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2 O homem, ao mesmo tempo, é criatura e criador do meio ambiente. (Conferência Estocolmo - 1972) A interação do homem com a natureza, ao longo da história da humanidade, em geral tem ocorrido de forma predatória e indiscriminada, o que tem trazido desequilíbrio ao meio ambiente em escala global. A proteção do ambiente não faz parte da cultura nem do instinto humano. Ao contrário, conquistar a natureza sempre foi o grande desafio do homem, espécie que possui uma incrível adaptabilidade aos diversos locais do planeta e uma grande capacidade de utilizar os recursos naturais em seu benefício. Essas características fizeram com que, ao longo do tempo, a natureza fosse dominada pelo homem que, no entanto, não se preocupou com os danos que esse desenvolvimento causava. (GRANZIERA, 2011, p. 22). A necessidade de preservar o meio ambiente é fato notório. Desde a Conferência de Estocolmo, em 1972, as nações chegaram ao consenso de que a conservação do meio ambiente é condição sine qua non* para a qualidade de vida no planeta. * sine qua non: do Latim: sem o qual não pode ser (indispensável). Ao discorrer sobre o exercício do poder de polícia ambiental e da questão da fiscalização, Paulo Bessa Antunes traz à tona o fato de que, por vezes, os próprios responsáveis por essas atividades não conhecem a legislação: A fiscalização ambiental é uma das atividades mais relevantes para a proteção do meio ambiente, pois é por meio dela que danos ambientais podem ser evitados e, se consumados, reprimidos. No entanto, nem sempre a fiscalização é exercida com a observância das normas próprias, do respeito aos cidadãos e de forma isenta. Um dos motivos mais importantes para que isso ocorra é que, simplesmente, as regras de fiscalização são desconhecidas pelo público e, não raras vezes, até pelos próprios fiscais. (ANTUNES, 2010, p. 136, grifo nosso). No decorrer do curso, você aprenderá que, como agente encarregado da aplicação da lei, você deverá: • Prender os infratores. • Apreender os objetos do crime. • Efetuar a condução dos envolvidos à delegacia para as providências cabíveis. • E, se for o caso, emitir ou solicitar a emissão do auto de infração ambiental. 3 É importante saber que este curso não tem a intenção de esgotar todas as modalidades de crimes ambientais existentes, mas apresentar uma visão geral dos crimes praticados contra o meio ambiente e como a lei deve ser aplicada nesses casos, capacitando-o para a primeira resposta no enfrentamento aos crimes ambientais. Para Refletir Antes de prosseguir com o curso, pense no seguinte... Para você, qual a importância do meio ambiente e de sua preservação? Agora, vá até a biblioteca do curso, leia o texto Carta do Índio Seattle e reflita. Objetivos do curso Ao final do estudo desse curso, você será capaz de: • Compreender a importância da preservação/conservação do meio ambiente; • Caracterizar a biodiversidade brasileira e as leis que a protegem; • Compreender a Política Nacional do Meio Ambiente; • Enumerar as modalidades de crimes contra a fauna e a flora; Identificar, a partir de noções básicas, outros crimes ambientais; • Descrever os conhecimentos necessários à proteção do meio ambiente no enfrentamento aos crimes ambientais; • Listar os procedimentos a serem seguidos quando de ocorrência policial que envolva crime ambiental. Estrutura do curso O curso está dividido nos seguintes módulos: • Módulo 1 - Noções fundamentais; • Módulo 2 - Crimes contra a fauna; • Módulo 3 - Crimes contra a flora; • Módulo 4 - Poluição e outros crimes ambientais. Vá até a biblioteca do curso, e conheça a Cartilha de Crimes Ambientais. 4 Apresentação do módulo Há algumas grandes esferas de preocupação que são comuns a todos os países, tais como: • A contaminação que alcança níveis perigosos na água, no ar, no solo e nos seres vivos; • A necessidade frequentemente urgente de conservar os recursos naturais não renováveis; • As possíveis perturbações do equilíbrio ecológico da biosfera, emergentes da relação do homem com o meio ambiente; e • As atividades nocivas para a saúde física, mental e social do homem no meio ambiente por ele criado, particularmente no ambiente de vida e de trabalho. (Prado 2001, p.15, ao citar o informe sobre a Situação Social do Mundo, da Organização das Nações Unidas). Os debates atuais na ONU sobre esse assunto abordam o desenvolvimento sustentável, chamando atenção para a necessidade de se alcançar um equilíbrio entre as necessidades econômicas, sociais e ambientais. Na Cúpula sobre o Desenvolvimento Sustentável, realizada em Nova York, entre os dias 25 e 27 de setembro de 2015, foi estabelecida a “Agenda 2030”, com a adoção de diversas medidas com vistas a proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, de forma a gerir de forma sustentável as florestas, enfrentar a desertificação, deter e reverter a degradação da Terra e frear a perda de biodiversidade. Tudo isso por conta da crescente poluição do ar, da água e do solo; do aumento das queimadas e do desmatamento; do aquecimento global; e por conta das projeções que apontam que, em 2025, 2,5 bilhões de pessoas sofrerão com falta d’água no mundo. Para compreender melhor o cenário descrito acima, neste módulo você estudará as noções fundamentais de Meio Ambiente e a forma como a legislação nacional trata este tema. MÓDULO 1 NOÇÕES FUNDAMENTAIS 5 Objetivos do módulo Ao final deste módulo, você será capaz de: • Conceituar meio ambiente, crime, crime ambiental, fauna, flora, poluição, etc.; • Descrever a importância da biodiversidade brasileira; • Conscientizar-se da importância da preservação/conservação do meio ambiente; • Analisar a Política Nacional do Meio Ambiente e suas diretrizes para preservação e conservação do meio ambiente no país; • Conhecer os órgãos que integram o Sistema Nacional de Meio Ambiente; e • Entender por que a Lei de Crimes Ambientais é a principal ferramenta no enfrentamento das infrações ambientais. Estrutura do Módulo Este módulo abrange as seguintes aulas: • Aula 1 – O meio ambiente: direito constitucional; • Aula 2 - Conceitos básicos; • Aula 3 - Biodiversidade brasileira; • Aula 4 - Política Nacional do Meio Ambiente; • Aula 5 - Lei de Crimes Ambientais. Aula 1 – Meio ambiente: direito constitucional 1.1 Direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado Seguindo a tendência mundial de proteção ao meio ambiente, a Constituição Federal de 1988, de acordo com Beltrão (2009, p. 64), “é reconhecida internacionalmente como merecedora de elogios quanto à preocupação ambiental que ostenta”, pois em seu artigo 225, contempla a tutela jurisdicional do meio ambiente ao prescrever que: Art. 225 Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. (Grifo nosso). A Constituição Federal de 1988 implementou um novo direito na ordem constitucional: o direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. 6 1.2 Meio ambiente: princípio da ordem econômica brasileira De igual maneira ao tratar da ordem econômica e financeira, a Constituição Federal assevera em seu artigo 170, inciso VI, que a defesa do meio ambiente é um princípio geral da atividadeeconômica brasileira: Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: [...] VI – defesa do meio ambiente [...] Importante! A defesa do meio ambiente é princípio da ordem econômica brasileira. A tutela jurisdicional do meio ambiente tem como embasamento o disposto no §3º, do artigo 225 da Constituição Federal: § 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. Ao discorrer sobre o poder de polícia ambiental, Paulo Bessa Antunes ensina que: A utilização de recursos ambientais é atividade inteiramente submetida ao poder de polícia do Estado, não se concebendo sem a presença de diferentes mecanismos de controle que serão manejados pelo Estado conforme as necessidades que forem se apresentando na vida diária. O controle estatal sobre as atividades privadas se faz pelo exercício regular do poder de polícia [...] O poder de polícia, como sabemos, é o instrumento jurídico pelo qual o Estado define os contornos dos diferentes direitos individuais, em benefício da coletividade, haja vista que não se conhecem direitos ilimitados.” (ANTUNES, 2010, p. 129, grifo nosso) 1.3 Meio ambiente: direito constitucional de todos Como observou, com a edição da Constituição Federal em 1988, o meio ambiente passou a figurar como um direito constitucional de todos, sendo que, pela primeira vez, a tutela ambiental passou a fazer parte da norma constitucional e o meio ambiente a ser visto como um todo. Sobre a necessidade da tutela do meio ambiente como um todo, Silva (2001, p.111) cita Moreira Neto, que já em 1977, dizia o seguinte: “A proteção da flora e da fauna deve ser objeto de tutela jurídica, não apenas setorizada, como ocorre atualmente, através de diplomas legais isolados, mas com 7 resultado de princípios e métodos integrados [...] Não se pode, por exemplo, exemplo, ter uma legislação sobre pesticidas sem considerar a de água, caça, pesca, loteamento, etc., e vice-versa. Em outras palavras: a proteção à flora deve ser considerada em termos de ecossistema, em suas múltiplas interações com a fauna, com a terra, com a água e com o ar. Código de Flora ou de Fauna alheios à realidade ecológica não são senão fragmentos de solução que a pouco ou nada conduzem.” Você, membro do sistema de segurança pública, deve entender que o equilíbrio ecológico é frágil, delicado e que todos os elementos – ar, água, terra, luz, plantas, animais e homem – que interagem nesse ecossistema têm influência um sobre o outro, e sobre o equilíbrio natural. Daí a importância da conservação/preservação e do uso racional e sustentável dos recursos naturais. Aula 2 – Conceitos Básicos Nesta aula, você estudará os conceitos dos termos fundamentais para o desempenho de suas atividades, durante a execução do policiamento ambiental. São eles: • Meio ambiente • Crime • Crime ambiental • Fauna • Flora • Poluição • Licenciamento Ambiental Estude a seguir, cada um deles. 2.1 Meio ambiente O meio ambiente abrange todos os fatores que afetam diretamente o metabolismo ou o comportamento de um ser vivo ou de uma espécie. Incluindo os fatores abióticos* (a luz, o ar, a água, o solo) e os seres vivos que coabitam no mesmo biótopo**. (portalgeobrasil.org) *Abióticos: elemento ou lugar que se caracteriza pela ausência de vida. **Biótopo: lugar onde existe vida. A Lei nº 6.938/81, que instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente, em seu 3° artigo, inciso I, define Meio Ambiente como conjunto de condições, leis, influências, alterações e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas. Paulo de Bessa Antunes, define que meio ambiente é: 8 Um bem jurídico autônomo e unitário, que não se confunde com os diversos bens jurídicos que o integram. O bem jurídico meio ambiente não é um simples somatório de flora e fauna, de recursos hídricos e recursos minerais. O bem jurídico ambiente resulta da supressão de todos os componentes que, isoladamente, podem ser identificados, tais como florestas, animais, ar etc. [...] Meio ambiente é, portanto, uma res communes omnium, uma coisa comum a todos, que pode ser composta por bens pertencentes ao domínio público ou ao domínio privado. (ANTUNES, 2010, p.248) RESUMINDO... O meio ambiente é constituído pelos seres vivos e por tudo mais que interage com eles. Saiba mais... Antônio Beltrão (2009, p. 19) esclarece que: “A expressão meio ambiente, que historicamente passou a ser utilizada no Brasil, é claramente redundante. ‘Meio’ e ‘ambiente’ são sinônimos, designam o âmbito que nos cerca, o nosso entorno, onde estamos inseridos e vivemos”. No Dicionário HOUAISS você encontra a definição de meio, que é: “conjunto de elementos materiais e circunstanciais que influenciam um organismo vivo”, e, de ambiente que consiste no “que rodeia ou envolve por todos os lados e constitui o meio em que se vive; tudo que rodeia ou envolve os seres vivos e/ou as coisas; recinto, espaço, âmbito em que está ou vive”. 2.2 Crime A legislação brasileira não traz um conceito legal de crime, tal atribuição ficou a cargo dos doutrinadores que afirmam que o conceito analítico de crime é o mais completo, as duas principais teorias são: a bipartida e a tripartida. Para a teoria tripartida, crime é fato típico, antijurídico e culpável. Já a teoria bipartida defende que crime é fato típico e antijurídico, sendo que a culpabilidade constitui pressuposto de aplicação da pena. Como a corrente tripartida é majoritária no Brasil é ela que será utilizada neste curso. Neste sentido, Rogério Greco ensina que: Dentre as várias definições analíticas que têm sido propostas por importantes penalistas, parece-nos mais aceitável a que considera as três notas fundamentais do fato-crime, a saber: ação típica (tipicidade), ilícita ou antijurídica (ilicitude) e culpável (culpabilidade). O crime, nessa concepção que adotamos, é, pois, ação típica, ilícita e culpável. (GRECO, 2011, p. 27, grifo nosso). 9 Bitencourt (2012) também define crime como a ação típica, antijurídica e culpável. O Sistema Penal Brasileiro utiliza a teoria finalista para a conceituação de crime. Rogério Greco ao citar Eugenio Raúl Zaffaroni, ensina que: Delito é uma conduta humana individualizada mediante um dispositivo legal (tipo) que revela sua proibição (típica), que por não estar permitida por nenhum preceito jurídico (causa de justificação) é contrária ao ordenamento jurídico (antijurídica) e que, por ser exigível do autor que atuasse de outra maneira nessa circunstância, lhe é reprovável (culpável)”. (GRECO, 2011, p. 28). Lembre-se que... Crime é um fato típico, antijurídico e culpável. 2.3 Crime ambiental Uma vez que você já estudou os conceitos de meio ambiente e de crime, crie o seu próprio conceito de crime ambiental, respondendo à pergunta: O que é crime ambiental? Crime ambiental é qualquer dano ou prejuízo causado aos elementos que compõem o meio ambiente, e, que violem a legislação ambiental. 2.4 Fauna Fauna é o conjunto de animais de um determinado local. Difere-se de reino animal, por se limitar aos animais de certo habitat, certo bioma*, enquanto que o reino animal** é composto por todas asespécies de animais da Terra. *Bioma: Silva (2001, p. 17-18) ensina que bioma, do grego bios, significa ‘vida’, e oma que significa ‘massa’, ‘proliferação’. “Denominação dada a cada uma das grandes comunidades clímax da Terra, por exemplo, aos grandes agrupamentos faunísticos e florísticos do mundo”. São grandes superfícies “onde uma verdadeira paisagem vegetal criada por algumas espécies dominantes, está associada uma fauna específica”. **Reino animal: O reino animal é composto de todos os animais do planeta, quer sejam racionais ou irracionais. Silva (2001, p. 16) ensina que animal “é todo ser vivo dotado de movimento que possua ausência de clorofila e celulose, que se alimente de substâncias sólidas e, normalmente, seja capaz de percepções sensoriais”. 2.4.1 A fauna sob o ponto de vista legal A fauna para fins de interpretação e aplicação da legislação se divide em quatro grupos. 10 • Fauna Silvestre: É composta por animais nativos ou de rota migratória que vivem naturalmente em determinada região, mesmo que somente durante períodos de migração; e, têm seu habitat natural nas matas, florestas, nos rios e mares; são animais que ficam, em via de regra, afastados do convívio do meio ambiente humano. “São espécimes da fauna silvestre todos aqueles pertencentes às espécies nativas, migratórias e quaisquer outras, aquáticas ou terrestres, que tenham todo ou parte de seu ciclo de vida ocorrendo dentro dos limites do território brasileiro, ou águas jurisdicionais brasileiras” (LCA, artigo 29, §3º). • Fauna Exótica: É a originária de outro país (estrangeira). • Fauna Doméstica ou Domesticada: É o conjunto de espécies passíveis de domesticação. • Fauna Ictiológica: É composta principalmente pelos peixes, compreendendo ainda os crustáceos e moluscos. 2.4.2 A fauna sob o ponto de vista científico A comunidade científica zoológica agrupa a fauna em seis grupos, são eles: invertebrados, peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos. RESUMINDO... Fauna é o conjunto de animais de uma determinada região. 2.5 Flora Flora é o reino vegetal localizado em determinada região, ou seja, o conjunto da vegetação de um país ou de uma região. Édis Milaré (2001, p. 162) conceituou flora como a: Totalidade de espécies que compreende a vegetação de uma determinada região, sem qualquer expressão de importância individual dos elementos que a compõem. Elas podem pertencer a grupos botânicos os mais diversos, desde que estes tenham exigências semelhantes quanto aos fatores ambientais, dentre eles os biológicos, os do solo e do clima. 2.5.1 As unidades de conservação A flora brasileira é constituída por diversos espaços protegidos por lei, que são chamados de unidades de conservação e divididos em dois grupos: 11 Unidades de Proteção Integral Unidades de Uso Sustentável Estação Ecológica Área de Proteção Ambiental Reserva Biológica Área de Relevante Interesse Ecológico Parque Nacional Floresta Nacional Monumento Nacional Reserva Extrativista Refúgio da Vida Silvestre Reserva de Fauna Reserva de Desenvolvimento Sustentável Reserva Particular do Patrimônio Nacional Você sabe qual é a diferença de Unidade de Proteção Integral e Unidade de Uso Sustentável? Unidades de Proteção Integral: Espaços especialmente protegidos, cujo objetivo é a preservação da natureza, sendo proibido o uso direto de seus recursos (uso, coleta, consumo, dano, destruição...), em geral, só admitem o uso indireto dos recursos naturais; Unidades de Uso Sustentável: Espaços especialmente protegidos, cujo objetivo é a conservação da natureza, sendo que os recursos naturais devem ser utilizados de modo sustentável, de forma socialmente justa e economicamente viável, com vistas a garantir a perenidade dos recursos naturais. Lembre-se que... Flora é o conjunto de plantas de uma determinada região. Saiba Mais.. Antônio Beltrão, ao citar o Professor Herman Benjamin, ensina que: A lei nº 9.985/00 incorre em imprecisão técnica ao se referir a “unidades de conservação” quando, na realidade, deveria se referir a “espaços especialmente protegidos” (como previsto na Constituição Federal e na Convenção da Diversidade Biológica), uma vez que “unidades de conservação” são espécies do gênero “espaços territoriais especialmente protegidos”, ou seja, toda unidade de conservação é um espaço territorial especialmente protegido, mas a recíproca não é verdadeira. (BELTRÃO, 2009). Para complementar seus conhecimentos e entender mais sobre cada Unidade de Conservação, leia a Lei nº 9.985/00 (SNUC), do artigo 7º ao 21º. 2.6 Poluição Poluição pode ser caracterizada pela liberação de elementos, radiações, vibrações, ruídos e substâncias ou agentes contaminantes em um ambiente. Essa contaminação prejudica os ecossistemas biológicos e/ou os seres humanos. A Lei nº 6.938/81, em seu artigo 3º, define poluição como: 12 [...] a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que, direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições adversas para as atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos. Lembre-se que... Poluição é a contaminação do meio ambiente. 2.7 Licenciamento Ambiental Licenciamento Ambiental é o procedimento administrativo que autoriza atividades ou empreendimentos potencialmente poluidores ou que possam, de alguma forma, causar qualquer tipo de dano ao meio ambiente; estabelecendo condições, restrições e medidas de controle ambiental a serem seguidas pelo empreendedor. É por meio do licenciamento ambiental que a administração pública busca exercer o controle das atividades humanas que impactam nas condições ambientais, procurando a conciliação entre o desenvolvimento econômico e o uso de recursos naturais. Segundo o IBAMA, o licenciamento ambiental é uma obrigação legal prévia para a instalação de qualquer empreendimento ou atividade potencialmente poluidora ou degradadora do meio ambiente e possui como uma de suas mais expressivas características a participação social na tomada de decisão, por meio da realização de Audiências Públicas como parte do processo. O licenciamento ambiental exige Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EIA) e Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) que são realizados por técnicos habilitados e visam diminuir os danos ambientais e aumentar o uso sustentável dos recursos naturais. Para Edis Milaré (2001), o licenciamento ambiental, ao contrário do licenciamento simples, é ato uno, de caráter complexo, em que vários agentes interferem nas etapas e que deverá ser precedido de EIA/RIMA, sempre que houver significante impacto ambiental. Saiba Mais.. Saiba mais sobre a atuação do Ibama, em conjunto com outros órgãos e instituições, no licenciamento ambiental. O licenciamento ambiental é uma obrigação compartilhada principalmente pelos Órgãos Estaduais de Meio Ambiente e pelo IBAMA, como partes integrantes do SISNAMA (Sistema Nacional de Meio Ambiente). O IBAMA atua, principalmente, no licenciamento de grandes projetos de infraestrutura que envolvam impactos em mais de um estado e nas atividades do setor de petróleo e gás na plataforma continental. As principais diretrizes 13 para a execução do licenciamento ambiental estão expressas na Lei nº 6.938/81 e nas Resoluções CONAMA nº 001/86 e nº 237/97. 2.7.1 Tipos de licença O licenciamento ambientalcompreende três tipos de licença, sendo que para cada etapa do empreendimento/atividade é expedida um tipo de licença. Licença Prévia (LP): Concedida na fase preliminar (no planejamento) do empreendimento ou atividade – atesta a viabilidade ambiental, aprova sua localização, concepção e contém os requisitos básicos a serem atendidos nas próximas fases. Licença de Instalação (LI): Possibilita a implantação (instalação) do empreendimento ou atividade, de acordo com as especificações constantes nos projetos aprovados. Licença de Operação (LO): Autoriza, após as verificações necessárias, o início da atividade ou empreendimento licenciado, de acordo com o previsto na Licença Prévia e na Licença de Instalação. As licenças ambientais têm prazo de validade, então é importante, durante a fiscalização, que você observe a validade da mesma: As licenças ambientais possuem prazo de validade, podendo ser renovadas, a teor do que estabelecem os arts. 9º, IV, da Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, e 18 da Resolução CONAMA n. 237/97. Segundo esse último dispositivo, cada modalidade de licença ambiental estaria sujeita a prazos máximos de validade (cinco anos para a LP, seis anos para a LI e dez anos para a LO), o que lhes retiraria o caráter de definitividade. (p. 38) Existe uma exceção que é a seguinte, para atividades de pequeno impacto ambiental (como por exemplo: cortar algumas árvores) é concedida uma licença única, inominada: Excepcionalmente, tratando-se de atividades de pequeno potencial de impacto no ambiente, poderão ser estabelecidos procedimentos simplificados [...] poderá ser admitido um único processo de licenciamento ambiental. (BELTRÃO, 2009, p. 166) Lembre-se que... “O licenciamento ambiental é uma obrigação legal prévia à instalação de qualquer empreendimento ou atividade potencialmente poluidora ou degradadora do meio ambiente.” (IBAMA) Aula 3 – Biodiversidade Brasileira Nesta aula, você estudará sobre a riqueza da biodiversidade brasileira, para que comece a entender a importância do seu papel como profissional da área de segurança pública no enfrentamento aos crimes ambientais. 14 Você sabe o que é biodiversidade e qual sua importância? Nesta aula você conhecerá a resposta. 3.1 Biodiversidade A biodiversidade refere-se à variedade de vida no planeta Terra, incluindo a variedade genética dentro das populações e espécies; à diversidade de espécies da flora, da fauna, de fungos macroscópicos e de microrganismos; à variedade de funções ecológicas desempenhadas pelos organismos nos ecossistemas; às diferentes comunidades, habitats e ecossistemas formados pelos organismos. Ela inclui a totalidade dos recursos vivos ou biológicos, e dos recursos genéticos e seus componentes. A Convenção sobre Diversidade Biológica, em seu artigo 2º, define biodiversidade ou diversidade biológica como a variabilidade de organismos vivos de todas as origens, compreendendo, dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos de que fazem parte; e, ainda, a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas. Biodiversidade ou diversidade biológica (grego: bios, vida) diz respeito à variedade de vida. Segundo informações do IBAMA, o Brasil é o país de maior biodiversidade do planeta, que é qualificada pela diversidade de ecossistemas, de espécies biológicas, de endemismos e de patrimônio genético, por essa razão o país é considerado megabiodiverso, reunindo pelo menos 70% das espécies vegetais e animais do planeta. O Brasil concentra 55 mil espécies de plantas superiores (22% de todas as que existem no mundo), muitas delas endêmicas; 524 espécies de mamíferos; mais de 3 mil espécies de peixes de água doce; entre 10 e 15 milhões de insetos (a maioria ainda por ser descrita); e mais de 70 espécies de psitacídeos: araras, papagaios e periquitos. No Brasil estão quatro dos biomas mais ricos do planeta: Mata Atlântica, Cerrado, Amazônia e Pantanal que, infelizmente, correm sérios riscos. O Brasil possui a maior rede hidrográfica do mundo, sendo que 13% (treze por cento) da água doce do planeta está aqui. Biodiversidade é a variedade de todas as formas de vida existentes. Aula 4 – Política Nacional do Meio Ambiente A Política Nacional do Meio Ambiente trata das diretrizes para a preservação e conservação do meio ambiente no país. 15 A Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação e estabelece que sua execução se dará por intermédio do Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA). 4.1 O SISNAMA O Sistema Nacional de Meio Ambiente – o SISNAMA é o conjunto de instituições e órgãos públicos responsáveis pela política nacional do meio ambiente que visa à proteção e à melhoria da qualidade do meio ambiente nas três instâncias: federal, estadual e municipal. O SISNAMA é o responsável pelas políticas de proteção ambiental. 4.1.1 A estrutura do SISNAMA Como os problemas ambientais são setorizados, ou seja, cada região possui suas próprias peculiaridades, o sistema é composto de órgãos federais, estaduais e municipais, de forma que a aplicação da lei atenda às circunstâncias locais. Conheça agora os órgãos que compõe o SISNAMA. Órgão Superior: O Conselho de Governo. Órgão Consultivo e Deliberativo: O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). Órgão Central*: O Ministério do Meio Ambiente (MMA). *Desde 1992, a Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República foi extinta e em seu lugar surgiu o Ministério do Meio Ambiente; embora a lei não tenha sido atualizada, quem faz as vezes de órgão central do SINASMA é o Ministério do Meio Ambiente. Órgão Executor: O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Órgãos Seccionais: Os órgãos ou entidades federais/estaduais responsáveis pela execução de programas, projetos e pelo controle e fiscalização de atividades capazes de provocar a degradação ambiental. Órgãos Locais: Os órgãos ou entidades municipais, responsáveis pelo controle e fiscalização dessas atividades nas suas respectivas jurisdições. É importante entender que os Estados e os Municípios participam de forma ativa do SISNAMA e são responsáveis por elaborarem normas complementares à União. Exemplo: Se a legislação federal estabelece que a quantidade máxima de pescado por pescador é de 15kg + 1 exemplar de qualquer tamanho, o Estado de Tocantins pode fixar em 10kg a quantidade permitida no estado (nunca acima da norma federal, sempre de forma mais restritiva), de igual modo, o Município de Miracema – TO, pode baixar a norma e estabelecer que nos limites do município a quantidade máxima é de 5kg. 16 4.1.2 Competências do Sistema Nacional de Meio Ambiente Os órgãos que compõem o SISNAMA são responsáveis pelo licenciamento ambiental, pela criação de unidades de conservação, pelo controle de atividades potencialmente poluidoras, dentre outras competências. Ao estudar a legislação que trata dos crimes ambientais, observe que as infrações são punidas nas esferas penal e administrativa, e você, como agente encarregado da aplicação da lei, só poderá agir, administrativamente, se o órgão ao qual pertencer for membro do SISNAMA ou tiver celebrado convênio com órgão ou entidade membro do SISNAMA. Assim, juntamente à União, os Estados e os Municípios têm competência para legislar em matéria ambiental, como a Constituição Federal prescreve. Infraçãoambiental Para lavrar o auto de infração ambiental, o órgão ao qual você pertence deve estar devidamente credenciado, portanto, quando se deparar com a ocorrência, acione a Polícia Militar Ambiental do seu Estado ou o IBAMA, para que eles possam tomar as medidas administrativas cabíveis. Para seu conhecimento, as infrações ambientais são punidas com as seguintes penas administrativas, dentre outras: • Advertência; • Multa; • Embargo; • Suspensão das atividades; • Apreensão* dos animais**; dos produtos e subprodutos da prática delituosa, inclusive os instrumentos*** utilizados para a prática do crime; • Destruição dos produtos e subprodutos apreendidos. * Diferentemente das regras do Código Penal, em que a apreensão dos instrumentos e dos produtos do crime é efeito da condenação. Nos crimes ambientais, não se espera a condenação do infrator para a realização da apreensão dos produtos e instrumentos da infração ou crime ambiental, tendo em vista muitas vezes tratar-se de animais ou de produtos perecíveis. Assim, de acordo com o art. 25 da Lei de Crimes Ambientais, os produtos e instrumentos serão apreendidos logo que verificada a infração, dando-se a eles destinação estabelecida nos parágrafos do art. 25 da LCA. (GARCIA; THOMÉ, 2010, p. 310). ** A Lei n.º 13.052, 08 de dezembro de 2014, alterou o art. 25 da LCA, ao prescrever que os animais apreendidos deverão ser prioritariamente libertados em seu habitat, e, se tal medida não for viável ou recomendada por questões sanitárias, os animais deverão ser entregues a jardins zoológicos, fundações ou entidades assemelhadas, para guarda e cuidados de técnicos habilitados. No período de espera da destinação o órgão que realizou a apreensão deve cuidar dos animais e garantir seu bem-estar físico. *** Nos crimes ambientais, qualquer instrumento utilizado na prática do crime pode ser confiscado, independentemente de ser lícito ou ilícito, como, por exemplo, caminhão que transporta madeira ilegal. O objeto em si 17 (caminhão) é lícito, mas se é utilizado usualmente na prática de crime ambiental, será confiscado. (GARCIA; THOMÉ, 2010, p. 310). Quanto à competência para agir no caso de infrações ambientais, Antônio Beltrão ensina que: O poder de polícia a ser exercido pelos entes federados insere-se nesta competência administrativa. Logo, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios possuem competência comum para realizar os atos derivados do poder de polícia, como, por exemplo, os relativos à fiscalização e à autuação administrativa das infrações ambientais. Por tal atribuição ser comum, todos estes entes públicos possuem igual responsabilidade, não podendo renunciá-la.” (BELTRÃO, 2009, p. 69, grifo nosso). Aula 5 – Lei de Crimes Ambientais (LCA) A Lei n.º 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, conhecida como a Lei de Crimes Ambientais (LCA) – A Lei da Vida -, procurou cumprir o disposto na Constituição, e foi editada com vistas a disciplinar a proteção jurídica do meio ambiente que, anteriormente, era constituída de leis e de decretos vagos e esparsos, o que contribuía para a não aplicabilidade da legislação até então vigente. A Lei de Crimes Ambientais (LCA) é um dos grandes marcos jurídicos da proteção ambiental, sendo comparada ao Código de Defesa do Consumidor (CDC) e ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), como legislação avançada para sua época, e é referência mundial no que diz respeito à proteção ao meio ambiente e ao enfrentamento aos crimes ambientais. Importante! A Lei de Crimes Ambientais será seu principal instrumento de trabalho no enfrentamento aos Crimes Ambientais. 4.1 As inovações da LCA A Lei de Crimes Ambientais procurou unificar as diversas práticas lesivas ao meio ambiente e representa um significativo avanço na tutela do meio ambiente. Com as mudanças na LCA, as penas se tornaram mais uniformes, com gradação adequada e as infrações mais definidas, como: • Abuso e maus-tratos aos animais nativos e exóticos passa a ser crime; • Experiências dolorosas e cruéis em animal vivo, mesmo que para fins didáticos são consideradas crime; 18 • Fabricar, vender, transportar e soltar balões, pelo risco de causar incêndios, sujeita o infrator à prisão e multa • O desmatamento não autorizado é crime; • Pichar edificação ou monumento urbano passou a ser crime. Veja as principais inovações da LCA: Antes Depois Leis esparsas e de difícil aplicação A legislação ambiental é consolidada; as penas têm uniformização e gradação adequadas e as infrações são claramente definidas. Pessoa jurídica não era responsabilizada criminalmente. Define a responsabilidade da pessoa jurídica – inclusive a responsabilidade penal – e permite a responsabilização também da pessoa física autora ou coautora da infração. Pessoa jurídica não tinha decretada liquidação quando cometia infração ambiental. Pode ter liquidação forçada no caso de ser criada e/ou utilizada para permitir, facilitar ou ocultar crime definido na lei, e, seu patrimônio é transferido para o Patrimônio Penitenciário Nacional. A reparação do dano ambiental não extinguia a punibilidade. A punição é extinta com apresentação de laudo que comprove a recuperação do dano ambiental. Impossibilidade de aplicação direta de pena restritiva de direito ou multa. A partir da constatação do dano ambiental, as penas alternativas ou a multa podem ser aplicadas imediatamente. Aplicação das penas alternativas era possível para crimes cuja pena privativa de liberdade fosse aplicada até 2 (dois) anos. É possível substituir penas de prisão até 4 (quatro) anos por penas alternativas, como a prestação de serviços à comunidade. A grande maioria das penas previstas na lei tem limite máximo de 4 (quatro) anos. O destino dos produtos e instrumentos da infração não era bem definido. Produtos e subprodutos da fauna e flora podem ser doados ou destruídos, e os instrumentos utilizados quando da infração podem ser vendidos. Matar um animal da fauna silvestre, mesmo para se alimentar, era crime inafiançável. Matar animais continua sendo crime, mas não é mais inafiançável. No entanto, para saciar a fome do agente ou da sua família, a lei descriminaliza o abate. Maus-tratos contra animais domésticos e domesticados era contravenção. Além dos maus tratos, o abuso contra esses animais, bem como aos nativos ou exóticos, passa a ser crime. 19 Não havia disposições claras relativas a experiências realizadas com animais. Experiências dolorosas ou cruéis em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, são consideradas crimes, quando existirem recursos alternativos. Pichar não tinha pena claramente definida. A prática de pichar ou de qualquer forma de poluir edificação ou monumento urbano, sujeita o infrator a até um ano de detenção. A prática de soltura de balões não era punida de forma clara. Fabricar, vender, transportar ou soltar balões, pelo risco de causar incêndios em florestas e áreas urbanas, sujeita o infrator à prisão e multa. Destruir ou danificar plantas de ornamentação em áreas públicas ou privadas era considerado contravenção. Destruição, dano, lesão ou maus-tratos às plantas de ornamentação é crime, punido por até 1 (um) ano. O acesso livre às praias era garantido, entretanto, sem prever punição criminal a quem o impedisse. Quem dificultar ou impedir o uso público das praias está sujeito a até 5 (cinco) anos de prisão. Desmatamentos ilegais e outras infrações contra a flora eram consideradascontravenções. O desmatamento não autorizado agora é crime, além de ficar sujeito a pesadas multas. A comercialização, o transporte e o armazenamento de produtos e subprodutos florestais eram punidos como contravenção. Comprar, vender, transportar, armazenar madeira, lenha ou carvão, sem licença da autoridade competente, sujeita o infrator a até 1 (um) ano de prisão e multa. A conduta irresponsável de funcionários de órgãos ambientais não estava claramente definida. Funcionário de órgão ambiental que fizer afirmação falsa ou enganosa, omitir a verdade, sonegar informações ou dados em procedimentos de autorização ou licenciamento ambiental, pode pegar até 3 (três) anos de cadeia. As multas, na maioria, eram fixadas através de instrumentos normativos passíveis de contestação judicial. A fixação e a aplicação de multas têm a força da lei. A multa máxima por hectare, metro cúbico ou fração era de R$ 5 mil. A multa administrativa varia de R$ 50 a R$ 50 milhões. As normas de direito penal que abrangem os crimes ambientais foram adequadamente reunidas em um único dispositivo legal, embora não seja possível prever todos os atos lesivos contra o meio ambiente, dada a complexidade e diversidade dos crimes que podem ser praticados contra a natureza. Ainda assim, não restam dúvidas de que se trata de uma legislação avançada, que é referência legislativa, mesmo com suas lacunas e defeitos. 20 Saiba Mais... Associados aos crimes ambientais, em geral, há outros crimes, como: - Crime contra a ordem tributária; - Porte ilegal de arma de fogo; - Improbidade administrativa; - Contrabando ou descaminho; - Condescendência criminosa; - Prevaricação, etc. 4.2 Outras leis sobre o meio ambiente Depois da edição da LCA, surgiram outras legislações afetas ao meio ambiente, dentre essas podemos destacar: • Lei n.º 9.795, de 27 de abril de 1999, dispõe sobre a educação ambiental e instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental, prescrevendo que a educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal. • Lei nº 9985, de 18 de julho de 2000, Sistema Nacional de Unidades de Conservação, estabelecendo critérios e normas para a criação, implantação e gestão das unidades de conservação. • Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001, Estatuto da Cidade, estabelecendo normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental. • Lei nº. 12.651, de 25 de maio de 2012, Novo Código Florestal, que estabelece normas gerais sobre a proteção da vegetação, áreas de Preservação Permanente e as áreas de Reserva Legal; a exploração florestal, o suprimento de matéria-prima florestal, o controle da origem dos produtos florestais e o controle e prevenção dos incêndios florestais. • Lei n.º 13.123, de 20 de maio de 2015, Lei de Acesso ao Patrimônio Genético e Conhecimento Tradicional, dispõe sobre o acesso ao patrimônio genético, sobre a proteção e o acesso ao conhecimento tradicional associado e sobre a repartição de benefícios para conservação e uso sustentável da biodiversidade. Finalizando... Neste módulo, você estudou as noções básicas que nortearam o curso de Crimes Ambientais e aprendeu que: • Com a edição da Constituição Federal em 1988, o meio ambiente passou a figurar como um direito constitucional de todos, sendo que, pela primeira vez, a tutela ambiental passou a fazer parte da norma constitucional e o meio ambiente a ser visto como um todo; 21 • O meio ambiente é constituído pelos seres vivos e por tudo mais que interage com eles; • Crime ambiental é qualquer dano ou prejuízo causado aos elementos que compõem o meio ambiente, protegidos pela legislação; • Fauna é o conjunto de animais de um determinado local, sendo que para fins de aplicação da lei está dividida em três grupos: fauna silvestre – Conjunto de animais que vivem em determinada região, afastados do convívio do meio ambiente humano; fauna exótica – É a originaria de outro país; e fauna Doméstica ou domesticada – espécies passíveis de domesticação; • Flora é o conjunto de plantas de uma determinada região, sendo que a legislação protege diversos espaços em virtude de sua importância natural; • Poluição é a contaminação do meio ambiente; • Licenciamento Ambiental é o procedimento administrativo que autoriza atividades ou empreendimentos potencialmente poluidores ou que possam, de alguma forma, causar qualquer tipo de dano ao meio ambiente; estabelecendo condições, restrições e medidas de controle ambiental a serem seguidas pelo empreendedor. • Biodiversidade diz respeito à variedade de vida; o Brasil é o país de maior biodiversidade do planeta; • Como parte da Política Nacional do Meio Ambiente foi criado o SISNAMA, que é um conjunto de instituições e órgãos públicos responsáveis pela política nacional do meio ambiente que visa à proteção e à melhoria da qualidade do meio ambiente nas três instâncias: federal, estadual e municipal; • A Lei n.º 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, conhecida como a Lei de Crimes Ambientais (LCA) – A Lei da Vida -, procurou cumprir o disposto na Constituição, e foi editada com vistas a disciplinar a proteção jurídica do meio ambiente que, anteriormente, era constituída de leis e de decretos vagos e esparsos, o que contribuía para a não aplicabilidade da legislação até então vigente. • A Lei de Crimes Ambientais (LCA) será sua principal ferramenta de trabalho para enfrentar os crimes ambientais. Exercícios 1. Com relação ao previsto na Constituição Federal sobre meio ambiente, assinale os itens FALSOS. a. A proteção ao meio ambiente não é prevista na Constituição Federal. b. O princípio da participação da população na proteção do meio ambiente está previsto na Constituição Federal. c. Os municípios não detêm competência para legislar em matéria afeta ao meio ambiente. d. A Constituição Federal implementou um novo direito na ordem constitucional: o direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. 22 2. De acordo com os conceitos apresentados neste módulo, arraste os itens da primeira coluna para seu correspondente, na segunda coluna. (1) Crimes Ambientais (2) Fauna (3) Flora (4) Poluição (5) Licença Ambiental ( ) É a autorização legal para a realização de qualquer empreendimento ou atividade potencialmente poluidora ou degradadora do meio ambiente. ( ) Conjunto de animais de um determinado local. ( ) É a contaminação do meio ambiente. ( ) Conjunto de plantas de uma determinada região. ( ) Qualquer dano ou prejuízo causado aos elementos que compõem o meio ambiente, protegidos pela legislação. 3. A respeito das noções fundamentais de direito ambiental, assinale as alternativas VERDADEIRAS. a. O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o seu relatório (RIMA) são documentos necessários para o licenciamento ambiental e visam diminuir os danos ambientais e aumentar o uso sustentável dos recursos naturais. b. O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), órgão consultivo e deliberativo, integra o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA). c. As unidades de conservação integrantes do SNUC dividem-se em dois grupos: unidades de proteção integral e unidades de uso sustentável. d. O Estudo de Impacto Ambiental figura como um dos mais eficazes instrumentos de defesa do meio ambiente, devendoser realizado, sempre que possível, após o licenciamento da atividade. 4. De acordo com os conceitos apresentados sobre fauna silvestre, exótica e doméstica, relacione a segunda coluna de acordo com a primeira: (1) Fauna Silvestre (2) Fauna Exótica (3) Fauna Doméstica ou Domesticada ( ) Javali, cacatua, leão, urso. ( ) Papagaio, arara, águia-pescadora, baleia jubarte. ( ) Gato siamês, cachorro poodle, cavalo, galo. 23 5. De acordo com o estudado no módulo em questão, assinale as alternativas VERDADEIRAS. a. Biodiversidade ou diversidade biológica é a variedade de todas as formas de vida existentes. b. O SISNAMA é o conjunto de instituições e órgãos públicos responsáveis pela política nacional do meio ambiente que visa à proteção e à melhoria da qualidade do meio ambiente nas três instâncias: federal, estadual e municipal. c. Os estados e os municípios não podem legislar em matéria ambiental. d. A Lei de Crimes Ambientais (9.605/98) unificou a esparsa legislação ambiental, e, é a principal ferramenta no enfrentamento as infrações ambientais. 24 Gabarito 1. Resposta Correta: Letras A e C 2. Resposta Correta: 5-2-4-3-1 3. Resposta Correta: Letras A, B e C 4. Resposta Correta: 2-1-3 5. Resposta Correta: Letras A, B e D 25 Apresentação do módulo “Pã, divindade da Grécia antiga, com seu corpo meio homem, meio animal, com pernas e chifres de bode, protegia os bosques e os campos, sendo a própria personificação da natureza. Seu correspondente latino, a divindade fauno, deu origem, provavelmente, ao termo fauna, que designa atualmente o conjunto de animais que habita uma determinada região” (BELTRÃO apud BULFINCH, 2009, p. 87) Neste módulo você estudará sobre os crimes contra a fauna, o que é imprescindível para a sua atuação como agente encarregado da aplicação da lei. Seu estudo estará fundamentado na Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, lei já vista por você, e conhecida como Lei de Crimes Ambientais. “A grandeza de uma nação pode ser julgada pelo modo como seus animais são tratados.” Mahatma Ghandi Objetivo do módulo Ao final deste módulo, você será capaz de: • Listar as primeiras providências a serem tomadas no caso de crime ambiental contra a fauna; • Conscientizar-se para a importância da preservação/conservação dos recursos faunísticos; • Descrever os principais crimes praticados contra a fauna; • Identificar a legislação pertinente aos crimes contra a fauna; • Identificar as infrações contra a fauna; • Reconhecer a importância de atuar de forma correta diante dos ilícitos penais contra a fauna. MÓDULO 2 CRIMES CONTRA A FAUNA 26 Estrutura do Módulo Este módulo abrange as seguintes aulas: • Aula 1 - Procedimentos e erros comuns nas ocorrências; • Aula 2 – A caça; • Aula 3 - O comércio ilegal; • Aula 4 - Introdução de espécies exóticas; • Aula 5 - Maus-tratos; • Aula 6 - Degradação do ambiente aquático; • Aula 7 - Os crimes de pesca. Aula 1 – Procedimentos e erros comuns nas ocorrências 1.1 Procedimentos: avaliação e aplicação da LCA (se couber) Como membro do sistema de segurança pública, você deve além de adotar os procedimentos padrões para uma abordagem e condução de detidos, aplicar o que será exposto a seguir quando se deparar com crimes contra a fauna. Ao chegar no local, você deve inicialmente avaliar a situação: A V A L IA Ç Ã O 1. Observe a presença de pessoas 2. Identifique os possíveis infratores 3. Solicite a documentação ambiental (licenças, autorizações, relações de animais, ...) 4. Analise a documentação apresentada A partir da avaliação inicial, se você constatar irregularidades, aplique a LCA e tome as providências apresentadas a seguir, quando necessárias. 27 A P L IC A Ç Ã O D A L C A E P R O V ID Ê N C IA S N E C E S S Á R IA S 1. Prenda o infrator ou o responsável pelo empreendimento. 2. Registre toda ação policial, através de fotos ou vídeo, com vistas a registrar toda ação criminosa, em especial porque certas provas em crimes ambientais não são repetíveis. 3. Isole e preserve o local do crime, uma vez que a perícia é essencial para a constatação do dano ambiental. 4. Identifique cada material/animal com o seu respectivo proprietário, fazendo o registro adequado. 5. Apreenda o material/animal objeto do crime e tome as providências logísticas para o transporte e guarda do mesmo. 6. Tome as providências necessárias para a lavratura do Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) ou Auto de Prisão em Flagrante (APF). 7. Contate o Batalhão de Polícia Ambiental (Florestal), IBAMA ou ICMBio, se for necessário, para a confecção do auto de infração e, na ausência desses, faça contato com outros órgãos ambientais que tenham competência para confeccionar o auto de infração ambiental. 8. Verifique se na sua região de atuação existem Centros de Triagem de Animais Silvestres (CETAS) ou de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS), para onde devem ser encaminhados os animais silvestres provenientes da ação fiscalizatória, para que possam ser identificados, avaliados, tratados e reabilitados; sendo que o relatório veterinário provavelmente virá a instruir o procedimento a ser encaminhado ao Ministério Público para as providências pertinentes. 9. Tome as medidas adequadas para a destinação correta do material/animal apreendido. Conduta criminosa? Na dúvida não decida! Peça ajuda à Polícia Ambiental ou ao IBAMA. 1.2 Erros comuns nas ocorrências de crimes contra a fauna • Veja quais são os erros mais comuns. • Não identificar o crime. • Confundir as infrações. • Deixar de agir (prevaricação). • Não dar a destinação correta aos materiais/animais apreendidos. • Deixar de confeccionar Boletim de Ocorrência e de proceder na lavratura do Termo Circunstanciado ou Auto de Prisão em Flagrante. 28 • Deixar de acionar a Polícia Ambiental (Florestal) ou IBAMA para confecção do auto de infração. Agora que já sabe como proceder, estudará, a cada aula, um dos tipos penais. Aula 2 – Caça Antes de iniciar seu aprendizado, reflita sobre a situação a seguir e responda o que faria: Refletindo sobre a questão... Você está realizando um ponto de bloqueio policial (barreira) e, ao abordar um veículo, constata que existem diversos animais dentro de caixas de isopor, dentre eles: 2 tatus, 1 teiú e 1 caititu cortado em pedaços. E agora, o que você deve fazer como agente encarregado da aplicação da lei? Continue o estudo e verá como agir nessa situação. A fauna silvestre é propriedade do Estado (artigo 1º, da Lei nº 5.197/67), portanto, a velha concepção de que os animais são coisas de ninguém, “sem dono”, é falsa. O primeiro crime capitulado na LCA é o crime de caça, que trata justamente da proteção jurídica dos animais silvestres e dispõe o seguinte no artigo 29: Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar e utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida. Pena – Detenção, de seis meses a um ano, e multa. (Grifo nosso) • Matar: Exterminar, ceifar a vida. (Prado, 2005, p.230). • Perseguir: Incomodar, ir ao encalço, importunar, seguir de perto, correr atrás, acossar. (Prado, 2005,p.230). • Caçar: Perseguir animais a fim de matar ou de apanhar vivos. (Prado, 2005, p.230). • Apanhar: Recolher, colher, caçar com armadilhas, redes ou visgos. (Prado, 2005, p.230). • Utilizar: Servir-se, tirar proveito. (Prado, 2005, p.230). Fauna silvestre, de acordo com o parágrafo 3º, deste mesmo artigo 29, da LCA, é composta pelas espécies nativas, migratórias e quaisquer outras, aquáticas ou terrestres, que tenham todo ou parte de seu ciclo de vida ocorrendo dentro dos limites do território brasileiro, ou em águas jurisdicionais brasileiras. 29 Atenção! Apenas os animais aquáticos (excluindo peixes, crustáceos e moluscos) são objetos do crime de caça. São eles: baleias, peixes-boi, golfinhos, botos, leões-marinhos, dentre outros. Essas condutas não se aplicam aos atos de pesca. Para a prática desse crime, como a de outros crimes ambientais, o infrator tem que agir sem licença da autoridade competente, que no caso é o órgão ambiental estadual ou o IBAMA. Lembre-se... A caça profissional é proibida no Brasil. Importante! Para o manejo da fauna silvestre é necessária a devida licença expedida pelo órgão ambiental estadual ou pelo IBAMA. É importante entender que os animais domésticos e exóticos não são objetos dos crimes descritos, uma vez que a tutela jurisdicional se limita aos animais silvestres nativos. Cães, gatos, cachorros, bois, cavalos, elefantes, leões, coalas, cangurus e outras espécies domésticas ou exóticas não são tutelados por esse dispositivo legal. O parágrafo 1º, do artigo 29, da LCA e seus incisos tratam dos animais em seus habitats e visa à lei de proteção desses animais, uma vez que sem seu abrigo ou local de reprodução natural, o animal ficará extremamente exposto às intempéries naturais e a ações de predadores. Além disso, alguns animais abandonam seus locais de abrigo e procriação ao perceberem que os mesmos foram manuseados. § 1º Incorre nas mesmas penas: I – Quem impede a procriação da fauna, sem licença, autorização ou em desacordo com a obtida; e II – Quem modifica, danifica ou destrói ninho, abrigo ou criadouro natural. Lembre-se que... Ao se referir à procriação da fauna, o legislador refere-se à fauna silvestre nativa, e como já citado, não estão tutelados os animais domésticos nem exóticos, porque não é de interesse público tutelar sua procriação. Os parágrafos quarto e quinto, do artigo 29, da LCA, tratam dos casos de aumento de pena e prescrevem que ela triplica se o crime decorrer do exercício de caça profissional, que é proibida no Brasil e, ainda, aumenta pela metade se praticado. 30 • Contra espécie rara ou considerada ameaçada de extinção, ainda que somente no local da infração. Entende-se como espécie rara aquela que existe naturalmente em pequenas quantidades na natureza e por esta razão são difíceis de se encontrar, e espécie ameaçada de extinção constante na relação da CTIS publicada pelo IBAMA. • Em período proibido à caça, uma vez que a caça é proibida no Brasil, toda vez que se praticar um crime contra a fauna deve-se ter o aumento da pena. • Durante a noite, pois durante o período noturno a fiscalização é mais difícil de ser executada e menos eficaz. • Com abuso de licença, pois a princípio a impressão é que nenhuma infração está sendo cometida já que o infrator estava devidamente autorizado a praticar o ato. • Em unidade de conservação que foi criada pelo poder público justamente para a preservação e conservação dos ecossistemas ali existentes, pois o abate de animais pode vir a interferir no equilíbrio ecológico; • Com emprego de métodos ou instrumentos capazes de provocar destruição em massa. Importante! Não se considera como criminosa a conduta de abater um animal quando realizada: • Em estado de necessidade, para saciar a fome do agente ou de sua família; • Para proteger lavouras, pomares e rebanhos da ação predatória ou destruidora de animais, desde que legal e expressamente autorizada pela autoridade competente; e • Por ser nocivo o animal, desde que assim caracterizado pelo órgão competente. A caça de animais silvestres, assim como a destruição de ninhos e locais de procriação é crime; a caça só é permitida mediante licença do IBAMA ou do órgão ambiental estadual. Animais como o tatu, veado, paca, anta, caititu, capivara e teiú estão entre os preferidos pelos caçadores. Aula 3 - O Comércio ilegal Nesta aula, você estudará sobre uma das maiores atividades criminosas do mundo. Você sabe quais são os três maiores comércios ilegais do mundo? Nesta aula você conhecerá a resposta. Os artigos 29, § 1º, III e 30, da LCA, disciplinam o comércio ilegal de animais silvestres, que é considerada uma das atividades mais ilícitas do mundo. 31 Art. 29 [...] Pena – Detenção, de seis meses a um ano, e multa. § 1º Incorre nas mesmas penas: [...] III – Quem vende, expõe à venda, exporta ou adquire, guarda, tem em cativeiro ou depósito, utiliza ou transporta ovos, larvas ou espécimes da fauna silvestre, nativa ou em rota migratória, bem como produtos e objetos dela oriundos, provenientes de criadouros não autorizados ou sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente. Art. 30 Exportar para o exterior peles e couros de anfíbios e répteis em bruto, sem a autorização da autoridade ambiental competente: Pena – Reclusão, de um a três anos, e multa. O inciso III, do parágrafo 1º, do artigo 29, da LCA, trata do comércio da fauna silvestre, que a princípio deve ser realizado somente por criadouros/criadores autorizados pelo órgão ambiental estadual ou IBAMA, e de acordo com a permissão, licença ou autorização concedida. Saiba Mais.. A Rede de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (RENCTAS), em 2001, classificou o comércio ilegal de animais silvestres, como o terceiro comércio ilegal do mundo, só perdendo para o tráfico de drogas e de armas, movimentando cerca de US$ 20.000.000.000,00 (vinte bilhões de dólares) por ano, sendo que a participação do Brasil no total mundial é de 20%. A WWF (2012), afirma que, ao se combinar o tráfico ilícito de animais selvagens (com pesca e madeira), tem-se o quarto maior comércio ilegal do mundo, atrás de narcóticos, de seres humanos e de produtos falsificados, movimentando até cerca de U$$ 26.500.000.000,00 (vinte e seis bilhões e quinhentos milhões de dólares) por ano. 3.1 Transporte de animais silvestres Para o transporte é necessária a Licença ou Autorização de Transporte emitida pelo órgão ambiental estadual ou pelo IBAMA, bem como a Nota Fiscal que oficializou o comércio, e, quando for o caso, a Guia de Trânsito Animal (GTA) emitida pelo órgão de defesa agropecuária competente. Importante! Para o transporte internacional exige-se ainda a licença de exportação, emitida pelo IBAMA. O dispositivo tutela não somente o animal já formado, mas também as espécies em formação – ovos e larvas. O ovo representa o primeiro estágio de vida de algumas espécies, e, portanto, a destruição do ovo implica 32 na destruição de um ser que está se formando, numa quebra no ciclo de vida do espécime, semelhantemente, a larva é o primeiro estágio de vida dos insetos. Aos produtos beneficiados, como bolsas, jaquetas, cintos e botas, cuja matéria-prima seja a pele ou os couros de répteis ou anfíbios, aplica-se o disposto no artigo 29, §1º, III, por se tratar de “produto ou objeto” da fauna silvestre. 3.2 Tráfico de animais O tráfico de animais silvestres dá a impressão de ser uma atividade aparentemente inofensiva e algumas autoridadesnão dão tratamento adequado a esse tipo de crime. Para se ter ideia da potencialidade desta atividade, basta recorrer ao preço estimado praticado no mercado internacional, segundo a Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (RENCTAS), 2000: • O espécime da arara-azul-de-lear é cotado em US$ 60.000 (sessenta mil dólares); • O grama do veneno da coral-verdadeira é cotado em mais de US$ 30.000 (trinta mil dólares); • O grama do veneno da aranha-marrom vale cerca de US$ 20.000 (vinte mil dólares); • O espécime do papagaio-de-cara-roxa é cotado em US$ 6.000 (seis mil dólares); • Cada espécime de melro tem cotação em mais de US$ 2.000 (dois mil dólares). 3.3 Biopirataria Outra vertente do tráfico de animais é a biopirataria, que se constitui na exploração, manipulação, exportação e/ou comercialização internacional de recursos biológicos que contrariam as normas da Convenção sobre Diversidade Biológica. A Biopirataria se caracteriza também pela apropriação e monopolização ilegal dos conhecimentos das populações tradicionais no que se refere ao uso dos recursos naturais. A ação desses criminosos é facilitada pela ausência de uma legislação que defina as regras de uso dos recursos naturais brasileiros. A biopirataria deve ser veementemente combatida, e você deve fazer isto apoiado nesse dispositivo legal. Lembre-se... A Biopirataria é uma das modalidades de tráfico de animais silvestres. Aula 4 – Introdução de espécies exóticas Nesta aula, você estudará sobre um dos crimes responsáveis pela destruição de ecossistemas. Você lembra o que é fauna exótica? Fauna exótica é a fauna originária de outro país. 33 O artigo 31, da LCA, disciplina o combate à entrada de animais exóticos no território brasileiro, uma vez que a introdução de espécimes pode vir a alterar o equilíbrio dos ecossistemas e causar o desaparecimento de diversas espécies. O conceito de animal já foi delimitado, no início do curso, como sendo “todo ser vivo dotado de movimento que possua ausência de clorofila e celulose, que se alimente de substâncias sólidas e, normalmente, capaz de percepções sensoriais”. Já espécie é “um conjunto de indivíduos semelhantes entre si e capazes de entrecruzarem em condições naturais produzindo descendentes férteis”. Importante! O objetivo do Artigo 31 é proteger a fauna nacional, porque a introdução de um único espécime exótico pode vir a se constituir num grande problema, especialmente, se o animal introduzido não tiver aqui um predador natural e começar a destruir a fauna e a flora local. Não se constitui crime a introdução de espécime exótica desde que realizada com licença emitida pelo IBAMA ou órgão ambiental com função delegada. Essa introdução pode vir a provocar mudanças profundas no ecossistema, exemplo disso, foi a introdução de coelhos na Austrália, o que provocou a diminuição das populações de mamíferos marsupiais nativos da região, como os cangurus, por causa da alteração do habitat. Exemplo No Brasil, a introdução de javalis no sul do país é um exemplo dos danos que a introdução de espécies exóticas pode causar, eles tornaram-se um grave problema para a flora, a agricultura e a pecuária. Aula 5 –Maus-tratos Nesta aula, você estudará uma das inovações da LCA: maus-tratos e abuso de animais silvestres, exóticos e domésticos. O que você entende que são maus-tratos aos animais? Nesta aula você conhecerá a resposta. Uma das inovações da legislação foi a tutela da fauna doméstica e exótica, que anteriormente não eram protegidas pela Lei de Proteção a Fauna (Lei n.º 5.197, de 03 de janeiro de 1967). 34 A LCA dispõe que: Art. 32 Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos: Pena – Detenção, de três meses a um ano, e multa. § 1º Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos. § 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal. No módulo anterior, você aprendeu os conceitos de fauna silvestre, exótica e doméstica. Fauna Silvestre Nativa é o conjunto de animais que vivem em determinada região. São os que têm seu habitat natural nas matas, florestas, nos rios e mares; são animais que ficam, em via de regra, afastados do convívio do meio ambiente humano; Fauna Silvestre Exótica é a originária de outro país (estrangeira); Fauna Doméstica ou Domesticada é formada pelas espécies passíveis de domesticação. O caput do artigo 32, da LCA, traz as condutas de abuso e maus-tratos. Vladimir Passos de Freitas e Gilberto Passos de Freitas (2000, p. 94), assim se pronunciaram sobre as condutas previstas neste artigo: • Praticar ato de abuso é realizar uso errado do animal. Por exemplo, cavalgar por horas sem permitir descanso ao cavalo, nem lhe dar oportunidade de comer ou beber água; • Lançar galo em rinha sabendo que, mesmo vencedor, ele sairá ferido, apenas para satisfazer o desejo dos apostadores, ou transportar pássaros fechados em caixas, por horas, sem as mínimas condições de bem-estar; • Maus-tratos significam insultar e ultrajar. Por exemplo, manter cachorro permanentemente fechado em lugar pequeno, sem ventilação e limpeza; • Ferir é lesar o animal. É a ação do que exagera ao açoitar um burro, causando-lhe ferimentos; e • Finalmente, mutilar, conduta que implica em retirar parte do corpo do animal, geralmente um membro. Lembre-se... Rinha é crime! E está associada aos maus-tratos. Atente para o fato de que: O parágrafo primeiro, do artigo 32, da LCA, trata da utilização da fauna para fins científicos. Não se quer coibir pesquisas científicas, o objetivo é garantir que só serão empregados métodos dolorosos e cruéis, em animais, se não houver outra alternativa disponível, uma vez que a manipulação de novas drogas é realizada, primeiramente, nos animais para, só depois, ser utilizada em seres humanos. 35 Exemplo Luciana Cardoso Pilati (2011, p. 84) ao tratar do tema cita o exemplo da “farra do boi” (manifestação cultural de Santa Catarina), e que, segundo se entende, configuraria a conduta criminosa prevista no art. 32 da LCA. Quando do exame da matéria, o STF decidiu que a prática da “farra do boi” significa submeter os animais à crueldade, ofendendo-se, assim, o disposto no art. 225, § 1º, VII, da Constituição da República Federativa do Brasil (RE 153.531-8/SC, rel. Min. Marco Aurélio, DJU de 3-6-1997). O Decreto Lei nº 24.645, de 10 de julho de 1934, embora tenha sido revogado, trazia à tona excelentes exemplos de condutas que poderiam se constituir em maus-tratos. Lembre-se... Maus-tratos aos animais é crime. Aula 6 – A degradação do ambiente aquático Nesta aula, você estudará sobre a destruição do ambiente aquático. A proteção à fauna ictiológica começa a ser contemplada no artigo 33, da LCA: Art. 33 Provocar, pela emissão de efluentes ou carregamento de materiais, o perecimento de espécimes da fauna aquática existentes em rios, lagos, açudes, lagoas, baías ou águas jurisdicionais brasileiras: Pena – Detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas cumulativamente. Para aplicação da legislação ambiental deve se entender que a fauna aquática engloba os mamíferos, anfíbios e répteis aquáticos, bem como os peixes, os crustáceos e os moluscos. O parágrafo único, do artigo 33, da LCA dispõe o seguinte: Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas: I – Quem causa degradação em viveiros, açudesou estações de aquicultura de domínio público; II – Quem explora campos naturais de invertebrados aquáticos e algas, sem licença, permissão ou autorização da autoridade competente; III – Quem fundeia embarcações ou lança detritos de qualquer natureza sobre bancos de moluscos ou corais, devidamente demarcados em carta náutica. 36 Importante! Esse dispositivo legal visa manter o equilíbrio dos ambientes aquático. • O crime do inciso I, do artigo 33, da LCA, é bastante semelhante ao previsto no caput do artigo, com a diferença de que não se faz necessário que da degradação ambiental resulte a morte dos espécimes, além de que somente é praticado em ambiente aquáticos de propriedade do Estado, que pode ser a União ou qualquer estado federado. • O crime do inciso II, do artigo 33, da LCA, trata da exploração econômica que deve ser realizada somente com autorização do Ministério da Pesca e Aquicultura – MPA. • O inciso III, do artigo 33, da LCA, dispõe sobre a proteção dos arrecifes naturais que existem ao longo da costa brasileira. Aula 7 – Os crimes de pesca Nesta aula, você estudará um dos grandes temas da LCA: os crimes de pesca! O que é pesca? Nesta aula você conhecerá a resposta. O conceito de pesca é essencial para fins de interpretação e aplicação da lei. De acordo com o artigo 36, da Lei de Crimes Ambientais, considera-se pesca... Todo ato tendente a retirar, extrair, coletar, apanhar, apreender ou capturar espécimes dos grupos dos peixes, crustáceos, moluscos e vegetais hidróbios, suscetíveis ou não de aproveitamento econômico, ressalvadas as espécies ameaçadas de extinção, constantes nas listas oficiais da fauna e da flora. Para configurar o crime de pesca, basta a iminência da captura dos espécimes da ictiofauna, ou seja, o pescador que atira na água um instrumento de pesca proibido incorre no crime, mesmo que não consiga trazer nada da água. A pesca de vegetais não é novidade na legislação, porque o Código de Pesca já previa essa modalidade, que a princípio parece estranha, mas a flora aquática passa a ser potencialmente objeto de pesca. Atenção! A pesca irregular é crime! O artigo 34, da LCA, veda a pesca em certos períodos e locais: 37 Art. 34. Pescar em período no qual a pesca seja proibida ou em lugares interditados por órgão competente: Pena – Detenção, de um ano a três anos, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente. Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem: I – Pesca espécies que devam ser preservadas ou espécimes com tamanhos inferiores aos permitidos; O que se visa nesse artigo é a proteção da ictiofauna em períodos determinados, especialmente, durante a desova e em certos locais, para que as populações possam se desenvolver. Diferentemente dos crimes contra a fauna é o Ministério da Pesca e Aquicultura quem estabelecerá quais as espécies que poderão ser pescadas e quais os tamanhos mínimos permitidos para a pesca. Importante! Você precisa entender que o legislador visou à proteção das espécies que estejam em risco de extinção ou que ainda não atingiram o tamanho suficiente, em especial porque ainda não se reproduziram. Com a finalidade de garantir a continuidade das espécies de peixes, crustáceos, moluscos e vegetais hidróbios, foi editado no inciso II, do artigo 34, da LCA, a proibição da pesca em quantidades superiores às permitidas ou mediante a utilização de aparelhos, apetrechos, técnicas e métodos não permitidos. Importante! Cada região hidrográfica possui características próprias quanto aos instrumentos que são ou não permitidos para a pesca em águas interiores, em geral, os seguintes apetrechos são proibidos: redes e tarrafas de arrasto de qualquer natureza, redes de emalhar, espinhéis e joão bobo. Consulte o órgão local ambiental para certificar-se dos instrumentos e apetrechos proibidos em sua região. Durante a atividade de fiscalização você sempre deverá observar a legislação complementar que é divulgada pelo Ministério da Pesca e Aquicultura. Lembre-se... Cada bacia hidrográfica possui legislação específica por conta de suas peculiaridades e espécies ocorrentes, por isto ao agir certifique-se das normas vigentes em sua localidade. 38 7.1 A comercialização Quanto ao processo de comercialização dos produtos de pesca, prescreveu o legislador, no inciso III, do artigo 34, da LCA, sobre o transporte, comercialização, beneficiamento e industrialização de espécimes provenientes da coleta, apanha e pesca proibidas. Reprime-se neste dispositivo a receptação dos espécimes oriundos da pesca ilegal. O dispositivo visa punir aquele que se utiliza do recurso natural para auferir lucros, não se importando com a origem do pescado. O tipo penal disciplina todo o ciclo de comercialização, desde o transporte, o beneficiamento, a industrialização até a venda dos espécimes da ictiofauna. Dentro desse tipo penal tem-se a pesca ilegal de peixes ornamentais, que alcançam valores astronômicos no mercado internacional. A ganância dos pescadores ou das empresas que exploram a atividade pesqueira pode trazer um malefício terrível ao meio ambiente, que é a extinção de espécies. Lembre-se... O Ministério da Pesca e Aquicultura é o responsável por determinar quais são as quantidades permitidas por pescador ou por embarcação e por definir quais são os apetrechos permitidos. Quanto à pesca predatória, a mesma está disciplinada no artigo 35, da LCA: Art. 35. Pescar mediante a utilização de: I – Explosivos ou substâncias que, em contato com a água, produzam efeito semelhante; e II – Substâncias tóxicas ou outro meio proibido pela autoridade competente: Pena – Reclusão de um ano a cinco anos. O artigo visa combater todo tipo de pesca predatória, que destrói todo o habitat aquático da ictiofauna, sendo esta a razão por que a pena foi agravada nesse tipo penal, pois o infrator não está preocupado em preservar o ambiente para que ele, futuramente, possa vir a pescar, uma vez que este tipo de pesca predatória causa danos irreversíveis ao meio ambiente, destruindo toda fauna e flora aquáticas. Observação Os tamanhos mínimos não se aplicam aos peixes de piscicultura. Nesse caso, é necessário comprovar a origem do peixe, através de nota fiscal. Atenção! É crime capturar, transportar e comercializar espécies protegidas, peixes abaixo do tamanho mínimo e além do limite por pescador amador, que é de 10kg mais um exemplar (ou o limite estipulado por legislação estadual/municipal, quando inferior a 10kg). 39 Finalizando... Neste módulo você estudou que... • A fauna silvestre é constituída de todo e qualquer animal que tenha todo ou parte de seu ciclo de vida ocorrendo dentro dos limites do território brasileiro, ou águas jurisdicionais brasileiras. Logo, os animais migratórios fazem parte de nossa fauna, como as aves migratórias e os cetáceos. • Exemplos dos crimes citados neste módulo: • A caça (sendo que a caça profissional é proibida no Brasil); • Venda de animais silvestres em feiras livres ou lojas; • Comercialização ilegal de sapatos, bolsas, casacos, dentre outros artefatos e objetos que são produtos/subprodutos da fauna silvestre; • Manutenção de animais silvestres em cativeiro; • Transporte irregular de animais silvestres; • Maus-tratos aos animais (rinha de galo, espancamento, etc.); • Degradação do ambiente aquático pela emissão de detritos; e • Pesca irregular (quantidades maiores que as permitidas, nos locais proibidos, em período de defeso,
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