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Brenna Esteves Iesc II TERRITORIALIZAÇÃO Visão geral No Brasil, a territorialização é um pressuposto básico do Programa de Saúde da Família (PSF), instituído pelo Ministério da Saúde desde 1994. A Estratégia de Saúde da Família foi proposta como modelo de assistência baseado na prevenção e na promoção da saúde, com reestruturação dos serviços de saúde e de sua relação com a comunidade e com atuação nos níveis de atenção primária, secundária e terciária com consequente melhora da acessibilidade. A territorialização, nos sistemas de saúde, surge em 1920, com o Relatório Dawson, por solicitação do governo inglês, fruto do debate de mudanças no sistema de proteção social depois da Primeira Guerra Mundial, devido à necessidade de se implantar um sistema de redes no serviço público de saúde. A territorialização é um aspecto fundamental para o desenvolvimento de uma prática da Medicina de Família e Comunidade (MFC) de acordo com seus princípios: II Princípio - A MFC é influenciada pela comunidade: o médico de família e comunidade deve apresentar habilidade para responder e adaptar-se às mudanças de situação e à diversidade de situações clínicas de acordo com as necessidades das pessoas e utilizando-se dos recursos disponíveis, assim como utilizar-se da rede de serviços secundários e terciários com critérios. III Princípio - O médico de família e comunidade é recurso de uma população definida: havendo uma responsabilidade para assegurar melhoria nas condições de saúde dessa população, em especial, daquelas com maior risco social, com a possibilidade de avaliar, planejar estratégias e implementar ações de prevenção e de promoção à saúde, individuais e coletivas da população. TERRITORIALIZAÇÃO: BASE PARA A OPERACIONALIZAÇÃO DA VIGILÂNCIA EM SAÚDE O objetivo do processo de territorialização é permitir que as necessidades e os problemas dos grupos sejam definidos, possibilitando o estabelecimento de ações mais apropriadas e resolutivas. A territorialização é uma condição para a obtenção e a análise de informações sobre as condições de vida e de saúde da população e meio pelo qual se podem compreender os contextos de uso do território em todos os níveis das atividades humanas (econômico, social, cultural), produzindo-se dados mais fidedignos que reproduzam a realidade social. Para a edificação da vigilância em saúde, deve-se avaliar, sob uma ótica situacional, os problemas de saúde e seus fatores determinantes como objeto de intervenção. As ações de vigilância em saúde, primordialmente, deverão ser estabelecidas sobre uma base territorial local de saúde, levando-se em consideração as relações locais e o acesso às ações e aos serviços de saúde. Brenna Esteves Iesc II A territorialização integra o planejamento estratégico situacional, ferramenta básica da vigilância em saúde. Os problemas e as necessidades da população de um território serão conhecidos a partir de uma coleta sistemática de dados, por meio da qual serão determinadas as populações expostas a risco, os problemas prioritários, as vulnerabilidades e as relações interespaciais que geram necessidade de intervenção. A elaboração dos diagnósticos territoriais requer dados de condições de vida e saúde da população e está relacionada ao trinômio estratégico "informação-decisão-ação" O processo de análise do território necessita de informações que reflitam a realidade social, gerando a operacionalização de decisões e de ações estratégicas na dimensão do processo saúde-doença que atuem na resolução das necessidades sociais, seja de grupos de risco, seja de agravos, entre outros. TERRITÓRIO Conceito: o território é um espaço limitado político-administrativamente ou por ação de um grupo social, em que se edificam e exercitam os poderes do Estado e dos cidadãos, de grande importância para a definição estratégica de políticas públicas. O território é relativamente homogêneo. Para se efetivar o processo de territorialização, deve-se delimitar a área de atuação dos serviços, analisar o ambiente, a população e a dinâmica social da área e definir relações horizontais com outros serviços e verticais com centros de referência. Deve-se abordar a regionalização da assistência com os objetivos de reorganizar e descentralizar o sistema e de obter soluções mais adequadas aos problemas na área da saúde. "As regiões de saúde são entendidas como recortes territoriais inseridos em um espaço geográfico contínuo, identificadas pelos gestores municipais e estaduais a partir de identidades culturais, econômicas e sociais, de redes de comunicação e infraestrutura de transportes compartilhados do território". As regiões devem garantir os serviços de média e alta complexidade, mesmo que seja necessária a pactuação cooperativa entre elas, constituindo-se em uma macrorregião. As regiões podem se apresentar de acordo com os seguintes formatos: • Regiões intraestaduais: organizadas por mais de um município em um mesmo estado; • Regiões intramunicipais: compostas dentro de um mesmo município de grande extensão territorial e densidade populacional; • Regiões interestaduais: consolidada a partir de municípios limítrofes em diferentes estados; • Regiões fronteiriças: criadas por municípios limítrofes com países vizinhos. A gestão de uma região deve permitir uma cogestão solidária e cooperativa e uma permanente pactuação de soluções para a organização de uma rede de ações e serviços por meio de um Colegiado de Gestão Regional, cujo funcionamento deve ser acordado pela Comissão Intergestores Bipartite. Brenna Esteves Iesc II Para a composição da Região de Saúde, são necessárias a contiguidade entre os municípios, respeitando-se a identidade do cotidiano social, econômica e cultural local, a existência de infraestrutura de transportes e comunicação, permitindo o fluxo entre os municípios, e a existência de fluxos assistenciais. A organização territorial da assistência à saúde, no âmbito estadual, ocorre da seguinte forma: • Região de saúde: espaço territorial, coincidente ou não com a divisão administrativa do estado, conforme decisão da Secretaria Estadual de Saúde, com base em especificidades, estratégias regionais e características demográficas, socioeconômicas, geográficas, sanitárias, epidemiológicas, oferta de serviços e relações entre municípios. • Módulo assistencial: constituído por um ou mais municípios, sendo estabelecido um município-sede, habilitado em Gestão Plena do Sistema Municipal (GPSM) ou em Gestão Plena da Atenção Básica Ampliada (GPAB-A), com capacidade de ofertar serviços de média complexidade, compreendendo atividades ambulatoriais de apoio diagnóstico e terapêutico e de internação hospitalar com suficiência para sua própria população e para a populaçãode outros municípios a ele adscritos. • Município-sede do módulo assistencial: município existente em um módulo assistencial, correspondente ao primeiro nível de referência intermunicipal, que apresente a capacidade de ofertar serviços de média complexidade, compreendendo atividades ambulatoriais de apoio diagnóstico e terapêutico e de internação hospitalar para sua população e para a população de outros municípios a ele adscritos. • Município-polo: município capaz de ser a referência para outros municípios, em qualquer nível de atenção. • Unidade territorial de qualificação na assistência à saúde: menor unidade territorial de planejamento regionalizado com complexidade assistencial acima do módulo assistencial, podendo corresponder a uma microrregião ou a uma região de saúde. No processo de municipalização, podem ser identificados os seguintes territórios: Território-distrito- delimitação político-administrativa; Território-área- delimitação da área de abrangência de uma unidade ambulatorial; Território-microárea- delimitadacom a lógica da homogeneidade socioeconomicossanitária; Território-moradia-lugar de residência de uma família. TERRITÓRIO DISTRITO A implantação do SUS trouxe a necessidade de regionalização e a municipalização dos sistemas de saúde, e propôs-se, para isso, a estruturação de distritos sanitários, que funcionariam como uma unidade operacional básica mínima do Sistema Nacional de Saúde. O distrito sanitário, originalmente, deve ser resolutivo e atender a todas as necessidades em saúde da população de seu território, abrangendo o cuidado à saúde individual e coletiva, com ações de promoção e de prevenção, com Brenna Esteves Iesc II assistência ambulatorial especializada, com atenção a situações emergenciais e com internações em um complexo mais especializado. No primeiro nível, em que se propicia assistência individual e coletiva com prevenção e promoção de saúde, ocorre a demarcação territorial no interior do distrito, uma vez que requer dscrição de clientela e delimitação da área de abrangência das unidades básicas de saúde. O segundo e o terceiro níveis de atenção (secundária e terciária) não possuem um recorte territorial definido, porém estão localizados no território do distrito que pode abranger um município, parte dele ou vários municípios. A proposta do distrito sanitário possibilita a estruturação dos serviços de saúde no âmbito do estado, do município, da região, do bairro, da área de abrangência e da microárea, possibilitando cobertura de determinada população. Atualmente, os sistemas locais de saúde podem ser estruturados em nível de unidade de saúde, distrito de um município ou da microrregião, e, não havendo um acordo sobre a implantação do fluxo nos diferentes níveis de organização dos serviços, fica a critério de cada profissional, instituição ou gestor de saúde o entendimento e a proposição na estruturação nos sistemas de saúde. TERRITÓRIO AREA O território-área constitui-se na área de abrangência de uma unidade básica de saúde. Os limites da área devem considerar barreiras físicas e vias de acesso e de transporte da população às unidades de saúde. Poderá ser limitada por metros ou quilômetros, hectares, posições de latitude e longitude ou simplesmente por bairros ou ruas. O território-área é um espaço de determinação da corresponsabilidade pela saúde entre a população e o serviço, assim como o espaço de atuação da unidade básica de saúde. A área para uma unidade de saúde da família (USF) é formada por microáreas, nem sempre contíguas, onde atua uma equipe de saúde da família, e residem em tomo de 2.400 a 4.000 pessoas, sendo a média recomendada de 3.000 indivíduos. A assistência gerada pela pressão da demanda espontânea de população de áreas limítrofes e/ou não assistidas por uma unidade de saúde caracteriza-se pela área de influência. TERRITÓRIO MICROAREA(SUBDVISÃO DO TERRITÓRIO-AREA) Geralmente a microárea é assimétrica e delimitada conforme as condições socioeconômicas e sanitárias, de modo a concentrar grupos mais homogêneos, o que facilita a implementação de ações sociais. O território-microárea tem como objetivo a prática da vigilância em saúde e a melhoria de indicadores de saúde. A microárea é formada por um conjunto de famílias que congrega, no máximo, 750 habitantes, constituindo a unidade operacional do agente de saúde. Brenna Esteves Iesc II O ACS realiza o cadastro das famílias adscritas em sua base geográfica, identificando e mapeando áreas de maior risco, valendo-se do fato de pertencer à comunidade para estreitar os laços entre a população e os serviços de saúde. TERRITÓRIO MORADIA O território-moradia instituiu-se no espaço de vida de uma família, alvo de ações de intervenção, conforme a epidemiologia e a fonte de informação. E o objeto da prática da vigilância em saúde. No início do cadastramento das famílias no PSF, em 1994, para o preenchimento da Ficha A (definição), considerava-se uma família o conjunto de pessoas que dividiam um mesmo espaço (desde uma casa completa até um quarto de madeira, tenda de plástico ou qualquer espaço físico ocupado por uma família que naquele ambiente constrói um modo de vida). Os territórios-distrito e moradia apresentam um território conceitualmente delimitado, e os territórios-área e microárea apresentam dimensões e população indefinidas, variando para cada UBS e se revelando como extensões de abrangência desta. SISTEMAS DE GEORREFERENCIAMENTO A construção de mapas que possibilitem a geração de indicadores direcionados para a gerência de USFs que alimentem um Sistema de Informação Geográfica mostrou-se viável. O georreferenciamento do território-moradia permite a agregação espacial de dados que possibilitam a identificação de riscos sociais, mas encontra barreira na falta de uma base digital de ruas e quadras. Ferramentas que têm apoiado de certa forma essa instrumentalização são o Google Maps7 ou o Google Earth. CARTOGRAFIA: meio de orientação para um processo de territorialização contínuo. REFLEXÕES A cobertura integral do território brasileiro pela Saúde da Família possibilitaria acompanhamento, validação e avaliação dos indicadores em saúde mais representativos e uma maior resolubilidade dos problemas na área da saúde. A institucionalização da região por um comando único é necessária para que se garantam os direitos e se possibilite a cobrança da responsabilidade sanitária. A institucionalização da região por um comando único é necessária para que se garantam os direitos e se possibilite a cobrança da responsabilidade sanitária. No Brasil, a orientação que segue, de acordo com a Portaria nº 648 de 2006, 1 é que cada médico de família e comunidade atenda de 2.400 a 4.000 pessoas, sendo a média recomendada de 3.000 indivíduos, o que, desde a implantação do PSF em 1994, vem se demonstrando um número excessivo de pessoas, haja vista a realidade social a qual é enfrentada.
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