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Brasília-DF. Distúrbios EnDócrinos, MEtabólicos E ElEtrolíticos Elaboração Wellington Augusto Sinhorini Raquel Reis Martins Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 4 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 5 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7 UNIDADE I ENDOCRINOLOGIA ............................................................................................................................... 9 CAPÍTULO 1 DISTÚRBIOS ENDÓCRINOS ........................................................................................................ 9 UNIDADE II METABOLISMO ENERGÉTICO ............................................................................................................... 71 CAPÍTULO 1 DISTÚRBIOS METABÓLICOS ..................................................................................................... 71 UNIDADE III SISTEMA ELETROLÍTICO ......................................................................................................................... 88 CAPÍTULO 1 DISTÚRBIOS ELETROLÍTICOS ..................................................................................................... 88 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................ 120 4 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 5 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 6 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 7 Introdução O metabolismo nada mais é do que o conjunto de reações químicas que ocorrem nas células e que permite ao indivíduo manter-se vivo, crescer e dividir-se (reproduzir/multiplicar). Este conjunto compreende toda a fisiologia, que vem do grego physis = natureza e logos = estudo, portanto, é o estudo das funções e do funcionamento do organismo dos seres vivos, bem como dos processos físico-químicos que ocorrem nas células, tecidos, órgãos e sistemas dos seres vivos. Quando dentro deste conjunto ocorre uma alteração – um distúrbio. Todo o volume corporal, concentrações de metabólitos, eletrólitos, enzimas, hormônios, e várias outras substâncias que encontramos dentro dos organismos, são normalmente mantidos dentro de limites (referências padrão), sendo sempre afligido pela constante variação na alimentação, atividade metabólica e estresse ambiental. O controle geral, a homeostase, é controlado pelo complexo de órgãos que compreende o indivíduo, sendo os rins, o principal regulador, juntamente com vários mecanismos fisiológicos inter-relacionados. Os assuntos abordados estão apresentados segundo uma sequência pedagógica e envolvem uma introdução e breve histórico sobre cada assunto dentro dos três temas propostos. Também serão abordados aspectos clínicos, diagnóstico e tratamento, além de breves explicações quanto às fisiopatologias das doenças. Para melhor entendimento e compreensão, serão apresentados esquemas, quadros e figuras. Objetivos » Estudar e reconhecer os principais distúrbios endócrinos, envolvendo hipotálamo, hipófise, paratireoide, tireoide e adrenal. » Abordar sobre distúrbios metabólicos e eletrolíticos e entender seus mecanismos fisiopatológicos. » Compreender sinais associados aos distúrbios, métodos de diagnóstico e tratamentos adequados a essas afecções. » Promover o aprimoramento dos conhecimentos científicos relacionados aos distúrbios eletrolíticos, metabólicos e endócrinos. » Compreender a importância do profissional Médico Veterinário na atuação clínica frente aos problemas dos distúrbios. 8 9 UNIDADE IENDOCRINOLOGIA CAPÍTULO 1 Distúrbios endócrinos Introdução Dentro da biologia, a endocrinologia estuda as glândulas e outros órgãos com funções secretórias, desde o seu o funcionamento até a ação dos seus produtos secretados, que são chamados de hormônios (hormao = excitar) e que atuam em tecidos-alvo ligando-se a receptores específicos. Essas moléculas receptoras ficam distribuídas sobre as membranas das células dos tecidos alvos, conhecidos como sítio de ligação. O número de receptores varia em cada tipo de célula, variando, portanto, o grau da resposta de cada célula à ação hormonal. Após a união com as proteínas receptoras de sinal, os hormônios causam uma resposta na célula por meio de mensageiros intracelulares como: AMP, GMP, ATP etc. As glândulas que os secretam são chamadas glândulas endócrinas e seus produtos de secreção (hormônios) são veiculados pela corrente circulatória, definidos também como sinalizadores celulares. A capacidade de manter a integração funcional dos diversos tecidos especializados é a principal função do sistema endócrino, sendo assim, ele permite a adaptação individual, como também no sentido da evolução da espécie, por meio da reprodução, crescimento e o desenvolvimento corporal, manutenção adequada do meio interno além da produção, a utilização e o armazenamento de energia. Pode-sedizer, portanto que os hormônios são os responsáveis pela manutenção da homeostase, isto é, do equilíbrio e perfeito funcionamento do organismo animal. Conhecer a estrutura e o mecanismo de ação desses produtos nos tecidos e órgãos- alvo é fundamental para compreender as manifestações clínicas resultantes das 10 UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA endocrinopatias. Ele está intimamente inter-relacionado com o sistema nervoso, que pela ação de seus neurotransmissores podem controlar a função endócrina e vice-versa. Mesmo sendo abordados separadamente, o sistema neuroendócrino controla em conjunto os outros sistemas quando se trata de processos metabólicos de nutrição, crescimento e reprodução. Como as glândulas endócrinas são reguladas pelo sistema nervoso, e em especial pelo hipotálamo ou por outras glândulas endócrinas, cria-se um complexo e sensível mecanismo de inter-relações neuroendócrinas. Hormônios Hormônios são substâncias liberadas na corrente sanguínea por uma glândula ou órgão que afetam a atividade de células de um outro local, por isso podem ser definidos classicamente como sinalizadores celulares, que quando secretados na circulação sanguínea, atuam a distância, em órgãos ou tecidos-alvo, ligando-se a receptores localizados na superfície da célula ou no seu interior. Hormônios sempre atuam por meio de receptores específicos, que estão presentes unicamente em suas respectivas células-alvo, pois os receptores são proteínas que têm sítios de união aos quais se ligam os hormônios com bastante especificidade e afinidade. O número de receptores varia em cada tipo de célula, variando, portanto, o grau da resposta de cada célula à ação hormonal. De forma geral, são moduladores das reações enzimáticas do metabolismo, acelerando, reduzindo ou alterando a função celular, porém também participam de outras funções específicas. Alguns hormônios afetam somente um ou dois órgãos, enquanto que outros afetam todo organismo. Atualmente vários tipos de hormônios já foram descritos (mais de 50), com diferentes características quanto a sua forma de síntese, armazenagem, meia-vida, forma de transporte no sangue e mecanismo de ação. Existem quatro principais categorias químicas (classe molecular) de hormônios: polipeptídicos, esteroidais, derivados de aminoácidos (aminas) e eicosanoides. Os hormônios peptídicos ou proteicos, variam desde três até 200 resíduos de aminoácidos. Inicialmente produzidos como grandes hormônios, são posteriormente convertidos no hormônio original dentro da célula (em grânulos secretórios ou vesículas) antes da sua secreção. No momento oportuno serão liberados pelo processo de exocitose e atua na célula-alvo, ligando-se a receptores localizados na superfície externa da célula. 11 ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I Constituem o grupo de hormônios mais numeroso. Os principais órgãos que produzem hormônios peptídicos são o hipotálamo, a hipófise, as ilhotas pancreáticas, a placenta, a glândula paratireoide e o trato gastrointestinal. Bons exemplos desse grupo são o ACTH, a insulina e o PTH. Exemplos de pequenos peptídeos: encefalina, vasopressina, fator de liberação do hormônio da tireoide. Já de proteínas: fator de crescimento epidérmico, paratormônio, hormônio estimulador da tireoide. Os hormônios esteroides são derivados do colesterol, produzidos pelo córtex adrenal, gônadas e placenta. Rapidamente sintetizados quando necessários, a partir do colesterol por reações enzimáticas, não necessitam serem armazenados em grandes quantidades. Incluem-se nesse grupo os corticosteroides, os estrógenos, os andrógenos e a progesterona, além da forma hormonal da vitamina D (1,25-dihidroxi-colecalciferol). Em resposta aos sintomas apropriados, os precursores são movidos para as organelas (mitocôndria e retículo endoplasmático liso), onde uma série de enzimas (a exemplo de isomerases e desidrogenases) rapidamente converte a molécula para o hormônio esteroide adequado. Os hormônios esteroidais são hidrofóbicos e atravessam a membrana celular facilmente. No sangue, eles se ligam a grandes proteínas carreadoras. Comparados com os hormônios proteico-polipeptídicos, os esteroides normalmente têm meia-vida maior, de minutos até horas. Os hormônios esteroidais atuam na célula-alvo via receptores localizados no interior da célula, modificando sua expressão gênica. Entre os exemplos temos: cortisol, progesterona, estradiol, testosterona. Os hormônios do grupo das aminas incluem as catecolaminas, que são produzidas pela medula adrenal e algumas células nervosas, e as iodotironinas, derivadas do aminoácido tirosina, que são produzidas exclusivamente pela tireoide. Os mecanismos de ação dos dois grupos de aminas são diferentes. As catecolaminas compartilham mecanismos de ação similares aos hormônios peptídicos, enquanto que as iodotironinas têm mecanismos similares aos hormônios esteroidais. Exemplos: adrenalina, noradrenalina, tiroxina. Finalmente, os eicosanoides incluem as prostaglandinas, os leucotrienos e os tromboxanos, compostos derivados do ácido araquidônico e produzidos em quase todos os tecidos. Na função reprodutiva são importantes a PGF2α e a PGE. Os hormônios podem apresentar-se com diferentes naturezas químicas, o que irá interferir em suas vias de transporte pelo sangue devido sua solubilidade neste fluido. » Hormônios Hidrofílicos: compreende o grupo dos hormônios proteicos, peptídicos e as aminas. Estes hormônios têm fácil trânsito pelo sangue circulando de forma livre. 12 UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA » Hormônios Lipofílicos: compreende os hormônios esteroides e os hormônios da tireoide. O grupo dos lipofílicos necessita do auxílio de proteínas transportadoras condicionando solubilidade temporária a estes hormônios no sangue. Secreção dos mensageiros químicos Segundo alguns autores, as secreções de um mensageiro químico mediam a comunicação entre as células, podendo ser de quatro tipos: » Secreção autócrina: quando uma célula secreta um mensageiro químico para atuar em seus próprios receptores, como por exemplo a produção do fator de crescimento epidérmico. » Secreção parácrina: mensageiros químicos atuam sobre células adjacentes, sendo este um modo de ação de muitas células do sistema neuroendócrino difuso. » Secreção endócrina: secreção de mensageiros químicos (hormônios) para a corrente circulatória, atuando sobre tecidos distantes. Também conhecida como função telécrina. » Secreção sináptica: refere-se à comunicação por contato estrutural direto de um neurônio com a outra por meio de sinapses, estando está restrita ao sistema nervoso. Há ainda a secreção neuroendócrina, onde o neurônio produz secreção que ganha os vasos sanguíneos para atingir a célula-alvo. A secreção hormonal não é necessariamente uniforme, podendo obedecer a estímulos, que estabelecem ciclos ou ritmos de vários tipos, como são os casos dos ritmos circadianos. O termo circadiano provém da designação em latim “circa diem” que significa cerca de um dia. ciclo (ou ritmo) circadiano, designa o período de aproximadamente um dia (24 horas) sobre o qual se baseia todo o ciclo biológico de qualquer ser vivo, influenciado pela luz solar. Há também o que se pode chamar de ciclo ultradiano (menos de 1 dia) e circalunar (cada mês). O “relógio” que processa e monitoriza todos estes processos encontra-se localizado numa área cerebral denominada núcleo supraquiasmático, localizado no hipotálamo na base do cérebro e acima da glândula hipófise exercendo influência sobre a liberação de seus hormônios. 13 ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I Controle endócrino O mau funcionamento das glândulas endócrinas pode levar a um aumento ou diminuição das concentrações séricas dos hormônios, isto resulta em desequilíbrio das funções, uma vez que essas substâncias são secretadas dentro de limites extremamente precisos. Essa desproporcionalidade entre as concentrações hormonais e as necessidades fisiológicas para um dado momento ouquando ocorre resposta inapropriada dos órgãos a concentrações adequadas do hormônio é o que chamamos de doenças endócrinas. A perda dessa capacidade de resposta hormonal devido a uma disfunção central ou da própria glândula repercute de maneira sintomática e laboratorial, configurando as endocrinopatias. O reconhecimento e a correção dessas disfunções constituem a essência da endocrinologia clínica, que agrega o estudo das doenças endócrinas, seu reconhecimento e tratamento. A síntese e a liberação dos hormônios dependem de vários mecanismos de controle, periféricos ou centrais, na maioria das vezes autorregulatórios, ou seja, produzindo efeitos biológicos que controlam sua própria produção e liberação, ou ainda mecanismos de retroalimentação (feedback). A essência desse pensamento é a de que os hormônios promovem efeitos biológicos que controlam sua própria produção e liberação. Os mecanismos de feedback são a principal forma de controle na fisiologia orgânica e são particularmente importantes no sistema endócrino, especialmente aqueles de retroalimentação negativos, isto é, aqueles em que o efeito promovido pelo hormônio suprime sua própria secreção. O feedback positivo é mais raro e observado quando o resultado da ação hormonal incrementa, potencializa sua própria produção. Principais glândulas endócrinas Pineal: pequena glândula situada no centro do cérebro. Sua principal função é o controle dos ciclos diários de sono e vigília. Durante a noite, a escuridão estimula a secreção de um hormônio da pineal, a melatonina, que induz ao sono. Já a claridade inibe a produção de melatonina. Hipotálamo: desempenha o importante papel de interação entre o sistema nervoso e o endócrino, interpretando informações trazidas pelos nervos provenientes do corpo e de outras partes do encéfalo, mediando a atividade da hipófise através de seus hormônios. Possui um grupo de células que produz e armazena hormônios na porção posterior da hipófise (neuro-hipófise), e outro que detém função reguladora (hipofisiotróficos) da hipófise anterior (adeno-hipófise). 14 UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA Hipófise: conhecida também por pituitária, é uma pequena glândula, situada sob o encéfalo e ligada ao hipotálamo. Além de controlar diretamente diversas funções metabólicas, a hipófise também estimula ou inibe a ação de outras glândulas. Dividida em duas regiões, uma posterior, chamada de neuro-hipófise, e outra anterior, a adeno-hipófise. A neuro-hipófise secreta principalmente dois hormônios: a ocitocina e o hormônio antidiurético (ADH). A ocitocina atua sobre o útero, promovendo as contrações do parto, e sobre as glândulas mamárias, estimulando a secreção do leite. O ADH controla o equilíbrio hídrico do organismo. Ele atua sobre os rins aumentando a reabsorção de líquidos. A adeno-hipófise secreta diversos hormônios. Alguns deles são: a somatotrofina (GH), o hormônio folículo estimulante (FSH), o hormônio luteinizante (LH), a prolactina e o hormônio tireotrófico (TSH). A somatotrofina estimula a multiplicação celular e o desenvolvimento de tecidos. Consequentemente, o GH estimula o crescimento do corpo, sendo, por isso, conhecido também como “hormônio do crescimento”. Nas fêmeas, o FSH atua sobre os ovários, promovendo o amadurecimento dos folículos e estimulando a liberação de estrogênio. Nos machos, o FSH atua sobre os testículos, estimulando a produção de testosterona. O LH estimula a ovulação nas fêmeas e a produção de testosterona nos machos. A prolactina atua sobre as glândulas mamárias, estimulando a produção de leite após o parto. O TSH atua sobre a tireoide, outra glândula do sistema endócrino, regulando a sua atividade. Tireoide: localiza-se no pescoço, estando apoiada sobre as cartilagens da laringe e da traqueia. Seus dois hormônios, tri-iodotironina (T3) e tiroxina (T4), aumentam a velocidade dos processos de oxidação e de liberação de energia nas células do corpo, elevando a taxa metabólica e a geração de calor. Estimulam ainda a produção de RNA e a síntese de proteínas, estando relacionados ao crescimento, maturação e desenvolvimento. A calcitonina, outro hormônio secretado pela tireoide, participa do controle da concentração sanguínea de cálcio, inibindo a remoção do cálcio dos ossos e a saída dele para o plasma sanguíneo, estimulando sua incorporação pelos ossos. Paratireoides: são pequenas glândulas, geralmente em número de quatro, localizadas na região posterior da tireoide. Secretam o paratormônio, que estimula a remoção de 15 ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I cálcio da matriz óssea (o qual passa para o plasma sanguíneo), a absorção de cálcio dos alimentos pelo intestino e a reabsorção de cálcio pelos túbulos renais, aumentando a concentração de cálcio no sangue. Neste contexto, o cálcio é importante na contração muscular, na coagulação sanguínea e na excitabilidade das células nervosas. Adrenais: as glândulas suprarrenais, ou adrenais, estão localizadas sobre os rins. Internamente, são divididas em duas regiões, uma externa, o córtex adrenal, e outra interna, a medula adrenal. Dois dos principais hormônios secretados pelo córtex adrenal são o cortisol e a aldosterona. Ambos são derivados do colesterol e, por isso, são chamados de esteroides. A principal função do cortisol é regular a permeabilidade dos capilares sanguíneos. Já a aldosterona atua sobre os rins, aumentado a absorção de sais durante o processo de filtração do sangue. Os principais hormônios secretados pela medula adrenal são a adrenalina e a noradrenalina. A adrenalina prepara o organismo para situações de perigo ou estresse. Entre outros efeitos, ela aumenta os batimentos cardíacos e a pressão arterial, preparando o animal para uma reação rápida. A noradrenalina controla a pressão sanguínea do corpo. Pâncreas: o pâncreas é uma glândula mista localizada na região abdominal. Ele é chamado de glândula mista pelo fato de possuir, tanto funções endócrinas quanto exócrinas. A função endócrina é realizada por diversos conjuntos de células chamadas de ilhotas de Langherans. Dois dos principais hormônios produzidos pelas ilhotas de Langherans são a insulina e o glucagon, ambos relacionados ao controle da concentração de glicose no sangue. A insulina estimula a absorção da glicose presente no sangue e o seu armazenamento no fígado, na forma de glicogênio. Já o glucagon estimula o aumento da concentração de glicose no sangue e a quebra do glicogênio. A deficiência de insulina provoca uma doença conhecida como diabete melito. A baixa concentração de insulina dificulta a absorção de glicose, afetando o metabolismo celular e, consequentemente, provocando um aumento dessa substância no sangue. Gônadas: » Ovários: os ovários secretam os hormônios sexuais femininos, o estrógeno e a progesterona. O estrógeno, entre outras funções, está relacionado ao ciclo menstrual e ao desenvolvimento de características sexuais secundárias. A progesterona promove alterações necessárias para a manutenção de uma possível gravidez. No útero, por exemplo, o hormônio promove a formação do endométrio, tecido sobre o qual o embrião se fixa. » Testículos: os testículos secretam o hormônio sexual masculino, a testosterona. Este hormônio, entre outras funções, promove o desenvolvimento de características sexuais secundárias. 16 UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA Glândula tireoide A tireoide é uma glândula bilateral, localizada caudalmente à da laringe sobre os primeiros anéis traqueais, presente em todos os vertebrados. Figura 1. Localização da glândula tireoide. Fonte: <https://br.pinterest.com/pin/510806782713601345/> e <http://gata-mania.blogspot.com/2013/11/hipertireoidismo-felino.html> Entre as espécies pode haver variações aparecendo com: dois lobos ligados pelo “istmo”, sendo parenquimatoso no homem e bovino, e fibroso no cavalo, carneiro, cães e gatos. No cão e no gato o istmo tende a desaparecer logo após o nascimento. Figura 2. Glândula tireoide deanimais domésticos. Glândula Tireoide Fonte:<http://cochecovet.com/services/feline-hyperthyroidism-and-radioactive-iodine--i-131--therapy.html> A glândula é extremamente vascularizada. Entre suas principais funções estão a síntese, armazenamento e secreção do hormônio tireóideo, além da manutenção dos níveis ideais da concentração de iodo. Há um parênquima tireoidiano acessório chamado de tecido tireoidiano ectópico, presente na maioria dos cães e gatos, que é principalmente encontrado na região cervical, https://br.pinterest.com/pin/510806782713601345/ 17 ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I porém também pode estar localizado no interior do tórax. Em aves, é encontrada dentro da cavidade torácica; ambos os lobos se localizam próximos à siringe, adjacentes à artéria carótida e próximos à origem da artéria vertebral. As tireoides acessórias respondem a TSH e são completamente funcionais. Os transtornos de tireoide são mais comuns nos pequenos se comparados aos grandes animais. Histologicamente a unidade anatômica funcional da tireoide é o folículo tireoidiano ou ácino, que é rodeado de células foliculares de tamanhos variados, que secretam para seu interior o muito material coloide. Esse material contém uma glicoproteína chamada de tireoglobulina, que é uma globulina, uma grande glicoproteína contendo, cada molécula, cerca de 115 resíduos de tirosina. É sintetizada, glicosilada e, a seguir, secretada para dentro da luz do folículo, onde ocorre a iodetação dos resíduos de tirosina. Além da tireoglobulina esse material coloide também é composto por aminoácidos iodados ou iodotirosinas, tais como; a monoiodotirosina (MIT) e a di-iodotirosina (DIT) e compostos derivados ou iodotironinas, como a T3 e a T4. Figura 3. Secção da glândula tireoide mostrando a localização das células foliculares e parafoliculares, os capilares e o coloide. Célula folicular Célula parafolicular Folículo da tireoide Lúmen folicular (Substância coloidal) Cápsula da tireoide Capilares Fonte: <https://www.pinterest.pt/pin/604678687439636833/?lp=true> No TGI, o iodo ingerido é convertido em iodeto e absorvido para a circulação sendo capturado pela glândula tireoide por mecanismos de transporte ativos da membrana plasmática basal da célula folicular, resultando em uma concentração intracelular de iodo de 10 a 200 vezes a sérica. Esse processo é estimulado pela interação de TSH com os receptores de superfície celular, levando a ativação de cAMP (adenosina monofosfato cíclica). Após a difusão da membrana plasmática apical por gradiente de concentração, o iodo é oxidado pela enzima peroxidase tireoidiana (TPO) e organificada a resíduos de tirosina da tireoglobulina pré-formada para formar MIT e DIT. A tiroxina (T4) é formada por união de duas moléculas de DIT e a T3 por uma de DIT com uma de MIT. Ambas são clivadas da tireoglobulina antes de serem secretadas da glândula tireoide. A tireoglobulina é o sítio de armazenamento dos hormônios tireoidianos. 18 UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA Figura 4. Fisiologia – Hormonogênese dos hormônios Tireoidianos. MIT = Monoiodotirosina; DIT= Di-iodotirosina. Desiodinase (co-fator Se) Bomba de Iodeto 2I¯ Peroxidase (Fe) I2 + Tirosina (tireglobulina) Peroxidade (Fe) MIT + DIT DIT + DIT T3 (Tri-iodotironina) T4 (Tiroxina) Fonte: <http://nutriatualidades.blogspot.com/2011/09/nutricao-no-hipotireoidismo.html> O coloide contendo tireoglobulina é absorvido para dentro da célula tireoidiana, através de pinocitose, sob estímulo do TSH. Simultaneamente os lisossomos (contendo proteases e enzimas hidrolíticas) migram da região basal para se unir com esses vacúolos. Os hormônios tireoidianos, MIT e DIT são liberados por estímulo de TSH, que também atua nas enzimas deiodase convertendo o T4 a T3 e T3r, e as iodotirosinas são deiodadas para permitir a reciclagem do iodo. A síntese e secreção dos hormônios tireoidianos pela glândula tireoide é regulada por um sistema de controle em feedback que envolve o eixo hipotálamo-pituitária-tireoide (eixo HTP), e são reguladas diretamente pelo TSH, além destes aumentando a formação de AMP cíclico (cAMP). Portanto, o TSH é o regulador primário da liberação e secreção de hormônios tireoideanos, tendo um papel crítico no crescimento e desenvolvimento da tireoide. Os hormônios metabolicamente ativos são as iodotironinas T3 e T4. A proteólise da tireoglobulina libera quantidades relativamente grandes de T4, mas apenas quantidades pequenas de T3. É também secretado pela glândula, pequenas quantidades de T3 reversa (rT3), uma forma inativa. Cerca de 90% do hormônio secretado pela glândula tireoide são tiroxina (T4) e 10% são tri-iodotironina (T3). Contudo, considerável porção de T4 é convertida em T3, nos tecidos periféricos, de forma que ambos são muito importantes, funcionalmente. As funções desses dois hormônios são, qualitativamente, as mesmas, porém diferem quanto à rapidez e a intensidade da ação. O T3 é cerca de quatro vezes mais potente que T4, porém está presente no sangue em quantidades muito menor e persiste durante tempo muito mais curto que o T4. 19 ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I A meia vida de T4 é de 7 dias e da T3 de 2 dias e quando esses hormônios são liberados no sangue, conjugam-se a proteínas plasmáticas transportadoras, principalmente à globulina transportadora de tiroxina (TBG) e em menor grau, à pré-globulina e à albumina. Cerca de 0,5% dos hormônios tireoidianos estão no sangue em forma livre, biologicamente ativa, em equilíbrio com a fração conjugada. Essa união dos hormônios tireoidianos às proteínas transportadoras é uma forma de diminuir sua perda pelos rins e aumentar sua meia-vida, servindo de importante reservatório desses hormônios. Por outro lado, as proteínas transportadoras têm papel regulador dos níveis hormonais funcionais. A afinidade de T3 pela TGB é menor, o que lhe permite maior difusão aos tecidos. Embora todo o T4 seja secretado pela glândula, ele é rapidamente deiodado nas células-alvo para formar T3 ativa ou T3r inativa, dependendo das necessidades da célula. O mecanismo geral de ação está baseado na existência de receptores nucleares com maior capacidade de união pela T3 do que pela T4. Normalmente a T3 é produzida preferencialmente durante estados metabólicos normais, enquanto a T3r, que é biologicamente inativa, parece ser produzida durante estados doentios, inanição ou catabolismo endógeno excessivo. Dentro da célula a T3 se liga a receptores na mitocôndria, ao núcleo e na membrana plasmática e exerce seus efeitos fisiológicos. Existe uma grande reserva de T4 no corpo, é encontrada principalmente na circulação, com uma lenta taxa de renovação, enquanto que, existe uma pequena reserva de T3 que apresenta uma taxa de renovação rápida e é encontrada principalmente dentro das células. Os hormônios tireoidianos agem em diferentes processos celulares via interações específicas ligante-receptor com o núcleo, mitocôndria e membrana plasmática. Embora tanto T3 quanto T4 tenham atividade metabólica intrínseca, o T3 é três a cinco vezes mais potente em se ligar a receptores nucleares e similarmente mais potente em estimular o consumo de oxigênio. Os efeitos do hormônio tireoidiano podem ser geralmente divididos naqueles que são rápidos e evidentes após minutos ou horas de administração, como estimular o transporte de aminoácidos e o consumo de oxigênio mitocondrial; e aqueles que requerem síntese proteica e um longo período para se manifestar. Cerca de metade do incremento do consumo de oxigênio é relacionada à ativação da bomba de sódio-potássio, além de estimular o consumo de oxigênio na mitocôndria. Essas mudanças estão relacionadas ao efeito calorigênico do hormônio tireoidiano. Os efeitos mais rápidos do hormônio podem ser observados clinicamente em pacientes hipotireoideos que iniciam o tratamento como aumento de atividade física e mental. Os efeitos mais crônicos são relacionados às açõescelulares que requerem interação de T3 nuclear para aumento da síntese proteica crucial nos processos como crescimento, 20 UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA diferenciação, proliferação e maturação. Os efeitos dos hormônios tireoidianos, em quantidades fisiológicas, são anabólicos. Trabalhando junto com o GH e a insulina, a síntese proteica é estimulada e a excreção de nitrogênio reduzida. No entanto, quando em excesso, pode ser catabólico, com aumento da gliconeogênese, quebra de proteína e perda de nitrogênio. O TSH, produzido pela adenohipófise, por sua vez, é estimulado pelo hormônio liberador de tirotrofina (TRH), que é um tripeptídeo distribuído por toda área do hipotálamo, mas em maior quantidade nos núcleos paraventricular e eminência mediana. O TRH é metabolizado muito rapidamente, sua meia-vida plasmática é de aproximadamente três minutos. O estímulo de TRH sobre a secreção de TSH ocorre pela ativação mediada por receptor via fosfolipase C, o que estimula a mobilização de cálcio intracelular. A estimulação crônica de TRH também aumenta a síntese e glicosilação do TSH, aumentando desta forma a atividade biológica do TSH. A secreção de TRH é pulsátil, assim como a secreção do TSH. Contudo, fora da tireoide, em diversos outros órgãos, a regulação de T3 e T4 está vinculada a alterações nutricionais, hormonais e a fatores relacionados a algumas enfermidades, o que pode variar em diferentes tecidos. Já a glândula tireoide responde a níveis sanguíneos de iodo e de TSH formando os hormônios tireoidianos e os libera na circulação. Figura 5. Esquema de regulação hormonal. Retroalimentação é o principal mecanismo de regulação da função hormonal. O produto final é o responsável pela regulação de sua própria síntese. Glândula Pituitária Hipotálamo TSH Glândula Tireoide T4 T3 T3 “reverse” (antitiroidiano) Fonte: <https://summitforwellness.com/wp-content/uploads/2016/03/Thyroid.jpg> 21 ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I Ações dos hormônios tireoidianos Basicamente há duas categorias de hormônios, uma que afeta o metabolismo e uma que afeta o crescimento e o desenvolvimento. Os hormônios são reguladores do metabolismo da maioria dos tecidos, produzindo um aumento geral no metabolismo dos carboidratos, das gorduras e das proteínas. A maioria desses efeitos envolve a modulação das ações de outros hormônios, tais como insulina, glucagon, os glicocorticoides e as catecolaminas, porém os hormônios tireoidianos controlam também, diretamente, a atividade de algumas das enzimas do metabolismo dos carboidratos. Ocorre um aumento no consumo de O2 e na produção de calor que se manifesta por uma elevação na taxa metabólica basal. Isso reflete a ação sobre alguns tecidos, tais como coração, rim, fígado e músculo, mas não sobre outros, como as gônadas, o cérebro e o baço. A ação calorigênica é uma parte importante da resposta a um meio ambiente frio. Portanto, o metabolismo energético aumenta taxa metabólica basal e estimula a termogênese facultativa, da seguinte maneira: » Metabolismo: aumenta o consumo de O2, produção de calor; metabolismo basal; aumenta radicais livres e mantém a temperatura corporal. » Sistema cardiovascular: produção de calor (vasodilatação periférica), diminuição da resistência vascular periférica, aumento do débito cardíaco, contratilidade e frequência cardíaca. » Efeitos gastrointestinais: aumenta motilidade. » Aparelho neuromuscular e ósseo: aumento da velocidade de contração e relaxamento muscular; aumento do turnover ósseo (aumento da reabsorção e formação óssea). » Efeitos hematológicos, pulmonares e endócrinos: controle da hipóxia e hipercapnia; eritropoiese; aumento do turnover metabólico de hormônios e agentes farmacológicos. » Metabolismo de lipídios: lipogênese e lipólise – colesterol – aumentam a degradação e diminui níveis séricos. » Metabolismo de carboidratos: captação da glicose pelo intestino, produção hepática de glicose, aumento da secreção de insulina => captação e utilização. » Metabolismo de proteínas: síntese e catabolismo – normalmente anabolismo supera catabolismo. 22 UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA Já os efeitos sobre o crescimento e o desenvolvimento também é de responsabilidade dos hormônios tireoidianos. Há uma ação direta sobre as células e uma ação indireta, influenciando a produção do hormônio do crescimento e potencializando seus efeitos. Estes hormônios são importantes também para uma resposta normal ao paratormônio e a calcitonina e para o desenvolvimento esquelético; são particularmente necessários para o crescimento normal e maturação do SNC. Resumindo os efeitos biológicos do hormônio da tireoide são: » Promoção do crescimento e diferenciação celular e estimulação do metabolismo energético. » Desenvolvimento fetal: desenvolvimento do cérebro e do esqueleto (cretinismo). » Crescimento: T3 estimula a produção de GH (nível gênico) e interage a nível tecidual. » SNC: desenvolvimento normal depende de hormônios tireoideanos, principalmente no período neonatal levando a danos irreversíveis na sua ausência. Regiões mais atingidas: cerebelo, hipocampo e bulbo olfatório. » Manifestações menos graves e totalmente reversíveis em adultos: lentidão mental, sonolência e, raramente, coma. » Pulmão: desenvolvimento e maturação pulmonar (associado a glicocorticoide) – estimula a síntese e secreção de surfactante alveolar com aumento da concentração dos receptores nucleares de T3 no período neonatal. Distúrbios da glândula tireoide Hipotireoidismo O hipotireoidismo é uma síndrome clínica resultante da produção ou ação biológica ineficiente dos hormônios tireoidianos (HT) sobre os tecidos, promovendo um efeito generalizado de retardo nos processos metabólicos de todo sistema corporal, por isso, os sinais clínicos são variáveis e muitas vezes inespecíficos, sendo os principais: bradicardia, rouquidão, sensibilidade ao frio, pele seca e fraqueza muscular. No entanto, as condições clínicas da síndrome dependem do grau e duração da deficiência de hormônios tireoideanos e, assim, afetará os tecidos em maior ou menor extensão. 23 ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I Constitui a desordem endócrina mais comum nos cães, enquanto que no gato sua ocorrência é rara, porém quando ocorre apresenta sinais clínicos muito semelhantes. A falha da tireoide por si só em secretar uma quantidade adequada de hormônio tireoidiano é denominada de hipotireoidismo primário sendo a forma mais comum da doença. Os tipos de hipotireoidismo primário mais comumente observados em cães são: » Atrofia idiopática: é caracterizada por uma perda do parênquima e substituição por tecido adiposo. A causa é desconhecida, mas pode ser uma doença degenerativa primária. O que se sabe é que não há infiltrado inflamatório, mesmo em áreas nas quais pequenos folículos ou remanescentes foliculares estão presentes na glândula tireoide. » Tireoidite linfocítica: distúrbio imunomediado caracterizado por infiltração difusa de linfócitos, plasmócitos e macrófagos na tireoide. Os fatores que desencadeiam ainda não são bem compreendidos, mas certamente existem fatores genéticos envolvidos, especialmente dada a crescente incidência deste distúrbio em certas raças e em certas linhagens dentro de uma raça. Os sinais clínicos geralmente aparecem de forma gradativa (1 a 3 anos), isto porque a destruição da glândula tireoide é progressiva e lenta, e o desenvolvimento da diminuição das concentrações séricas de hormônios tireoidianos só se dá quando mais de 75% da glândula for destruída. » Agenesia congênita de tireoide: rara em cães, uma vez que o cão nunca sobrevive à maturidade. Tem sido causada por ingestão dietética deficiente de iodo, distúrbios na formação de hormônios, e hipoplasia, aplasia e disgenesia de tireoide. » Deshormoniogênese (devido a defeito congênito na organificação do iodo). » Tumores (que podem ser funcionais: apresentando apenas sinais associados com o alargamentotumoral ou hipertireoidismo; ou afuncionais, invadindo e destruindo folículos suficientes para levar ao hipotireoidismo). » Tireoidectomia ou sua destruição por materiais radioativos (para tratamento de tumores, tireoidianos ou não). » Terapias antitireoidianas ou deficiência de iodo. Em gatos as causas mais comuns são o hipotireoidismo congênito e iatrogênico (produzido por tireoidectomia bilateral ou terapia com iodo radioativo ou dose excessiva de drogas antitireoidianas). Os sinais clínicos semelhantes aqueles observados em cães. 24 UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA A disfunção na glândula tireoide, em equinos, é uma anormalidade endócrina incomum e pouco compreendida, que tem sido associada a várias desordens clínicas. O hipotireoidismo é geralmente primário, associado com enfermidade da glândula tireoide, ou secundário, resultante da secreção inadequada de hormônio estimulador da tireoide pela glândula pituitária. O excesso de iodo, bem como sua deficiência, pode provocar disfunção da tireoide e interferir nos testes da glândula. O hipotireoidismo secundário ocorre quando há uma diminuição da secreção de TSH como resultado de distúrbios hipofisários ou hipotalâmicos. Uma causa rara de hipotireoidismo é a deficiência familiar seletiva do TSH e já foi relatado em uma família de Schnauzers gigantes, demonstrando que estes genes podem ter sido herdados de modo autossômico recessivo. O hipotireoidismo secundário resulta de disfunção nas células tireotróficas hipofisárias que dificulta a secreção do hormônio estimulante da tireoide (TSH), podendo ser também consequência de destruição de tireotrofos hipofisários, como em neoplasias hipofisárias (raras) ou supressão da função da tireoide por hormônios ou drogas como glicocorticoides. O hipotireoidismo terciário é uma deficiência na secreção do hormônio liberador de tireotropina (TRH) por neurônios peptidérgicos nos núcleos supraóptico e paraventricular do hipotálamo. A infiltração neoplásica do hipotálamo é a única causa reconhecida em cães, até o momento. A falta de secreção de TRH resulta em secreção deficiente de TSH e atrofia folicular secundária na glândula tireoide. Em felinos, o hipotireoidismo iatrogênico é a causa mais comum de hipotireoidismo em gatos e pode resultar de tireoidectomia bilateral, terapia por iodo radioativo, ou excessiva dose de fármacos antitireoidianos. O hipotireoidismo primário de ocorrência natural na idade adulta é raro. Doença não tireoidiana (síndrome do eutireoideo doente) A síndrome do eutireoideo doente refere-se à supressão das concentrações séricas do hormônio tireóideo em cães eutireoideos em resposta a doenças concorrentes. Uma diminuição nas concentrações séricas do hormônio tireóideo pode resultar de um declínio na secreção do TSH, secundário à supressão do hipotálamo ou hipófise, diminuição da síntese de T4, diminuição da concentração ou afinidade de ligação de proteínas de ligação circulantes (proteína ligadora de tiroxina), da inibição da desiodação de T4 em T3, do aumento do metabolismo hepático e excreção de T4 , ou da combinação de qualquer um destes fatores. Acredita-se que a diminuição subsequente no T4 total sérico, e, em muitos casos, das concentrações de T4 l represente uma adaptação fisiológica, 25 ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I com o propósito de diminuir o metabolismo celular durante períodos de doença. Isso não é indicativo de hipotireoidismo, por si só. Geralmente, o tipo e a magnitude da maioria das alterações nas concentrações séricas de hormônio tireóideo não são únicos de um distúrbio específico, mas refletem a severidade da doença ou estado catabólico, e parecem representar uma continuidade de alterações. Doenças sistêmicas possuem um efeito maior sobre a diminuição das concentrações de hormônios tireoidianos do que, por exemplo, distúrbios dermatológicos. Além disso, quanto mais severa a enfermidade sistêmica, maior o efeito supressivo sobre a concentração sérica do hormônio tireóideo. O tratamento da síndrome do eutireoideo doente deve ser voltado à doença concorrente. As concentrações séricas do hormônio tireóideo retornam ao normal assim que a enfermidade concomitante for eliminada. A terapia da síndrome do eutireoideo doente com levotiroxina sódica não é recomendada. Aspectos clínicos Nos cães geralmente aparecem durante a meia-idade, entre 2 a 10 anos. Os sintomas se desenvolvem mais cedo nas raças de risco (Golden Retriever, Doberman Pinscher, Dachshund, Setter Irlandês, Schnauzer Miniatura, Dogue Alemão, Poodle, Boxer). Aparentemente não há predileção sexual, porém, a castração parece ser um fator predisponente, e isso tem sido associado ao efeito dos hormônios sexuais no sistema imune, aumentando assim a severidade da tireoidite autoimune. Os sinais clínicos são variáveis e dependem em parte da idade do cão no momento de desenvolvimento da deficiência do hormônio tireóideo, podendo também diferir entre as raças. Em adultos, os sinais mais consistentes de hipotireoidismo resultam de diminuição do metabolismo celular e seus efeitos sobre a atividade e o estado mental do cão. A maioria dos cães com hipotireoidismo apresenta demência, letargia, intolerância e relutância a exercícios e propensão a ganho de peso sem aumento de apetite ou consumo de alimento. Estes sinais normalmente se instalam de forma sutil e gradual, não sendo observados pelos tutores. Muitos cães sofrem de intolerância ao frio. Em equinos adultos, o hipotireoidismo tem sido associado a sinais clínicos como alopecia, anidrose, episódios de rabdomiólise e intolerância ao exercício. Não se comprovou, ainda, se o hipotireoidismo é uma causa ou um fator contribuinte na laminite. Outros relatos incluem o bócio secundário resultante da ingestão excessiva de iodo, de secreções aumentadas do trato respiratório, de corrimento nasal, de tosse não produtiva intermitente, de lacrimejamento excessivo. Anemia de baixo grau, hipotermia, bradicardia, obesidade e letargia foram verificadas em éguas cuja função da tireoide apresentava supressão, em virtude da ingestão excessiva de iodo. 26 UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA Sinais dermatológicos Os hormônios tireoidianos são importantes para a manutenção da saúde da derme, por isso, alterações na pele e pelo são as anormalidades mais comumente observadas. A atrofia da glândula sebácea resulta em pele seca. A hiperqueratose provoca o aparecimento de descamação e caspa. Variados graus de hiperpigmentação são também observados. Seborreia e piodermia são sinais comuns do hipotireoidismo. A depleção do hormônio tireóideo suprime as reações humorais imunes, prejudica a função das células T, e reduz o número de linfócitos circulantes. Todas as formas de seborreia (seca, oleosa, dermatite) são possíveis. A seborreia e a piodermite podem ser focais, multifocais ou generalizadas. Em casos severos da doença, mucopolissacarídeos ácidos e neutros podem se acumular na derme e se ligar à água, causando o espessamento da pele. Referida como mixedema, esta condição causa o espessamento cutâneo predominantemente na região frontal do crânio e na face de cães, circundando a região temporal da testa, edema e espessamento das dobras cutâneas faciais, e ptose das pálpebras superiores. A esse conjunto de alterações dá-se o nome de “face trágica”. O pelame em cães com hipotireoidismo é frequentemente opaco, seco e facilmente epilado. O crescimento do pelo é lento. Os sinais cutâneos clássicos incluem alopecia bilateral simétrica no tronco, não pruriginosa, que tende a poupar a cabeça e extremidades. A alopecia pode ser local ou generalizada e simétrica ou assimétrica, pode envolver somente a cauda, também chamada de “rabo de rato”, e geralmente se inicia em áreas de fricção ou cobertas por roupas. Embora alopecias endócrinas não pruriginosas não sejam patognomônicas do hipotireoidismo, este é certamente o diagnóstico mais provável em um cão afetado com letargia, ganho de peso, e sem poliúria-polidipsia.Figura 6 – (A) Animal com hipertireoidismo, apresentando “face trágica”, devido ao espessamento cutâneo predominantemente na região frontal do crânio e na face de cães, circundando a região temporal da testa, edema e espessamento das dobras cutâneas faciais, e ptose das pálpebras superiores. (B) Animal com hipotireoidismo, apresentando alopecia bilateral simétrica no tronco, poupando cabeça e extremidades, envolvendo também cauda, também chamada de “rabo de rato”. A B Fonte: Arquivo Pessoal (2018). 27 ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I Sinais neuromusculares Os sinais clínicos correspondentes ao Sistema Nervoso Central (SNC), podem ocorrer por 2 motivos principais: » Axoniopatia e a desmielinização segmentar induzida pela ausência de hormônio. » Acúmulo de mucopolissacarídeos no perineuro e endoneuro ou após o desenvolvimento de hiperlipidemia grave ou aterosclerose cerebral. Sinais como convulsões, ataxia, andar em círculos, fraqueza, e déficits de reações posturais e proprioceptivas são os mais comumente encontrados. O que se pode ver também com frequência é a associação desses sinais com sintomas vestibulares (inclinação da cabeça, estrabismo vestibular posicional) ou paralisia do nervo facial. Um dos sinais mais comuns de ser encontrado é a letargia, de aparecimento insidioso pode nem ser notado no exame inicial. A patogênese desses sinais é a redução na atividade muscular e nervosa, a qual resulta de baixos níveis de hormônios tireoidianos. Uma forma de miopatia existe em alguns cães com hipotireoidismo primário que pode ser devido à fadiga muscular. A relutância em se mover pode resultar em hipotermia em alguns cães. Sinais reprodutivos Até 1999, acreditava-se que o hipotireoidismo era responsável por redução de libido, atrofia testicular e oligo ou azoospermia. Entretanto, um trabalho desenvolvido por Johnson e colaboradores demonstrou não haver nenhuma alteração nesses aspectos. Já nas fêmeas, pode provocar aumento dos intervalos estrais e falha do ciclo. Outras anormalidades incluem ciclos estrais fracos ou silenciosos, sangramento estral prolongado (que pode ser causado por problemas de coagulação), galactorreia e ginecomastia. Foi provado que os partos são mais complicados por serem mais prolongados, com contrações uterinas mais fracas, consequentemente uma maior prevalência de filhotes natimortos. Também, há a mortalidade periparto significativamente maior em cadelas com hipotireoidismo. Outros achados clínicos » Olhos: mudanças oftálmicas vistas em cães são relacionadas diretamente ou indiretamente aos altos níveis de colesterol e lipídeos sanguíneos vistos em alguns animais com hipotireoidismo. Incluem depósitos de 28 UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA lipídeos na córnea, úlcera de córnea, uveíte crônica, derrame de lipídeos no humor aquoso, glaucoma secundário e ceratoconjuntivite seca. » Sistema cardiovascular: a contratilidade miocárdica reduzida resulta de infiltração mixedematosa no músculo cardíaco, alteração do metabolismo do miocárdio e redução da sensibilidade a catecolaminas. Muitos pacientes com hipotireoidismo têm aumento na resistência vascular sistêmica e uma diminuição na perfusão dos tecidos, bem como diminuição no consumo de oxigênio periférico. A massa cardíaca encontra-se menor do que o normal, juntamente com o volume sanguíneo. Pode ocorrer alteração na pressão sanguínea, onde a pressão sistólica pode estar diminuída ou normal e a diastólica pode estar aumentada ou normal. » TGI: os sinais gastrintestinais mais associados a cães com hipotireoidismo são constipação e redução do apetite. Essa redução de apetite não parece interferir na habilidade do animal manter o peso ou em alguns casos, ganhar peso. A constipação parece ser resultado de hipoatividade motora do estômago e jejuno. » Rins: diminui a taxa de filtração glomerular (TFG) em cães e teoricamente pode piorar a azotemia em cães com doença renal concomitante. » Fígado: os hormônios da tireoide possuem significante impacto na regulação do metabolismo mitocondrial hepático. No hipotireoidismo temos diminuição do consumo de oxigênio no hepatócito, afetando a síntese de colesterol e da bile. » Distúrbios hemorrágicos: existe um relacionamento sugerido entre o hipotireoidismo canino e a doença de Von Willebrand. Sabe-se que a tireoxina aumenta a atividade coagulante do fator VIII tanto nos pacientes eutireoideos como nos hipotireóideos. Um cão com deficiência antigênica suave do fator VIII ou relacionada ao fator VIII poderia apresentar exacerbação das tendências hemorrágicas com desenvolvimento de hipotireoidismo. Além de todos os sinais mencionados é possível também que o cão hipotireóideo tenha também coma mixedematoso e cretinismo, embora sejam sinais bem incomuns. O coma mixedematoso é uma síndrome incomum que ocorre em casos severos de hipotireoidismo, caracterizada por fraqueza profunda, hipotermia, bradicardia e uma diminuição dos níveis de consciência, que podem rapidamente progredir para estupor 29 ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I e depois coma. Também há um edema que não cede à pressão na pele, face e na região cervical ventral. Já o cretinismo é o hipotireoidismo em filhotes, levando a um crescimento retardado e desenvolvimento mental prejudicado. Cães apresentam um tamanho desproporcional do corpo, com cabeça ampla e larga; uma língua espessa e protuberante; um tronco largo e quadrado; e membros curtos. Sinais adicionais incluem persistência do pelame de filhote, alopecia, inapetência, erupção dentária atrasada e bócio. Diagnóstico Exames laboratoriais Os achados mais comuns em animais com hipotireoidismo são plasma lipêmicos devido à hipertrigliceridemia e hipercolesterolemia (60 a 75% dos cães). Em muitos casos a concentração do colesterol pode exceder 1.000 mg/dL mesmo em animais em jejum, sendo está uma forte evidência da doença. Os hormônios da tireoide aumentam tanto a síntese de colesterol, quanto o catabolismo hepático. Portanto a hipercolesterolemia resulta de uma redução de lipólise lipoprotéica periférica, redução de utilização hepática e aumento da produção hepática de colesterol, ou seja, o catabolismo está reduzido se comparado a síntese. Esse aumento também é atribuído à redução da excreção de colesterol biliar em animais com hipotireoidismo, causando aumento do colesterol sanguíneo, apesar da síntese reduzida. A hiperlipidemia que ocorre pode provocar aterosclerose dos vasos coronários e cerebrais, danos renais e hepatomegalia. Podem também haver aumentos discretos a moderados nas atividades de aspartato aminotransferase (AST), alanina aminotransferase (ALT) e fosfatase alcalina (FA), porém são achados muito inconsistentes. Embora 30% dos cães hipotireoideos tenha atividade sérica de FA alta, o mecanismo desse aumento é incerto. Mudanças hematológicas, especialmente anemia, são comuns e bem caracterizadas no hipotireoidismo, isto porque a eritropoiese está diminuída, refletindo numa redução no volume total de sangue e na quantidade de eritrócitos. São anemias leves (hematócrito 28%-35%), normocítica normocrômica arregenerativas. Essa diminuição na eritropoiese se deve a um efeito direto dos hormônios da tireoide nos precursores eritroides. Podemos encontrar casos de anemias por deficiência de ferro e anemias por deficiência de ácido fólico ou vitamina B12. A avaliação da morfologia dos eritrócitos pode revelar um aumento no número de leptócitos (células–alvo) acredita-se que tais células se formem em resposta ao aumento do colesterol na membrana eritrocitária. Alterações na contagem de linfócitos ou granulócitos são menos comuns no 30 UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA hipotireoidismo. Uma redução significante na contagem de leucócitos pode indicar um problema associado, como deficiência de vitamina B12 ou ácido fólico, porém o leucograma é tipicamente normal. Poucas mudanças quantitativas na contagem de plaquetas são encontradas, ao passo que as mudanças qualitativassão mais comuns. A depressão de alguns dos fatores de coagulação é descrita e atribuída a uma diminuição generalizada na síntese de proteínas. Exames de imagem A avaliação ultrassonográfica dos lobos da tireoide pode ser útil na diferenciação de cães com hipotireoidismo com os de doença não tireoidiana que causa diminuição nos resultados do hormônio tireóideo. A tireoidite linfocítica e a atrofia idiopática eventualmente causam uma diminuição no tamanho e alterações na ecogenicidade do lobo tireóideo. Uma redução significativa no tamanho e volume do lobo tireóideo é frequentemente visualizada em cães hipotireoideos quando comparados a eutireoideos, embora o formato do lobo tireóideo seja frequentemente semelhante entre eles. Testes da função da glândula tireoidiana Diversos fatores fisiológicos podem afetar a concentração sanguínea dos hormônios tireoidianos, como idade, raça, porte, status nutricional (carência alimentar ou obesidade), fase de ciclo estral, temperatura ambiente, doenças sistêmicas secundárias, presença de autoanticorpos e alguns tipos de fármacos. O diagnóstico de uma alteração da função tireoidiana deve ser embasado na análise das provas de função da glândula, associada aos sintomas apresentados pelo paciente. A função tireoidiana, do ponto de vista laboratorial, pode ser avaliada quanto aos diferentes aspectos a seguir: » Testes de determinação da concentração sérica basal das frações hormonais de origem tireoidiana: tri-iodotironina (T3) e tiroxina (T4) totais, T3 e T4 livres. » Testes de avaliação hipofisária: determinação da concentração sérica do hormônio tireoestimulante (TSH; tireotropina). » Testes de investigação de doenças imunomediadas: identificação de anticorpos antitireoglobulinas, anti-T3 e anti-T4. » Provas funcionais para avaliação do eixo hipotalâmico-pituitário-tireoidiano: teste de estimulação por hormônio liberador da tireotropina (TRH) ou TSH, teste de supressão a T3. 31 ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I » Teste de monitoramento da reposição hormonal: dosagem de T4 total antes e após a administração do medicamento. » Avaliação por imagem: tem por objetivo investigar a morfologia e a estrutura da tireoide, com a utilização de exames ultrassonográfico, cintilográfico, radiográfico contrastado ou por ressonância magnética. A função da glândula tireoide é tipicamente avaliada pela mensuração das concentrações séricas basais de hormônios tireoidianos. Assim que secretado na circulação, mais de 99% do T4 é ligado a proteínas plasmáticas; isto serve como um reservatório e um tampão para manter uma concentração estável de T4 livre (T4L) no plasma. Não ligado, ou livre, o T4 é biologicamente ativo, exercendo inibição do feedback negativo sobre a secreção hipofisária de TSH. A concentração basal sérica de T4 é a soma dos níveis de T4 ligados a proteínas e T4 livres circulantes no sangue. A aferição da concentração sérica de T4 pode servir como teste de triagem inicial para o hipotireoidismo. Por ser a principal forma de expressão funcional da glândula tireoide, T4T é frequentemente utilizada pelos laboratórios como ferramenta de triagem para avaliação do seu estado funcional. Em tese, esperam-se valores diminuídos para casos de falência funcional da glândula (hipotireoidismo) e aumentados nos casos de hiperplasia (hipertireoidismo). Entretanto, é importante recordar que diversos fatores podem afetar a concentração do hormônio circulante estando a principal limitação deste teste relacionada ao fato de cerca de 30% dos doentes com outras patologias apresentarem concentrações baixas de T4, o que se denomina de síndrome do doente eutireoideo. Além disso, diversos medicamentos anticonvulsionantes, AINS, sulfamidas e glicocorticoides, podem igualmente diminuir as concentrações de T4. Incongruências entre os resultados obtidos e a sintomatologia do animal requerem complementação diagnóstica pela determinação das demais frações tireoidianas. Para suspeita de quadro de hipotireoidismo, T4T não deve ser utilizada como ferramenta única diagnóstica, principalmente nos processos em fase aguda de desenvolvimento ou de origem imunomediada. Quadros de tireoidite com presença de autoanticorpos anti-T4 podem induzir resultados falsamente elevados, uma vez que a técnica padrão do radioimunoensaio não consegue distingui-los, havendo alta reação cruzada. O T4 livre (T4L), a fração de T4 não ligada à proteína circulante no sangue, compreende menos que 1% do T4 circulante. A mensuração do T4L é geralmente reservada para cães com suspeita de hipotireoidismo e um resultado de T4 sérico não diagnóstico, doença concomitante grave, ou ambos. Para que a determinação de T4L sérica seja confiável, é importante a utilização de procedimentos predefinidos por sua sensibilidade e precisão. Dois métodos foram padronizados com segurança para a análise das amostras de cães e gatos. O primeiro, classificado como procedimento padrão-ouro, é 32 UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA a técnica de radioimunoensaio por diálise de equilíbrio, que se baseia na utilização de membranas de ultrafiltração para a separação das partículas de T4L antes da utilização do marcador radioativo. O segundo método é o da técnica de radioimunoensaio de fase sólida de duas etapas (método bifásico), que se baseia na separação das frações de T4L e T4T em tubo de polipropileno, por diferença de temperatura durante um período preestabelecido de incubação antes da utilização do marcador radioativo. Os dois métodos demonstraram-se eficazes na determinação da fração livre. Apesar de T3 ser o hormônio mais potente em atividade celular, a mensuração de sua concentração não tem grande valia para o diagnóstico do hipotireoidismo, especialmente na fase inicial de desenvolvimento da doença. Já a mensuração do TSH sérico fornece informações sobre a interação entre a hipófise e a glândula tireoide. Na teoria, a concentração sérica de TSH deve estar aumentada em cães com hipotireoidismo. Os resultados dos testes para TSH sérico devem sempre ser interpretados em conjunto com os resultados séricos de T4, T4L, ou ambos, e não devem ser utilizados isoladamente no diagnóstico do hipotireoidismo. Embora muitos estudos mostrem que aproximadamente 60 a 87% de cães com sinais clínicos compatíveis com hipotireoidismo apresentem concentrações de TSH sérico elevado, eles também mostram que aproximadamente 20 a 40% dos cães com hipotireoidismo precoce apresentam concentrações do TSH dentro das referências de normalidade. Além disso, aproximadamente 10 a 20% de cães eutireoideos também podem apresentar TSH elevado. Essas estatísticas reduzem a sensibilidade do ensaio para a faixa de 65 a 85%. No teste de estimulação com TSH a concentração sérica de T4 é avaliada antes e após a administração de TSH. Um animal hipotireoideo terá pouco ou nenhum aumento do T4 em resposta ao TSH. Na doença não tireoidiana (Síndrome de eutireoideano doente) as concentrações absolutas do T4 podem ser muito baixas, mas o grau da resposta ao TSH é semelhante ao de um animal normal. As desvantagens do teste são o alto custo e a disponibilidade limitada do TSH. A determinação do TSH foi recentemente aprovada para o uso em cães. A presença de um aumento do TSH sérico em conjunto com baixas taxas séricas de T4 ajudará a confirmar o diagnóstico de hipotireoidismo. Se a concentração sérica de T4 for normal, é improvável que o cão seja hipotireoideo. Nesse caso, deverá ser considerado um teste de estimulação de TSH ou um ensaio terapêutico. O teste de estimulação com TSH consiste na dosagem sérica de T4 total e livre antes e após a administração de TSH. A coleta do soro, após a administração do TSH, deve ser realizada após um período de 4 horas (no caso de administração de TSH intravenoso) ou 8 horas (no caso de administração de TSH intramuscular), para a verificação sérica dos hormônios tireoidianos. Caso o paciente esteja sob terapia tireoidiana, esta deve ser interrompida 14 diasantes da execução do teste. 33 ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I A presença de anticorpos antitireoidianos em níveis significativos no soro de um paciente indica afecção de origem imunomediada em atividade contra algum dos elementos glandulares. Esse achado pode ser de grande valia, especialmente em cães, devido à alta incidência de processos dessa natureza. Muitas vezes, os anticorpos aparecem antes da manifestação clínica da doença, e sua determinação pode ajudar no controle precoce do quadro. Os resultados positivos de TGAA são quase sempre associados ao quadro de tireoidite linfocítica, de ocorrência frequente nos cães, e uma das principais causas da instalação do quadro de hipotireoidismo primário na espécie. Para a melhor caracterização da função tireoidiana, recomenda-se, sempre que possível, a associação de duas ou mais frações hormonais, de acordo com a suspeita clínica. A utilização de T4T ou de T4L com o TSH oferecem uma boa triagem para a suspeita do hipotireoidismo. Quadro 1. Fármacos que podem interferir nos resultados basais séricos de hormônios tireoidianos no cão. MEDICAMENTO ALTERAÇÕES AMIODARONA T4 aumentado ou diminuído; sem efeito sobre T4 livre ASPIRINA T4 e T4 livre diminuídos; sem efeito sobre TSH CEFALEXINA Sem efeito sobre T4, T4 livre e TSH CLOMIPRAMINA T4 e T4 livre diminuídos; sem efeito sobre TSH CARPROFENO T4, T4 livre e TSH diminuídos DERACOXIBE Sem efeito sobre T4, T4 livre e TSH ETODOLAC Sem efeito sobre T4, T4 livre e TSH GLICOCORTICOIDES T4 e T4 livre diminuídos; sem efeito sobre TSH ou diminuição FUROSEMIDA T4 diminuído IPODATO T4 aumentado; T3 diminuído CETOPROFENO Sem efeito sobre T4, T4 livre e TSH MELOXICAM Sem efeito sobre T4, T4 livre e TSH METIMAZOL T4 e T4 livre diminuídos; TSH aumentado FENOBARBITAL T4 e T4 livre diminuídos; TSH aumentado tardiamente FENILBUTAZONA T4 diminuído BROMETO DE POTÁSSIO Sem efeito sobre T4, T4 livre e TSH PROGESTÁGENOS T4 diminuído PROPANOLOL Sem efeito sobre T4, T4 livre e TSH PROPILTIOURACIL T4 e T4 livre diminuídos; TSH aumentado SULFONAMIDAS T4 e T4 livre diminuídos; TSH aumentado Fonte: Medicina interna de pequenos animais, Nelson e Couto, 5a edição, 2015. Tratamento A levotiroxina sódica é o tratamento de escolha para hipotireoidismo. Sua administração oral deve resultar em concentrações séricas normais de T4, T3 e TSH, o que atesta o 34 UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA fato de que estes produtos podem ser convertidos ao T3 mais metabolicamente ativo por tecidos periféricos. Um produto de levotiroxina sódica aprovado para uso em cães é recomendado. Formulações líquidas e em comprimidos são efetivas. A dose inicial é de 0,01 a 0,02 mg/kg de peso corporal. A administração a cada 12 horas é recomendada inicialmente a menos que o produto de levotiroxina tenha sido especificamente formulado para administração a cada 24 horas. Em razão da variabilidade na absorção e metabolismo da levotiroxina, a dose e frequência podem ter de ser ajustadas antes que seja observada uma resposta clínica satisfatória; esta variabilidade é uma razão do monitoramento da terapia em cães. O monitoramento da terapia inclui a avaliação da resposta ao tratamento com levotiroxina, mensuração da concentração sérica de T4 antes ou depois da administração de levotiroxina, ou ambos, e mensuração da concentração sérica de TSH. Estas concentrações devem ser aferidas 4 semanas após o início da terapia, sempre que os sinais de tireotoxicose ocorrerem, ou quando houver resposta mínima ou ausente à terapia. As concentrações devem ser aferidas de 2 a 4 semanas após um ajuste na terapia por levotiroxina em cães que demonstrem uma resposta ruim à terapia. As concentrações séricas de T4 e TSH são tipicamente avaliadas de 4 a 6 horas após a administração de levotiroxina em cães. A mensuração da concentração de T4 sérico imediatamente antes da administração de levotiroxina (ou seja, concentração real) é opcional, mas é recomendada se a levotiroxina for administrada uma vez ao dia. De modo ideal, a concentração sérica de T4 deve estar entre 1,5 e 4,5 µg/dL quando medida 4 a 6 horas após a administração do hormônio tireóideo, e a concentração de TSH deve estar dentro dos valores de referência, entretanto, uma redução na dose é recomendada sempre que as concentrações séricas de T4 excederem 5,0 µg/dL. A tireotoxicose pode ocorrer em cães que estejam recebendo grandes quantidades de levotiroxina; em cães nos quais a meia-vida plasmática esteja inerentemente prolongada, especialmente naqueles que recebem a levotiroxina duas vezes ao dia. O diagnóstico de tireotoxicose é baseado principalmente na presença de sinais clínicos, os quais incluem: irritabilidade, respiração ofegante, taquipneia, taquicardia, comportamento agressivo, poliúria, polidipsia, polifagia e perda de peso. A suplementação deve ser descontinuada por alguns dias se os sinais clínicos forem severos. Os sinais da tireotoxicose devem melhorar dentro de 1 a 3 dias se a causa for a medicação e o ajuste na terapia for apropriado Prognóstico O prognóstico depende da causa subjacente. A expectativa de vida de um cão adulto com hipotireoidismo primário que está recebendo tratamento adequado é normal. A maioria dos sintomas, se não todos, vai desaparecer com suplementação hormonal. 35 ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I O prognóstico para filhotes é reservado e depende da gravidade das anormalidades esqueléticas e articulares na época que o tratamento for instituído. O prognóstico para hipotireoidismo secundário e terciário é reservado a desfavorável. Hipertireoidismo O hipertireoidismo é uma desordem multissistêmica decorrente de excesso na produção de hormônios tireoidianos ativos (tri-iodotironina [T3] e tiroxina [T4]) a partir de uma glândula tireoide com funcionamento anormal. É a endocrinopatia mais comum em gatos acima de 8 anos, tendo a média entre 12 a 13 anos de idade, podendo estar presente dos 4 aos 20 anos. Não existe predisposição sexual ou racial, embora animais das raças Siamês e Himalaio sejam os menos susceptíveis. Aproximadamente 97% a 99% dos casos resultam de hiperplasia nodular benigna, hiperplasia adenomatosa ou adenoma tireóideo. Apenas 1% a 3% dos casos são causados por carcinoma tireóideo e dificilmente leva a sinais clínicos de hipertireoidismo. É quase sempre relacionada a uma alteração primária e autônoma da glândula tireoide, independente de alterações hipofisárias ou do hipotálamo, sendo a lesão mais comumente encontrada a hiperplasia adenomatosa multinodular, e menos frequentemente o adenoma, que fazem com que os lobos se tornem aumentados e distorcidos. Em 70% dos casos ambos os lobos da glândula tireoide são acometidos, uma vez que não há conexão física entre os lobos tireoidianos. A patogenia das alterações hiperplásicas adenomatosas na glândula tireoide permanece incerta. Tem sido postulado que fatores imunológicos, infecciosos, nutricionais, ambientais ou genéticos podem interagir para causar alterações patológicas. Há evidências que alimentação somente com ração enlatada pode aumentar o risco de desenvolvimento da doença, podendo a quantidade de iodo nas rações em lata ser 10 vezes maior do que o recomendado, sendo considerado o fator de progressão da doença. Aspectos clínicos Os sinais clássicos de hipertireoidismo são perda de peso (pode progredir para caquexia), polifagia (81%), agitação ou hiperatividade, alterações da pelagem (alopecia dispersa, presença de nós, higiene ausente ou em excesso), poliúria, polidipsia, vômito e diarreia. Alguns apresentam comportamento agressivo. Aparecem progressivamente e podem ser confundidos com sinais de envelhecimento, dessa forma, a doença pode estar em evolução há alguns meses antes da realização do diagnóstico. A causa dos sinais ocorre em grande parte devido ao aceleramento da taxa metabólica basal, elevação do consumo tecidual de oxigênio e devido ao aumento no número de receptores, uma maior sensibilidade às catecolaminas. 36UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA A polifagia, que acontece em 98% dos casos, é causada pelo aumento da demanda energética, apesar do aumento da ingestão calórica a perda de peso é causada pelos gastos energéticos e pela síndrome de má absorção gerada pela hipermotilidade intestinal, que também podem ser acompanhados por esteatorreia. A poliúria e polidipsia ocorrem em menos de 50% dos casos, e pode ser resultado de uma doença renal concomitante, pois os hormônios da tireoide também afetam o sistema renal, aumentando o fluxo sanguíneo local, a taxa de filtração glomerular, reabsorção e secreção tubular. Por ser o hipertireoidismo a principal causa secundária de cardiomiopatias em felinos, os sinais cardíacos são achados clínicos de grande importância. Cerca de 66% apresentam taquicardia, 53% sopro cardíaco e 12% insuficiência cardíaca congestiva. O excesso de hormônios tireoidianos induz a produção de uma isoforma da miosina, que acelera a interação entre a actina e a miosina no músculo cardíaco, aumentando a contratilidade. Com isso, os batimentos cardíacos semelhantes a “pancadas” percebidos na palpação ventral do tórax e com menor frequência déficit de pulso, ritmos de galope, sopro cardíaco e sons cardíacos abafados resultantes de efusão pleural. A hiperatividade e comportamento agressivo são uns dos principais sinais que causam grande preocupação nos tutores de pacientes afetados, e isso se dá devido aos efeitos diretos no sistema nervoso. Em 90% dos gatos com hipertireoidismo, inclinando-se a cabeça do felino para trás, pode-se palpar uma massa tireóidea discreta, o que não ocorre em gatos normais. Alguns gatos apresentam dispneia, arquejamento, ou hiperventilação em repouso. Essas anormalidades na função respiratória provavelmente resultam na combinação de fraqueza dos músculos respiratórios e o aumento de produção de dióxido de carbono. O aumento de hormônios tireoidianos circulantes também leva ao aumento no metabolismo energético e produção de calor, acarretando em aumento do apetite, perda de peso, perda muscular, fraqueza, intolerância ao calor e leve aumento de temperatura corporal. Diagnóstico Exames laboratoriais É detectado um aumento no volume globular de metade dos gatos acometidos, que parece resultar tanto de efeito direto dos hormônios tireoidianos sobre a medula eritroide, como aumento da produção de eritropoietina. Com isso há reticulocitose 37 ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I e macrocitose. O leucograma comumente mostra-se com leucocitose, neutrofilia (segmentados), linfopenia e eosinopenia, refletindo um leucograma de estresse. A eosinofilia e linfocitose podem ocorrer em um pequeno número de gatos resultantes de uma diminuição relativa no cortisol disponível devido ao excesso das concentrações de hormônios circulantes da tireoide. As concentrações de frutosamina sérica são diminuídas nos gatos hipertireoideos. Essa redução deve-se ao acelerado turnover proteico e independe da concentração sanguínea de glicose. Frequentemente evidencia-se azotemia e hiperfosfatemia, porém nenhuma nefropatia específica é atribuída ao hipertireoidismo. No entanto, acredita-se que o aumento da pressão do capilar glomerular e da proteinúria em gatos com hipertireoidismo possa contribuir para a progressão de uma doença renal preexistente, principalmente por acometer principalmente animais velhos. Exames de imagem As radiografias torácicas podem demonstrar alterações cardíacas, derrame pleural. A avaliação ultrassonográfica da tireoide pode ser usada para confirmar a origem da massa cervical palpável, diferenciar o envolvimento unilateral do bilateral dos lobos da tireoide e avaliar o tamanho das massas tireoidianas. O exame não dá informações sobre o estado funcional da massa tireoidiana e não deve ser usado para estabelecer o diagnóstico de hipertireoidismo. É usada somente como uma ferramenta adicional na localização do tecido tireoidiano cervical. Testes da função da glândula tireoidiana Devem ser solicitados com base nos sinais clínicos e palpação de nódulo tireóideo. Os níveis séricos de T4 Total encontram-se elevados em 90 a 98% dos gatos afetados, sendo que uma concentração sérica de T4 anormalmente alta sustenta fortemente o diagnóstico de hipertireoidismo, especialmente se os sinais clínicos esperados estiverem presentes. As concentrações séricas de T4 total que estão dentro da metade superior da faixa de referência criam um dilema no diagnóstico, especialmente se os sinais clínicos forem sugestivos de hipertireoidismo e houver um nódulo palpável na região ventral do pescoço. Essa combinação de achados é referida como hipertireoidismo oculto, que é mais comumente identificado em gatos nos estágios precoces de hipertireoidismo. Já o teste de concentração sérica de T4 livre por diálise, é muito sensível para o hipertireoidismo, com pequenos números (6 a 12%) de falsos positivos ocorrem nos 38 UNIDADE I │ ENDOCRINOLOGIA gatos com doença extratireoidiana. Este teste é indicado com o teste de T4 total quando se suspeita de hipertireoidismo e os níveis prévios de T4 total apresentam-se normais (2 a 10 % dos casos). A literatura traz que: Níveis altos de T4 livre por diálise em associação com T4 total em níveis normais superiores (> 2,5 µg/dL) e sinais clínicos de hipertireoidismo apoiam o diagnóstico. Níveis altos de T4 livre em associação com T4 total em níveis normais inferiores ou baixos (< 2,5 µg/dL) e sinais clínicos de hipertireoidismo apoiam o diagnóstico de doença extratireoidiana. A mensuração dos níveis séricos de T3 possui utilidade limitada para o diagnóstico de hipertireoidismo felino, pois raramente se mostram anormais. Já o teste de supressão de T3 é usado para distinguir felinos eutireoideos dos levemente hipertireoideos, principalmente nos casos em que os resultados dos testes de T4 livre por diálise e T4 total são inconclusivos. O teste de supressão de T3 baseia-se na teoria de que a administração oral de T3 irá suprimir a secreção de TSH pela hipófise em gatos eutireoideos, resultando em uma diminuição do T4 circulante. Em contraste, a secreção de TSH já está suprimida em gatos hipertireoideos e a administração oral de T3 não causará mais supressão, e o T4 sérico não diminuirá em seguida à administração de T3. Neste teste, administra-se 25µg de T3, por via oral, três vezes ao dia, por sete dias e a concentração sérica de T4 e T3 é determinada antes da administração e oito horas após a última administração de T3. Os gatos normais consistentemente apresentam concentrações de T4 pós-dose menor que 1,5µg/dL, enquanto os gatos hipertireoideos apresentam concentrações de T4 pós-dose maiores que 2,0µg/dL. Os valores entre 1,5 e 2,0µg/dL não são diagnósticos. A diminuição percentual na concentração sérica de T4 não é um indicador confiável como o valor absoluto, embora a supressão de mais de 50% abaixo do valor basal ocorra em gatos normais, mas não em hipertireoideos. A concentração sérica de T3 mensurada na amostra de sangue após a administração do comprimido deve estar aumentada em comparação com os resultados obtidos antes do início do teste em todos os gatos testados apropriadamente, independente do estado da função da glândula tireoide. Tratamento Após ter sido feito o diagnóstico, o tratamento consiste em controlar a excessiva secreção de hormônio tireoidiano. O hipertireoidismo felino pode ser tratado de 4 maneiras, sendo que todas as quatro modalidades de terapia são efetivas. Entre elas estão: tireoidectomia; uso de iodo radioativo (I131) ou administração contínua de fármacos antitireoidianos, ou uma dieta restrita em iodo. 39 ENDOCRINOLOGIA │ UNIDADE I É sempre preferível tratar inicialmente com uma terapia reversível, para reversão dos desarranjos metabólicos e cardíacos induzidos pelo hipertireoidismo. Além do cardíaco poderá ocorrer a desestabilização do animal devido à diminuição da TFG, podendo desencadear uma descompensação da DRC. Quadro 2. Indicações,
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