aspectos de sua vida diária como: 1. Qualidade do sono; 2. Alimentação (tipo, quantidade); 3. Habitação (local, tipo); 4. Parâmetros da Atividade Física (“sedentarismo”, atleta, frequência, intensidade); 5. Informação sobre o perfil emocional (estressado, calmo, ansioso) 6. Vícios (álcool, fumo, drogas ilícitas); 7. Condições culturais e escolaridade. • A segunda parte da entrevista (anamnese) é direcionada para a situação clínica do cliente, com perguntas direcionadas à especialidade fisioterapêutica: 1. Queixa Principal (QP); 2. HPMA (História Pregressa da Moléstia Atual); 3. HPP (História Patológica Pregressa); 4. HFP (História Fisiológica Pregressa); 5. História Familiar relacionada ao problema; 6. Medicamentos e Dosagem; 7. Diagnósticos e Exames complementares (identificando seus emitentes e datas); 8. Movimentos prejudicados para realizar atividades de lazer/trabalho; 9. Características da dor: a. Início: súbito ou insidioso; b. Local principal: Região anatômica; c. Tipo: queimante, agulhada, latejante, cansada, irradiada; d. Intensidade pela Escala Visual Analógica (EVA); 10. Sintomas associados à dor ou à disfunções sensoriais: a. Sente calor, hiperemia, formigamento, edema, peso, cansaço, tontura, dor de cabeça, enjoo, outros; b. Caráter: migratório, permanente, progressivo, cíclico; c. Período: manhã, tarde, noite, indiferente; 24 d. Fatores agravantes: Frio, calor, atividade física intensa, imobilização, mobilização, outros. e. Fatores de Alívio: Repouso, mobilização, frio, calor, gelo, bolsa quente, banho, outros. 11. Realizou fisioterapia? a. Onde? b. Frequência? c. Em que período? d. Tipo de tratamento? e. Resultado? 4º PASSO - EXAME SUBJETIVO • Você deve fazer a Inspeção visual direcionada à especialidade fisioterapêutica relacionada ao exame, identificando fotograficamente imagens relevantes. Caso o rosto do cliente seja identificado deve adicionar mascaramento do mesmo: 1. Postura Estática Geral: Frente, costas, lateral direita, lateral esquerda...; 2. Postura Estática Segmentar: Observar posturas antálgicas ou posturas irregulares nos segmentos corporais, devendo no exame objetivo analisar e nominar os grupamentos musculares potencialmente comprometidos. 3. Ectoscopia segmentar: Descrever cicatrizes, edemas, colorações anormais (hiperemia, hematomas, palidez) e deformidades, identificando os locais (regiões anatômicas ou segmentoscorporais). Quando possível deve quantificar as deformidades, além de qualificá-las comparativamente ou de acordo com referenciais/parâmetros pré-estabelecidos. 4. Padrão Qualitativo da Marcha: Identificar a existência de marchas patológicas ou marcha claudicante/álgica ou anormal, devendo no exame objetivo correlacioná-la com os déficits de mobilidade articular ativa, mobilidade articular passiva e força. 25 5º PASSO – EXAME OBJETIVO • Seu prontuário deve utilizar um espaço separado para Exame Físico- funcional, realizado após a entrevista (anamnese). • Inicie analisando sinais vitais e oximetria (se for relevante): 1. Adapte o monitor de frequência cardíaca (relógio com ou sem cinta), e eventualmente o oxímetro e verifique os valores em repouso deitado, sentado e de pé; 2. Mensure a frequência respiratória (inspiração e expiração) em cada posição, juntamente à análise da frequência cardíaca; 3. Mensure a PA (Pressão Arterial) também em cada posição da frequência cardíaca; 4. Mensure a TCC (Temperatura Corporal Central) e a TCP (Temperatura Corporal Periférica). • Devem ser registrados/mensurados dados antropométricos: 1. Massa Corporal Total; 2. Estatura; 3. Envergadura; 4. Perímetro da Cervical; 5. Menor Perímetro Toracoabdominal; 6. Perímetro Abdominal; 7. Perímetro de Quadril/Glúteo; • Determine o DP (Duplo Produto). • Se houver relevância determine o percentual de gordura, utilizando protocolo ou equipamento adequado. • Deve ser analisada a função Mobilidade Articular Ativa dos complexos articulares envolvidos, quantificando, qualificando e codificando a incapacidade físico-funcional presente, de acordo com Resolução COFFITO 370 (anexo 02), que se refere a CIF – Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde. Você deve solicitar ao cliente que permaneça alguns segundos na amplitude máxima alcançada e pergunte qual o grau de dor que o mesmo sente nesta posição, de acordo com a EVA. Se o grau de dor for determinante de grau 26 superior à incapacidade de a mobilidade articular ativa, este grau será o determinante da incapacidade do movimento analisado. • Caso seja relevante a análise da mobilidade articular do sistema respiratório (ventilatório), deve identificar o padrão respiratório predominante (costal ou diafragmático), registrando a presença de postura patológica característica e registrar o padrão auscultatório. • Deve identificar fotograficamente os padrões de movimento que apresentem incapacidades com percentuais moderados e graves pela CIF, inserindo em espaços específicos na folha de Exame Físico- funcional. • Caso seja relevante proceda a análise da função Mobilidade Articular Passiva dos complexos articulares envolvidos. • Caso seja relevante proceda a análise da função dos Reflexos Motores dos segmentos corporais comprometidos. • Caso o quadro álgico (dor) não se caracterizar como fator comprometedor ao movimento, você deve analisar a função Força Muscular dos grupamentos musculares dos complexos articulares envolvidos. • Caso a função respiratória/ventilatória esteja comprometida, e haja relevância, deve mensurar a Força Muscular Inspiratória e Expiratória (Manovacuometria), mensurar volumes e capacidades (espirometria) e PFE (Pico de Fluxo Expiratório). • Independentemente do método utilizado para aferição dos parâmetros físico-funcionais, estes devem ser quantificados, qualificados e codificados por equiparação à CIF. Desta forma é fundamental o conhecimento dos padrões de normalidade referenciados à função analisada. 6º PASSO – CONCLUSÃO – DIAGNÓSTICO FÍSICO-FUNCIONAL • Seu prontuário deve utilizar um espaço separado para Diagnóstico Fisioterapêutico, realizado após o exame objetivo, ou o mesmo pode ser elaborado à parte em pasta específica. • O Diagnóstico Fisioterapêutico deve conter o referencial bibliográfico ao qual você se baseou para emiti-lo. 27 • No mesmo espaço da elaboração do referido diagnóstico você deve tecer considerações a respeito do seu Plano de Tratamento e de seu Prognóstico. CONSIDERAÇÕES • O Prognóstico deve se basear no seu diagnóstico e nas possibilidades terapêuticas, acerca da duração, da evolução e eventual alta fisioterapêutica parcial ou total. • Normalmente as diversas incapacidades físico-funcionais determinadas na consulta não evoluem no mesmo tempo para sua resolução. Sendo assim há possibilidade de se emitir altas parciais, relacionadas às incapacidades que são saneadas 100%. Ou seja, o cliente pode, por exemplo, receber alta para a função mobilidade articular, mas não receber ainda para a função força muscular, ou quaisquer outras diagnosticadas. • Caso o cliente tenha solicitado somente o Diagnóstico Fisioterapêutico, você emitirá o mesmo em pasta separada para que seja entregue ao cliente. Neste deverá constar as sugestões terapêuticas gerais. • Eventualmente é necessário que você solicite pareceres de outros profissionais, ou solicite exames que não estão disponíveis no seu espaço e que sejam relevantes. Nesta situação a consulta deve ser interrompida e concluída quando o cliente retornar com os exames solicitados ou os pareceres dos profissionais. • A CIF é a norteadora de sua consulta fisioterapêutica, marcadamente para o Capítulo 7 - Funções Neuromusculoesqueléticas e relacionadas com o movimento, e para o Capítulo 7 - Estruturas relacionadas com o movimento. Mas, qualquer capítulo da CIF que possua funções que possam interferir com o diagnóstico do movimento, deve ser utilizado. Como exemplo citamos o Capítulo 2 - Funções Sensoriais e Dor, que possui muita relação com o movimento. 28 • Funções comuns da CIF utilizadas em consultas fisioterapêuticas: 1. b710 Funções da mobilidade das articulações 2. b730 Funções da força muscular 3. b750 Funções de reflexos motores 4. b770 Funções relacionadas com o padrão de marcha 5. b550 Funções termorreguladoras 6. b540 Funções metabólicas gerais 7. b530 Funções de manutenção do peso 8. b440 Funções da respiração 9. b445 Funções dos músculos respiratórios 10. b280 Sensação de dor 11. b260 Função proprioceptiva 12. b235 Funções vestibulares 29 5. QUANTIFICAÇÃO DA EVOLUÇÃO DOS DIAGNÓSTICOS Conforme a Resolução COFFITO 80 (anexo 01), a evolução do tratamento fisioterapêutico é ato obrigatório ao profissional que iniciou o tratamento. Independentemente do método, técnica ou especialidade a qual pertence o profissional, é necessário que pelo menos quantitativamente a evolução dos parâmetros físico funcionais encontrados na consulta seja determinada. Como exemplo discorreremos a respeito da utilização da técnica de termometria cutânea como objeto de evolução Utilizando os valores do Δt (Delta t) das regiões de interesse (ROI) nas imagens termográficas obtidas no início do tratamento fisioterapêutico, e os valores obtidos nas reanálises termográficas, é possível desenvolver um parâmetro quantitivo percentual de evolução. Ou seja, as variações térmicas de momentos diferentes de análise podem ser comparadas e quantificadas. Para que o parâmetro percentual seja desenvolvido é necessário que se obtenha o padrão de normalidade a ser buscado, tal como no diagnóstico termográfico. O fisioterapeuta termografista, deve referenciar os valores iniciais da temperatura e os valores de normalidade como o intervalo de 100% a ser sanado. Ou seja, entre a temperatura inicial da consulta e a temperatura adequada considera-se o total a ser saneado para que a ROI atinja a normalidade térmica. Em uma situação onde o ideal seja, por exemplo, 36º C e a ROI com disfunção apresente 35,2º C no primeiro momento de análise, o intervalo de melhora térmica fica compreendido entre 35,2º C e 36º C. Este intervalo possuiria então0,8º C para ser saneado com o tratamento fisioterapêutico ou médico, que seria resultado da diferença entre o ideal e o inicial (36º C – 35,2º C). Se em um segundo momento de análise o examinado apresentasse na mesma ROI a temperatura de 35,8º C seria viável se determinar a evolução percentual: 100% ........................0,8º C (36º C – 35,2º C) X % .......................... 0,6º C (35,8º C – 35,2º C) X % = (0,6º C x 100 %) / 0,8º C ...................... X % = 75 30 Podemos inferir que a evolução termográfica, e consequentemente metabólica, apresentou uma evolução positiva de 75%, permanecendo ainda uma deficiência térmica de 25% a ser saneada. Desta forma, referenciando a CIF, um relatório de evolução termográfica poderia ser emitido com um valor quantitativo de 75% e com um valor qualitativo denominado ÓTIMO. Sugerimos sempre utilizar a CIF como equiparadora de evolução, assim como a mesma é utilizada como parâmetro de diagnóstico fisioterapêutico. Apesar do Manual da CIF não referenciar a classificação ÓTIMO como parâmetro de evolução funcional, entendemos que é necessário normatizar estes parâmetros para termografia e demais atuações fisioterapêuticas tendo a mesma como base, já que a mesma contempla análises de saúde e funcionalidade, e não somente de incapacidade. Entendemos que as demais qualificações da CIF que devem ser mantidas em suas nôminas originais: Nenhuma, Leve. Moderada, Ótima e Completa. Figura 12. Equiparação da CIF para quantificação da evolução térmica. (Lucas, 2009) Também é possível verificar a evolução de determinada disfunção térmica, presente em um trauma direto por exemplo, através do acompanhamento do padrão de homogeneização da imagem. Ou seja, é possível determinar a ROI da lesão marcando adequadamente os limites de menor e maior temperatura na mesma. Conforme for evoluindo positivamente a lesão, a tendência é a uniformização/homogeinização da imagem circunscrita na ROI. Para desenvolver a quantificação da evolução se deve atribuir o valor térmico que que caracterize o valor final, ou seja, a imagem térmica uniformizada. Se a diferença entre a maior (ou menor) temperatura relacionada à máxima disfunção térmica possuir um valor de 5º C, por exemplo, zerar esta diferença seria o máximo de homogeneização. Sendo assim, o intervalo de evolução, ou grau de heterogeneidade 31 ficaria compreendido entre 0º C e 5º C, e o procedimento para quantificação e qualificação pela CIF seria o mesmo. Alguns termovisores acompanham softwares que são capazes de elaborar curvas de tendência de evolução de imagens térmicas (ROIs), possibilitando a elaboração de um prognóstico para a resolução metabólica da imagem. Esta caracteristica nestes equipamentos oferecem aos fisioterapeutas termografistas um acompanhamento de grande possibilidade documental, sendo inclusive de grande valia em situações forenses ou administrativas, tais como Laudos (relatórios) de determinação de incapacidade física temporária ou definitiva. A impossibilidade da utilização de termovisores que possuem tais softwares de tendência de evolução térmica, não invalida a atuação do termografista fisioterapeuta. Pois o mesmo pode utilizar planilhas de cálculos de programas de computadores, como o Excel, para também desenvolver tais parâmetros evolutivos térmicos em imagens seriadas. É importante que seja construído na planilha de cálculos um gráfico de dispersão, com tendência logarítmica8. O fisioterapeuta que assiste o cliente deve proceder da mesma forma, se o diagnóstico for em relação a qualquer outro diagnóstico físico funcional, como a um déficit da função mobilidade articular. No exemplo citado no texto onde a situação ideal da mobilidade articular do movimento de abdução do complexo articular do ombro esquerdo seria 180°, e a amplitude encontrada no primeiro momento era 135º, o intervalo de melhora integral fica compreendido entre 135º e 180º. Este intervalo possuiria então 45º para ser saneado com o tratamento fisioterapêutico ou médico, que seria resultado da diferença entre o ideal e o inicial (180º – 135º C). Se em um segundo momento de análise o examinado apresentasse 150º seria viável se determinar a evolução percentual: 100% ........................45º (180º – 135º) X % .......................... 15º (150º – 135º) X % = (15º x 100 %) / 45º ...................... X % = 33 32 Podemos inferir que a evolução da mobilidade articular ativa para o movimento de abdução, apresentou uma evolução positiva de 33%, permanecendo ainda uma deficiência de amplitude de movimento de 67% a ser saneada. Desta forma, referenciando a CIF, um relatório de evolução poderia ser emitido com um valor quantitativo de 33% e com um valor qualitativo denominado MODERADO. 33 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. MOURA FILHO. O.F. Acessado em 03/02/2016. Disponível em http://www.profala.com/artfisio2.htm . 2. MARQUES A.P. Introdução. In: Manual de Goniometria. 3ª ed. p.1-10.São Paulo: Editora Manole. 2014. 3. CAPORRINO, F. A.; FALOPPA, F.; SANTOS, J. B. G. dos; RÉSSIO, C.; SOARES, F. H. de C.; NAKACHIMA, L. R.; SEGRE, N. G. Estudo populacional da força de preensão palmar com dinamômetro JAMAR. Revista Brasileira de Ortopedia. V. 33, n.2. 1998. 4. ESCALA MULTIDIMENSIONAL DE AVALIAÇÃO DE DOR. jan-fev. Acessado em 02/02/2016. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/rlae/v18n1/pt_02.pdf . 5. SMITH, L.K., WEISS, E.L, LEHMKUHL, L.D. Cinesiologia Clínica de Brunnstrom, 5 ed. Philadelphia. 1996. 6. MANUAL DA CIF – Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde. ACESSADO EM 02/02/2016. Disponível em http://www.inr.pt/uploads/docs/cif/CIF_port_%202004.pdf 7. SAHRMANN, S.A. The human movement system: our professional identity. Phys Ther. 2014;94:1034–1042. 8. LUCAS, RWC; BRIOSCHI, ML. Termografia aplicada à fisioterapia. 1 ed. Rocha. Florianópolis. 2016. http://www.inr.pt/uploads/docs/cif/CIF_port_%202004.pdf
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