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A formação do psicólogo para realidade brasileira - Rechtman

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Prévia do material em texto

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC – SP 
 
 
Raizel Rechtman 
 
 
 
A FORMAÇÃO DO PSICÓLOGO PARA A REALIDADE BRASILEIRA: 
identificando recursos facilitadores para a atuação profissional 
 
 
 
 
 
MESTRADO EM EDUCAÇÃO: PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SÃO PAULO 
2014 
 
Raizel Rechtman 
 
 
 
 
 
 
A FORMAÇÃO DO PSICÓLOGO PARA A REALIDADE BRASILEIRA: 
identificando recursos facilitadores para a atuação profissional 
 
 
 
 
MESTRADO EM EDUCAÇÃO: PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO 
 
 
Dissertação apresentada à Banca Examinadora da 
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo 
como exigência parcial para a obtenção de título 
de MESTRE em Educação – Psicologia da 
Educação, sob orientação da Profª Drª Ana Mercês 
Bahia Bock. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SÃO PAULO 
2014 
ERRATA 
 
LISTA DE GRÁFICOS 
Gráfico 1 – Distribuição das IES com curso de Psicologia por Região do 
Brasil..............35 
 
LISTA DE QUADROS 
Quadro 4 – Disciplinas do Currículo Mínimo para os cursos de Psicologia 
....................39 
 
TABELAS 
A partir da página 47, quando presente no texto o número da tabela, a tabela respectiva 
é, na verdade, um número a mais. Por exemplo, a “tabela 1” citada no texto diz respeito 
à tabela 2 apresentada graficamente. 
 
ALTERAÇÕES NO TEXTO 
Pág. Linha Onde se lê Deve ler-se 
16 26 Araujo (2008) Araujo (2009) 
19 2 Bock (2002, p.28) Bock (2009, p.28) 
23 Quadro 1 Fonte: carta serra negra (2002) Fonte: carta serra negra (1992) 
25 Quadro 3 Fonte: carta serra negra (2002) Fonte: Brasil (1995) 
26 16 documento, em 1998, a 
Secretaria 
documento, a Secretaria 
29 7 Bock (2004) Bock (2004a) 
29 10 Bock (2004, p.1) Bock (2004a, p.1) 
32 3 Anita de Castilho e Marcondes 
Cabral, da USP, publicaram 
Anita de Castilho Marcondes 
Cabral, da USP, publicou 
36 7 Yamamoto et al. (1999) Yamamoto e Yamamoto (1999) 
36 12 Yamamoto et al. (1999) Yamamoto e Yamamoto (1999) 
40 4 Bock (2004) Bock (2004b) 
43 13 Rechtman et al. (2014) Rechtman et al. (2012) 
43 19 (RECHTMAN et al. 2014) (RECHTMAN et al. 2012) 
43 20 Rechtman et al. (2014) Rechtman et al. (2012) 
67 1 Na tabela X Na tabela 24 
78 22 Em relação ao gênero, Em relação à cor/raça 
79 3 (BOCK, 2002) (BOCK, 2009) 
 
 
No texto nos referimos às Diretrizes Curriculares Nacionais de 2004 como às últimas da 
Psicologia, no entanto, as diretrizes mais recentes são as de 2011. Assim, o fizemos, 
pois, as DCN de 2011 são apenas uma atualização das DCN de 2004 com o acréscimo 
de normas para o projeto pedagógico complementar para a formação de professores de 
Psicologia. 
 
ALTERAÇÕES NAS REFERÊNCIAS 
Ausentes: 
BASTOS, Antônio Virgílio Bittencourt. & GOMIDE, Paula Inez Cunha. O psicólogo 
brasileiro: sua atuação e formação profissional, in Psicologia, Ciência e Profissão, Ano 
9, n°1, 1989, p.6-15. 
BRASIL. Lei nº 4.119 de 27 de agosto de 1962. Dispõe sobre os cursos de formação em 
psicologia e regulamenta a profissão de psicólogo. 
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Quem é o psicólogo brasileiro?. São 
Paulo: EDICON, 1988. 
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA; CONSELHO REGIONAL DE 
PSICOLOGIA DE SÃO PAULO; ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENSINO DE 
PSICOLOGIA. Carta de serviços sobre Estágios e Serviços-Escola. Brasília, 2013. 
LHULLIER, Louise A. (org.). Quem é a psicóloga brasileira? Mulher, Psicologia e 
Trabalho. Brasília: Conselho Federal de Psicologia, 2013. 
Modificadas: 
Pág. Referência Correta 
87 BASTOS, Antônio Virgílio Bittencourt; ACHCAR, Rosemary. Dinâmica 
profissional e formação do psicólogo: uma perspectiva de integração. In: 
Psicólogo Brasileiro – práticas emergentes e desafios para a formação. 
2.ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1994. 
87 FÓRUM NACIONAL DE FORMAÇÃO: Parâmetros para a Formação. 
Disponível em <http://www.abepsi.org.br/portal/wp-
content/uploads/2011/07/1997-forumnacionaldeformacao.pdf> Acessado 
em: 10 out. 2013. 
88 BOCK, Ana Mercês Bahia. A inserção da Psicologia na Sociedade 
Brasileira. Psicologia Online – POL, 7 mai. 2004a. Disponível em 
<http://www2.pol.org.br/publicacoes/imprimir.cfm?id=34&materia=61> 
Acesso em: 02 fev. 2014. 
88 BOCK, Ana Mercês Bahia. Diretrizes Curriculares: será que estamos 
chegando ao fim da longa história? Psicologia online, 2004b. Disponível em 
<http://www.pol.org.br/publicacoes/materia.cfm?Id=9&Materia=36> 
Acessado em 08 abr. 2013. 
90 CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Carta de Serra Negra, 1992. 
Disponível em < http://www.abepsi.org.br/portal/wp-
content/uploads/2011/07/1992-cartadeserranegra.pdf> Acessado em 13 Ago. 
2013. 
92 RECHTMAN, Raizel; CASTELAR, Marilda; CASTRO, Rosângela B. Ética 
e Direitos Humanos na Formação de Psicologia em Salvador. Bahia, Revista 
http://www.abepsi.org.br/portal/wp-content/uploads/2011/07/1997-forumnacionaldeformacao.pdf
http://www.abepsi.org.br/portal/wp-content/uploads/2011/07/1997-forumnacionaldeformacao.pdf
http://www.pol.org.br/publicacoes/materia.cfm?Id=9&Materia=36
http://www.abepsi.org.br/portal/wp-content/uploads/2011/07/1992-cartadeserranegra.pdf
http://www.abepsi.org.br/portal/wp-content/uploads/2011/07/1992-cartadeserranegra.pdf
Psicologia: Ensino & Formação, 2012. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Banca Examinadora 
 
 
 
______________________________________________ 
Profª Drª Ana Mercês Bahia Bock 
Orientadora 
______________________________________________ 
Profª Drª Maria da Graça Marchina Gonçalves 
PUC – SP 
_______________________________________________ 
Prof. Dr. Marcus Vinicius de Oliveira Silva 
UFBA 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
À minha família, agradeço pelo meu processo de humanização. Aos meus pais, pessoas 
justas, sábias e trabalhadoras, que me educaram sob valores de cooperação, justiça e 
humanidade, e aos meus irmãos, com quem compartilhei e compartilho o crescer. 
Aos meus professores, agradeço pelo meu processo de formação. Aos professores de 
graduação que me possibilitaram conhecer, compreender e atuar no mundo a partir da 
Psicologia, e aos de pós-graduação, com os quais, a partir da convivência, me constitui mestre, 
pesquisadora e professora. 
Aos meus amigos, agradeço pelo meu processo de socialização. São aqueles com quem 
divido as mais diversas experiências, que me acolhem, me divertem e, inclusive, me ajudam 
com o Excel. 
À minha orientadora e banca, agradeço pelo processo da dissertação. Agradeço pela 
construção acadêmica, composta de tantas reuniões, leituras, escritos e análises, mas, 
principalmente, pelo cuidado, carinho, ética e exemplo profissional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
"Os filósofos têm apenas interpretado o mundo 
de diversas maneiras; a questão, porém, é 
transformá-lo". (MARX, 1845) 
 
 
RESUMO 
Há alguns anos a Psicologia brasileira tem levantado a bandeira do Compromisso Social e se 
posicionado politicamente por uma atuação que não se restringe às elites. Essa nova postura da 
Psicologia tem como objetivo ampliar sua ação às populações historicamente excluídas. A 
formação em Psicologia é um momento crucial para a construção desse novo perfil de 
psicólogo: o psicólogo comprometido socialmente. O objetivo desta pesquisa é verificar quais 
recursos da formação os alunos de último ano de psicologia identificam como facilitadores para 
atuar profissionalmente com que o consideram questões da realidade brasileira. A amostra é 
constituída por estudantes de psicologia que se formarão no ano de 2014 de todo o Brasil. O 
instrumento utilizado foi um questionário disponibilizado via plataforma online, composto por 
perguntas fechadas, que pretenderam traçar um perfil sociodemográfico da amostra estudada, e 
perguntas abertas, que tiveram como objetivo identificar questões da realidade brasileira e os 
recursos teóricos e técnicos que os auxiliaram a lidar profissionalmente com elas.A importância 
deste estudo é contribuir com a formação em Psicologia em âmbito nacional, para tanto, seus 
resultados serão divulgados em congressos e revistas científicas. 
 
Palavras-chave: Formação, Psicologia, Realidade brasileira. 
 
 
ABSTRACT 
A few years the Brazilian Psychology has raised the banner of Social Commitment and 
politically positioned for a performance that is not restricted to elites. This new attitude of 
Psychology aims to expand its action to populations historically excluded. Training in 
Psychology is a crucial time for the construction of this new psychologist profile, socially 
committed psychologist. The objective of this research is to see which resources of training of 
last year psychology students identify as facilitators to act professionally with who consider 
issues of Brazilian reality. The sample consists of psychology students who will graduate in 
2014 from all over Brazil. The tool used was a questionnaire made available through online 
platform with closed questions, which intended to draw a socio-demographic profile of the 
sample, and open ended questions, which aimed to identify issues of Brazilian reality and the 
theoretical and technical resources that helped to deal professionally with them. The importance 
of this study is to contribute to the formation in Psychology at national level, therefore, their 
results will be disseminated at conferences and scientific journals. 
 
Keywords: Formation, Psychology, Brazilian Reality. 
 
 
 
LISTA DE TABELAS 
Tabela 1 - Número de IES com cursos de Psicologia por Estado brasileiro ........................... 36 
Tabela 2 - Quantidade de questionários excluídos pelo Critério de Exclusão ........................ 48 
Tabela 3 - Quantidade de IES que enviamos o e-mail por Região ......................................... 50 
Tabela 4 - Quantidade de IES que responderam o e-mail por Região .................................... 50 
Tabela 5 - Quantidade de IES que tiveram alunos que participaram da pesquisa por Região 
da IES ................................................................................................................. 51 
Tabela 6 - Quantidade de alunos por Região da IES ............................................................. 51 
Tabela 7 - Quantidade de IES que enviamos o e-mail por Tipo de IES ................................. 52 
Tabela 8 - Quantidade de IES que responderam o e-mail por tipo de IES ............................. 52 
Tabela 9 - Quantidade de IES que tiveram alunos que participaram da pesquisa por Tipo de 
IES ..................................................................................................................... 52 
Tabela 10 - Quantidade de alunos por tipo de IES ................................................................ 53 
Tabela 11 - Quantidade de sujeitos por sexo ......................................................................... 53 
Tabela 12 - Quantidade de sujeitos por Faixa Etária ............................................................. 54 
Tabela 13 - Quantidade de sujeito por Cor/Raça ................................................................... 54 
Tabela 14 - População residente no Brasil, por raça/cor da pele em 2010 ............................. 55 
Tabela 15 - Quantidade de sujeito por Classe social ............................................................. 56 
Tabela 16 - População residente do Brasil por Rendimento mensal em salário mínimo em 
2010.................................................................................................................. 56 
Tabela 17 - Área/local que pretende atuar ............................................................................ 57 
Tabela 18 - Quantidade de respostas de questão social por categoria .................................... 60 
Tabela 19 - Quantidade de respostas de Iniciativas e movimentos sociais por categoria ........ 61 
Tabela 20 - Quantidade de respostas “sim” e “não” se a questão social é foco da Psicologia 
em relação à categoria ....................................................................................... 63 
Tabela 21 - Quantidade de respostas por categoria de como a Psicologia pode atuar............. 64 
Tabela 22 - Quantidade de respostas categorizadas por tipo de Recursos da Formação ......... 65 
Tabela 23 - Disciplinas por categoria ................................................................................... 67 
Tabela 24 - Áreas de estágio ................................................................................................ 68 
Tabela 25 - Conhecimento teórico ........................................................................................ 68 
Tabela 26 - Autores .............................................................................................................. 69 
Tabela 27 - Como os recursos auxiliam ................................................................................ 71 
Tabela 28 - Cruzamento recurso e nível de compreensão ...................................................... 72 
 
Tabela 29 - Quantidade de respostas por valor sobre a autoavaliação em relação ao preparo 
para lidar com as questões sociais da realidade brasileira .................................. 73 
Tabela 30 - Quantidade de respostas por valor sobre a avaliação em relação ao preparo 
dado pela formação para lidar com as questões sociais da realidade brasileira ... 73 
Tabela 31 - Quantidade de respostas categorizadas por tipo de Recursos da Formação 
sugestões dos sujeitos ....................................................................................... 74 
 
 
 
 
LISTA DE QUADROS 
Quadro 1 - Princípios norteadores da formação em psicologia .............................................. 23 
Quadro 2 - Sugestões de operacionalização .......................................................................... 24 
Quadro 3 - Diretrizes para a Formação e Avaliação Curriculares, 1995 ................................ 25 
 
 
LISTA DE SIGLAS 
ABEP Associação Brasileira de Ensino de Psicologia 
ANPPEP Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia 
CES Câmara de Educação Superior 
CFP Conselho Federal de Psicologia 
CNE Conselho Nacional de Educação 
CRP Conselho Regional de Psicologia 
DC Diretrizes Curriculares 
GT Grupo de Trabalho 
IES Instituição de Ensino Superior 
LDB Lei de Diretrizes Básicas 
MEC Ministério da Educação 
PUC-RJ Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro 
PUC-SP Pontifícia Universidade Católica de São Paulo 
UFES Universidade Federal do Espírito Santo 
UERJ Universidade do Estado do Rio de Janeiro 
UFBA Universidade Federal da Bahia 
UFMS Universidade Federal de Mato Grosso do Sul 
UFPB Universidade Federal da Paraíba 
UFPE Universidade Federal de Pernambuco 
UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte 
UnB Universidade de Brasília 
USP Universidade de São Paulo 
 
 
 
http://www.anpepp.org.br/
http://portal.ufes.br/
http://www.uerj.br/
http://www.ufms.br/
http://www.ufpb.br/
http://www.ufpe.br/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Universidade_Federal_do_Rio_Grande_do_Norte
http://www.unb.br/
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 12 
2 A PROFISSÃO DO PSICÓLOGO NO BRASIL ........................................................... 14 
2.1 Elementos históricos da Psicologia no Brasil .............................................................. 14 
2.2 Psicologia e Compromisso Social ................................................................................. 16 
2.3 Perfil do psicólogo brasileiro .......................................................................................19 
3 FORMAÇÃO EM PSICOLOGIA .................................................................................. 22 
3.1 Legislação e Diretrizes Curriculares ........................................................................... 22 
3.2 Questões sobre a Formação do psicólogo .................................................................... 31 
3.3 Panorama dos cursos no Brasil .................................................................................... 35 
4 POR UMA FORMAÇÃO PARA A REALIDADE BRASILEIRA ............................... 38 
4.1 Análise da Legislação e Diretrizes Curriculares ......................................................... 38 
4.2 Formação e Compromisso Social ................................................................................. 41 
5 MÉTODO ........................................................................................................................ 46 
6 RESULTADOS ............................................................................................................... 49 
6.1 Parte I – Caracterização da Amostra .......................................................................... 49 
6.2 Parte II – Realidade brasileira..................................................................................... 58 
6.3 Parte III – Psicologia e Realidade ................................................................................ 61 
6.4 Parte IV - Formação e Realidade ................................................................................ 64 
6.5 Conclusões .................................................................................................................... 77 
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 85 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 87 
APÊNDICE A - Questionário…………………..……………………………………………………93 
 
 
 
12 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
Toda a Psicologia é social. Esta afirmação não significa reduzir as áreas específicas 
da Psicologia à Psicologia Social; mas sim cada uma assumir dentro da sua 
especificidade a natureza histórico-social do ser humano. (LANE, 1984, p.19) 
De acordo com Bernardi, a Psicologia científica teve seu início marcado por estudar 
“os processos mentais através dos métodos experimentais e quantitativos que eram pertinentes 
a outras ciências” (BERNARDI, 2010, p.2). A legitimidade da Psicologia foi conquistada a 
partir da ação de classificar e adequar os sujeitos na noção construída de normalidade. Sendo 
assim, serviu à população dominante da sociedade ao desenvolver formas de controle e 
mecanismos discriminatórios e excludentes. Segundo a autora, com a aquisição do status de 
científica, a Psicologia passou a mediar as necessidades do sujeito estudado e as demandas 
sociais. Ao testar e tratar seus objetos de estudo, garantia a adaptação destes na sociedade, mas 
psicologizava fenômenos que são, na verdade, consequência de diversos fatores que não 
necessariamente psicológicos. 
Bicalho et al. apontam que ao ser submetida, desde a sua criação, à perspectiva 
epistemológica de corte positivista, a Psicologia assume um projeto dito neutro, asséptico e 
objetivista. Neste contexto, “a tarefa que se espera da Psicologia é psicologizar (no sentido de 
humanizar) e oferecer resultados, desvelando assim uma determinada, essência “do sujeito” 
(BICALHO et al, 2009, p.21). Esta tradição da psicologia a levou a um percurso elitizado: 
atendia principalmente à elite e servia, nas instituições, a interesses do projeto dominante. 
Há alguns anos a Psicologia brasileira tem levantado a bandeira do Compromisso 
Social e posicionado-se politicamente por uma atuação que não se restringe às elites. Essa nova 
postura da Psicologia tem como objetivo ampliar sua ação às populações historicamente 
excluídas, para além da prática dos consultórios particulares, e respondendo às demandas da 
sociedade brasileira. 
Neste contexto, é nevrálgico que a Psicologia não apenas se posicione, mas atue para 
a modificação desta realidade. Porém, de acordo com Bock (1997), a Psicologia tem funcionado 
sob a visão liberal dominante, que tem como teses fundamentais os direitos legais de segurança 
e propriedade e os direitos naturais à liberdade e igualdade. Nesta visão, “o homem foi afastado 
da realidade social e o fenômeno (psicológico) tornou-se uma entidade abstrata” (BOCK, 1997, 
p.40). A Psicologia tem, assim, transformado problemas sociais em individuais e ignorado a 
realidade política e social e, ao privilegiar este enfoque individual, não presta atenção às 
13 
 
 
determinações históricas e contribuindo para a manutenção da situação de desigualdade da 
sociedade brasileira (AZERÊDO, 2002). 
A formação em Psicologia é um momento crucial de construção de um novo perfil de 
psicólogo. Sua importância se justifica pela possibilidade de preparação do futuro psicólogo 
para realizar uma análise da sociedade, compreender as demandas sociais e atuar 
profissionalmente com compromisso social. Botomé (2010), ao analisar seu trabalho “A quem 
nós, psicólogos, servimos de fato?” de 1979, afirma que mais de 30 anos se passaram, e, apesar 
de inúmeros debates, escritos e reuniões voltadas para o tema realizadas pelos Conselhos 
Federal e Regionais, uma dimensão de Psicologia Pública, acessível às populações até então 
excluídas do trabalho do psicólogo, ainda não está clara na formação do psicólogo. 
Partindo do pressuposto do projeto que defende a Psicologia atuando com 
compromisso social e que a formação é um momento único de constituição de um psicólogo 
que atue considerando a realidade brasileira, a presente pesquisa tem como objetivo verificar 
quais recursos da formação os alunos de último ano de psicologia identificam como 
facilitadores para atuar profissionalmente com que o consideram questões da realidade 
brasileira. 
Com o objetivo de embasar teoricamente esta pesquisa, construímos três capítulos que 
servem de alicerce para a discussão sobre a formação do psicólogo no Brasil. O primeiro 
capítulo teórico diz respeito à profissão do psicólogo no Brasil. Ao discutir a formação, 
consideramos necessário realizar uma retrospectiva da profissão já que, como a perspectiva 
sócio-histórica, entendemos que para compreender o fenômeno devemos considerá-lo dentro 
de um processo e contextualizá-lo historicamente. O segundo tem como foco a formação em 
psicologia e traz essa discussão em três aspectos principais: legislação, questões levantadas em 
pesquisas e levantamento atual dos cursos de psicologia no Brasil. Como capítulo teórico final, 
apresentamos uma análise sobre os limites e possiblidades de uma formação com compromisso 
social. 
Por fim, este trabalho tem como pretensão acrescentar às poucas pesquisas sobre 
formação em psicologia na área social1 e fornecer um conhecimento que auxilie não apenas a 
discussão, mas também a construção de uma formação comprometida socialmente. 
 
 
 
1 Utilizamos a expressão área social na perspectiva afirmada por Lane (1984) de assumirmos a “natureza 
histórico-social do ser humano”. (p.19) 
14 
 
 
2 A PROFISSÃO DO PSICÓLOGO NO BRASIL 
2.1 Elementos históricos da Psicologia no Brasil 
O surgimento de uma ciência e, sobretudo, as grandes transformações que nela se 
registram são produto de um conjunto de determinações históricas, as quais 
culminaram por estruturar ideias que fundamentaram e possibilitaram seu surgimento 
como ciência (ARAÚJO, 2009, p.1) 
No Brasil, a Psicologia tem sua presença reconhecida desde a época da Colônia, não 
propriamente como área específica, mas caracterizada pela preocupação com o fenômeno 
psicológico. Seu desenvolvimento em nosso país se deu no interior da Educação e da Medicina, 
em consequência das ideias trazidas por brasileiros que estudaramno exterior ou por 
estrangeiros que vieram para o Brasil (ANTUNES, 2004). 
Temos uma Psicologia que surge colada ao projeto de modernização da sociedade 
brasileira e com o objetivo de gerir essa vida em sociedade, os saberes foram importados para 
nossas escolas, hospícios e indústrias (BOCK, 2008). Segundo Bock (2009), essa Psicologia 
respondia ao interesse de higienização e ordem da sociedade. Na educação, eram abundantes as 
práticas autoritárias e disciplinares para formação dos indivíduos. Já na medicina, a criação dos 
hospícios demonstrava o tratamento moral dos sujeitos. 
 O movimento pela legalização da profissão começou a se organizar na segunda 
metade dos anos 50, quando Lourenço Filho e outros diretores da Associação Brasileira de 
Psicologia apresentaram ao Ministro da Educação uma petição para a criação da profissão 
“psicologista” ou “psicotecnista” (ANTUNES, 2004). Apesar da polêmica e embate de 
interesse, após diversos trâmites legislativos, no ano de 1962, a Psicologia foi reconhecida como 
profissão no Brasil a partir da Lei nº 4.119. 
Bock (2008) afirma que no período de sua regulamentação os envolvidos com a 
Psicologia eram menos de mil pessoas. Isso representa a relação íntima com a elite brasileira 
daqueles envolvidos com a Psicologia. O que nos possibilita afirmar que a própria 
regulamentação da profissão se deu devido à força da classe dominante que apostava que o 
projeto de Psicologia contribuiria para a modernização do Brasil. 
Outro aspecto que nos aponta o compromisso da psicologia com a elite brasileira é a 
legislação da profissão. Segundo o art. 4º do Decreto nº 53.464, de 21-01-1964, que 
regulamenta a Lei n. 4.119, seriam as funções do Psicólogo: 
1) Utilizar métodos e técnicas psicológicas com o objetivo de: 
15 
 
 
a) diagnóstico psicológico; 
b) orientação e seleção profissional; 
c) orientação psicopedagógica; 
d) solução de problemas de ajustamento. 
1) Dirigir serviços de Psicologia em órgãos e estabelecimentos públicos, autárquicos, 
paraestatais, de economia mista e particulares. 
2) Ensinar as cadeiras ou disciplinas de Psicologia nos vários níveis de ensino, 
observadas as demais exigências da legislação em vigor. 
3) Supervisionar profissionais e alunos em trabalhos teóricos e práticos de Psicologia. 
4) Assessorar, tecnicamente, órgãos e estabelecimentos públicos, autárquicos, 
paraestatais, de economia mista e particulares. 
5) Realizar perícias e emitir pareceres sobre a matéria de Psicologia. 
Podemos perceber uma clara visão tecnicista do profissional psicólogo. Sua primeira 
função, utilizar métodos e técnicas com objetivos de ajustar o sujeito, demonstra uma resposta 
às necessidades da elite brasileira, “a psicologia prometia colocar o homem certo no lugar certo; 
prometia facilitar a aprendizagem; adaptar as pessoas (...)” (BOCK, 2008, p.2). O interesse das 
elites com a Psicologia era o de prever e controlar comportamentos para instalar um novo 
projeto de sociedade e esses objetivos estavam amparados pela lei. 
Mais um fator que pode ser analisado por esse decreto é como a Psicologia é 
regulamentada a partir da perspectiva positivista. A partir de suas funções, assume-se o foco de 
atuação no indivíduo, aquele que deve ser ajustado para a sociedade. E, pressupostos como a 
neutralidade e objetividade são aparentemente colocados como óbvios no atuar do psicólogo. 
Segundo Antunes (2004), a Psicologia se firmou como profissão e ampliou suas ações 
ao dar respostas às demandas da sociedade brasileira, inicialmente nos campos da Educação, 
Trabalho e Clínica, e, mais tarde, em novas modalidades de intervenção, como a psicologia 
jurídica, hospitalar, comunitária etc. Adiciona que contribuíram de forma decisiva para o 
estabelecimento da Psicologia como ciência autônoma, a expansão da produção de 
conhecimento, a criação de novas associações e entidades de diferentes campos da Psicologia 
e a prática regular da realização de congressos. 
Com o golpe militar no Brasil e os movimentos contestatórios que emergiam, Bock 
(2008) afirma que o compromisso com as elites começou a se tornar um incômodo dentro da 
Psicologia. Assim, aquela Psicologia que acreditava que poderia explicar o homem 
desconsiderando sua realidade, passou a ser questionada e demandada a considerar a realidade 
cultural, econômica e social do indivíduo. 
16 
 
 
2.2 Psicologia e Compromisso Social 
[...] compromisso com a sociedade a Psicologia sempre manteve, o seu compromisso 
foi, na maior parte do tempo, um compromisso com as elites e seus interesses. O novo 
projeto de profissão significa um rompimento com esta tradição e a construção de um 
novo lugar para a Psicologia; a construção de uma nova relação da Psicologia com a 
sociedade (BOCK, 2008, p.3) 
Os sinais de um novo projeto para a psicologia começam a aparecer com maior 
visibilidade nos anos 70. A Psicologia Social faz seus questionamentos e inova na prática, com 
a Psicologia comunitária, nascida nas academias a partir de estágios dos estudantes e inova nas 
concepções teóricas, trazendo ao Brasil concepções críticas da França, da URSS, da Argentina 
e de Cuba. A Psicologia inaugura sua presença nos ambulatórios de saúde em São Paulo, de 
onde se expande e onde questionamentos importantes sobre as concepções e técnicas de 
trabalho serão feitas, inaugurando um campo importante de psicologia da saúde. Em seguida, a 
antipsiquiatria trará novas contribuições no campo da saúde mental, fortalecendo este 
desenvolvimento. A psicologia organizacional aponta também, ainda que de forma tímida, seus 
questionamentos. A psicologia da educação vai em busca do auxílio do pensamento crítico de 
Paulo Freire e autores como Makarenko, Vigotski e outros. As entidades se proliferam, e a 
psicologia fortalece sua voz social. Destacamos aqui uma reflexão sobre o campo da psicologia 
social. 
Ao retomar a história da Psicologia Social no Brasil, Araújo (2009) identifica autores 
que, desde o século XIX, tratavam de uma Psicologia que considerava o meio social. Como 
exemplos, a autora traz Sylvio Romero, que em 1886 declarava sua crença numa psicologia dos 
povos, e Francisco José de Oliveira Viana, que em 1921 publicou o primeiro livro com título 
referido à Psicologia Social que tratava sobre temas que carregavam a preocupação com o meio 
social e político. 
A abertura dos primeiros cursos de Psicologia Social ocorreu na década de 1930. Nos 
anos 1950, o país era impregnado pela ideologia desenvolvimentista; dessa forma, muitos 
estudos eram voltados para questões sociais como valores e normas, comunicação de massa etc. 
(BOMFIM, 2003a apud ARAUJO, 2009). 
Vale ressaltar que, apesar da Psicologia Social se fazer presente nesse período, a sua 
concepção de homem é a mesma da ciência psicológica da época, individualizante, mecanicista 
e objetivista. Segundo Kruguer (1986) apud Araujo (2008), a teorização da Psicologia Social 
era centrada nos fatores cognitivos do indivíduo e numa perspectiva a-histórica. Sua influência 
17 
 
 
foi fortemente norte-americana e ao considerar a importância do estudo do meio social como 
objeto de estudo, a sociedade era vista apenas como um reflexo da soma das partes (indivíduos). 
É na década de 1960 que essa Psicologia Social realizada no Brasil começa a ser 
questionada. A crítica realizada era que a psicologia social, importada dos Estados Unidos, “de 
base experimental e positivista, que falava de mecanismos psicológicos universais e abstratos, 
desconsiderando o conteúdo histórico e social presente na constituição do homem” (BOCK et 
al., 2007, p. 49), não cabia em nossa realidade. 
Uma figura de extrema importância na construção da Psicologia Social brasileira (não 
apenas realizada no Brasil) é Sílvia Lane. Segundo Bock et al. (2007): 
[...] sua preocupação básica em construir uma psicologia social voltada para a 
realidade brasileira e latino-americana,com vistas a contribuir parça a superação das 
desigualdades e das situações de opressão, demandava uma construção teórica que 
permitisse compreender o homem como participante do processo social. Nesse 
sentido, entendia que o conhecimento da psicologia deveria levar à compreensão dos 
mecanismos que provocam a alienação e contribuir para ampliar a consciência dos 
homens. Sua teoria sobre o psiquismo teve essa direção. (p. 49) 
Lane é considerada a responsável pelo desenvolvimento da perspectiva sócio-histórica 
na Psicologia Social no Brasil. Uma perspectiva que considera que a produção de conhecimento 
deve ser comprometida com a transformação social. Assim, vai contribuir para a superação do 
positivismo como forma de fazer ciência ao afirmar que sempre há uma intenção do sujeito 
sobre o objeto, ao negar a neutralidade na elaboração de novos métodos de pesquisa a partir do 
materialismo histórico e dialético e para a afirmação do homem como sujeito histórico, 
assumido o marxismo como postura epistemológica (BOCK et al., 2007). 
A década de 1970 foi importante pelo surgimento dos primeiros cursos de mestrado 
em Psicologia Social. A partir destes, dissertações foram geradas com temas voltados para a 
realidade brasileira, aumentando a produção científica deste novo projeto de Psicologia. Outro 
marco significante deste momento foi a criação do Conselho Federal e Conselhos Regionais de 
Psicologia a partir da Lei nº 5.776, de 20/12/1971, que representou uma maior organização da 
Psicologia como profissão. 
Em 1980, é criada a Associação Brasileira de Psicologia Social - ABRAPSO e, em 
1987, ocorre a publicação do livro Psicologia Social: o homem em movimento, organizado por 
Sílvia Lane e Wanderley Codo, que concretizou uma alternativa teoricamente fundamentada da 
Psicologia Social norte americana. Temos então dadas as condições para a construção de um 
novo projeto de Psicologia, uma Psicologia com compromisso social com a realidade brasileira. 
18 
 
 
Ferreira Neto (2004) aponta que o projeto da Psicologia Sócio-Histórica, que tem 
como base a Psicologia histórico-cultural de Vigotsky, rompeu com alguns aspectos da 
Psicologia hegemônica da época e: “influenciou, desde então, uma geração de psicólogos 
preocupados com a construção de uma psicologia próxima da realidade brasileira” (FERREIRA 
NETO, 2004, p.149). Na construção desse projeto, o autor assinala a importância de Ana 
Mercês Bahia Bock, orientanda de Sílvia Lane, tanto em sua produção acadêmica, quanto na 
ação política. 
Em relação à produção, Ferreira Neto (2004) indica quatro críticas feitas por Bock a 
aspectos da Psicologia, daquele momento, que deveriam ser superados a partir do novo projeto 
de Psicologia: visão abstrata do fenômeno psicológico, tradição classificatória e 
estigmatizadora da Psicologia, noção de neutralidade em Psicologia e positivismo e idealismo 
na Psicologia. Essa análise foi de admirável ao reconhecer a ideologia que regia a Psicologia, 
até então dita como neutra. 
Já em relação à sua ação política, Bock e um conjunto de profissionais que se 
dedicaram às entidades de Psicologia a partir dos anos 90 representaram e ainda representam a 
bandeira do compromisso social na Psicologia. Bock foi presidente do Conselho Federal de 
Psicologia em três gestões (1997 a 2007), período crítico para a afirmação no novo projeto de 
Psicologia na sociedade brasileira, e é a atual presidente do Instituto Silvia Lane de Psicologia 
e Compromisso Social. Grupos por todos Brasil procuram manter e desenvolver o projeto e têm 
tido papel importante. 
Na gestão do CFP, nos anos 2000, é defendido e construído ativamente o projeto do 
compromisso social da Psicologia na I Mostra Nacional de Práticas em Psicologia: Psicologia 
e Compromisso social, realizada pelo Conselho Federal de Psicologia. Essa Mostra foi um 
marco para o novo projeto de Psicologia no Brasil e contou com milhares de trabalhos que 
apresentavam experiências interdisciplinares, que inovavam em instrumentos de trabalho não 
“psicologizantes” ou atuavam com populações que normalmente não teriam acesso ao trabalho 
do psicólogo (BOCK, 2009). 
A 2ª Mostra Nacional de Práticas em Psicologia ocorreu doze anos após a primeira, 
em 2012. Esta teve como tema “Compromisso com a construção do bem comum” e ampliou a 
forma de organização ao ir além da apresentação de práticas profissionais, constituindo espaços 
de debates sobre trabalhos dos psicólogos em diversas áreas de atuação visando à criação de 
articulações e fortalecimento do compromisso com a realidade brasileira. 
O compromisso da Psicologia com a realidade brasileira se torna, então, um tema de 
debate nas universidades e cursos de Psicologia, nas entidades e nos eventos, sendo, no entanto, 
19 
 
 
objeto de polêmica e debate. Apesar de disputas políticas e oposição, esse novo compromisso 
social da Psicologia, caracterizado por Bock (2002, p.28) como “compromisso de trabalho pela 
melhoria da qualidade de vida; um compromisso em nome dos direitos humanos e do fim das 
desigualdades sociais”, se faz fortemente presente na discussão sobre a atuação do psicólogo 
no Brasil. 
2.3 Perfil do psicólogo brasileiro 
“Uma profissão não é um fazer pronto que recebemos. Uma profissão se constrói na 
história de uma sociedade em um tempo histórico que permita seu surgimento, ou seja, necessite 
dela.” (BOCK, 2008, p.1) 
O psicólogo é produto de sua história e, de forma dialética, são também produtores 
dela. Assim como a Psicologia se constituiu como ciência “psicologizante”, positivista e ligada 
às elites, devido ao seu contexto histórico, os psicólogos são, em sua maioria, um reflexo dessa 
historicidade. Por serem sujeitos parte indissociável da sociedade, atuam e constroem a 
Psicologia. Assim, é na mudança na base material que se realiza e se faz possível uma mudança 
do perfil do psicólogo. 
O primeiro aspecto a ser colocado ao se falar de um perfil do psicólogo brasileiro é em 
relação ao gênero. Em pesquisa realizada pelo CFP em 1988, intitulada “Quem é o psicólogo 
brasileiro?”, é apresentada uma Psicologia composta por 87% de mulheres. Esse dado converge 
com os 89% encontrados na pesquisa realizada a partir do cadastro do CFP em 2012, chamada 
“Quem é a psicóloga brasileira? Mulher Psicologia e Trabalho” (LHULLIER, 2013). 
Importante ressaltar a mudança no título das pesquisas de psicólogo para psicóloga, que indica 
um maior cuidado e atenção na questão do gênero dentro da psicologia. 
Outro aspecto que tem recebido atenção da Psicologia nos últimos anos é a questão de 
“cor ou raça” (termo adotado pelo padrão do IBGE). Essa atenção pode ser comprovada pelos 
movimentos dentro da Psicologia que discutem esse aspecto, como a realização de dois 
Encontros Nacionais de Psicólogas(os) Negras(os) e Pesquisadoras(es) das Relações Raciais e 
Subjetividades – PSINEP, e pelo fato de que o questionamento sobre “cor ou raça” não fez parte 
da pesquisa do CFP de 1988, mas integrou a realizada pelo CFP em 2012. 
Os resultados dessa pesquisa indicam que dos 1.331 respondentes 67% das 
entrevistadas se autodefiniram como brancas, 25% como pardas, 3% como pretas, 3% como 
amarelas, 1% como indígena e 1% afirmou não saber dizer (LHULLIER, 2013). Lhullier e 
20 
 
 
Roslindo (2013) destacam que esse dado difere bastante em relação aos dados da população 
brasileira e que temos uma Psicologia composta, em sua maioria, por mulheres de uma “cor ou 
raça” historicamente privilegiada no Brasil. 
Para analisar as áreas de atuação em que os psicólogos atuam, uma pesquisa essencial 
foi realizada por Bastos et al. no ano de 2010, na qual os autores fazem uma comparação do 
projeto “O psicólogo brasileiro: sua atuação e formação profissional” (BASTOS & GOMIDE, 
1989), que analisava os dados da pesquisa do CFP “Quem é o psicólogo Brasileiro?” (CFP, 
1988), com uma pesquisa realizada entre os anos de 2006 e2008 sobre a profissão do psicólogo 
no Brasil pelo GT Psicologia Organizacional e do Trabalho da Associação Nacional de Pesquisa 
e Pós-Graduação em Psicologia - ANPEPP. 
Nesse estudo foi identificado que, da década de 80 para os anos 2000, há uma 
manutenção da área clínica como maior área de concentração da atuação dos psicólogos. A área 
organizacional e do trabalho cresce um pouco, mas perde o segundo lugar no ranking para a 
saúde, nova área de inserção dos psicólogos, não contemplada na primeira pesquisa. A educação 
tem uma queda expressiva como campo de atuação profissional, e as áreas social e jurídica 
aparecem demonstrando sua consolidação como prática da Psicologia. 
Em relação às atividades desenvolvidas, os autores apontam que o psicólogo 
participante da pesquisa realizada pelo GT desenvolve, independente da área, ações 
semelhantes aos anos 80. Identificam como sendo as atividades de maior incidência a avaliação 
psicológica, psicodiagnóstico e aplicação de teste. E concluem que, apesar da expansão dos 
campos de atuação dos psicólogos, ainda temos uma prática limitada. 
Essa prática tecnicista da Psicologia pode ser considerada resultado da ideologia 
discutida por Bock (2009), ao afirmar que alguns elementos ideológicos acompanham a maior 
parte das práticas do psicólogo. Para a autora, a Psicologia tem naturalizado o fenômeno 
psicológico ao vê-lo como universal, o que acarreta numa atuação corretiva do psicólogo. 
Outro fator apontado por ela é o fato dos psicólogos não conceberem suas intervenções 
como trabalho, eles consideram que sua ação apenas ajuda ao outro a se desenvolver, e que isso 
tem como consequência uma visão de trabalho como neutra, negando sua intervenção em 
determinada direção. Esse ponto concorda com a pesquisa do CFP de 1988 que constatou que 
40,5% dos 2417 psicólogos que participaram da pesquisa escolheram a profissão por “motivos 
voltados para o outro” ao expressarem querer conhecer, ajudar ou lidar com o ser humano 
(CARVALHO et al., 1988). 
Bock (2009) ainda coloca que há uma concepção na Psicologia de que o homem possui 
em si a potencialidade de desenvolvimento, tendo a sociedade apenas o papel de favorecer ou 
21 
 
 
prejudicar este desenvolvimento. Tais concepções isolam o sujeito da sociedade e isentam a 
mesma de qualquer responsabilidade por sofrimentos psicológicos dos sujeitos. 
Temos então uma Psicologia composta em sua maioria por mulheres, brancas que 
trabalham em clínica/consultórios particulares. Podemos também concluir a partir dos estudos 
apontados que, apesar de avanços na construção de uma Psicologia comprometida socialmente, 
ainda está sendo formado um psicólogo que atua sob forte influência da ideologia dominante. 
Dessa maneira, é imperativo repensarmos a formação desse profissional para concretizarmos 
um perfil de psicólogo que atenda ao novo projeto de Psicologia. 
 
22 
 
 
3 FORMAÇÃO EM PSICOLOGIA 
3.1 Legislação e Diretrizes Curriculares 
“Não existe políticas de formação sem a análise do contexto” (GRUPO DE 
TRABALHO FORMAÇÃO, CFP, 2012, p. 11). 
Apesar de ainda não ser regulamentada como profissão, a Psicologia já contava com a 
sua formação institucionalmente regulamentada a partir do Decreto-Lei nº 9.092, de 1946. 
Nesse período, para ser considerado psicólogo era necessário ser “aprovado nos três primeiros 
anos do curso de Filosofia, bem como em cursos de Biologia, Fisiologia, Antropologia, 
Estatística, e me curso de especialização de Psicologia. Finalmente, estágio em serviços 
psicológicos, a juízo dos professores da seção” (SOARES, 1979, p.20). Foi a partir da emenda 
que dispunha sobre a formação do psicólogo e fixava o currículo mínimo e que acompanhava 
a Lei que regulamentava a profissão em 1962, que foram regulamentados cursos específicos de 
Psicologia. 
O Currículo Mínimo para os Cursos de Psicologia para Bacharelado e Licenciatura foi 
o primeiro documento federal oficial. Com vigência a partir de 1963, era composto por matérias 
obrigatórias, definição da obrigatoriedade do estágio supervisionado e sua carga horária, além 
da duração do curso. Em decorrência do golpe militar de 1964, o Currículo Mínimo permaneceu 
quase sem modificações, apenas com acréscimo ou retirada de algumas disciplinas (ROCHA 
Jr., 1999). 
Nico e Kovac (2003) afirmam que é a partir dos anos 80 que o Conselho Federal de 
Psicologia passou a promover uma série de atividades com o objetivo de debater a formação 
em Psicologia. As autoras acrescentam que neste período foram realizadas discussões sobre a 
necessidade da reformulação dos currículos. 
No início da década de 1990, o CRP-06 (São Paulo) realizou o I Encontro Regional 
sobre Formação Profissional em Psicologia. Segundo Japur (1994), esse período foi marcado, 
pois o Conselho Federal e os Regionais de Psicologia “desenvolveram um amplo processo de 
discussão em todas as regiões do país, a respeito da questão da Formação em Psicologia” (p.43) 
e foi publicado o livro “Psicólogo Brasileiro – construção de novos espaços” caracterizado por 
ser uma revisão bibliográfica da literatura produzida no Brasil entre 1980 e 1992 sobre os novos 
caminhos da profissão. 
23 
 
 
Como produto dessas discussões foi elaborada a pauta do “I Encontro de 
Coordenadores de Curso de Formação de Psicólogos”, realizado em Serra Negra. Encontro 
onde foram criados os sete princípios norteadores da formação em psicologia e dez sugestões 
de operacionalização respectivamente expostos nos Quadros 1 e 2 (CFP, 1992). 
Quadro 1 - Princípios norteadores da formação em psicologia 
1) Desenvolver a consciência política de cidadania e o compromisso com a realidade 
social e a qualidade de vida. 
2) Desenvolver a atitude de construção do conhecimento, enfatizando uma postura 
critica, fomentando a pesquisa num contexto de ação – reflexão, bem como 
viabilizando a produção técnico-científica. 
3) Desenvolver o compromisso da ação profissional cotidiana baseada em princípios 
éticos, estimulando a reflexão permanente destes fundamentos. 
4) Desenvolver o sentido de Universidade, contemplando a interdisciplinaridade e a 
indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. 
5) Desenvolver a formação básica pluralista, fundamentada na discussão 
epistemológica, visando à consolidação de práticas profissionais, conforme a 
realidade sociocultural, adequando o currículo pleno de cada agência formadora ao 
contexto regional. 
6) Desenvolver uma concepção de Homem, compreendido em sua integralidade na 
dinâmica de suas condições concretas de existência. 
7) Desenvolver práticas de interlocução entre os vários segmentos acadêmicos, para 
uma avaliação permanente do processo de formação. 
Fonte: Carta Serra Negra (2002). 
24 
 
 
Quadro 2 -Sugestões de operacionalização 
1) Implementar uma política institucional de contratação, qualificação e avaliação do 
corpo docente. 
2) Implementar uma política institucional de acompanhamento do corpo discente em 
sua formação. 
3) Procurar garantir, junto às agências formadoras, o suporte institucional necessário à 
formação profissional. 
4) Elaborar uma estrutura curricular que possibilite ao aluno acesso às diferentes 
concepções, levando-os a uma análise crítica das mesmas. 
5) Oferecer campos de estágios que contemplem a prática destas diferentes concepções 
na medido do possível. 
6) Desenvolver um sistema de acompanhamento e avaliação contínua dos estágios nos 
locais onde são desenvolvidos e dos resultados dos serviços prestados, buscando 
verificar sua adequação às necessidades de formação do aluno. 
7) Promover a produção escrita, dentro de padrões aceitáveis, de toda a atividade 
acadêmica do aluno, inclusive trabalho de conclusão de curso ou monografia, 
oferecendo condições de divulgação e discussão no âmbito e fora da universidade. 
8) Divulgar as ementas das disciplinas para possibilitar o conhecimento pelo aluno do 
seu conteúdoe cumprimento. 
9) Manter um espaço de discussão da Ética Profissional do ponto de vista filosófico, 
político e do Código de Ética nas diversas disciplinas e estágios. 
10) Buscar integração dos Conselhos Regionais de Psicologia com os Cursos para 
promoção de atividades relacionadas à formação e ao exercício profissional. 
Fonte: Carta Serra Negra (1992). 
Tais princípios marcam um avanço no projeto da Psicologia do Brasil ao colocar a 
preocupação dos aspectos sociais na formação do psicólogo. Principalmente ao apostar na 
importância da postura política, crítica, ética e com compromisso com a realidade social. Outro 
ponto importante da carta é o fato de ela avançar ao apontar alguns princípios básicos para a 
formação com uma postura propositiva, e não apenas crítica (BUETTNER, 2000). 
Em 1994, foi realizado o Congresso Nacional Constituinte da Psicologia, 
posteriormente chamado de I Congresso Nacional da Psicologia - CNP. A formação acadêmica 
foi um dos três eixos temáticos, juntamente com a organização política dos psicólogos e 
25 
 
 
exercício profissional. Dentro deste eixo, foram aprovadas propostas com o posicionamento do 
sistema Conselhos sobre a formação em Psicologia que expandiam e aprofundavam os 
princípios elaborados no Encontro de Serra Negra. Então, apesar de não ter sido o tópico mais 
enfatizado, teve resultados importantes (BUETTNER, 2000). 
No ano seguinte, com o objetivo de estudar e propor uma nova direção à formação em 
Psicologia, foi indicada pelo MEC uma Comissão de Especialistas de Ensino de Psicologia 
(CFP, 2003) composta por Mariza Monteiro Borges (UnB - Presidente), Antônio Virgílio 
Bittencourt Bastos (UFBA) e Yvonne Alvarenga G. Khouri (PUC-SP). A Comissão reuniu 
informações a partir das próprias instituições formadoras, de pesquisas realizadas pelo 
Conselho Federal de Psicologia e das teses relativas à formação profissional (BRASIL, 1995) 
e construiu um documento com dez diretrizes para a formação (Quadro 3), acompanhadas por 
propostas de operacionalização. 
Quadro 3 - Diretrizes para a Formação e Avaliação Curriculares, 1995 
1. Uma formação básica pluralista e sólida 
2. Uma formação generalista 
3. Uma formação interdisciplinar 
4. Preparar o psicólogo para uma atuação multiprofissional 
5. Assegurar uma formação científica, crítica, reflexiva 
6. Permitir uma efetiva integração teoria-prática 
7. Compromisso com o atendimento das demandas sociais 
8. O compromisso ético deve permear todo o currículo 
9. Romper o modelo de atuação tecnicista 
10. Precisar as terminalidades dos cursos de psicologia 
Fonte: Carta Serra Negra (2002). 
Segundo Buettner (2000), essas dez diretrizes representaram uma síntese das 
principais discussões dos eventos e pesquisas sobre a formação em Psicologia. Elas 
demonstravam uma proposta de formação articulada e orgânica que respondia à grande parte 
dos problemas relacionados à formação daquele momento. Gomes (2002) acrescenta que este 
“documento se impõe pela clareza e profundidade com que encaminha a solução de problemas 
curriculares, pela sintonia com os interesses e avaliações da área, e pela abrangência histórica, 
conceitual e inovador” (n.p.). 
26 
 
 
O II Congresso Nacional de Psicologia ocorreu em 1996 e contou com os mesmos 
eixos temáticos do congresso anterior. No eixo sobre a formação foram priorizados dois pontos 
específicos: estágios e clínicas-escola e proliferação indiscriminadas de cursos. A discussão do 
primeiro item serviu como aprofundamento do tópico pouco explorado no I CNP e a do segundo 
deliberou sobre a necessidade de provocação e auxílio às avaliações dos cursos (BUETTNER, 
2000). 
No final daquele ano, houve a aprovação da Lei 9.394/96 de dezembro de 1996 que 
instituiu a Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Segundo Nico e Kovac (2003), “com a 
promulgação da LDB, os currículos mínimos foram extintos e cada área tornou-se responsável 
por formular suas diretrizes para o ensino superior” (p.56). 
Em dezembro do ano seguinte, a partir do Parecer 776/97, o MEC orientou a 
elaboração das Diretrizes Curriculares dos Cursos de Graduação. No Parecer, as diretrizes 
curriculares são definidas por constituírem “orientações para a elaboração dos currículos que 
devem ser necessariamente respeitadas por todas as instituições de ensino superior” (BRASIL, 
1997, p.2) e deveriam respeitar os seguintes princípios: 
1) Assegurar às instituições de ensino superior ampla liberdade na composição da 
carga horária a ser cumprida para a integralização dos currículos, assim como a 
especificação das unidades de estudos a serem ministradas; 
2) Indicar os tópicos ou campos de estudo e demais experiências de ensino 
aprendizagem que comporão os currículos, evitando ao máximo a fixação de 
conteúdos específicos com cargas horárias predeterminadas, as quais não poderão 
exceder 50% da carga horária total dos cursos; 
2) Evitar o prolongamento desnecessário da duração dos cursos de graduação; 
3) Incentivar uma sólida formação geral, necessária para que o futuro graduado 
possa vir a superar os desafios de renovadas condições de exercício profissional 
e de produção do conhecimento, permitindo variados tipos de formação e 
habilitações diferenciadas em um mesmo programa; 
4) Estimular práticas de estudo independente, visando a uma progressiva autonomia 
profissional e intelectual do aluno; 
5) Encorajar o reconhecimento de conhecimentos, habilidades e competências 
adquiridas fora do ambiente escolar, inclusive as que se referiram à experiência 
profissional julgada relevante para a área de formação considerada; 
6) Fortalecer a articulação da teoria com a prática, valorizando a pesquisa individual 
e coletiva, assim como os estágios e a participação em atividades de extensão; 
7) Incluir orientações para a condução de avaliações periódicas que utilizem 
instrumentos variados e sirvam para informar a docentes e a discentes acerca do 
desenvolvimento das atividades didáticas. 
Com o objetivo de construir este novo documento, em 1998, a Secretaria de Educação 
Superior (SESu) – Ministério da Educação – indicaram uma segunda Comissão de Especialistas 
composta por: Maria Angela Guimarães Feitosa (Coordenadora), Anna Edith Bellico da Costa, 
Antonio Virgílio Bittencourt Bastos, Carolina Martuscelli Bori, Marilia Ancona-Lopez e 
William Barbosa Gomes. Segundo Buettner (2000), a nova Comissão praticamente 
27 
 
 
desconsiderou as diretrizes elaboradas pela comissão anterior ao formular novas diretrizes 
intituladas “Padrões de Qualidade para os cursos de Graduação em Psicologia”. Este documento 
apresentava critérios de avaliação, autorização, reconhecimento e recredenciamento de cursos 
de Psicologia e não fazia menção alguma às diretrizes anteriores. 
O Conselho Federal e os Regionais de Psicologia decidiram realizar um evento voltado 
para esta discussão chamado Fórum Nacional da Formação em Psicologia composto por 
“composto por 38 delegados, eleitos nos Fóruns Regionais sobre o tema, por convidados e 
ouvintes” (FÓRUM NACIONAL DE FORMAÇÃO, 1997). O Fórum foi iniciado com eventos 
menores nas sedes (CFP) e subsedes (CRPs) e culminou num encontro nacional em Outubro de 
1997 em Ribeirão Preto – São Paulo (BUETTNER, 2000). Sendo os objetivos do Fórum: 
elaborar estratégias de intervenção institucional nos problemas da Formação do psicólogo; 
construir as diretrizes curriculares para o curso de graduação em Psicologia e analisar a 
propostas de avaliação dos cursos de Psicologia apresentada pela Comissão de Especialistas de 
Ensino a Psicologia do MEC/SESU. 
Como produto deste evento, foi elaborada uma série de princípios gerais e estratégias 
de intervenção do CFP em relação a esta temática. Também foram criadas sugestões de 
avaliação dos Cursos e de pedidos de abertura de novos cursos que modificavam as contidas no 
documento “Padrões de Qualidade para Cursos de Graduação de Psicologia”.Além de 
formuladas diretrizes curriculares para os cursos de Psicologia, que basicamente mantiveram 
as diretrizes propostas pela primeira Comissão de Especialistas (BUETTNER, 2000). 
Outra deliberação do Fórum Nacional de Formação foi a criação, em outubro de 1998, 
da Associação Brasileira de Ensino de Psicologia – ABEP. Essa associação tem como objetivo 
ser uma entidade de âmbito nacional que reflita, desenvolva e aprimore a formação em 
Psicologia no Brasil. Desde seu nascimento, “a ABEP compreende que a formação em 
Psicologia deve estar comprometida com a realidade social do país vinculado a ética e ao 
exercício da cidadania” (ABEP, n.p.). 
Poucos meses depois da realização do Fórum Nacional de Formação, foi apresentado 
pelo SESU-MEC o Edital 04/97, que chamava as instituições de ensino superior a apresentar 
propostas para as novas Diretrizes Curriculares para os cursos superiores. Sendo que a 
formulação final destas seria elaborada pelas respectivas Comissões de Especialistas de cada 
curso. 
Após longo processo de discussões e construções, no início de 1998, a Comissão de 
Especialistas do MEC divulgou o documento “Diretrizes Curriculares: Formulação 
Preliminar”. Buettner (2000) afirma que “este documento não correspondia às discussões e 
28 
 
 
deliberações que há mais de dez anos vinham sendo construídas pela Psicologia” (p.59). O CFP 
(2003) ratificava esta posição ao afirmar que este documento não contemplava os princípios 
aprovados no Fórum Nacional de Formação em Psicologia. Isso gerou ampla mobilização das 
IES e demais entidades da Psicologia. E, em maio de 1998, o CFP encaminhou uma nova 
proposta de Diretrizes Curriculares que reafirmava os princípios do Fórum. 
Um ano depois, a Comissão de Especialistas divulgou a segunda versão da proposta e 
em outubro deste ano, ela apresentou na XXX Reunião Anual da Sociedade Brasileira de 
Psicologia, o que afirmava ser a versão final das Diretrizes Curriculares para os cursos de 
graduação em Psicologia (CFP, 2003). Segundo Nico e Kovak (2003), esse documento 
conseguiu assegurar que ambos os grupos fossem contemplados ao definir um Núcleo Comum, 
que contemplava a identidade do curso de Psicologia no país e assegurava uma base homogênea 
para a formação, e também ênfases de aprofundamento, que possibilitam a capacitação em 
determinada área ou campo de atuação. Gomes (2002) afirma que o Núcleo comum garante a 
homogeneidade científico-profissional da formação em Psicologia, já as ênfases garantem a sua 
heterogeneidade. Assim, apesar de as IES terem a autonomia de determinar suas ênfases de 
aprofundamento, é obrigatório que o núcleo comum seja respeitado (NICO e KOVAC, 2003). 
Já para o CFP (2003), esta versão não era satisfatória já que, apesar de superar algumas 
inconsistências do documento anterior, mantinha pontos polêmicos, como os perfis de formação 
e as ênfases curriculares. 
Em setembro de 2000, foi realizado o I Encontro Nacional da ABEP, no qual o tema 
das Diretrizes Curriculares foi um eixo de debate. Nesse evento, foi concluído que a versão das 
Diretrizes apresentada pela Comissão desrespeitava o processo de discussões e construções 
coletivas e decidiram por reivindicar ao Conselho Nacional de Educação - CNE –a revisão da 
mesma (CFP, 2003). Em outubro de 2000, uma audiência pública foi realizada pelo CNE para 
discutir uma proposta de resolução para as Diretrizes Curriculares. 
Foi apresentada pela relatoria do CNE uma proposta de Diretrizes Curriculares para o 
Curso de Graduação em Psicologia no dia 07 de novembro de 2001 a partir do Parecer 
CNE/CES nº 1.314. De acordo com o CFP (2003), “este parecer mantinha quase que na íntegra 
a proposta da Comissão de Especialistas” (p.11). Essa versão se mantinha estruturada a partir 
de um núcleo comum de formação, contemplando os princípios e compromissos nos quais a 
formação deve se basear, as competências gerais e habilidades do formado em Psicologia, os 
eixos estruturantes e seus conteúdos curriculares, da organização do curso caracterizada pelas 
atividades acadêmicas e colocações acerca dos estágios e atividades complementares, e de 
29 
 
 
perfis de formação: Bacharel em Psicologia, Professor de Psicologia e Psicólogo, sendo que as 
ênfases curriculares estão ligadas ao terceiro perfil. 
O perfil de Bacharel em Psicologia tinha como objetivo um maior investimento na 
atividade de pesquisa; o de Professor de Psicologia se voltava ao ensino da Psicologia em 
diversos níveis e modalidades, e o de Formação do Psicólogo se caracterizava pela prática 
profissional. Dessa forma, temos uma cisão da Psicologia em Ciência e Profissão. 
De acordo com Bock (2004), “dividir a formação em três perfis ou apresentá-la em um 
só perfil refletiam esta disputa (política). Os três perfis permitiriam que algumas escolas (a 
maioria) se dedicassem à formação profissional e outras escolas (a minoria pública) se 
dedicassem à pesquisa” (BOCK, 2004, p.1). Já para Gomes (2002), “a proposta trata com a 
mesma seriedade a formação profissional e científica. A prática profissional apresenta-se 
fundamentada em conhecimentos científicos, e a arte (poiesis) de fazer ciência renova a prática 
profissional e a própria ciência” (n.p.). Assim, a dualidade entre opiniões sobre as Diretrizes 
Curriculares se manteve. 
O grupo que não foi contemplado pelas Diretrizes, composto pela Associação 
Brasileira de Ensino de Psicologia – ABEP –, Conselho Federal de Psicologia – CFP –, 
Conselho Nacional de Estudantes de Psicologia – CONEP –, entre outras entidades 
participantes do Fórum Nacionais de Entidades de Psicologia Brasileira – FENPB –, reagiu 
com uma manifestação em frente ao MEC reivindicando a refutação da proposta (BARBOSA, 
2007). Também produziram uma carta aberta à população intitulada “Diretrizes Curriculares: 
um risco à sociedade”, que analisava como as diretrizes reduziam a atividade do psicólogo ao 
modelo médico e dissociavam a pesquisa da atividade profissional. Fundamentalmente, este 
grupo acreditava que as diretrizes curriculares apresentadas colocavam em “risco o avanço 
conquistado pela Psicologia no Brasil, na direção de uma ciência e de uma profissão mais 
comprometidas com as necessidades da sociedade brasileira” (CFP, ABEP e CONEP, 2001, p. 
1) e que, se aprovadas, permitiriam que os interesses dos empresários brasileiros do ensino 
superior corrompessem a construção da Psicologia brasileira. 
Outra entidade que também reagiu à proposta das Diretrizes foi a Associação Nacional 
de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia – ANPEPP. Na carta escrita pela Diretoria da 
ANPEPP, composta por Maria Lúcia Seidl de Moura (UERJ) – Presidente –, Lino de Macedo 
(USP) - Vice-Presidente –, Paulo Rogério Meira Menandro (UFES) – Secretário –, Oswaldo 
Hajime Yamamoto (UFRN) – Tesoureiro – e Mitsuko Aparecida Makino Antunes (PUC/SP) - 
Secretária Executiva – para o Simpósio de 2002, os pontos principais de preocupação da 
entidade para com as Diretrizes foram: a abolição de qualquer parâmetro definidor de carga 
30 
 
 
horária mínima, a supressão do ponto que não permitia o estágio supervisionado com mais de 
12 alunos e que, apesar de as diretrizes tenderem para a formação diversificada do psicólogo, o 
artigo 6º sugere que o profissional de Psicologia é exclusivamente da área da saúde (ANPEPP, 
2001). 
Segundo Barbosa (2007), devido às reivindicações e manifestações ocorridas, o 
Ministério da Educação não homologou as Diretrizes Curriculares propostas pela Comissão de 
Especialistas. Foi realizada uma reunião da assessoria do Ministro da época - Paulo Renato 
Souza - com uma comitiva das entidades de Psicologia e ficou acordado que as entidades teriam 
até o dia 28 de janeiro de 2002 para apresentar uma nova proposta para o documento (CFP, 
2003). 
O início do ano de 2002 foi conturbado, no mês de janeiro foi realizado o Fórum 
Aberto de Entidades que contou com a participaçãode pelo menos 50 entidades de Psicologia 
e elaborou um documento alternativo das Diretrizes Curriculares que foi entregue ao MEC neste 
mesmo mês. Em fevereiro, a relatoria do CNE construiu e encaminhou ao MEC o Parecer 
CNE/CES nº 072/02 que, segundo o CFP (2003), desconsiderava o documento encaminhado 
pelo Fórum. Em consequência disso, a ABEP passou a realizar intensa mobilização 
institucional e da categoria, e a homologação do Parecer não ocorreu. Assim, em julho de 2002, 
foi constituída uma nova comissão, composta por Éfrem de Aguiar Maranhão, Marília Ancona-
Lopez, e Tereza Roserley Neubauer (que se desligou da comissão), para esclarecer as opiniões 
de ambos os segmentos da categoria e tentar produzir um novo documento para ser 
homologado. 
Essa comissão realizou, em dezembro de 2003, uma audiência pública na qual ficou 
clara a divergência entre dois grupos de entidades sobre, principalmente, a questão dos perfis 
para os cursos de Psicologia (BARBOSA, 2007). Para tentar solucionar a problemática, foi 
acatada a proposta do professor Éfrem Maranhão de se construir um grupo paritário com 2 
representantes do Fórum de Entidades Nacionais da Psicologia Brasileira (composto por 16 
entidades de Psicologia), Inara Barbosa Leão e Maria da Graça Marchina Gonçalves, e 2 da 
Sociedade Brasileira de Psicologia, Antônio Virgílio Bittencourt Bastos e Maria Martha Costa 
Hübner, para debater as diretrizes e se chegar a um consenso. 
Como produto desse encontro ocorrido em fevereiro de 2004, apresentou-se uma 
proposta consensual das Diretrizes Curriculares encaminhada à Comissão. Segundo Barbosa 
(2007), este novo documento “respeitou grande parte das propostas anteriores e superou as 
principais divergências até então apontadas” (p.35). Assim, no dia 07 de maio de 2004, foi 
31 
 
 
homologada a Resolução CNE/CES nº 8, que instituía as Diretrizes Curriculares Nacionais para 
os Cursos de Psicologia. 
Segundo Cirino et al. (2007), as Diretrizes se modificaram substancialmente em 
relação às anteriores, principalmente na forma em que estão organizadas. Também pelo fato de 
que, apesar de manterem o núcleo comum com suas competências e habilidades, eixos 
estruturantes, atividades acadêmicas e estágios com poucas modificações, elas abandonam os 
perfis de formação e apresentam uma lista de possibilidades de ênfases curriculares e 
determinam a obrigatoriedade do oferecimento de pelo menos duas delas. 
A Psicologia segue por um processo de intensos e extensos debates em relação à 
legislação que regula a sua formação. Foram muitos os espaços de discussão e construção 
proporcionados pelo Conselho Federal e Conselhos Regionais, e a criação da ABEP é um marco 
importante que reafirma o compromisso da Psicologia com sua formação. 
A história aqui apresentada demonstra mais uma vez a disputa entre diferentes projetos 
de Psicologia para a realidade brasileira. Por um lado, o projeto defendido pelo Sistema 
Conselhos de psicologia e entidades do Fórum de Entidades Nacionais da Psicologia Brasileira 
- FENPB – e por outro o defendido pela Sociedade Brasileira de Psicologia. São dois projetos 
que divergiam e divergem na definição dos perfis, na presença obrigatória da pesquisa em todos 
os cursos sem que se destaquem algumas universidades como “de pesquisa” e outras “de 
formação profissional” e na definição das ênfases. 
A formação está intimamente ligada ao projeto de profissão que queremos, assim, as 
questões da formação são questões também da profissão. Falar de formação é falar de 
ciência/profissão. A formação de hoje é regida sob as diretrizes curriculares nacionais de 2004, 
que, na tentativa de solucionar essa tensão entres os projetos, aponta para uma formação 
generalista com ênfases curriculares. Vale demarcar que a formação não se dá apenas no plano 
abstrato do debate, mas é algo baseado no real e se dá concretamente a partir de seus atores e 
suas concepções. 
3.2 Questões sobre a Formação do psicólogo 
“Repensar a inserção social da Psicologia, implica também repensar a colocação da 
dimensão do profissional no seio da formação” (HOLANDA, 1997, p.11) 
A qualidade da formação do psicólogo é uma preocupação constante da categoria. 
Desde sua regulamentação como profissão no Brasil pela Lei Federal nº 4.119, de 27 de agosto 
32 
 
 
de 1962, a Psicologia passou por um longo processo objetivando sistematizar a formação do 
futuro psicólogo. Antes mesmo dessa data, pesquisas já eram realizadas sobre a formação. Em 
1953, Anita de Castilho e Marcondes Cabral, da USP, publicaram o primeiro artigo 
contemplando a questão da formação. No ano seguinte, Carolina Bori abordou em seu artigo 
“Um curso de estatística aplicada à experimentação psicológica” a importância da estatística e 
da experimentação na formação do psicólogo (CÂNDIDO & MASSIMI, 2012). 
Ferreira Neto (2004) ressalta o estudo de Sílvia Lesser Pereira, em 1975, pela USP, 
como um pioneiro sobre a formação em Psicologia. Segundo o autor, neste trabalho, Pereira 
constata que é comum a insatisfação em relação aos cursos entre alunos e professores e que a 
formação daquele momento se prendia às formas tradicionais de utilização da Psicologia. 
Anos depois, em pesquisa realizada pelo CFP em 1988 - “Quem é o psicólogo 
brasileiro?” –, fica claro que a insatisfação dos psicólogos em relação à sua formação ainda se 
apresenta (BORGES-ANDRADE, 1988). No conjunto de possíveis dificuldades específicas no 
exercício da Psicologia, a “formação e experiências” foi a categoria de maior incidência. Não 
apenas os psicólogos consideram que o que foi aprendido na graduação foi insuficiente, como 
recorrem à formação complementar para alicerçar a sua prática profissional. 
Resultados semelhantes foram evidenciados por Bardagi et al. (2008) em pesquisa 
realizada com 79 alunos egressos do curso de Psicologia da Universidade Federal do Rio 
Grande do Sul. As autoras identificaram que 52% dos psicólogos que participaram do estudo 
se sentiam não ou “mais ou menos” preparados para atuar ao final do curso, enquanto os outros 
48% afirmavam se sentirem preparados. 
Isso se manteve em nova pesquisa realizada sobre a profissão do psicólogo no Brasil 
realizada pelo GT Psicologia Organizacional e do Trabalho da ANPEPP ao discorrer que: 
[...] os psicólogos reconhecem uma distância significativa entre as suas aprendizagens 
na graduação e as demandas do exercício profissional. Os desafios da qualificação 
profissional e as defasagens entre o que é necessário para bem exercer a profissão 
(BASTOS et al., 2010, p.268) 
Ao realizar um levantamento sobre a formação, Valle Cruces (2008) resume os 
principais problemas detectados: 
[...] a expansão desenfreada de cursos na área; e a sua precária qualidade, pois muitos 
deles priorizam a teoria e o preparo técnico, dando pouca possibilidade de estágio e 
pouca ênfase à investigação; além do enfoque na clínica curativa e individualizada, 
centrada quase sempre na psicanálise, uma das fontes teóricas predominantes no 
treinamento dos futuros profissionais (p.241). 
33 
 
 
Consideramos que para falar de formação é necessário falar de profissão. Para Holanda 
(1997), formação e o exercício profissional constituem um processo contínuo e, por isso, é 
necessária uma parceria que “envolva um empenho mútuo na direção de uma formação 
adequada para o futuro psicólogo” (HOLANDA, 1997, p.12) entre as entidades formadoras e 
os Conselhos de Psicologia. Os cursos de graduação de Psicologia têm a enorme 
responsabilidade de formar os futuros psicólogos, por outro lado, é função dos Conselhos, entre 
outras coisas, “orientar, disciplinar e fiscalizar o exercício da profissão de Psicólogo” e “zelar 
pela observância do Código de Ética Profissional” (BRASIL, 1971). 
Nos dias de hoje, o Documento do CFP sobre a Formação de Psicólogas e Psicólogos 
(GRUPO DE TRABALHO FORMAÇÃO, 2012) adiciona que apesar da grande funçãodo 
Conselho na atuação sobre a formação do psicólogo, é responsabilidade imediata dos centros 
universitários e associações científicas e profissionais, como a ANPPEP (Associação Nacional 
de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia) e ABEP (Associação Brasileira de Ensino de 
Psicologia), cuidar dessas questões. 
É inegável a relação entre formação e profissão, porém ainda não se superou o 
pensamento dicotômico, e estas instâncias indissociáveis não têm sido trabalhadas como tal. 
Holanda (1997) exemplifica que, já que deve ser garantida a ética do psicólogo, o ideal seria 
que durante a formação fosse proporcionado ao estudante condições para que construa o seu 
compromisso ético e desde então assuma um papel como transformador social. E, Paiva e 
Yamamoto (2010) afirmam que, ao isolarmos profissão e formação, temos como resultado não 
apenas “formações insuficientes e desconectadas da realidade social” (p.156), mas também 
geramos insegurança e angústia para os psicólogos ao se inserirem nos diversos campos de 
atuação. 
A formação deve servir de resposta às novas demandas da atuação profissional ao ser 
um espaço de construção de superações das práticas já estabelecidas. Algumas mudanças na 
profissão podem ser identificadas, mas será que elas refletem na formação? 
Segundo Bastos e Achcar (1994), dentre os principais eixos de transformação da 
prática do psicólogo, tem-se que a concepção do fenômeno psicológico passa do plano 
individual para o contexto sociocultural, que a busca do conhecimento para embasar a prática 
de unidisciplinar tende a virar multidisciplinar, assim como a natureza da intervenção tende 
para a atuação multiprofissional, saindo do plano isolado do psicólogo. Os autores acrescentam 
que a intervenção não foca mais apenas no indivíduo, mas começa a olhar para os contextos e 
grupos, deixando o caráter remediativo para um caráter preventivo. Também afirmam que é 
assumida uma postura crítica da psicologia frente aos seus conhecimentos e técnicas, que houve 
34 
 
 
uma mudança na população atendida, somando os segmentos socialmente excluídos. Por fim, 
o compromisso do profissional pela transformação social passa a ser colocado como importante. 
Porém, Gonçalves e Bock apontavam em 1996 que “a formação dos psicólogos não 
parece estar caminhando nesta direção” (GONÇALVES e BOCK, 1996, p.148). As autoras 
afirmam que as mudanças identificadas no trabalho de Bastos e Achcar (1994) pouco têm sido 
absorvidas pelos currículos de Psicologia e que ainda se está transmitindo um modelo de 
atuação baseado na visão liberal de homem deslocado de sua realidade social. 
Segundo Bock (1997), a formação dos psicólogos tem sido dominada pela visão 
liberal, assim, os psicólogos têm-se formado na perspectiva da naturalização do homem e do 
individualismo. Assim, ela coloca uma série de elementos para basear a construção de um novo 
projeto de formação crítica, são eles: pluralidade, estímulo à pesquisa, criatividade, 
interdisciplinaridade, formação generalista, treino da prática e, fundamentalmente, uma 
formação colada à realidade brasileira. Este último ponto é confirmado por Mancebo (1997), 
ao afirmar que os cursos são alheios às necessidades brasileiras. 
Convergindo nesta mesma visão de Psicologia, Azerêdo (2002) acredita que para 
responder às demandas da realidade brasileira, o grande desafio da Psicologia é introduzir a 
dimensão política na formação com o objetivo de alcançar uma nova prática de pensamento que 
atue contra o sistema de desigualdade. O que é corroborado pelo Grupo de Trabalho Formação 
do CFP (2012) ao afirmar que um dos maiores problemas da formação do psicólogo brasileiro 
é a ausência de um projeto ético-político para a profissão. 
O Grupo de Trabalho Formação afirma que “o CFP está consciente da defasagem 
ético-política no que tange à questão teórica e técnica da formação do psicólogo” (2012, p.7) e 
que urge a necessidade de uma adequação da formação às novas demandas sociais. Adequar a 
formação às demandas sociais implica-nos definir quais delas são foco da nossa atuação. Para 
tanto, Bicalho et al. (2009) afirmam que: 
[...] é preciso adquirir a clareza de que nosso trabalho profissional é também um 
trabalho político, nunca isento nem neutro. Nossas práticas envolvem uma concepção 
de mundo, de sociedade, de homem, de humano, exigindo um posicionamento sobre 
a finalidade da intervenção que fazemos, a qual envolve a certeza de que nossas 
práticas têm sempre efeitos, exigindo que tomemos, portanto, posições (p.33). 
Concordamos com Holanda (1997) ao afirmar que formação e profissão são 
indissociáveis. Parto do pressuposto da necessidade de um projeto político para a Psicologia, 
pois, se quisermos construir uma nova formação, precisamos ter um projeto de profissão. E, se 
quisermos ter um projeto de profissão, devemos nos perguntar: que psicologia o Brasil precisa? 
35 
 
 
3.3 Panorama dos cursos no Brasil 
O levantamento dos dados do Cadastro das Instituições de Ensino Superior do 
Ministério da Educação, realizado por Lisboa e Barbosa (2009), identifica que, em 2007, o 
psicólogo brasileiro está, em sua maioria, sendo formado “em um curso de graduação presencial 
de uma universidade privada com fins lucrativos localizada no interior do País, principalmente 
da Região Sudeste” (LISBOA e BARBOSA, 2009, p.734). 
A partir do acesso ao Cadastro das Instituições de Ensino Superior do Ministério da 
Educação (e-MEC), no dia 27 de setembro de 2013, foi realizado um panorama dos cursos de 
Psicologia na atualidade brasileira. A busca feita por bacharelado em cursos de Psicologia que 
esteja em atividade apresentou como resultado de 454 diferentes IES divididas nos 27 estados 
do Brasil. 
A região Sudeste ainda é a de maior concentração de IES que oferecem cursos de 
Psicologia, apresentando o total de 43% (Gráfico 1). Em segundo lugar, tem-se a região 
Nordeste, com 21%, seguida da região Sul, com 20%. O Centro-Oeste apresenta 9%, e o Norte, 
7%. 
Gráfico 1 - Distribuição das IES com curso de Psicologia por Região do Brasil 
 
Fonte: Elaborado pelo autor. 
 
Ao analisar este panorama, identifica-se que apenas o estado de São Paulo assume 
18% das IES (Tabela 1), número próximo às regiões Nordeste e Sul, e superior às demais. Isto 
demonstra a desigualdade presente na distribuição de cursos de Psicologia em nosso país. 
7%
21%
9%
43%
20%
Norte
Nordeste
Centro-Oeste
Sudeste
Sul
36 
 
 
Tabela 1 - Número de IES com cursos de Psicologia por Estado brasileiro 
Norte Nordeste Centro-
Oeste 
Sudeste Sul Geral 
Estad
o 
IES Estad
o 
IES Estad
o 
IES Estad
o 
IES Estad
o 
IES 
AC 2 AL 4 DF 7 ES 12 PR 34 
AM 8 BA 37 GO 13 MG 47 RS 33 
AP 3 CE 11 MT 8 RJ 23 SC 24 
PA 4 MA 3 MG 11 SP 82 
RO 10 PB 9 
RR 2 PE 16 
TO 3 PI 7 
 RN 5 
 SE 4 
Total 32 96 39 196 91 454 
Fonte: Elaborado pelo autor. 
Em geral, tem-se que a realidade da formação em psicologia não mudou muito nos 
últimos cinco anos. Como dado complementar, Lisboa e Barbosa (2009) indicam que os cursos 
possuem um caráter mediano em relação aos resultados do Exame Nacional de Desempenho de 
Estudantes (ENADE) e que este dado deve ser lido como um problema a ser enfrentado pela 
Psicologia. 
É apresentado aqui um panorama que demonstra a desigualdade dos cursos de 
Psicologia em relação à região. Yamamoto et al. (1999) afirmam que a produção científica da 
psicologia no Brasil tem sua concentração geográfica (80%) no eixo sul-sudeste, e que esse 
dado indica uma “desigualdade na distribuição de recursos, na oferta de oportunidades 
educacionais e de formação científica” (p.558). Esse dado pode ser relacionado com a grande 
concentração de IES nas mesmas regiões brasileiras e escassez em outras, o que é consequência 
e acaba produzindo os mesmos fatores identificados por Yamamoto et al. (1999). 
O caráter mediano

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