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1 2 Autores Suzana Portuguez Viñas Pedagoga, psicopedagoga, escritora, editora, agente literária, pós-graduanda em neuropsicopedagogia, possui vários livros publicados sobre filosofia, neuropsicopedagogia e neurobiologia. suzana_vinas@yahoo.com.br Roberto Aguilar Machado Santos Silva Membro da Academia de Ciências de Nova York, Médico Veterinário, escritor, etologista, poeta, historiador Doutor em Medicina Veterinária. Pós-graduando em neuropsicopedagogia, Possui vários livros publicados sobre filosofia, neuropsicopedagogia e neurobiologia robertoaguilarmss@gmail.com 3 Neurobiologia da Adolescência 4 Adolescente e o Cérebro em Ebulição Suzana Portuguez Viñas1 Roberto Aguilar Machado Santos Silva2 A palavra emoção deriva do latim movere, mover, por em movimento. É essencial compreender que a emoção é um movimento de dentro para fora, um modo de comunicar os nossos mais importantes estados e necessidades internas. As emoções "são complexos psicofisiológicos que se caracterizam por súbitas rupturas no equilíbrio afetivo de curta duração, com repercussões consecutivas sobre a integridade da consciência e sobre a atividade funcional de vários órgãos”. Sentimentos são estados afetivos mais estáveis e duráveis, provavelmente provindos de emoções correlatas que lhe são cronologicamente anteriores. Podemos classificar emoções e estados emocionais em: • Emoções primárias: ligadas ao instinto e sobrevivência. São elas a Emoção de Choque (que representa ameaça ao indivíduo); Emoção Colérica (anulação de objeto, que representa algum incômodo) e Emoção Afetuosa (inclinação ao prazer). 1 Suzana Portuguez Viñas é escritora, agente literária, pedagoga, psicopedagoga e pós- graduanda em neuropsicopedagogia. Possui vários livros publicados sobre filosofia e neuropsicopedagogia. 2 Roberto Aguilar Machado Santos Silva é escritor, medico-veterinário, Doutor, membro da Academia de Ciências de Nova York e pós-graduando em neuropsicopedagogia. Possui vários livros publicados sobre filosofia e neuropsicopedagogia. 5 • Emoções secundárias: estados afetivos mais complexos que as emoções primárias. Dividem-se em duas formas: Estados Afetivos Sensoriais (sensações de prazer e dor, relacionado à sensibilidade corporal) e Estados Afetivos Vitais (mal-estar, bem-estar, animação, desanimação, relacionado a atitudes internas do indivíduo). • Emoções mistas: envolvem misturas de estados afetivos contrastantes, caracterizando um conflito emocional. Este conflito emocional pode ter grande ou pequena repercussão na conduta individual. • Sentimentos anímicos e espirituais: sentimentos anímicos são estados afetivos tidos como qualidades do eu com o mundo de valores; referem-se a coisas, pessoas ou acontecimentos, atribuindo-lhes valores. Exemplos de sentimentos anímicos são tristeza e alegria, amor e ódio, felicidade e desespero. Sentimentos espirituais tendem para valores absolutos, como valores de estética, intelectuais, morais ou religiosos. Sentimentos são muito mais duradouros que as emoções, e muito mais numerosos. Desta forma, como um exemplo, podemos contatar que da emoção primária de choque-pânico, nascem emoções mistas como espanto, susto, terror, e destas surgem sentimentos de desconfiança, insegurança ou medo. Lopes (2017), citou as funções das emoções conforme Dámasio, Newen e Ballone: . Para Damásio a emoção tem duas funções biológicas: A primeira produz uma reação específica para a situação indutora e a segunda função é de Homeostase, regulando o estado interno do organismo, visando essa reação específica. Ou seja, as emoções são a forma que a natureza encontrou para proporcionar aos organismos comportamentos rápidos e eficazes orientados para a sua sobrevivência. . De acordo com Newen, as emoções cumprem funções de grande importância. Podemos citar quatro delas: Prepara-nos e motiva-nos para ações; possibilita avaliarmos os estímulos do ambiente de maneira extremamente rápida, ajuda no controle das relações sociais; são formas de expressão típicas que indicam aos outros as próprias intenções (quando alguém sorri para nós, automaticamente supomos que tem uma postura amigável). . Já, segundo Ballone, essas emoções são capazes de mobilizar o Sistema Nervoso Autônomo, órgãos e sistemas. Para a mesma autora, conclui-se que, as emoções influenciam a saúde não apenas em decorrência da psico-neuro- fisiologia, mas também através de suas propriedades motivacionais, através de condutas saudáveis, tais como os exercícios físicos, a dieta equilibrada, etc Desenvolvimento do cérebro adolescente De acordo com o Ashton Community Science College, da Inglaterra, nos últimos 10 anos, as varreduras cerebrais ou ressonância magnética funcional 6 (fMRI, na sigla em inglês) nos disseram mais sobre como os cérebros do adolescente funcionam de forma diferente dos cérebros dos adultos. Saber mais sobre como o cérebro do adolescente funciona pode ajudar os adultos a entender melhor o comportamento deles - por que eles podem ser impulsivos, precisam dormir muito, sejam emocionais, rebeldes, correm riscos, sejam desorganizados, distraídos e atrasados! Os adolescentes podem parecer fisicamente maduros, mas seus cérebros ainda estão se desenvolvendo até os 20 anos. Os adultos usam a parte frontal do cérebro (córtex frontal) para pensar, avaliar e planejar. Ao usar exames cerebrais, os pesquisadores descobriram que a parte da frente dos cérebros dos adolescentes está subdesenvolvido. Os adolescentes usam uma parte emocional da cérebro (a amígdala) mais do que os adultos. Parte mais estimulada do cérebro dos adolescentes Sono Os adolescentes precisam de pelo menos 9 horas de sono para estarem otimamente alertas. As mudanças nos padrões de sono estão ligadas à puberdade e às mudanças nos hormônios. A puberdade é um momento em que o crescimento físico do adolescente acelera e isso é controlado pela liberação do hormônio do crescimento, as meninas com de cerca de 11 anos e meninos aproximadamente 14 anos. Nos adolescentes, o hormônio do sono (melatonina3) é liberado aproximadamente às 13 horas em comparação com as 22 horas em adultos. Os adolescentes continuarão com esse padrão de sono até que tenham terminado a puberdade. Perto do fim da puberdade, eles mudarão para um padrão adulto. Para as meninas, isso ocorre em torno de 19,5 anos de idade. Para meninos, isso ocorre em torno de 21 anos de idade. 3 A melatonina é um hormônio produzido por diversos animais e plantas. Em animais superiores, é o produzido e liberado pela glândula Pineal. A glândula pineal participa na organização temporal dos ritmos biológicos, atuando como mediadora entre o ciclo claro/escuro ambiental e os processos regulatórios fisiológicos, incluindo a regulação endócrina da reprodução, a regulação dos ciclos de atividade-repouso e sono/vigília assim como a regulação do sistema imunológico, entre outros. 7 O que você pode fazer para ajudar seu adolescente? Mesmo que o corpo do seu adolescente esteja mudando, as rotinas para dormir e ter maneiras de se acomodar para dormir ainda são importantes. Tente encorajá-lo a ter um tempo de cama regular, porém que não seja muito cedo. Todos sabemos as coisas que podem ser úteis para dormir: uma rotina que leva à hora de dormir, acalmando-se, calma e escuridão, mas talvez você precise adaptar essas coisas para estar mais em sintonia com seu adolescente. Portanto, tente manter a calma: assim como você quando era mais jovem, eles também, dependerão de você para ajudá-los a manter a calma. Mantenha seu quartofresco. Reduza a iluminação (iluminação com dimmers4 ou pequenas lâmpadas podem ser úteis). Incentive um tempo de calma, como planejar a hora para parar de usar o computador e a TV. Será que os adolescentes podem dizer o que você sente, pelo olhar no seu rosto? Nos adolescentes, a parte do cérebro que controla a fala e interpreta as expressões e emoções faciais (a amígdala) é também a parte do cérebro que usamos quando estamos em perigo. Isso significa que eles ficam confusos, pois o seu cérebro está ainda imaturo. Em um experimento para ver se adolescentes e adultos reconheceram uma expressão da mesma maneira. Ao mostrar uma imagem de uma mulher com expressão de medo, os pesquisadores perguntaram: "O que esta pessoa sente?" 100% dos adultos estavam corretos. Eles disseram medo corretamente. Enquanto que apenas 50% dos adolescentes estavam corretos. Os outros 50% dos adolescentes citaram outras emoções, como raiva, choque, tristeza ou confusão. Mãe com expressão de medo. Alguns disseram que não sabiam. Foi surpreendente que até mesmo adolescentes bastante cultos responderam errado. 4 Dimmers são dispositivos utilizados para variar a intensidade de uma corrente elétrica média em uma carga. Eles consistem de graduadores que, através da diminuição ou aumento da tensão valor eficaz e, portanto, um aumento da potência média de uma lâmpada, controlam a intensidade da luz produzida pela mesma. 8 Os adolescentes usam a parte emocional do cérebro (amígdala) com mais frequência e que ainda está imaturo e por isso tem dificuldades de interpretar as emoções e sentimentos expressados por outras pessoas. Com apoio e compreensão de você e de outros adultos: . Os cérebros deles vão amadurecer e eles serão adultos responsáveis. . Eles serão mais capazes de organizar e planejar. . Seu padrão de sono mudará e eles vão se levantar cedo para o trabalho ou escola. Para saber mais: FACEBOOK. NEUROPSICOPEDAGOGIA HOJE. https://www.facebook.com/neuropsicopedagogiahoje/ ASHTON COMMUNITY SCIENCE COLLEGE. Teenage brain development http://www.ashtoncsc.lancs.sch.uk/files/files/Teenage_brain_dev.pdf Acesso em: 31 out. 2017. DURAN, K. M.; VENANCIO, L. R.; RIBEIRO, L. S. Influência das Emoções na Cognição. Disponível em: <http://www.ic.unicamp.br/~wainer/cursos/906/ trabalhos/Trabalho_E1.pdf> Acesso em: 17 jul. 2017. LOPES, M. A História do Cérebro. Disponível em:<https://sophiaofnature. wordpress.com/2014/12/13/a-historia-do-cerebro/> Acesso em:14 ago. 2017. LOPES, R. B. As emoções. Disponível em:<https://psicologado.com/ psicologia-geral/introducao/as-emocoes> Acesso em: 17 jul. 2017. 9 A Memória no adolescente Bases neuroanatômicas e neurofisiológicas da memória Segundo Vivas (2017), geralmente se reconhecem as seguintes etapas na formação de uma memória: aquisição, consolidação e armazenamento. O proceso de aquisição implica no ingresso da informação ao cérebro através dos órgãos sensoriais e os cortéx sensoriais primários (visual, auditivo, somatosensorial) chegando a um primeiro espaço da memória: a memória de trabalho. A consolidação implica na repetição da informação e a elaboração de representações robustas no cérebro. O armazenamento, por sua parte, implica na geração de traços relativamente estáveis de conhecimento. Estas etapas ocorrem para a aquisição de diversos tipos de conhecimento (de episódios, de conceitos, de procedimentos, etc.). Conforme a mesma autora, cabe ressaltar que estes processos são dinâmicos e que os traços de memória se podem reativar e modificar. Cada vez que recordamos um acontecimento passado a recuperação da informação pode sofrer leves modificações produto da reinterpretação que fazemos do evento. Assim mesmo a informação que temos sobre os conceitos se pode ir completando e modificando a partir da experiência. A informação sempre ingressa no cérebro desde o meio externo através das áreas sensoriais primárias, porém o processamento posterior varia de acordo al tipo de conteúdo. 10 Classificações dos distintos tipos de memória São numerosas as classificações dos distintos tipos de memória que desenvolvido ao longo dos anos. Entre as mais destacadas cabe mencionar as propostas de James5 (1890), quem distinguiu entre uma memória primária (transitória) e uma secundária (permanente), o modelo de Atkinson e Shiffrin6 (1968), quem propuseram uma multi-estrutura que continha três instancias (registro sensorial, memória a curto e a longo prazo), passando pela proposta de Tulving7 (1972) que permitiu diferenciar dentro da memória a longo prazo entre memória episódica e semântica, continuando com Baddeley e Hitch8 (1974), quem elaboraram uma proposta acerca do funcionamento da memória de trabalho, e, chegando aos modelos mais recentes, o de Tulving9 (1995) quem propôs a existência de cinco sistemas de memoria (representación perceptual, memoria procedural, memoria semântica, memoria episódica, memoria de trabalho). Os modelos mais reconhecidos sobre os sistemas de memória são aqueles propostos por Squire (199210, 200411). O motivo é que 5 JAMES, W. Principles of Psychology. New York: Holt, 1890. 6 ATKINSON, R.C.; SHIFFRIN, R.M. Human memory: A proposed system and its control processes. Em SPENCE, K.W.; SPENCE, J.T. (Eds.), The psychology of learning and motivation: Advances in research and theory. (Vol. 2). (pp. 742-775). New York: Academic Press,1968. 7 TULVING, E. Episodic and semantic memory. En E. Tulving & W. Donaldson (Eds.), Organization of memory, (pp. 381-403). New York: Academic Press, 1972. 8 BADDELEY, A.D.; HITCH, G. Working memory. En G.H. Bower (Ed.), The psychology of learning and motivation: Advances in research and theory (Vol. 8), pp. 47-89). New York: Academic Press, 1974. 9 TULVING, E. Organization of memory: Quo vadis? En GAZZANIGA, M. (Ed.). The Cognitive Neurosciences. Cambridge M.A.: MIT Press, 1995. 10 SQUIRE, L.R. Memory and the hippocampus: a synthesis from findings with rats, monkeys, and humans. Psychological Review, 99(2), 195-231, 1992. 11 SQUIRE, L.R. Memory systems of the brain: A brief history and current 11 estes modelos permitem estabelecer uma correspondência entre os sistemas de memória que propõe e as estruturas neuro-anatómicas que servem de base para seu funcionamento. Na figura a seguir se pode observar o esquema deste modelo. De acordo com a autora, este modelo propõe una primera diferenciação entre memória declarativa ou explícita e não declarativa ou implícita. Na primeira se localizam aqueles tipos de memórias que podem ser expressadas verbalmente e na segunda aquelas que não podem expressar-se verbalmente, mas podemos explicar a sua existência a partir da observação do comportamento. Memória declarativa A memória declarativa se refere a capacidade consciente de recuperar a informação sobre os fatos e eventos e é o tipo de memória geralmente afetada na amnésia. A memória declarativa permite que o material recuperado perspective. Neurobiology of Learning and Memory, 82, 171-177, 2004. 12 seja comparado e contrastado. Por exemplo, é possível demonstrar que uma pessoa esteve a semana passada no médico (memoria episódica) ou que um cão é um animal (memoria semântica). O formato de armazenamento é representacional . Memória não declarativa Ao contrário, a memoria não declarativa é disposicional e é expressada mediante o desempeño mais que mediante a recuperação da informação. O fato é de se que adquiriu uma habilidade(memória processual) ou estabeleceu um condicionamento pode ser encontrando a partir da observação do comportamento. De acordo com Vivas (2017), as formas de memoria não declarativas se manifestam através de modificaciones em nos sistemas de desempenho especializados. Na memoria declarativa se encontram a memoria para fatos, que seriam a memória semántica do modelo de Tulving e a memória para eventos, que seria a episódica. O substrato neuroanatomico que permite a adquisição de ambos tipos de memoria se localiza no lobo temporal medial. A codificação e recuperação da memória declarativa ocorre através do hipocampo e as estruturas adjacentes, como o cortex parahipocampal, a entorrinal e a peririnal. Todos se localizam na face medial do lobo temporal (como pode ser observado na figura seguinte). Mais recentemente, Iván Izquierdo e cols (2013) examinaram as definições e características gerais dos principais tipos de memórias de acordo com sua 13 função, conteúdo e duração, as áreas cerebrais responsáveis por elas e os mecanismos moleculares sinápticos envolvidos na formação e extinção dos diversos tipos de memórias nessas áreas. Dando particular destaque a alguns aspectos de sua biologia, com alguma ênfase na memória de trabalho, na memória de curta duração e na memória de extinção, comentando os principais processos fisiológicos responsáveis por sua formação, evocação e extinção, assim como sobre sua modulação por sistemas cerebrais e periféricos. Encerrando o artigo com algumas recomendações para a manutenção das principais formas de memória. Iván Izquierdo e cols (2013), classificam as memórias com relação ao conteúdo, em memórias que podem ser divididas em dois grandes grupos: as declarativas (eventos, fatos, conhecimentos) e as de procedimentos ou hábitos, que adquirimos e evocamos de maneira mais ou menos automática (andar de bicicleta, usar um teclado). Memória declarativa Segundo os mesmos autores, na memória declarativa participam o hipocampo (uma região cortical filogeneticamente antiga, como demonstrado na figura a seguir), a amígdala, ambos localizados no lobo temporal, e várias regiões corticais (pré-frontal, entorrinal, parietal, etc.), enquanto, nas memórias de procedimentos ou hábitos, o hipocampo parece estar envolvido apenas nos primeiros momentos após o aprendizado, sendo elas dependentes basicamente de circuitos subcorticais que incluem o núcleo caudato e circuitos cerebelares. 14 Amnésia Conforme Izquierdo e cols (2013), eenomina-se amnésia, a perda de memória declarativa, pois as doenças que a provocam afetam em maior proporção as áreas vinculadas com esse tipo de memória. A depressão é a causa mais frequente, mas a menos grave. Em geral não se acompanha de dano neuronal irreversível e, ao tratá-la, a amnésia desaparece. As demências (de: partícula privativa; mens: mente) são progressivas e mais graves; envolvem perda definitiva de neurônios e de funções cerebrais. De acordo com os mesmos autores, a demência mais comum é a doença de Alzheimer, na qual predomina o déficit de memória. Nela ocorrem lesões nas áreas cerebrais responsáveis pela memória declarativa (córtex entorrinal, hipocampo), e mais tarde em outras partes do cérebro. A doença de Parkinson, nos seus estágios avançados (em que ficam comprometidos circuitos que ligam o núcleo caudato ao córtex), a dependência crônica do álcool, da cocaína e outras drogas, as lesões vasculares do cérebro, o traumatismo craniano repetido (no boxe, por exemplo) e algumas doenças metabólicas (Síndrome de Creutzfeld-Jacob, doença de Pick), também causam quadros demenciais. Duração e função das memórias De acordo com Izquierdo e cols (2013), todas as memórias são associativas: se adquirem através da ligação entre um grupo de estímulos (um livro, uma sala de aula) e outro grupo de estímulos (o material lido, aquilo que se aprende; algo que causa prazer ou penúria). O do segundo grupo, que é de maiores consequências biológicas, chama-se estímulo condicionado ou reforço. Para os mesmos autores, em algumas formas de aprendizado, associa- se um grupo de estímulos com a ausência do outro ou de qualquer outro. A forma mais simples dessas formas de “aprendizado negativo” associa um estímulo repetido (um som, uma cena) com a falta de qualquer consequência; esse tipo de aprendizado se chama habituação. Permite que seja possível trabalhar em ambientes cheios de ruídos, ou dormir em ambientes iluminados, por exemplo. Segundo eles, alguns autores consideram a habituação uma memória não associativa. Do ponto de vista da função, há um tipo de memória que é crucial tanto no momento da aquisição como no momento da evocação de toda e qualquer outra memória, declarativa ou não: a memória de trabalho. Operacionalmente, representa aquilo que a memória RAM representa nos 15 computadores: mantém a informação “viva” durante segundos ou poucos minutos, enquanto ela está sendo percebida ou processada. Memória RAM Segundo Cowan (2017), a capacidade de armazenar recordações e “filtrá-las” é uma característica específica de cada indivíduo – uma espécie de “impressão digital”. Não por acaso, a memória de trabalho (ou de curto prazo, que nos permite guardar temporariamente um número limitado de informações, como números de telefones que usamos com certa freqüência, por exemplo) varia consideravelmente de uma pessoa para outra. De acordo com o estudo sobre esse tipo de memória desenvolvido pelos pesquisadores americanos Fiona McNab e Torkel Klingberg, o processo de seleção das lembranças que devem ser guardadas ou dispensadas pode ser comparado aos dos filtros de spam do computador. O funcionamento dessas “peneiras mentais” situadas nos gânglios basais pode comprometer ou facilitar a lembrança de números, nomes de pessoas, compromissos etc. Filtros ineficientes causam, por exemplo, atividades desnecessárias e excessivas nas regiões cerebrais que “arquivam” as informações da memória de trabalho – as áreas parietais posteriores, situadas ao longo do topo do cérebro em direção ao dorso. Poderíamos dizer que essas regiões desempenham o papel do disco rígido do computador, mas quando se trata de memória de trabalho, é mais adequado afirmar que sua função não é tanto guardar dados permanentemente, mas sim armazena-los temporariamente da memória à qual temos acesso de forma aleatória. É aceitável fazer um paralelo com a memória RAM (random access memory), já que as informações são mantidas enquanto estão em uso ou poderão ser usadas em breve. Essa forma de memória é sustentada pela atividade elétrica de neurônios do córtex pré-frontal, em rede via córtex entorrinal com o hipocampo e a amígdala, durante a percepção, a aquisição ou a evocação. A memória de trabalho dura segundos e não deixa traços: depende exclusivamente da atividade neuronal on line. Conforme os autores, um exemplo é a terceira palavra da frase anterior: durou 2 ou 3 segundos, para dar sentido à frase e conectá-la com a seguinte, mas já desapareceu de nossa memória para sempre. Segundo eles, na esquizofrenia há falhas graves da memória de trabalho, que causam uma percepção distorcida ou alucinatória da realidade. Memórias de curta duração e de longa duração 16 Memória de curta duração As memórias que persistem além de segundos denominam-se memória de curta duração e memória de longa duração. A primeira dura 0,5-6 horas e utiliza processos bioquímicos breves no hipocampo e córtex entorrinal (Izquierdo e cols, 2013). Memória de longa duração A memória de longa duração perdura muitas horas, dias ou anos. Quando dura anos, denomina-se remota. Sua formação requer uma sequência de passos moleculares que dura de 3 a 6 horas, no hipocampo, nos núcleos amigdalinos,e em outras áreas, durante as quais é suscetível a numerosas influências. A memória de curta duração mantém a cognição funcionando durante as horas que a memória de longa duração leva até adquirir sua forma definitiva (Izquierdo e cols ,2013). As sinapses e as memórias Como reportado por Izquierdo e cols (2013) e no prólogo desta obra, em fins do século XIX, Santiago Ramón y Cajal, fundador da neurociência, postulou que as memórias obedecem a modificações da estrutura e função das sinapses. Segundo Izquierdo e cols (2013), nos últimos trinta anos se demonstrou que isso é verdade, e agora conhecemos as alterações moleculares sinápticas que subjazem à formação, persistência e evocação das memórias em muitas regiões encefálicas. Neuroquimica da memória A mente tem sido considerada um mundo complexo, onde interatuam uma série de fenomenos físicos, biológicos, químicos. Em relação a esta última parte faremos aqui uma descrição de neurotransmissores e sua influência sobre o comportamento e conduta. Estas moléculas químicas conhecidas como neurotransmissores são responsáveis por mudanças organizacionais e 17 comportamentais, tal como se manifesta no comportamento dos seres humanos. Perda de memória de curto prazo em adolescentes Atenção e o Adolescente A atenção subjacente a memória em uma função muito semelhante ao sistema de memória de trabalho. A atenção dividida é a capacidade de atender a informações específicas que estão sendo aprendidas em meio ao ruído de fundo. O ruído de fundo para o adolescente pode consistir em música, TV, conversas telefônicas e qualquer outro número de atividades. Quando a atenção é dividida, o resultado pode ser que a nova informação não está corretamente codificada para armazenamento de memória. Em 2000, a psicóloga Angela Troyer estudou o impacto das questões de atenção na memória dos jovens. Ela descobriu que a codificação de novas informações requer muita atenção em muitos casos. Os adolescentes podem não perceber até que ponto seu nível de ruído de fundo afeta a capacidade de codificar e recuperar informações. Velocidade de processamento A velocidade de processamento refere-se à rapidez com que um indivíduo processa informações em formatos verbais e visuais. O papel da velocidade de processamento na memória é bastante importante em uma sala de aula. Quando uma criança tenta aprender novas informações de um professor em uma palestra oral ou formato de ponto de poder, a capacidade de codificar e armazenar fatos na memória de longo prazo depende, em parte, da capacidade de processar rapidamente o que está sendo dito. A psicóloga Hanna Moulder estudou o papel da velocidade de processamento na obtenção acadêmica em crianças e descobriu que a aprendizagem e a memória eram significativamente menores em crianças com pouca velocidade de processamento. Assim, se um adolescente não processou a informação com rapidez suficiente, o resultado provavelmente sentirá como perda de memória quando o verdadeiro culpado reduzirá a velocidade de processamento. Lado Emocional da Memória O estado emocional desempenha um papel na memória. Dado o alto nível de emotividade durante a adolescência, esse fator deve ser levado em consideração quando ocorre perda de memória na adolescência. Depressão, ansiedade, drama social e doenças mentais mais severas tornam difícil para uma criança manter o bom funcionamento cognitivo para se empenhar ativamente na aprendizagem. Por exemplo, entre os sinais de depressão 18 descritos pelo "Manual de Diagnóstico e Estatística de Distúrbios Mentais" estão a concentração e a memória precárias. Assim, uma criança que sofre de agitação emocional permanece vulnerável à diminuição da memória de curto prazo. Significado Dada a variedade de sistemas que devem funcionar corretamente para que a memória seja ativada, quando um adolescente reclama perda de memória, é importante descompactar a queixa. Quando o problema é dividido em processos passo a passo envolvidos na aprendizagem e na obtenção de novas informações, os pais geralmente acham que a velocidade de processamento, a atenção ou a distração emocional estão subjacentes à perda de memória. Se todos esses sistemas parecem estar ativados e a criança ainda sente perda de memória, uma consulta profissional com um neuropsicólogo clínico pode ser necessária. Para saber mais IONASCU, N. N. Short-Term Memory Loss in Teens. https://www.livestrong.com/article/290659-short-term-memory-loss-in-teens/ Acesso em: 21 nov. 2017. VIÑAS, S. P. & SILVA, R. A. M. S. As Bases Neurobiológicas da Psicopedagogia da Aprendizagem. Editora Suzana Portuguez Viñas:Santo Ângelo, 275 p., 2017 (no Prélo). 19 Comportamento rebelde de adolescentes ligado a mudanças cognitivas rápidas no cérebro O jornal inglês The Guardian publicou, que estudos científicos sugerem que as diferenças no córtex pré-frontal podem explicar as ações impulsivas dos jovens. Os adolescentes podem fazer coisas muito malucas. Eles insultam seus pais - ou mentem para eles. Para eles é mais fácil culpar os colegas. E não sentem o mínimo remorso, porque, claro, seus pais para eles são quase idiotas. Porém, estudos científicos sugerem que alguns desses comportamentos podem ser explicados. Tecnologias de mapeamento cerebral mostram, que o cérebro do adolescente é diferente do adulto. As maiores diferenças estão no córtex pré-frontal - uma parte do cérebro associada ao raciocínio - e nas redes de células cerebrais, que ligam o córtex à regiões do cérebro que estão menos envolvidas com o raciocínio e pensamento e mais com a emoção. Usando ferramentas como ressonância magnética funcional (fMRI, do inglês functional magnetic resonance imaging) e tomografia por emissão de positrões (PET, Positron Emission Tomography), os cientistas observaram os cérebros adolescentes e descobriram, que até atingir meados dos 20 anos de idade, apresentam seu córtex pré-frontal mudando rapidamente. Assim como as terminações celulares e conexões químicas, que ligam o córtex à outras partes do cérebro. Quando as pessoas têm cerca de 15 ou 16 anos de idade, muitas células cerebrais no córtex morrem enquanto outras são criadas e novas conexões se formam entre elas. Muitas das habilidades cognitivas básicas - raciocínio avançado, pensamento abstrato, autoconsciência - se expandem 20 rapidamente durante esse período, diz Laurence Steinberg, professor de psicologia da Temple University (Estados Unidos da America, EUA). "As conexões dentro do cérebro não se ramificam completamente até os 22 anos ou mais. Os tipos de capacidades que a conectividade contribui para - regulação emocional e controle de impulsos - provavelmente atinge o auge na metade dos anos 20". Pesquisas que Steinberg e colegas publicaram demonstraram, que quando os adolescentes estão na presença de companheiros, o circuito de recompensas no cérebro é mais ativado do que quando os adultos estão com seus amigos. Esses sinais elétricos os impulsionam a buscar coisas prazerosas, e é natural, que tais sentimentos sejam mais intensos nos adolescentes, diz Steinberg. "A adolescência é quando você começa a namorar e, de um ponto de vista evolutivo, é comum que isso ocorra com pessoas próximas a ele e com idade semelhante. Então, deve ser parte de nossa herança evolutiva se sentir bem quando estamos próximos a pessoas de idade semelhante ", diz ele. Esses circuitos, que incluem neurônios contendo dopamina no córtex pré-frontal e áreas mais profundas do cérebro, como o núcleo accumbens e a amígdala podem provocar um “sacudidão” hormonal que faz com que alguns adolescentes adotem comportamentos de risco, de acordo com pesquisadores. Correm de carros até o ponto de bater em uma árvore, mas se sobreviverem, podem impressionar seus colegas. A dopamina A dopamina é um neurotransmissormonoaminérgico, da família das catecolaminas e das feniletilaminas, que desempenha vários papéis importantes no cérebro e no corpo. O cérebro contém várias vias dopaminérgicas, uma delas desempenha um papel importante no sistema de comportamento motivado a recompensa. A maioria das recompensas aumentam o nível de dopamina no cérebro, e muitas drogas viciantes aumentam a atividade neuronal da dopamina. A dopamina é produzida especialmente pela substância negra e na área tegmental ventral (ATV). A dopamina também está envolvida no controle de movimentos, aprendizado, humor, emoções, cognição e memória. Os adolescentes são susceptíveis ao “feedback” social, por exemplo ao elogio e a rejeição, mais do que os adultos, de acordo com a pesquisa de Steinberg e colaboradores. Dezenas de adolescentes costumam fazer o que os colegas querem que eles façam, ou o que eles acham que os colegas querem que eles façam, para receber a recompensa na forma de elogio. Em vez de atitudes consideradas racionais, disse Steinberg. No entanto, muito difícil quanto esse comportamento de risco, comportamento orientado por colegas e de recompensa tem que ser vigiados pelos pais e outros adultos. Porém, a loucura juvenil geralmente não dura para sempre, diz o neuropsicólogo William Stixrud. Ele considera útil mostrar aos adultos as imagens de scanner que mostram que os cérebros adolescentes são fisicamente diferentes dos deles e que segundo a pesquisa mostrando, que os cérebros mudam ao longo do tempo. A ciência encontrou diferenças físicas entre as estruturas cerebrais 21 adolescentes e adultas, diz Stixrud. Ele acha "extremamente útil" para poder explicar aos adolescentes, que é a "amígdala sensível e reativa", que faz com que eles sintam as coisas mais fortemente do que outras, mas também tornam mais difícil viver perigosamente. Todas as funções cerebrais são complicadas, mas a amígdala desempenha um papel fundamental na memória emocional, e essa área do cérebro parece mostrar mais atividade em adolescentes do que em adultos, de acordo com pesquisas de cientistas holandeses da Universidade de Leiden e outros. Para Stixrud, uma amígdala hiperativa ajuda a explicar porque os sentimentos de agressão, medo e depressão dos adolescentes podem ser mais intensos que os adultos. A pesquisa comparando córtices pré-frontais de adultos e adolescentes, surgiu pela primeira vez na década de 1990. Os psicólogos, psicopedagogos e professores interpretaram isso como "nós precisamos mantê-los sob “rédea curta”, porque o cérebro deles não está totalmente desenvolvido", disse Stixrud. Porém, mais recentemente, os pesquisadores e outros profissionais tendem a se concentrar no poder e na adaptabilidade do cérebro adolescente. O tipo de desenvolvimento do cérebro, que pode fazer adolescentes e jovens tomarem decisões e riscos assustadores, também os motiva a sair por conta própria e buscar novas experiências e muitas vezes criar coisas inovadoras. A recomendação para adolescentes e pais, que vivem esses “anos loucos”, é que "sejam pacientes" e que essas palavras podem ser as mais sábias. A ciência nos diz que, aos 24 anos, o cérebro do adolescente já se transformou em uma versão adulta. E é claro, que os adultos às vezes também fazem coisas loucas. Para saber mais: FACEBOOK. NEUROPSICOPEDAGOGIA HOJE https://www.facebook.com/neuropsicopedagogiahoje/ THE GUARDIAN. Wild teenage behaviour linked to rapid cognitive change in the brain. https://www.theguardian.com/science/2014/sep/05/teenage-brain-behaviour- prefrontal-cortex Acesso em: 02 nov. 2017. 22 Maturação do cérebro adolescente O Dr. Jay N. Giedd, do Child Psychiatry Branch, National Institute of Mental Health, dos Estados Unidos da América (EUA), no site Enciclopédia sobre o Desenvolvimento na Primeira Infância (2017), afirmou que há muito tempo que a adolescência é conhecida como um período de mudanças espetaculares no corpo e no comportamento. Nossos conhecimentos sobre a neurobiologia que está por trás dessas mudanças cognitivas e comportamentais aumentou significativamente com a chegada da imagiologia por ressonância magnética (IRM), que permite que se tenha um acesso sem risco e sem precedente à anatomia e à fisiologia do cérebro vivo. Estudos longitudinais com IRM começam a mapear as trajetórias desenvolvimentais da maturação do cérebro e a explorar as influências genéticas e ambientais sobre essas trajetórias na saúde e na doença. Segundo o autor, a maioria dos adolescentes consegue efetuar com sucesso a transição entre o estado de dependência da infância e a autonomia da idade adulta. Contudo, a adolescência pode também constituir um período de grandes turbulências e, para alguns, de aparecimento de alguma psicopatologia. Compreender o curso, os mecanismos e as influências da maturação do cérebro adolescente pode iluminar o caminho para intervenções mais eficazes em caso de doença e a otimização de um desenvolvimento saudável. Com os progressos na caracterização das trajetórias gerais da maturação do cérebro, os pesquisadores começaram a se concentrar na elucidação: (1) dos mecanismos que provocam as modificações anatômicas e fisiológicas; (2) das relações entre as medições por neuroimagiologia e as mudanças emocionais, cognitivas e comportamentais observadas nos adolescentes; (3) do papel das influências genéticas e ambientais; (4) de quando e como as trajetórias desenvolvimentais diferem entre as populações clínicas e aquelas em boas condições de saúde; e (5) das melhores intervenções para otimizar um desenvolvimento saudável, melhorar a educação, prevenir as psicopatologias e tratar os transtornos em função da idade, caso eles apareçam. Estudos longitudinais12 realizados com sujeitos de 3 a 30 anos de idade revelaram que o volume da substância branca continua aumentando até depois 12 Estudo longitudinal é um método de pesquisa que visa analisar as variações nas caraterísticas dos mesmos elementos amostrais (indivíduos, empresas, organizações, etc.) ao 23 da terceira década, enquanto que o volume da substância cinzenta aumenta e depois diminui, atingindo seu máximo em momentos característicos durante a infância e a adolescência, específicos para cada área do cérebro. Essas mudanças estão por trás da melhoria geral nos planos funcional e estrutural, da conectividade e dos processos de integração, e de uma mudança do equilíbrio entre as funções límbicas/subcorticais e do lóbulo frontal que se estendem até a idade adulta. Um dos princípios que aparece a partir de um grande número de pesquisas é que, na neuroimagiologia como na vida, a jornada é muitas vezes tão importante quanto o destino. A avaliação das trajetórias (isto é, o tamanho das estruturas em função da idade) por medições de neuroimagiologia mostrou-se mais discriminativa que as medições estáticas nos estudos que examinam as diferenças homem/mulher, ligando as medições por neuroimagiologia às capacidades cognitivas, diferenciando as populações clínicas daquelas em boas condições de saúde, e caracterizando a hereditariedade da anatomia do cérebro.1 Por exemplo, homens e mulheres possuem trajetórias com formatos diferentes, as mulheres tendendo a alcançar o volume máximo das substâncias branca e cinzenta mais cedo que os homens.2 No que diz respeito aos correlatos das capacidades cerebrais/cognitivas, as pessoas com um QI muito alto têm trajetórias com formatos diferentes para a espessura cortical quando comparadas àquelas cujo QI está em uma faixa normal, com as áreas chave de seu cérebro começando com um córtex mais fino, e crescendo mais rapidamente para chegar a um valor final semelhante.3 De um ponto de vista diagnóstico, comparando pessoas com TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade) com pessoas sadias, o atraso na maturação corticalprediz melhor o estado clínico que o tamanho final das estruturas.4 Da mesma maneira, estudos sobre gêmeos que examinaram as contribuições relativas dos fatores interativos genéticos e ambientais indicam um forte efeito da idade sobre a hereditariedade das medições por neuroimagem.5 Por exemplo, as áreas cerebrais associadas às funções primárias e sensitivo-motoras parecem ser mais afetadas por fatores genéticos no início do seu desenvolvimento e por fatores ambientais mais tarde, enquanto que as áreas associadas a funções mais complexas como a linguagem se tornam mais hereditárias com o tempo. Essas descobertas podem implicar que áreas diferentes do cérebro podem ser mais sensíveis a intervenções ambientais em determinados momentos que outras. Um aspecto da tomada de decisão por adolescentes, visado para futuras pesquisas, diz respeito à caracterização das diferenças entre avaliações clássicas em laboratório com pessoas atuando sozinhas em ambientes de teste com baixo estresse e de acordo com roteiros hipotéticos (isto é, cognição “a frio”), e as tomadas de decisão no mundo real, que acontecem muitas vezes em locais movimentados, com pressão dos pares e em situações de alto conflito / estresse, e com consequências reais (isto é, cognição “a quente”). Outro desafio para a pesquisa consiste no aprofundamento da nossa compreensão das relações entre as descobertas em neuroimagiologia e capacidades cognitivas ou características psicológicas específicas. Como as longo de um longo período de tempo - frequentemente vários anos. Os estudos longitudinais são muito usados na Psicologia, Medicina (em especial na Epidemiologia de doenças), e também na Economia e Sociologia. 24 funções mentais resultam da atividade de redes neuronais distribuídas, a prática que consiste em tentar fazer uma correlação o tamanho de uma única estrutura com uma competência específica cede o lugar ao reconhecimento da necessidade de entender as relações complexas entre nós, diferentes das redes. Abordagens matemáticas como a teoria dos grafos começam a serem utilizadas para explorar as propriedades das redes do cérebro. As conclusões do Dr. Jay N. Giedd foram que um aspecto fundamental da maturação do cérebro adolescente é que se trata de um período de mudanças espetaculares. Essa capacidade de mudar ou “plasticidade” tem sido muito útil a nossa espécie, ao permitir nossa adaptação aos desafios únicos de nosso ambiente no momento que deixamos a proteção de nossas famílias para nos tornarmos membros autônomos da comunidade. A plasticidade do cérebro humano adolescente faz da adolescência uma época de grandes riscos e de grandes oportunidades. O volume de substância branca aumenta, os estudos utilizando imagiologia por ressonância magnética funcional (IRMf) revelam uma maior correlação entre áreas dispersas na execução de certas tarefas, e mudanças coerentes no eletroencefalograma (EEG) sustentam a noção de uma maior “conexidade” entre os subcomponentes do cérebro ao longo da adolescência até a idade adulta. As mudanças na curva em U invertido da substância cinzenta podem refletir um aumento da especialização do cérebro, ditada pelas exigências ambientais – embora haja ainda muita pesquisa a ser feita para avaliar essa hipótese. Estão sendo realizados estudos sobre gêmeos, diferenças entre homens e mulheres, genes específicos, sobre os efeitos do ambiente e as psicopatologias, no intuito de examinar suas influências sobre as trajetórias do desenvolvimento do cérebro. No mesmo artigo são explicitadas as Implicações para os pais, os serviços e as políticas Entre as descobertas obtidas por neuroimagiologia, aquela que diz que o córtex pré-frontal (um componente essencial das redes neuronais envolvidas no juízo, na tomada de decisão e no controle dos impulsos) continua sua maturação quando a pessoa chega aos 25 anos teve uma influência considerável nos campos social, legislativo, judiciário, parental e educacional. Apesar da tentação de trocar a complexidade e a ambiguidade do comportamento humano pela clareza e a beleza estética das imagens coloridas do cérebro, deve-se tomar cuidado para não exagerar na interpretação dos resultados da neuroimagiologia quando ligados às políticas públicas. As questões relativas à idade exigida para consentir são especialmente emaranhadas nos contextos políticos e sociais. Por exemplo, hoje em dia, nos Estados Unidos, uma pessoa deve ter pelo menos de 15 a 17 anos (de acordo com o Estado) para dirigir, pelos menos 18 anos para votar, comprar cigarros ou entrar no exército, e pelos menos 21 anos para ingerir bebida alcoólica. A idade mínima para exercer funções políticas varia também: certos municípios aceitam prefeitos a partir de 16 anos, e a idade mínima para ser governador varia de 18 a 30 anos. No plano nacional, a idade mínima para ser membro da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos é de 25 anos, é preciso ter pelo menos 35 anos para ser senador ou Presidente. A idade exigida para consentir em ter relações sexuais varia em todo mundo, da puberdade (sem especificação de idade) até os 18 anos. É claro que esses limites traduzem fortes influências sociais e que eles não pontuam a “idade biológica da maturidade”. Para tirar proveito da melhor forma dos progressos obtidos na 25 compreensão do desenvolvimento do cérebro na adolescência, é preciso um esforço integrado envolvendo pais, legisladores, educadores, neurocientistas, clínicos e os próprios adolescentes. Para saber mais: FACEBOOK. NEUROPSICOPEDAGOGIA HOJE https://www.facebook.com/neuropsicopedagogiahoje/ ENCICLOPÉDIA SOBRE O DESENVOLVIMENTO NA PRIMEIRA INFANCIA. Maturação do cérebro adolescente. http://www.enciclopedia-crianca.com/sites/default/files/textes-experts/pt- pt/2432/maturacao-do-cerebro-adolescente.pdf Acesso em: 03 nov. 2017. 26 Os sentimentos do adolescente cego. Como conviver com a deficiência visual Uma abordagem psicopedagógica A adolescência em geral é um período delicado para muitos jovens à medida que passam pelas mudanças físicas, psicológicas e sociais até a idade adulta. A maioria quer se encaixar com seus colegas, ser igual para ser aceito nos grupos e ser "diferente" por causa de uma deficiência visual pode causar reações como raiva, depressão ou tristeza. Nesta fase, muitos adolescentes também estão preocupados com o futuro, e suas incertezas, às vezes, podem dar origem a fortes sentimentos negativos sobre a deficiência visual. Adolescentes portadores de deficiência visual, com perda total da visão nos dois olhos ou parcial e baixa visão, podem compartilhar uma série de reações e sentimentos, mas estes variam de pessoa para pessoa. Além disso, os adolescentes que recentemente se tornaram deficientes visuais terão muitas necessidades emocionais diferentes de quem sofreu deficiência visual desde a primeira infância. Dar ao seu aluno o suporte emocional na adolescência pode ser um ponto crítico. São muitos os desafios enfrentados pelas pessoas com deficiência visual. Não só pelas experiências que o próprio sujeito enfrenta, pelas suas condições, mas também pelo despreparo e ignorância da sociedade, que vem trazendo a cultura de que o cego é um sujeito limitado, incompleto, inválido e incapaz. Desta cultura arcaica resulta ainda, nos dias atuais, descriminação, isolamento, exclusão social e nos grupos de adolescentes videntes, violência, dificuldades de deslocamento, dificuldades para realizar aprendizagens por falta de recurso material ou humano capacitados. Outro aspecto relevante, que é imprescindível destacar, é o despreparo e desinformação da família (pais ou responsáveis) do adolescente portador de deficiência visual, que tendem a protegê-lo ouaté negando sonhos de um projeto de futuro. O site Family Connect, dos Estados Unidos da América, destinado a pais de crianças e adolescentes com impedimentos visuais, sugere algumas maneiras pelas quais podem ajudá-los, como por exemplo: * Incentive-o a falar abertamente. Ajude-o a conhecer outros adolescentes e adultos com deficiência visual, que levam vidas bem-sucedidas. O adolescente pode achar mais fácil falar sobre sua deficiência visual com outras pessoas com a mesma dificuldade. Se ele não tiver muito contato com outras crianças com deficiência visual quando jovem, considere a possibilidade de incentivá-lo a fazê-lo agora. Isso lhe dará uma chance de compartilhar experiências com outros que, ele sentirá que são como ele. Ele pode se beneficiar ao encontrar modelos a seguir entre os novos conhecidos e, por sua vez, pode se tornar um modelo a seguir para uma pessoa mais nova. A experiência pode fazê-la sentir-se melhor sobre si mesma e sua deficiência visual. 27 * Forneça aconselhamento ou outro suporte profissional (psicólogos, psicopedagogos, fisioterapeutas, professores de educação física), apropriado com formação na área. * Ajude o adolescente a sentir a auto-estima elevada. A auto-aceitação poderá contribuir muito para o seu bem-estar e estabelecer as bases para uma vida satisfatória. * Incentive a ouvir colegas de classe falando sobre suas experiências ou outras atividades sociais nas quais eles não estão envolvidos e falem sobre suas próprias experiências. Certamente serão uma troca produtiva de conhecimentos com diversas formas de viver e ser feliz. * Apoiá-lo emocionalmente para flertar, namorar, fazer novas amizades. Isto pode parecer esmagador para um adolescente com deficiência visual, mas ele poderá se sentir mais seguro de si mesmo. Algumas das emoções do adolescente, podem resultar dos desafios que ele enfrenta em suas relações sociais, tanto nas amizades como nas relações de namoro. Ele pode se sentir deixado de fora ou pode duvidar de sua capacidade de atrair amigos e namoros. Ajudá-lo a desenvolver estratégias para criar e manter amizades é importante para seu bem-estar emocional geral. Trabalhar com ele sobre como parecer atraente também é importante. Investir o tempo em discutir e interpretar papéis como agir com membros do sexo oposto pode ajudar aumentar a autoconfiança. * Incentive-o a fazer planos para um futuro próximo e também distante. Como todos os adolescentes, ele pode ter sentimentos mistos sobre o futuro. Se por um lado, ele pode querer se apressar e terminar o ensino médio para possa ficar sozinho. Por outro lado, ele pode estar incerto sobre o que fará depois do ensino médio. Ele precisa de sua garantia de que a maioria dos adolescentes tem os mesmos sentimentos de incerteza. * Deixe-o saber o quanto você se preocupa com ele e que ele pode falar com você sobre qualquer coisa, a qualquer momento. Deixe-o saber que você não está lá para julgar, mas para escutá-lo e orientá-lo. Adolescentes que têm experimentado recentemente a perda de visão Durante a adolescência, alguns jovens experimentam uma diminuição significativa da visão, ocasionada pela doença Retinite Pigmentosa (RP) ou doença de Stargardt13. Essa doença ocular em que a parede posterior do olho (retina) encontra-se danificada. É uma doença rara. O tratamento pode ajudar, mas não tem cura. Outros podem perder a visão de um acidente ou outro evento traumático. Se o seu cliente está neste grupo, ele tem para ser apoiado emocionalmente. Como você, ele pode estar se afligindo pela visão "normal" ou "quase normal" que ele tinha anteriormente. Ele também pode estar com raiva sobre as coisas que ele está encontrando dificuldades para fazer, como ler ou 13 Doença de Stargardt é a forma mais comum de degeneração macular juvenil congênita. A perda de visão progressiva associada à doença de Stargardt é causada pela morte de células fotorreceptoras na porção central da retina denominada mácula. 28 ir lugares sozinho. E seu relacionamento com amigos pode ter mudado, porque seus amigos não sabem como apoiá-la. O adolescente, provavelmente, vai precisar de tempo para se ajustar, aprender a viver com a perda de visão e lidar com seus sentimentos, mas também vai precisar do incentivo e apoio de todos que o cercam. Muitas das estratégias que são importantes para os adolescentes com perda da visão serão úteis agora, por exemplo: * Estar disponível para conversar com ele sobre seus sentimentos sobre essa redução significativa em sua visão. * Auxiliá-lo a procurar acompanhamento médico para uma investigação e avaliação sobre a perda da visão. * Deixá-lo saber que você está perto para ouvi-lo e apoiá-lo no que for preciso. * Não culpá-lo ou julgá-lo, pela perda da visão. * Procure os adolescentes mais velhos ou modelos adultos para ele se encontrar. Conhecer alguém com deficiência visual e ouvir sobre suas experiências ajudará a perceber que ele não é a única pessoa com deficiência visual. Os modelos podem compartilhar experiências e como eles lidam com seus próprios sentimentos sobre perda de visão. Ouvir diretamente de alguém que teve experiências semelhantes pode ser muito útil para muitos adolescentes. O adolescente pode se beneficiar do tempo em atividades com outros adolescentes com deficiência visual. Algumas instituições e escolas patrocinam programas de fim de semana. Há uma variedade de acampamentos de verão e outros programas para adolescentes com deficiências visuais. Se você achar que o seu aluno ou cliente está emocionalmente perturbado, considere a possibilidade de ter conversa com um profissional habilitado. Às vezes, um profissional que tem formação no assunto pode ajudar os jovens a trabalharem com as questões mais eficazes do que aqueles que são mais próximos do jovem. Se o adolescente expressar sentimento de tristeza ou raiva sobre seu relacionamento com amigos, sugira que ele convide um ou dois amigos. Alguns adolescentes podem não ter certeza de como reagir ou apoiar um amigo que tenha experimentado perda de visão. O adolescente pode precisar fazer a primeira iniciativa e descobrir que seus amigos ainda estão lá para ele, uma vez que eles têm a chance de conversar calmamente uns com os outros. O restabelecimento das relações com seus amigos lhe dará uma saída para compartilhar seus sentimentos. A aceitação e compreensão da nova condição é fundamental para que o adolescente siga uma vida produtiva com novas realizações. O encaminhamento do adolescente Deficiente Visual ao Mercado de trabalho Apender novas habilidades, como rendimento para seu sustento, a Massoterapia, a Música (canto e instrumentos musicais), Ascensorista, operador de telemarketing, fisioterapeuta, pedagogo, psicólogo, sociólogo, professor de Braille, telefonista, são algumas atividades mais usadas e que 29 oportunizam maior autonomia ao adolescente portador de deficiência visual ou baixa visão. No site do Instituto Benjamin Constant, no Rio de Janeiro, é possível encontrar diversos cursos voltados para a capacitação profissional do deficiente visual. Para saber mais INSTITUTO BENJAMIN CONSTANT http://www.ibc.gov.br/ Acesso em: 07 nov. 2017. FAMILY CONNECT. Your teenagers feelings about being visually impaired. http://www.familyconnect.org/info/browse-by-age/teenagers/growth-and- development-teenagers/your-teenagers-feelings-about-being-visually- impaired/1235 Acessado em 07 nov. 2017. 30 Neuropsicodagogia da Sinestesia Musical em Crianças e Adolescentes Sinestesia (do grego συναισθησία, συν- (syn-) "união" ou "junção" e - αισθησία (-esthesia) "sensação") é a relação de planos sensoriais diferentes: Por exemplo, o gosto com o cheiro, ou a visão com o tato. O termo é usado para descrever uma figurade linguagem e uma série de fenômenos provocados por uma condição neurológica. Tendo em vista as múltiplas interconexões presentes em nosso cérebro, como um sistema de "anéis dentro de anéis", de tal forma que, assim que um dado sensório entra na rede, compara-se como uma pedra lançada em uma lagoa: as ondulações se espalham formando círculos concêntricos em todos os distritos sensórios ativando outras sensações. É possível, que todos nós tenhamos um painel de comando, que interconecta os vários sentidos, normalmente adormecidos e que também podem ser reativados artificialmente com certos alucinógenos. Quanto ao caráter seletivo da sinestesia, mencionado acima entendemos, que pesquisadores tais como o professor Sean Day da Universidade Central de Taiwan, tem se preocupado em catalogar modalidades diferentes de sinestesia presentes nas pessoas, que já tem consciência de possuírem tal habilidade e as possíveis causas e consequências das misturas de sensações. Outro pesquisador que tem estudado o fenômeno é Baron-Cohen da Universidade de Cambridge na Inglaterra. Ele estuda a presença da sinestesia na fase neonatal, defendendo a ideia de que o cérebro dos portadores de sinestesia é biologicamente distinto dos demais e que tal habilidade se apresenta nos seres humanos já nos primeiros dias de vida. English (1977), por sua vez em seu Dicionário de Psicologia também sinaliza para o fato de que a sinestesia é uma condição encontrada em alguns indivíduos, onde a percepção de certo tipo de objeto é associada com imagens particulares de outra modalidade sensorial. A ideia de relações entre a música e as cores é antiga, apesar de essas relações serem tratadas, na maioria das vezes, apenas como metáforas. Segundo Sacks (2007), citado por Levek (2008), as cores do espectro correspondiam, de alguma maneira, às sete notas da escala diatônica. Na segunda metade do séc. XIX, muitos artistas, escritores e inventores se convenceram que a “color-music” (relação da música com as cores) poderia ser a arte do futuro, e muitos artistas começaram a acreditar que a música poderia ser análoga à pintura. Mas a relação cores-música é muito mais complexa que um simples pensamento. A mistura de dois ou mais sentidos, chamada sinestesia, atinge uma a cada duas mil pessoas, e é uma percepção imediata, não uma simples memória ou associação que possa ter sido aprendida. A sinestesia musical é a mais comum (Sacks, 2007, citado por Levek, 2008). Há relatos de pessoas que possuem a habilidade involuntária de experimentar a música como cores bonitas e luminosas, ou seja, algumas 31 pessoas são capazes de presenciar texturas visuais ao ouvir música. Alguns especialistas testaram um caso isolado de sinestesia musical, e a percepção de uma pessoa com relação às “cores musicais” não mudou com o passar dos anos (Sacks, 2007), ou seja, este estudo fortalece a sugestão de que a sinestesia não pode ser aprendida. Segundo Levek (2008), todos os recém- nascidos possuem sinestesia, mas por volta dos 4 meses de idade os sentidos se modificam, e a criança passa a não ter mais essa faculdade. Seguindo essas possibilidades, a sinestesia pode ser uma variável de uma ação normal do cérebro. Ainda fortalecendo essa ideia, Sacks (2007), citado por Levek (2008) demonstrou que um homem, ao sofrer um acidente e tornar-se daltônico, perdeu também as características sinestésicas que possuía. Mas cabe lembrar que o termo sinestesia é muito variado e pode ser utilizado para descrever diversos acontecimentos e comportamentos, além de existir diversos tipos de sinestesia. Levek (2008) perguntou: será possível haver uma relação imaginativa, entre as cores e a música, comum às pessoas? Isso não se trata de sinestesia, pois sinestesia é uma atividade involuntária. Nesse caso, seria uma atividade voluntária, proveniente da imaginação das pessoas ao ouvir música. Sendo assim, vários fatores são capazes de influenciar essa imaginação “colorida”. Há a possibilidade de “cores musicais” serem assimiladas com alguma experiência já vivida. Uma criança pode ter relacionado teclas coloridas de um piano de brinquedo que costumava tocar com as notas que soavam, e esse “aprendizado” permanece, por exemplo. Outros fatores existentes na música ouvida podem ser relevantes para essa imaginação, como o timbre, o andamento e o modo. Conforme Barberi (2017), a sinestesia é um fenômeno de contaminação dos sentidos em que um único estímulo - visual, auditivo, olfativo ou tátil - pode desencadear a percepção de dois eventos sensoriais diferentes e simultâneos. Base neural da Sinestesia Duas principais teorias foram propostas quanto à base neural da sinestesia. Ambas as teorias começam a partir da observação de que há regiões dedicadas do cérebro, que são especializadas em certas funções. Por exemplo, a parte do cérebro humano envolvida no processamento de entrada visual, chamada de córtex visual, pode ser subdividida em regiões, que são preferencialmente envolvidas no processamento de cores (a quarta área visual, V4) ou com processamento de movimento, chamado V5 ou MT. Com base nesta noção de regiões especializadas, alguns pesquisadores sugeriram, que o aumento da conversação cruzada entre diferentes regiões especializadas para diferentes funções pode explicar diferentes tipos de sinestesia. Uma vez, que as regiões envolvidas na identificação de letras e números estão adjacentes a uma região envolvida no processamento de cores (V4), a experiência adicional de ver cores ao olhar grafemas pode ser devida a "ativação cruzada" de V4. Esta ativação cruzada pode surgir devido a uma falha no processo normal de desenvolvimento da poda, que é um dos principais mecanismos de plasticidade sináptica, em que as conexões entre regiões cerebrais são parcialmente eliminadas com o desenvolvimento. Da mesma forma, a sinestesia gustativa → lexical pode ser devido ao aumento da conectividade entre as regiões adjetivas da ínsula nas profundidades do sulco lateral envolvido no processamento do sabor, que se situam adjacentes às regiões do lobo temporal envolvidas no processamento auditivo. Da mesma forma, o gosto → sinestesia de toque, pode surgir de conexões entre regiões 32 gustativas e regiões do sistema somatossensorial envolvidas no processamento de toque. No entanto, nem todas as formas de sinestesia são facilmente explicadas pela adjacência. Córtex somatossensorial 33 Região proposta de ser ativada na sinestesia grafema14-cor Há pessoas, por exemplo, que toda vez que sentem um odor (real), escutam certo som (imaginário). Outros enxergam em cor uma letra do alfabeto escrita com tinta preta. Não se trata de um transtorno temporário na maioria dos casos, ainda que haja algumas raríssimas exceções; por isso um dos principais critérios para o diagnóstico da sinestesia é sua estabilidade ao longo do tempo. Geralmente a associação entre estímulo e percepção ocorre apenas em um sentido: quem vê a cor vermelha (imaginária) toda vez que ouve nota dó (real) não escuta a mesma nota (imaginária) quando vê qualquer coisa vermelha (real). Totalmente involuntária, a sinestesia não pode ser controlada, nem induzida na ausência do estímulo específico. E é justamente a incapacidade de controlá-la que a distingue das chamadas sinestesias cognitivas, que se caracterizam por associações de ideias (objetos, conceitos, cores, sons) e dependem, na maioria das vezes, de experiências artísticas individuais e de condicionamentos culturais. Alguns exemplos de sinestesia cognitiva são pensar num campo florido enquanto se ouve as quatro estações de Vivaldi, ou desfrutar antecipadamente o sabor de uma maravilhosa torta que se vê na vitrine; em ambos os casos a pessoa sabe que não está no campo florido e que é preciso comprar a torta. Já a experiência sensorial induzida pela verdadeira sinestesia é percebida concretamente,como se fosse real. Segundo o psicólogo Jamie Ward, da Universidade de Londres, a sinestesia não é doença. "O que a distingue da maioria dos transtornos psiquiátricos ou neurológicos é o fato de os sinestésicos serem dotados de um sintoma positivo, isto é, de uma característica ausente na população geral. Os distúrbios geralmente se caracterizam pela ausência ou pelo comprometimento de uma função, como a afasia e a amnésia", diz. Portanto, os sinestésicos são pessoas 14 Grafema é o nome dado à unidade fundamental ou mínima de um sistema de escrita, podendo representar um fonema nas escritas alfabéticas, uma sílaba nas escritas silábicas ou ou ainda uma ideia numa escrita. O grafema é a unidade formal mínima da escrita. Mínimo, porque não pode ser desmembrado em dois ou mais sinais, que também possam ser tratados como grafema. Formal, porque é abstrato, não pode ser visto. O que vemos são as atualizações, indeterminadas em número, do grafema logográfico. 34 absolutamente normais, que não manifestam problemas cognitivos ou outras disfunções. Diagnóstico Ainda não há um teste inequívoco para diagnosticar a sinestesia, em parte, porque as pesquisas sistemáticas na área tiveram início há poucas décadas. Um dos testes mais usados atualmente, conhecido como teste da genuinidade (TG), foi desenvolvido pelo professor de psicopatologia do desenvolvimento Simon Baron-Cohen, da Universidade de Cambridge. O TG mede a estabilidade da relação entre estímulos e respostas ao longo do tempo: uma sequência de centena de estímulos (palavras, cores, sons, odores) é apresentada ao possível sinestésico; em seguida suas respostas sensoriais (cores, formas etc.) são registradas. O teste é repetido em intervalos regulares, durante meses e até mesmo anos. A consistência das respostas entre os sinestésicos geralmente é de 70%; nos indivíduos comuns fica por volta dos 40%. Outro teste se baseia na pesquisa visual: no interior de uma matriz de letras em branco e preto estão "escondidas" outras letras que o sinestésico diz ver coloridas (Barberi, 2017). Bragança (2014), em sua Tese de Doutorado, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Neurociências do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais, intitulada Relações entre Sensações Sinestésicas, Estados Emocionais e Estruturas Musicais, escreveu que em artigo de revisão, Spector e Maurer (2009) salientam haver evidências indiretas dessa superabundância de conexões entre áreas corticais sensoriais no início da infância e de que as podas são dependentes de experiência. Para exemplificar essa superabundância de conexões, os autores citam diversas pesquisas. Em uma delas, a estimulação tátil do pulso de adultos e crianças evoca uma atividade normal no córtex somatossensorial, mas somente em recém-nascidos essa ativação é aumentada quando o toque é acompanhado por um estímulo sonoro de um “ruído branco”, que é um som indeterminado, formado pela combinação de todas as frequências audíveis. 35 Em outro exemplo, a linguagem falada gera em bebês não só a ativação do córtex auditivo, mas também do córtex visual, ativação esta que não cessa antes dos três anos de idade. Como exemplo de podas dependentes da experiência, Spector e Maurer (200915) citam o fato de que em adultos cegos desde a infância, a leitura em Braille, de letras romanas em relevo ou a execução de tarefas táteis recrutam o córtex visual, incluindo tanto o córtex extraestriado, quanto à área visual primária. A explicação alternativa da sinestesia baseia-se no processo de desinibição do feedback de áreas superiores do córtex para as áreas corticais sensoriais: segundo Grossenbacher e Lovelace (200116), o córtex dos primatas é organizado em estrutura paralelas hierarquiazadas, ou seja, estruturas de processamento mais simples enviam sinais para estruturas mais complexas. Assim, em vias sensoriais, estruturas de processamento primário enviam sinais para estruturas de processamento mais complexos até áreas que integram sinais de várias vias sensoriais. Há ainda conexões em sentido contrário, que enviam sinais de feedback para as áreas mais primárias, reforçando a percepção da sensação (Bragança, 2014). Músicas, emoções e cérebro. 15 SPECTOR, F.; MAURER, D. Synesthesia: a New Approach to Understanding the Development of Perception. Developmental Psychology, v. 45, n. 1, p. 175-189, 2009. 16 GROSSENBACHER, P.G.; LOVELACE, C.T. Mechanisms of synesthesia: cognitive and physiological constraints. Trends in cognitive sciences, v. 5, n. 1, p. 36-41, 2001. 36 A ressonância magnética e a tomografia na Sinestesia As tecnologias de imageamento cerebral, principalmente a ressonância magnética e a tomografia por emissão de pósitrons, deram uma guinada significativa nas pesquisas da área. "Esses exames permitem registrar as variações no fluxo sanguíneo nas diferentes regiões do cérebro e apontar quais delas são ativadas em consequência de estímulos diferentes", explica Pietro Pietrini, professor de bioquímica clínica e molecular da Universidade de Pisa. Estudo publicado em 2006, na revista Cortex revelou que as áreas do córtex visual encarregadas da percepção das cores (chamadas V4 e V8) ativam-se de modo específico quando um sinestésico lê uma sequência de letras. Para Pietrini, esse resultado confirma a hipótese segundo a qual a experiência sinestésica é real porque o sinestésico de fato percebe estímulos que não existem no universo perceptivo das pessoas comuns. Outro caso descrito na mesma publicação não deixa dúvidas. J. F., 52 anos, era sinestésico desde pequeno e visualizava cores quando ouvia os nomes dos dias da semana (Barberi, 2017). Portanto, é possível que a relação entre as cores e a música faça parte do cotidiano infantil, não de maneira tão complexa como a sinestesia, mas até mesmo como mais uma forma de expressão. Outras análises estão sendo realizadas com a finalidade de aperfeiçoar o presente estudo, mas muitas pesquisas relacionadas ao assunto ainda deverão ser realizadas, englobando diversas faixas etárias, para fins de futuras discussões e comparações com outros estudos realizados no Brasil e no exterior (Levek, 2008). Para saber mais BRAGANÇA, G. F. F. Relações entre Sensações Sinestésicas, Estados Emocionais e Estruturas Musicais. Tese de doutorado, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Neurociências do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2014, 287 p. BARBERI, M. Ouvindo cores. http://www2.uol.com.br/vivermente/reportagens/ouvindo_cores.html Acesso em: 13 nov. 2017. LEVEK, K. Música e cores: a resposta por crianças de 5 e 6 anos à música e sua relação com as cores. XVIII Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação (ANPPOM) Salvador – 2008, p. 458 – 461. SACKS, O. (2007). Alucinações Musicais: relatos sobre a música e o cérebro. São Paulo: Companhia das Letras, 360 p. 2007. WIKIPÉDIA. Sinestesia. https://pt.wikipedia.org/wiki/Sinestesia Acesso em: 13 nov. 2017. 37 Neurobiologia do Reconhecimento de Expressões Faciais de Emoções As emoções são fenômenos complexos e multidimensionais que compreendem desde fenômenos biológicos até fenômenos subjetivos e sociais. Elas estão presentes em diferentes espécies animais e possuem um importante papel de comunicação, favorecendo a adaptação do organismo. Expressões faciais, assim como outras formas de expressão de estados emocionais, orientam comportamentos e podem aumentar a possibilidade de reprodução e as chances de sobrevivência (Andrade e cols., 2013). Conforme os mesmos autores, nas relações humanas, as emoções possuem um papel preponderante durante todas as etapas dociclo vital. Seja nos relacionamentos íntimos, nas interações familiares, no trabalho ou na escola, elas auxiliam a adaptação às diversas situações da vida. Pessoas capazes de compreender suas emoções bem como as dos outros ao seu redor tendem a conseguir uma melhor qualidade de vida e melhores interações sociais As bases neurais das emoções, prazer e recompensa Evidências experimentais permitiram a revisão das estruturas pertencentes ao circuito proposto por Papez, surgindo, assim, o conceito de sistema límbico (SL) – retomando o termo criado por Broca ao descrever o lobo límbico –, o qual envolveria as estruturas relacionadas às emoções. O SL passou a ser caracterizado como o circuito neuronal relacionado às respostas emocionais e aos impulsos motivacionais, já tendo sido incluídas em seu bojo estruturas como hipotálamo, amígdala, núcleos da base, área pré-frontal, cerebelo e septo (o hipocampo, inicialmente inserido, não parece ter participação decisiva nos mecanismos neurais das emoções, tendo papel, outrossim, na consolidação da memória, incluída aquela de conteúdo emocional, daí estar relacionado – ainda que não seja pertencente – ao SL). De modo similar, o grupo de núcleos anteriores do tálamo não está confirmado como elemento substantivo na neurobiologia das emoções. Com efeito, ainda não existe um perfeito acordo sobre os componentes do SL. James Papez e a Teoria dp Circuito James Papez (1883-1958) foi um neurologista americano. Graduado da Universidade de Minnesota, seu principal contributo para a ciência e 38 especialmente para neurologia e psicobiologia é a descrição do chamado circuito de Papez, que é a via neuronal em que ocorre o controle do córtex cerebral sobre as emoções; Papez foi o primeiro a propor o sistema límbico como um sistema de controle de emoções, que foi um grande avanço na biopsicologia da emoção. Como Cannon e Bard, Papez acreditava que a informação sensorial atingindo o tálamo era direcionada ao córtex cerebral e ao hipotálamo. A informação que surgiu do hipotálamo deu origem às respostas emocionais de controle do corpo e, finalmente, a informação que saiu do córtex deu origem aos sentimentos emocionais. Os caminhos seguidos para o córtex foram chamados de "canal de pensamento". Papez era muito mais específico do que Cannon e Bard sobre como o hipotálamo se comunica com o córtex e sobre as zonas corticais intervenientes. Ele propôs uma série de conexões do hipotálamo ao tálamo anterior e ao córtex cingulado (parte do córtex médio evolutivamente antigo). As experiências emocionais ocorrem quando o córtex cingular integra os sinais recebidos do córtex sensorial (parte do córtex lateral evolutivamente novo) e do hipotálamo. A informação que sai do córtex cingulado no hipocampo e, a partir daí, no hipotálamo permite que os pensamentos que ocorrem no córtex cerebral para controlar as respostas emocionais. A teoria de Papez foi posteriormente expandida por Paul MacLean. Embora a denominação “sistema límbico” ainda seja usada para designar componentes envolvidos nos circuitos cerebrais das emoções, tal categorização vem sofrendo críticas em diversos graus. Como exemplo, cita-se a inclusão de várias estruturas anatômicas no seu bojo, sem que haja clara concordância entre os autores; de fato, a maioria dos investigadores inclui, no SL, o giro do cíngulo, o giro para-hipocampal, a amígdala, o hipotálamo e a área de septo. Outras estruturas como cerebelo, tálamo, área pré-frontal e hipocampo nem sempre são tidas como pertencentes ao SL, ainda que esses elementos possuam relações diretas com os processos emocionais e as respostas autonômicas (Andrade e cols., 2013). Estruturas funcionais do Circuito de Papez. Fonte: https://www.psiquiatriageral.com.br/cerebro/ emocoes.htm 39 Funcionamento do Circuito de Papez. Fonte: http://slideplayer.com.br/slide/11620359/. Tal fato indica que não há critérios amplamente aceitos para se decidir sobre a constituição do SL. Ademais, a própria ideia de um único sistema das emoções vem sendo colocada em xeque na medida em que têm sido identificados diferentes circuitos e áreas do SNC que se correlacionam aos díspares estados denominados emoções. Desse modo, no presente manuscrito, incluir-se-ão nas discussões sobre o SL as estruturas consensualmente reconhecidas pelos diferentes autores, bem como aquelas que se relacionam diretamente às emoções. Assim, em substituição – ou ampliação – à ideia do SL, deve-se propor a concepção dos sistemas das emoções, os quais albergam os díspares circuitos e as redes neuronais correlacionáveis aos estados tipificados como emoção. Os “sistemas das emoções” – ao menos como vem sendo entendidos recentemente – parecem estar organizados em rede; nestas não existem componentes morfo- funcionalmente regulatórios mais pronunciados, ou seja, todos os elementos exercem papéis regulatórios semelhantes entre si. Pode-se, então, compreender que tais sistemas dependem da integração de seus componentes de uma forma complexa, não-hierárquica, a qual necessita ainda ser mais bem explicada. Os quadros 1 e 2 apresentam os componentes do SL, conforme apresentados por (Andrade e cols., 2013). As emoções, o prazer e a recompensa As emoções mais “primitivas” e bem estudadas pelos neurofisiologistas – com a finalidade de estabelecer suas relações com o funcionamento cerebral – são a sensação de recompensa (prazer, satisfação) e de punição (desgosto, aversão), tendo sido caracterizado, para cada uma delas, um circuito encefálico 40 específico. O “centro de recompensa” está relacionado, principalmente, ao feixe prosencefálico medial – nos núcleos lateral e ventromedial do hipotálamo –, havendo conexões com o septo, a amígdala, algumas áreas do tálamo e os gânglios da base. Já o “centro de punição” é descrito com localização na área cinzenta central que rodeia o aqueduto cerebral de Sylvius, no mesencéfalo, estendendo-se às zonas periventriculares do hipotálamo e tálamo, estando relacionado à amígdala e ao hipocampo e, também, às porções mediais do hipotálamo e às porções laterais da área tegmental do mesencéfalo2. As bases neurais das emoções, prazer e recompensa. Sistema Límbico e o centro da emoções. Fonte: https://portal2013br.wordpress.com/2016/01/17/ uma-viagem-ao-cerebro-parte-14/ No presente artigo se discute o estudo do comportamento não-verbal focalizando o comportamento da face humana, a sua base neurobiológica e a implicação dos estudos para a neuropsicopedagogia. Charles Darwin (1872), publicou o livro: A expressão das emoções nos homens e nos animais. Esta obra representa um insight inédito sobre a emoção ou seja, é ainda mais revolucionário que o livro anterior de Duchenne de Boulogne, que foi publicada em 1962. Nesta obra as emoções eram tidas como atributo de uma alma imaterial, um espírito. Então, atribuir as emoções a algo biológico e, além disso, a uma herança evolutiva para a época, foi um grande diferencial. Inicialmente, essa obra seria um capítulo de A Descendência do Homem, mas começou a ficar muito grande e o autor resolveu transformá-lo num livro separado. A concepção de emoção que ele mostra é muito semelhante à que temos atualmente. Sua primeira grande “sacada” foi conceber as emoções como módulos. Isso quer dizer, que cada emoção seria caracterizada por um comportamento específico, bem como um conjunto de mudanças fisiológicas específicas, apesar de na época os naturalistas não contarem com muitos meios para se medir parâmetros fisiológicos (Novaes, 2017). A pesquisa foi iniciada por Duchenne de Boulogne, que publicou O Mecanismo de Expressão Facial Humana em 1862. Embora, tenha sido trabalho pioneiro de Duchenne com um homem idoso afligido com anestesia 41 facial quase total e que influenciou Darwin
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